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JULIO MESQUITA (1862 - 1927) Tempo em SP Eliane Cantanhêde Há margem para discutir a decisão do STF, mas Bolsonaro trabalhou contra ele próprio. POLÍTICA / PÁG. A5 16° Mín. 28° Máx. FUNDADO EM 1875 Celso Ming Epidemias dizimaram exércitos e derrubaram impérios, mas ajuda- ram a criar outros. ECONOMIA / PÁG. B2 NA QUARENTENA NOTAS & INFORMAÇÕES Bolsonaro aponta ‘crise institucional’; STF reage Esta publicação é impressa em papel certificado FSC® garantia de manejo florestal responsável, pela S. A. O Estado de S. Paulo. Dúvidas, reclamações e informações contate info.fsc@estadao.com Ministro da Saúde fala em mil mortos por dia e defende isolamento ‘Neste momento, ninguém está pensando em flexibilizar nada’, disse Nelson Teich Desemprego vai a 12,2% em março ECONOMIA / PÁG. B4 Demissões começam a atingir o futebol ESPORTES / PÁG. A12 O significado do trabalho R aras vezes foi tão impor-tante refletir sobre o te-ma. O 1.º de Maio é opor- tunidade, na emergência da pan- demia, para reconhecer o mérito de todos os trabalhadores. PÁG. A3 Cegueira ética Na história recente do País, há casos clamorosos de apoio po- pular a políticos envolvidos com graves escândalos. PÁG. A3 Presidente não mostra exames; juíza dá novo prazo Apesar do risco do novo coronavírus, multidão passou a madrugada de ontem diante de agência da Caixa no Grajaú, zona sul de SP, para tentar receber o auxílio emergencial de R$ 600. A agência dis- tribuiu 250 senhas, mas antes de o banco abrir já havia mais de 400 pessoas na fila. ECONOMIA / PÁG. B4 Segundo estimativas da ONU, a pande- mia do novo coronavírus deve empurrar 8% da população mundial (500 mi- lhões) de volta à pobreza. A crise tende a acabar com quase metade dos empregos da África Subsaariana, que enfrentará sua primeira recessão em 25 anos, e o sul da Ásia terá seu pior desempenho econô- mico em 40 anos. INTERNACIONAL / PÁG. A7 ONU prevê volta de meio bilhão à pobreza Milton Hatoum Amigos da Lua, enviem mensagens de amor a este planetinha, pra lá de doente. NA QUARENTENA / PÁG. H8 O ministro Nelson Teich (Saúde) admi- tiu que o Brasil pode vir a registrar cerca de mil mortos por dia por covid-19 e mudou o tom sobre a flexibilização do isolamento social defendida pelo presi- dente Jair Bolsonaro. Teich afirmou que o momento é impróprio, em virtu- de do avanço de mortes e contamina- ções. “Neste momento, ninguém está pensando em flexibilizar nada”, disse. “Há uma curva em plena ascendência.” O presidente Jair Bolsonaro, no entan- to, disse que o confinamento é “pratica- mente inútil”. O País encerrou abril com um total de 5.901 óbitos e 85.380 pessoas contaminadas pelo novo coro- navírus. Em 24 horas, foram 435 mortes e 7.218 novos casos. Teich disse que, no momento, o foco é apoiar a infraestrutu- ra de Estados e municípios em situação de emergência. Levantamento do Esta- do aponta que a ocupação de leitos de UTI já superou 70% em pelo menos seis Estados. A Prefeitura de SP pode deter- minar limites à circulação de carros. No Maranhão, juiz ordenou que quatro ci- dades entrem no regime de lockdown, que veta circulação que não seja de ur- gência. METRÓPOLE / PÁGS. A9 a A11 l ‘Se tive, nem senti’ O presidente Jair Bolsonaro afirmou que “talvez” tenha sido contaminado pelo coronavírus e não sentiu. PÁG. A5 Após acumular seguidas derrotas no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro disse ontem ver brechas para o des- cumprimento da decisão do minis- tro Alexandre de Moraes de barrar a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. Bolsonaro afirmou que Moraes qua- se criou uma “crise institucional” e foi criticado por outros ministros da Corte. POLÍTICA / PÁG. A4 Parlamentares ligados às igrejas evangélicas, liderados pelo deputa- do Marcos Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, questionaram no dia 22 o pre- sidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a possibilida- de de bancos darem empréstimo às igrejas. ECONOMIA / PÁG. B1 Deputados vão atrás do BC por crédito a igrejas TETO A QUEM COMBATE O VÍRUS Entidades e governos oferecem hospedagem a agentes de saúde para deter contaminação. PÁG. H1 l SP vai levar doentes para interior Com 89% dos leitos de UTI ocupados na Grande SP, pacientes começarão a ser transferidos para outras cidades. PÁG. A11 FELIPE RAU / ESTADÃO FOTOS: RUBENS KATO A juíza Ana Lúcia Petri Betto deu mais 48 horas para que Jair Bolsonaro entre- gue à Justiça Federal de SP “os laudos de todos os exames” realizados para verificar se foi contaminado pelo no- vo coronavírus. A decisão foi tomada após o governo enviar ontem relató- rio assinado por dois médicos da Presi- dência em 18 de março informando que Bolsonaro estava assintomático e havia testado negativo para a doença naquele momento. POLÍTICA / PÁG. A5 AMANHECER NA FILA POR R$ 600 COMIDA PARA ABRAÇAR A MÃE Presentear com quitutes atenua distância. PÁG. H4 F O T O S : N I L T O N F U K U D A /E S T A D Ã O l Novo revés no tribunal Por unanimidade, o STF derrubou trechos da MP que restringia a Lei de Acesso à Informação. PÁG. A4 NOVA ARTE COLABORATIVA Instituições artísticas se reinventam. PÁG. H6 %HermesFileInfo:A-1:20200501: Sexta-feira 1 DE MAIO DE 2020 R$ 5,00 ANO 141 Nº 46217 estadão.com.br %HermesFileInfo:A-2:20200501: A2 Espaço aberto SEXTA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO 15.781 A Mastercard divulgou uma pesquisa sobre a evolução dos pagamentos com cartões por aproximação que mostra que as informações a respeito da pandemia de covid-19 incenti- varam os brasileiros a utilizar essa modalidade. Em países mais avançados neste mode- lo, 90% dos pagamentos são feitos sem contato e, em geral, nestes locais, a metade desse porcentual foi atingida cerca de 1,5 ano após a implantação da modalidade. A pesquisa mostra que 88% concordam que esse tipo de pagamento é mais conveniente. www.estadao.com.br/e/cartoes N um momento de ansie-dade e incertezas, mul-tiplicam-se as previ- sões e os cenários sobre o mun- do pós-pandemia. Mas todos esses cenários, creio, depen- dem da evolução da mesma va- riável que nos pôs nesta situa- ção tão difícil: o coronavírus. Uma das minhas referên- cias nas previsões sobre o co- ronavírus é Bill Gates. Ele de- dica parte de sua fortuna ao fi- nanciamento de projetos de saúde pública. Precisa ser bem informado, no mínimo, para não jogar dinheiro fora. Em curto artigo sobre as pers- pectivas, Gates acha que uma vacina eficaz contra o corona- vírus estará pronta até 2021. Os caminhos da pesquisa indi- cam duas direções. Uma delas é a vacina tradicional, que uti- liza um vírus desativado. A ou- tra, aproveitando os avanços da genética, poderia informar as células para que bloqueiem o vírus. Existe uma possibilidade mais rápida, anunciada pelos cientistas de Oxford no jornal The New York Times. Eles acham que conseguem lançar sua vacina ainda em setembro de 2020. Fizeram experiên- cias com seis macacos e foram bem-sucedidos. Pretendem agora experimentá-la em 5 mil pessoas e obter a licença. Nesse cenário, o mais oti- mista possível, até o final do ano já estaria em circulação uma vacina eficaz contra o co- ronavírus. Além de algumas centenas de milhares de mor- tes, apenas o ano de 2020 esta- ria perdido. Outra variável que Gates aborda é a dos remédios. Ele considera ter havido um subin- vestimento em pesquisas de remédios antivirais, compara- das com os antibacterianos. Acho que vai se mover nesse campo. Não existe hoje uma bala de prata. Como não exis- tiu na luta contra o HIV-aids, para o qual, finalmente, se che- gou a um coquetel de drogas. Talvez as coisas sejam mais promissoras no campo dos testes. A tendência é que evo- luam, possamser vendidos com mais facilidade e ser usa- dos em casa. Como já o são al- guns outros testes, como o de gravidez. Gates acha que, assim como depois de 1945 foi necessário criar uma instituição interna- cional para garantir a paz, será também necessária uma orga- nização internacional para combater as pandemias, novos vírus que podem vir tanto de morcegos como de pássaros. Esse desdobramento interna- cional não é fácil. Uma declara- ção da ONU de cooperação em torno de vacinas, remédios e testes não foi apoiada por EUA, Brasil e mais 12 países. Imagino que uma das ra- zões da reserva norte-america- na seja o direito de exploração conferido pelas patentes. Suas grandes empresas investem milhões de dólares em pesqui- sas e, naturalmente, querem receber esse investimento de volta, com os devidos lucros. Esse foi um grande debate travado também no período da aids, quando se questionou o respeito às patentes numa si- tuação excepcional. O Brasil ti- nha razões para questionar. Adotou uma lei que garantia o coquetel gratuito aos portado- res de HIV e isso custava caro ao País. O ministro da Saúde na época era o hoje senador José Serra. Ele defendeu o que me parece ter sido a posição correta de acordo com o inte- resse nacional. Hoje, em plena pandemia de coronavírus e diante de ou- tras que podem vir, o Brasil se distancia da ideia de coopera- ção internacional para se ali- nhar com os EUA, que têm in- teresses bem específicos. A jul- gar pela posição do chanceler Ernesto Araújo, estamos dian- te de um “comunavírus”, que tende a acentuar a influência internacional sobre os países, reduzindo sua autonomia. É um raciocínio que se asse- melha às posições do Brasil so- bre o esforço internacional pa- ra atenuar os efeitos do aque- cimento planetário. Assim co- mo é difícil, hoje, prever uma nova situação sem levar em conta a trajetória da covid-19, será muito difícil também ex- cluir a variável ambiental de qualquer cenário futuro. Ao contrário de países co- mo a Nova Zelândia e a Austrá- lia, o Brasil politizou o vírus. Eles foram bem-sucedidos, as- sim como, de certa forma, Por- tugal, onde governo e oposi- ção se uniram diante do inimi- go comum. Num dos primeiros artigos que escrevi sobre o vírus, quando ele estava circunscri- to a Wuhan, na China, afirmei que para combatê-lo seria ne- cessária uma visão nacional e solidária. Não foi isso o que aconteceu. Assim como pesou para as civilizações antigas na América ter uma visão mítica sobre os invasores, ou deve pe- sar no Haiti encarar com o vo- du os grandes desastres natu- rais, o Brasil mergulhou na ce- gueira ideológica. Durante muito tempo, dis- cutiu-se se era um vírus comu- nista destinado a enfraquecer o governo. Da mesma forma, discutiu-se se a cloroquina era ou não um remédio de direita. O vírus é apenas uma proteí- na envolvida numa capa de gordura. E a cloroquina, uma substância química usada con- tra malária e outras doenças. Portanto, quando se escre- ver a história dessa peste no Brasil, não se pode apenas cul- pá-la pelos estragos que fez. O governo digeriu mal a tese da imunização pelo amplo contá- gio e refugiou-se nela na espe- rança de tocar a economia. Se continuar se comportan- do com o meio ambiente com a mesma cegueira ideológica com que encara o coronaví- rus, os cenários do futuro, não importa quão sofisticado for o seu desenho, terão de contar com o pano de fundo de uma terra arrasada. ] JORNALISTA Vinícolas do mundo permi- tem visitas online em 360º de suas plantações. www.estadao.com.br/e/vinhos TECNOLOGIA DOS CARTÕES Pagamentos por aproximação crescem Google Meet estará disponí- vel para qualquer pessoa com uma conta do Google e pode reunir até 100 pessoas na mesma chamada. www.estadao.com.br/e/google l “Isso é para desviar a sociedade do foco na saúde pública do País, a qual está no limite.” LUIZ CARLOS FERNANDES l “Mas a OMS promove essas práticas mesmo. Eu quero saber como mandar ensinar uma criança a se masturbar significa ‘distorção’.” JC CARRAZZONI l “Como ele tenta desviar o foco! Só seus fanáticos ainda não acorda- ram, infelizmente.” LUDMILLA MALENTACCHI l “Distorceu nada. A OMS não deve ser seguida cegamente. Nada de- ve. As pessoas devem ser mais críticas.” VIVIANE NOGUEIRA INTERAÇÕES CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA MEMBROS FERNANDO C. MESQUITA FERNÃO LARA MESQUITA FRANCISCO MESQUITA NETO GETULIO LUIZ DE ALENCAR JÚLIO CÉSAR MESQUITA O belga Axel Witsel deu di- nheiro para o Standard Lie- ge, clube que o revelou, pa- gar dívidas acumuladas de- pois da pandemia. www.estadao.com.br/e/witsel Espaço Aberto OBrasil já viveu momen-tos difíceis, mas nun-ca uma crise tão vasta e profunda como agora, em que a devastação sanitária se une à insanidade política. Nada surge do nada, po- rém. Nem as nuvens que pare- cem viajantes perenes, sem origem ou destino. A data de 1.º de maio, por exemplo, não tem, neste 2020, o estilo de reivindicação do Dia do Traba- lho. O horror do coronavírus desmobiliza tudo, do lar à eco- nomia, e nos leva a novo olhar sobre a vida. Improvisamos hábitos para fugir à peste e à morte. Reivin- dicar no 1.º de maio seria aglo- merar-se, algo impensável em quarentena e isolamento, quando o contágio ataca co- mo inimigo invisível. No Bra- sil, como se não bastasse o no- vo vírus, o presidente da Re- pública provoca uma múltipla crise, que, primeiro, força a demissão do ministro da Saú- de Luiz Henrique Mandetta e, logo, a de Sergio Moro do Mi- nistério da Justiça. Ambos os casos mostram a predisposição ditatorial (cons- ciente ou não) de Bolsonaro. Resta saber se é um plano po- lítico ou se é mera consequên- cia do desequilíbrio do presi- dente, como entende o jurista Miguel Reale Júnior. O autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff chega a su- gerir, até, que o presidente se submeta a um exame de “sani- dade mental” para permane- cer no poder. A demissão de Mandetta sur- giu do ciúme do presidente, que preferia um ministro iner- te a alguém que descesse do pedestal e dialogasse com a po- pulação. Bolsonaro viu a Presi- dência como mera exibição de poder pessoal, não como ato de servir ao País e ao povo. A demissão de Moro foi ain- da mais brutal. O juiz que, pe- la primeira vez no Brasil, le- vou à prisão grandes ladrões enquistados no empresariado e na política, não teve condi- ções de continuar no governo que prometia fazê-lo “super- ministro” para combater a corrupção. Em menos de 16 meses Sergio Moro foi relega- do à sarjeta ao relutar em transformar a Polícia Federal em obediente criadagem da prole presidencial. O próprio Moro revelou que o presidente queria mudar o diretor da Polícia Federal (lá colocando alguém de sua con- fiança pessoal) para ter acesso à marcha das investigações. E as investigações chegam a um dos filhos do presidente… No momento em que a ca- tástrofe da covid-19 afeta o pla- neta, aqui o presidente da Re- pública se dedica a derrubar a estrutura do próprio governo que formou. O absurdo vai além: Bolsonaro ressuscita no- tórios corruptos condenados no mensalão e na Lava Jato e os transforma em escoras po- líticas. É o caso do chefão do PTB, Roberto Jefferson, que na era Collor comandou a “tro- pa de choque” e, com Lula, se incriminou ao delatar o men- salão, do qual foi beneficiário. Sem se amparar na maioria dos eleitores que o elegeram de boa-fé (ao acreditarem que combateria a corrupção), Bol- sonaro age no sentido oposto. Busca apoiar-se no “centrão”, que reúne no Parlamento va- riados arrivistas. Quando de- putado e membro do chama- do “baixo clero” da Câmara, Bolsonaro tinha livreacesso a esse grupo e hoje aprofunda o tosco contubérnio. Tal qual os rios vão para o mar, a barafunda desemboca na nomeação de André Men- donça como ministro da Justi- ça e na de Alexandre Rama- gem, velho amigo da família Bolsonaro, como diretor-ge- ral da Polícia Federal. Con- cluía-se o arco idealizado pe- lo presidente? Ao pular da Advocacia-Ge- ral da União para o Ministério da Justiça, Mendonça (que é pastor presbiteriano) amplia a credencial para ser o futuro ministro do Supremo Tribu- nal Federal (STF) “tremenda- mente evangélico” menciona- do por Bolsonaro tempos atrás. Ramagem seria a figura íntima que informaria o presi- dente sobre a investigação em torno do filho. Confirmava-se a revelação de Moro ao deixar o Ministério. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, interrompeu a festança ao suspender a no- meação de Ramagem, inter- pretando-a (de fato) como tentativa de obstrução de Jus- tiça. O caso era similar à no- meação de Lula da Silva como chefe da Casa Civil da então presidente Dilma, que o STF impediu por ser mera mano- bra. Ciente de que o plenário do Supremo acataria a limi- nar de Moraes, de imediato Bolsonaro retrocedeu, anulou a nomeação de Ramagem e o recolocou na Abin, órgão de inteligência subordinado à Presidência. A posse de André Mendon- ça no Ministério da Justiça completou-se, em Brasília, num misto de velório, culto religioso e carnaval, com o no- vo ministro chamando Bolso- naro de “profeta”. Nessa balbúrdia, enquanto em São Paulo, Manaus e onde for a peste faz improvisar hos- pitais e cavar sepulturas à es- pera de doentes ou cadáveres, o Supremo Tribunal julgará o pedido do procurador-geral para investigar o presidente por crimes de falsidade ideoló- gica, coação, prevaricação e obstrução de Justiça, a partir das revelações de Moro. O próprio ex-ministro será in- vestigado por eventual “calú- nia” e “crime contra a honra” pelo que disse ao sair. A realidade substitui, com vantagem, todo comentário ou previsão. Os fatos mos- tram além da peste. ] JORNALISTA E ESCRITOR, PRÊMIO JABUTI DE LITERATURA 2000 E 2005, PRÊMIO APCA 2004, É PROFESSOR APOSENTADO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA PUBLICADO DESDE 1875 LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970) JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988) JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996) LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997) RUY MESQUITA (1947-2013) FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR: FALE COM A REDAÇÃO: 3856-2122 falecom.estado@estadao.com CLASSIFICADOS POR TELEFONE: 3855-2001 VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL: 3950-9000 DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-9000 VENDAS CORPORATIVAS: 3856-2917 COMPETIÇÃO Google rebate Zoom e libera videochamada Jogador doa R$ 9 mi para salvar time COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK: GOOGLE LEON KUGELER/REUTERS ] Flávio Tavares Tema do dia TV não fez denúncia de en- terros com caixões vazios no Amazonas. www.estadao.com.br/e/caixoes Os fatos vão além da peste Bolsonaro vê a Presidência como exibição de poder pessoal Pergunte ao coronavírus O Brasil politizou o vírus. O governo mergulhou na cegueira ideológica AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884) FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890) JULIO MESQUITA (1885-1927) JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969) FRANCISCO MESQUITA (1915-1969) AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55 CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP TEL.: (11) 3856-2122 / REDAÇÃO: 6º ANDAR FAX: (11) 3856-2940 E-MAIL: forum@estadao.com CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS: 4003-5323 DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-20 https://meu.estadao.com.br/fale-conosco CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE: 3856-2531 – cia@estadao.com PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF: R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO). ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN- DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO) PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO – SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA. CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%. Bolsonaro acusa OMS de incentivar homossexualidade Presidente distorceu publicação, que, segundo ele, também orientava crianças à masturbação, e depois apagou o post ] Fernando Gabeira FUTEBOL PHILIPPE WOJAZER/REUTERS No estadao.com.br VINHOS Passeios virtuais para conhecer vinhedos CHECAGEM Estadão Verifica: Vídeo falso de Manaus %HermesFileInfo:A-3:20200501: O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2020 Notas e Informações A3 R aras vezes, como agora, foi tão im-portante refletir sobre o trabalho. Incertezas de diversas naturezas afligem os trabalhadores em todo o mundo – as transformações tec-nológicas, as novas organizações do trabalho, as mudanças nas relações trabalhis- tas, além, é claro, da própria crise causada pela covid-19, que forçou a interrupção de muitas ati- vidades e transformou o dia a dia de todos os tra- balhadores. Afetado drasticamente pelo presen- te, o trabalho vê-se envolto também nas grandes incógnitas a respeito de como será o mundo após a pandemia. A Constituição de 1988 define, entre os funda- mentos da República Federativa do Brasil, os va- lores sociais do trabalho e da livre-iniciativa. O trabalho é alicerce do Estado porque antes é ali- cerce da sociedade, da família e do próprio indiví- duo. A atividade laboral é muito mais que uma fonte de renda. Ela é expressão e construção da dignidade e da liberdade humana. Privar alguém de seu trabalho é limitar sua autonomia e sua participação na sociedade. As mulheres sofrem especialmente a privação do trabalho. Segundo a Organização Internacio- nal do Trabalho (OIT), a força de trabalho ativa das mulheres no mundo é de 47%, enquanto a dos homens é de 74%. Na América Latina, o ní- vel médio de educação das mulheres é relativa- mente alto, mas elas recebem salários 17% me- nores que os homens, porcen- tual contrastante com o aumen- to do número de lares sustenta- dos por mulheres. Antes da crise da covid-19, o País já tinha um enorme desafio, econômico e social, de gerar pos- tos de trabalho. Ao longo do ano passado, o total de desemprega- dos, subempregados e desalenta- dos esteve em torno de 25 mi- lhões de pessoas. Especialmente dramática é a taxa de desempre- go crônico. Mais de um quarto dos desempregados procura em- prego há mais de dois anos. É a deterioração das condições do mercado de trabalho afetando de forma permanente a parcela mais vulnerável da população. A pandemia agravou ainda mais o quadro do desemprego, bem como as condições de traba- lho. Trabalhadores tiveram a renda ou o salário reduzido, chegando em muitos casos à suspen- são do contrato de trabalho. É um horizonte de prejuízos e de incertezas, a afligir todos. Na retomada após a crise, o desafio de promo- ver o trabalho deve ser prioritário. Não basta diminuir encargos pa- tronais, como às vezes o governo Bolsonaro deu a entender que fa- ria. É preciso ter um diagnóstico amplo sobre o panorama do traba- lho no mundo atual, em profunda transição, identificando e atuan- do nos gargalos, ineficiências e oportunidades – e, de posse des- ses dados, fazer o complemento consciencioso da reforma traba- lhista iniciada no governo Temer. Cada vez mais, trabalho não é sinônimo de emprego. Não ape- nas as oportunidades profissionais são diferen- tes, como também as aspirações das novas ge- rações em relação à profissão sãomuito distin- tas das dos seus pais. Tal cenário exige uma res- posta abrangente, que passa necessariamente por melhorar a qualidade do ensino e da forma- ção profissional. É ilusão supor que o País po- derá enfrentar a contento os desafios do traba- lho do século 21 sem uma profunda melhoria da educação. O trabalho não deve alimentar uma espécie de casta, que divide e hierarquiza as pessoas por renda, importância ou protagonismo social. Ao contrário, toda atividade profissional – intelec- tual ou manual, complexa ou simples, que des- perta aplausos ou passa despercebida aos olhos da maioria – é âmbito de promoção da dignidade e da autonomia. É no trabalho realizado com se- riedade e competência que cada um se desenvol- ve, aperfeiçoando sua personalidade e fortalecen- do os vínculos sociais, e pode oferecer, de forma muito prática, sua melhor contribuição à família e à sociedade. Seja qual for a tarefa, o sentido do trabalho é sempre servir, somar, construir. O feriado do 1.º de Maio é oportunidade, na emergência da pandemia, para reconhecer o mérito de todos os trabalhadores – os que atuam em atividades essenciais, os que estão tra- balhando em casa e também os que estão para- dos, mas, sobretudo, os que se entregam, nos ser- viços médicos, à missão de confortar os doentes e salvar vidas. Aexistência, no primeiro trimes-tre do ano, de 27,6 milhões de pessoas desocu-padas, subutiliza- das ou desalentadas por falta de oportunidade de ocupação remunerada é, por si só, um re- trato dramático do mercado de trabalho no Brasil. Mas ain- da não reflete o real impacto da pandemia do novo corona- vírus sobre a economia do País e sobre a vida dos brasilei- ros, a começar pelas condi- ções do trabalho que garante a renda necessária para a so- brevivência de cada um e a de seus familiares. Os dados da Pesquisa Nacional por Amos- tra de Domicílios (Pnad) Con- tínua referentes aos primei- ros três meses do ano que o Instituto Brasileiro de Geogra- fia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar abrangem apenas o período inicial (as últimas semanas de março) da crise sa- nitária que vem afetando a vi- da de todos. Por isso, os núme- ros referentes aos meses se- guintes, quando o isolamento social se estendeu e a ativida- de econômica se retraiu acen- tuadamente, deverão ser ain- da mais impressionantes. “O Brasil já estava com taxa de desemprego elevada, e pre- sume-se que (a taxa anterior à pandemia) possa aumentar en- tre 50% e 100%”, previu há pou- co o secretário especial de De- sestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar. Pode não ser dessas dimensões, mas aumento certamente haverá, e será notável. No primeiro trimestre, o Bra- sil tinha 12,850 milhões de pes- soas em busca de emprego, se- gundo a Pnad Contínua. A taxa de desocupação no período foi de 12,2%, menor do que a de um ano antes (12,7%), mas 1,2 ponto maior do que a do tri- mestre encerrado em dezem- bro. Da população ocupada (de 92,2 milhões de pessoas), prati- camente 40%, ou 36,8 milhões, trabalhavam na informalidade, isto é, sem registro em carteira e, consequentemente, sem os benefícios do trabalho formal e sem a proteção do sistema previdenciário. Praticamente um quarto da força de trabalho, ou 24,4% (27,6 milhões de pessoas), esta- va subutilizada nos três primei- ros meses do ano. Essa catego- ria inclui as pessoas que não tra- balhavam ou trabalhavam me- nos do que podiam ou preten- diam. A taxa inclui os desocupa- dos, os subocupados por insufi- ciência de horas trabalhadas e a força de trabalho potencial (pessoas que não estão em bus- ca de trabalho, mas estão dispo- níveis para trabalhar). Houve discreta melhora nesse indica- dor, quando comparado com o do início de 2019 (25% de subu- tilização da força de trabalho). No período, segundo a Pnad Contínua, havia 4,770 milhões de pessoas desalentadas, isto é, que estavam fora da força de trabalho porque não conse- guiam emprego, não tinham ex- periência, eram muito jovens ou idosas ou não acharam tra- balho na localidade, mas que aceitariam assumir a vaga caso encontrassem trabalho. Nas es- tatísticas do IBGE, os desalen- tados fazem parte da força de trabalho potencial. Os dados relativos a rendi- mento são mais animadores. A massa de salários em circula- ção na economia cresceu R$ 3,211 bilhões em um ano e o ren- dimento médio dos trabalhado- res ocupados alcançou R$ 2.398, 1,1% mais do que o de um ano antes. Os dados do primeiro tri- mestre do ano, que sazonal- mente tendem a ser piores do que os do trimestre anterior por causa das demissões dos trabalhadores temporários contratados no fim do ano, mostram que algumas ativida- des já estavam sendo afetadas pela pandemia e pelo isolamen- to social. São aquelas que ab- sorvem mais o trabalho infor- mal, como os segmentos de co- mércio, alojamento e alimenta- ção e serviços como os pes- soais (cabeleireiro e manicu- re) e domésticos. Nos primei- ros três meses do ano, havia praticamente 2 milhões de tra- balhadores informais menos do que no trimestre anterior. Embora já enfrentasse pro- blemas para a coleta de dados em março, o IBGE assegura que a Pnad Contínua do pri- meiro trimestre tem informa- ções de qualidade. Por causa das dificuldades para a coleta de novos dados – por telefone, o que não é usual nem confiá- vel como a coleta local – e da necessidade de testes de sua consistência, os resultados de abril podem demorar. Mesmo após as revelações de Sérgio Moro de que o presi-dente da Re-pública ten- tou insistentemente interferir politicamente na Polícia Fede- ral (PF), 33% dos brasileiros con- tinuam aprovando o governo de Jair Bolsonaro, indicou pesquisa do Datafolha realizada em 27/4. Ainda que porcentual maior (38%) reprove a gestão atual, é significativo que 1/3 da popula- ção abdique do critério ético na hora de avaliar o governo. Vale lembrar que o presiden- te Bolsonaro não foi acusado pe- lo ex-juiz da Lava Jato de mero equívoco pontual. Sérgio Moro relatou que o presidente da Re- pública vem tentando há meses abdicar de um ponto central do combate ao crime e à impunida- de: a isenção do Estado na in- vestigação criminal. Ou seja, ca- so prevalecesse o jeito com que Jair Bolsonaro deseja tratar a PF, segundo revelou Moro, e o ministro do STF Alexandre de Moraes ratificou em despacho liminar, a Operação Lava Jato, por exemplo, não teria sido ca- paz de alcançar os resultados obtidos. Essa foi a revelação que Sérgio Moro fez ao País no dia 24/4 e, ainda assim, 1/3 da po- pulação continua aprovando o governo de Jair Bolsonaro. Se é preocupante o esqueci- mento do aspecto ético na ho- ra de avaliar um governo, é de reconhecer que o fenômeno não é novo. Na história recen- te do País, há casos clamoro- sos de continuidade de apoio popular a políticos envolvidos, de forma incontestável, com graves escândalos. Apesar de uma trajetória re- pleta de escândalos de corrup- ção, Paulo Maluf manteve ao longo de décadas um eleitorado cativo. Quando muitos acha- vam que Maluf nunca mais ga- nharia uma eleição, em razão dos muitos escândalos envol- vendo suas gestões, ele foi eleito prefeito de São Paulo em 1992. Com expressiva aprovação po- pular, Maluf ainda emplacou seu sucessor, Celso Pitta, nas eleições seguintes. Caso gritante ocorreu em 2014. O Tribunal Superior Elei- toral indeferiu o registro da candidatura de deputado fede- ral de Paulo Maluf, por força da Lei da Ficha Limpa. Mas, mes- mo com o registro indeferido, 250 mil eleitores votaram nele. Naquele ano, Maluf foi o oita- vo deputado federal mais vota- do em São Paulo e, após recur- so judicial,tomou posse. Em 2017, o STF condenou Paulo Maluf por lavagem de di- nheiro. No ano seguinte, a Câ- mara dos Deputados cassou seu mandato. Não há dúvida de que tivesse sido candidato nas eleições de 2018 – na época cumpria pena de prisão domici- liar – o veterano político recebe- ria muito apoio e muitos votos. O esquecimento do aspecto ético é também especialmente evidente no apoio que o sr. Luiz Inácio Lula da Silva conti- nua recebendo de parte signifi- cativa da população. Desde os primeiros escândalos do PT na década de 80, mas de forma es- pecial após 2005, com o mensa- lão, foram muitos os prognósti- cos de que o envolvimento de petistas em casos de corrupção acabaria com a força política do partido. Afinal, o PT sempre se valia, nas campanhas eleitorais, da bandeira da ética e do com- bate à corrupção. No entanto, apesar de tudo o que foi revela- do sobre as más condutas do partido e de muitos de seus diri- gentes e filiados, continua ha- vendo quem manifeste não ape- nas apoio político, mas verda- deira devoção ao líder petista. O caso do PT não se refere a suspeitas ou a indícios. Há mui- to tempo saiu do campo da dúvi- da. O Poder Judiciário reconhe- ceu a existência de provas con- tundentes a respeito do uso po- lítico das estatais, de desvio de dinheiro público, de favoreci- mento de empresas e de inúme- ros atos de corrupção e de lava- gem de dinheiro. Não bastasse tudo isso, ficou comprovado, em várias instâncias judiciais, que o ex-presidente petista rece- beu vultosos favores de emprei- teiras para deleite pessoal e fami- liar, como as reformas do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Apesar de tudo isso, há quem continue vendo Lula como um líder político probo e compro- metido com os mais pobres. Durante o tempo em que fi- cou preso em Curitiba, Lula te- ve, a poucos metros do prédio da PF, admiradores que o sauda- vam diariamente. Indiferentes a qualquer juízo ético sobre a con- duta do líder petista, gritavam “Bom dia, presidente Lula!”. Ca- minhando a passos largos, os apoiadores de Bolsonaro esfor- çam-se para não ficar para trás. O significado do trabalho ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO Há quem ainda veja Lula como líder político probo e comprometido com os mais pobres O ESTADO RESERVA-SE O DIREITO DE SELECIONAR E RESUMIR AS CARTAS. CORRESPONDÊNCIA SEM IDENTIFICAÇÃO (NOME, RG, ENDEREÇO E TELEFONE) SERÁ DESCONSIDERADA / E-MAIL: FORUM@ESTADAO.COMFórum dos Leitores Notas & Informações E a covid-19 mal chegara Próximos números da Pnad devem ser ainda mais impressionantes que os do 1.º trimestre Cegueira ética l República dos Bolsonaros Controle jurisdicional Prevalece ainda hoje a tese de Seabra Fagundes de que cabe ao Poder Judiciário julgar os atos administrativos dos outros Poderes quando ferem o Direi- to e as leis vigorantes, em espe- cial a Carta Magna. Assim, está revestido da necessária legalida- de o decisório do ministro Ale- xandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relati- vo à posse de Alexandre Rama- gem na chefia da Polícia Fede- ral (PF), visto o ato apreciado do Executivo estar eivado de ilegalidade, ferindo a Constitui- ção da República, especialmen- te no seu artigo 37. Com efeito, a nomeação de Ramagem fere os princípios da impessoalidade e da moralidade, porque o no- meado é amigo íntimo da famí- lia Bolsonaro e filhos do presi- dente estão sendo investigados pela PF por fake news e outros fatos nas redes sociais, também em apuração pelo STF. Em ca- so de recurso da Advocacia-Ge- ral da União (AGU), certamen- te o pleno do STF manterá a decisão do ministro prolator, em decorrência da jurisprudên- cia predominante na Corte, au- mentando a desmoralização do presidente. Aliás, essa decisão leva ao presidente a seguinte consideração: ele pode muito, mas não pode tudo, porque a lei é a sua mandante. Gostando ou não, é assim que é. JOSÉ CARLOS DE CARVALHO CARNEIRO CARNEIROJCC@UOL.COM.BR RIO CLARO Presidência em ruínas O advogado, ainda que seja o titular da AGU, não está dispen- sado de seguir os valores, princí- pios e normas constantes da Lei 8.906/94 (Estatuto do Advo- gado), sob pena de sofrer pro- cesso disciplinar no Tribunal de Ética da Ordem. Entre os deve- res do advogado insere-se não postular contra expressa dispo- sição de lei e, por óbvio, contra- riamente a seu convencimento lógico, por imposição do empre- gador ou do chefe da institui- ção pública a que serve, ainda que seja a Presidência da Repú- blica. O presidente revoga uma nomeação, causa a perda de ob- jeto de um mandado de segu- rança e compele a AGU a recor- rer de modo teratológico, dizen- do ser ele quem manda na Re- pública. Tudo para nomear ami- go de seus filhos, enxovalhando o nosso ordenamento jurídico, construído no decurso secular de elevados estudos jurídicos, a que se dedicaram grandes per- sonalidades da nossa História. AMADEU ROBERTO GARRIDO DE PAULA AMADEUGARRIDOADV@UOL.COM.BR SÃO PAULO Baixo clero Acho que nem Freud explica o tamanho do complexo de infe- rioridade de Bolsonaro, para ele precisar reafirmar “quem man- da sou eu” tão constantemente. M. DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO ZAFFALON@UOL.COM.BR BAURU (SP) O mandatário São várias as estratégias para não resolver os problemas: pro- por soluções absurdas para se- rem rejeitadas, ignorar os pro- blemas na ilusão de que se vão embora sozinhos, inventar ou- tro problema que não interessa para desviar a atenção. Nosso inseguro (“quem manda sou eu”) e insensível (“e daí?”) pre- sidente usa essas estratégias constantemente. Para não resol- ver o problema da segurança pública quer armar a popula- ção, até com armas e munição sem registro. O vazamento do petróleo nas praias do Nordes- te e as queimadas na Amazônia foram solenemente ignorados. São os Estados e municípios que devem resolver o problema da covid-19, a ele cabe criticá- los, desafiar as normas de segu- rança e distanciamento social (criou anticorpos?) e engajar-se em “batalhas” de seu próprio interesse, como a do controle da PF. Pena que o dr. Nelson Teich não seja psiquiatra. OMAR EL SEOUD ELSEOUD.USP@GMAIL.COM SÃO PAULO Futuro sombrio Acompanhando a conduta do presidente Bolsonaro, concluo que estou diante de uma perso- nalidade que modula as atitu- des de acordo com suas conve- niências, conforme as condi- ções do momento. Na forma- ção do seu Ministério nomeou pessoas de reputação ilibada, como Sergio Moro, dando a en- tender que cumpriria a promes- sa de campanha de combate à corrupção, que foi indispensá- vel para vencer a eleição. Mas ao surgir o primeiro caso de conduta irregular de um dos seus filhos, revelada pelo antigo Coaf, passou a tomar atitudes para desprestigiar o ministro, que foi obrigado a engolir esse e outros sapos que se seguiram, até o ponto em que poderia comprometer a sua reputação. Daí seu necessário pedido de demissão. Analisando a sequên- cia dos últimos episódios, perce- bo que o presidente tem testa- do a resiliência dos brasileiros com atitudes que preocupam os que acreditaram em suas pro- messas. Olhando para o futuro, creio que corremos o risco de uma conduta contrária ao cla- mor popular, que exige probida- de e respeito à Constituição. ANTONIO CARLOS GOMES DA SILVA ACARLOSGS@UOL.COM.BR SÃO PAULO Receita Federal x igreja Aos amigos, tudo. Os outros são os outros. Bolsonaro pressio- na Receita para atender igreja evangélica (30/4, A1). Muito gra- ve e significativa essa postura do presidente, principalmente porque vem do ocupante de um cargo que exige sabedoria, isenção e, acima de tudo, total equilíbrio emocional. VERA BERTOLUCCI VERAVAILATI@UOL.COM.BR SÃO PAULO Faturamento Qualquer cidadão ou cidadã mi- nimamente informado(a) e im- parcial sabe que o débito da tal igreja jamais será pago. A per- gunta que não tem resposta é: como uma igreja conseguiu atin- gir tamanha dívida? GUTO PACHECO JAM.PACHECO@UOL.COM.BRSÃO PAULO Imposto a mais Enquanto Bolsonaro quer ali- viar R$ 144 milhões de uma igre- ja evangélica, nós, contribuin- tes, pobres aposentados, vamos ter de pagar mais um pouco de Imposto de Renda na declara- ção, além do que já nos foi des- contado na fonte. A tabela está defasada somente em 95%! VITOR DE JESUS VITORDEJESUS@UOL.COM.BR SÃO PAULO %HermesFileInfo:A-4:20200501: A4 SEXTA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO COLUNA DO ESTADÃO Política » SINAIS PARTICULARES. Regina Duarte, atriz e secretária nacional de Cultura » Trajetória. No bolsonaris- mo, Moraes é apontado co- mo nome do PSDB e do MDB dentro do STF. Ou seja, preparam a narrativa de que o ministro atua con- forme os interesses do go- vernador João Doria. O mi- nistro foi indicado pelo ex- presidente Michel Temer depois de ter sido secretá- rio de Geraldo Alckmin. » Faz... Em outra frente aberta por Moraes, o veto à indicação de Alexandre Ra- magem para comandar a PF, alguns ministros do Su- premo concordam, reserva- damente, com o argumento do Palácio do Planalto. » ...sentido? Acham que, se o problema de Ramagem é a amizade com Carlos Bol- sonaro, por que o delegado da PF pôde ter permaneci- do à frente da poderosa Abin tanto tempo? » Corroborado. Na sessão do STF que invalidou restri- ções de Bolsonaro à Lei de Acesso à Informação, o ex- presidente da OAB Marcus Vinicius Coêlho fez desagra- vo a Alexandre de Moraes. Todos os ministros aprovei- taram o ensejo para desta- car as qualidades éticas do colega alvo do presidente. » Sugestão. Os novos alia- dos de Bolsonaro no Cen- trão sugeriram ao presiden- te nomear Rogério Galloro para diretor-geral da PF, cargo que ele já ocupou na gestão Temer. Na ocasião, Galloro substituiu Fernan- do Segóvia, também acusa- do de permitir interferência política na corporação. » Tô chegando. Após Bolso- naro dizer que quer Regina Duarte em Brasília, a secre- tária de Cultura, que está em SP, busca voltar rápido para a capital. Interlocuto- res dizem que ela temia ser vista como quem descum- pre as regras da quarentena. » Ué? Os 20 kits de UTI, anunciados em março pelo Ministério da Saúde, final- mente chegaram ao Mara- nhão. Os pacotes contêm leitos, monitor de sinais vi- tais e outros instrumentos. Contudo, estão sem os res- piradores, que eram os mais aguardados. » Já Elvis. Apesar de os governadores do Nordeste torcerem o nariz para o acordo entre Paulo Guedes e Davi Alcolumbre sobre o texto de ajuda aos Estados, alguns líderes da Câmara não estão em clima de com- prar mais uma briga e mu- dar a atual redação. » Rendeu. Após pressão de parlamentares, o BNDES formou grupo para reava- liar o pedido de crédito de R$ 1,5 bilhão para a Desen- volve SP. De acordo com sua assessoria, o banco tam- bém oferecerá apoio técni- co para o fortalecimento da entidade “de maneira esca- lonada e sustentável”. » Stop. Pela primeira vez, desde 2013, a pesquisa tri- mestral de satisfação do passageiro, da Secretaria Nacional de Aviação Civil, será descontinuada, por cau- sa da covid-19. A satisfação dos passageiros, em média, teve nota 4,40/5 este ano. COM MARIANA HAUBERT E MARIANNA HOLANDA Os ataques de Jair Bolsonaro a Alexandre de Moraes foram interpretados por entendedores do bolsona-rismo como vacina ao que está por vir, as revela- ções dos inquéritos tocados pelo ministro do STF: o presi- dente, desde já, estaria construindo narrativa para, mais adiante, tentar deslegitimar o condutor das apurações, atribuindo a Moraes atuação “enviesada”. Moraes, dizem colegas e interlocutores do ministro, está determinado a descobrir a verdade sobre os atos antidemocráticos e a praga das fake news contra adversários do presidente. Bolsonarismo constrói narrativa sobre Moraes ALBERTO BOMBIG TWITTER: @COLUNADOESTADAO COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/ K L E B E R S A L E S /E S T A D Ã O Celebração junta rivais políticos de Bolsonaro. Pág. A6 1º de Maio Bolsonaro desafia Moraes e fala em ‘crise institucional’ Presidente diz que não ‘engoliu’ decisão que impediu nomeação de Alexandre Ramagem para direção da PF e vê brecha para descumpri-la; ministros reagem e criticam ataques BRASÍLIA Sob cerco político e após acu- mular seguidas derrotas, principalmente no Supremo Tribunal Federal (STF), o pre- sidente Jair Bolsonaro desa- fiou ontem o ministro da Cor- te Alexandre de Moraes e dis- se ver brechas para o descum- primento da decisão que bar- rou a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. Na ofensiva, Bolsonaro afirmou que Mo- raes quase provocou uma “crise institucional”. Apesar da subida de tom, porém, o go- verno está acuado. O despacho de Moraes que suspendeu a ida de um amigo do presidente para o comando da Polícia Federal representa mais um revés sofrido pelo governo em abril. Na prática, o Supremo tem derrubado uma série de atos de Bolsonaro, abrindo inves- tigações contra ele e aliados. Além disso, condutas de minis- tros, como a de Abraham Wein- traub (Educação), que passou a ser investigado por racismo con- tra chineses, também vêm sen- do contestadas. Na tentativa de impedir que um eventual pedido de impea- chment prospere, Bolsonaro passou a distribuir cargos para partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso. Na mais recente derrota, o Supremo der- rubou a validade da Medida Pro- visória editada pelo governo que restringia a Lei de Acesso à Informação durante a pande- mia do novo coronavírus (mais informações nesta página). As decisões negativas para o Palácio do Planalto não partem de um único integrante do STF. O ministro Luís Roberto Barro- so, por exemplo, proibiu o go- verno de veicular campanhas contra isolamento social; Celso de Mello abriu inquéritos con- tra Bolsonaro e contra Wein- traub e Gilmar Mendes negou pedido do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, para impedir a pror- rogação da CPI das Fake News. Não é só: a Corte contrariou Bol- sonaro ao decidir que governa- dores e prefeitos têm autono- mia para decretar quarentena. O auge dos conflitos ocorreu na quarta-feira, quando Alexan- dre de Moraes suspendeu a no- meação de Ramagem, sob o argu- mento de que contrariava princí- pios constitucionais de “impes- soalidade, moralidade e interes- se público”. Após o despacho do magistrado, Bolsonaro cance- lou a posse do delegado. ‘Não engoli’. O novo advoga- do-geral da União, José Levi Mello do Amaral Junior, chegou a anunciar que não recorreria da decisão, mas Bolsonaro cobrou a apresentação de um recurso. “Desautorizar o presidente da República com uma caneta- da dizendo ‘impessoalidade’? Ontem quase tivemos uma cri- se institucional, quase, faltou pouco. Eu apelo a todos que res- peitem a Constituição”, afir- mou Bolsonaro. “Eu não engoli ainda essa decisão do senhor Alexandre de Moraes. Não engo- li. Não é essa a forma de tratar um chefe do Executivo, que não tem uma acusação de corrup- ção e faz tudo o que é possível pelo seu País”. Para Bolsonaro, a decisão de Moraes nada tem de jurídica. “No meu entender é uma deci- são política. Política”, repetiu. “Como o senhor Alexandre de Moraes foi parar no Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer. Ou não foi?”, perguntou ele, em alusão ao fato de Moraes ter sido ministro da Justiça no governo Temer. À noite, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, o presidente disse que ha- via feito apenas um “desabafo”. Reação. Ministros do Supre- mo criticaram os ataques de Bol- sonaro a Moraes. “No Supremo, sua atuação tem se marcado pe- lo conhecimento técnico e pela independência. Sentimo-nos honrados em tê-lo aqui”, afir- mou Barroso, em nota, numa re- ferência ao colega. Em sua conta pessoal no Twit- ter, Gilmar Mendes disse que as decisões judiciais podemser cri- ticadas e são suscetíveis de re- curso. “O que não se aceita – e se revela ilegítima – é a censura per- sonalista aos membros do Judi- ciário. Ao lado da independên- cia, a Constituição consagra a harmonia entre Poderes”, escre- veu. Para Marco Aurélio Mello, a crise é preocupante. “Tempos estranhos! Aonde vamos parar? Que fumem ‘o cachimbo da paz’, para o bem do Brasil.” Opresidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, atuou ontem para acalmar os ânimos e evitar uma crise institucional entre os Poderes. Depois que o ministro do Supremo Alexandre de Moraes suspendeu a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal, Toffoli conversou com o presidente Jair Bolsonaro e procurou ajudar na constru- ção de uma saída jurídica para o impasse. A Advocacia Geral da União (AGU) entrou em campo pa- ra tentar reverter a decisão de Moraes. Com o recurso a ser apresentado, a expectativa de Bolsonaro é a de que Rama- gem consiga assumir mais adiante a direção da Polícia Fede- ral. Moraes, no entanto, já deu sinais de que a ação está en- cerrada porque o ato contestado judicialmente foi anulado pelo próprio governo ao revogar a nomeação de Ramagem. O primeiro diagnóstico na cúpula do Supremo foi o de que Moraes pode ter alimentado uma nova crise, jogando novamente bolsonaristas na Praça dos Três Poderes con- tra a Corte. Logo depois, no entanto, Bolsonaro subiu mui- to o tom contra Moraes, o que provocou repúdio e indigna- ção no STF. O Estado apurou que inicialmente o presiden- te não planejava escalar José Levi Mello do Amaral Junior para a AGU. Além disso, gostaria que o chefe da Secretaria- Geral da Presidência, Jorge Oliveira – considerado por ele como filho – fosse o substituto de Sérgio Moro. Tanto militares como ministros do STF disseram a ele, porém, que a transferência de Oliveira para o Ministério da Justiça poderia ser interpretada como mais uma forma de blindar o governo. Bolsonaro sempre disse que não abri- ria mão de Ramagem. A sugestão, então, foi a de que ele nomeasse Levi para a AGU e André Mendonça na Justiça. Bolsonaro não conhecia Levi, mas foi informado por Toffoli e por outros ministros de que ele era muito qualifi- cado. Levi é ligado a Moraes e chegou a ser secretário exe- cutivo do Ministério da Justiça quando o magistrado era o titular da pasta, no governo Michel Temer (2016 a 2017). Kim Kataguiri Por unanimidade, Corte derruba restrições a LAI Toffoli atuou por saída jurídica para nomeação de Ramagem ] BASTIDORES: Tânia Monteiro e Vera Rosa BOMBOU NAS REDES! GOVERNO EM RISCO “Qual a necessidade de esconder tanto esses exa- mes?”, sobre a Justiça, conforme pedido do ‘Estado’, ter da- do 48 horas para Bolsonaro apresentar testes da covid-19. Deputado federal (DEM-SP) l O Supremo Tribunal Federal derrubou ontem trechos da Medi- da Provisória 928, decretada em março pelo governo Jair Bolsona- ro para restringir a Lei de Acesso à Informação (LAI). Por unanimi- dade, os ministros concordaram com o relator, Alexandre de Mo- raes. Segundo ele, a publicidade dos atos da administração públi- ca só poderá ser excepcionada “quando o interesse público as- sim determinar”. A MP previa que, durante o período de vigên- cia do estado de calamidade pú- blica por causa da pandemia, ór- gãos federais poderiam ignorar prazos de respostas a pedidos de informações enviados por LAI. “Qual a razoabilidade de, durante a pandemia, se restringir o aces- so a informação? Quase 100% das informações são dadas onli- ne, não há a mínima necessidade dessa restrição”, disse Moraes. / PAULO ROBERTO NETTO » CLICK. Aglomerações em agências da Caixa, como esta, em Ibiúna, preocupam o Bandeiran- tes, que detecta aumento de gente nas ruas em to- do o interior de SP. COLUNA DO ESTADÃO GABRIELA BILO/ESTADÃO–13/8/2019 Suspensa. Decisão de Moraes impediu nomeação de Ramagem na PF %HermesFileInfo:A-5:20200501: O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2020 Política A5 ELIANE CANTANHÊDE Opresidente Jair Bolsonaro deu uma de Jair Bolsonaro: fingiu que foi, mas não foi. Moldado pelos generais e pela asses- soria direta não ligada ao “gabinete do ódio”, ele reagiu com moderação e rapidamente ao revogar a nomea- ção de Alexandre Ramagem para a Po- lícia Federal, que havia sido suspen- sa pelo Supremo, mas, à tarde, man- dou recados sobre a independência entre Poderes e no fim da quarta-fei- ra já avisava que mudaria tudo. Por quê? “Quem manda sou eu.” Antes de embarcar para Porto Ale- gre, para mais uma solenidade mili- tar, Bolsonaro admitiu ontem: “Quase tivemos uma crise institucional. Fal- tou pouco”. Ou seja, o presidente pen- sou seriamente em desobedecer uma decisão do Supremo, descartando a re- gra de que “decisão judicial não se dis- cute, cumpre-se” – e, se for o caso, re- corre-se. Se o presidente agora não pensa em outra coisa senão em nomear Rama- gem como diretor-geral da PF, o mun- do político parecia se dividir. A primei- ra reação, assim que Alexandre de Mo- raes suspendeu a posse, foi de amplo apoio à decisão do ministro do Supre- mo. Ontem, começaram as ressalvas. Pelo twitter, o ex-presidente Fernan- do Henrique disse que “os choques en- tre poderes não ajudam a democracia” e opinou: “Acho que cabe ao PR (presi- dente) nomear o diretor da PF”. No centro do embate entre Supre- mo e Planalto, ou entre Moraes e Bolso- naro, está o confronto entre, de um la- do, o dispositivo de que é “atribuição exclusiva do presidente”, a nomeação de ministros e do diretor-geral da PF e, do outro, os princípios de “impessoali- dade, moralidade e interesse público”. Há margem, portanto, para questio- nar a decisão de Moraes. Quem interdi- ta a discussão é Bolsonaro, ao fazer um ataque pessoal a um ministro do Supre- mo, dizendo que a decisão de Moraes foi “política” e que ele foi indicado pa- ra a função por ser amigo do presiden- te Michel Temer. Bolsonaro interrom- peu, assim, a possibilidade de um deba- te entre sua atribuição exclusiva e o critério de impessoalidade. Trabalhou contra ele próprio e atraiu nova avalan- che de críticas para ele e de manifesta- ções em defesa de Moraes e do STF. Há outra questão importante, como alerta o ex-ministro da Justiça e do Ita- maraty Aloysio Nunes Ferreira, tuca- no como FH. O problema não seria o presidente exigir acesso aos relatórios de inteligência, mas sim às investiga- ções judiciárias. Bolsonaro tem razão quando diz que a PF integra o Sistema Brasileiro de Inteligência e, se seus relatórios já po- dem ser encaminhados à Abin, órgão de assessoramento direto ao presiden- te, por que não poderiam ser divididos com o próprio presidente? Isso, po- rém, não significa ampliar esse acesso do presidente, ou de qualquer pessoa, ao conteúdo de investigações sigilosas determinadas pelo Judiciário. Isso é outra coisa, muito diferente. Relatórios de inteligência con- têm informações da atuação explíci- ta da PF nas fronteiras, no combate ao crime organizado e no tráfico de armas, drogas e pessoas, que podem ser importantes na definição de es- tratégias do governo. Já as investiga- ções judiciais são sobre organiza- ções, pessoas, aliados ou adversá- rios do presidente. Logo, poderiam não ter uso de interesse público, mas sim político e até pessoal nas mãos do presidente – qualquer pre- sidente. O mais grave, assim, é o que Moro expôs à nação no seu celular: a inten- ção de Bolsonaro de intervir em in- vestigações da PF contra “dez a do- ze deputados bolsonaristas”. Não tem nada a ver com inteligência nem segurança nacional, mas com o mais comezinho interesse político de salvar a pele de aliados. É isso o que baseia a decisão de Moraes e vai alimentar o inquérito sobre Bolso- naro e Moro. E pode ter mais... E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHEDE ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOSHá margem para discutir a decisão do STF, mas Bolsonaro trabalhou contra ele próprio Planalto revê decisão de divulgar vídeo de reunião O ministro Celso de Mello, rela- tor do inquérito aberto no Su- premo Tribunal Federal (STF) para investigar as denúncias de Sérgio Moro contra o presiden- te Jair Bolsonaro, deu cinco dias para que o ex-ministro da Justiça preste depoimento. Ao anunciar sua exoneração do car- go, na sexta-feira passada, Mo- ro acusou Bolsonaro de interfe- rir politicamente nos trabalhos da Polícia Federal para obter in- formações sigilosas – o presi- dente nega. O inquérito foi aberto na se- mana passada, a pedido da Pro- curadoria-geral da República. O objetivo é apurar se foram co- metidos os crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administra- tiva, prevaricação, obstrução de justiça, corrupção passiva privilegiada, denunciação calu- niosa e crime contra a honra. O ex-ministro da Justiça afir- mou, em entrevista à revista Ve- ja publicada ontem, que vai apresentar à Justiça provas das acusações contra Bolsonaro. “As provas serão apresentadas no momento oportuno, quan- do a Justiça solicitar”, disse. O ex-ministro da Justiça afir- mou ainda que os ministros do governo sabem quem está falan- do a verdade. “Ele (Bolsonaro) sabe quem está falando a verda- de. Não só ele. Existem minis- tros dentro do governo que co- nhecem toda essa situação e sa- bem quem está falando a verda- de”. Na entrevista, Moro enu- mera derrotas no governo, co- mo o projeto anticrime apresen- tando por ele, além da transfe- rência do Coaf para o Ministé- rio da Economia, para afirmar que “o combate à corrupção nunca foi prioridade neste go- verno”. / R..M.M PANDEMIA DO CORONAVÍRUS Rafael Moraes Moura Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA A juíza Ana Lúcia Petri Betto decidiu ontem dar mais 48 ho- ras para que o presidente Jair Bolsonaro entregue à Justiça Federal de São Paulo “os lau- dos de todos os exames” reali- zados para verificar se foi con- taminado ou não pelo novo co- ronavírus. A decisão foi toma- da após o governo enviar on- tem um relatório, assinado por dois médicos da Presidência da República em 18 de março, informando que Bolsonaro es- tava assintomático e havia tes- tado negativo para a doença. Para a magistrada, o documen- to da Presidência não atende “de forma integral” à determina- ção judicial da última segunda- feira. O Estado garantiu no iní- cio desta semana o direito de ob- ter os testes de covid-19 feitos por Bolsonaro. Por decisão da juíza, a União foi obrigada a for- necer “os laudos de todos os exa- mes” feitos pelo mandatário. Bolsonaro já disse que o resul- tado deu negativo, mas se recusa a divulgar os papéis – ontem, o presidente admitiu que “talvez” tenha sido contaminado pelo no- vo coronavírus. Há dois dias, no entanto, o presidente disse que não teve a doença e que não men- te. “Vocês nunca me viram aqui rastejando, com coriza... eu não tive, pô (novo coronavírus). E não minto”, afirmou. O relatório médico apresenta- do pela Advocacia Geral da União (AGU) é assinado pelo as- sistente médico da Presidência, o especialista em ortopedia e traumatologia Marcelo Zeitou- ne, e o coordenador de Saúde da Presidência, o urologista Gui- lherme Guimarães Wimmer. O Estado procurou Zeitou- ne, que disse por telefone que não poderia dar mais detalhes sobre os exames. “Ordens supe- riores”, afirmou. Sobre o fato de Bolsonaro ter procurado um ortopedista para uma suspeita de covid-19, afirmou: “Sou orto- pedista e sou médico. Minha es- pecialidade é ortopedia. Faço parte da equipe.” O governo também queria que o relatório médico fosse mantido sob sigilo por envolver informações consideradas pes- soais do presidente, o que foi ne- gado pela juíza. “A falta de trans- parência é absoluta. A decisão da Justiça mandou juntar resultado de exame. Não há nenhum resul- tado de exame juntado, portan- to, a decisão foi descumprida”, disse o advogado do Estado Afra- nio Affonso Ferreira Neto. Risco. Em resposta à Justiça, a AGU destacou que o relatório médico do mês passado infor- ma que Jair Bolsonaro “vem sen- do monitorado pela equipe médica”, concluindo que “não há, portanto, risco sanitário de contágio/disseminação por par- te do Presidente da República, uma vez que o mesmo não de- monstrou ser, até o presente momento, hospedeiro do novo coronavírus”. “O relatório médi- co atesta os resultados dos exa- mes realizados”, afirma a AGU. Pelo menos 23 pessoas que acompanharam o presidente brasileiro na viagem aos Esta- dos Unidos foram diagnostica- das posteriormente com a doen- ça. Entre eles, auxiliares próxi- mos, como o secretário de Co- municação Social da Presidên- cia da República, Fabio Wajn- garten, e o ministro do Gabine- te de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Depois de questionar sucessi- vas vezes o Palácio do Planalto e o próprio presidente sobre a divulgação do resultado do exa- me, o Estado entrou com ação na Justiça na qual aponta “cer- ceamento à população do aces- so à informação de interesse pú- blico”, que culmina na “censura à plena liberdade de informa- ção jornalística”. A Presidência da República se recusou a fornecer os dados ao Estado via Lei de Acesso à Infor- mação, argumentando que elas “dizem respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, protegidas com res- trição de acesso”. Ao longo das últimas sema- nas, o presidente tem descum- prido orientações da Organiza- ção Mundial da Saúde e do pró- prio Ministério da Saúde, fazen- do passeios pelo Distrito Fede- ral, cumprimentando popula- res e formando aglomerações em torno de sua pessoa. Bolsonaro já minimizou a gra- vidade da pandemia, referindo- se ao novo coronavírus como “gripezinha” e “resfriadinho”. O Brasil encerrou o mês de abril com um total de 5.901 óbitos e 85.380 pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. l Ao mesmo tempo em que tra- va uma disputa judicial para não divulgar os resultados de seus exames, o presidente Jair Bolso- naro afirmou nesta quinta-feira, 30, que “talvez” tenha sido conta- minado pelo coronavírus. “Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, talvez, e nem senti”, afirmou o presidente em entrevista à Rádio Guaíba, de Por- to Alegre. Há dois dias, no entan- to, o presidente afirmou que não teve a doença e que não mente. “Vocês nunca me viram aqui ras- tejando, com coriza... eu não tive, pô (novo coronavírus). E não min- to. E não minto”, afirmou. A decla- ração ocorreu um dia após O Es- tado de S. Paulo garantir na Justi- ça Federal o direito de obter “os laudos de todos os exames” de novo coronavírus feitos pelo pre- sidente da República. l Decisão “A falta de transparência é absoluta. Não há nenhum resultado de exame juntado, portanto, a decisão foi descumprida” Afranio Affonso Ferreira Neto ADVOGADO Viagem. O presidente Jair Bolsonaro visitou QG do Exército durante viagem a Porto Alegre O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que desistiu de divulgar a gravação de uma reu- nião com ministros da qual par- ticipou o então o titular da Justi- ça, Sérgio Moro. Segundo o pre- sidente, no encontro, realizado no dia 14, ele cobrou do ex-juiz da Lava Jato uma posição sobre prisões de pessoas que furaram a quarentena imposta por pre- feitos e governadores para evi- tar a propagação do novo coro- navírus. Bolsonaro considera ilegal esse tipo de detenção. “Não tem nada demais a ma- neira como me conduzi, como me referi ao ministro da Justiça tratando da questão de mulhe- res e senhores sendo algema- dos sem participação dele.” Apesar de ter dito anteontem que divulgaria o vídeo da reu- nião para todos saberem como trata seus ministros, ontem o presidente afirmou ter sido aconselhado a não tornara con- versa pública. “Último conse- lho que tive é não divulgar para não criar turbulência. Uma reu- nião reservada. Então é essa a ideia. Talvez saia, mas por en- quanto não”, disse Bolsonaro pela manhã, em frente ao Palá- cio da Alvorada. O presidente disse ainda que o ex-ministro “deixou a dese- jar” em sua atuação no governo. “Ninguém nega o trabalho de Sérgio Moro na Lava Jato. Um excelente juiz. Mas como minis- tro lamentavelmente deixou a desejar. Até priorizando, privile- giando, o pessoal que estava no Paraná, sem querer desmerecê- los.” / EMILLY BEHNKE Tiro no STF e no pé Celso de Mello dá 5 dias para Moro depor sobre acusações Witzel defende eficácia de isolamento ‘Talvez tenha pegado esse vírus e nem senti’ Bolsonaro não apresenta exames; juíza dá mais prazo Magistrada afirma que relatório entregue pela Presidência não atende determinação judicial e pede todos os laudos de covid-19 FERNANDO ALVES/THENEWS2 Segundo Bolsonaro, objetivo é não gerar turbulência com ex-juiz; gravação teria sido feita no último dia 14 GABRIELA BILO / ESTADÃO–3/2/2020 Ministro do Supremo é o responsável por inquérito aberto após denúncias de ex-ministro contra o presidente Jair Bolsonaro Saída. Sérgio Moro deixou o governo há uma semana Um dos governadores mais ata- cados pelo presidente Jair Bol- sonaro durante a crise do coro- navírus, Wilson Witzel (PSC- RJ) voltou a criticá-lo no Twit- ter ontem de manhã. “São sem- pre discursos raivosos contra al- go ou alguém. Para o presidente tudo é pessoal.” Witzel tam- bém reclamou sobre o fato de Bolsonaro questionar a eficácia do isolamento social. Bolsonaro acusou ontem go- vernadores e prefeitos de não “achatarem a curva” de contá- gio do novo coronavírus e ques- tionou a veracidade dos núme- ros sobre as mortes doença. “O Supremo Tribunal Federal deci- diu, o placar foi a zero, que as medidas para evitar, ou melhor para fazer com que a curva fos- se achatada, caberia aos gover- nadores e prefeitos. Não achata- ram a curva”, disse o presiden- te. / E.B. e CAIO SARTORI %HermesFileInfo:A-6:20200501: A6 Política SEXTA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deve analisar na sessão por video- conferência marcada para 5 de maio os embargos de declara- ção apresentados pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a possibili- dade de modificação do regime inicial de cumprimento da pe- na que foi imposta ao petista no caso do triplex do Guarujá (SP). Lula foi condenado pela Turma em abril do ano passa- do por corrupção passiva e la- vagem de dinheiro, e teve sua pena inicial reduzida, de 12 anos e 1 mês de prisão para 8 anos, 10 meses e 20 dias de re- clusão. Na mesma sessão, se- rão julgados embargos opostos por outros réus da ação e pelo Ministério Público Federal. A força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro denunciou o ex- governador do Estado, Sérgio Cabral, e o “do- leiro dos doleiros”, Dario Messer, por evasão de divisas e lavagem de US$ 303 mil em 2011. O ex-presidente do Banco Prosper, Ed- son Figueiredo Mene- zes, também foi denun- ciado. A denúncia foi apresen- tada perante a 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, comandada pelo juiz Marcelo Bretas. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou ação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para suspender a prorrogação da Co- missão Parlamen- tar Mista de In- quérito das Fake News. A CPI Mista foi instalada em 4 de setembro e em 2 de abril, requerimento de prorrogação para até 24 de outubro foi lido na Mesa Diretora e enviado para publicação. Ricardo Galhardo Em meio à pandemia do novo coronavírus, nove centrais sindicais vão fazer hoje uma celebração online do 1º de maio. Pela primeira vez, a da- ta não será comemorada com shows e discursos para milha- res de pessoas nas ruas. A co- memoração do Dia do Traba- lho também deve ficar marca- da pela presença de antigos adversários políticos no mes- mo palanque virtual. Embora algumas delas devam fazer discursos fortes contra o pre- sidente Jair Bolsonaro, essa não deve ser uma bandeira única do evento. Confirmaram presença os ex-presidentes Fernando Hen- rique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os pre- sidentes do Senado, Davi Alco- lumbre (DEM-AP), e da Câma- ra, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Fernando Haddad (PT), além dos governadores Flavio Dino (PC do B), do Maranhão, e Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Também devem participar entidades da socieda- de civil, líderes sindicais, artis- tas brasileiros e até o ex-baixis- ta do Pink Floyd, Roger Waters. Os organizadores comparam a amplitude dos setores políti- cos representados com o movi- mento pelas Diretas Já, na déca- da de 1980, que reuniu desde Lu- la e Leonel Brizola até Tancre- do Neves e Ulysses Guimarães. “É um 1º. de maio para ques- tionar as políticas de emprego, saúde e salário mas também pa- ra colocar a questão da defesa da democracia. Não podemos deixar o Bolsonaro tratar o País como o quintal da casa dele, on- de os filhos andam de patinete e fazem o que bem entendem. E sabemos que o movimento sin- dical sozinho não vai fazer essa mudança. Por isso decidimos ampliar”, disse o secretário-ge- ral da Força Sindical, João Car- los Gonçalves, o Juruna. “Se vai ser impeachment, re- núncia ou outra coisa quem vai dizer é a sociedade. Mas este presidente não pode continuar assim”, disse o líder sindical, um dos que compara o movi- mento atual com a Diretas Já. Diante da impossibilidade de realizarem um ato físico, devi- do à pandemia do coronavírus, as centrais optaram por fazer uma transmissão ao vivo pelas redes sociais durante toda a tar- de de hoje. Negociação. O evento começa com uma celebração ecumêni- ca que vai reunir representan- tes de diversas religiões e a par- tir daí vai intercalar apresenta- ções artísticas com discursos políticos. Será a primeira vez que Lula e FHC dividem um pa- lanque, mesmo que virtual, des- de o segundo turno da eleição de 1989, quando o tucano apoi- ou o petista contra Fernando Collor de Mello. A articulação teve percalços. Setores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, questionaram a direção da central sobre a participação em um mesmo ato com Rodrigo Maia e Alcolumbre, segundo eles “inimigos dos trabalhado- res”. Representantes do PSOL, entre eles o ex-presidenciável Guilherme Boulos, decidiram não participar do ato devido à presença da dupla do DEM. Representantes de organiza- ções da sociedade civil como Or- dem dos Advogados do Brasil (OAB), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Associação Brasileira de Im- prensa (ABI) foram convidados e devem participar. Para manter a audiência, fo- ram escalados dezenas de artis- tas. Os cantores Chico César, Zélia Duncan, Otto, Preta Fer- reira, Dexter, Delacruz, Odair José, Leci Brandão, Aíla, Preta Rara, Mistura Popular, Taciana Barros e Francis e Olivia Hime vão se juntar a atores como Dira Paes, Osmar Prado, Maeve Jinkings, Paulo Betty, Fabio As- sunção e Bete Mendes. O ator norte-americano Dany Glover, que já participou de outros eventos da esquerda no brasil e o músico britânico Roger Waters são as atrações in- ternacionais. O ex-baixista do Pink Floyd enviou um vídeo can- tando We Shall Overcome (Nós Devemos Superar, em tra- dução livre), composição do cantor folk Pete Seger, usada na campanha do ex-pré-candidato Democrata à presidência dos EUA Bernie Sanders. Waters virou inimigo da ex- trema-direita brasileira ao es- tampar a frase “Fora Bolsona- ro” em shows no Brasil em 2018. O 1º. de Maio unificado será organizado pelas novemaiores centrais sindicais do país, CUT, Força, UGT, CTB, CSB, CGTB, Nova Central, In- tersindical e Publica sob o lema “Saúde, Emprego e Renda. Em defesa da Democracia. Um no- vo mundo é possível”. Thaíse Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO / MANAUS O presidente da Assembleia Le- gislativa do Estado do Amazo- nas (Aleam), Josué Neto (PRTB), aprovou ontem a aber- tura de um processo de impea- chment do governador do Ama- zonas, Wilson Lima (PSC), e do vice-governador, Carlos Almei- da (PTB). Com o sistema de saú- de colapsado devido à covid-19, o Amazonas pode ser o primei- ro Estado do País a ter um gover- nador afastado do cargo duran- te a pandemia mundial. O documento foi protocolado na Aleam pelo Sindicato dos Médicos do Amazonas (Si- meam) na terça-feira passada. O presidente da entidade, Mário Viana, afirmou que o pedido es- tava baseado na “negligência e omissão do Estado” em relação à saúde, incluindo a responsabili- dade pelas mortes de cidadãos e profissionais que atuam no com- bate ao novo coronavírus. Durante a sessão virtual, o pre- sidente da Assembleia, Josué Ne- to, afirmou que a sua decisão era imparcial, sem o intuito de favo- recer ou desfavorecer alguém politicamente, e que engavetar esse pedido de afastamento do governador seria “suspeito” e “antidemocrático”. “Estamos vi- vendo a maior tragédia humani- tária do Estado do Amazonas causada certamente por uma in- capacidade administrativa do governo do Estado”, disse. Para que o pedido de afasta- mento seja aprovado, é necessá- rio o voto de 16 dos 24 deputa- dos estaduais. Na terça-feira se- rá criada uma comissão espe- cial para que os deputados avali- em a denúncia e elaborem um relatório final pela admissibili- dade ou não do pedido de im- peachment. O governador Wilson Lima disse, por meio de nota, que o momento é “inoportuno” e que a decisão “está contaminada por questões eleitorais”. “Uma decisão solitária do pre- sidente da Assembleia que não contribui em nada para vencer- mos essa guerra de todos os amazonenses contra a pande- mia. O inimigo é um só. Nunca foi tão importante unir forças. É isso que a sociedade nos co- bra. Enquanto pessoas morrem e o mundo se comove com a pandemia no Amazonas, o presi- dente da Assembleia não pode apresentar esse tipo de propos- ta para debatermos”, disse. RIO l Protesto PGR denuncia Aécio Neves por corrupção Teich participa da Brazil Conference CHARLES PLATIAU/REUTERS–2/3/2020 CASO TRIPLEX Quinta Turma do STJ marca julgamento de recurso de Lula para o próximo dia 5 Promotor arquiva ação contra Geraldo Alckmin O promotor Silvio Marques, da promotoria de Defesa do Patri- mônio Público do Ministério Público de São Paulo, arquivou de investigação sobre suposta prática de improbidade admi- nistrativa pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), rela- cionada à diferença de paga- mento de bonificação a servi- dores da Fazenda e da Educa- ção. Segundo o promotor, “a fixação de porcentuais diver- sos para fins de pagamento da bonificação por resultados en- tre servidores não caracteriza ato de improbidade”. IMPROBIDADE Força-tarefa denuncia Cabral por lavagem R$ 1,7 MI é o valor, convertido em reais, que teria sido desviado e lava- do pelo esquema Gilmar nega suspensão de adiamento da CPI FAKE NEWS A juíza Ana Luísa Schmidt Ra- mos, da 1.ª Vara da Fazenda Pública de Florianópolis, sus- pendeu qualquer novo paga- mento relativo à aquisição fei- ta pelo governo de Santa Cata- rina de 200 respiradores por R$ 33 milhões. Além disso, blo- queou valor igual da empresa escolhida pelo Executivo para fornecer os equipamentos. “Há sério e fundado risco de não receber os respiradores no modelo contratado”, afirmou a juíza na decisão. O governo do Estado informou que estuda as medidas cabíveis. Juíza suspende compra de respiradores em SC SAÚDE TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO–1/5/2019 1º de Maio junta rivais políticos de Bolsonaro “Se vai ser impeachment, renúncia ou outra coisa quem vai dizer é a sociedade. Este presidente não pode continuar assim.” João Carlos Gonçalves SECRETÁRIO-GERAL DA FORÇA SINDICAl Celebração deve unir FHC, Lula, Ciro e Maia, além de nove centrais sindicais e artistas Shows. No ano passado, comemoração do Dia do Trabalho foi no Vale do Anhangabaú (SP) ISAC NÓBREGA/PR–25/7/2019 Processo. O governador do Amazonas Wilson Lima (PSC) Presidente do Legislativo estadual abre processo acatando argumento de ‘negligência’ no combate à pandemia da covid-19 Governador do Amazonas é alvo de pedido de impeachment Paulo Roberto Netto Fausto Macedo A Procuradoria-Geral da Repú- blica denunciou o deputado fe- deral Aécio Neves (PSDB-MG) por corrupção passiva e lava- gem de dinheiro em esquema de propinas de R$ 65 milhões das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez. Os crimes teriam ocorrido entre os anos de 2008 e 2011, período em que o parlamentar exerceu os car- gos de governador de Minas Ge- rais e senador. A denúncia toma como base a delação de Marcelo Odebrecht e investigações da Polícia Fede- ral, que no mês passado concluí- ram que o tucano recebeu R$ 30 milhões do grupo Odebrecht e outros R$ 35 milhões da Andra- de Gutierrez. Os valores seriam, segundo a denúncia da PGR, “contraparti- da pelo exercício de influência e negócios da área de energia de- senvolvidos em parceria” com as construtoras, como os proje- tos do Rio Madeira, as Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, pela Ce- mig e Furnas. Defesa. Em nota, a defesa de Aécio afirma que a notícia da de- núncia causa “surpresa e indig- nação”. “Não há e nunca houve qualquer crime por parte de Aé- cio Neves”, afirma. “Foi demonstrado exaustiva- mente que as conclusões alcan- çadas pelo delegado são menti- rosas e desconectadas dos pró- prios relatos dos delatores e, o que é mais grave, das próprias investigações da PF”, diz o tex- to assinado pelo advogado Al- berto Zacharias Toron. A nota prossegue afirmando que é “tamanho o absurdo do presente caso que os próprios relatos dos delatores desmen- tem-se entre si. Basta lê-los.” A defesa do deputado critica o que chamou de “vazamento” do conteúdo do inquérito, que tramita em sigilo. “Depois, mais uma vez a Defe- sa vê-se surpreendida com vaza- mentos sistemáticos de inquéri- to sigiloso, sendo certo que nem mesmo os advogados tive- ram acesso à referida denúncia para rebatê-la.” Toron afirma ainda confiar que o poder Judi- ciário chegará à conclusão de que não há crime cometido pelo deputado. O ministro da Saúde, Nelson Tei- ch, será entrevistado em novo painel da 6.ª edição da Brazil Con- ference at Harvard & MIT: ‘Pre- sente e Futuro da Saúde no Bra- sil’. O encontro anual, organiza- do pela comunidade brasileira de estudantes em Boston, tem co- bertura exclusiva do Estado. A entrevista com o novo minis- tro será no dia 4, às 10h. Também no dia 4, a Brazil Conference dis- cute, às 19h, ‘Como empresas po- dem contribuir com a sociedade’. O evento anunciou também pai- nel que debaterá os dilemas éti- cos da sociedade brasileira no dia 5, às 15h. Hoje, a Brazil Conferen- ce debate jovens brasileiros com projetos de impacto social, às 17h. %HermesFileInfo:A-7:20200501: O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2020 A7 Internacional ONU estima que epidemia empurrará meio bilhão de volta para pobreza PANDEMIA DO CORONAVÍRUS WASHINGTON Funcionários dos serviços de in- teligência dos EUA se queixa- ram ontem de que a Casa Bran- ca vem colocando pressão para que agências de espionagem americanas encontrem provas de que a China criou e espalhou intencionalmente o coronaví- rus. Os relatos, publicados on- tem pelo New York Times e pelo Washington Post, mostram que Donald Trump intensificou seu esforço para culpar o governo chinês
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