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Apostila de Literatura - Vol 01

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Sumário do Volume
Literatura
1. Arte ................................................................................................................................5
2. A arte literária ..............................................................................................................12
3. A linguagem literária ...................................................................................................19
4. Gêneros literários ........................................................................................................35
4.1 Gênero épico ............................................................................................................................. 35
4.2 Gênero dramático .................................................................................................................... 38
4.3 Gênero lírico .............................................................................................................................. 39
5. As diferentes épocas por meio da literatura ............................................................ 52
Sumário Completo
Volume 1
1. Arte
2. A arte literária
3. A linguagem literária
4. Gêneros literários
5. As diferentes épocas por meio da literatura
Volume 2
6. Trovadorismo
7. Humanismo
8. Classicismo
Volume 3
9. Quinhentismo no Brasil
10. Barroco
5
1. Arte
 “A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica 
do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro — mais bonito ou mais intenso ou mais 
signifi cativo ou mais ordenado — por cima da realidade imediata.
 Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua 
experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfi m, de sua visão de mundo”.
GULLAR, Ferreira. Sobre arte. Rio de Janeiro: Avenir; São Paulo: Palavra e Imagem, 1982.
A palavra “Arte” é um termo que não se esgota, pois sua defi nição não é simplista. Há estudos que apontam o surgimento da Arte para o homem estabelecer o controle sobre a natureza. 
Da arte pré-histórica até a dos dias atuais, o tema, o objetivo, a função social e os seus signifi cados 
se modifi caram, entretanto ela segue fi rme como forma de expressão humana, de representação 
de ideias e de ideais, de “transformação simbólica de mundo.” Veja um exemplo disso numa 
representação de uma pintura rupestre e de um grafi te dos dias de hoje:
Fig.1.1 Pintura Rupestre Fig.1.2 Moss Stencil
Exercícios de sala
 Observe este quadro do pintor René Magritte e responda ao que se pede em 1 e 2.
René Magritte: artista 
surrealista belga, 
criador de imagens 
insólitas.
Literatura
1ª Série do Ensino Médio - Vol. 1
Literatura
6 1ª série do Ensino Médio
1. Logo abaixo do objeto mostrado na imagem, há a menção: “Ceci n’est pas une pipe”, que signifi ca: “Isto 
não é um cachimbo”. Considerando o que foi tratado a respeito de Arte, como pode ser entendida tal 
menção?
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_______________________________________________________________________________________
2. (UNB) Para o fi lósofo Vilém Flusser, a relação texto-imagem assumiu, na Idade Média, a forma de 
disputa entre o cristianismo textual e o paganismo imagético. Na Idade Moderna, houve confl itos 
entre a ciência textual e as ideologias imagéticas, que, de modo dialético, foram-se criticando. Na 
tentativa de exterminar o paganismo, o cristianismo acabou absorvendo as imagens pagãs e, na 
medida em que a ciência criticava esses valores, incorporava as imagens e se ideologizava. Assim, 
os textos passaram a explicar as imagens, e elas, por sua vez, passaram a ilustrar os textos. Essa troca 
foi-se tornando tão dialética entre a imaginação e a conceituação, que, num momento, se negavam 
e, num outro, se reforçavam.
S. Venturelli e M. Maciel. Imagem interativa. Brasília: Ed. UnB, 2008 (com adaptações).
 Tendo como referência o texto acima e a obra Ceci n’est pas une pipe (Isto não é um cachimbo), 
julgue os itens a seguir como certos (C) ou errados (E):
 ( ) Na distinção entre escrita e desenho ou entre escrita e artes plásticas em geral, não se considera 
escrita o grafi smo das pinturas rupestres.
 ( ) Os autores do texto sustentam que tanto a relação dialética entre ciência e ideologia quanto a 
relação dialética entre escrita e imagem observadas na Idade Moderna já se estabeleciam na Idade 
Média.
 ( ) A relação entre imagem e texto como sistemas de comunicação na obra Ceci n’est pas une pipe, 
de René Magritte, elimina o princípio da separação entre as representações linguística e plástica.
 ( ) Na obra Ceci n’est pas une pipe, em que os elementos do grafi smo e os das artes plásticas são 
expressos no mesmo espaço, o enunciado ratifi ca a identidade da fi gura.
 A sequência correta é:
a) C – C – C – C.
b) C – E – C – E.
c) E – E – E – C.
d) C – C – C – E.
e) E – C – E – E.
3. René Magritte foi, no século XX, um representante de uma dentre as novas estéticas que surgem com 
o propósito da liberdade em relação aos padrões academicistas. Observe:
Fig.1.5 Clarividência, Renné Magritte, 1936, Galerie Isy 
Grachot, Brussels-Paris
Arte
7Volume 1
 A cena apresentada na pintura revela que havia no artista o desejo de se distanciar da concepção 
de Arte como imitação da realidade (mimese). Comente essa afi rmativa.
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4. No trecho, “A vida está cheia de Apanos, Hamlets e Otelos, mas só depois de a arte os haver mostrado 
é que o mundo começou a reparar neles”, Procópio Ferreira (1898-1979) observa uma das possíveis 
funções da Arte. Revele-a.
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 Texto para as questões de 5 a 7.
 A ARTE E SUAS FUNÇÕES
 Andando pelas ruas de sua cidade, você passa por uma praça e vê uma escultura, em um edifício 
vê um mural de azulejos ou uma pintura, em uma igreja vê um mosaico ou um vitral colorido. Se você 
é observador, sensível e tem tempo, com certeza gosta de fi car olhando para tudo isso.
 Essas formas, diferentemente dos objetos utilitários que você usa no dia a dia, têm a função de 
encantar, de provocar a refl exão e a admiração, de proporcionar prazer e emoção.
 Essas sensações são despertadas por um conjunto de elementos: a imaginação do artista, a 
composição, a cor, a textura, a forma, a harmonia e a qualidade da ideia. Nem todos os objetos artísticos 
têm uma utilidade prática imediata além de estimular o pensamento, a sensibilidade ou causar prazer 
estético.
 As obras de arte expressam um pensamento, uma visão do mundo e provocam uma forma de 
inquietação no observador, uma sensação especial, uma vontade de contemplar, uma admiração 
emocionada ou uma comunicação com a sensibilidade do artista. A esse conjunto de sensações 
chamamos de experiência estética.
 Nem sempre essa experiência é ligada unicamente ao prazer, pois às vezes fi camos inquietos, 
pensativos, emocionados, tristes, amedrontados ou assustados. E, muitas vezes, principalmente na 
atualidade, há artistas que procuram provocar o público, causar um choque. O que nos atrai é a 
sensibilidade do artista, sua imaginação, seu intelecto, sua percepção especial da vida, mesmo quando 
apresenta aspectos negativos.
 O gosto e a sensibilidade para apreciar a arte variam de pessoa para pessoa, de idade para idade, 
de região para região, de sociedade para sociedade, de época para época. Assim,as manifestações 
artísticas trazem a marca do tempo, do lugar e dos artistas que as criaram, pois refl etem essa variação 
no conceito de beleza e na função do objeto artístico.
 Em muitas sociedades, a arte é utilizada como forma de homenagear os deuses, ou seja, está ligada 
à religião. Observe como as igrejas, os templos e os túmulos são locais em que a arte se manifesta em 
todos os tempos. Indumentárias, objetos que são usados em rituais, instrumentos musicais, adereços, 
imagens contemplam os cenários das cerimônias religiosas.
 Em outras culturas e épocas, a arte surge, independentemente da religião, unicamente como forma 
de expressão para quem produz, e como oportunidade de experiência especial para quem aprecia.
 Qualquer que seja sua direção, a arte está em toda parte e é um elemento defi nidor de identidade de um 
povo, de um grupo social e de um indivíduo.
 O artista pode se manifestar de diversas formas: pelo som (música), pela linguagem verbal oral 
ou escrita (literatura), pela imagem visual (pintura, desenho, escultura, gravura, fotografi a) ou pela 
linguagem corporal (dança). Ou pode, ainda, expressar-se pela mistura de várias linguagens.
Jô Oliveira e Lucília Garcez. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as Artes Visuais. Rio de Janeiro, 
Ediouro, 2001. p. 10-3.
Literatura
8 1ª série do Ensino Médio
5. Comente por que a apreciação da arte se dá de forma subjetiva.
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6. O texto se propõe a apresentar diferentes funções da arte. Ele atinge seu objetivo? Justifi que.
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7. Leia estas afi rmações a respeito do texto. Identifi que as que estão incorretas e reescreva-as, 
corrigindo-as.
a) A arte é retrato da realidade e tem, portanto, como fi nalidade servir à historiografi a.
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b) A expressão artística está relacionada com o prazer estético e com o sensibilização por meio de 
emoções positivas.
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c) Os objetos artísticos têm sempre função de fazer crítica social.
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d) A imaginação do artista, sua visão de mundo e seus ideais compõem sua obra de arte.
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e) A arte está limitada aos espaços dos museus e é um elemento defi nidor de identidade de um povo. 
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Fatores constituintes da produção artística
 A produção artística está relacionada a diversos fatores que participam de sua constituição, 
tais como a vivência do artista e sua época, a linguagem, o suporte, o público e as formas de 
circulação. Leia a letra da música Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil:
Arte
9Volume 1
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser fi lho da santa?
Melhor seria ser fi lho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados de centro da cidade
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno 
(Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado 
(Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado 
(Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno 
(Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel 
(Cale-se!)
Me embriagar até que alguém em esqueça 
(Cale-se!)
Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil
CÁLICE
Respectivamente, nas imagens:
• Chico Buarque: Músico, dramaturgo e escritor brasileiro, conhecido como um dos 
maiores nomes da música popular brasileira. Foi, na década de 70, um dos artistas 
mais críticos em relação à política brasileira e um defensor da democratização do País.
• Gilberto Gil: Músico e político brasileiro, conhecido principalmente por composições 
instigantes ao lado de Caetano Veloso, nome de relevo no movimento tropicalista, 
cuja preocupação central eram os problemas sociais do País, aliada a uma ideologia 
libertadora, a um inconformismo frente à maneira de viver do povo brasileiro.
Literatura
10 1ª série do Ensino Médio
 Cálice foi composta em 1973 por Chico Buarque e Gilberto Gil. Este compôs o refrão “Pai, 
afasta de mim este cálice / de vinho tinto de sangue”, uma referência à agonia de Cristo no 
Calvário, mas Chico foi além e percebeu a possibilidade ambígua em cálice/cale-se. A partir daí, 
a música foi composta. Nela, há um jogo de palavras de objetivo bem claro: despistar a censura 
da ditadura militar. Naquela época, o Brasil vivia sob tal regime e era comum o veto a qualquer 
manifestação de oposição a ele nesse regime. A canção foi levada à censura, e os artistas foram 
recomendados a não cantá-la. Porém, no show Phono 73, no Palácio das Convenções do 
Anhembi, São Paulo, em maio de 1973, Gil e Chico tentaram cantá-la, mas seus microfones 
foram desligados. A música só foi liberada, em 1978, no álbum de Chico Buarque.
Exercícios propostos
 
Agora, observe este quadro de Portinari.
Cândido Portinari: artista plástico 
brasileiro. Autor de aproximadamente 
cinco mil obras, é considerado o pintor 
brasileiro de maior projeção internacional.
Fig.1.8 
8. A imagem da tela de Portinari mostra uma 
família que tem por objetivo sair da miséria. 
Cite elementos que possam comprovar essa 
afi rmativa.
9. Considerando seus conhecimentos sobre 
as funções da Arte, comente os possíveis 
objetivos da obra apresentada.
10. (UEL-Adaptada) Observe as imagens a seguir:
 
Adriana Paiva. Os Gêmeos - Foto preto-e-branca, 
pintura sobre tela.
TARSILA Operários, 1933. Óleo sobre tela, 150 x 205 cm. 
 
Arte
11Volume 1
 Em relação ao que há em comum entre 
asduas obras, considere as afirmativas a 
seguir:
I) A disposição das figuras em diversos 
planos representa a crítica ao crescimento 
desordenado da população. 
II) Crítica ao crescimento descontrolado 
da população em determinadas regiões, já 
detectado na década de 1930. 
III) O caráter bidimensional dispensa 
efeitos de claro-escuro e da perspectiva 
tradicional. 
IV) Registro do movimento e do 
crescimento das cidades e presença de 
diferentes tipos humanos que habitam o 
mesmo espaço. 
 Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afi rmativas I e II são corretas. 
b) Somente as afi rmativas I e III são corretas. 
c) Somente as afi rmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afi rmativas I, II e IV são 
corretas. 
e) Somente as afi rmativas II, III e IV são 
corretas.
11. (ENEM) 
 
 Texto I
 ONDE ESTÁ A HONESTIDADE?
 Você tem palacete reluzente
 Tem joias e criados à vontade
 Sem ter nenhuma herança ou parente
 Só anda de automóvel na cidade...
 E o povo pergunta com maldade:
 Onde está a honestidade?
 Onde está a honestidade?
 O seu dinheiro nasce de repente
 E embora não se saiba se é verdade
 Você acha nas ruas diariamente
 Anéis, dinheiro e felicidade...
 Vassoura dos salões da sociedade
 Que varre o que encontrar em sua frente
 Promove festivais de caridade
 Em nome de qualquer defunto ausente...
 ROSA, N. Disponível em: <http://www.mpbnet.com.br>. Acesso em: 
?????? abr. 2010.
 Texto II
 Um vulto da história da música popular 
brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel 
Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; 
portanto, se estivesse vivo, estaria completando 
100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, 
vítima de tuberculose, deixando um acervo 
de grande valor para o patrimônio cultural 
brasileiro. Muitas de suas letras representam a 
sociedade contemporânea, como se tivessem 
sido escritas no século XXI.
Disponível em: <http://www.mpbnet.com.br>. Acesso em: ?????? abr. 2010.
 Um texto pertencente ao patrimônio 
literário-cultural brasileiro é atualizável, na 
medida em que ele se refere a valores e situações 
de um povo. A atualidade da canção Onde está 
a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por 
meio
a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento 
de origem duvidosa de alguns.
b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas 
não têm herança.
c) da maldade do povo ao perguntar sobre a 
honestidade.
d) do privilégio de alguns em clamar pela 
honestidade.
e) da insistência em promover eventos 
benefi centes.
Literatura
12 1ª série do Ensino Médio
fi cção (espaço fi ccionalizado): aquilo 
que é criado, imaginado, fantasiado.
Alceu Amoroso Lima: crítico literário, professor, pensador, escritor e líder católico brasileiro. Publicou dezenas 
de livros e tornou-se símbolo de intelectual progressista na luta contra os exageros do regime militar imposto a 
partir de 1964 no Brasil.
2. A arte literária
 
A literatura é a arte cuja matéria-prima é a palavra oral ou escrita. Segundo o crítico Alceu Amoroso Lima,
 “A distinção entre literatura e demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a 
matéria e a forma do verbo.
 De que serve o homem de letras para realizar seu gênio inventivo? Não é, por natureza, nem 
do movimento como o dançarino, nem da linha como escultor ou como o arquiteto, nem do 
som como o músico, nem da cor como o pintor. E sim — da palavra.
 A palavra é, pois, o elemento material intrínseco do homem de letras para realizar sua natureza 
e alcançar seu objetivo artístico.”
LIMA, Alceu Amoroso. A estética literária e o crítico. Rio de Janeiro: Agir, 1954.
 Dentre as várias funções da literatura, esta tem uma muito peculiar que é a de representação da 
realidade. Tal representação é extremamente complexa porque o escritor não tem a pretensão de 
fotografar ou de copiar a realidade tal qual ela é: cabe a ele a criação de um espaço fi ccionalizado, 
em que os seres, as coisas e as palavras mantenham uma relação que permita a reinvenção do 
real. E para que isso?
 A resposta pode estar em diversas perspectivas, mas uma das possibilidades nos é apontada 
por Mario Vargas Llosa:
 A literatura, ao contrário, diferentemente da ciência e da técnica, é, foi e continuará sendo, enquanto existir, 
um desses denominadores comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e 
dialogam, independentemente de quão distintas sejam suas ocupações e seus desígnios vitais, as geografi as, as 
circunstâncias em que se encontram e as conjunturas históricas que lhe determinam o horizonte. Nós, leitores 
de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstói, nos sentimos membros da mesma espécie porque, 
nas obras que eles criaram, aprendemos aquilo que partilhamos como seres humanos, o que permanece em 
todos nós além de amplo leque de diferenças que nos separam. E nada defende melhor os seres vivos contra 
a estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, das obtusidades localistas do sectarismo religioso ou 
político, ou dos nacionalismos discriminatórios, do que a comprovação constante que sempre aparece na 
grande literatura: a igualdade essencial de homens e mulheres em todas as latitudes e a injustiça representada 
pelo estabelecimento entre eles de formas de discriminação, sujeição ou exploração. Nada, mais do que os 
bons romances, ensina a ver nas diferenças étnicas e culturais a riqueza do patrimônio humano e a valorizá-
lo como uma manifestação de sua múltipla criatividade. Ler boa literatura é divertir-se, com certeza; mas, 
também, aprender, dessa maneira direta e intensa que é a da experiência vivida através das obras de fi cção, o 
que somos e como somos, em nossa integridade humana, com os nossos atos e os nossos sonhos e os nossos 
fantasmas, a sós e na urdidura das relações que nos ligam aos outros, em nossa presença pública e no segredo 
de nossa consciência, essa soma extremamente complexa de verdades contraditórias — como as chamava 
Isaiah Berlin — de que é feita a condição humana.
LLOSA , Mário Vargas. É possível pensar o mundo sem romance? In: MORETTI, Franco (org.) 
A cultura do ramance. São Paulo: Cosac Naify. 2009.
Mário Vargas Llosa: escritor dramaturgo, poeta, ensaísta, 
crítico literário, jornalista e político peruano, ganhador 
do prêmio Nobel de Literatura em 2010. 
A arte literária
13Volume 1
Exercícios de sala
1. Avalie as seguintes afi rmações:
I) Cada época literária tem seu estilo próprio que, ao desaparecer, nunca deixa vestígios.
II) Uma obra literária resulta, exclusivamente, da maneira individual que o autor tem de enxergar o 
mundo. Essa maneira individual, por sua vez, não sofre interferências do meio.
III) Uma obra literária pode retratar e questionar o momento histórico em que foi criada.
 Agora, assinale a alternativa que apresenta a análise correta dessas informações:
a) Todas estão certas.
b) Todas estão erradas.
c) Estão certas somente as afi rmações I e II.
d) Está certa somente a afi rmação III.
e) Estão certas somente as afi rmações II e III.
2. (ENEM) Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve infl uência 
signifi cativa em sua carreira de escritor.
 “Lembro-me de que certa noite — eu teria uns quatorze anos, quando muito — encarregaram-me 
de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os 
primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam ‘carneado’. [...] Apesar do 
horror e da náusea, continuei fi rme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar 
tudo isso sem gemer, por que não hei de poder fi car segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a 
costurar esses talhos e salvar essa vida? [...]
 Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o 
menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender 
a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, 
propícia aos ladrões, aos assassinose aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do 
horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, 
risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”
VERÍSSIMO, Érico. Solo de clarineta. Porto Alegre: Globo, 1978. t. l.
 Nesse texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo defi ne 
como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura
a) criar a fantasia. 
b) permitir o sonho.
c) denunciar o real.
d) criar o belo.
e) fugir da náusea.
 Agora, leia este outro texto para responder às questões propostas a seguir.
CARTA A UM JOVEM POETA
 “O homem é um deus quando sonha e um mendigo quando pensa”. (Hölderlin)
 No princípio é o sonho. E, depois dele — mas implicando-o, necessariamente —, é o contato, o contraste 
e o confronto com a estranheza das coisas. O movimento humano se faz da fantasia para a concretude do 
mundo. Temos que perder o macio inimaginável do sonho, sua diáfana gentileza de pés de lã, para ancorar 
no concreto. Temos que saltar de paraquedas, na direção da realidade. Torna-se indispensável, nesta 
hora, um aparelho minimamente capaz de amortecer o choque contra a terra: tranco fundador. É, porém, 
ilusório supor que tal passagem possa processar-se sem ruptura — e sem vertigem. Machado de Assis, do 
alto de sua ironia, garante que é melhor cair das nuvens do que de um terceiro andar. Não estou seguro 
de que este aforismo possa adequar-se, com propriedade, ao tema que examinamos. Os sonhos não são 
nuvens, mas a primeira pátria do homem. Cair deles é — literalmente — perder o paraíso, vicissitude com 
certeza mais dolorosa do que partir uma perna, após a queda de um terceiro pavimento.
1
5
10
Literatura
14 1ª série do Ensino Médio
 O poeta, o fi ccionista dão o salto do sonho para o signo compartilhado. Existe, fora de dúvida, 
um sofrimento na agonia da criação artística, na medida em que ela é um parto — e um nascimento. 
 Pulamos do avião, abandonamos o grande bojo narcísico pela aventura de recortar em palavras, 
imagens e metáforas aquilo que é nosso mistério original. Não obstante, na dor universal desse 
processo de objetivação, por cujo intermédio o ser humano se eventra, para conhecer-se, o artista 
fi ca com a melhor parte. Ele consegue construir um sonho — ou um voo — dirigido, cujo destino se 
consuma na obra de arte. O artista conquista e preserva, portanto, sua condição de fazendeiro do ar, 
permanecendo no território da semiótica — lugar onde o humano se embriaga da insustentável leveza 
do ser.
PELLEGRINO HÉLIO,
A burrice do demônio. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
Aforismo: afi rmação curta que estabelece uma regra prática.
Consumar-se: resultar.
Diáfano: muito fino, transparente; difícil de reter.
Eventrar-se: expor as vísceras do próprio ventre.
Narcísico: narcisista, excessivamente centrado em si mesmo.
Semiótica: ciência que estuda os signos (letras, gestos, desenhos etc) e seus signifi cados.
Vicissitude: acontecimento imprevisto, geralmente defavorável.
Fazendeiro do ar: referência a um famoso livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade, lançado em 1954.
Insustentável leveza do ser: referência ao livro A insustentável leveza do ser, do tcheco Milan Kundera. 
Clássico da literatura mundial contemporânea, o romance se passa na cidade de Praga, Tchecoslováquia, em 
1968, ano de intensa agitação política. Por meio da interpretação fi losófi ca de fatos concretos, Kundera nos leva 
a crer que a felicidade humana está na própria busca da felicidade.
3. Explique por que, para o autor, os sonhos são a primeira pátria do homem.
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4. O que signifi ca o aforismo de Machado de Assis? (ver l. 07)
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5. O que ressalta a passagem da abstração para a materialidade linguístíca é:
a) “No princípio é o sonho. E, depois dele — mas implicando-o, necessariamente —, é o contato, o 
contraste e o confronto com a estranheza das coisas.” 
b) “Temos que perder o macio inimaginável do sonho, sua diáfana gentileza de pés de lã, para ancorar 
no concreto.”
c) “Os sonhos não são nuvens, mas a primeira pátria do homem.”
d) “O poeta, o fi ccionista dão o salto do sonho para o signo compartilhado.”
e) “O artista conquista e preserva, portanto, sua condição de fazendeiro do ar, permanecendo no 
território da semiótica — lugar onde o humano se embriaga da insustentável leveza do ser.”
6. “A literatura transforma e intensifi ca a linguagem comum, afastando-se sistematicamente da fala 
cotidiana. Se alguém se aproximar de mim em um ponto de ônibus e disser: ‘Tu, noiva ainda imaculada 
da quietude’, tenho consciência imediata de que estou em presença do literário. Sei disso porque a 
tessitura, o ritmo e a ressonância das palavras superam o seu signifi cado abstrato (...). Trata-se de um 
tipo de linguagem que chama a atenção sobre si mesma e exibe sua existência material, ao contrário 
do que ocorre com frases tais como ‘Você não sabe que os motoristas de ônibus estão em greve?’”
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: Uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
15
A arte literária
15Volume 1
 A partir do fragmento, indique o que, para o autor, é capaz de distinguir o texto literário do não 
literário.
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7. (UNICAMP)
Disponível em: <http://coletivotranverso.blogspot.com.br. Acesso em: 29 
out. 2013.
 
 A intervenção urbana acima reproduzida foi criada pelo Coletivo Transverso, um grupo envolvido 
com arte urbana e poesia, que afi xou cartazes como esses em muros de uma grande cidade. 
a) Que outro texto está referido em “SEGURO MORREU DE TÉDIO”? 
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b) A relação entre os dois textos – o do cartaz e aquele a que ele remete – é importante para a 
interpretação dessa intervenção urbana? Justifi que sua resposta.
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 Textos para as questões 8 e 9.
VIDA LOKA: PARTE 2
O promotor é só um homem
Deus é o juiz
Enquanto Zé Povinho
Apedrejava a cruz
E o canalha, fardado
Cuspiu em Jesus
Oh, 
Aos 45 do segundo, arrependido
Salvo e perdoado
É Dimas o bandido
É loko o bagulho
Arrepia na hora
Oh, 
Dimas, primeiro vida loka da história
Eu digo: 
“Glória, Glória”
Sei que Deus tá aqui
E só quem é vai sentir
É meus guerreiro de fé
Quero ouvir... quero ouvir
E meus guerreiro de fé
Quero ouvir... irmão
Programado pra morrer nós é
Certo é... certo... é crê no que der.
Rap Mano Browm
Literatura
16 1ª série do Ensino Médio
A JESUS CRISTO
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afi rmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, 
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória. 
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, 
da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinquído, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido: 
Que a mesma culpa que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Livro dos Sonetos, LP&M Editores, 1996, RSEnviado por: Márcia Maia
8. (PAS-UnB-Adaptada) Com base no poema A Jesus Cristo, de Gregório de Matos, e na letra do rap 
Vida Loka: Parte II, de Mano Brown, comente esta afi rmativa:
 Em ambos os textos, o eu lírico se distancia da realidade circundante a fi m de agradecer a proteção 
divina.
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9. Na letra do rap de Mano Brown, o episódio da crucifi cação de Cristo é atualizado ao ser comparado 
com
a) a inefi ciência do sistema carcerário.
b) o problema da pobreza na contemporaneidade.
c) a intolerância religiosa, retomada em anos recentes.
d) a violência da polícia e da sociedade contra sujeitos marginalizados.
Exercícios propostos
10. (FUVEST-SP)
 Oh! Maldito o primeiro que, no mundo,
 Nas ondas vela pôs em seco lenho!
 Digno da eterna pena do Profundo,
 Se é justa a justa Lei que sigo e tenho!
 Nunca juízo algum, alto e profundo,
 Nem cítara sonora ou vivo engenho,
 Te dê por isso fama nem memória,
 Mas contigo se acabe o nome e a glória
Camões, Os lusíadas
 
 Nos quatro últimos versos, está implicada 
uma determinada concepção da função da 
arte. Identifi que essa concepção, explicando-a 
brevemente.
11. (ENEM-INEP)
SE OS TUBARÕES FOSSEM HOMENS
 
 Se os tubarões fossem homens, eles seriam 
mais gentis com os peixes pequenos?
 Certamente, se os tubarões fossem homens, 
fariam construir resistentes gaiolas no mar 
para os peixes pequenos, com todo o tipo de 
alimento, tanto animal como vegetal. Cuidariam 
para que as gaiolas tivessem sempre água fresca 
e adotariam todas as providências sanitárias.
 Naturalmente, haveria também escolas nas 
gaiolas. Nas aulas, os peixinhos aprenderiam 
como nadar para a goela dos tubarões. Eles 
aprenderiam, por exemplo, a usar a geografi a 
A arte literária
17Volume 1
para localizar os grandes tubarões deitados 
preguiçosamente por aí. A aula principal seria, 
naturalmente, a formação moral dos peixinhos. 
A eles seria ensinado que o ato mais grandioso 
e mais sublime é o sacrifício alegre de um 
peixinho, e que todos deveriam acreditar nos 
tubarões, sobretudo quando estes dissessem 
que cuidavam da felicidade futura dos 
peixinhos. Estes saberiam que este futuro só 
estaria garantido se aprendessem a obediência.
 Cada peixinho que na guerra matasse 
alguns peixinhos inimigos seria condecorado 
com uma pequena Ordem das Algas e receberia 
o título de herói.
 BRECHT, B. Histórias do Sr. Keuner. São Paulo: Editora 34, 
2006. (Adaptado).
 Como produção humana, a literatura veicula 
valores que nem sempre estão representados 
diretamente no texto, mas são transfi gurados 
pela linguagem literária e podem até entrar em 
contradição com as convenções sociais e revelar o 
quanto a sociedade perverteu os valores humanos 
que ela própria criou. É o que ocorre na narrativa 
do dramaturgo alemão Bertolt Brecht mostrada. 
Por meio da hipótese apresentada, o autor
a) demonstra o quanto a literatura pode ser 
alienadora ao retratar, de modo positivo, as re-
lações de opressão existentes na sociedade.
b) revela a ação predatória do homem no mar, 
questionando a utilização dos recursos natu-
rais pelo homem ocidental.
c) defende que a força colonizadora e civiliza-
tória do homem ocidental valorizou a organi-
zação das sociedades africanas e asiáticas, ele-
vando-as ao modo de organização cultural e 
social da sociedade moderna.
d) questiona o modo de organização das so-
ciedades ocidentais capitalistas, que se de-
senvolveram fundamentadas nas relações de 
opressão em que os mais fortes exploram os 
mais fracos.
e) evidencia a dinâmica social do trabalho co-
letivo em que os mais fortes colaboram com 
os mais fracos, de modo a guiá-los na realiza-
ção de tarefas.
12. (ENEM) Candido Portinari (1903-1962), um dos 
mais importantes artistas brasileiros do século 
XX, tratou de diferentes aspectos da nossa 
realidade em seus quadros.
I) 
II) 
III) 
IV) 
Literatura
18 1ª série do Ensino Médio
 Sobre a temática dos Retirantes, Portinari 
também escreveu o seguinte poema:
 Os retirantes vêm com trouxas e embrulhos
 Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos
 Doloridos como fagulhas de carvão aceso
 Corpos disformes, uns panos sujos,
 Rasgados e sem cor, dependurados
 Homens de enorme ventre bojudo
 Mulheres com trouxas caídas para o lado
 Pançudas, carregando ao colo um garoto
 Choramingando, remelento
 (...)
Candido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1964.
 
 Das quatro obras reproduzidas, assinale 
aquelas que abordam a problemática que é 
tema do poema.
a) 1 e 2. d) 3 e 4. 
b) 1 e 3. e) 2 e 4. 
c) 2 e 3.
 
 As questões 13 e 14 referem-se a este poema:
A DANÇA E A ALMA
 A dança? Não é movimento,
 Súbito gesto musical.
 É concentração, num momento,
 da humana graça natural.
 No solo não, no éter pairamos,
 nele amaríamos fi car.
 A dança — não vento nos ramos:
 seiva, força, perene estar.
 Um estar entre céu e chão,
 novo domínio conquistado,
 onde busque nossa paixão
 libertar-se por todo lado...
 Onde a alma possa descrever
 suas mais divinas parábolas
 sem fugir à forma do ser,
 por sobre o mistério das fábulas.
 Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 
1964. p. 366.
13. (ENEM) A defi nição de dança, em linguagem 
de dicionário, que mais se aproxima do que 
está expresso no poema é 
a) a mais antiga das artes, servindo como 
elemento de comunicação e afi rmação do 
homem em todos os momentos de sua 
existência.
b) a forma de expressão corporal que 
ultrapassa os limites físicos, possibilitando ao 
homem a libertação de seu espírito.
c) a manifestação do ser humano, formada 
por uma sequência de gestos, passos e 
movimentos desconcertados.
d) o conjunto organizado de movimentos 
do corpo, com ritmo determinado por 
instrumentos musicais, ruídos, cantos, 
emoções etc.
e) o movimento diretamente ligado ao 
psiquismo do indivíduo e, por consequência, ao 
seu desenvolvimento intelectual e à sua cultura.
14. (ENEM) O poema A Dança e a Alma é construído 
com base em contrastes, como “movimento” e 
“concentração”. Em uma das estrofes, o termo 
que estabelece contraste com solo é:
a) éter. b) seiva. c) chão. d) paixão. e) ser.
 
15. (ENEM) A leitura do poema Descrição da 
guerra em Guernica traz à lembrança o famoso 
quadro de Picasso.
 “Entra pela janela
 o anjo camponês;
 com a terceira luz na mão;
 minucioso, habituado
 aos interiores de cereal,
 aos utensílios que dormem na fuligem;
 os seus olhos rurais
 não compreendem bem os símbolos
 desta colheita: hélices,
 motores furiosos;
 e estende mais o braço; planta
 no ar, como uma árvore
 a chama do candeeiro. (...)”
OLIVEIRA, Carlos de In: ANDRADE, Eugénio. Antologia pessoal da
poesia portuguesa. Porto; Campo das letras, 1999.
 Uma análise cuidadosa do quadro permite 
que se identifi quem as cenas referidas nos 
trechos do poema. Podem ser relacionadas ao 
texto lido as partes:
a) a 1, a 2, a 3. d) c 1, c 2, c 3. 
b) f 1, e 1, d 1. e) e 1, e 2, e 3. 
c) e 1, d 1, c 1.
A linguagem literária
19Volume 1
3. A linguagem literária
Já vimos que a literatura é uma manifestação artística e que ela se expressa pela linguagem verbal, a palavra. Então será que todo e qualquer texto é literatura?
 Para produzir um texto literário, é necessário um trabalho especial com a palavra, é preciso 
produzir novos signifi cados, ir além do signifi cado literal, denotativo.
 Uma mesma palavra pode apresentar diferentes sentidos, ocorrendo duas situações: a 
denotação, que é o emprego da palavra em seu sentido habitual, comum, literal, de acordo 
com o dicionário; e a conotação, que é o emprego da palavra com signifi cado novo, alterado, 
fi gurado, permitindo diferentes interpretações,gerando a plurissignifi cação.
 Dessa forma, o texto literário explora a conotação, função poética, pois seu foco é o trabalho 
com o aspecto material e concreto da mensagem.
 Segundo Roman Jakobson, a função poética “coloca em evidência o lado palpável, material 
dos signos”. Ela provoca o estranhamento e o interesse pela mensagem por meio de um arranjo 
que visa ao estético, resultado de uma especial seleção e combinação das palavras, da conotação, 
da combinação de sons e muitos outros.
 Observe este texto:
METÁFORA
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: “Lata”
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber
O incabível
Deixe a lata do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
GILBERTO GIL. In: Um Banda UM. Disponível em:
<http://www.gilbertogil.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2015.
 Na primeira estrofe, é apresentado o sentido literal de lata (no primeiro verso) e, a seguir, 
desloca-o para o conotativo. Assim também é feito com o termo meta, na segunda estrofe. 
 Ao poeta cabe a possibilidade de criar novos e múltiplos signifi cados fi gurados (metáforas) 
para as palavras. A lata do poeta tem capacidade “incontível” de criar imagens meta pode ser o 
que não se pode atingir.
 Para que o texto literário possa abrigar novas signifi cações, o escritor faz uso das fi guras de 
linguagem, ou seja, de recursos estilísticos sonoros, sintáticos e semânticos .
 Veja a seguir, alguns deles.
Literatura
20 1ª série do Ensino Médio
Figuras sonoras
 A exploração dos sons das palavras com o objetivo de produzir efeitos de sentido é conhecida 
como fi gura sonora. Vejamos algumas:
Onomatopeia
 É uso da palavra para representar sons específi cos.
 “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r-r-r eterno!
 Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!”
 Fernando Pessoa
 
Aliteração
 É a repetição de fonemas consonantais com a intenção de criar um efeito sensorial.
 Vozes veladas, veludosas vozes,
 volúpias de violões, vozes veladas,
 vagam nos velhos vórtices velozes
 dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
 Cruz e Sousa
Assonância
 É a repetição de sons vocálicos com vistas a alcançar musicalidade.
 “Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...”
 Eugênio de Castro
Paronomásia
 Consiste na aproximação de palavras semelhantes no som, mas distintas na signifi cação.
 
 “Com os preços praticados em planos de saúde, uma simples fatura em 
decorrência de uma fratura pode acabar com a nossa fartura.”
 Max Nunes
Figuras de palavra ou de pensamento
 A fi gura de palavra é o emprego fi gurado, simbólico, de uma palavra em um contexto em que 
ela adquira novo sentido.
Metonímia
 É o emprego de uma palavra por outra numa relação de “proximidade” (contiguidade). Isso 
pode ocorrer em várias situações. Veja algumas:
• O continente pelo conteúdo: Comi um prato de macarrão.
• O autor pela obra: Adoro ler Machado de Assis.
• O abstrato pelo concreto: O pobre gato contou com seu coração.
• A marca pelo produto: Posso usar seu errorex?
• O lugar pelos habitantes: A França reagiu aos ataques a Paris.
Sinédoque
 É um tipo de metonímia, na qual se estabelece relação quantitativa, da parte pelo todo 
(ou vice-versa), do menos abrangente para o mais (ou vice-versa), do menor para o maior 
(ou vice-vesa). Veja:
• Meus olhos se entristeceram com sua partida.
 (Eu me entristeci) 
A linguagem literária
21Volume 1
• O francês cultiva a arte culinária.
 (Os franceses)
• Precisamos conquistar um teto.
 (uma casa)
Metáfora
 É uma comparação implícita, sem o uso do termo comparativo.
 
“A poesia é dança e a dança é alegria.”
 Mario Quintana
“O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.”
 Carlos Drummond de Andrade
Comparação (ou símile)
 É a associação de elementos que possuem características comuns, por meio de um termo 
comparativo.
“O amor é como um rio que transborda meu coração.”
Antonomásia (ou Perífrase)
 É a identifi cação de uma pessoa não por seu nome, mas por uma característica que a distingue 
das demais.
Castro Alves é conhecido por poeta dos Escravos
Museu apresenta exposição sobre o rei do futebol. (Pelé)
Catacrese
 Ocorre quando, na ausência de uma palavra específi ca, se utiliza uma outra a partir de alguma 
semelhança conceitual.
asa da xícara
pé da mesa
embarque no ônibus
Sinestesia
 Consiste em estabelecer uma relação entre sensações que pertencem a campos sensoriais 
diferentes.
“... esse olho que não ouve
esse ouvido que não lê...
 Antônio Barreto
“Agora o cheiro áspero das fl ores
leva-me os olhos para dentro de suas pétalas.”
 Cecília Meireles
Preterição
 Consiste em declarar não querer falar sobre algo de que já se fala.
 Eu não vou dizer a você que detestei a sua ideia.
“...calo-me, não digo nada, não conto os meus serviços, o que fi z aos pobres e aos enfermos, 
nem as recompensas que recebi, não digo absolutamente nada.”
 Machado de Assis
Literatura
22 1ª série do Ensino Médio
Hipérbole
 É o exagero intencional de uma ideia.
“Sete mil vezes
Eu tornaria a viver assim
Sempre contigo”
 Caetano Veloso
Eufemismo
 É a atenuação (suavização) de uma ideia desagradável, rude ou triste.
Ele dormiu eternamente.
 (morte)
 “Quando a indesejada das gentes chegar” 
 (morte) 
 Manuel Bandeira
Ironia
 Consiste em dizer o contrário do que se pensa.
“Moça linda bem tratada
Três séculos de família,
Burra como uma porta;
Um amor”
 Mário de Andrade
 Que nota bonita na prova! Zero.
Prosopopeia (ou personifi cação)
 Consiste na atribuição de características humanas a animais e objetos inanimados.
A noite abraçou a fl oresta.
 “Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrastra dos naturais,
e dos estrangeiros madre:”
 Gregório de Matos
Gradação
 É a disposição de ideias em ordem crescente ou decrescente.
 “Seu Irineu pisou no prego e esvaziou. Apanhou um resfriado, do resfriado passou a 
pneumonia, da pneumonia passou ao estado de coma e do estado de coma não passou mais.” 
Stanislaw Ponte Preta
Antítese
 É a evidência da oposição entre duas ou mais palavras ou ideias:
“Nasce o sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se seguea noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria”
 Gregório de Matos
A linguagem literária
23Volume 1
Paradoxo ou Oxímoro
 É a associação de ideias, eventos contraditórios, inconciliáveis. 
 Há verdades mentirosas no mundo.
“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer”
(...)
 Camões
Figuras de sintaxe (ou de construção)
Hipérbato
 É a inversão da ordem direta nas frases.
“Em tristes sombras morre a formosura”
 Gregório de Matos
“São como cristais as palavras.”
 Eugênio de Andrade
Pleonasmo
 É o uso redundante das palavras, para reforço ou realce da ideia.
 Meus pensamentos, engavetei-os para não te desagradar.
 “Me sorri um sorriso pontual”
 Chico Buarque de Holanda
Anacoluto
 É a suspensão da produção de sentidos de uma frase, por vezes provocada pelo emprego de 
palavras soltas.
Eu, porque sou bom, você abusa.
Elipse
 É o ocultamento de um elemento que pode ser identifi cado pela construção do período.
“No mar, tanta tormenta e tanto dano.”
 Camões
Zeugma
 Forma particular de elipse. É a omissão de um termo já expresso anteriormente.
 
 As empresas ofereceram canetas; os fornecedores, os blocos de notas.
Polissíndeto
 Repetição enfática de conectivos.
“Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.”
 Rubem Braga
“Vão-se as nuvens da aurora,
e só fi cam as palhas
e os espinhos das rosas”
 Cecília Meireles
Literatura
24 1ª série do Ensino Médio
Anáfora
 É a repetição de palavras no início de versos, ou nos textos em prosa, ou no início de orações.
LADAINHA
 “Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome de ilha
 de Vera cruz.
 Ilha cheia de graça
 Ilha cheia de pássaros
 Ilha cheia de luz.
 (...)
 Depois mudaram-lhe o nome
 para terra de Santa Cruz.
 Terra cheia de graça
 Terra cheia de pássaros
 Terra cheia de luz.
 A grande Terra girassol onde havia guerreiros de
 tanga e onças ruivas
 deitados à sombra das árvores mosqueadas de sol.
 (...)
 deram-lhe o nome de Brasil.
 Brasil cheio de graça
 Brasil cheio de pássaros
 Brasil cheio de luz.”
 Cassiano Ricardo
Exercícios de sala
1. Leia este texto (uma canção de Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis) para responder às questões 
propostas.
DOIS RIOS
 O céu está no chão
 O céu não cai do alto
 É o claro, é a escuridão
 O céu que toca o chão
 É que vai no alto
 Dois lados deram as mãos
 Como eu fi z também
 Só pra poder conhecer
 O que a voz da vida vem dizer
 O sol é o pé e a mão
 O sol é a mãe e o pai
 Dissolve a escuridão
 O sol se põe se vai
 E após se pôr
 O sol renasce no Japão
 Eu vi também
 Só para poder entender
 Na voz a vida ouvi dizer
 Que os braços sentem
 E os olhos veem
 Que os lábios sejam
 Dois rios inteiros
 Sem direção
 Que os braços sentem
 E os olhos veem
 Que os lábios beijam
 Dois rios inteiros
 Sem direção
 E o meu lugar é esse
 Ao lado seu, no corpo inteiro
 Dou o meu lugar, pois o seu lugar
 É o meu amor primeiro
 O dia e a noite as quatro estações
Infernal Produções Artísticas Adm. por Warner 
Chappel Edições Musicais. EMI Songs do Brasil Edições Musicais. SAM Music Edições Musicais.
A linguagem literária
25Volume 1
a) O texto é construído a partir de elementos que se opõem. Transcreva alguns deles.
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b) Qual é a fi gura de linguagem que marca tal oposição?
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c) A partir de qual estrofe do texto se estabelece uma comparação? Comente.
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2. Faça o que se pede a seguir.
a) Transcreva do texto um verso que exemplifi que a seguinte fi gura:
 • aliteração
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 • anáfora
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b) A expressão que dá título ao texto se apresenta no sentido denotativo ou conotativo? Explique sua 
resposta.
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 Utilize este texto para responder às questões 3 e 4.
 DINOSSAUROS EM TEMPOS DIFÍCEIS
A sobrevivência da espécie (dos escritores) e da cultura é uma boa causa
 Minha vocação nasceu com a ideia de que o trabalho literário é uma responsabilidade que não 
se limita ao lado artístico: ela está ligada à preocupação moral e à ação cívica. Até o presente, esses 
fatores animaram tudo o que escrevi e, por isso, vão fazendo de mim, nesta época da realidade virtual, 
um dinossauro que usa calças e gravata, rodeado de computadores.
 [...] Em nossa época se escrevem e publicam muitos livros, mas ninguém à minha volta — ou quase 
ninguém, para não discriminar os pobres dinossauros — acredita mais que a literatura sirva de grande 
coisa, a não ser para evitar que as pessoas se aborreçam muito no ônibus ou no metrô, e para que, 
adaptada para o cinema e a televisão, a fi cção literária — se for sobre marcianos, horror, vampirismo 
ou crimes sadomasoquistas, melhor — se torne televisiva ou cinematográfi ca.
 Para sobreviver, a literatura tornou-se light — é erro traduzir essa noção por “leve”, porque, na 
verdade, ela signifi ca “irresponsável” e, muitas vezes, idiota.
 (...) Se o objetivo é apenas o de entreter e fazer com que os seres humanos passem momentos 
agradáveis, perdidos na irrealidade, emancipados da sordidez cotidiana, no inferno doméstico ou 
da angústia econômica, em descontraída indolência intelectual, as fi cções da literatura não podem 
competir com as oferecidas pelas telas, seja de cinema ou de TV. As ilusões forjadas com a palavra 
exigem a participação ativa do leitor, um esforço de imaginação, e, às vezes — quando se trata de 
Literatura
26 1ª série do Ensino Médio
literatura moderna —, complicadas operações de memória, associação e criação, algo de que as 
imagens do cinema e da televisão dispensam os espectadores. E, por isso, os espectadores se tornam 
cada vez mais preguiçosos, mais alérgicos a um entretenimento que requeira esforço intelectual. (...)
 As fi cções apresentadas nas telas são intensas por seu imediatismo e efêmeras por seus resultados. 
Prendem-nos e nos desencarceram quase de imediato — das fi cções literárias nos tornamos prisioneiros 
pela vida toda. Dizer que os livros daquelesescritores entretêm seria injuriá-los, porque, embora seja 
impossível não ler tais livros em estado de transe, o importante de sua boa literatura é sempre posterior 
à leitura — um efeito defl agrado na memória e no tempo. Ao menos é o que acontece comigo, porque, 
sem elas, para o bem ou para o mal, eu não seria como sou, não acreditaria no que acredito nem teria 
as dúvidas e as certezas que me fazem viver.
 LLOSA, Mario Vargas. In: O Estado de São Paulo, 1996.
3. (IBMEC) A metáfora que dá título ao texto refere-se
a) ao papel secundário dos livros na sociedade imagética.
b) ao anacronismo dos escritores clássicos.
c) aos escritores que negam a literatura de entretenimento, de caráter efêmero.
d) ao desprestígio dos autores consagrados.
e) aos escritores que tentam emocionar seus leitores.
4. (IBMEC) Dos fragmentos seguintes, aponte aqueles que também atribuem à literatura uma função 
cívica e transformadora.
I) “As palavras escritas frequentemente escoiceiam as verdades ofi ciais, como cavalos alados. Mor-
dem os torturadores, atacam os corruptos e os burocratas, conduzidas pela ética de quem as orga-
niza. Além disso, elas nos fazem sonhar; abrem portas, janelas, cofres, alçapões e caixas de Pandora; 
permitem que as fl ores nasçam em pleno asfalto; transformam o naufrágio da velhice num tempo de 
ventura, quando restam apenas o homem e a alma.”
KONDER, Rodolfo. In: O Estado de São Paulo, 08 mar. 1999.
II) “Pertenço àqueles que ainda acreditam que livros impressos têm um futuro e que todos os receios 
‘a propos’ de seu desaparecimento são apenas o exemplo derradeiro de outros medos ou de terrores 
milenaristas em torno do fi m de alguma coisa, inclusive do mundo.”
ECO, Umberto. In: Folha de São Paulo, 14 dez. 2003.
III) “Heráclito disse — e já repeti isso em demasia — que ninguém desce duas vezes o mesmo rio. 
Ninguém desce duas vezes o mesmo rio, porque suas águas mudam. Mas o mais terrível é que nós 
não somos menos fl uidos do que o rio. Cada vez que lemos um livro, o livro mudou, a conotação das 
palavras é outra. Ademais, os livros estão impregnados do passado.”
 BORGES, Jorge Luis. Cinco visões pessoais. UNB, p. 20.
IV) “Oh Bendito o que semeia
 Livros... livros à mão cheia...
 E manda o povo pensar!
 O livro caindo n’alma
 É germe — que faz a palma,
 É chuva — que faz o mar.”
 ALVES, Castro. Obra completa. Nova Aguilar.
a) I e IV.
b) II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) III e IV.
A linguagem literária
27Volume 1
5. (ENEM) Oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa signifi cados que se excluem 
mutuamente. Para Garfi eld, a frase de saudação de Jon (tirinha a seguir) expressa o maior de todos 
os oxímoros.
Garfi eld. Folha de São Paulo, 31 jul. 2000.
 Nas alternativas a seguir, estão transcritos versos retirados do poema O operário em construção, 
de Vinicius de Moraes.
 Pode-se afi rmar que ocorre um oxímoro em
a) “Era ele que erguia casas
 Onde antes só havia chão.”
b) “... a casa que ele fazia
 Sendo a sua liberdade
 Era a sua escravidão.”
c) “Naquela casa vazia
 Que ele mesmo levantara
 Um mundo novo nascia
 De que sequer suspeitava.”
d) “... o operário faz a coisa
 E a coisa faz o operário.”
e) “Ele, um humilde operário
 Um operário que sabia
 Exercer a profi ssão.”
6. (ENEM-INEP) 
 O AÇÚCAR
 O branco açúcar que adoçará meu café
 nesta manhã de Ipanema
 não foi produzido por mim
 nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
 Vejo-o puro
 e afável ao paladar
 como beijo de moça, água
 na pele, fl or
 que se dissolve na boca. Mas este açúcar
 não foi feito por mim.
 Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco
 o fez o Oliveira, dono da mercearia.
 Este açúcar veio
 de uma usina de açúcar em Pernambuco
 ou no Estado do Rio
Literatura
28 1ª série do Ensino Médio
 e tampouco o fez o dono da usina.
 Este açúcar era cana
 e veio dos canaviais extensos
 que não nascem por acaso
 no regaço do vale.
 [...]
 Em usinas escuras,
 homens de vida amarga
 e dura
 produziram este açúcar
 branco e puro
 com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 227-228.
 A antítese que confi gura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é 
expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e
a) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar.
b) o beijo de moça, a água na pele e a fl or que se dissolve na boca.
c) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde se produz o açúcar.
d) a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale.
e) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas escuras.
7. (FUVEST) 
CAPÍTULO CVII 
BILHETE 
 
 “Não houve nada, mas ele suspeita alguma cousa; está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu 
uma vez somente, para Nhonhô, depois de o fi tar muito tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem 
bem. Não sei o que vai acontecer; Deus queira que isto passe. Muita cautela, por ora, muita cautela.” 
CAPÍTULO CVIII 
QUE SE NÃO ENTENDE 
 Eis aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado 
em partes, machucado das mãos, era um documento de análise, que eu não farei neste capítulo, nem 
no outro, nem talvez em todo o resto do livro. Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por si mesmo a 
frieza, a perspicácia e o ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa; e por trás delas a tempestade de 
outro cérebro, a raiva dissimulada, o desespero que se constrange e medita, porque tem de resolver-se 
na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas? 
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
 Ao comentar o bilhete de Virgília, o narrador se vale, principalmente, do seguinte recurso retórico: 
a) Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das palavras de uma oração, para efeito 
estilístico. 
b) Hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da signifi cação linguística. 
c) Preterição: fi gura pela qual se fi nge não querer falar de coisas sobre as quais se está, todavia, 
falando. 
d) Sinédoque: fi gura que consiste em tomar a parte pelo todo, o todo pela parte; o gênero pela 
espécie, a espécie pelo gênero; o singular pelo plural, o plural pelo singular etc. 
e) Eufemismo: palavra, locução ou acepção mais agradável, empregada em lugar de outra menos 
agradável ou grosseira. 
A linguagem literária
29Volume 1
8. (UFAM) Assinale a alternativa na qual constam versos que contêm a fi gura de linguagem denominada 
gradação:
a) Oh não aguardes que a madura idade
 Te transforme essa fl or, essa beleza
 Em terra, em cinza, em pó, em sombra, 
 em nada.
 Gregório de Matos, Soneto a Maria de Povos”
b) Uma parte de mim
 é multidão,
 outra parte, estranheza
 e solidão.
 Ferreira Gullar, Traduzir-se
c) Homem, carne sem luz, criatura cega,
 Realidade geográfi ca infeliz,
 O Universo calado te renega
 E a tua própria boca te maldiz!
 Augusto dos Anjos, Homo infi mus
9. (Evangélica-Goiás) Observe a imagem e leia o excerto poético a seguir.
 A vós correndo vou, braços sagrados,
 Nessa cruz sacrossanta descobertos,
 Que, para receber-me, estais abertos,
 E, por não castigar-me, estais cravados.
 A vós, divinos olhos, eclipsados
 De tanto sangue e lágrimas abertos,
 Pois, para perdoar-me, estais despertos,
 E, por não condenar-me, estais fechados.
 MATOS, Gregório de. Buscando a Cristo. In: WISNIK, José Miguel (Org.). 
 Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 300.
 
 
 As antíteses disseminadas ao longo do excerto poético metaforizam o choque do contato entre a 
perspectiva antropocêntrica e a teocêntrica, tema caro à arte barroca.
 Na pintura, esse confl ito é metaforizado
a) pela perspectiva realista das imagens retratadas.
b) pelo agrupamento de pessoas crentes no poder divino.
c) pelo contraste entre cores escuras e claras.
d) pela representação de pessoas atônitas e perdidas.
10. (ESPM-SP) Será porventurao estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado¹, um estilo 
tão difi cultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa 
razão é também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar 
ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o 
céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte 
está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas 
são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro.
Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira
 ¹empeçado: com obstáculo, com empecilho. 
 d) Um galo sozinho não tece uma manhã:
 ele precisará sempre de outros galos.
 De um que apanhe esse grito que ele
 o lance a outro.
 João Cabral, Tecendo a manhã
 e) No meio do caminho tinha uma pedra
 tinha uma pedra no meio do caminho
 tinha uma pedra
 no meio do caminho tinha uma pedra.
 Carlos Drummond de Andrade, No meio do caminho
CARAVAGGIO, Michelangelo Merisi. 
O sepultamento de Cristo, 1603
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Literatura
30 1ª série do Ensino Médio
 A repetição da expressão “um estilo tão” e o uso da expressão “xadrez de palavras” compõem 
respectivamente as fi guras de linguagem 
a) anáfora e metáfora. 
b) polissíndeto e metonímia. 
c) pleonasmo e anacoluto. 
d) metáfora e prosopopeia. 
e) antonomásia e catacrese.
11. (IBMEC-SP) 
SEMPRE DESCONFIEI
 Sempre desconfi ei de narrativas de sonhos. Se já nos é difícil recordar o que vimos despertos e de 
olhos bem abertos, imagine-se o que não será das coisas que vimos dormindo e de olhos fechados... 
Com esse pouco que nos resta, fazemos reconstituições suspeitamente lógicas e pomos enredo, sem 
querer, nas ocasionais variações de um calidoscópio. Me lembro de que, quando menino, minha gente 
acusava-me de inventar os sonhos. O que me deixava indignado.
 Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão.
 Por outro lado, o que mais espantoso há nos sonhos é que não nos espantamos de nada. Sonhas, 
por exemplo, que estás a conversar com o tio Juca. De repente, te lembras de que ele já morreu. E daí? 
A conversa continua.
 Com toda a naturalidade.
 Já imaginaste que bom se pudesses manter essa imperturbável serenidade na vida propriamente 
dita?
Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Globo,1995.
 Em “Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão”, o autor recorre a uma fi gura de construção, 
que está corretamente explicada em
a) silepse, por haver uma concordância verbal ideológica.
b) elipse, por haver a omissão do objeto direto.
c) anacoluto, por haver uma ruptura na estrutura sintática da frase.
d) pleonasmo, por haver uma redundância proposital em “ambas as partes”.
e) hipérbato, por haver uma inversão da ordem natural e direta dos termos da oração.
Poesia, poema e prosa
 O texto literário pode apresentar duas formas: em verso ou em prosa quando organizado em 
parágrafos com linhas contínuas, de mesma extensão. O poema (ou poesia enquanto texto em verso) 
se caracteriza como uma composição literária que faz uso de técnicas como métrica, ritmo e rima.
 Envolve aspectos como a exploração da sonoridade das palavras, a plurissignifi cação; a 
expressão eu lírico, entre outras. A propósito, o eu lírico representa a voz que se manifesta no texto, 
ele não tem existência real, não é o autor do texto. Eu lírico ou eu poemático não é o poeta ou o 
autor do texto. Vale lembrar que esses aspectos não devem ser considerados rigidamente, pois há 
textos em prosa com forte carga subjetiva e poemas bem objetivos, sendo, assim, extremamente 
delicados os limites entre poesia e prosa.
 Texto I
 E se fôssemos à costa ver passar o rochedo. Parece isto um absurdo, um contrassentido, mas não 
é [...] vamos mais devagar em cima duma jangada de pedra que navega no mar [...] Quantas vezes, 
para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois 
voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um 
A linguagem literária
31Volume 1
movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, 
insignifi câncias [...], bem melhor seria vivermos em terras de tufões.
SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo: Cia das Letras, 2008. p. 72.
José Saramago: (1922-2010) escritor português ganhador do Prêmio Nobel de literatura em 1998. 
“Evidenciou, em várias de suas obras, as determinações sociais, políticas, culturais, religiosas e ideológicas 
na formação histórica de Portugal, com o intuito de contribuir para um novo olhar sobre o povo lusitano.” 
(Samira Daura Botelho) Os temas da liberdade e da democracia são recorrentes em suas obras.
 Texto II
 Minha mãe achava estudo
 a coisa mais fi na do mundo.
 Não é.
 A coisa mais fi na do mundo é o sentimento.
 Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
 ela falou comigo:
 “Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
 Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
 Não me falou em amor.
 Essa palavra de luxo.
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991, p. 116.
Adélia Prado: (1935) escritora mineira cuja obra aborda o cotidiano de maneira perplexa e 
encantada, a mulher, a fé cristã e o lirismo lúdico.
 O Texto I é um fragmento do romance histórico do escritor português José Saramago: A 
jangada de pedra. Editada, pela primeira vez em 1986, a narrativa centra-se na península Ibérica, 
que, misteriosamente, se desloca do restante da Europa e começa a fl utuar no oceano, como 
uma “jangada de pedra”.
 “O fato de a península separar-se da Europa é o aspecto central da narrativa, cujos espaços 
geográfi co e social interferem na própria caracterização da identidade dos personagens. É 
exatamente por viajarem em uma “jangada”, sem rumo, que os protagonistas tomam decisões, 
alteram a direção de suas vidas e sofrem modifi cações internas e externas. Além disso, o fato de 
Portugal e Espanha separarem-se do continente mostra nitidamente a interferência do espaço 
nas relações de poder, pois apresenta de que forma o restante da Europa lida com a situação.
BOTELHO, Samira Daura. História, fi cção e memória nos espaços fantásticos de A jangada de pedra: uma (a)ventura ibérica. Uberlândia, 2012.
 Nesse trecho, os personagens que acreditam ser os causadores do deslocamento da 
península se encontram e fazem uma refl exão bem instigante a respeito da vida. Esse texto em 
prosa apresenta características da poesia: o jogo sonoro das palavras passar / devagar / mar / 
mudar / pensar / circular; a plurissignifi cação das palavras jangada / vida / balanço / calhas / 
tempo. Temos, assim, um exemplo de prosa poética.
 Já o Texto II, um poema de Adélia Prado, apresenta uma cena cotidiana de maneira bem 
próxima a um texto em prosa. Entretanto a simplicidade aparente traz um retrato muito poético 
do signifi cado do amor. Nesse caso, a poesia não está na forma de expressão, mas sim nos 
arranjos signifi cativos das palavras.
Literatura
32 1ª série do Ensino Médio
 Esses dois exemplos e mais outros apresentados até aqui são chamados de textos literários. 
Mas será que todo texto pode ser assim chamado?
 A conotação é marca indispensável do texto literário que, apresenta linguagem oposta à 
informativa referencial dos textos não literários.
 O texto seguinte tem como tema o amor. Leia-o e compare-o com o de Adélia Prado 
transcrito anteriormente.
AMOR
 A fascinante viagem dessa palavra e dos seus múltiplos signifi cados ao longo de 3 000 anos
 O poema de amor mais famoso de todos os tempos é também um dos livros mais 
enigimáticos da Bíblia.Raros estudiosos acreditam nisso, mas o Cântico dos Cânticos, livro do 
Antigo Testamento, começa atribuindo sua autoria ao rei Salomão.
 “Beija-me com teus beijos! Tuas carícias são melhores que o vinho!” são os versos que 
inauguram o Cântico dos Cânticos, um longo diálogo entre um jovem casal apaixonado. [...]
 O Cântico dos Cânticos e as antigas canções de amor egípcias, de Michael Fox, se transforma 
numa fascinante investigação sobre os primeiros registros de poesia romântica na história. Um dos 
maiores especialistas em línguas e religiões do Oriente Médio, Fox detecta no Cântico a mesma 
linguagem metafórica das canções de amor do Antigo Egito — um festival de comparações entre 
partes do corpo do ser amado e frutas, fl ores, ervas aromáticas e pedras preciosas. Ninguém 
duvide que, quando ouvimos hoje expressões como “lábios de mel” ou “olhos de jabuticaba”, 
estamos escutando ecos de uma tradição poética de mais de 3 000 anos.
Almanaque da Super 2003. São Paulo: Abril, 2003. (Fragmento)
 Você deve ter percebido que esse texto tem caráter informativo, que sua linguagem é trabalhada 
sobre a denotação e que, apesar de apresentar o mesmo tema da poesia de Adélia Prado, a 
abordagem e o tratamento são bem diferentes.
 O texto literário transforma incessantemente não só as relações que as palavras entretêm 
consigo mesmas, utilizando-as além de seus sentidos estritos e além da lógica do discurso usual, 
mas estabelece com cada leitor relações subjetivas que o tornam um texto móvel (modifi cante e 
modifi cável), capaz mesmo de não conter nenhum sentido defi nitivo ou incontestável.”
D’Onofrio. Salvatore. Teoria do texto 1. 2. ed. São Paulo: Ática, 2002.
Exercícios propostos
12. (ENEM) Leia o que disse João Cabral de Melo 
Neto, poeta pernambucano, sobre a função de 
seus textos:
 “Falo somente com o que falo: a linguagem 
enxuta, contato denso; falo somente do que 
falo: a vida seca, áspera e clara do sertão; falo 
somente por quem falo: o homem sertanejo 
sobrevivendo na adversidade e na míngua. Falo 
somente para quem falo: para os que precisam 
ser alertados para a situação da miséria no 
Nordeste.”
 Para João Cabral de Melo Neto, no texto 
literário,
a) a linguagem do texto deve refl etir o tema, 
e a fala do autor deve denunciar o fato social 
para determinados leitores.
b) a linguagem do texto não deve ter relação 
com o tema, e o autor deve ser imparcial para 
que seu texto seja lido.
c) o escritor deve saber separar a linguagem 
do tema e a perspectiva pessoal da perspectiva 
do leitor.
d) a linguagem pode ser separada do tema, e 
o escritor deve ser o delator do fato social para 
todos os leitores.
e) a linguagem está além do tema, e o fato social 
deve ser a proposta do escritor para convencer 
o leitor.
A linguagem literária
33Volume 1
13. (ENEM-INEP) 
 Texto I
 Principiei a leitura de má vontade. E logo 
emperrei na história de um menino vadio 
que, dirigindo-se à escola, se retardava a 
conversar com os passarinhos e recebia 
deles opiniões sisudas e bons conselhos. Em 
seguida vinham outros irracionais, igualmente 
bem-intencionados e bem falantes. Havia a 
moscazinha que morava na parede de uma 
chaminé e voava à toa, desobedecendo às 
ordens maternas, e tanto voou que afi nal caiu 
no fogo. Esses contos me intrigaram com o 
[livro] Barão de Macaúbas. Infelizmente um 
doutor, utilizando bichinhos, impunha-nos a 
linguagem dos doutores. — Queres tu brincar 
comigo? O passarinho, no galho, respondia 
com preceito e moral, e a mosca usava 
adjetivos colhidos no dicionário. A fi gura do 
barão manchava o frontispício do livro, e a 
gente percebia que era dele o pedantismo 
atribuído à mosca e ao passarinho. Ridículo um 
indivíduo hirsuto e grave, doutor e barão, pipilar 
conselhos, zumbir admoestações.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1986. (Adaptado)
 Texto II
 Dado que a literatura, como a vida, ensina 
na medida em que atua com toda sua gama, 
é artifi cial querer que ela funcione como 
os manuais de virtude e boa conduta. E a 
sociedade não pode senão escolher o que em 
cada momento lhe parece adaptado aos seus 
fi ns, enfrentando ainda assim os mais curiosos 
paradoxos, pois mesmo as obras consideradas 
indispensáveis para a formação do moço 
trazem frequentemente o que as convenções 
desejariam banir. Aliás, essa espécie de 
inevitável contrabando é um dos meios por que 
o jovem entra em contato com realidades que 
se tenciona escamotear-lhe.
 CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Duas Cidades. São 
Paulo: Editora 34, 2002. (Adaptado)
 Os dois textos anteriores, com enfoques 
diferentes, abordam um mesmo problema, que 
se refere, simultaneamente, ao campo literário 
e ao social. Considerando-se a relação entre os 
dois textos, verifi ca-se que eles têm em comum 
o fato de que
a) tratam do mesmo tema, embora com opi-
niões divergentes, expressas no primeiro texto 
por meio da fi cção e, no segundo, por análise 
sociológica.
b) foi usada, em ambos, linguagem de caráter 
moralista em defesa de uma mesma tese: a li-
teratura, muitas vezes, é nociva à formação do 
jovem estudante.
c) são utilizadas linguagens diferentes nos dois 
textos, que apresentam um mesmo ponto de vis-
ta: a literatura deixa ver o que se pretende escon-
der.
d) a linguagem fi gurada é predominante em 
ambos, embora o primeiro seja uma fábula e o 
segundo, um texto científi co.
e) o tom humorístico caracteriza a linguagem 
de ambos os textos, em que se defende o cará-
ter pedagógico da literatura.
14. (ENEM-INEP) Do pedacinho de papel ao livro 
impresso vai uma longa distância. Mas o que o 
escritor quer, mesmo, é isto: ver o seu texto em 
letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar 
a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da 
mesma forma que a adega faz amadurecer 
o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é 
melhor ainda.
 O período de maturação na gaveta é 
necessário, mas não deve se prolongar muito. 
“Textos guardados acabam cheirando mal”, 
disse Silvia Plath, [...] que, com esta frase, deu 
testemunho das dúvidas que atormentam o 
escritor: publicar ou não publicar? Guardar ou 
jogar fora?
SCLIAR, Moacyr. O escritor e seus desafi os.
 
 Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa 
imagens para refl etir sobre uma etapa da 
criação literária. A ideia de que o processo de 
maturação do texto nem sempre é o que garante 
bons resultados está sugerida na seguinte frase:
a) “A gaveta é ótima para aplacar a fúria 
criativa.”
b) “Em certos casos, a cesta de papel é melhor 
ainda.”
c) “O período de maturação na gaveta é 
necessário, [...]”
d) “Mas o que o escritor quer, mesmo, é isto: 
ver o seu texto em letra de forma.”
e) “ela [a gaveta] faz amadurecer o texto da 
mesma forma que a adega faz amadurecer o 
vinho.”
Literatura
34 1ª série do Ensino Médio
15. (ENEM) 
NEGRINHA
 Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. 
Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos 
ruços e olhos assustados.
 Nascera na senzala, de mãe escrava, e 
seus primeiros anos vivera-os pelos cantos 
escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos 
imundos. Sempre escondida, que a patroa não 
gostava de crianças.
 Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, 
dona do mundo, amimada dos padres, com 
lugar certo na igreja e camarote de luxo 
reservado no céu. Entaladas as banhas no trono 
(uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali 
bordava, recebia as amigas e o vigário, dando 
audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa 
senhora em suma – “dama de grandes virtudes 
apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia 
o reverendo.
 Ótima, a dona Inácia.
 Mas não admitia choro de criança. Ai! 
Punha-lhe os nervos em carne viva.
 [...]
 A excelente dona Iná cia era mestra na arte 
de judiar de crianç as. Vinha da escravidã o, 
fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, 
amigas de ouvir cantar o bolo e zera ao regime 
novo – essa indecê ncia de negro igual.
 LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos 
brasileiros do sé culo. Rio de

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