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CapÍTULO 1
Pensando
Criticamente com a 
Ciência Psicológica
Na esperança de satisfazer a curiosidade sobre as pessoas em geral e de reme­diar os próprios infortúnios, milhões de pessoas recorrem à “psicologia". Elas ouvem programas de aconselha­
mento no rádio, leem artigos sobre poderes 
mediúnicos, participam de seminários que 
ensinam a parar de fumar por meio da hip­
nose e devoram livros de autoajuda que abor­
dam o significado dos sonhos, o caminho 
para o êxtase amoroso e as origens da felici­
dade pessoal.
Outras, intrigadas com as alegações da ver­
dade psicológica, questionam: Será que o vín­
culo entre mães e bebês acontece nas primei­
ras horas depois do nascimento? Devemos 
confiar nas lembranças de abuso sexual na 
infância que são “recuperadas” na idade 
adulta - e processar o suposto agressor? Os 
primogênitos são mais propensos ao êxito? A 
caligrafia oferece pistas sobre a personali­
dade? A psicoterapia cura?
Diante desses questionamentos, como 
podemos separar opiniões sem fundamento 
de conclusões criteriosas? Como usar a psico­
logia da melhor form a para entender por que as 
pessoas pensam, sentem e agem do modo como 
o fazem?
A Necessidade da 
Ciência Psicológica
1: Por que as respostas oriundas de 
um enfoque científico são mais 
confiáveis do que as baseadas 
na intuição e no senso comum?
ALGUMAS PESSOAS AFIRMAM que a psico­
logia simplesmente documenta e reveste em
jargão aquilo que as pessoas já sabem: “Então 
o que há de novo - você é pago para usar 
métodos extravagantes com o intuito de pro­
var o que minha avó já sabia?” Outras acre­
ditam na intuição humana: “Lá no fundo de 
cada um de nós, há um conhecimento ins­
tintivo, baseado no coração, que representa 
para nós - caso permitamos - o guia mais 
confiável”, afirm ou o príncipe Charles 
(2000). “Sei que não há provas que demons­
trem que a pena de morte tenha um efeito 
dissuasor”, teria dito George W. Bush (1999) 
quando foi governador do Texas, “mas eu 
simplesmente sinto, no meu íntimo, que isso 
é verdade.” “Costumo agir conforme minha 
intuição, confio nos meus instintos”, disse o 
ex-presidente ao explicar para Bob Woodward
(2002) sua decisão de iniciar a guerra do Ira­
que.
Não falta companhia para o príncipe 
Charles nem para o ex-presidente Bush. Uma 
longa lista de livros populares de psicologia 
estimula as pessoas na direção da “adminis­
tração intuitiva”, “negociação intuitiva”, 
“cura intuitiva” e muito mais. Atualmente, 
a ciência psicológica de fato documenta uma 
vasta mente intuitiva. Como veremos, nosso 
pensamento, memória e atitudes funcionam 
em dois níveis, consciente e inconsciente, 
com a maior parte funcionando automatica­
mente, nos bastidores. Como um Jumbo, voa­
mos a maior parte do tempo no piloto auto­
mático.
Assim, será inteligente darmos ouvido à 
nossa sabedoria interna, simplesmente con­
fiar na nossa “força interior”? Ou deveríamos 
submeter nossos impulsos intuitivos com 
mais frequência ao escrutínio cético?
Isso parece ser o mais certo. A intuição é 
importante, mas muitas vezes subestimamos 
seus perigos. Minha intuição geográfica me 
diz que o Reno fica a leste de Los Angeles, que
A NECESSIDADE DA 
CIÊNCIA PSICOLÓGICA
Será que Sabemos Tudo 
de Antemão? O Viés 
Retrospectivo 
Confiança Excessiva 
A Atitude Científica 
O Pensamento Crítico
C O M O OS PSICÓLOGOS 
FORMULAM PERGUNTAS 
E RESPOSTAS?
O Método Científico
Descrição
Correlação
Experimentação
RACIOCÍNIO ESTATÍSTICO 
NO DIA A DIA
A Descrição dos Dados
Fazendo Inferências
PERGUNTAS FREQÜENTES 
SOBRE PSICOLOGIA
Roma fica ao sul de Nova York e que Atlanta fica a leste de 
Detroit. Mas estou errado, errado e errado.
“Aquele que conüa no próprio coração é um tolo."
Provérbios. 28:26
"Nossa vida ê voltada para o futuro, mas o entendimento 
vem do passada."
Seren Kierkegaard. filósofo. 1813-1855
“Tudo parece ser um lugar-comum, depois de explicado."
Dr. Watson para Sherlock Holmes
viés retrospectivo é a tendência a acreditar, após 
conhecer o desfecho de uma situação, que aquilo 
poderia ter sido previsto. (Também conhecido como o 
fenômeno do “ eu já sabia” )
Os capítulos à frente mostrarão experimentos que indi­
cam a tendência das pessoas em superestimar suas capacida­
des de detectar mentiras com precisão, a exatidão de suas 
lembranças de fatos dos quais foram testemunhas oculares, 
a capacidade de avaliar entrevistados, previsões de riscos e 
seus talentos financeiros na escolha de ações. “O princípio 
número 1”, segundo Richard Feynman (1997), “é que você 
não deve enganar a si mesmo - e você é a pessoa mais fácil 
de ser enganada.”
De fato, observou Madeleine L’Engle, “O intelecto nu é 
um instrumento extraordinariamente impreciso” (1973). 
Dois fenômenos - o viés retrospectivo e os julgamentos super- 
confiantes - ilustram por que não podemos confiar unica­
mente na intuição e no senso comum.
Será que Sabemos Tudo de 
Antemão? O Viés Retrospectivo
É muito fácil parecer astuto quando se desenha o centro do 
alvo depois de a flecha ter sido disparada. Após a primeira 
torre do World Trade Center ter sido atingida no dia 11 de 
setembro de 2001, os comentaristas disseram que a segunda 
torre tinha que ter sido imediatamente evacuada (só mais 
tarde ficou óbvio que não fora um acidente). Depois de a 
ocupação do Iraque pelos EUA resultar numa guerra civil em 
vez de conduzir a uma pacífica democracia, os comentaristas 
afirmaram que aquele resultado era inevitável. Antes de a 
invasão ser lançada, esses resultados não tinham nada de 
óbvio: ao votarem autorizando a invasão, a maioria dos sena­
dores dos EUA não antecipou o caos que pareceria tão previ­
sível em retrospectiva. Descobrir que algo aconteceu faz com 
que o acontecimento pareça inevitável, uma tendência que 
chamamos de viés retrospectivo (também conhecida como 
o fenômeno do “eu já sabia!".
É fácil demonstrar esse fenômeno: apresente à metade dos 
membros de um grupo alguma suposta descoberta psicoló­
gica e à outra metade um resultado oposto. Diga ao primeiro 
grupo: “Os psicólogos descobriram que a separação enfra­
quece a atração romântica. Como diz o ditado, ‘longe dos 
olhos, longe do coração’.” Peça a eles que imaginem por que 
isso pode ser verdade. A maioria das pessoas irá considerar 
essa descoberta verdadeira e não surpreendente.
Diga ao segundo grupo o oposto: “Os psicólogos descobri­
ram que a separação fortalece a atração romântica. Como diz 
o ditado, ‘só damos valor a algo quando o perdemos’.” Os par­
ticipantes também considerarão esse resultado fácil de explicar 
e a maioria concordará que se trata de senso comum, nada 
surpreendente. Obviamente, há um problema quando uma 
suposta descoberta e seu oposto parecem senso comum.
Tais erros em nossas lembranças e explicações mostram por 
que precisamos da pesquisa psicológica. As vezes, simplesmente 
perguntar às pessoas como e por que elas sentiram ou agiram 
de determinada maneira pode levar a uma afirmação falsa - 
não porque o senso comum esteja em geral errado, mas porque 
descreve o que aconteceu com mais facilidade do que o que está 
por vir. Como o médico Neills Bohr supostamente disse: "Pre­
visões são muito difíceis, especialmente sobre o futuro.”
O viés retrospectivo é um fenômeno disseminado. Cerca 
de 100 estudos o observaram em diversos países, tanto entre 
crianças quanto em adultos (Blank et al., 2007). Mesmo 
assim, a intuição da vovó é sempre certa. Como disse Yogi 
Berra certa vez: “Você pode perceber muito observando.” 
(Temos outras pérolas para agradecer a Berra, tais como: 
“Ninguém nunca vem aqui - é muito cheio" e “Se as pessoas 
não querem ir ao campo de beisebol, ninguém vai impedi- 
las”.) Como somos todos observadores do comportamento, 
seria uma surpresa se muitas das descobertas da psicologia 
não tivessem sido previstas. Muitas pessoas acreditam que o 
amor traz felicidade, e estão certas (nós temos o que o Capí­
tulo 11 chama de uma profunda “necessidade de pertencer”). 
De fato, como observam Daniel Gilbert,Brett Pelham e Dou­
glas Krull (2003), “as boas ideias da psicologia geralmente 
são estranhamente familiares, e no momento em que nos 
deparamos com elas sentimos a certeza de que já estivemos 
muito próximos de pensar a mesma coisa e simplesmente 
não nos ocorreu escrever”. Boas ideias são como boas inven­
ções, uma vez criadas, parecem óbvias. (Por que levou tanto 
tempo para que alguém inventasse as malas com rodinhas, 
ou os adesivos Post-It®?)
Algumas vezes, porém, a intuição da vovó, informada por 
incontáveis observações casuais, se engana. Em capítulos mais 
adiante, veremos como a pesquisa reverteu ideias populares
- de que a familiaridade leva ao desprezo, de que os sonhos 
predizem o futuro e de que as reações emocionais coincidem 
com o período menstruai. (Consulte também a TABELA 1.1.) 
Veremos também como ela nos surpreendeu com descober­
tas sobre os mensageiros químicos do cérebro controlando 
nosso humor e nossas memórias, sobre as habilidades dos 
animais e sobre os efeitos do estresse em nossa capacidade 
de lutar contra a doença.
Soluções de anagramas divertidos de Wordsmith.org: 
Elvis = lives (Elvis = vive)
Dormitory = dirty room (dormitório = quarto sujo) 
Slot machines = cash lost in ’em (caça-níqueis = 
grana perdida neles)
“Não gostamos do som deles. Grupos com guitarras estão 
com os dias contados."
Decca Records, ao recusar um contrato de 
gravação com os Beatles em 1962
TABELA 1.1
V e r d a d e ir o o u F a l s o ?
As pesquisas psicológicas discutidas nos próximos capítulos confirmam ou refutam cada uma dessas afirmações (adaptadas parcialmente de 
Fumham et al., 2003). Você pode predizer quais dessas ideias populares foram confirmadas e quais foram refutadas? (Confira suas respostas 
no final da tabela.)
1. Se quiser ensinar um hábito duradouro, recompense o comportamento desejado todas as vezes e não apenas de forma intermitente 
(consulte o Capítulo 7).
2. Pacientes que tiveram os cérebros divididos cirurgicamente ao meio sobrevivem e funcionam quase que da mesma maneira do que antes 
da cirurgia (consulte o Capítulo 2).
3. Experiências traumáticas, como abuso sexual ou ter sobrevivido ao Holocausto, são normalmente "reprimidas" na memória (consulte o 
Capítulo 8).
4. A maioria das crianças que sofreram abuso não pratica o abuso quanao adultas (consulte o Capítulo 5).
5. A maioria das crianças reconhece o próprio reflexo num espelho ao final do primeiro ano de vida (consulte o Capítulo 5).
6. Gêmeos adotados normalmente não desenvolvem personalidade semelhantes, mesmo sendo criados pelos mesmos pais (consulte o 
Capítulo 4).
7. O medo de objetos inofensivos, como flores, é tão fácil de ser adquirido quanto o medo de objetos potencialmente perigosos, como 
cobras (consulte o Capítulo 12).
8. Testes de detecção de mentiras frequentemente mentem (consulte o Capítulo 12).
9. A maioria de nós usa apenas 10% de nosso cérebro (consulte o Capítulo 2).
10. O cérebro se mantém ativo durante o sono (consulte o Capítulo 3).
A 01 'd 6 7\ 8 'd L 'A 9 'd S ‘A fr 'd '£ 'A l d L :sBjsods3y
“No futuro, os computadores não pesarão m ais do que 
1,5 t."
Popular M echanics, 1949
"□ telefone pode ser apropriado para nossos primos 
am ericanos, mas não aqui, pois temos um suprimento 
adequado de mensageiros."
Grupo de especialistas britânicos 
avaliando a invenção do telefone
“Eles não acertariam um elefante a essa distância."
General John Sedgwick, pouco antes de ser morto 
durante uma batalha da Guerra Civil dos EUA, 18E4
"0 cientista... deve ser livre para fazer qualquer 
pergunta, duvidar de qualquer afirm ativa, buscar 
alguma evidência e corrigir qualquer erro."
J. Robert Oppenheimer, fisico, Life, 10 de outubro de 1949
Confiança Excessiva
Nós humanos tendemos a ser excessivamente confiantes. 
Como explica o Capítulo 9, tendemos a achar que sabemos 
mais do que de fato sabemos. Perguntados se temos certeza 
de nossas respostas às perguntas factuais (Boston fica ao 
norte ou ao sul de Paris?), tendemos a ser mais confiantes 
do que corretos.1 Ou considere estes três anagramas que 
Richard Goranson (1978) solicitou às pessoas que ordenas­
sem:
WREAT -> WATER 
ETRYN - ENTRY 
GRABE - BARGE
Quantos segundos você acha que levaria para decifrar cada 
um deles?*
Após saberem a resposta, o viés retrospectivo faz com que 
ela pareça óbvia - de tal forma que as pessoas se tornam 
excessivamente confiantes. As pessoas acreditam que seriam 
capazes de chegar à solução em apenas 10 segundos, quando 
na verdade, em média, são necessários 3 minutos, o tempo 
de que você mesmo provavelmente precisaria diante de um 
anagrama sem solução, como TCHACOA. (Veja a resposta à 
direita no pé da página seguinte.)
'Boston fica ao sul de Paris.
*Em português, os anagramas poderiam ser: LOMHO —> MOLHO; 
A RNET^ ENTRA; RABCO -> BARCO. (N.T.)
Será que somos melhores ao prever nosso comportamento 
social? Para descobrir, Robert Vallone e seus associados 
(1990) pediram estudantes que previssem no início do ano 
letivo se iriam abandonar algum curso, votar na próxima 
eleição, telefonar para os pais mais de duas vezes ao mês e 
assim por diante. Na média, os estudantes estavam 84% 
confiantes em relação a essas previsões. Testes posteriores 
sobre seus reais comportamentos mostraram, porém, que 
acertaram apenas 71% das vezes. Mesmo quando se sentiam 
100% seguros, suas previsões apresentavam uma margem de 
erro de 15%.
Isso não acontece só com estudantes. Durante doze anos, 
o psicólogo Philip Tetlock (1998), da Ohio State University, 
coletou mais de 27.000 previsões de especialistas sobre even­
tos mundiais, tais como o futuro da África do Sul ou se Que­
bec se separaria do Canadá. Seus repetidos achados: as pre­
visões, sobre as quais os especialistas apresentavam 80% de 
confiança em média, estavam certas em menos de 40% das 
vezes. Mesmo assim, aqueles que erraram insistiram em sua 
assertividade observando que as previsões estavam “quase 
certas”. “Os separatistas da província canadense de Quebec 
quase ganharam o referendo secessionista."
Lembre-se de que: O viés retrospectivo e o excesso de con­
fiança muitas vezes nos levam a superestimar nossa intuição. 
Mas o questionamento científico pode nos ajudar a filtrar a 
realidade da ilusão.
A Atitude Científica
2 : Quais são os três principais 
componentes da atitude científica?
Subjacente a toda ciência existe raram ente uma curiosi­
dade obstinada, uma paixão para explorar e entender sem 
enganar ou ser enganado. Algumas questões ( “Existe vida 
depois da morte?”) estão além da ciência; para respondê-las 
é necessário um pouco de fé. Já a resposta para muitas outras 
( “Algumas pessoas podem demonstrar percepção extrassen- 
sorial?”) podem ser testadas. Não importa o quanto uma 
ideia possa parecer louca ou sensata, a pergunta que o pen­
samento crítico faz é: isso funciona? Quando submetidas a 
teste, suas previsões podem ser confirmadas?
A abordagem científica tem uma longa história. Até Moi­
sés a utilizou. Como o senhor avalia alguém que se autopro- 
clama profeta? A resposta dele: Submeta o profeta a um teste. 
Se o evento previsto “não acontecer ou se provar verdadeiro”, 
tanto pior para o profeta (Deuteronômio 18:22). Ao permitir 
que os fatos falassem por si, Moisés utilizou o que chamamos 
hoje de abordagem empírica. O mágico James Randi usa a 
mesma abordagem quando testa aqueles que afirmam ver 
auras em torno do corpo das pessoas:
Randi: Você está vendo uma aura ao redor de minha
cabeça?
Vidente: Sim, vejo.
Randi: Você ainda pode ver a aura se eu colocar esta
revista na frente do meu rosto?
Vidente: Claro.
Randi: Então, se eu ficar atrás de um muro pouco mais
alto do que eu, você poderia identificar minha 
localização por meio da aura visível acima da 
minha cabeça, certo?
Randi me disse que nenhum vidente concordou em fazer esse 
teste básico.
“0 cético é aquele que está disposto a questionar 
qualquer alegação de verdade, exigindo clareza na 
definição, lógica consistente e evidênciasadequadas."
Paul Kurtz, filósofo, The Skeptical Inquirer, 1994
Às vezes, algumas ideias aparentemente disparatadas 
encontram apoio quando submetidas a tais escrutínios. 
Durante o século XVIII, os cientistas zombaram da noção de 
que os meteoros tinham origem extraterrestre. Quando dois 
cientistas de Yale ousaram se desviar da opinião convencio­
nal, Thomas Jefferson zombou: “Cavalheiros, eu prefiro acre­
ditar que esses dois professores ianques mentiriam a acredi­
tar que pedras caem do céu.” Às vezes, a investigação cientí­
fica transforma o que não tem valor em algo com mérito.
Com frequência, a ciência vira o depósito de lixo da socie­
dade, onde são lançadas as ideias aparentemente disparata­
das, empilhando-se sobre suposições prévias, como o moto- 
contínuo, curas milagrosas do câncer e as viagens fora do 
corpo em séculos passados. As “verdades" de hoje às vezes se 
transformam nas falácias de amanhã. Separar a realidade da 
fantasia, o que tem sentido do que não tem sentido, entre­
tanto, requer uma atitude científica: ser cético sem ser cínico, 
aberto sem ser ingênuo.
“Para acreditar com certeza”, diz um provérbio polonês, 
“devemos começar duvidando.” Como cientistas, os psicólo­
gos encaram o mundo do comportamento com ceticismo 
curioso, fazendo insistentemente duas perguntas: O que isso 
quer dizer? Como é que se sabe?
Quando idéias competem, testes com rigor cético podem 
revelar as que melhor correspondem aos fatos. O comporta­
mento dos pais determina a orientação sexual dos filhos? Os 
astrólogos podem prever seu futuro com base na posição dos 
planetas no dia do seu nascimento? Como você verá, subme­
ter tais alegações a teste levou muitos psicólogos a duvidar 
delas.
Pôr uma atitude científica em prática requer não apenas 
ceticismo, mas também humildade - a consciência de nossa 
própria vulnerabilidade ao erro e a abertura para surpresas e 
novas perspectivas. Em última análise, o que importa não é 
a minha opinião ou a sua, mas as verdades que a natureza 
revela em resposta a nossas perguntas. Se as pessoas ou os 
outros animais não se comportam como nossas ideias pre­
viram, então pior para nossas ideias. Essa é a atitude de humil­
dade expressa em um dos motes iniciais da psicologia: “O 
rato sempre tem razão.”
Os historiadores da ciência nos dizem que essas atitudes 
de curiosidade, ceticismo e humildade ajudaram a tornar a 
ciência moderna possível. Muitos de seus fundadores, 
incluindo Copérnico e Newton, eram pessoas cujas convic­
ções religiosas os tornaram humildes diante da natureza e 
céticos diante da autoridade meramente humana (Hooykaas, 
1972; Merton, 1938). Algumas pessoas de nossos dias pro­
fundamente religiosas podem considerar a ciência, incluindo 
a ciência psicológica, uma ameaça. No entanto, como observa 
o sociólogo Rodney Stark (2003a,b), a revolução científica 
foi liderada predominantemente por pessoas profundamente 
religiosas cujas ações seguiam o princípio de que, “para amar 
e honrar a Deus, é necessário apreciar plenamente as mara­
vilhas de Sua criação”.
• Solução do anagrama na página anterior:
CHACOTA. •
Certamente, os cientistas, como qualquer pessoa, podem ter 
grandes egos e se agarrar às suas preconcepções. Todos nós 
vemos a natureza pelas lentes de nossas ideias preconcebidas. 
Porém, o ideal que une os psicólogos a todos os cientistas é 
o escrutínio curioso, cético e humilde em relação a ideias 
competidoras. Como uma comunidade, os cientistas confe­
rem e reconferem as descobertas e as conclusões uns dos 
outros.
"Minha mais profunda crença é de que, se existe um deus 
de alguma forma parecido com o que tradicionalm ente 
se acredita, nossa curiosidade e inteligência vieram dele. 
Seriamos ingratos por essas dádivas... se suprim íssem os 
nossa paixão pela exploração do universo e de nós 
mesmos."
Carl Sagan, 0 R om ance da Ciência, 1989
"A verdadeira finalidade do método científico é 
assegurar que a Natureza não nos enganou levando-nos 
a achar que sabíam os alguma coisa quando, na verdade, 
éramos ignorantes."
Robert M. Pirsig, 0 Zen e a Arte de C onsertar M otocicletas, 1974
O Pensamento Crítico
A atitude científica nos prepara para pensar com mais inte­
ligência. O pensamento inteligente, chamado pensam ento 
crítico, examina suposições, distingue valores escondidos, 
avalia evidências e pondera conclusões. Seja lendo uma notí­
cia ou ouvindo uma conversa, os pensadores críticos fazem 
perguntas. Assim como os cientistas, questionam: Como eles 
sabem disso? Qual a agenda de interesses dessa pessoa? A 
conclusão é baseada em casos isolados e intuições ou em 
alguma evidência? Essa evidência justifica uma conclusão de 
causa e efeito? Que explicações alternativas são possíveis?
A investigação crítica na psicologia tem estado aberta a 
descobertas surpreendentes? A resposta, como ilustram os 
capítulos seguintes, é simplesmente sim. Acredite ou não...
• grandes perdas de tecido cerebral na primeira infância 
possuem efeitos mínimos a longo prazo (veja o 
Capítulo 2).
• com dias, os recém-nascidos podem reconhecer o cheiro 
e a voz da mãe (veja o Capítulo 5).
• danos cerebrais podem deixar uma pessoa em condições 
de aprender novas habilidades, ainda que não consciente 
desse aprendizado (veja o Capítulo 8).
• grupos diversos - homens e mulheres, velhos e jovens, 
ricos e pessoas de classe média, incapacitados ou não - 
relatam níveis aproximados de felicidade pessoal (veja o 
Capítulo 12).
• a terapia eletroconvulsiva (aplicação de choque elétrico 
no cérebro) é frequentemente eficaz como tratamento 
para a depressão grave (veja o Capítulo 15).
E será que a investigação crítica tem desmascarado as supo­
sições populares de modo convincente? A resposta, como os 
capítulos seguintes também ilustram, novamente é sim. As 
evidências indicam que...
• os sonâmbulos não estão vivenciando seus sonhos (veja 
o Capítulo 3).
• nossas experiências passadas não estão todas registradas 
literalmente em nosso cérebro; com estimulação do 
cérebro ou hipnose, uma pessoa não pode simplesmente 
“voltar a fita” e reviver memórias reprimidas ou há 
muito enterradas (veja o Capítulo 8).
• a maioria das pessoas não sofre de baixa autoestima de 
maneira não realista, e a autoestima elevada não é 
sempre boa (veja o Capítulo 13).
• geralmente, os opostos não se atraem (veja o 
Capítulo 16).
Em cada uma dessas instâncias, e em outras, o que se des­
cobriu não corresponde à crença geral.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Como o pensamento crítico nos ajuda a avaliar as 
interpretações dos sonhos das pessoas ou suas alegações de 
que são capazes de se comunicar com os mortos?
> Teste a Si Mesmo 1
O que é a atitude científica, e por que ela é importante para o 
pensamento crítico?
A s respostas para as questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
Como os Psicólogos Formulam 
Perguntas e Respostas?
OS PSICÓLOGOS ARMAM SUA ATITUDE científica com o 
método científico. A psicologia científica avalia ideias compe­
tidoras com observação cuidadosa e análise rigorosa. Em seu 
esforço para descrever e explicar a natureza humana, ela 
recebe bem a intuição e as teorias que soem plausíveis. E sub­
mete tudo a testes. Se uma teoria funciona - se os dados 
apoiam as previsões -, tanto melhor para a teoria. Se as pre­
visões fracassam, a teoria será reavaliada ou rejeitada.
O Método Científico
3 : Como as teorias promovem o 
avanço da ciência psicológica?
No dia a dia, tendemos a usar o termo teoria para signifi­
car “simples intuição”. Na ciência, entretanto, a teoria está 
ligada à observação. Uma teoria científica explica por meio 
de um conjunto de princípios integrados que organiza as 
observações e prevê comportamentos e eventos. Ao organizar 
fatos isolados, a teoria simplifica a realidade. Existem muitos 
fatos sobre o comportamento, de modo que é difícil lembrar 
de todos. Ao reunir os fatos e ligá-los a princípios profundos, 
a teoria oferece um resumo útil. Quandoligamos os pontos 
observados, podemos descobrir um quadro coerente.
Uma boa teoria sobre depressão, por exemplo, ajuda-nos a 
organizar incontáveis observações a respeito da depressão em 
uma lista sucinta de princípios. Digamos que observamos de 
forma repetida que as pessoas com depressão descrevem seu 
passado, presente e futuro em termos sombrios. Podemos então
confirmar, rejeitar 
ou revisar
(3) Pesquisa e observações 
Exemplo: Administrar testes de 
autoestima e depressão. Ver se 
um escore baixo em um deles 
prediz um escore alto no outro.
(1) Teorias
Exemplo: Baixa autoestima 
alimenta a depressão
leva a
leva a
(2) Hipóteses 
Exemplo: Pessoas com 
baixa autoestima obtêm 
escores mais altos na 
escala de depressão.
► FIGURA 1.1
O método científico Um processo autocorretivo de fazer perguntas e observar as respostas da natureza.
teorizar que a depressão se apoia na baixa autoestima. Até aqui 
tudo bem: o princípio da nossa autoestima claramente resume 
uma longa lista de fatos sobre pessoas com depressão.
Porém, não importa 0 quanto uma teoria possa parecer 
razoável - e a baixa autoestima parece ser uma explicação 
razoável para a depressão devemos submetê-la a teste. Uma 
boa teoria produz predições testáveis, chamadas hipóteses. 
Ao nos possibilitar testar e rejeitar ou revisar a teoria, tais 
predições orientam-se para a pesquisa. Elas especificam que 
resultados irão sustentar a teoria e que resultados irão refutá- 
la. Para verificar nossa teoria da autoestima sobre depressão, 
podemos avaliar a autoestima das pessoas solicitando-as que 
respondam a enunciados tais como “Eu tenho boas ideias” 
e “Sou uma companhia divertida”. Poderíamos ver então se, 
como hipotetizamos, as pessoas que apresentaram as mais 
pobres autoimagens também obtiveram escores elevados em 
uma escala de depressão (FIGURA 1 .1 ).
Ao testar nossa teoria, devemos estar cientes de que ela 
pode favorecer observações subjetivas tendenciosas. Tendo 
teorizado que a depressão brota da baixa autoestima, pode­
mos enxergar aquilo que esperamos. Podemos perceber os 
comentários neutros das pessoas deprimidas como autode- 
preciativos. A premência para enxergar aquilo que corres­
ponde às nossas expectativas é uma tentação sempre presente, 
dentro e fora do laboratório. De acordo com o Comitê Bipar- 
tidário de Inteligência do Senado dos EUA (2004), as expec­
tativas preconcebidas de que o Iraque tinha armas de destrui­
ção em massa levou os analistas de inteligência a interpretar 
observações ambíguas de maneira errônea de modo a confir­
mar a teoria, e essa conclusão direcionada por essa teoria 
resultou na invasão preventiva do Iraque pelos EUA.
Como checagem de suas tendenciosidades, os psicólogos 
relatam suas pesquisas com definições operacionais preci­
sas dos procedimentos e conceitos. Fome, por exemplo, pode 
ser definida como “horas sem se alimentar”, generosidade, 
como “contribuição em dinheiro”. Esse cuidado na formu­
lação dos enunciados pretende permitir a outros replicar 
(repetir) as observações originais. Se outros pesquisadores 
recriarem um estudo com participantes e materiais diferen­
tes e alcançarem resultados similares, então nossa confiança 
na confiabilidade dos achados cresce. O primeiro estudo sobre 
o viés retrospectivo despertou a curiosidade dos psicólogos. 
Agora, depois de muitas replicações bem-sucedidas com pes­
soas e perguntas diferentes, nós nos sentimos seguros sobre 
o poder desse fenômeno.
pensamento crítico pensamento que não aceita 
argumentos e conclusões cegamente. Em vez disso, 
examina as suposições, revela valores ocultos, avalia 
evidências e conclusões.
teoria uma explicação que usa um conjunto integrado 
de princípios que organiza observações e prediz 
comportamentos ou eventos.
hipótese uma predição testável, muitas vezes 
implicadas por uma teoria.
definição operacional um enunciado dos 
procedimentos (operações) usadas para definir variáveis 
de pesquisa. Por exemplo, a inteligência humana pode 
ser definida operacionalmente como aquilo que mede 
um teste de inteligência.
replicação repetir a essência de um estudo de 
pesquisa, normalmente com participantes diferentes em 
situações diferentes, para ver se a descoberta básica se 
aplica a outros participantes e circunstâncias.
• Boas teorias são explicadas:
1. pela organização e vinculação com fatos 
observados.
2. por hipóteses implicadas que oferecem predições 
testáveis e, algumas vezes, aplicações práticas. *
No final, nossa teoria será útil se (1) organizar efetivamente 
uma série de observações e autorrelatos e (2) implicar predi­
ções claras que qualquer um possa usar para testar a teoria 
ou para derivar aplicações práticas. (Se elevarmos a autoes­
tima das pessoas, a depressão delas se dissipará?) No final, é 
bem provável que nossa pesquisa resulte em uma teoria revi­
sada (como a do Capítulo 14 deste livro) que organize e pre­
diga melhor 0 que nós conhecemos a respeito da depressão.
i
O caso do chimpanzé que conversava Nos estudos de caso com 
chimpanzés, os psicólogos questionaram se a linguagem era 
exclusividade humana. Aqui, Nim Chimpsky faz o gesto para abraço 
quando seu treinador, o psicólogo Herbert Terrace, mostra o boneco 
do Ênio para ele. Mas Nim está de fato usando a linguagem? Vamos 
pesquisar essa questão no Capítulo 9.
Como veremos a seguir, podemos testar nossas hipóteses 
e refinar nossas teorias usando métodos descritivos (que des­
crevem comportamentos, muitas vezes com o uso de estudos 
de caso, pesquisas ou observações naturalistas), métodos cor- 
relacionais (que associam diferentes fatores) e métodos expe­
rimentais (que manipulam os fatores para descobrir seus efei­
tos). Para pensar criticamente sobre as considerações que os 
leigos fazem a respeito de afirmações da psicologia, precisa­
mos reconhecer esses métodos e saber que conclusões eles 
permitem.
Descrição
4 : Como os psicólogos observam e 
descrevem o comportamento?
O ponto de partida de qualquer ciência é a descrição. Na vida 
cotidiana, todos nós observamos e descrevemos as pessoas, 
quase sempre chegando a conclusões sobre o porquê de elas 
se comportarem do modo como o fazem. Os psicólogos pro­
fissionais fazem o mesmo, só que de forma mais objetiva e 
sistemática.
O Estudo de Caso
Entre os métodos de pesquisa mais antigos, o estudo de caso 
examina um indivíduo em profundidade na esperança de reve­
lar coisas verdadeiras para todos nós. Alguns exemplos: muito 
do conhecimento inicial sobre o cérebro, foi decorrente de 
estudos de casos, de indivíduos que sofreram uma perda par­
ticular após a ocorrência de lesão em região específica do cére­
bro. Jean Piaget nos ensinou sobre o pensamento infantil após 
observar e questionar cuidadosamente apenas poucas crian­
ças. Estudos envolvendo somente poucos chimpanzés revela­
ram sua capacidade para a compreensão e para a linguagem. 
Estudos de caso intensivos, às vezes, são muito reveladores.
Os estudos de casos muitas vezes sugerem direções para 
estudos subsequentes, e nos mostram o que pode acontecer. 
Mas os casos individuais podem nos levar a erros se o indi-
víduo em questão for atípico. Informações não representati­
vas podem nos levar a julgamentos errados e a falsas conclu­
sões. De fato, sempre que um pesquisador relata uma desco­
berta ( “Fumantes morrem mais cedo: 95% dos homens acima 
de 85 anos não são fumantes”), alguém certamente ofere­
cerá um caso contraditório ( “Bom, eu tenho um tio que 
fumava dois maços por dia e viveu até os 89 anos”). Histó­
rias dramáticas e experiências pessoais (e até exemplos de 
casos psicológicos) chamam a atenção e são mais fáceis de 
ser lembrados. Qual das seguintes afirmações você considera 
mais fácil de lembrar? (1) “Em um estudo com 1.300 relatos 
de sonhos sobre o seqüestro de uma criança, apenas 5% vis­
lumbraram corretamente a criança como morta (Murray & 
Wheeler, 1937).” (2) “Conheço um homem que sonhou que 
sua irmã estava num acidente de carro e, dois dias depois, 
ela morreu numabatida de frente!” Os números podem ser 
impessoais, mas o plural de caso extraordinário não é evidên­
cia. Como disse o psicólogo Gordon Allport (1954, p. 9): 
“Dê-nos um dedal cheio de fatos [dramáticos] e logo parti­
remos para generalizações tão grandes quanto um barril.” 
Lembre-se de que: Casos individuais podem sugerir ideias 
frutíferas. O que é verdadeiro em nós pode ser vislumbrado 
em qualquer um. Mas, para distinguir as verdades gerais que 
cobrem os casos individuais, devemos responder às pergun­
tas com outros métodos de pesquisa.
"Bem, meu caro", disse Miss Marple, "a natureza hum ana 
é muito sem elhante em todos os lugares, e, é claro, 
podemos observá-la mais de perto em uma cidade 
pequena."
Agatha Christie, 0 Clube das Terças-Feiras, 1933
O Levantamento (Survey)
estudo de caso é uma técnica de observação por 
intermédio da qual uma pessoa é estudada em 
profundidade na esperança de se descobrirem 
princípios universais.
survey (levantamento) é uma técnica para averiguar 
os autorrelatos sobre atitudes ou comportamentos de 
um grupo particular, normalmente dirigindo questões a 
uma amostra representativa de um grupo, selecionada 
aleatoriamente.
O método de levantamento examina muitos casos com menor 
profundidade. Um levantamento solicita às pessoas que rela­
tem seu comportamento ou opiniões. Perguntas sobre tudo, 
desde práticas sexuais ate opiniões políticas, são feitas ao 
público. As pesquisas de Harris e Gallup revelaram que 72% 
dos norte-americanos acham que há muita violência na tele­
visão, 89% são favoráveis à igualdade de oportunidades de tra­
balho para homossexuais, 89% dizem que enfrentam situações 
muito estressantes e 96% gostariam de mudar algum detalhe 
na aparência. Na Inglaterra, sete em cada dez pessoas entre os 
18 e os 29 anos apoiam o casamento entre homossexuais; entre 
as com mais de 50 anos, cerca do mesmo percentual é contra 
(um hiato entre as gerações encontrado em muitos países oci­
dentais). Mas fazer perguntas é complicado, e as respostas 
muitas vezes dependem de como as perguntas são elaboradas 
e de como é feita a escolha dos entrevistados.
Efeitos das Palavras Mesmo mudanças sutis na ordem 
ou na formulação das perguntas podem produzir grandes
efeitos. Anúncios de cigarro ou pornográficos devem ser per­
mitidos na televisão? As pessoas estão muito mais propensas 
a aprovar a “não permissão” do que a “proibição” ou a “cen­
sura” deles. Em uma pesquisa nacional, só 27% dos norte- 
americanos aprovaram a “censura do governo” à violência e 
ao sexo na mídia, embora 66% tenham aprovado “mais res­
trições ao que é mostrado na televisão” (Lacayo, 1995). Do 
mesmo modo, as pessoas aprovam muito mais uma “ajuda 
aos necessitados” do que ao “bem-estar social”, uma “ação 
afirmativa” a um “tratamento preferencial” e “multiplicado­
res de renda” a “impostos”. Como a formulação das pergun­
tas é uma questão muito delicada, os pensadores críticos pre­
cisam refletir sobre como o estilo de uma pergunta pode afe­
tar as opiniões expressas pelas pessoas a ela submetidas.
Am ostragem A leatória Podemos descrever a experiência 
humana a partir de casos memoráveis e da experiência pes­
soal. Mas, para um quadro preciso das experiências e atitudes 
de toda a população, só há um recurso a ser usado: a amos­
tra representativa.
À medida que fazemos generalizações a partir das amostras 
que observamos, podemos estender esse ponto para o pensa­
mento cotidiano, em especial quando se trata de casos reais. 
Dados (a) um resumo estatístico da avaliação dos alunos feita 
por um professor e (b) os comentários enérgicos de dois estu­
dantes enraivecidos, a impressão que um administrador terá do 
professor pode ser influenciada tanto pelos dois estudantes insa­
tisfeitos quanto pelas muitas avaliações favoráveis no resumo 
estatístico. A tentação de generalizar a partir de alguns poucos 
casos reais, mas não representativos, é quase irresistível.
Lembre-se de que: A melhor base para a generalização surge 
das amostras representativas dos casos.
Mas como você obtém uma amostra representativa - diga­
mos, de estudantes de sua faculdade ou da universidade? Como 
você poderia escolher um grupo que represente toda a popu­
lação de estudantes, o grupo como um todo que você deseja 
estudar e descrever? Normalmente, escolhemos uma amos­
tra aleatória, em que cada pessoa dentro do grupo total tem 
a mesma chance de participar. Isso significa que você não pre­
cisa enviar um questionário para cada estudante. (As pessoas 
conscienciosas que o responderiam não seriam uma amostra 
aleatória.) Em vez disso, você pode numerar os nomes da lista 
geral de estudantes e usar um gerador de números aleatórios 
para escolher os participantes de seu levantamento. Grandes 
amostras representativas são melhores do que as pequenas, 
mas uma pequena amostra representativa de 100 é melhor 
que uma amostra não representativa de 500.
Com amostras muito grandes, as estimativas 
tornam-se bastante confiáveis. Estima-se que o E 
representa 12,7% das letras escritas em inglês. O E, 
na verdade, ocupa 12,3% das 925.141 letras presentes 
em M oby Dick, de Melville, 12,4% das 586.747 letras 
de Um Conto de Duas Cidades, de Dickens, e 12,1% 
das 3.901.021 letras presentes em 12 das obras de 
Mark Twain (.Chance News, 1997).
As pesquisas políticas escolhem as amostras de eleitores exa­
tamente dessa maneira. Com apenas 1.500 eleitores escolhidos 
aleatoriamente, de todas as regiões de um país, podem obter um 
retrato instantâneo surpreendentemente preciso da opinião 
nacional. Sem as amostras aleatórias, as grandes amostras - 
incluindo as coletadas por ligações telefônicas e por pesquisas 
de TV ou via Web - podem gerar resultados enganadores.
Lembre-se de que: Antes de aceitar os achados dos levanta­
mentos, pense criticamente: considere a amostra. Não se 
pode compensar uma amostra não representativa simples­
mente acrescentando mais gente.
Observação Naturalista
Um terceiro método descritivo registra o comportamento no 
ambiente natural. Essas observações naturalistas variam 
desde olhar sociedades de chimpanzés na selva até a reali­
zação de gravações de vídeos não intrusivas (e posteriormente 
analisadas sistematicamente) de interações entre pais e filhos 
em diferentes culturas ao registro dos padrões das escolhas 
pelos estudantes dos lugares onde se sentar nos refeitórios 
das escolas multirraciais.
Assim como os métodos de estudo de caso e de levanta­
mento (survey), a observação naturalista não explica o com­
portamento. Ela o descreve. No entanto, as descrições podem 
ser reveladoras. Há algum tempo, por exemplo, achávamos 
que só os humanos usavam ferramentas. Então, a observação 
naturalista revelou que, às vezes, os chimpanzés inserem uma 
vareta no cupinzeiro, retirando e comendo os cupins que 
saem presos nela. Tais observações naturalistas pavimenta­
ram o caminho para estudos posteriores sobre o pensamento, 
a linguagem e a emoção de nossos companheiros animais. 
“As observações, feitas no habitat natural, ajudaram a mos­
trar que as sociedades e os comportamentos dos animais são 
muito mais complexos do que previamente se imaginava”, 
lembra a observadora de chimpanzés Jane Goodall (1998). 
Por exemplo, os chimpanzés e os babuínos foram observados 
usando a dissimulação. Os psicólogos Andrew W hiten e 
Richard Byrne (1988) viram repetidas vezes um jovem babu­
íno fingindo ter sido atacado como tática para fazer sua mãe 
afastar o outro babuíno para longe de sua comida. Além disso, 
quanto mais desenvolvido o cérebro de uma espécie de pri­
mata, maiores as probabilidades de que os animais apresen­
tem comportamentos de dissimulação (Byrne & Corp, 
2004).
As observações naturalistas também revelam o comporta­
mento humano. Eis aqui três descobertas que você provavel­
mente vai apreciar.
• Uma descoberta engraçada. Nós, humanos, rimos com 
frequência 30 vezes maior em situações sociais do que 
em situações solitárias. (Você já percebeu como é raro 
rir quando estásozinho?) E, quando rimos, 17 músculos 
esticam nossa boca e apertam nossos olhos, e emitimos 
uma série de sons vocálicos de 75 milissegundos com 
intervalos de um quinto de segundo entre cada um 
(Provine, 2001).
• Estudantes tagarelas. O que de fato os estudantes de 
introdução à psicologia estão falando e fazendo no dia a 
dia? Para descobrir, Matthias Mehl e James Pennebaker
(2003) equiparam 52 alunos da Universidade do Texas 
com gravadores ativados eletronicamente presos aos 
cintos. Durante quatro dias, os gravadores capturaram 
30 segundos da vida diurna dos estudantes a cada 12,5 
minutos, o que permitiu aos pesquisadores ouvir mais 
de 10.000 trechos de meio minuto ao final do estudo. 
Que percentagem desses trechos você acha que os 
estudantes ocuparam conversando com outras pessoas?
E qual o percentual gasto no teclado do computador? As 
respostas: 28 e 9 por cento. (Que porcentagem de suas 
horas acordado você acha que gasta nessas atividades?)
• Cultura, clima e o ritmo de vida. A observação naturalista 
também permitiu a Robert Levine e Ara Norenzayan 
(1999) comparar o ritmo de vida em 31 países. (Sua 
definição operacional de ritmo de vida incluía a 
velocidade do caminhar, a velocidade com que os 
carteiros completavam solicitações comuns e a precisão 
dos relógios públicos.) Sua conclusão: a vida tem o 
ritmo mais rápido no Japão e na Europa Ocidental, e 
um ritmo mais lento em países de menor
desenvolvimento econômico. As pessoas em climas 
mais frios também tendem a viver num ritmo mais 
rápido (e têm maior tendência a morrer por doenças 
cardíacas).
A observação naturalista permite obter instantâneos inte­
ressantes da vida diária, mas isso é feito sem o controle de 
todos os fatores que podem influenciar o comportamento. 
Uma coisa é observar o ritmo de vida em vários lugares, outra 
é compreender o que faz com que algumas pessoas caminhem 
mais rapidamente do que outras. Ainda assim, a observação 
naturalista, como os levantamentos, podem fornecer dados 
para a pesquisa correlacionai, nosso próximo tópico.
população são todos os casos de um grupo que está 
sendo estudado, do qual as amostras podem ser 
retiradas. (.Observação: A não ser para estudos de 
abrangência nacional, o conceito não se refere a toda a 
população de um país.)
amostra aleatória é uma amostra que representa 
corretamente uma população porque todos os membros 
têm uma chance igual de Inclusão.
observação naturalista é a observação e o registro do 
comportamento em situações que ocorrem 
naturalmente, sem tentativas de manipular e controlar a 
situação.
correlação é uma medida da extensão em relação à 
qual dois fatores variam juntos e, assim, do quão bem 
um fator prediz o outro.
coeficiente de correlação é um índice estatístico da 
relação entre duas coisas (de -1 a +1).
gráficos de dispersão mostram graficamente os 
aglomerados de pontos, e cada um representa o valor 
de duas variáveis. A inclinação dos pontos sugere a 
direção da relação entre as duas variáveis. O grau de 
dispersão sugere a força da correlação (pouca dispersão 
indica alta correlação).
Correlação
5 : 0 que são correlações positivas e negativas, 
e por que elas permitem a predição mas 
não as explicações de causa e efeito?
Descrever o comportamento é o primeiro passo na direção 
de poder predizê-lo. Os levantamentos e as observações natu­
ralistas muitas vezes revelam que um traço ou comportamento 
se relaciona com outro. Quando isso ocorre, dizemos que 
houve uma correlação. Uma medida estatística (o coefi­
ciente de correlação) nos ajuda a estabelecer a proximidade 
com que dois elementos variam juntos e portanto até que 
ponto um prediz o outro. Saber o quanto os escores dos tes­
tes de aptidão se correlacionam com o sucesso escolar nos 
mostra como os escores predizem o sucesso escolar.
Por todo este livro, perguntaremos várias vezes sobre o 
quão fortemente duas coisas estão relacionadas. Por exem­
plo: até que ponto existe relação entre os escores de persona­
lidade de gêmeos idênticos? Até que ponto os resultados dos 
testes de inteligência predizem o desempenho? Até que ponto 
o estresse se relaciona com a doença?
A FIGURA 1 .2 contém três gráficos de pontos de dis­
persão, que ilustram o intervalo de possíveis correlações que 
variam de perfeita positiva a perfeita negativa. (Correlações 
perfeitas raramente ocorrem no “mundo real”.) Cada ponto 
no gráfico de dispersão representa o valor de dispersão de 
duas variáveis. Uma correlação é positiva quando dois con­
juntos de escores, tais como altura e peso, tendem a subir ou 
a descer juntos. Dizer que uma correlação é “negativa” nada 
tem a ver com sua força ou fraqueza, mas sim que dois ele­
mentos se relacionam inversamente (um grupo de escores 
sobe enquanto o outro desce). À medida que a escovação dos 
dentes sobe a partir de zero, decresce a quantidade de cáries. 
Uma correlação fraca, indicando pouca ou nenhuma relação, 
é aquela que tem um coeficiente próximo de zero.
Aqui estão quatro novos relatórios de pesquisa correlacio­
nai, alguns resultantes de levantamentos ou de observações 
naturais. Você consegue identificar quais informam as que são 
correlações positivas e quais as que são negativas? (Confira as 
respostas na página seguinte, logo abaixo da Tabela 1.2.)
1. Quanto mais as crianças pequenas assistem à TV, menos 
elas leem (Kaiser, 2003).
2 . Quanto mais conteúdo sexual os adolescentes veem na 
TV, mais propensos ficam a fazer sexo (Collins et al., 
2004).
B. Quanto mais tempo as crianças forem amamentadas no 
peito, melhores serão seus resultados acadêmicos mais 
tarde (Horwood & Fergusson, 1998).
4. Quanto maior a frequência com que os adolescentes toma­
rem café da manhã, menor a sua massa corporal (Timlin 
et al., 2008).
As estatísticas podem nos ajudar a ver o que, a olho nu, às 
vezes, poderíamos deixar escapar. Para demonstrar isso a si 
mesmo, experimente um projeto imaginário. Perguntando a 
si mesmo se homens altos são mais ou menos calmos, você 
reúne dois conjuntos de escores: altura dos homens e tempe­
ramento dos homens. Você mede a altura de 20 homens e
• « • *
• • ■
Correlação positiva perfeita (+i,oo) Sem relação (o,oo) Correlação negativa perfeita ( - 1,00)
> FIGURA 1.2
Gráficos de dispersão de dados mostrando padrões de correlação As correlações podem variar de +1,00 (escores de uma medida 
aumentam em proporção direta a escores de outra) a —1,00 (escores de uma medida diminuem na exata proporção em que os escores de outra 
sobem).
TABELA 1.2
A l t u r a e T e m p e r a m e n t o d e 2 0 H o m e n s
Sujeito
Altura em 
Polegadas Temperamento
1 80 75
2 63 66
3 61 60
4 79 90
5 74 60
6 69 42
7 62 42
8 75 60
9 77 81
10 60 39
11 64 48
12 76 69
13 71 72
14 66 57
15 73 63
16 70 75
17 63 30
18 71 57
19 68 84
20 70 39
BAIJeBeU ‘BAjJISOd £
‘BAHjsod z ‘eAj)e6su ( tjouejue eu|6ed ep 
0}ueuieu0pe|3jj03 sp seojssnb se sejsodsatf
solicita que outra pessoa avalie o temperamento deles (de zero 
para extremamente calmo a 100 para altamente reativo).
Com todos os dados relevantes (TABELA 1 .2 ) bem à sua 
frente, será que você pode dizer se há (1) uma correlação posi­
tiva entre altura e temperamento reativo, (2) muito pouca ou 
nenhuma correlação ou (3) uma correlação negativa?
Comparando as colunas na Tabela 1.2, a maioria das pes­
soas detecta muito pouca relação entre altura e temperamento. 
Na verdade, a correlação nesse exemplo imaginário é mode­
radamente positiva, +0,63, como podemos ver se exibirmos os 
dados como uma dispersão de pontos. Na FIGURA 1.3 , indo 
da esquerda para a direita, a inclinação ascendente e ovalada 
do grupo de pontos mostra que nossos dois grupos imaginá­
rios de escores (altura e reatividade) tendem a subir juntos.
Se não conseguimos ver a relação quando os dados são 
apresentados de forma tão sistemática como na Tabela 1.2, 
que chance teremos de a notarmos no dia a dia? Para vermos 
o que está bem à nossa frente, às vezes precisamos de ilumi­
nação estatística.Podemos ver com facilidade evidências de 
discriminação de gênero quando recebemos informações esta­
tisticamente resumidas sobre níveis de empregos, antiguidade 
no cargo, desempenho, gênero e salário. Mas, com frequência, 
não percebemos a discriminação quando as mesmas infor­
mações chegam até nós aos poucos, caso a caso (Twiss et al., 
1989).
Lembre-se de que: O coeficiente de correlação nos ajuda a 
ver o mundo mais claramente ao revelar a verdadeira exten­
são da relação entre dois elementos.
Correlação e Causação
As correlações nos ajudam a fazer predições. A baixa autoes­
tima correlaciona-se com (e, portanto, prediz) a depressão. 
(Essa correlação pode ser indicada por um coeficiente de cor­
relação ou apenas pela descoberta de que pessoas com um 
escore na metade inferior de uma escala de autoestima apre­
sentam uma alta taxa de depressão.) Assim, a baixa autoes­
tima causa depressão? Se, com base na evidência correlacio­
nai, você supuser que sim, não estará sozinho. Entre os erros 
de pensamento mais irresistíveis presentes tanto em pessoas 
leigas quanto em psicólogos está o de assumir que a correla-
Escores de 
temperamento
95
90
85
80
75
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
55 60 65 70 75 80
Altura em polegadas
85
► FIGURA 1.3
Gráfico de dispersão de dados para altura e temperamento Esta exibição de dados de 20 pessoas imaginárias (cada uma representada
por um pon
bem inferior a +1,0.
(i)
Baixa autoestima
(2)
Depressão
(3) 
Eventos 
angustiantes ou 
predisposição 
biológica
pode causar
Depressão
ou
pode causar
ou
pode causar
Baixa autoestima
Baixa autoestima
Depressão
> FIGURA 1.4
Três possíveis relações de causa e efeito As pessoas com baixa 
autoestima são mais propensas a relatar depressão do que aquelas 
com autoestima mais elevada. Uma das explicações possíveis para 
essa correlação negativa é que uma autoimagem ruim cause 
sentimentos depressivos. Mas, como o diagrama indica, outras 
relações de causa e efeito são possíveis.
ção prova a causação. Mas não importa quão forte seja a rela­
ção, ela não prova coisa alguma!
Como as opções 2 e 3 da FIGURA 1 .4 mostram, conse­
guiríamos a mesma correlação entre baixa autoestima e depres­
são se a depressão fizesse com que as pessoas se desvalorizas­
sem, ou se um terceiro fator - como a hereditariedade ou a 
química cerebral - causasse tanto a baixa autoestima quanto 
a depressão. Entre os homens, a duração do casamento cor­
relaciona-se positivamente com a perda de cabelos - porque 
ambas estão associadas a um terceiro fator, a idade.
Esse ponto é tão importante - tão básico para se pensar a psi­
cologia de maneira mais inteligente - que merece mais um exem­
plo, de um levantamento com 12.000 adolescentes. O estudo 
encontrou que quanto mais os adolescentes se sentem amados 
por seus pais, menores as chances de apresentarem comporta­
mentos nocivos - como sexo precoce, fumo, abuso de álcool e 
de drogas e manifestações de violência (Resnick et al., 1997). 
“Os adultos exercem um efeito poderoso sobre o comportamento 
de seus filhos até a época do ensino médio”, proclamou a Asso­
ciated Press (AP) relatando a história desse achado. Mas essa 
correlação não vem embutida em seta de causa e efeito. Em 
outras palavras (e aumente o volume aqui), associação não prova 
causação.2 Portanto, a matéria da Associated Press poderia ter 
dito: “Adolescentes bem-comportados sentem o amor e a apro­
vação de seus pais; adolescentes sem limites pensam com mais 
frequência que seus pais são controladores idiotas.”
Lembre-se de que: A correlação indica a possibilidade de uma 
relação de causa e efeito, mas ela não prova a causação. Saber que 
dois eventos estão correlacionados não nos diz nada sobre suas 
causas. Lembre-se desse princípio e você estará mais bem infor­
mado quando ler e ouvir notícias sobre descobertas científicas.
Um estudo relatado no B ritish M edicai Journa l 
descobriu que jovens que se identificam com a 
subcultura gótica tentam se ferir ou cometer suicídio 
com mais frequência do que outras pessoas da
mesma idade (Young et al., 2 006 ). Será que você 
consegue imaginar múltiplas explicações possíveis 
para essa associação?
Correlações Ilusórias 
6 : O que são correlações nusórias?
Os coeficientes de correlação tornam visíveis as relações que 
do contrário não perceberíamos. Também coíbem que “veja­
mos” relações que de fato não existem. Uma correlação per­
cebida mas não existente é uma correlação ilusória. Quando 
acreditamos que há uma relação entre dois elementos, tende­
mos a perceber e a lembrar de casos ilustrativos que confirmem 
nossa crença (Trolier & Hamilton, 1986).
Um escritor do New York Times relatou um amplo 
levantamento mostrando que adolescentes cujos pais 
fumavam tinham 50% mais propensão a relatar terem 
praticado sexo do que filhos de não fumantes”. Ele 
concluiu (e você concordaria?) que a pesquisa indicava 
um efeito causai: “para reduzir as chances de seus 
filhos se tornarem sexualmente ativos precocemente, 
os pais deveriam deixar de fumar” (0 ’Neil, 2002).
Por sermos suscetíveis a eventos dramáticos ou incomuns, 
tendemos especialmente a perceber e lembrar da ocorrência 
de dois eventos desse tipo seqüencialmente - como a premo­
nição de um telefonema improvável seguida da ligação. 
Quando o telefonema não ocorre após a premonição, tende­
mos menos a notar ou lembrar desse não evento. As corre­
lações ilusórias ajudam a explicar muitas crenças supersti­
ciosas, tais como a presunção de que aumenta a probabilidade 
de conceber quando casais inférteis adotam uma criança 
(Gilovich, 1991). Aqueles que concebem depois de adotar 
chamam mais a nossa atenção. E ficamos menos inclinados 
a perceber aqueles que adotaram e nunca conceberam, ou 
aqueles que concebem sem adotarem. Em outras palavras, as 
correlações ilusórias ocorrem quando superestimamos a 
célula superior à esquerda da FIGURA 1 .5 , ignorando as 
informações igualmente essenciais nas outras células.
Tais pensamentos ilusórios ajudam a explicar por que, 
durante tantos anos, as pessoas acreditaram (e ainda acredi­
tam) que o açúcar faz as crianças ficarem hiperativas, que ficar
Concebem
evidência
confirmadora
evidência não 
confirmadora
Não concebem
evidência não 
confirmadora
evidência
confirmadora
2Como muitas associações são apresentadas como correlações, o famoso 
principio formulado é o de que “correlação não prova causação”. Isso e 
verdade, mas também vale para associações verificadas por outras esta­
tísticas não experimentais (Hatfield et al., 2006).
Adotam
Não
adotam
>- FIGURA 1.5
Correlação ilusória cotidiana Muitas pessoas acreditam que casais 
inférteis tornam-se mais propensos a conceber um filho após adotarem 
um bebê. Essa crença surge do fato de sua atenção ser despertada por 
tais casos. Os muitos casais que adotam sem conceber, ou que 
concebem sem adotar, chamam menos atenção. Para determinar se de 
fato existe uma correlação entre adoção e concepção, precisamos dos 
dados descritos nas quatro células desta figura. (De Gilovich, 1991.)
molhado e com frio faz com que se pegue um resfriado e que 
a mudança de tempo provoca dores articulares. Parece que 
temos a tendência a detectar padrões, quer existam ou não.
correlação ilusória a percepção da existência de uma 
relação onde não existe uma.
Lembre-se de que: Quando vemos coincidências aleatórias, 
podemos justamente esquecer o fato de que são aleatórias e 
percebê-las como correlacionadas. Assim, podemos facil­
mente nos enganar enxergando o que não existe.
pares de coroas seguidos por pares de caras. Nas jogadas de 
30 a 38, tive uma “mão ruim”, com apenas uma cara em oito 
jogadas. Mas minha sorte reverteu imediatamente com uma 
“mão boa” - sete caras nas nove jogadas seguintes.
Esse tipo de tendência se repete com a frequência que se 
poderia esperar dos lances aleatórios, nos arremessos e acer­
tos do basquete, nas escolhas de ações de fundos mútuos 
(Gilovich et al., 1985; Malkiel, 1989, 1995; Myers, 2002).Muitas vezes, elas não se parecem com seqüências aleatórias 
e, por isso, recebem interpretações supervalorizadas (“Quando 
é o seu dia de sorte, nada te segura!).
Percebendo Ordem em Eventos Aleatórios
Em nosso anseio natural por dar sentido ao mundo - o que 
o poeta Wallace Stevens chamou de nossa “fúria ordena- 
dora” - , procuramos por organização até mesmo em dados 
aleatórios. E eis um curioso fato da vida: normalmente encon­
tramos, pois as seqüências aleatórias com frequência não pare­
cem aleatórias. Considere um lance aleatório de moedas: se 
alguém lançar uma moeda seis vezes, qual das seguintes 
seqüências de caras (A) e coroas (B) seria a mais provável: 
AAABBB ou ABBABA ou AAAAAA?
Daniel Kahneman e Amos Tversky (1972) descobriram 
que a maioria das pessoas acreditava que ABBABA era a 
seqüência aleatória mais provável. Na verdade, todas são 
igualmente prováveis (ou, se poderia dizer, igualmente impro­
váveis). Uma mão de bridge ou de pôquer com cartas de 10 
a ás, todas de copas, pareceria extraordinário; na verdade, 
isso não seria mais ou menos provável do que qualquer outra 
mão de cartas (FIGURA 1 .6 ).
Em seqüências aleatórias reais, padrões e séries aparentes 
(como dígitos repetidos) ocorrem com mais frequência do 
que as pessoas esperam. Para demonstrar esse fenômeno para 
mim mesmo (assim como você também pode fazê-lo), joguei 
uma moeda 51 vezes e obtive os seguintes resultados:
1. A 10. B 19. A 28. B 37. B 46. A
2. B 11. B 20. A 29. A 38. B 47. A
3. B 12. A 21. B 30. B 39. A 48. B
4. B 13. A 22. B 31. B 40. B 49. B
5. A 14. B 23. A 32. B 41. A 50. B
6. A 15. B 24. B 33. B 42. A 51. B
7. A 16. A 25. B 34. B 43. A
8. B 17. B 26. B 35. B 44. A
9. B 18. B 27. A 36. A 45. B
Observando a seqüência, os padrões se revelam: as joga-
das de 10 a 22 resultaram em um padrão quase perfeito de
Í I *
* 4*1
► F I G U R A 1.6
Duas seqüências aleatórias As chances de você receber essas 
cartas são rigorosamente as mesmas: 1 em 2.598.960.
No dia 11 de março de 1998, Ernie e Lynn Carey, de 
Utah, ganharam três netos quando três de suas filhas 
deram à luz - no mesmo dia (Los Angeles Times, 
1998). •
“Um dia realm ente incomum será aquele em que nada de 
incomum acontecer."
Persi Diaconis, estatístico (2002)
O que explica esses padrões de séries? Será que eu estava 
exercendo algum tipo de controle paranormal sobre minha 
moeda? Deixei para trás minha onda de azar e entrei numa 
maré de sorte? Tais explicações não são necessárias, pois esses 
são os tipos de padrões encontrados em quaisquer dados ale­
atórios. Comparando cada jogada com a seguinte, 24 das 50 
comparações produzem um resultado diferente - exatamente 
o tipo de resultado esperado quando se joga cara ou coroa - 
50% de chance para cada lado. Apesar dos padrões aparentes 
nesses lances, o resultado de uma jogada não oferece nenhuma 
pista sobre o resultado da jogada seguinte.
No entanto, alguns acontecimentos parecem tão extraor­
dinários que relutamos em conceber uma explicação simples­
mente casual (como no caso do jogo de cara ou coroa). Em 
tais casos, os estatísticos são com frequência menos logrados. 
Quando Evelyn Marie Adams ganhou na loteria de Newjer- 
sey pela segunda vez, os jornais publicaram que a chance de 
seu feito era de 1 em 17 trilhões. Bizarro? Na verdade, 1 em 
17 trilhões é a chance de que uma determinada pessoa que 
compra um único bilhete para duas loterias de New Jersey 
ganhe ambas as vezes. Mas os estatísticos Stephen Samuels 
e George McCabe (1989) relatam que, devido aos milhões 
de pessoas que compram bilhetes de loteria nos Estados Uni­
dos, era “praticamente um fato certo” que algum dia, em 
algum lugar, alguém tirasse a sorte grande duas vezes. De 
fato, dizem os companheiros estatísticos Persi Diaconis e Fre- 
derick Mosteller (1989), “com uma amostra grande o bas­
tante, qualquer coisa extravagante pode acontecer”. “Estra­
nho mesmo será o dia em que nada incomum acontecer”, 
acrescenta Diaconis (2002). Um evento que acontece apenas 
para uma pessoa numa população de 1 bilhão a cada dia 
ocorre cerca de seis vezes por dia, 2000 vezes por ano.
Experimentação
7 : Como os experimentos, fortalecidos 
pela designação aleatória, esclarecem 
as relações de causa e efeito?
Felizes são aqueles “que conseguiram perceber as causas das 
coisas”, observou o poeta romano Virgílio. Para isolar a causa
e o efeito, os psicólogos podem controlar outros fatores esta­
tisticamente. Por exemplo, muitos estudos indicaram que 
bebês que são amamentados no peito materno crescem com 
uma inteligência um tanto maior do que aqueles amamenta­
dos com leite de vaca (Angelsen et al., 2001; Mortensen et 
al., 2002; Quinn et al., 2001). Também descobriram que crian­
ças britânicas alimentadas com leite materno tendiam com 
mais frequência a ascender socialmente do que aquelas ali­
mentadas com mamadeira (Martin et al., 2007). Mas a noção 
de que “o peito é melhor” para os resultados de inteligência 
sofre uma diminuição quando os pesquisadores comparam as 
crianças da mesma família amamentadas no peito aos irmãos 
amamentados por mamadeira (Der et al., 2006).
Mas isso significa que mães mais inteligentes (que nos 
países modernos amamentam no peito com mais frequência) 
têm filhos mais inteligentes? Ou, como supõem alguns pes­
quisadores, os nutrientes do leite materno contribuem para 
o desenvolvimento do cérebro? Para ajudar a responder a 
essas perguntas, os pesquisadores “controlaram” (remo­
vendo-lhes diferenças estatisticamente) alguns outros fato­
res, tais como idade da mãe, educação e renda. E encontra­
ram que, durante a fase de nutrição infantil, o leite da mãe 
relaciona-se de maneira discreta, mas positivamente, com a 
inteligência posterior.
A pesquisa correlacionai não é capaz de controlar todos 
os fatores possíveis. Mas os pesquisadores podem isolar causa 
e efeito através de um experimento. Os experimentos per­
mitem que um pesquisador ponha em foco os efeitos possí­
veis de um ou mais fatores ao (1) manipular os fatores de inte­
resse e (2) manter os outros fatores constantes ( “controlando- 
os"). Com a autorização dos pais, uma equipe de pesquisa 
britânica decidiu fazer um experimento usando 424 bebês 
prematuros designados aleatoriamente para receberem leite 
em pó padrão de alimentação para bebês e outros para rece­
berem leite materno doado (Lucas et al., 1992). Nos testes 
de inteligência aos 8 anos de idade, as crianças alimentadas 
com leite materno obtiveram pontuações bem mais altas do 
que seus companheiros alimentados com a fórmula.
Designação Aleatória
É claro que nenhum experimento único é conclusivo. Mas, 
pela designação aleatória dos bebês para um grupo de ali­
mentação ou para o outro, os pesquisadores conseguiram 
manter constantes todos os fatores, exceto a nutrição. Isso 
eliminou explicações alternativas e apoiou a conclusão de 
que o aleitamento materno é melhor para o desenvolvimento 
da inteligência (ao menos para bebês prematuros).
Se um comportamento muda (como o desempenho num 
teste) quando variamos um fator experimental (como a nutri­
ção infantil), então inferimos que o fator está tendo um 
efeito. Lembre-se de que: Diferentemente dos estudos correla- 
cionais, que revelam relações que ocorrem de forma natural, 
um experimento manipula um fator para determinar seu 
efeito.
Considere também como podemos avaliar uma interven­
ção terapêutica. Nossa tendência de buscar novos remédios 
quando estamos doentes ou emocionalmente abatidos pode 
produzir falsos testemunhos. Quando nossa saúde ou emo­
ção volta ao normal, atribuímos o restabelecimento a algo 
que fizemos. Se depois de três dias de resfriado começamos a 
tomar comprimidos de vitamina C e sentimos os sintomas 
do resfriado diminuírem, podemos atribuir a melhora aos 
comprimidos e não ao recuo natural da doença. Se, após 
quase sermos reprovados numa prova, ouvirmos um CD subli­
minar de “aprendizagem acelerada” e, numa prova seguinte, 
melhorarmos nosso rendimento, poderemos dar crédito aoCD em vez de concluirmos que nosso desempenho voltou a 
sua média. No século XVIII, a sangria parecia eficaz. Às vezes, 
as pessoas melhoravam depois do tratamento; quando não 
melhoravam, o médico concluía que a doença estava muito 
avançada para ser revertida. (Claro que, atualmente, sabemos 
que a sangria, por via de regra, é um tratamento ruim.) Assim, 
quer um remédio seja ou não eficaz, é provável que seus usu­
ários entusiastas o endossem. Para descobrir se ele é de fato 
eficaz, devemos usar a experimentação.
E é exatamente assim que novos tratamentos medicinais 
e novos métodos de psicoterapia são avaliados por investiga­
dores (Capítulo 15). Os participantes desses estudos são dis­
tribuídos aleatoriamente para os grupos de pesquisa e, mui­
tas vezes, são cegos (não informados) sobre qual tratamento 
estão recebendo, se é que estão mesmo. Um grupo recebe o 
tratamento (como uma medicação ou outra terapia). O outro 
recebe um pseudotratamento - um placebo inerte (pode ser 
um comprimido sem substâncias medicamentosas). Se o 
estudo adota um procedimento duplo-cego, nem os par­
ticipantes nem os pesquisadores assistentes que coletam os 
dados saberão que grupo está recebendo o tratamento. Em 
tais estudos, os pesquisadores podem checar os efeitos reais 
de um tratamento independentemente da crença do poder 
curativo e do entusiasmo da equipe sobre seu potencial cura­
tivo. O simples fato de achar que está recebendo um trata­
mento pode levar a pessoa a se sentir mais animada, relaxar 
o corpo e aliviar os sintomas. Esse efeito placebo é bem 
documentado na redução das dores, da depressão e da ansie­
dade (Kirsch & Sapirstein, 1998). E quanto mais caro for o 
placebo, mais “real” nos parece - um falso comprimido de 
R$ 2,50 funciona melhor do que outro que custa 10 centa­
vos (Waber et al., 2008). Para saber se uma terapia é de fato 
eficaz, os pesquisadores precisam controlar um possível efeito 
placebo.
O procedimento duplo-cego é uma forma de criar um 
grupo experim ental, em que as pessoas recebem o trata­
mento, e um grupo de controle contrastante, que não recebe 
o tratamento. Ao distribuir aleatoriamente as pessoas nessas 
condições, os pesquisadores podem ter certeza de que os dois 
grupos são praticamente idênticos. A designação aleatória 
iguala mais ou menos os dois grupos em idade, atitude e qual­
quer outra característica. Com a designação aleatória, como 
ocorreu com os bebês no experimento do leite materno, pode­
mos concluir que quaisquer diferenças posteriores entre as 
pessoas nas condições experimental e de controle provavel­
mente resultarão do tratamento.
experimento é um método de pesquisa no qual um 
investigador manipula um ou mais fatores (variáveis 
independentes) para observar o efeito sobre algum 
comportamento ou processo mental (as variáveis 
dependentes). Pela designação aleatória dos 
participantes, os experimentadores buscam controlar 
outros fatores relevantes.
designação aleatória designar os participantes nos 
grupos experimental e de controle ao acaso é um modo 
de minimizar as diferenças preexistentes entre os 
membros designados para os diferentes grupos.
procedimento duplo-cego é um procedimento 
experimental no qual tanto os participantes da pesquisa 
quanto a equipe de pesquisadores são ignorantes 
(cegos) sobre se os participantes receberam tratamento 
ou placebo. Normalmente usado em estudos de 
avaliação de medicamentos.
efeito placebo [do latim, “eu devo agradar”) são 
resultados experimentais causados unicamente pelas 
expectativas; qualquer efeito sobre o comportamento 
causado pela administração de uma substância ou
condição inerte, com o receptor pressupondo tratar-se 
de um agente ativo.
grupo experimental em um experimento, é o grupo 
exposto ao tratamento, ou seja, a uma versão da 
variável independente.
grupo de controle em um experimento, é o grupo que 
não é exposto ao tratamento; contrasta com o grupo 
experimental e serve de comparação para avaliar o 
efeito do tratamento.
variável independente é o fator experimental que é 
manipulado; é a variável cujo efeito está sendo 
estudado.
variável dependente é o fator resultante; é a variável 
que pode sofrer alterações em resposta a manipulações 
da variável independente.
Variáveis Independente e Dependente
Eis aqui um exemplo ainda mais potente: o Viagra foi apro­
vado para uso depois de 21 testes clínicos, incluindo um 
experimento em que os pesquisadores distribuíram aleato­
riamente 329 homens com disfunção erétil para a condição 
experimental (os que tomaram Viagra) e para a condição de 
controle (os que tomaram placebo). Esse foi um procedi­
mento duplo-cego - nem os homens nem a pessoa que minis­
trava os comprimidos sabiam que remédio os participantes 
estavam recebendo. O resultado: em doses máximas, 69% 
das tentativas de relações sexuais com a ajuda do Viagra foram 
bem-sucedidas, em comparação com os 22% dos homens que 
receberam o placebo (Goldstein et al., 1998). O Viagra fun­
cionou.
Esse experimento simples manipulou apenas um fator: a 
dosagem do medicamento (zero vs. dose máxima). Chama­
mos esse fator experimental de variável independente por­
que podemos variá-lo independentemente de outros fatores, 
tais como a idade dos homens, o peso e a personalidade (con­
trolados pela designação aleatória). Os experimentos exami­
nam o efeito de uma ou mais variáveis independentes sobre 
algum comportamento mensurável, chamado variável 
dependente porque ela pode variar dependendo do que acon­
tece durante o experimento. Ambas as variáveis recebem defi­
nições operacionais precisas, que especificam os procedimentos 
que manipulam a variável independente (a dosagem precisa 
do remédio e o tempo nesse estudo) ou que medem a variá­
vel dependente (as perguntas que avaliaram as respostas dos 
homens). Essas definições respondem à pergunta “O que você 
quer dizer?” com um nível de precisão que possibilita que 
outros repitam o estudo. (Veja a FIGURA 1 .7 sobre o deli- 
neamento do experimento do leite materno.)
Vamos fazer uma pausa e verificar sua compreensão com 
um experimento psicologico simples. Para testar o efeito da 
percepção de etnicidade sobre disponibilidade de uma casa 
para aluguel, Adrian Carpusor e William Loges (2006) envia­
ram e-mails com textos idênticos para 1115 proprietários na 
área de Los Angeles. Os pesquisadores alteraram a conotação 
étnica dos nomes dos remetentes e mediram o percentual de 
respostas positivas (convites para visitar o imóvel pessoal­
mente). “Patrick McDougall”, “Said Al-Rahman” e “Tyrell 
Jackson” receberam, respectivamente, 89 por cento, 66 por 
cento e 56 por cento de convite. Nesse experimento, qual foi 
a variável independente? E a dependente?3
Os experimentos também podem nos ajudar a avaliar pro­
gramas sociais. Os programas educativos voltados para a pri­
meira infância de crianças pobres aumentam suas chances 
de sucesso? Quais são os efeitos das diferentes campanhas 
antitabagismo? A educação sexual nas escolas reduz a gravi­
dez na adolescência? Para responder a essas perguntas, pode­
mos empregar experimentos: se uma intervenção é bem-vinda 
mas os recursos são escassos, poderíamos usar uma loteria 
para distribuir aleatoriamente algumas pessoas (ou regiões) 
para experimentar o novo programa e outras pessoas para a 
condição de controle. Se mais tarde os dois grupos diferirem, 
o efeito da intervenção será confirmado (Passell, 1993).
Observe a distinção entre a amostragem aleatória 
nos levantamentos, abordada anteriormente, e as 
designações aleatórias nos experimentos (descritas 
na Figura 1.7). A am ostragem a leatória nos ajuda a 
generalizar para uma população maior. A designação 
aleatória controla influências externas, o que nos 
ajuda a inferir a causa e o efeito.
Vamos recapitular. Uma variável é qualquer fator que pode 
variar (nutrição de bebês, inteligência, exposição à TV - qual­
quer coisa dentro dos limites do que é viável e ético). Expe­
rimentos visam manipular uma variável independente,medir 
a variável dependente e controlar todas as outras variáveis. Um 
experimento tem pelo menos dois grupos diferentes: um grupo 
experimental e outro de comparação, ou grupo de controle. A 
designação aleatória equipara os grupos antes de quaisquer 
efeitos no tratamento. Desse modo, um experimento testa o 
efeito de pelo menos uma variável independente (a que é 
manipulada) sobre pelo menos uma variável dependente (o
3A variável independente, que os pesquisadores manipularam, foram os 
nomes relacionados à etnia. A variável dependente, que eles mediram, 
foi a taxa de respostas positivas.
Designação aleatória 
(controle de outras 
variáveis, como 
inteligência dos pais 
e ambiente)
Variável Variável
Grupo independente dependente
Controle
Experimental Leite materno
Leite em pó
Escore de 
inteligência, 
8 anos
Escore de 
inteligência, 
8 anos
> F I G U R A 1.7
Experimentação Para discernir a causação, os psicólogos podem designar aleatoriamente alguns participantes para um grupo experimental e 
outros para um grupo de controle. A medida da variável dependente (escore de inteligência na infância avançada) determinará o efeito da 
variável independente (tipo de leite).
TABELA 1.3
C o m p a r a n d o M é t o d o s d e P e s q u is a
Método de 
Pesquisa Propósito Básico Como É Conduzido
O que É 
Manipulado Fraquezas
Descritivo Observar e registrar 
comportamentos
Conduzir estudos de casos, 
levantamentos (surveys) ou 
observações naturalistas
Nada Sem controle das variáveis; casos 
únicos podem ser enganadores
Correlacionai Detectar relações que 
ocorrem naturalmente; 
avaliar quão bem uma 
variável prediz a outra
Computar associações 
estatísticas, algumas vezes 
entre as respostas dos 
levantamentos
Nada Não especifica causa e efeito
Experimental Explorar causa e efeito Manipular um ou mais fatores; 
utiliza a designação aleatória
A(s) variável(is) 
independente(s)
Às vezes inviável; os resultados 
podem não ser generalizados para 
outros contextos; não é ético 
manipular certas variáveis
resultado que medimos). A TABELA 1 .3 compara as carac­
terísticas dos métodos de pesquisa em psicologia.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> P e r g u n te a S i M esm o
Se você se tornasse um pesquisador em psicologia, que 
questões gostaria de explorar através de experimentos?
> T e ste a S i M e sm o 2
Por que, ao testar um novo remédio para a pressão arterial, 
aprenderíamos mais sobre sua eficácia se déssemos o remédio 
à metade dos participantes em um grupo de 1.000 do que se 
o déssemos a todos os 1.000 participantes?
Respostas para as questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
Raciocínio Estatístico no Dia a Dia
NAS PESQUISAS DESCRITIVA, CORRELACIONAL e experi­
mental, as estatísticas são ferramentas que nos ajudam a ver 
e interpretar o que pode escapar a um olhar sem uso de ins­
trumentos. Mas um entendimento estatístico pode favorecer 
outras pessoas além dos pesquisadores. Faz parte da educação 
atual ser capaz de aplicar princípios estatísticos simples em 
raciocínios cotidianos. Ninguém precisa decorar fórmulas 
complicadas para pensar com mais clareza e de maneira mais 
crítica sobre os dados.
Estimativas feitas na base do palpite com frequência inter­
pretam mal a realidade e desorientam o público. Alguém 
menciona um número redondo e avantajado, outros fazem 
eco dele e, logo depois, o número redondo e avantajado se 
torna uma informação pública errada. Alguns exemplos:
• 10% das pessoas são homossexuais. Ou serão 2% ou 3%, 
como sugerido por vários levantamentos (surveys) feitos 
nos EUA (Capítulo 11)?
• Normalmente, usamos apenas 10% de nosso cérebro. Ou 
será que usamos quase 100%? (Capítulo 2)
• O cérebro humano tem 100 bilhões de células nervosas. Ou 
serão cerca de 40 bilhões, como sugere a extrapolação a 
partir da contagem de amostras (Capítulo 2)?
Lembre-se de: Duvidar dos números redondos e avantaja- 
dos não documentados. Em vez de engolir estimativas feitas 
na base do palpite, use o pensamento mais inteligente, apli­
cando princípios estatísticos simples ao raciocínio coti­
diano.
moda são os escores mais freqüentes em uma 
distribuição.
média é a média aritmética de uma distribuição obtida 
pela soma dos escores e dividida pelo número de 
escores.
mediana é o escore médio de uma distribuição; 
metade dos escores fica acima da mediana e metade 
abaixo dela.
amplitude é a diferença entre o escore mais alto e o 
mais baixo em uma distribuição.
desvio-padrão é a medida computada de quantos os 
escores variam em relação ao escore médio.
A Descrição dos Dados
8 : Como podemos descrever dados com 
medidas da tendência central e variação?
Uma vez que os pesquisadores tenham coletado seus dados, 
a primeira tarefa é organizá-los de uma maneira que faça 
sentido. Um modo de fazer isso é converter os dados em um 
gráfico de barras simples, como na FIGURA 1.8 , que demons­
tra a distribuição de caminhões de diferentes marcas ainda 
rodando depois de uma década. Ao ler gráficos estatísticos 
como esse, tome cuidado. É fácil criar um gráfico para fazer 
que uma diferença pareça grande (FIGURA 1.8a) ou pequena 
(FIGURA 1 .8 b ). O segredo reside em como você valora a 
escala vertical (eixo Y).
Lembre-se de: Pensar de maneira inteligente. Diante de grá­
ficos nas revistas ou na televisão, leia os valores da escala e 
seu intervalo.
Medidas de Tendência Central
O próximo passo é resumir os dados usando alguma medida 
de tendência central, um escore único que representa um con­
junto completo de escores. A medida mais simples é chamada
Percentual 100°/o 
ainda em 
funcionamento 
após 10 anos 99
98
97
96
95
Percentual 
ainda em 
funcionamento 
após 10 anos
I
Nossa M arca M arca Marca 
m arca X Y Z
Marca do caminhão
(a)
100% 
90 
80 
70 
60 
50 
40 
30 
20 
10 
0
Nossa M arca M arca Marca
m arca X Y Z
Marca do caminhão
(b)
>• FIGURA 1.8
Leia o rótulo da escala Um fabricante americano de caminhões apresentou um gráfico (a) - listando nomes de marcas verdadeiros - para 
sugerir a durabilidade muito maior de seus caminhões. Observe, no entanto, como a diferença aparente diminui quando a escala vertical é 
modificada (gráfico b).
moda, o registro que ocorre com mais frequência. A mais 
comumente relatada é a média, ou média aritmética - a soma 
total de todos os escores dividida pelo número de escores. Em 
uma autoestrada dividida, a mediana é o meio. O mesmo 
vale para os dados: a m ediana é o valor que divide a amostra 
ao meio - equivalente ao percentil 50. Se você arrumar todos 
os escores em ordem do maior para o menor, uma metade 
ficará acima da mediana e a outra ficará abaixo dela.
As medidas de tendência central resumem os dados orde­
nadamente. Mas considere o que acontece à média quando 
uma distribuição é assimétrica ou enviesada. Com dados 
sobre renda, por exemplo, a moda, a mediana e a média fre­
quentemente contam histórias diferentes (FIGURA 1 .9 ) . 
Isso acontece porque a média é afetada por poucos escores 
extremos. Quando o cofundador da Microsoft, Bill Gates, 
senta em um barzinho aconchegante, o cliente médio do
bar (média) se torna instantaneamente um bilionário. Mas 
a riqueza mediana dos clientes permanece inalterada. Enten­
dendo isso, você pode ver como um jornal britânico pôde 
publicar com exatidão a manchete: “62% Têm Renda Abaixo 
da Média” (Waterhouse, 1993). Como a metade inferior dos 
britânicos que possuem renda recebe apenas um quarto do 
bolo da renda nacional, a maior parte do povo britânico, 
como a maioria das pessoas em todo lugar, recebe menos 
do que a média. Nos Estados Unidos, os republicanos ten­
dem a alardear o sólido crescimento da economia desde 
2000 usando a renda média; os democratas lamentam o 
crescimento tímido da economia a partir da renda mediana 
(Paulos, 2006). Média e mediana contam histórias verda­
deiras diferentes.
Lembre-se de: Observar sempre qual medida de tendência 
central é relatada. Depois, se a medida for

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