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NOTA TECNICA PANDEMIA 01

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NOTA TÉCNICA Nº 001/2020
A legalidade do isolamento social para os idosos durante a Pandemia causada pelo Corona Vírus - COVID-19
 
NOTA TÉCNICA Nº 01/2020
A legalidade do isolamento social para os idosos durante a Pandemia causada pelo Corona Vírus - COVID-19
I – INTRODUÇÃO
A Covid-19 é uma doença que pode ter sua origem nos morcegos, mas, pertence a uma categoria de vírus conhecida da humanidade. São os corona vírus, responsáveis por diversas síndromes ligadas ao aparelho respiratório.
O novo Corona Vírus chegou no fim do ano passado e, segundo dados oficiais, já levaram a óbito mais de 183 mil pessoas, dentro de um universo de mais de 1.6 milhões de infectados.
Além de atingir a saúde pública mundial, o vírus causos um impacto gigantesco na economia e, principalmente, na forma de se relacionar das pessoas, independente do pais em que vivem, da forma com que convivem, todos tiveram suas liberdades limitadas diante do quadro assustador.
E é este ponto que vamos abordar. O objetivo desta Nota Técnica é analisar o alcance dos efeitos causados pelo corona vírus, precursor da doença COVID-19, exclusivamente nos idosos, considerados o maior grupo de risco letal. A análise visa confrontar os reflexos da quarentena na vida dessas pessoas, e como o seus direitos fundamentais estão sendo preservados nesse período.
II - O QUE DIZ O ESTATUTO DO IDOSO
Quando falamos em Estatuto do Idoso, vemos uma série de normas que buscam preservar física e moralmente as pessoas com mais de 60 anos no país. O Estatuto é fruto de estudos de longa data e que contemplam todas as áreas que envolvem a vida saudável do idoso, previstas o Art. 5º da Constituição Brasileira, que trata dos Direitos Fundamentais da Pessoa, como dignidade e segurança.
Nesse período de Pandemia, devemos ter cuidado redobrado com nossa saúde, especialmente com os idosos, que são o principal grupo de risco da doença Covid-19. Mas, será que todo esse cuidado não tem extrapolado os direitos dos idosos?
Mesmo debaixo desta tutela, o idoso pode estar desprotegido. A insistência de alguns idosos em irem às ruas, mesmo com recomendação de isolamento social, pode ser atribuída a vários fatores: não têm com quem contar para ir às compras, ao médico ou à farmácia ou, ainda, não gostam do que consideram incomodar os familiares. Outros querem reafirmar sua independência ou não acreditam na doença, pois passaram incólumes por tantos vírus ou bactérias no decorrer da vida. Também pode haver negação da própria idade, posturas ideológicas ou culturais, etc.
O que se impõe, no momento, é a necessidade de reafirmar o direito à igualdade, conforme dispõe o artigo 2º do Estatuto do Idoso. No mesmo sentido, o direito à liberdade é assegurado no Estatuto, em seu artigo 10, §1º. Neste ponto, importante observar que o direito à liberdade foi tão prestigiado pelo legislador, que assegurou ao idoso capaz a escolha de tratamento de saúde, conforme o artigo 17 do Estatuto do Idoso.
Então, asseguradas a isonomia e a liberdade, o contexto atual exige lembrarmos que a capacidade civil do idoso o acompanhará a vida toda, enquanto puder manifestar sua vontade.
Ademais, a curatela tornou-se medida excepcional e temporária, afetando somente atos de natureza patrimonial e negocial, conforme artigos 84 e 85 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. As fragilidades naturais do processo de envelhecimento e até mesmo a presença de doenças que eventualmente podem, no futuro, levar ao impedimento de manifestação de vontade, não autorizam lançar mão da curatela e, muito menos, relativizar a capacidade civil do idoso faticamente, a despeito de decisão judicial fundamentada para tanto.
Evidentemente, é necessário analisar se temos, no caso concreto, um idoso portador de Covid-19 e que insiste em abandonar o isolamento, pois, dessa forma, estaria colocando a saúde pública em risco e, então, deverá responder legalmente – civil e criminalmente – por isso, sendo possíveis até mesmo as medidas de urgência que temos visto para pessoas não idosas.
Cabem, por igual, as medidas protetivas do Estatuto do Idoso que, conforme art. 43, são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados, presentemente, no atual cenário, especialmente diante da condição pessoal de idoso (inciso III). No art. 45, o legislador elenca algumas medidas protetivas, que não são taxativas e podem ser cumuladas (art. 44).
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:	
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI – abrigo temporário.
As medidas protetivas necessitarão ser analisadas caso a caso, dependendo do estado de saúde físico e mental do idoso, sendo indispensável indicação médica detalhada. Importante também lembrar que medidas restritivas da liberdade (incisos V e VI) carecem de ordem judicial.	
Agora, se temos um idoso plenamente capaz, não há como vedar a ele que, por exemplo, faça por si mesmo suas compras. O poder público pode, obviamente, recomendar isolamento ou aplicar multa administrativa, acaso prevista para o descumpridor, mas vedar seu direito de ir e vir é ilegal.
As famílias que se preocupam com a insistência dos idosos não infectados em saírem, podem buscar auxílio do Conselho Municipal do Idoso, das Secretarias Municipais de Assistência Social e de Saúde, como forma de convencimento; ou até mesmo de psicólogos, se for viável, via serviço público e/ou particular (até mesmo on-line).
Assim é que, mesmo em contexto de pandemia, não se justifica o desrespeito às garantias e direitos dos idosos. Ao mesmo tempo em que a autonomia da vontade e a plena capacidade civil do idoso devem ser observadas, há que se resguardar o interesse coletivo à saúde pública, analisando-se as situações de forma individual e aprofundada.
III – CONCLUSÃO:
O artigo 3º do Estatuto do Idoso é claro quanto à obrigação da família, da sociedade e do Poder Público em assegurar ao idoso, em caráter prioritário, todos os direitos relativos à vida digna, com a saúde, alimentação, educação e outras atividades que o tornem um cidadão digno socialmente.
Esta previsão está em Consonância com o art. 230 da nossa Carta Magma, a Constituição Federal, onde enfatiza que família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
    § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares.
    § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
§ 3º Diante do exposto, há de se perceber uma dicotomia na aplicação do distanciamento social aos idosos, que sob a tutela da proteção exacerbada, acabam por ter sua liberdade cerceada na fase da vida em que ela lhe é mais valiosa.

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