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CapÍTULO 1 Pensando Criticamente com a Ciência Psicológica Na esperança de satisfazer a curiosidade sobre as pessoas em geral e de remediar os próprios infortúnios, milhões de pessoas recorrem à “psicologia". Elas ouvem programas de aconselha mento no rádio, leem artigos sobre poderes mediúnicos, participam de seminários que ensinam a parar de fumar por meio da hip nose e devoram livros de autoajuda que abor dam o significado dos sonhos, o caminho para o êxtase amoroso e as origens da felici dade pessoal. Outras, intrigadas com as alegações da ver dade psicológica, questionam: Será que o vín culo entre mães e bebês acontece nas primei ras horas depois do nascimento? Devemos confiar nas lembranças de abuso sexual na infância que são “recuperadas” na idade adulta - e processar o suposto agressor? Os primogênitos são mais propensos ao êxito? A caligrafia oferece pistas sobre a personali dade? A psicoterapia cura? Diante desses questionamentos, como podemos separar opiniões sem fundamento de conclusões criteriosas? Como usar a psico logia da melhor form a para entender por que as pessoas pensam, sentem e agem do modo como o fazem? A Necessidade da Ciência Psicológica 1: Por que as respostas oriundas de um enfoque científico são mais confiáveis do que as baseadas na intuição e no senso comum? ALGUMAS PESSOAS AFIRMAM que a psico logia simplesmente documenta e reveste em jargão aquilo que as pessoas já sabem: “Então o que há de novo - você é pago para usar métodos extravagantes com o intuito de pro var o que minha avó já sabia?” Outras acre ditam na intuição humana: “Lá no fundo de cada um de nós, há um conhecimento ins tintivo, baseado no coração, que representa para nós - caso permitamos - o guia mais confiável”, afirm ou o príncipe Charles (2000). “Sei que não há provas que demons trem que a pena de morte tenha um efeito dissuasor”, teria dito George W. Bush (1999) quando foi governador do Texas, “mas eu simplesmente sinto, no meu íntimo, que isso é verdade.” “Costumo agir conforme minha intuição, confio nos meus instintos”, disse o ex-presidente ao explicar para Bob Woodward (2002) sua decisão de iniciar a guerra do Ira que. Não falta companhia para o príncipe Charles nem para o ex-presidente Bush. Uma longa lista de livros populares de psicologia estimula as pessoas na direção da “adminis tração intuitiva”, “negociação intuitiva”, “cura intuitiva” e muito mais. Atualmente, a ciência psicológica de fato documenta uma vasta mente intuitiva. Como veremos, nosso pensamento, memória e atitudes funcionam em dois níveis, consciente e inconsciente, com a maior parte funcionando automatica mente, nos bastidores. Como um Jumbo, voa mos a maior parte do tempo no piloto auto mático. Assim, será inteligente darmos ouvido à nossa sabedoria interna, simplesmente con fiar na nossa “força interior”? Ou deveríamos submeter nossos impulsos intuitivos com mais frequência ao escrutínio cético? Isso parece ser o mais certo. A intuição é importante, mas muitas vezes subestimamos seus perigos. Minha intuição geográfica me diz que o Reno fica a leste de Los Angeles, que A NECESSIDADE DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA Será que Sabemos Tudo de Antemão? O Viés Retrospectivo Confiança Excessiva A Atitude Científica O Pensamento Crítico C O M O OS PSICÓLOGOS FORMULAM PERGUNTAS E RESPOSTAS? O Método Científico Descrição Correlação Experimentação RACIOCÍNIO ESTATÍSTICO NO DIA A DIA A Descrição dos Dados Fazendo Inferências PERGUNTAS FREQÜENTES SOBRE PSICOLOGIA Roma fica ao sul de Nova York e que Atlanta fica a leste de Detroit. Mas estou errado, errado e errado. “Aquele que conüa no próprio coração é um tolo." Provérbios. 28:26 "Nossa vida ê voltada para o futuro, mas o entendimento vem do passada." Seren Kierkegaard. filósofo. 1813-1855 “Tudo parece ser um lugar-comum, depois de explicado." Dr. Watson para Sherlock Holmes viés retrospectivo é a tendência a acreditar, após conhecer o desfecho de uma situação, que aquilo poderia ter sido previsto. (Também conhecido como o fenômeno do “ eu já sabia” ) Os capítulos à frente mostrarão experimentos que indi cam a tendência das pessoas em superestimar suas capacida des de detectar mentiras com precisão, a exatidão de suas lembranças de fatos dos quais foram testemunhas oculares, a capacidade de avaliar entrevistados, previsões de riscos e seus talentos financeiros na escolha de ações. “O princípio número 1”, segundo Richard Feynman (1997), “é que você não deve enganar a si mesmo - e você é a pessoa mais fácil de ser enganada.” De fato, observou Madeleine L’Engle, “O intelecto nu é um instrumento extraordinariamente impreciso” (1973). Dois fenômenos - o viés retrospectivo e os julgamentos super- confiantes - ilustram por que não podemos confiar unica mente na intuição e no senso comum. Será que Sabemos Tudo de Antemão? O Viés Retrospectivo É muito fácil parecer astuto quando se desenha o centro do alvo depois de a flecha ter sido disparada. Após a primeira torre do World Trade Center ter sido atingida no dia 11 de setembro de 2001, os comentaristas disseram que a segunda torre tinha que ter sido imediatamente evacuada (só mais tarde ficou óbvio que não fora um acidente). Depois de a ocupação do Iraque pelos EUA resultar numa guerra civil em vez de conduzir a uma pacífica democracia, os comentaristas afirmaram que aquele resultado era inevitável. Antes de a invasão ser lançada, esses resultados não tinham nada de óbvio: ao votarem autorizando a invasão, a maioria dos sena dores dos EUA não antecipou o caos que pareceria tão previ sível em retrospectiva. Descobrir que algo aconteceu faz com que o acontecimento pareça inevitável, uma tendência que chamamos de viés retrospectivo (também conhecida como o fenômeno do “eu já sabia!". É fácil demonstrar esse fenômeno: apresente à metade dos membros de um grupo alguma suposta descoberta psicoló gica e à outra metade um resultado oposto. Diga ao primeiro grupo: “Os psicólogos descobriram que a separação enfra quece a atração romântica. Como diz o ditado, ‘longe dos olhos, longe do coração’.” Peça a eles que imaginem por que isso pode ser verdade. A maioria das pessoas irá considerar essa descoberta verdadeira e não surpreendente. Diga ao segundo grupo o oposto: “Os psicólogos descobri ram que a separação fortalece a atração romântica. Como diz o ditado, ‘só damos valor a algo quando o perdemos’.” Os par ticipantes também considerarão esse resultado fácil de explicar e a maioria concordará que se trata de senso comum, nada surpreendente. Obviamente, há um problema quando uma suposta descoberta e seu oposto parecem senso comum. Tais erros em nossas lembranças e explicações mostram por que precisamos da pesquisa psicológica. As vezes, simplesmente perguntar às pessoas como e por que elas sentiram ou agiram de determinada maneira pode levar a uma afirmação falsa - não porque o senso comum esteja em geral errado, mas porque descreve o que aconteceu com mais facilidade do que o que está por vir. Como o médico Neills Bohr supostamente disse: "Pre visões são muito difíceis, especialmente sobre o futuro.” O viés retrospectivo é um fenômeno disseminado. Cerca de 100 estudos o observaram em diversos países, tanto entre crianças quanto em adultos (Blank et al., 2007). Mesmo assim, a intuição da vovó é sempre certa. Como disse Yogi Berra certa vez: “Você pode perceber muito observando.” (Temos outras pérolas para agradecer a Berra, tais como: “Ninguém nunca vem aqui - é muito cheio" e “Se as pessoas não querem ir ao campo de beisebol, ninguém vai impedi- las”.) Como somos todos observadores do comportamento, seria uma surpresa se muitas das descobertas da psicologia não tivessem sido previstas. Muitas pessoas acreditam que o amor traz felicidade, e estão certas (nós temos o que o Capí tulo 11 chama de uma profunda “necessidade de pertencer”). De fato, como observam Daniel Gilbert,Brett Pelham e Dou glas Krull (2003), “as boas ideias da psicologia geralmente são estranhamente familiares, e no momento em que nos deparamos com elas sentimos a certeza de que já estivemos muito próximos de pensar a mesma coisa e simplesmente não nos ocorreu escrever”. Boas ideias são como boas inven ções, uma vez criadas, parecem óbvias. (Por que levou tanto tempo para que alguém inventasse as malas com rodinhas, ou os adesivos Post-It®?) Algumas vezes, porém, a intuição da vovó, informada por incontáveis observações casuais, se engana. Em capítulos mais adiante, veremos como a pesquisa reverteu ideias populares - de que a familiaridade leva ao desprezo, de que os sonhos predizem o futuro e de que as reações emocionais coincidem com o período menstruai. (Consulte também a TABELA 1.1.) Veremos também como ela nos surpreendeu com descober tas sobre os mensageiros químicos do cérebro controlando nosso humor e nossas memórias, sobre as habilidades dos animais e sobre os efeitos do estresse em nossa capacidade de lutar contra a doença. Soluções de anagramas divertidos de Wordsmith.org: Elvis = lives (Elvis = vive) Dormitory = dirty room (dormitório = quarto sujo) Slot machines = cash lost in ’em (caça-níqueis = grana perdida neles) “Não gostamos do som deles. Grupos com guitarras estão com os dias contados." Decca Records, ao recusar um contrato de gravação com os Beatles em 1962 TABELA 1.1 V e r d a d e ir o o u F a l s o ? As pesquisas psicológicas discutidas nos próximos capítulos confirmam ou refutam cada uma dessas afirmações (adaptadas parcialmente de Fumham et al., 2003). Você pode predizer quais dessas ideias populares foram confirmadas e quais foram refutadas? (Confira suas respostas no final da tabela.) 1. Se quiser ensinar um hábito duradouro, recompense o comportamento desejado todas as vezes e não apenas de forma intermitente (consulte o Capítulo 7). 2. Pacientes que tiveram os cérebros divididos cirurgicamente ao meio sobrevivem e funcionam quase que da mesma maneira do que antes da cirurgia (consulte o Capítulo 2). 3. Experiências traumáticas, como abuso sexual ou ter sobrevivido ao Holocausto, são normalmente "reprimidas" na memória (consulte o Capítulo 8). 4. A maioria das crianças que sofreram abuso não pratica o abuso quanao adultas (consulte o Capítulo 5). 5. A maioria das crianças reconhece o próprio reflexo num espelho ao final do primeiro ano de vida (consulte o Capítulo 5). 6. Gêmeos adotados normalmente não desenvolvem personalidade semelhantes, mesmo sendo criados pelos mesmos pais (consulte o Capítulo 4). 7. O medo de objetos inofensivos, como flores, é tão fácil de ser adquirido quanto o medo de objetos potencialmente perigosos, como cobras (consulte o Capítulo 12). 8. Testes de detecção de mentiras frequentemente mentem (consulte o Capítulo 12). 9. A maioria de nós usa apenas 10% de nosso cérebro (consulte o Capítulo 2). 10. O cérebro se mantém ativo durante o sono (consulte o Capítulo 3). A 01 'd 6 7\ 8 'd L 'A 9 'd S ‘A fr 'd '£ 'A l d L :sBjsods3y “No futuro, os computadores não pesarão m ais do que 1,5 t." Popular M echanics, 1949 "□ telefone pode ser apropriado para nossos primos am ericanos, mas não aqui, pois temos um suprimento adequado de mensageiros." Grupo de especialistas britânicos avaliando a invenção do telefone “Eles não acertariam um elefante a essa distância." General John Sedgwick, pouco antes de ser morto durante uma batalha da Guerra Civil dos EUA, 18E4 "0 cientista... deve ser livre para fazer qualquer pergunta, duvidar de qualquer afirm ativa, buscar alguma evidência e corrigir qualquer erro." J. Robert Oppenheimer, fisico, Life, 10 de outubro de 1949 Confiança Excessiva Nós humanos tendemos a ser excessivamente confiantes. Como explica o Capítulo 9, tendemos a achar que sabemos mais do que de fato sabemos. Perguntados se temos certeza de nossas respostas às perguntas factuais (Boston fica ao norte ou ao sul de Paris?), tendemos a ser mais confiantes do que corretos.1 Ou considere estes três anagramas que Richard Goranson (1978) solicitou às pessoas que ordenas sem: WREAT -> WATER ETRYN - ENTRY GRABE - BARGE Quantos segundos você acha que levaria para decifrar cada um deles?* Após saberem a resposta, o viés retrospectivo faz com que ela pareça óbvia - de tal forma que as pessoas se tornam excessivamente confiantes. As pessoas acreditam que seriam capazes de chegar à solução em apenas 10 segundos, quando na verdade, em média, são necessários 3 minutos, o tempo de que você mesmo provavelmente precisaria diante de um anagrama sem solução, como TCHACOA. (Veja a resposta à direita no pé da página seguinte.) 'Boston fica ao sul de Paris. *Em português, os anagramas poderiam ser: LOMHO —> MOLHO; A RNET^ ENTRA; RABCO -> BARCO. (N.T.) Será que somos melhores ao prever nosso comportamento social? Para descobrir, Robert Vallone e seus associados (1990) pediram estudantes que previssem no início do ano letivo se iriam abandonar algum curso, votar na próxima eleição, telefonar para os pais mais de duas vezes ao mês e assim por diante. Na média, os estudantes estavam 84% confiantes em relação a essas previsões. Testes posteriores sobre seus reais comportamentos mostraram, porém, que acertaram apenas 71% das vezes. Mesmo quando se sentiam 100% seguros, suas previsões apresentavam uma margem de erro de 15%. Isso não acontece só com estudantes. Durante doze anos, o psicólogo Philip Tetlock (1998), da Ohio State University, coletou mais de 27.000 previsões de especialistas sobre even tos mundiais, tais como o futuro da África do Sul ou se Que bec se separaria do Canadá. Seus repetidos achados: as pre visões, sobre as quais os especialistas apresentavam 80% de confiança em média, estavam certas em menos de 40% das vezes. Mesmo assim, aqueles que erraram insistiram em sua assertividade observando que as previsões estavam “quase certas”. “Os separatistas da província canadense de Quebec quase ganharam o referendo secessionista." Lembre-se de que: O viés retrospectivo e o excesso de con fiança muitas vezes nos levam a superestimar nossa intuição. Mas o questionamento científico pode nos ajudar a filtrar a realidade da ilusão. A Atitude Científica 2 : Quais são os três principais componentes da atitude científica? Subjacente a toda ciência existe raram ente uma curiosi dade obstinada, uma paixão para explorar e entender sem enganar ou ser enganado. Algumas questões ( “Existe vida depois da morte?”) estão além da ciência; para respondê-las é necessário um pouco de fé. Já a resposta para muitas outras ( “Algumas pessoas podem demonstrar percepção extrassen- sorial?”) podem ser testadas. Não importa o quanto uma ideia possa parecer louca ou sensata, a pergunta que o pen samento crítico faz é: isso funciona? Quando submetidas a teste, suas previsões podem ser confirmadas? A abordagem científica tem uma longa história. Até Moi sés a utilizou. Como o senhor avalia alguém que se autopro- clama profeta? A resposta dele: Submeta o profeta a um teste. Se o evento previsto “não acontecer ou se provar verdadeiro”, tanto pior para o profeta (Deuteronômio 18:22). Ao permitir que os fatos falassem por si, Moisés utilizou o que chamamos hoje de abordagem empírica. O mágico James Randi usa a mesma abordagem quando testa aqueles que afirmam ver auras em torno do corpo das pessoas: Randi: Você está vendo uma aura ao redor de minha cabeça? Vidente: Sim, vejo. Randi: Você ainda pode ver a aura se eu colocar esta revista na frente do meu rosto? Vidente: Claro. Randi: Então, se eu ficar atrás de um muro pouco mais alto do que eu, você poderia identificar minha localização por meio da aura visível acima da minha cabeça, certo? Randi me disse que nenhum vidente concordou em fazer esse teste básico. “0 cético é aquele que está disposto a questionar qualquer alegação de verdade, exigindo clareza na definição, lógica consistente e evidênciasadequadas." Paul Kurtz, filósofo, The Skeptical Inquirer, 1994 Às vezes, algumas ideias aparentemente disparatadas encontram apoio quando submetidas a tais escrutínios. Durante o século XVIII, os cientistas zombaram da noção de que os meteoros tinham origem extraterrestre. Quando dois cientistas de Yale ousaram se desviar da opinião convencio nal, Thomas Jefferson zombou: “Cavalheiros, eu prefiro acre ditar que esses dois professores ianques mentiriam a acredi tar que pedras caem do céu.” Às vezes, a investigação cientí fica transforma o que não tem valor em algo com mérito. Com frequência, a ciência vira o depósito de lixo da socie dade, onde são lançadas as ideias aparentemente disparata das, empilhando-se sobre suposições prévias, como o moto- contínuo, curas milagrosas do câncer e as viagens fora do corpo em séculos passados. As “verdades" de hoje às vezes se transformam nas falácias de amanhã. Separar a realidade da fantasia, o que tem sentido do que não tem sentido, entre tanto, requer uma atitude científica: ser cético sem ser cínico, aberto sem ser ingênuo. “Para acreditar com certeza”, diz um provérbio polonês, “devemos começar duvidando.” Como cientistas, os psicólo gos encaram o mundo do comportamento com ceticismo curioso, fazendo insistentemente duas perguntas: O que isso quer dizer? Como é que se sabe? Quando idéias competem, testes com rigor cético podem revelar as que melhor correspondem aos fatos. O comporta mento dos pais determina a orientação sexual dos filhos? Os astrólogos podem prever seu futuro com base na posição dos planetas no dia do seu nascimento? Como você verá, subme ter tais alegações a teste levou muitos psicólogos a duvidar delas. Pôr uma atitude científica em prática requer não apenas ceticismo, mas também humildade - a consciência de nossa própria vulnerabilidade ao erro e a abertura para surpresas e novas perspectivas. Em última análise, o que importa não é a minha opinião ou a sua, mas as verdades que a natureza revela em resposta a nossas perguntas. Se as pessoas ou os outros animais não se comportam como nossas ideias pre viram, então pior para nossas ideias. Essa é a atitude de humil dade expressa em um dos motes iniciais da psicologia: “O rato sempre tem razão.” Os historiadores da ciência nos dizem que essas atitudes de curiosidade, ceticismo e humildade ajudaram a tornar a ciência moderna possível. Muitos de seus fundadores, incluindo Copérnico e Newton, eram pessoas cujas convic ções religiosas os tornaram humildes diante da natureza e céticos diante da autoridade meramente humana (Hooykaas, 1972; Merton, 1938). Algumas pessoas de nossos dias pro fundamente religiosas podem considerar a ciência, incluindo a ciência psicológica, uma ameaça. No entanto, como observa o sociólogo Rodney Stark (2003a,b), a revolução científica foi liderada predominantemente por pessoas profundamente religiosas cujas ações seguiam o princípio de que, “para amar e honrar a Deus, é necessário apreciar plenamente as mara vilhas de Sua criação”. • Solução do anagrama na página anterior: CHACOTA. • Certamente, os cientistas, como qualquer pessoa, podem ter grandes egos e se agarrar às suas preconcepções. Todos nós vemos a natureza pelas lentes de nossas ideias preconcebidas. Porém, o ideal que une os psicólogos a todos os cientistas é o escrutínio curioso, cético e humilde em relação a ideias competidoras. Como uma comunidade, os cientistas confe rem e reconferem as descobertas e as conclusões uns dos outros. "Minha mais profunda crença é de que, se existe um deus de alguma forma parecido com o que tradicionalm ente se acredita, nossa curiosidade e inteligência vieram dele. Seriamos ingratos por essas dádivas... se suprim íssem os nossa paixão pela exploração do universo e de nós mesmos." Carl Sagan, 0 R om ance da Ciência, 1989 "A verdadeira finalidade do método científico é assegurar que a Natureza não nos enganou levando-nos a achar que sabíam os alguma coisa quando, na verdade, éramos ignorantes." Robert M. Pirsig, 0 Zen e a Arte de C onsertar M otocicletas, 1974 O Pensamento Crítico A atitude científica nos prepara para pensar com mais inte ligência. O pensamento inteligente, chamado pensam ento crítico, examina suposições, distingue valores escondidos, avalia evidências e pondera conclusões. Seja lendo uma notí cia ou ouvindo uma conversa, os pensadores críticos fazem perguntas. Assim como os cientistas, questionam: Como eles sabem disso? Qual a agenda de interesses dessa pessoa? A conclusão é baseada em casos isolados e intuições ou em alguma evidência? Essa evidência justifica uma conclusão de causa e efeito? Que explicações alternativas são possíveis? A investigação crítica na psicologia tem estado aberta a descobertas surpreendentes? A resposta, como ilustram os capítulos seguintes, é simplesmente sim. Acredite ou não... • grandes perdas de tecido cerebral na primeira infância possuem efeitos mínimos a longo prazo (veja o Capítulo 2). • com dias, os recém-nascidos podem reconhecer o cheiro e a voz da mãe (veja o Capítulo 5). • danos cerebrais podem deixar uma pessoa em condições de aprender novas habilidades, ainda que não consciente desse aprendizado (veja o Capítulo 8). • grupos diversos - homens e mulheres, velhos e jovens, ricos e pessoas de classe média, incapacitados ou não - relatam níveis aproximados de felicidade pessoal (veja o Capítulo 12). • a terapia eletroconvulsiva (aplicação de choque elétrico no cérebro) é frequentemente eficaz como tratamento para a depressão grave (veja o Capítulo 15). E será que a investigação crítica tem desmascarado as supo sições populares de modo convincente? A resposta, como os capítulos seguintes também ilustram, novamente é sim. As evidências indicam que... • os sonâmbulos não estão vivenciando seus sonhos (veja o Capítulo 3). • nossas experiências passadas não estão todas registradas literalmente em nosso cérebro; com estimulação do cérebro ou hipnose, uma pessoa não pode simplesmente “voltar a fita” e reviver memórias reprimidas ou há muito enterradas (veja o Capítulo 8). • a maioria das pessoas não sofre de baixa autoestima de maneira não realista, e a autoestima elevada não é sempre boa (veja o Capítulo 13). • geralmente, os opostos não se atraem (veja o Capítulo 16). Em cada uma dessas instâncias, e em outras, o que se des cobriu não corresponde à crença geral. ANTES DE PROSSEGUIR... > Pergunte a Si Mesmo Como o pensamento crítico nos ajuda a avaliar as interpretações dos sonhos das pessoas ou suas alegações de que são capazes de se comunicar com os mortos? > Teste a Si Mesmo 1 O que é a atitude científica, e por que ela é importante para o pensamento crítico? A s respostas para as questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no Apêndice B, no final do livro. Como os Psicólogos Formulam Perguntas e Respostas? OS PSICÓLOGOS ARMAM SUA ATITUDE científica com o método científico. A psicologia científica avalia ideias compe tidoras com observação cuidadosa e análise rigorosa. Em seu esforço para descrever e explicar a natureza humana, ela recebe bem a intuição e as teorias que soem plausíveis. E sub mete tudo a testes. Se uma teoria funciona - se os dados apoiam as previsões -, tanto melhor para a teoria. Se as pre visões fracassam, a teoria será reavaliada ou rejeitada. O Método Científico 3 : Como as teorias promovem o avanço da ciência psicológica? No dia a dia, tendemos a usar o termo teoria para signifi car “simples intuição”. Na ciência, entretanto, a teoria está ligada à observação. Uma teoria científica explica por meio de um conjunto de princípios integrados que organiza as observações e prevê comportamentos e eventos. Ao organizar fatos isolados, a teoria simplifica a realidade. Existem muitos fatos sobre o comportamento, de modo que é difícil lembrar de todos. Ao reunir os fatos e ligá-los a princípios profundos, a teoria oferece um resumo útil. Quandoligamos os pontos observados, podemos descobrir um quadro coerente. Uma boa teoria sobre depressão, por exemplo, ajuda-nos a organizar incontáveis observações a respeito da depressão em uma lista sucinta de princípios. Digamos que observamos de forma repetida que as pessoas com depressão descrevem seu passado, presente e futuro em termos sombrios. Podemos então confirmar, rejeitar ou revisar (3) Pesquisa e observações Exemplo: Administrar testes de autoestima e depressão. Ver se um escore baixo em um deles prediz um escore alto no outro. (1) Teorias Exemplo: Baixa autoestima alimenta a depressão leva a leva a (2) Hipóteses Exemplo: Pessoas com baixa autoestima obtêm escores mais altos na escala de depressão. ► FIGURA 1.1 O método científico Um processo autocorretivo de fazer perguntas e observar as respostas da natureza. teorizar que a depressão se apoia na baixa autoestima. Até aqui tudo bem: o princípio da nossa autoestima claramente resume uma longa lista de fatos sobre pessoas com depressão. Porém, não importa 0 quanto uma teoria possa parecer razoável - e a baixa autoestima parece ser uma explicação razoável para a depressão devemos submetê-la a teste. Uma boa teoria produz predições testáveis, chamadas hipóteses. Ao nos possibilitar testar e rejeitar ou revisar a teoria, tais predições orientam-se para a pesquisa. Elas especificam que resultados irão sustentar a teoria e que resultados irão refutá- la. Para verificar nossa teoria da autoestima sobre depressão, podemos avaliar a autoestima das pessoas solicitando-as que respondam a enunciados tais como “Eu tenho boas ideias” e “Sou uma companhia divertida”. Poderíamos ver então se, como hipotetizamos, as pessoas que apresentaram as mais pobres autoimagens também obtiveram escores elevados em uma escala de depressão (FIGURA 1 .1 ). Ao testar nossa teoria, devemos estar cientes de que ela pode favorecer observações subjetivas tendenciosas. Tendo teorizado que a depressão brota da baixa autoestima, pode mos enxergar aquilo que esperamos. Podemos perceber os comentários neutros das pessoas deprimidas como autode- preciativos. A premência para enxergar aquilo que corres ponde às nossas expectativas é uma tentação sempre presente, dentro e fora do laboratório. De acordo com o Comitê Bipar- tidário de Inteligência do Senado dos EUA (2004), as expec tativas preconcebidas de que o Iraque tinha armas de destrui ção em massa levou os analistas de inteligência a interpretar observações ambíguas de maneira errônea de modo a confir mar a teoria, e essa conclusão direcionada por essa teoria resultou na invasão preventiva do Iraque pelos EUA. Como checagem de suas tendenciosidades, os psicólogos relatam suas pesquisas com definições operacionais preci sas dos procedimentos e conceitos. Fome, por exemplo, pode ser definida como “horas sem se alimentar”, generosidade, como “contribuição em dinheiro”. Esse cuidado na formu lação dos enunciados pretende permitir a outros replicar (repetir) as observações originais. Se outros pesquisadores recriarem um estudo com participantes e materiais diferen tes e alcançarem resultados similares, então nossa confiança na confiabilidade dos achados cresce. O primeiro estudo sobre o viés retrospectivo despertou a curiosidade dos psicólogos. Agora, depois de muitas replicações bem-sucedidas com pes soas e perguntas diferentes, nós nos sentimos seguros sobre o poder desse fenômeno. pensamento crítico pensamento que não aceita argumentos e conclusões cegamente. Em vez disso, examina as suposições, revela valores ocultos, avalia evidências e conclusões. teoria uma explicação que usa um conjunto integrado de princípios que organiza observações e prediz comportamentos ou eventos. hipótese uma predição testável, muitas vezes implicadas por uma teoria. definição operacional um enunciado dos procedimentos (operações) usadas para definir variáveis de pesquisa. Por exemplo, a inteligência humana pode ser definida operacionalmente como aquilo que mede um teste de inteligência. replicação repetir a essência de um estudo de pesquisa, normalmente com participantes diferentes em situações diferentes, para ver se a descoberta básica se aplica a outros participantes e circunstâncias. • Boas teorias são explicadas: 1. pela organização e vinculação com fatos observados. 2. por hipóteses implicadas que oferecem predições testáveis e, algumas vezes, aplicações práticas. * No final, nossa teoria será útil se (1) organizar efetivamente uma série de observações e autorrelatos e (2) implicar predi ções claras que qualquer um possa usar para testar a teoria ou para derivar aplicações práticas. (Se elevarmos a autoes tima das pessoas, a depressão delas se dissipará?) No final, é bem provável que nossa pesquisa resulte em uma teoria revi sada (como a do Capítulo 14 deste livro) que organize e pre diga melhor 0 que nós conhecemos a respeito da depressão. i O caso do chimpanzé que conversava Nos estudos de caso com chimpanzés, os psicólogos questionaram se a linguagem era exclusividade humana. Aqui, Nim Chimpsky faz o gesto para abraço quando seu treinador, o psicólogo Herbert Terrace, mostra o boneco do Ênio para ele. Mas Nim está de fato usando a linguagem? Vamos pesquisar essa questão no Capítulo 9. Como veremos a seguir, podemos testar nossas hipóteses e refinar nossas teorias usando métodos descritivos (que des crevem comportamentos, muitas vezes com o uso de estudos de caso, pesquisas ou observações naturalistas), métodos cor- relacionais (que associam diferentes fatores) e métodos expe rimentais (que manipulam os fatores para descobrir seus efei tos). Para pensar criticamente sobre as considerações que os leigos fazem a respeito de afirmações da psicologia, precisa mos reconhecer esses métodos e saber que conclusões eles permitem. Descrição 4 : Como os psicólogos observam e descrevem o comportamento? O ponto de partida de qualquer ciência é a descrição. Na vida cotidiana, todos nós observamos e descrevemos as pessoas, quase sempre chegando a conclusões sobre o porquê de elas se comportarem do modo como o fazem. Os psicólogos pro fissionais fazem o mesmo, só que de forma mais objetiva e sistemática. O Estudo de Caso Entre os métodos de pesquisa mais antigos, o estudo de caso examina um indivíduo em profundidade na esperança de reve lar coisas verdadeiras para todos nós. Alguns exemplos: muito do conhecimento inicial sobre o cérebro, foi decorrente de estudos de casos, de indivíduos que sofreram uma perda par ticular após a ocorrência de lesão em região específica do cére bro. Jean Piaget nos ensinou sobre o pensamento infantil após observar e questionar cuidadosamente apenas poucas crian ças. Estudos envolvendo somente poucos chimpanzés revela ram sua capacidade para a compreensão e para a linguagem. Estudos de caso intensivos, às vezes, são muito reveladores. Os estudos de casos muitas vezes sugerem direções para estudos subsequentes, e nos mostram o que pode acontecer. Mas os casos individuais podem nos levar a erros se o indi- víduo em questão for atípico. Informações não representati vas podem nos levar a julgamentos errados e a falsas conclu sões. De fato, sempre que um pesquisador relata uma desco berta ( “Fumantes morrem mais cedo: 95% dos homens acima de 85 anos não são fumantes”), alguém certamente ofere cerá um caso contraditório ( “Bom, eu tenho um tio que fumava dois maços por dia e viveu até os 89 anos”). Histó rias dramáticas e experiências pessoais (e até exemplos de casos psicológicos) chamam a atenção e são mais fáceis de ser lembrados. Qual das seguintes afirmações você considera mais fácil de lembrar? (1) “Em um estudo com 1.300 relatos de sonhos sobre o seqüestro de uma criança, apenas 5% vis lumbraram corretamente a criança como morta (Murray & Wheeler, 1937).” (2) “Conheço um homem que sonhou que sua irmã estava num acidente de carro e, dois dias depois, ela morreu numabatida de frente!” Os números podem ser impessoais, mas o plural de caso extraordinário não é evidên cia. Como disse o psicólogo Gordon Allport (1954, p. 9): “Dê-nos um dedal cheio de fatos [dramáticos] e logo parti remos para generalizações tão grandes quanto um barril.” Lembre-se de que: Casos individuais podem sugerir ideias frutíferas. O que é verdadeiro em nós pode ser vislumbrado em qualquer um. Mas, para distinguir as verdades gerais que cobrem os casos individuais, devemos responder às pergun tas com outros métodos de pesquisa. "Bem, meu caro", disse Miss Marple, "a natureza hum ana é muito sem elhante em todos os lugares, e, é claro, podemos observá-la mais de perto em uma cidade pequena." Agatha Christie, 0 Clube das Terças-Feiras, 1933 O Levantamento (Survey) estudo de caso é uma técnica de observação por intermédio da qual uma pessoa é estudada em profundidade na esperança de se descobrirem princípios universais. survey (levantamento) é uma técnica para averiguar os autorrelatos sobre atitudes ou comportamentos de um grupo particular, normalmente dirigindo questões a uma amostra representativa de um grupo, selecionada aleatoriamente. O método de levantamento examina muitos casos com menor profundidade. Um levantamento solicita às pessoas que rela tem seu comportamento ou opiniões. Perguntas sobre tudo, desde práticas sexuais ate opiniões políticas, são feitas ao público. As pesquisas de Harris e Gallup revelaram que 72% dos norte-americanos acham que há muita violência na tele visão, 89% são favoráveis à igualdade de oportunidades de tra balho para homossexuais, 89% dizem que enfrentam situações muito estressantes e 96% gostariam de mudar algum detalhe na aparência. Na Inglaterra, sete em cada dez pessoas entre os 18 e os 29 anos apoiam o casamento entre homossexuais; entre as com mais de 50 anos, cerca do mesmo percentual é contra (um hiato entre as gerações encontrado em muitos países oci dentais). Mas fazer perguntas é complicado, e as respostas muitas vezes dependem de como as perguntas são elaboradas e de como é feita a escolha dos entrevistados. Efeitos das Palavras Mesmo mudanças sutis na ordem ou na formulação das perguntas podem produzir grandes efeitos. Anúncios de cigarro ou pornográficos devem ser per mitidos na televisão? As pessoas estão muito mais propensas a aprovar a “não permissão” do que a “proibição” ou a “cen sura” deles. Em uma pesquisa nacional, só 27% dos norte- americanos aprovaram a “censura do governo” à violência e ao sexo na mídia, embora 66% tenham aprovado “mais res trições ao que é mostrado na televisão” (Lacayo, 1995). Do mesmo modo, as pessoas aprovam muito mais uma “ajuda aos necessitados” do que ao “bem-estar social”, uma “ação afirmativa” a um “tratamento preferencial” e “multiplicado res de renda” a “impostos”. Como a formulação das pergun tas é uma questão muito delicada, os pensadores críticos pre cisam refletir sobre como o estilo de uma pergunta pode afe tar as opiniões expressas pelas pessoas a ela submetidas. Am ostragem A leatória Podemos descrever a experiência humana a partir de casos memoráveis e da experiência pes soal. Mas, para um quadro preciso das experiências e atitudes de toda a população, só há um recurso a ser usado: a amos tra representativa. À medida que fazemos generalizações a partir das amostras que observamos, podemos estender esse ponto para o pensa mento cotidiano, em especial quando se trata de casos reais. Dados (a) um resumo estatístico da avaliação dos alunos feita por um professor e (b) os comentários enérgicos de dois estu dantes enraivecidos, a impressão que um administrador terá do professor pode ser influenciada tanto pelos dois estudantes insa tisfeitos quanto pelas muitas avaliações favoráveis no resumo estatístico. A tentação de generalizar a partir de alguns poucos casos reais, mas não representativos, é quase irresistível. Lembre-se de que: A melhor base para a generalização surge das amostras representativas dos casos. Mas como você obtém uma amostra representativa - diga mos, de estudantes de sua faculdade ou da universidade? Como você poderia escolher um grupo que represente toda a popu lação de estudantes, o grupo como um todo que você deseja estudar e descrever? Normalmente, escolhemos uma amos tra aleatória, em que cada pessoa dentro do grupo total tem a mesma chance de participar. Isso significa que você não pre cisa enviar um questionário para cada estudante. (As pessoas conscienciosas que o responderiam não seriam uma amostra aleatória.) Em vez disso, você pode numerar os nomes da lista geral de estudantes e usar um gerador de números aleatórios para escolher os participantes de seu levantamento. Grandes amostras representativas são melhores do que as pequenas, mas uma pequena amostra representativa de 100 é melhor que uma amostra não representativa de 500. Com amostras muito grandes, as estimativas tornam-se bastante confiáveis. Estima-se que o E representa 12,7% das letras escritas em inglês. O E, na verdade, ocupa 12,3% das 925.141 letras presentes em M oby Dick, de Melville, 12,4% das 586.747 letras de Um Conto de Duas Cidades, de Dickens, e 12,1% das 3.901.021 letras presentes em 12 das obras de Mark Twain (.Chance News, 1997). As pesquisas políticas escolhem as amostras de eleitores exa tamente dessa maneira. Com apenas 1.500 eleitores escolhidos aleatoriamente, de todas as regiões de um país, podem obter um retrato instantâneo surpreendentemente preciso da opinião nacional. Sem as amostras aleatórias, as grandes amostras - incluindo as coletadas por ligações telefônicas e por pesquisas de TV ou via Web - podem gerar resultados enganadores. Lembre-se de que: Antes de aceitar os achados dos levanta mentos, pense criticamente: considere a amostra. Não se pode compensar uma amostra não representativa simples mente acrescentando mais gente. Observação Naturalista Um terceiro método descritivo registra o comportamento no ambiente natural. Essas observações naturalistas variam desde olhar sociedades de chimpanzés na selva até a reali zação de gravações de vídeos não intrusivas (e posteriormente analisadas sistematicamente) de interações entre pais e filhos em diferentes culturas ao registro dos padrões das escolhas pelos estudantes dos lugares onde se sentar nos refeitórios das escolas multirraciais. Assim como os métodos de estudo de caso e de levanta mento (survey), a observação naturalista não explica o com portamento. Ela o descreve. No entanto, as descrições podem ser reveladoras. Há algum tempo, por exemplo, achávamos que só os humanos usavam ferramentas. Então, a observação naturalista revelou que, às vezes, os chimpanzés inserem uma vareta no cupinzeiro, retirando e comendo os cupins que saem presos nela. Tais observações naturalistas pavimenta ram o caminho para estudos posteriores sobre o pensamento, a linguagem e a emoção de nossos companheiros animais. “As observações, feitas no habitat natural, ajudaram a mos trar que as sociedades e os comportamentos dos animais são muito mais complexos do que previamente se imaginava”, lembra a observadora de chimpanzés Jane Goodall (1998). Por exemplo, os chimpanzés e os babuínos foram observados usando a dissimulação. Os psicólogos Andrew W hiten e Richard Byrne (1988) viram repetidas vezes um jovem babu íno fingindo ter sido atacado como tática para fazer sua mãe afastar o outro babuíno para longe de sua comida. Além disso, quanto mais desenvolvido o cérebro de uma espécie de pri mata, maiores as probabilidades de que os animais apresen tem comportamentos de dissimulação (Byrne & Corp, 2004). As observações naturalistas também revelam o comporta mento humano. Eis aqui três descobertas que você provavel mente vai apreciar. • Uma descoberta engraçada. Nós, humanos, rimos com frequência 30 vezes maior em situações sociais do que em situações solitárias. (Você já percebeu como é raro rir quando estásozinho?) E, quando rimos, 17 músculos esticam nossa boca e apertam nossos olhos, e emitimos uma série de sons vocálicos de 75 milissegundos com intervalos de um quinto de segundo entre cada um (Provine, 2001). • Estudantes tagarelas. O que de fato os estudantes de introdução à psicologia estão falando e fazendo no dia a dia? Para descobrir, Matthias Mehl e James Pennebaker (2003) equiparam 52 alunos da Universidade do Texas com gravadores ativados eletronicamente presos aos cintos. Durante quatro dias, os gravadores capturaram 30 segundos da vida diurna dos estudantes a cada 12,5 minutos, o que permitiu aos pesquisadores ouvir mais de 10.000 trechos de meio minuto ao final do estudo. Que percentagem desses trechos você acha que os estudantes ocuparam conversando com outras pessoas? E qual o percentual gasto no teclado do computador? As respostas: 28 e 9 por cento. (Que porcentagem de suas horas acordado você acha que gasta nessas atividades?) • Cultura, clima e o ritmo de vida. A observação naturalista também permitiu a Robert Levine e Ara Norenzayan (1999) comparar o ritmo de vida em 31 países. (Sua definição operacional de ritmo de vida incluía a velocidade do caminhar, a velocidade com que os carteiros completavam solicitações comuns e a precisão dos relógios públicos.) Sua conclusão: a vida tem o ritmo mais rápido no Japão e na Europa Ocidental, e um ritmo mais lento em países de menor desenvolvimento econômico. As pessoas em climas mais frios também tendem a viver num ritmo mais rápido (e têm maior tendência a morrer por doenças cardíacas). A observação naturalista permite obter instantâneos inte ressantes da vida diária, mas isso é feito sem o controle de todos os fatores que podem influenciar o comportamento. Uma coisa é observar o ritmo de vida em vários lugares, outra é compreender o que faz com que algumas pessoas caminhem mais rapidamente do que outras. Ainda assim, a observação naturalista, como os levantamentos, podem fornecer dados para a pesquisa correlacionai, nosso próximo tópico. população são todos os casos de um grupo que está sendo estudado, do qual as amostras podem ser retiradas. (.Observação: A não ser para estudos de abrangência nacional, o conceito não se refere a toda a população de um país.) amostra aleatória é uma amostra que representa corretamente uma população porque todos os membros têm uma chance igual de Inclusão. observação naturalista é a observação e o registro do comportamento em situações que ocorrem naturalmente, sem tentativas de manipular e controlar a situação. correlação é uma medida da extensão em relação à qual dois fatores variam juntos e, assim, do quão bem um fator prediz o outro. coeficiente de correlação é um índice estatístico da relação entre duas coisas (de -1 a +1). gráficos de dispersão mostram graficamente os aglomerados de pontos, e cada um representa o valor de duas variáveis. A inclinação dos pontos sugere a direção da relação entre as duas variáveis. O grau de dispersão sugere a força da correlação (pouca dispersão indica alta correlação). Correlação 5 : 0 que são correlações positivas e negativas, e por que elas permitem a predição mas não as explicações de causa e efeito? Descrever o comportamento é o primeiro passo na direção de poder predizê-lo. Os levantamentos e as observações natu ralistas muitas vezes revelam que um traço ou comportamento se relaciona com outro. Quando isso ocorre, dizemos que houve uma correlação. Uma medida estatística (o coefi ciente de correlação) nos ajuda a estabelecer a proximidade com que dois elementos variam juntos e portanto até que ponto um prediz o outro. Saber o quanto os escores dos tes tes de aptidão se correlacionam com o sucesso escolar nos mostra como os escores predizem o sucesso escolar. Por todo este livro, perguntaremos várias vezes sobre o quão fortemente duas coisas estão relacionadas. Por exem plo: até que ponto existe relação entre os escores de persona lidade de gêmeos idênticos? Até que ponto os resultados dos testes de inteligência predizem o desempenho? Até que ponto o estresse se relaciona com a doença? A FIGURA 1 .2 contém três gráficos de pontos de dis persão, que ilustram o intervalo de possíveis correlações que variam de perfeita positiva a perfeita negativa. (Correlações perfeitas raramente ocorrem no “mundo real”.) Cada ponto no gráfico de dispersão representa o valor de dispersão de duas variáveis. Uma correlação é positiva quando dois con juntos de escores, tais como altura e peso, tendem a subir ou a descer juntos. Dizer que uma correlação é “negativa” nada tem a ver com sua força ou fraqueza, mas sim que dois ele mentos se relacionam inversamente (um grupo de escores sobe enquanto o outro desce). À medida que a escovação dos dentes sobe a partir de zero, decresce a quantidade de cáries. Uma correlação fraca, indicando pouca ou nenhuma relação, é aquela que tem um coeficiente próximo de zero. Aqui estão quatro novos relatórios de pesquisa correlacio nai, alguns resultantes de levantamentos ou de observações naturais. Você consegue identificar quais informam as que são correlações positivas e quais as que são negativas? (Confira as respostas na página seguinte, logo abaixo da Tabela 1.2.) 1. Quanto mais as crianças pequenas assistem à TV, menos elas leem (Kaiser, 2003). 2 . Quanto mais conteúdo sexual os adolescentes veem na TV, mais propensos ficam a fazer sexo (Collins et al., 2004). B. Quanto mais tempo as crianças forem amamentadas no peito, melhores serão seus resultados acadêmicos mais tarde (Horwood & Fergusson, 1998). 4. Quanto maior a frequência com que os adolescentes toma rem café da manhã, menor a sua massa corporal (Timlin et al., 2008). As estatísticas podem nos ajudar a ver o que, a olho nu, às vezes, poderíamos deixar escapar. Para demonstrar isso a si mesmo, experimente um projeto imaginário. Perguntando a si mesmo se homens altos são mais ou menos calmos, você reúne dois conjuntos de escores: altura dos homens e tempe ramento dos homens. Você mede a altura de 20 homens e • « • * • • ■ Correlação positiva perfeita (+i,oo) Sem relação (o,oo) Correlação negativa perfeita ( - 1,00) > FIGURA 1.2 Gráficos de dispersão de dados mostrando padrões de correlação As correlações podem variar de +1,00 (escores de uma medida aumentam em proporção direta a escores de outra) a —1,00 (escores de uma medida diminuem na exata proporção em que os escores de outra sobem). TABELA 1.2 A l t u r a e T e m p e r a m e n t o d e 2 0 H o m e n s Sujeito Altura em Polegadas Temperamento 1 80 75 2 63 66 3 61 60 4 79 90 5 74 60 6 69 42 7 62 42 8 75 60 9 77 81 10 60 39 11 64 48 12 76 69 13 71 72 14 66 57 15 73 63 16 70 75 17 63 30 18 71 57 19 68 84 20 70 39 BAIJeBeU ‘BAjJISOd £ ‘BAHjsod z ‘eAj)e6su ( tjouejue eu|6ed ep 0}ueuieu0pe|3jj03 sp seojssnb se sejsodsatf solicita que outra pessoa avalie o temperamento deles (de zero para extremamente calmo a 100 para altamente reativo). Com todos os dados relevantes (TABELA 1 .2 ) bem à sua frente, será que você pode dizer se há (1) uma correlação posi tiva entre altura e temperamento reativo, (2) muito pouca ou nenhuma correlação ou (3) uma correlação negativa? Comparando as colunas na Tabela 1.2, a maioria das pes soas detecta muito pouca relação entre altura e temperamento. Na verdade, a correlação nesse exemplo imaginário é mode radamente positiva, +0,63, como podemos ver se exibirmos os dados como uma dispersão de pontos. Na FIGURA 1.3 , indo da esquerda para a direita, a inclinação ascendente e ovalada do grupo de pontos mostra que nossos dois grupos imaginá rios de escores (altura e reatividade) tendem a subir juntos. Se não conseguimos ver a relação quando os dados são apresentados de forma tão sistemática como na Tabela 1.2, que chance teremos de a notarmos no dia a dia? Para vermos o que está bem à nossa frente, às vezes precisamos de ilumi nação estatística.Podemos ver com facilidade evidências de discriminação de gênero quando recebemos informações esta tisticamente resumidas sobre níveis de empregos, antiguidade no cargo, desempenho, gênero e salário. Mas, com frequência, não percebemos a discriminação quando as mesmas infor mações chegam até nós aos poucos, caso a caso (Twiss et al., 1989). Lembre-se de que: O coeficiente de correlação nos ajuda a ver o mundo mais claramente ao revelar a verdadeira exten são da relação entre dois elementos. Correlação e Causação As correlações nos ajudam a fazer predições. A baixa autoes tima correlaciona-se com (e, portanto, prediz) a depressão. (Essa correlação pode ser indicada por um coeficiente de cor relação ou apenas pela descoberta de que pessoas com um escore na metade inferior de uma escala de autoestima apre sentam uma alta taxa de depressão.) Assim, a baixa autoes tima causa depressão? Se, com base na evidência correlacio nai, você supuser que sim, não estará sozinho. Entre os erros de pensamento mais irresistíveis presentes tanto em pessoas leigas quanto em psicólogos está o de assumir que a correla- Escores de temperamento 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 55 60 65 70 75 80 Altura em polegadas 85 ► FIGURA 1.3 Gráfico de dispersão de dados para altura e temperamento Esta exibição de dados de 20 pessoas imaginárias (cada uma representada por um pon bem inferior a +1,0. (i) Baixa autoestima (2) Depressão (3) Eventos angustiantes ou predisposição biológica pode causar Depressão ou pode causar ou pode causar Baixa autoestima Baixa autoestima Depressão > FIGURA 1.4 Três possíveis relações de causa e efeito As pessoas com baixa autoestima são mais propensas a relatar depressão do que aquelas com autoestima mais elevada. Uma das explicações possíveis para essa correlação negativa é que uma autoimagem ruim cause sentimentos depressivos. Mas, como o diagrama indica, outras relações de causa e efeito são possíveis. ção prova a causação. Mas não importa quão forte seja a rela ção, ela não prova coisa alguma! Como as opções 2 e 3 da FIGURA 1 .4 mostram, conse guiríamos a mesma correlação entre baixa autoestima e depres são se a depressão fizesse com que as pessoas se desvalorizas sem, ou se um terceiro fator - como a hereditariedade ou a química cerebral - causasse tanto a baixa autoestima quanto a depressão. Entre os homens, a duração do casamento cor relaciona-se positivamente com a perda de cabelos - porque ambas estão associadas a um terceiro fator, a idade. Esse ponto é tão importante - tão básico para se pensar a psi cologia de maneira mais inteligente - que merece mais um exem plo, de um levantamento com 12.000 adolescentes. O estudo encontrou que quanto mais os adolescentes se sentem amados por seus pais, menores as chances de apresentarem comporta mentos nocivos - como sexo precoce, fumo, abuso de álcool e de drogas e manifestações de violência (Resnick et al., 1997). “Os adultos exercem um efeito poderoso sobre o comportamento de seus filhos até a época do ensino médio”, proclamou a Asso ciated Press (AP) relatando a história desse achado. Mas essa correlação não vem embutida em seta de causa e efeito. Em outras palavras (e aumente o volume aqui), associação não prova causação.2 Portanto, a matéria da Associated Press poderia ter dito: “Adolescentes bem-comportados sentem o amor e a apro vação de seus pais; adolescentes sem limites pensam com mais frequência que seus pais são controladores idiotas.” Lembre-se de que: A correlação indica a possibilidade de uma relação de causa e efeito, mas ela não prova a causação. Saber que dois eventos estão correlacionados não nos diz nada sobre suas causas. Lembre-se desse princípio e você estará mais bem infor mado quando ler e ouvir notícias sobre descobertas científicas. Um estudo relatado no B ritish M edicai Journa l descobriu que jovens que se identificam com a subcultura gótica tentam se ferir ou cometer suicídio com mais frequência do que outras pessoas da mesma idade (Young et al., 2 006 ). Será que você consegue imaginar múltiplas explicações possíveis para essa associação? Correlações Ilusórias 6 : O que são correlações nusórias? Os coeficientes de correlação tornam visíveis as relações que do contrário não perceberíamos. Também coíbem que “veja mos” relações que de fato não existem. Uma correlação per cebida mas não existente é uma correlação ilusória. Quando acreditamos que há uma relação entre dois elementos, tende mos a perceber e a lembrar de casos ilustrativos que confirmem nossa crença (Trolier & Hamilton, 1986). Um escritor do New York Times relatou um amplo levantamento mostrando que adolescentes cujos pais fumavam tinham 50% mais propensão a relatar terem praticado sexo do que filhos de não fumantes”. Ele concluiu (e você concordaria?) que a pesquisa indicava um efeito causai: “para reduzir as chances de seus filhos se tornarem sexualmente ativos precocemente, os pais deveriam deixar de fumar” (0 ’Neil, 2002). Por sermos suscetíveis a eventos dramáticos ou incomuns, tendemos especialmente a perceber e lembrar da ocorrência de dois eventos desse tipo seqüencialmente - como a premo nição de um telefonema improvável seguida da ligação. Quando o telefonema não ocorre após a premonição, tende mos menos a notar ou lembrar desse não evento. As corre lações ilusórias ajudam a explicar muitas crenças supersti ciosas, tais como a presunção de que aumenta a probabilidade de conceber quando casais inférteis adotam uma criança (Gilovich, 1991). Aqueles que concebem depois de adotar chamam mais a nossa atenção. E ficamos menos inclinados a perceber aqueles que adotaram e nunca conceberam, ou aqueles que concebem sem adotarem. Em outras palavras, as correlações ilusórias ocorrem quando superestimamos a célula superior à esquerda da FIGURA 1 .5 , ignorando as informações igualmente essenciais nas outras células. Tais pensamentos ilusórios ajudam a explicar por que, durante tantos anos, as pessoas acreditaram (e ainda acredi tam) que o açúcar faz as crianças ficarem hiperativas, que ficar Concebem evidência confirmadora evidência não confirmadora Não concebem evidência não confirmadora evidência confirmadora 2Como muitas associações são apresentadas como correlações, o famoso principio formulado é o de que “correlação não prova causação”. Isso e verdade, mas também vale para associações verificadas por outras esta tísticas não experimentais (Hatfield et al., 2006). Adotam Não adotam >- FIGURA 1.5 Correlação ilusória cotidiana Muitas pessoas acreditam que casais inférteis tornam-se mais propensos a conceber um filho após adotarem um bebê. Essa crença surge do fato de sua atenção ser despertada por tais casos. Os muitos casais que adotam sem conceber, ou que concebem sem adotar, chamam menos atenção. Para determinar se de fato existe uma correlação entre adoção e concepção, precisamos dos dados descritos nas quatro células desta figura. (De Gilovich, 1991.) molhado e com frio faz com que se pegue um resfriado e que a mudança de tempo provoca dores articulares. Parece que temos a tendência a detectar padrões, quer existam ou não. correlação ilusória a percepção da existência de uma relação onde não existe uma. Lembre-se de que: Quando vemos coincidências aleatórias, podemos justamente esquecer o fato de que são aleatórias e percebê-las como correlacionadas. Assim, podemos facil mente nos enganar enxergando o que não existe. pares de coroas seguidos por pares de caras. Nas jogadas de 30 a 38, tive uma “mão ruim”, com apenas uma cara em oito jogadas. Mas minha sorte reverteu imediatamente com uma “mão boa” - sete caras nas nove jogadas seguintes. Esse tipo de tendência se repete com a frequência que se poderia esperar dos lances aleatórios, nos arremessos e acer tos do basquete, nas escolhas de ações de fundos mútuos (Gilovich et al., 1985; Malkiel, 1989, 1995; Myers, 2002).Muitas vezes, elas não se parecem com seqüências aleatórias e, por isso, recebem interpretações supervalorizadas (“Quando é o seu dia de sorte, nada te segura!). Percebendo Ordem em Eventos Aleatórios Em nosso anseio natural por dar sentido ao mundo - o que o poeta Wallace Stevens chamou de nossa “fúria ordena- dora” - , procuramos por organização até mesmo em dados aleatórios. E eis um curioso fato da vida: normalmente encon tramos, pois as seqüências aleatórias com frequência não pare cem aleatórias. Considere um lance aleatório de moedas: se alguém lançar uma moeda seis vezes, qual das seguintes seqüências de caras (A) e coroas (B) seria a mais provável: AAABBB ou ABBABA ou AAAAAA? Daniel Kahneman e Amos Tversky (1972) descobriram que a maioria das pessoas acreditava que ABBABA era a seqüência aleatória mais provável. Na verdade, todas são igualmente prováveis (ou, se poderia dizer, igualmente impro váveis). Uma mão de bridge ou de pôquer com cartas de 10 a ás, todas de copas, pareceria extraordinário; na verdade, isso não seria mais ou menos provável do que qualquer outra mão de cartas (FIGURA 1 .6 ). Em seqüências aleatórias reais, padrões e séries aparentes (como dígitos repetidos) ocorrem com mais frequência do que as pessoas esperam. Para demonstrar esse fenômeno para mim mesmo (assim como você também pode fazê-lo), joguei uma moeda 51 vezes e obtive os seguintes resultados: 1. A 10. B 19. A 28. B 37. B 46. A 2. B 11. B 20. A 29. A 38. B 47. A 3. B 12. A 21. B 30. B 39. A 48. B 4. B 13. A 22. B 31. B 40. B 49. B 5. A 14. B 23. A 32. B 41. A 50. B 6. A 15. B 24. B 33. B 42. A 51. B 7. A 16. A 25. B 34. B 43. A 8. B 17. B 26. B 35. B 44. A 9. B 18. B 27. A 36. A 45. B Observando a seqüência, os padrões se revelam: as joga- das de 10 a 22 resultaram em um padrão quase perfeito de Í I * * 4*1 ► F I G U R A 1.6 Duas seqüências aleatórias As chances de você receber essas cartas são rigorosamente as mesmas: 1 em 2.598.960. No dia 11 de março de 1998, Ernie e Lynn Carey, de Utah, ganharam três netos quando três de suas filhas deram à luz - no mesmo dia (Los Angeles Times, 1998). • “Um dia realm ente incomum será aquele em que nada de incomum acontecer." Persi Diaconis, estatístico (2002) O que explica esses padrões de séries? Será que eu estava exercendo algum tipo de controle paranormal sobre minha moeda? Deixei para trás minha onda de azar e entrei numa maré de sorte? Tais explicações não são necessárias, pois esses são os tipos de padrões encontrados em quaisquer dados ale atórios. Comparando cada jogada com a seguinte, 24 das 50 comparações produzem um resultado diferente - exatamente o tipo de resultado esperado quando se joga cara ou coroa - 50% de chance para cada lado. Apesar dos padrões aparentes nesses lances, o resultado de uma jogada não oferece nenhuma pista sobre o resultado da jogada seguinte. No entanto, alguns acontecimentos parecem tão extraor dinários que relutamos em conceber uma explicação simples mente casual (como no caso do jogo de cara ou coroa). Em tais casos, os estatísticos são com frequência menos logrados. Quando Evelyn Marie Adams ganhou na loteria de Newjer- sey pela segunda vez, os jornais publicaram que a chance de seu feito era de 1 em 17 trilhões. Bizarro? Na verdade, 1 em 17 trilhões é a chance de que uma determinada pessoa que compra um único bilhete para duas loterias de New Jersey ganhe ambas as vezes. Mas os estatísticos Stephen Samuels e George McCabe (1989) relatam que, devido aos milhões de pessoas que compram bilhetes de loteria nos Estados Uni dos, era “praticamente um fato certo” que algum dia, em algum lugar, alguém tirasse a sorte grande duas vezes. De fato, dizem os companheiros estatísticos Persi Diaconis e Fre- derick Mosteller (1989), “com uma amostra grande o bas tante, qualquer coisa extravagante pode acontecer”. “Estra nho mesmo será o dia em que nada incomum acontecer”, acrescenta Diaconis (2002). Um evento que acontece apenas para uma pessoa numa população de 1 bilhão a cada dia ocorre cerca de seis vezes por dia, 2000 vezes por ano. Experimentação 7 : Como os experimentos, fortalecidos pela designação aleatória, esclarecem as relações de causa e efeito? Felizes são aqueles “que conseguiram perceber as causas das coisas”, observou o poeta romano Virgílio. Para isolar a causa e o efeito, os psicólogos podem controlar outros fatores esta tisticamente. Por exemplo, muitos estudos indicaram que bebês que são amamentados no peito materno crescem com uma inteligência um tanto maior do que aqueles amamenta dos com leite de vaca (Angelsen et al., 2001; Mortensen et al., 2002; Quinn et al., 2001). Também descobriram que crian ças britânicas alimentadas com leite materno tendiam com mais frequência a ascender socialmente do que aquelas ali mentadas com mamadeira (Martin et al., 2007). Mas a noção de que “o peito é melhor” para os resultados de inteligência sofre uma diminuição quando os pesquisadores comparam as crianças da mesma família amamentadas no peito aos irmãos amamentados por mamadeira (Der et al., 2006). Mas isso significa que mães mais inteligentes (que nos países modernos amamentam no peito com mais frequência) têm filhos mais inteligentes? Ou, como supõem alguns pes quisadores, os nutrientes do leite materno contribuem para o desenvolvimento do cérebro? Para ajudar a responder a essas perguntas, os pesquisadores “controlaram” (remo vendo-lhes diferenças estatisticamente) alguns outros fato res, tais como idade da mãe, educação e renda. E encontra ram que, durante a fase de nutrição infantil, o leite da mãe relaciona-se de maneira discreta, mas positivamente, com a inteligência posterior. A pesquisa correlacionai não é capaz de controlar todos os fatores possíveis. Mas os pesquisadores podem isolar causa e efeito através de um experimento. Os experimentos per mitem que um pesquisador ponha em foco os efeitos possí veis de um ou mais fatores ao (1) manipular os fatores de inte resse e (2) manter os outros fatores constantes ( “controlando- os"). Com a autorização dos pais, uma equipe de pesquisa britânica decidiu fazer um experimento usando 424 bebês prematuros designados aleatoriamente para receberem leite em pó padrão de alimentação para bebês e outros para rece berem leite materno doado (Lucas et al., 1992). Nos testes de inteligência aos 8 anos de idade, as crianças alimentadas com leite materno obtiveram pontuações bem mais altas do que seus companheiros alimentados com a fórmula. Designação Aleatória É claro que nenhum experimento único é conclusivo. Mas, pela designação aleatória dos bebês para um grupo de ali mentação ou para o outro, os pesquisadores conseguiram manter constantes todos os fatores, exceto a nutrição. Isso eliminou explicações alternativas e apoiou a conclusão de que o aleitamento materno é melhor para o desenvolvimento da inteligência (ao menos para bebês prematuros). Se um comportamento muda (como o desempenho num teste) quando variamos um fator experimental (como a nutri ção infantil), então inferimos que o fator está tendo um efeito. Lembre-se de que: Diferentemente dos estudos correla- cionais, que revelam relações que ocorrem de forma natural, um experimento manipula um fator para determinar seu efeito. Considere também como podemos avaliar uma interven ção terapêutica. Nossa tendência de buscar novos remédios quando estamos doentes ou emocionalmente abatidos pode produzir falsos testemunhos. Quando nossa saúde ou emo ção volta ao normal, atribuímos o restabelecimento a algo que fizemos. Se depois de três dias de resfriado começamos a tomar comprimidos de vitamina C e sentimos os sintomas do resfriado diminuírem, podemos atribuir a melhora aos comprimidos e não ao recuo natural da doença. Se, após quase sermos reprovados numa prova, ouvirmos um CD subli minar de “aprendizagem acelerada” e, numa prova seguinte, melhorarmos nosso rendimento, poderemos dar crédito aoCD em vez de concluirmos que nosso desempenho voltou a sua média. No século XVIII, a sangria parecia eficaz. Às vezes, as pessoas melhoravam depois do tratamento; quando não melhoravam, o médico concluía que a doença estava muito avançada para ser revertida. (Claro que, atualmente, sabemos que a sangria, por via de regra, é um tratamento ruim.) Assim, quer um remédio seja ou não eficaz, é provável que seus usu ários entusiastas o endossem. Para descobrir se ele é de fato eficaz, devemos usar a experimentação. E é exatamente assim que novos tratamentos medicinais e novos métodos de psicoterapia são avaliados por investiga dores (Capítulo 15). Os participantes desses estudos são dis tribuídos aleatoriamente para os grupos de pesquisa e, mui tas vezes, são cegos (não informados) sobre qual tratamento estão recebendo, se é que estão mesmo. Um grupo recebe o tratamento (como uma medicação ou outra terapia). O outro recebe um pseudotratamento - um placebo inerte (pode ser um comprimido sem substâncias medicamentosas). Se o estudo adota um procedimento duplo-cego, nem os par ticipantes nem os pesquisadores assistentes que coletam os dados saberão que grupo está recebendo o tratamento. Em tais estudos, os pesquisadores podem checar os efeitos reais de um tratamento independentemente da crença do poder curativo e do entusiasmo da equipe sobre seu potencial cura tivo. O simples fato de achar que está recebendo um trata mento pode levar a pessoa a se sentir mais animada, relaxar o corpo e aliviar os sintomas. Esse efeito placebo é bem documentado na redução das dores, da depressão e da ansie dade (Kirsch & Sapirstein, 1998). E quanto mais caro for o placebo, mais “real” nos parece - um falso comprimido de R$ 2,50 funciona melhor do que outro que custa 10 centa vos (Waber et al., 2008). Para saber se uma terapia é de fato eficaz, os pesquisadores precisam controlar um possível efeito placebo. O procedimento duplo-cego é uma forma de criar um grupo experim ental, em que as pessoas recebem o trata mento, e um grupo de controle contrastante, que não recebe o tratamento. Ao distribuir aleatoriamente as pessoas nessas condições, os pesquisadores podem ter certeza de que os dois grupos são praticamente idênticos. A designação aleatória iguala mais ou menos os dois grupos em idade, atitude e qual quer outra característica. Com a designação aleatória, como ocorreu com os bebês no experimento do leite materno, pode mos concluir que quaisquer diferenças posteriores entre as pessoas nas condições experimental e de controle provavel mente resultarão do tratamento. experimento é um método de pesquisa no qual um investigador manipula um ou mais fatores (variáveis independentes) para observar o efeito sobre algum comportamento ou processo mental (as variáveis dependentes). Pela designação aleatória dos participantes, os experimentadores buscam controlar outros fatores relevantes. designação aleatória designar os participantes nos grupos experimental e de controle ao acaso é um modo de minimizar as diferenças preexistentes entre os membros designados para os diferentes grupos. procedimento duplo-cego é um procedimento experimental no qual tanto os participantes da pesquisa quanto a equipe de pesquisadores são ignorantes (cegos) sobre se os participantes receberam tratamento ou placebo. Normalmente usado em estudos de avaliação de medicamentos. efeito placebo [do latim, “eu devo agradar”) são resultados experimentais causados unicamente pelas expectativas; qualquer efeito sobre o comportamento causado pela administração de uma substância ou condição inerte, com o receptor pressupondo tratar-se de um agente ativo. grupo experimental em um experimento, é o grupo exposto ao tratamento, ou seja, a uma versão da variável independente. grupo de controle em um experimento, é o grupo que não é exposto ao tratamento; contrasta com o grupo experimental e serve de comparação para avaliar o efeito do tratamento. variável independente é o fator experimental que é manipulado; é a variável cujo efeito está sendo estudado. variável dependente é o fator resultante; é a variável que pode sofrer alterações em resposta a manipulações da variável independente. Variáveis Independente e Dependente Eis aqui um exemplo ainda mais potente: o Viagra foi apro vado para uso depois de 21 testes clínicos, incluindo um experimento em que os pesquisadores distribuíram aleato riamente 329 homens com disfunção erétil para a condição experimental (os que tomaram Viagra) e para a condição de controle (os que tomaram placebo). Esse foi um procedi mento duplo-cego - nem os homens nem a pessoa que minis trava os comprimidos sabiam que remédio os participantes estavam recebendo. O resultado: em doses máximas, 69% das tentativas de relações sexuais com a ajuda do Viagra foram bem-sucedidas, em comparação com os 22% dos homens que receberam o placebo (Goldstein et al., 1998). O Viagra fun cionou. Esse experimento simples manipulou apenas um fator: a dosagem do medicamento (zero vs. dose máxima). Chama mos esse fator experimental de variável independente por que podemos variá-lo independentemente de outros fatores, tais como a idade dos homens, o peso e a personalidade (con trolados pela designação aleatória). Os experimentos exami nam o efeito de uma ou mais variáveis independentes sobre algum comportamento mensurável, chamado variável dependente porque ela pode variar dependendo do que acon tece durante o experimento. Ambas as variáveis recebem defi nições operacionais precisas, que especificam os procedimentos que manipulam a variável independente (a dosagem precisa do remédio e o tempo nesse estudo) ou que medem a variá vel dependente (as perguntas que avaliaram as respostas dos homens). Essas definições respondem à pergunta “O que você quer dizer?” com um nível de precisão que possibilita que outros repitam o estudo. (Veja a FIGURA 1 .7 sobre o deli- neamento do experimento do leite materno.) Vamos fazer uma pausa e verificar sua compreensão com um experimento psicologico simples. Para testar o efeito da percepção de etnicidade sobre disponibilidade de uma casa para aluguel, Adrian Carpusor e William Loges (2006) envia ram e-mails com textos idênticos para 1115 proprietários na área de Los Angeles. Os pesquisadores alteraram a conotação étnica dos nomes dos remetentes e mediram o percentual de respostas positivas (convites para visitar o imóvel pessoal mente). “Patrick McDougall”, “Said Al-Rahman” e “Tyrell Jackson” receberam, respectivamente, 89 por cento, 66 por cento e 56 por cento de convite. Nesse experimento, qual foi a variável independente? E a dependente?3 Os experimentos também podem nos ajudar a avaliar pro gramas sociais. Os programas educativos voltados para a pri meira infância de crianças pobres aumentam suas chances de sucesso? Quais são os efeitos das diferentes campanhas antitabagismo? A educação sexual nas escolas reduz a gravi dez na adolescência? Para responder a essas perguntas, pode mos empregar experimentos: se uma intervenção é bem-vinda mas os recursos são escassos, poderíamos usar uma loteria para distribuir aleatoriamente algumas pessoas (ou regiões) para experimentar o novo programa e outras pessoas para a condição de controle. Se mais tarde os dois grupos diferirem, o efeito da intervenção será confirmado (Passell, 1993). Observe a distinção entre a amostragem aleatória nos levantamentos, abordada anteriormente, e as designações aleatórias nos experimentos (descritas na Figura 1.7). A am ostragem a leatória nos ajuda a generalizar para uma população maior. A designação aleatória controla influências externas, o que nos ajuda a inferir a causa e o efeito. Vamos recapitular. Uma variável é qualquer fator que pode variar (nutrição de bebês, inteligência, exposição à TV - qual quer coisa dentro dos limites do que é viável e ético). Expe rimentos visam manipular uma variável independente,medir a variável dependente e controlar todas as outras variáveis. Um experimento tem pelo menos dois grupos diferentes: um grupo experimental e outro de comparação, ou grupo de controle. A designação aleatória equipara os grupos antes de quaisquer efeitos no tratamento. Desse modo, um experimento testa o efeito de pelo menos uma variável independente (a que é manipulada) sobre pelo menos uma variável dependente (o 3A variável independente, que os pesquisadores manipularam, foram os nomes relacionados à etnia. A variável dependente, que eles mediram, foi a taxa de respostas positivas. Designação aleatória (controle de outras variáveis, como inteligência dos pais e ambiente) Variável Variável Grupo independente dependente Controle Experimental Leite materno Leite em pó Escore de inteligência, 8 anos Escore de inteligência, 8 anos > F I G U R A 1.7 Experimentação Para discernir a causação, os psicólogos podem designar aleatoriamente alguns participantes para um grupo experimental e outros para um grupo de controle. A medida da variável dependente (escore de inteligência na infância avançada) determinará o efeito da variável independente (tipo de leite). TABELA 1.3 C o m p a r a n d o M é t o d o s d e P e s q u is a Método de Pesquisa Propósito Básico Como É Conduzido O que É Manipulado Fraquezas Descritivo Observar e registrar comportamentos Conduzir estudos de casos, levantamentos (surveys) ou observações naturalistas Nada Sem controle das variáveis; casos únicos podem ser enganadores Correlacionai Detectar relações que ocorrem naturalmente; avaliar quão bem uma variável prediz a outra Computar associações estatísticas, algumas vezes entre as respostas dos levantamentos Nada Não especifica causa e efeito Experimental Explorar causa e efeito Manipular um ou mais fatores; utiliza a designação aleatória A(s) variável(is) independente(s) Às vezes inviável; os resultados podem não ser generalizados para outros contextos; não é ético manipular certas variáveis resultado que medimos). A TABELA 1 .3 compara as carac terísticas dos métodos de pesquisa em psicologia. ANTES DE PROSSEGUIR... > P e r g u n te a S i M esm o Se você se tornasse um pesquisador em psicologia, que questões gostaria de explorar através de experimentos? > T e ste a S i M e sm o 2 Por que, ao testar um novo remédio para a pressão arterial, aprenderíamos mais sobre sua eficácia se déssemos o remédio à metade dos participantes em um grupo de 1.000 do que se o déssemos a todos os 1.000 participantes? Respostas para as questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no Apêndice B, no final do livro. Raciocínio Estatístico no Dia a Dia NAS PESQUISAS DESCRITIVA, CORRELACIONAL e experi mental, as estatísticas são ferramentas que nos ajudam a ver e interpretar o que pode escapar a um olhar sem uso de ins trumentos. Mas um entendimento estatístico pode favorecer outras pessoas além dos pesquisadores. Faz parte da educação atual ser capaz de aplicar princípios estatísticos simples em raciocínios cotidianos. Ninguém precisa decorar fórmulas complicadas para pensar com mais clareza e de maneira mais crítica sobre os dados. Estimativas feitas na base do palpite com frequência inter pretam mal a realidade e desorientam o público. Alguém menciona um número redondo e avantajado, outros fazem eco dele e, logo depois, o número redondo e avantajado se torna uma informação pública errada. Alguns exemplos: • 10% das pessoas são homossexuais. Ou serão 2% ou 3%, como sugerido por vários levantamentos (surveys) feitos nos EUA (Capítulo 11)? • Normalmente, usamos apenas 10% de nosso cérebro. Ou será que usamos quase 100%? (Capítulo 2) • O cérebro humano tem 100 bilhões de células nervosas. Ou serão cerca de 40 bilhões, como sugere a extrapolação a partir da contagem de amostras (Capítulo 2)? Lembre-se de: Duvidar dos números redondos e avantaja- dos não documentados. Em vez de engolir estimativas feitas na base do palpite, use o pensamento mais inteligente, apli cando princípios estatísticos simples ao raciocínio coti diano. moda são os escores mais freqüentes em uma distribuição. média é a média aritmética de uma distribuição obtida pela soma dos escores e dividida pelo número de escores. mediana é o escore médio de uma distribuição; metade dos escores fica acima da mediana e metade abaixo dela. amplitude é a diferença entre o escore mais alto e o mais baixo em uma distribuição. desvio-padrão é a medida computada de quantos os escores variam em relação ao escore médio. A Descrição dos Dados 8 : Como podemos descrever dados com medidas da tendência central e variação? Uma vez que os pesquisadores tenham coletado seus dados, a primeira tarefa é organizá-los de uma maneira que faça sentido. Um modo de fazer isso é converter os dados em um gráfico de barras simples, como na FIGURA 1.8 , que demons tra a distribuição de caminhões de diferentes marcas ainda rodando depois de uma década. Ao ler gráficos estatísticos como esse, tome cuidado. É fácil criar um gráfico para fazer que uma diferença pareça grande (FIGURA 1.8a) ou pequena (FIGURA 1 .8 b ). O segredo reside em como você valora a escala vertical (eixo Y). Lembre-se de: Pensar de maneira inteligente. Diante de grá ficos nas revistas ou na televisão, leia os valores da escala e seu intervalo. Medidas de Tendência Central O próximo passo é resumir os dados usando alguma medida de tendência central, um escore único que representa um con junto completo de escores. A medida mais simples é chamada Percentual 100°/o ainda em funcionamento após 10 anos 99 98 97 96 95 Percentual ainda em funcionamento após 10 anos I Nossa M arca M arca Marca m arca X Y Z Marca do caminhão (a) 100% 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Nossa M arca M arca Marca m arca X Y Z Marca do caminhão (b) >• FIGURA 1.8 Leia o rótulo da escala Um fabricante americano de caminhões apresentou um gráfico (a) - listando nomes de marcas verdadeiros - para sugerir a durabilidade muito maior de seus caminhões. Observe, no entanto, como a diferença aparente diminui quando a escala vertical é modificada (gráfico b). moda, o registro que ocorre com mais frequência. A mais comumente relatada é a média, ou média aritmética - a soma total de todos os escores dividida pelo número de escores. Em uma autoestrada dividida, a mediana é o meio. O mesmo vale para os dados: a m ediana é o valor que divide a amostra ao meio - equivalente ao percentil 50. Se você arrumar todos os escores em ordem do maior para o menor, uma metade ficará acima da mediana e a outra ficará abaixo dela. As medidas de tendência central resumem os dados orde nadamente. Mas considere o que acontece à média quando uma distribuição é assimétrica ou enviesada. Com dados sobre renda, por exemplo, a moda, a mediana e a média fre quentemente contam histórias diferentes (FIGURA 1 .9 ) . Isso acontece porque a média é afetada por poucos escores extremos. Quando o cofundador da Microsoft, Bill Gates, senta em um barzinho aconchegante, o cliente médio do bar (média) se torna instantaneamente um bilionário. Mas a riqueza mediana dos clientes permanece inalterada. Enten dendo isso, você pode ver como um jornal britânico pôde publicar com exatidão a manchete: “62% Têm Renda Abaixo da Média” (Waterhouse, 1993). Como a metade inferior dos britânicos que possuem renda recebe apenas um quarto do bolo da renda nacional, a maior parte do povo britânico, como a maioria das pessoas em todo lugar, recebe menos do que a média. Nos Estados Unidos, os republicanos ten dem a alardear o sólido crescimento da economia desde 2000 usando a renda média; os democratas lamentam o crescimento tímido da economia a partir da renda mediana (Paulos, 2006). Média e mediana contam histórias verda deiras diferentes. Lembre-se de: Observar sempre qual medida de tendência central é relatada. Depois, se a medida for
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