Prévia do material em texto
GESTÃO DE CUSTOS Gustavo de Oliveira Antoni Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você apresentar os seguintes aprendizados: � Determinar o nível de vendas necessário para alcançar o lucro desejado. � Conceituar o ponto de equilíbrio. � Calcular a margem de segurança e explicar sua importância. Introdução A análise do lucro-alvo é um dos principais usos da análise CVL (custo– volume–lucro), pois, por meio dela, estimamos o volume de vendas necessário para alcançar determinado lucro-alvo. Já a análise do ponto de equilíbrio é, na verdade, apenas um caso especial em que o lucro-alvo é igual a zero. Neste capítulo, você aprenderá a determinar o nível de vendas neces- sário para alcançar o lucro desejado e a identificar o ponto de equilíbrio. Além disso, saberá como calcular a margem de segurança e conhecerá sua importância. Nível de vendas para alcance do lucro desejado No processo de tomada de decisões das empresas — com vistas a determi- nar o nível mínimo de vendas de produtos, mercadorias ou serviços para cobertura das despesas e custos fixos e variáveis —, alguns fatores devem ser considerados. Assim, podem ser utilizadas diversas técnicas, ferramentas ou análises, sendo a análise custo–volume–lucro a mais eleita — também conhecida como análise CVL. Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio2 Segundo Martins (2010), a CVL é essencial para o planejamento das or- ganizações e, também, para o processo decisório. Por meio desse tipo de ferramenta, algumas possibilidades são: � determinar o preço final de vendas aos consumidores; � decidir comprar ou fabricar; � combinar a produção entre diferentes produtos ou serviços; � analisar lucros da empresa por meio das vendas realizadas; � verificar questões de sazonalidades, ou seja, épocas de maior e menor saída de produtos e serviços. Para esse tipo de análise, alguns componentes devem ser levados em con- sideração e, depois de analisados, devidamente ponderados para a correta tomada de decisão. Mas, quais seriam eles? Observando a Figura 1, a seguir, vemos que, na análise CVL, existem diversas oportunidades as quais integram basicamente três elementos: a mar- gem de contribuição, os pontos de equilíbrio e a margem de segurança. Mas é preciso lembrar-se de que eles carregam consigo outros conceitos integrados da contabilidade de custos. Figura 1. Análise custo–volume–lucro. O primeiro conceito é o de margem de contribuição (MC), representada pela diferença entre o preço de venda e os gastos variáveis (LEONE, 2009). A MC é derivada do uso do sistema de uma forma de custeio gerencial denominada cus- teio variável. Esse tipo de custeio parte do princípio de que, quando os produtos 3Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio são fabricados, eles basicamente geram dois custos variáveis: a matéria-prima e a mão de obra direta. Essas, por sua vez, geram despesas variáveis, como é o caso de comissões, fretes, seguros, entre outros relacionados com as vendas. Assim, de acordo com Padoveze (2006), a margem de contribuição unitária mostra quanto cada unidade contribui para arcar com os custos fixos. Por isso, é tão importante entender seu significado e sua aplicação. Assim, se uma empresa vende seus produtos por R$ 15,00 e tem gastos variáveis na ordem de R$ 10,00 (custos e despesas), terá uma margem de R$ 5,00. A fórmula da MC é bastante fácil: MC = PV – (CV + DV) onde: MC: margem de contribuição; PV: preço de venda; CV: custos variáveis; DV: despesas variáveis. A margem também pode ser calculada de forma percentual, sendo que os R$ 5,00 devem ser divididos pelos R$ 15,00, o que representa aproximadamente 33%. Quando ela é utilizada em percentual, na fórmula do ponto de equilíbrio, o valor é obtido em unidades monetárias ou em dinheiro. já quando utilizada em valor, o ponto de equilíbrio é obtido em forma de unidades. Essa questão será discutida com mais profundidade na sequência. Agora que já sabemos o conceito de um dos principais componentes da CVL, que é a MC, as decisões que podem ser tomadas com base nessa análise e que têm maior robustez por causa de suas possibilidades são: � custos produtivos que sofrem alterações inesperadas; � vendas que têm variações devido a sazonalidades, crises e outras alterações; � alterações inesperadas em preços de vendas devido a diversos fatores; � diversos fatores que podem afetar a oferta e demanda, como liquida- ções, promoções, descontos, necessidades de vendas abaixo do custo, entre outros; � alterações nas vendas e nos custos; � análises dos custos e despesas para que esses tenham somente alteração linear em relação à produção e venda. Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio4 Outro fator preponderante para determinação do nível de vendas desejado é o controle dos preços pelo mercado. Logo, os gestores não têm praticamente controle sobre esse fator. Resta a eles, assim, o controle dos custos, sendo, na maioria, custos fixos, que, conforme Martins (2010), não têm relação com a produção. São exemplos de custos fixos: � aluguéis; � manutenção; � internet; � telefonia. Portanto, esses custos fixos, assim como outros que apresentam essa ca- racterística, podem e devem ser negociados para que exista a possibilidade de diminuição de seus valores e a possibilidade de aumento dos resultados no final do período. Os custos variáveis também podem ser negociados, porém, como a matéria-prima e a mão de obra, muitas vezes, acabam sendo difíceis de negociar ou afetando a qualidade do produto, é mais fácil investir em negociações envolvendo custos e despesas fixos. Ponto de equilíbrio Um dos conceitos iniciais ligados ao ponto de equilíbrio, ou ponto de equilíbrio contábil (PEC), como o próprio nome indica, é que esse é o momento em que a empresa não tem nem lucro nem prejuízo (MARTINS, 2010). No PEC, a organização consegue o mínimo para cobrir seus custos e despesas fixos e variáveis. Mas, em um primeiro momento, para que serve o PEC? Essa situação pode ser interessante, por exemplo, em alguns momentos: � abertura do negócio e sustentação de suas atividades; � lançamento do produto ou serviço; � criação de uma nova linha de produtos ou serviços; � definição de quantidades mínimas a serem vendidas em determinado período para cobertura dos gastos mensais. Para o cálculo do PEC e a posterior análise e decisões utilizando seus valores, um dos primeiros passos é a separação entre os custos fixos e vari- áveis. Lembrando-se de que os custos fixos são aqueles que não têm relação 5Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio com a produção, e os variáveis têm o seu crescimento conforme a variação da produção Também é preciso considerar que o PEC utiliza, em seu cálculo, o conceito da MC unitária, já vista anteriormente. A fórmula mostrada na sequência ajuda a compreender o cálculo desse índice: Ponto de equilíbrio = Gastos fixosMargem de Contribuição Unitária Pensando de maneira conceitual, o PEC é o momento em que o resultado é igual a zero — e, como já vimos, existem diversas razões para que isso aconteça. De maneira simplificada, no PEC, há a cobertura de todos os gastos do período. Com a margem em valor, o PEC é obtido em unidades. Para a sua obtenção em valores monetários, seria necessário multiplicar o valor pelo preço de cada unidade. Caso fosse utilizada a MC em percentual, o valor seria obtido de forma automática em valor monetário. Mas, além das questões apontadas, por que uma empresa operaria com resultado zero? O PEC é mais do que um resultado nulo. Junto com a MC, ele auxilia o tomador de decisão a definir os produtos que serão vendidos e como eles devem ser vendidos. Mas como isso ocorre? Os produtos que têm a maior MC terão a preferência na produção e venda, já que contribuem para arcar com os custos fixos, mesmo que não tenham os maiores preços de venda. E investir nesses produtos que auxiliarão a diluiros custos fixos é uma das tarefas dos gestores, já que esses custos, em sua maioria, são inevitáveis — como é o caso do aluguel (caso a empresa tenha que pagar), dos salários e de outros valores que ocorrerão independentemente da produção e que precisam ser pagos todos os meses. Por isso, o PEC aliado à análise da MC unitária é tão importante já que ajuda a entender os produtos e serviços que devem ser incentivados, e não só o modo de manter o lucro zero (PADOVEZE, 2006). Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio6 Agora, vamos observar, na Figura 2, o PEC de forma gráfica, já que é outro jeito de compreender o comportamento dos componentes dele e sua análise. Figura 2. Ponto de equilíbrio contábil (PEC). 2.000,00 4.000,00 6.000,00 10.000,00 12.000,00 14.000,00 16.000,00 18.000,00 20.000,00 22.000,00 Reais R$ Área de prejuízo Ponto de equilíbrio contábil Área de lucro Receitas totais Custos totais Custos �xos 0 10 20 30 40 60 70 90 120 130 1501401101008050 Unidades Tendo o gráfico como base, pode-se notar que a reta dos custos continua inalterada, apesar do aumento da reta das receitas totais. Note, também, que os custos fixos não partem do zero. E isso ocorre porque, independentemente do mês, sempre haverá um valor mínimo a ser coberto, como é o caso dos salários e do aluguel. Assim, se não houver produção, é preciso repassar esses valores a cada um dos credores. Ao contrário dos custos fixos, existe a reta dos custos totais, que aumenta conforme o nível de produção, já que os gastos com matéria-prima e mão de obra tendem a crescer com o aumento da produção. As receitas partem do momento zero, já que é preciso começar a faturar para ter algum resultado. A reta dos custos totais não parte do zero pelo fato da existência dos próprios custos fixos. Mesmo que não exista consumo de custos variáveis, a empresa já está gastando, e os variáveis só começarão a ser consumidos com o aumento das unidades. Na área indicada como de prejuízo, é possível entender como a empresa fica com resultado negativo, tanto em questão de unidades quanto do ponto de vista monetário. Já o ponto indicado no centro da figura mostra exatamente o PEC que ocorrerá quando a empresa equilibrar todos os custos e as despesas fixos e variáveis. Na figura, tanto as receitas quanto as unidades demonstram como os gastos são cobertos. 7Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio A análise da figura ainda permite analisar outro momento, que é o lucro, ou seja, algo que vai além do PEC. Assim, quando a empresa já consegue cobrir todos os seus gastos, ela pode ter resultado positivo e começar a obter o retorno econômico de suas atividades. Deve-se compreender que, quando o PEC é alcançado, cada unidade vendida aumentará o lucro em uma importância que é equivalente à MC unitária (VICECONTI; NEVES, 2018). Agora, vamos a um exemplo prático para compreender como o cálculo do PEC é bastante simples. Tomando como base o exemplo de quando a empresa vende seus produtos por R$ 15,00 e têm gastos variáveis na ordem de R$ 10,00 (custos e despesas), tendo a MC unitária de R$ 5,00. Qual seria o seu PEC, se seus custos e suas despesas fixos fossem de R$ 100.000,00? Utilizando a fórmula, teríamos o seguinte: Ponto de equilíbrio = 100.000,005,00 = 20.000 unidades Logo, para saber em valor monetário, seria necessário multiplicar as unida- des pelo valor de cada produto, ou seja, R$ 15,00. Com isso, teríamos o valor de R$ 300.000,00. Ele cobriria todos os custos fixos e variáveis? Se forem 20.000 unidades o mínimo que se precisa produzir e vender, e essas gastam R$ 10,00 entre custos e despesas variáveis, temos R$ 200.000,00 e, adicionalmente, os R$ 100.000,00 de custos fixos, fechando os R$ 300.000,00 que devem ser cobertos pelas unidades vendidas no PEC. O PEC é um dos índices mais importantes da contabilidade gerencial. Aliado à MC, ele oferece uma visão diferenciada para o gestor em relação aos produtos. Isso ocorre porque, utilizando, por exemplo, os produtos que têm mais margem para alavancar e alcançar o PEC, é possível que a empresa fique mais tranquila com o mínimo que precisa vender para sustentar seus custos e despesas fixos e variáveis. Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio8 Margem de segurança Quando a empresa começa a desenvolver as suas atividades, ela pode perma- necer no ponto do equilíbrio até certo momento, já que ainda está se estabe- lecendo, assim como seu produto ou sua a marca. Porém, é lógico que, em breve, ela objetivará ultrapassar tal questão e passar a ter lucro com sua atividade e mais segurança com suas vendas. Ao passar o PEC, outro índice gerencial que é explorado pelos gestores e que pode trazer bons retornos para uma organização é conhecido como margem de segurança (MS), ou margem de segurança operacional (MSO). A MSO também é um conceito simples, apesar da sua ampla utilização, e ocorre quando o número de unidades, ou de valor monetário, ultrapassa o PEC. Pensando no exemplo em que a empresa tinha o PEC de 20.000 unidades, ou seja, a quantidade mínima para cobrir seus gastos: se ela estivesse vendendo 25.000 unidades, a MSO seria de 5.000 unidades, isto é, as unidades que extrapolam o PEC. Nesse caso, se a empresa deixasse de vender essas 5.000 unidades, ainda assim estaria “coberta”, ou seja, não teria prejuízo. Todavia, é preciso lembrar-se de que, nesse momento, ela também não teria lucro. Então, além da fórmula em quantidade, ou seja, em unidades, que já vimos, a MSO pode ser visualizada em outras, como: 1. Margem de segurança em quantidade = vendas atuais – ponto de equi- líbrio em quantidade. 2. Margem de segurança em valor = margem de segurança em quantidade × preço de venda. 3. Margem de segurança percentual = margem de segurança em quanti- dade/vendas atuais. Agora, imagine o seguinte em uma indústria: Preço unitário de venda (P): R$ 7,00 Volume normal de vendas: 350 unidades Custos fixos totais: R$ 840,00 Custos variáveis unitários: R$ 4,00 Quais seriam os valores respectivos da MC unitária e total, do PEC, em unidade e valor, e da MSO, em valor, unidade e percentual (Quadro 1)? 9Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio Quadro 1. Cálculos da MC unitária, do PEC e da MSO Nesses cálculos, foram utilizados todos os elementos da análise CVL com ênfase na MS, na qual, em um primeiro plano, o volume de 350 unidades vendidas permite, comparando-se com o PEC de 280 unidades, uma MSO de 70 unidades. Em valor monetário, temos R$ 490,00 de MSO, o qual seria suficiente para pequenas negociações ou para que a empresa não tivesse nenhum problema até chegar ao PEC, que é o mínimo que precisa vender e cobrir seus gastos mensais. Na última análise, observado a MSO, temos um valor de 25%. Logo, pode- -se concluir que as vendas normais estão em um ponto 25% acima do PEC, o que permite análises combinadas com outros números da organização ou, por exemplo, com outros anos e outras tendências do mercado. Caso a empresa caia abaixo do valor de 25%, ela entrará na zona do prejuízo, tendo problemas imediatos e, em alguns casos, comprometendo a estrutura financeira para o futuro. É essencial que a MSO e o PEC não sejam perdidos, ou seja, que a empresa sempre busque mantê-los ou, ainda, procure operar acima desses valores, para não ter problemas financeiros e em sua estrutura de forma geral. Tais questões podem resultar em decisões de cortes, falta de investimento e outras que prejudicam a organização, desmotivam funcionários e, em último caso, levam a empresa a declínio de suas atividades. Aqui entram não somente decisões sobre números, mas outras envolvendo o conhecimento do mercado e dos concorrentes, a busca por diminuição em custos, o incentivo no consumo ou a criatividade para aumentar a demanda por produtos e serviços. Logo, ferramentas, fórmulas ou análises quantitativas de contabilidade devem estar aliadas a outras questões qualitativas para que possam realmentefazer a diferença no processo de tomada de decisão. PV 7,00 350 840,00 4,00 3,00 2.450,00 1.400,00 1.050,00 840,00 210,00 280,00 unidades 1.960,00 valor 70 unidades 2.450,00 1.960,00 490,00 valor 25% Margem % Margem de segurança Margem de segurança Vendas PEC PEC PEC Vendas totais Volume Custos �xos Custos variáveis Mcun Receita Custos variáveis Margem de contribuição Custos �xos Lucro Análise do lucro-alvo e do ponto de equilíbrio10 LEONE, G. S. G. Curso de contabilidade de custos: contém critério do custeio ABC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 447 p. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 370 p. PADOVEZE, C. L. Curso básico gerencial de custos. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. 410 p. VICECONTI, P.; NEVES, S. Contabilidade de custos: um enfoque direto e objetivo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. 312 p.