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TUTORIA 2 - UM ACIDENTE COMUM Maria Karoline Duque ★ Mecanismo de agressão da soda cáustica (hidróxido de sódio) *As lesões causadas por cáusticos e corrosivos dependem do agente, quantidade, apresentação, concentração e tempo de contato. Em geral, a severidade da lesão celular é proporcional à concentração da substância, à duração da exposição, à área do organismo afetada e à extensão da penetração do álcali. *Ao atuarem nas células, agentes lesivos causam lesões reversíveis ou morte celular. Produzir lesões reversíveis ou não depende da natureza do agente agressor e da intensidade e duração da agressão. *Morte celular é um processo e, como tal, uma sucessão de eventos, sendo às vezes muito difícil estabelecer qual é o fator que determina a irreversibilidade da lesão, ou seja, o chamado ponto de não retorno. *O termo necrose é utilizado para indicar a morte celular ocorrida em organismo vivo e seguida de fenômenos de autólise. *Quando a agressão é suficiente para interromper as funções vitais (cessam a produção de energia e as sínteses celulares), os lisossomos perdem a capacidade de conter as hidrolases no seu interior e estas saem para o citosol, são ativadas pelas altas concentrações de Ca2+ no citoplasma e iniciam o processo de autólise. Os lisossomos contêm hidrolases (proteases, lipases, glicosidases, ribonudeases e desoxirribonucleases) capazes de digerir praticamente todos os substratos celulares. É da ação dessas enzimas que dependem as alterações morfológicas observadas após a morte celular. *As queimaduras por álcalis penetram mais profundamente na pele quando comparadas com queimaduras térmicas ou por ácidos. *O mecanismo de lesão tissular pelos álcalis compreende três fatores: ● Desidratação celular intensa. ● Trombose dos vasos. ● Saponificação da gordura e proteínas (que gera a perda do isolamento térmico do corpo). A saponificação é uma hidrólise básica de ésteres (provenientes de ácidos graxos), formando um sal orgânico. ● Inativação das proteínas enzimáticas que, paralelamente, formam ligações com o álcali, originando os proteinatos em uma reação exotérmica, o que agrava ainda mais a lesão inicial. Esses proteinatos são solúveis, permitindo sucessivas transferências do íon OH, acometendo grande extensão de lesão tecidual. Estes íons geram novas reações químicas, penetrando mais profundamente nos tecidos e limitando seu contato com diluentes, como a água, por exemplo. A seguir, há decréscimo do conteúdo de colágeno dos tecidos e saponificação dos lipídeos da membrana celular. *É gerado um pH álcali no meio tecidual, favorecendo a infecção bacteriana secundária → o pus é o resultado da agressão celular por agentes que evocam reação inflamatória supurativa (heterólise). *O álcali, devido a sua grande capacidade de penetração, tende à cronicidade da lesão pela dificuldade de eliminação do agente, sendo comum a necessidade de vários desbridamentos tangenciais até se alcançar um tecido viável. *A queimadura induzida pelos álcalis pode gerar perda total da espessura da pele, geralmente destruindo seus anexos e tornando o tecido enegrecido em um curto período de tempo. *Diferentemente das queimaduras por outros agentes, cuja lesão tissular se estabiliza mais precocemente, a destruição celular pelos álcalis continua até que estes sejam removidos ou diluídos. *Contato com a pele: queimadura. *Ingestão: ● Sólido: boca e faringe. ● Líquido: esôfago e estômago. *Inalação: queimadura nas vias respiratórias e pneumonite química *Evolução da esofagite cáustica: FONTE: Lesão aguda esôfago – gástrica causada por agente químico (CORSI et al., Rev Ass Med Brasil, 2000). Queimadura por soda cáustica (TEIXEIRA et al., Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, 2008). Bogliolo Patologia (Brasileiro Filho, 8ª ed.) ★ Cicatrização *A lesão a células e tecidos coloca em movimento uma série de eventos que contém a lesão e inicia o processo de cura. *De um modo geral, esse processo pode ser dividido em regeneração e reparo. A regeneração resulta na restituição completa do tecido perdido ou lesado; o reparo pode restaurar algumas estruturas originais, mas pode causar desarranjos estruturais. *O reparo consiste em mais frequentemente em uma combinação de regeneração e formação de cicatriz pela deposição de colágeno. *Na maioria dos processos de cura, ocorre uma combinação de regeneração e reparo. As relativas contribuições do reparo e da regeneração são influenciadas por: capacidade proliferativa das células do tecido; integridade da matriz extracelular e resolução ou cronicidade da lesão e da inflamação. *Os componentes da MEC são essenciais para a cura de feridas porque eles fornecem a rede para migração celular, mantêm a correta polaridade celular para o rearranjo de estruturas estratificadas e participam da formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese). Além disso, as células na MEC (fibroblastos, macrófagos e outros tipos celulares) produzem fatores de crescimento, citocinas e quimiocinas que são importantes para regeneração e reparo. *A MEC é composta por três grupos de macromoléculas: proteínas estruturais fibrosas, como os colágenos e as elastinas que promovem resistência à tensão e retração; glicoproteínas adesivas, que conectam os elementos da matriz uns aos outros e às células; e proteoglicanos e hialuronan, que fornecem elasticidade e lubrificação. Essas moléculas se organizam para formar duas formas básicas de MEC: matriz intersticial e membranas basais. *Embora o reparo seja um processo de cura, ele próprio pode causar disfunção tecidual, como, por exemplo, no desenvolvimento da aterosclerose. *Quando a lesão ao tecido é grave ou crônica e resulta em lesão das células parenquimatosas e do arcabouço de estroma, a cura não pode ser efetuada por regeneração. Sob estas condições, o principal processo de cura ocorre por deposição de colágeno e outros elementos da MEC, promovendo a formação de uma cicatriz. *O reparo é uma resposta fibroproliferativa que “remenda”, em vez de restaurar o tecido. *O reparo pela deposição de tecido conjuntivo inclui as seguintes características básicas: ● Inflamação. ● Angiogênese. ● Migração e proliferação de fibroblastos. ● Formação de cicatriz. ● Remodelamento do tecido conjuntivo. *Essas fases se sobrepõem e sua separação é arbitrária, porém ajudam a entender a sequência de eventos que ocorrem na cura de feridas na pele. *Cura por união primária ou por primeira intenção: incisão cirúrgica limpa não infectada, aproximada por suturas cirúrgicas. A incisão provoca a morte de um número limitado de células epiteliais e células do tecido conjuntivo, bem como ruptura da continuidade da membrana basal. A reepitelização para fechar a ferida ocorre com a formação de uma cicatriz relativamente fina. *Cura por união secundária ou por segunda intenção: feridas de excisão que criam grandes defeitos na superfície, provocando perda excessiva de células e tecidos. A cura dessas feridas envolve uma reação inflamatória mais intensa, formação de abundante tecido de granulação (descrita adiante) e extensa deposição de colágeno, levando à formação de cicatriz substancial que geralmentese contrai. INFLAMAÇÃO *A reação inflamatória induzida pela lesão contém a lesão, remove o tecido lesado e promove a deposição de componentes da MEC na área da lesão, ao mesmo tempo em que a angiogênese é estimulada. Contudo, se a lesão persiste, a inflamação torna-se crônica. *Hemostasia: a maioria das formas de lesão a que os organismos vivos estão sujeitos leva a alterações nas junções e/ou nas células endoteliais. Em alguns casos, ocorre ruptura de vasos sanguíneos e o extravasamento de seus constituintes. Os eventos iniciais do processo de reparo estão, nos primeiros momentos, voltados para o tamponamento desses vasos. Quase concomitante ao estímulo lesivo, e devido à influência nervosa (descargas adrenérgicas) e ação de mediadores oriundos da desgranulação de mastócitos, ocorre vasoconstrição como primeira resposta. A injúria do endotélio (ruptura, fissura ou erosão) dispara uma sequência de eventos (ativação das vias de coagulação), iniciando-se com a deposição das plaquetas, prosseguindo com sua ativação e posterior recrutamento de novas plaquetas. O resultado dessa sequência é a formação de um trombo rico em plaquetas, que provisoriamente tampona a lesão endotelial. Esse trombo rico em plaquetas (trombo branco) é rapidamente infiltrado pela fibrina e pela fibronectina, transformando-se em um trombo fibrinoso. Logo após, os eritrócitos são capturados por essa rede fibrinosa e forma-se então o trombo vermelho, principal responsável pela oclusão do vaso sangüíneo rompido. Este, além de limitar a perpetuação da perda de constituintes circulatórios para os interstícios celulares, fornece uma matriz preliminar, que alicerçará a migração das células responsáveis pelo desencadeamento do processo de reparo. A adesão inicial das plaquetas à superfície lesada ocorre pelas proteínas de adesão presentes na sua membrana. Os mediadores estimulam diferentes cascatas de ativação plaquetária, porém, a via final comum a todos é a ativação do receptor da GP IIb/IIIa. *Quimiotaxia: os mediadores liberados pelas plaquetas ativadas, como TGF-β, PDGF, tromboxanos e PAF (fatores de crescimento, citocinas e quimiocinas) se difundem pela matriz provisória formando um gradiente quimiotático que orienta a migração das células (tanto da circulação como das regiões adjacentes) envolvidas com a instalação da resposta inflamatória. Ao passo que, a liberação de VEGF leva ao aumento da permeabilidade do vaso e ao edema. Dentro de 24 horas, neutrófilos aparecem nas bordas da incisão e migram para o coágulo, usando o arcabouço produzido pela fibrina. Essas células liberam enzimas proteolíticas que removem os restos necróticos e bactérias. Além dos mediadores liberados durante a agregação plaquetária, o recrutamento de mais neutrófilos é influenciado também por quimiocinas produzidas pelos neutrófilos coletados pelo trombo provisório. Por volta de 48 a 96 horas, as próximas células que surgem na região são os macrófagos derivados de monócitos (segundo ao quinto dia) que, ao contrário do papel desempenhado pelos neutrófilos, é o elemento mais crítico na indução do processo de reparo. Além de auxiliar os neutrófilos na eliminação de microorganismos pela fagocitose, após fagocitá-los e processá-los nos fagossomas, apresenta seus peptídios pelo complexo maior de histocompatibilidade (MHC) às células T auxiliares. Desta forma, a fagocitose destas células atua como elo entre o sistema imune inato e o adaptativo. *Com estes últimos eventos fica concluída a condição básica para a migração de células para a região lesada, ou seja: existe uma matriz provisória que serve de alicerce para a migração celular (tanto a partir da circulação como das regiões adjacentes) formada pelos corpos de plaquetas agregadas e proteínas dos seus grânulos, proteínas da matriz extracelular e proteínas do sistema de coagulação; embebidos nesta matriz há um gradiente de moléculas com propriedades quimioatrativas com concentração crescente em direção à lesão que orienta o sentido da migração celular. PROLIFERAÇÃO *Angiogênese e tecido de granulação: nas primeiras 24 a 72 horas do processo de reparo, os fibroblastos e as células endoteliais vasculares proliferam e formam um tipo especializado de tecido chamado tecido de granulação, que é ponto de referência do reparo tecidual. Sua característica histológica é a presença de novos e pequenos vasos sanguíneos (angiogênese) e proliferação de fibroblastos. ➢ Angiogênese *Em adultos, a formação de vasos sanguíneos, conhecida como angiogênese ou neovascularização, envolve a ramificação e extensão de vasos preexistentes, mas pode ocorrer também por recrutamento de células progenitoras endoteliais (EPC) da medula óssea. ➔ A partir de vasos preexistentes ❏ Vasodilatação em resposta ao óxido nítrico e aumento da permeabilidade dos vasos preexistentes induzido pelo fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). ❏ Degradação proteolítica da membrana basal do vaso original pelas metaloproteinases de matriz (MMP) e rompimento do contato célula-célula entre células endoteliais pelo ativador do plasminogênio. ❏ Migração das células endoteliais em direção ao estímulo angiogênico. ❏ Proliferação de células endoteliais, logo atrás da frente de células migratórias. ❏ Maturação das células endoteliais, que inclui inibição do crescimento e remodelagem em tubos capilares. ❏ Recrutamento de células periendoteliais (pericitos e células musculares lisas vasculares) para formar o vaso maduro. ➔ A partir de EPC *As EPC podem ser recrutadas da medula óssea para os tecidos e iniciar a angiogênese. A natureza do mecanismo de migração é incerta. *Essas células expressam alguns marcadores de células-tronco hematopoiéticas, bem como VEGFR-2 e caderina-endotelial vascular (caderina-VE). *As EPC contribuem para a reendotelização de implantes vasculares e a neovascularização de órgãos isquêmicos, feridas cutâneas e tumores. ➔ Sistema VEGF/VEGFR *Apesar da diversidade de fatores que participam da angiogênese, o VEGF é o fator de crescimento mais importante nos tecidos adultos que sofrem angiogênese fisiológica (a proliferação do endométrio), assim como a angiogênese que ocorre na inflamação crônica, na cura de feridas, nos tumores e na retinopatia diabética. *O VEGF é secretado por muitas células mesenquimais e do estroma e tem várias isoformas. *O VEGF induz a migração das EPC da medula óssea e aumenta a proliferação e diferenciação dessas células nos locais de angiogênese. No processo de angiogênese que se origina de vasos locais preexistentes, a sinalização do VEGF estimula a sobrevivência das células endoteliais, sua proliferação e motilidade, iniciando o brotamento de novos capilares. *O VEGFR-2, um receptor tirosina-cinase, é o mais importante na angiogênese. Este receptor é expresso por células endoteliais e seus precursores, bem como por outros tipos celulares e por muitas células tumorais. ➔ Via Notch *Devido à multiplicidade dos efeitos do VEGF e os diversos mecanismos que regulam sua expressão, as células endoteliais desenvolvem-se emum padrão perfeito de vasos durante a angiogênese, através de um mecanismo para a modulação da vasculogênese, que promove a ramificação apropriada de novos vasos e impede a angiogênese excessiva, reduzindo a sensibilidade ao VEGF. *Em mamíferos, há cinco ligantes de Notch (Jagged 1 e 2, e ligante semelhante a Delta [Dll] 1, 3 e 4) e quatro receptores transmembrana (Notch 1-4). *Durante a angiogênese, a célula de condução, conhecida como célula da extremidade, sofre proliferação e migração, mas as células-eixo mantêm sua conexão com o vaso existente. O VEGF induz o ligante 4 semelhante a Delta nas células da extremidade, enquanto Notch 1 e Notch 4 são expressos nas células-eixo. A interação entre ligante 4 semelhante a Delta e os receptores Notch nas células da extremidade e do eixo adjacentes leva a uma clivagem proteolítica do receptor, em duas etapas, liberando o domínio intracelular de Notch, que se transloca para o núcleo e ativa genes que diminuem a sensibilidade ao VEGF. Esses vasos neoformados são permeáveis, permitindo a passagem de líquido e proteínas plasmáticas para o espaço extravascular. Portanto, o novo tecido de granulação exibe frequentemente edema. Progressivamente, o tecido de granulação invade o espaço da incisão; a quantidade de tecido de granulação que é formado depende do tamanho do defeito no tecido criado pela ferida e da intensidade da inflamação. Por conseguinte, ele é mais proeminente na cura por união secundária. Por volta de 5 a 7 dias, o tecido de granulação preenche a área da ferida e a neovascularização atinge seu ponto máximo. *Fibroplasia: com a presença local de macrófagos derivados de monócitos e a produção e liberação dos mediadores químicos produzidos por eles, a migração e ativação de fibroblastos é intensificada. Essas células são os principais componentes do tecido de granulação e após a influência dos fatores de crescimento e demais mediadores, derivados principalmente (mas não exclusivamente, pois outras células inflamatórias e plaquetas também os produzem) dos macrófagos, são ativadas e migram das margens da ferida para o seu centro. A migração de fibroblastos para o local da lesão é orientada por quimiocinas, TNF, PDGF, TGF-β e FGF. Sua subsequente proliferação é desencadeada por múltiplos fatores de crescimento, incluindo PDGF, EGF, TGF-β, FGF e as citocinas IL-1 e TNF. Com o aumento do número de fibroblastos ativados para a produção de colágeno no local, a matriz extracelular começa a ser substituída por um tecido conjuntivo mais forte e mais elástico. As fibras colágenas agora estão presentes nas bordas da incisão, mas no início estão orientadas verticalmente e não estabelecem pontes sobre a incisão. Para a sua eficiência é necessária a ocorrência em paralelo da formação de novos vasos sanguíneos, ou seja, é necessária a neovascularização da região. Além da ação direta de fatores de crescimento sobre as células da vasculatura, a indução da angiogênese é, em parte, creditada à baixa tensão de oxigênio característica que ocorre no centro de uma ferida. Com a evolução do processo, a matriz extracelular, que inicialmente era composta principalmente por proteínas derivadas de plaquetas e do plasma, passa por modificações em sua composição. A migração e ativação de macrófagos e fibroblastos para a região, somada à presença de vasos neoformados, permitem que os componentes da nova matriz extracelular passem a ser localmente produzidos principalmente por estas células. Essa modificação na composição da matriz extracelular favorece a fixação e imobilidade das células favorecendo a diferenciação delas para fenótipos mais maduros. Os fibroblastos são as células que passam por mudanças fenotípicas mais acentuadas. Do fenótipo de células imaturas migratórias e replicativas no início do processo, passam para fenótipo característico de células ativamente engajadas na síntese protéica, ou seja, o seu citoplasma se torna volumoso e apresenta um retículo endoplasmático rugoso abundante. Com isto, eles passam a secretar grandes quantidades de colágeno. Assim, é formada uma matriz provisória contendo fibrina, fibronectina plasmática e colágeno tipo III, que é substituída por uma matriz composta principalmente de colágeno tipo I. O TGF-β é o agente fibrogênico mais importante e é produzido pela maioria das células do tecido de granulação, provocando a migração e a proliferação de fibroblastos, aumentando a síntese de colágeno e fibronectina e diminuindo a degradação da matriz pelas metaloproteinases. *Reepitelização: em 24 a 48 horas, grupos de células epiteliais movem-se da borda da ferida (inicialmente com pouca proliferação celular), depositando, à medida que se movem, componentes da membrana basal. Elas se fundem na linha média, produzindo uma fina e contínua camada epitelial que fecha a ferida. O processo de reepitelização da ferida se inicia imediatamente após a lesão pelo mecanismo de “efeitos de vizinhança livre”. Células primitivas da camada basal possuem potencial mitótico latente. Em tecidos normais, este se encontra inibido pelo contato existente entre as células pela “inibição por contato”. Com a ocorrência de uma lesão, este mecanismo inibitório desaparece e as células entram imediatamente em processo mitótico. *Formação da cicatriz: o infiltrado leucocitário, o edema e o aumento da vascularização desaparecem, em grande parte, durante a segunda semana. Inicia-se o empalidecimento, devido ao aumento do acúmulo de colágeno na área da ferida e a regressão dos canais vasculares. Finalmente, o arcabouço de tecido de granulação original é convertido em uma cicatriz avascular e pálida, composta de fibroblastos fusiformes, colágeno denso, fragmentos de tecido elástico e outros componentes da MEC. *Contração da ferida: a contração ajuda a fechar a ferida diminuindo a lacuna entre suas margens e reduzindo a área de superfície da ferida. Durante a fixação dos fibroblastos e seu amadurecimento fenotípico para células produtoras de colágeno, o processo de contração da ferida alcança a sua eficiência máxima. Isto ocorre devido à mudança de fenótipo dos fibroblastos das margens da ferida para miofibroblastos que expressam α-actina de músculo liso e vimentina. Essa mudança é induzida pelos efeitos do PDGF, TGF-β e FGF-2 liberados pelos macrófagos. Essas células possuem características ultraestruturais de células musculares lisas, contraem-se na ferida e produzem grandes quantidades de componentes da MEC, como colágeno tipo I, tenascina-C, SPARC e fibronectina de domínio extra. MATURAÇÃO *Remodelamento: é consenso atualmente, que a resolução completa de uma ferida, somente pode ser considerada após concluída a maturação e remodelagem da matriz extracelular. O processo de remodelamento da cicatriz envolve etapas sucessivas de produção, digestão e orientação das fibrilas de colágeno. A deposição de colágeno é feita a princípio de maneira aleatória tendo como orientação a organização da fibronectina e dependente da natureza e direção das tensões aplicadas ao tecido. Essas fibras são subsequentementedigeridas pela colagenase, ressintetizadas, rearranjadas de acordo com a organização das fibras do tecido conjuntivo adjacente e lateralmente ligadas por ligações covalentes. Repetições sucessivas da lise, ressíntese, redirecionamento e religação formam fibras maiores de colágeno e resultam numa configuração mais regular da cicatriz. Isso aumenta a sua resistência devido à organização das fibras acompanhar as forças mecânicas a que o tecido está sujeito durante a atividade normal. Alguns fatores de crescimento que estimulam a síntese de colágeno e de outras moléculas do tecido conjuntivo modulam a síntese e ativação das metaloproteinases, enzimas que degradam esses componentes da MEC. A degradação do colágeno e de outras proteínas da matriz é realizada pelas metaloproteinases de matriz (MMP). As metaloproteinases da matriz incluem as colagenases intersticiais (MMP-1, -2 e -3), que clivam o colágeno fibrilar tipos I, II e III; as gelatinases (MMP2 e 9), que degradam o colágeno amorfo, bem como a fibronectina; as estromelisinas (MMP-3, 10 e 11), que agem em uma variedade de componentes da MEC, incluindo proteoglicanos, laminina, fibronectina e colágenos amorfos; e a família de MMP ligadas à membrana (ADAM). As MMP são produzidas por fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais e algumas células epiteliais. Sua secreção é induzida por fatores de crescimento (PDGF, FGF), citocinas (IL-1, TNF) e fagocitose em macrófagos, mas é inibida por TGF-β e esteroides. Elas são sintetizadas como um precursor latente (pró-colagenase) que é ativado por substâncias químicas, como os radicais livres produzidos durante o surto oxidativo dos leucócitos e proteinases (plasmina). Uma vez formadas, as colagenases ativadas são rapidamente inibidas por uma família de inibidores de metaloproteinases, que são produzidos pela maioria das células mesenquimais, impedindo, assim, a ação descontrolada dessas proteases. *Recuperação da força tênsil: a recuperação da força tênsil resulta do excesso da síntese de colágeno que ultrapassa a sua degradação durante os primeiros 2 meses e, em tempos posteriores, de modificações estruturais das fibras colágenas (ligação cruzada e aumento do tamanho das fibras) quando a síntese de colágeno cessa posteriormente. ● Múltiplos papéis dos macrófagos ● Fatores locais e sistêmicos que influenciam o reparo ➢ Nutrição: por exemplo, a deficiência de proteína e, em particular, a deficiência de vitamina C inibem a síntese de colágeno e retardam a cicatrização. ➢ Estado metabólico: por exemplo, o diabetes melito está associado ao atraso da cicatrização, como consequência de microangiopatia, característica frequente desta doença. ➢ Sistema circulatório: geralmente, o suprimento sanguíneo inadequado, causado por arterioesclerose ou por anomalias venosas que retardam a drenagem venosa, também compromete a cura. ➢ Hormônios: hormônios anti-inflamatórios, como os glicocorticoides, inibem a síntese de colágeno. ➢ Infecção: causa retardo da cura, porque resulta em lesão e inflamação persistentes. ➢ Fatores mecânicos: movimento precoce que levam a compressão dos vasos sanguíneos e separação das margens da ferida. ➢ Corpos estranhos: suturas desnecessárias ou fragmentos. ➢ Tamanho, localização e tipo: vascularização da área, profundidade etc. ● Aspectos patológicos *Formação deficiente da cicatriz (ruptura da ferida e ulceração), formação excessiva dos componentes do reparo (queloide, carne esponjosa) e formação de contraturas. ● Fibrose FONTE: Bases patológicas das doenças (Robbins & Cotran, 8ª ed.) Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão (BALBINO, CURI E PEREIRA, Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 2005). ★ Primeiros socorros a indivíduos que ingeriram soda cáustica *Sinais e sintomas mais comuns: ● Queimaduras ou manchas ao redor da boca. ● Respiração ou hálito com cheiro de veneno. ● Salivação excessiva ou espuma pela boca. ● Dor na boca e/ou na garganta. ● Dor abdominal, náusea e/ou vômito. ● Respiração anormal. ● Suor acentuado *Os objetivos dos primeiros socorros a essas situações são: ● Suporte às funções vitais (respiração e circulação). ● Diminuição do contato (atuando com medidas gerais de desintoxicação). ● Aquecimento da vítima. ● Prevenção de novos agravos (convulsões e estado de agitação). *Primeiros socorros: ● Mantenha as vias aéreas livres. ● Se a vítima ainda estiver consciente, coloque-a em posição semi-sentada e em repouso. ● Ofereça água em quantidade moderada, cuidando para não provocar engasgamento, pois em maior quantidade pode-se aumentar o contato entre a substância e a mucosa. ● Não dê leite, sucos ou alimentos nem provoque vômito!!! Reexposição de esôfago, faringe, boca e laringe, risco aumentado de perfuração, risco aumentado de aspiração e possibilidade de piora do edema de glote. ● Se inconsciente, coloque-a na posição lateral para evitar aspiração de vômitos. ● Mantenha-a aquecida. ● Se possível, recolha parte do vômito para análise da causa da intoxicação. ● No caso de acidentes com álcalis deve-se encaminhar ao hospital, levando, se possível, a embalagem do produto. ● É importante lavar, cuidadosamente, os locais de contato com a substância, como as mãos e dedos, mucosa da boca e olhos. *É fundamental conhecer e ligar para os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs) próximos a fim de obter informações precisas em cada caso. *Os CIATs são unidades especializadas que têm a função de fornecer informações e orientações sobre diagnóstico, prognóstico, tratamento e prevenção das intoxicações; toxicidade das substâncias químicas e biológicas; os riscos que estes produtos podem oferecer à saúde; bem como prestar assistência ao paciente intoxicado. FONTE: Manual de toxicologia clínica: orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas (COVISA, 2017). ★ Medidas de prevenção de acidentes toxicológicos pela ingestão de agentes químicos por crianças *Guarde todos os produtos de higiene e limpeza, venenos e medicamentos trancados, em lugar alto e fora do alcance das crianças. *Mantenha os produtos tóxicos em suas embalagens originais para não confundir as crianças. *Informe-se sobre quais produtos domésticos podem ser tóxicos. Itens comuns, como, por exemplo, enxaguantes bucais, podem ser nocivos se a criança os ingerir em grande quantidade. *Sempre preste atenção em onde deixa os produtos tóxicos enquanto os usa e mantenha supervisão constante sobre ele. *Dê preferência por produtos cujas embalagens possuam tampas de segurança a prova de abertura por crianças. *Quando adquirir um brinquedo ou qualquer outro produto para a criança, certifique-se que ele é atóxico, ou seja, que não contenha componentes tóxicos. *As tintas do berço e da parede de sua casa podem conter substâncias tóxicas, como chumbo e monóxido de carbono, que fazem mal à saúde da criança. Por isso, preste atenção à composição das tintas utilizadas em sua residência. *Jogue fora medicamentos com data de validade vencida e outros venenos potenciais. *Procure por produtos de limpeza que você não utiliza mais e desfaça-se deles. *Nunca se refira a um medicamento como “doce”. Isso pode levar a criança a pensar que o remédio não é perigoso ou que é agradável decomer. Como as crianças tendem a imitar os adultos, evite tomar medicamentos na frente delas. *Mantenha telefones de emergência próximos aos aparelhos de telefone de sua casa. Peça para os avós, parentes e amigos fazerem o mesmo. *Explicar às crianças o risco de mexer com produtos perigosos. *Considerando a intoxicação infantil como um agravo evitável, é necessário que os profissionais de saúde, sobretudo os atuantes na atenção primária à saúde, e consequentemente mais próximo da população, invistam em atividades de prevenção, com orientações sobre acondicionamento de agentes tóxicos, vigilância da família com conscientização dos riscos do ambiente doméstico. FONTE: Prevenção de intoxicações acidentais domiciliares em crianças: o que diz a literatura? (LADEIRA et al., Rev Med Minas Gerais, 2016).
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