Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RU I G AU D ÊN C IO Edição Porto • Ano XXXI • n.º 10.964 • 1,70€ • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos Desconfinamento segue com incertezas Multas até 350 euros por andar sem máscara nos transportes públicos • Futebol só deve regressar nos estádios do Euro 2004 • Governo quer crianças de famílias de risco de volta à escola mais cedo • Guião para a nova normalidade • O que pode a fotogra a perante o medo sobre a cidade? • Destaque, 2 a 24 e Editorial • Ípsilon • Acompanhe em publico.pt/coronavirus 1.º DE MAIO Trabalhadores em alerta com novos riscos que a covid-19 trouxe ao mundo laboral ISNN-0872-1556 2 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 DESTAQUE CORONAVÍRUS Governo abre porta mas diz “fique em casa” “Não terei vergonha em dar um passo atrás”, garantiu António Costa, vincando que cada passo em frente dependerá do anterior. Devagarinho, para chegar longe. E daqui a 15 dias, tudo pode mudar Liliana Borges P rolongar os apoios sociais e económicos excepcionais em vigor, cobrar coimas entre os 120 e os 350 euros para quem não usar máscara nos trans- portes públicos e garantir que as empresas continuam em tele- trabalho até Junho. Precisamente dois meses depois de ter sido diagnostica- do o primeiro caso de covid-19 em Portugal, o Governo está preparado substituir o estado de emergência pelo estado de calamidade. Mas “o risco mantém-se elevado e a pandemia mantém-se activa”, avi- sou o primeiro-ministro. António Costa disse que não é de dar passos atrás, mas avisou que não hesitará “se for necessário”. “Não terei vergonha. Este é um percurso que temos de fazer com em conjunto.” Entre as regras que permanecem intocáveis estão a obrigatoriedade do isolamento pro láctico, sendo que a sua violação continua a ser cri- me de desobediência, sublinhou o primeiro-ministro. Além disso, a proi- bição dos ajuntamentos com mais de dez pessoas e o dever de recolhimen- to continuarão “para novos e velhos, com ou sem factores de risco”. No lugar do quadro legal excepcional do estado de emergência, o primeiro- ministro apelou ao “dever cívico” para evitar que “o comportamento de um mês estrague os duros sacrifí- cios dos dois meses anteriores”, até porque ainda que o estado de emer- gência tenha acabado, “o comporta- mento do vírus é o mesmo”. Se no início do surto o isolamento dos portugueses começou de uma forma voluntária, os últimos dias revelam uma crescente inquietação, identi cou o primeiro-ministro. “Estas últimas semanas têm parecido uma eternidade”, confessou António Costa, antes de explicar o porquê “de o Presidente da República ter enten- Razões para reabertura? Menor risco de contágio e menos casos P ara justificar a reabertura gradual de vários sectores de actividade, António Costa invocou uma série de indicadores que provam a evolução “positiva” da pandemia em Portugal. Desde logo, a evolução do famoso R (número de pessoas que cada infectado contagia em média), que nos últimos cinco dias voltou a estar abaixo de 1 em todo o país, depois de na semana anterior ter ultrapassado este limite na região de Lisboa e Vale do Tejo. Também a diminuição dos novos casos de infecção, dos internamentos de doentes com covid-19, nomeadamente em unidades de cuidados intensivos, além da estabilização do número de óbitos, foram determinantes para suportar a decisão de levantamento progressivo do confinamento. Com gráficos a ilustrar a evolução dos indicadores, o primeiro-ministro começou por enfatizar que o risco de transmissibilidade da infecção, depois de ter chegado a ser de 2,5 (cada pessoa infectada contagiava em média “duas pessoas e meia”), era de “0,92” no país nos últimos cinco dias, voltando a estar abaixo de 1 em todas as regiões. De igual forma, o número de internados — que atingiu o máximo em 15 de Abril —, foi decrescendo, à semelhança do que aconteceu com os internamentos em cuidados intensivos, que registaram uma quebra consistente. As unidades de cuidados intensivos têm tido taxas de ocupação entre 50 a 65 por cento e “só 50 a 60% são doentes covid”, especificou António Costa. Do total de pacientes com covid-19, 95% estão a ser seguidos em casa e tem-se observado uma “estabilização” no número de óbitos. Na Europa, acrescentou, só o Chipre, a Lituânia e a Polónia fazem mais testes de diagnóstico do que Portugal, que ultrapassou já os 300 mil exames laboratoriais — e apenas 5,5% das pessoas testadas estavam infectadas. Alexandra Campos 25.045 989 1519 RecuperadosMortes 540 Situação em Portugal Em 30 Abril às 13h30 Fonte: DGS Novos casos diários Casos confirmados Novos casos 0 500 1000 301 Abr.2 Mar. Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 3 de espectáculos terão de esperar até 1 de Junho para abrir portas. O PÚBLI- CO tentou obter junto do Ministério da Cultura informação adicional acer- ca do modo como serão xadas as lotações nestes espaços, mas o gabi- nete de Graça Fonseca escusou-se a adiantar para já quaisquer detalhes. Quanto aos apoios sociais que esta- vam indexadas ao estado de emer- gência, como as moratórias das ren- das, despejos e proibição de corte de bens essenciais, António Costa garan- tiu que irão vigorar “mais um mês para além do estado de emergência”. Já os apoios que estavam a ser pagos a 66% aos pais que têm a seu cargo crianças com menos de 12 anos pro- longar-se-ão até ao nal do ano lecti- vo, ou seja, até 26 de Junho. Apesar da abertura de serviços como cabeleireiros, barbeiros e comércios de pequena dimensão, haverá serviços essenciais que con- tinuarão de portas fechadas, à excep- ção de casos de urgência. É o caso dos dentistas. Mas Costa espera que o alargamento do atendimento pos- sa acontecer “tão rapidamente quan- to possível”, depois de de nidas as normas técnicas pelas autoridades de saúde. As medidas aprovadas ontem tra- duzem-se em vários decretos e pro- postas de lei. Marcelo Rebelo de Sousa promulgou ainda esta noite o decreto das restrições de circulação até segunda-feira. Numa reunião de mais de sete horas, o Conselho de Ministro aprovou também uma alte- ração à Lei Orgânica do Governo, de modo a garantir a cobertura legal às funções de coordenação regional assumidas por cinco secretários de Estado no combate e prevenção da pandemia. Até agora, estas acções estavam cobertas pelos decretos de execução do estado de sítio e com o m do estado de emergência foram várias as vozes de constitucionalistas e líderes partidários preocupadas com a inconstitucionalidade das decisões. “A força das pessoas não se pode esgotar toda agora”, pede o primeiro- ministro. Até porque mesmo com a urgência de saída e a calamidade à porta, a mensagem continua a mesma de há dois meses: “Fique em casa”. com São José Almeida, Sofia Cor- reia Baptista, Leonete Botelho, Luciano Alvarez e Álvaro Vieira liliana.borges@publico.pt JOÃO RELVAS/LUSA Número de testes realizados versus casos positivos Fonte: Plano de Desconfinamento, Conselho de Ministros 11.929 662 5,5% 3 25 0 4000 8000 12.000 16.000 1 Mar. 1 Abr. 27 Amostras Positivos 0 400 800 1200 2 Mar. 1 Abr. 29 Número de casos internados 9 1302 968 Taxa de ocupação de UCI 2 Mar. 1 Abr. 27 0% 25% 50% 75% 100% normal”, vincou. “É isso que deve- mos a todos os que já perderam a vida, aos que estão contaminados, às famílias dos que perderam entes que- ridos, a quem tem pessoas infectados e aos pro ssionais de saúde que dão o seu melhor”, declarou o chefe do Governo. Também para as vítimas e familia- res, Costa deixou uma mensagem (e novidade). Além do regresso das cele- brações de missas, as cerimónias fúnebres vão poder decorrer sem limitação de presença defamiliares. “Tem sido das coisas mais difíceis”, desabafou, admitindo que em alguns casos “as regras têm sido excessivas”. Até porque “o acomodar da dor tam- bém diminui a capacidade de resis- tência a uma luta que vai ser muito prolongada”. Por isso, e como condições essen- ciais para que os sacrifícios não tenham sido em vão, o Governo decretou que será obrigatório manter o distanciamento social no mínimo de dois metros, evitar deslocações necessárias e o uso obrigatório de máscara em transportes públicos, escolas, comércio e outros locais fechados com múltiplas pessoas (até agora era apenas recomendado). Numa nota de tranquilidade, o pri- meiro-ministro garantiu que houve um reforço na produção de materiais de protecção e de desinfectantes e que o cenário de prateleiras vazias não será mais um problema. E desta vez há coimas. Quem não usar más- cara nos transportes públicos poderá pagar de 120 a 350 euros pela contra- venção, uma vez que nos transportes é mais difícil cumprir o distancia- mento social, explicou. Tal como tinha sido revelado nos últimos dias, a reabertura dos espa- ços será feita em três fases: a primeira arrancará já na segunda-feira, 4 de Maio; a segunda acontece dia 18; e a terceira entra em vigor a 1 de Junho. Na cultura, o descon namento também se fará em três actos. Biblio- tecas e arquivos reabrem na segunda- feira, com lotação reduzida e distan- ciamento físico, e também as livrarias com porta aberta para a rua, “inde- pendentemente da sua área”, podem voltar já a receber clientes. No dia 18, regressam museus, monumentos, palácios, galerias de arte e salas de exposições, nos quais vigorará a mes- ma lotação máxima de cinco pessoas por cada cem metros quadrados. Cinemas, teatros, auditórios e salas António Costa reuniu-se com o Presidente em Belém antes de anunciar as medidas ao país N o Parlamento, na apresenta- ção do relatório sobre o segundo período do estado de emergência, o ministro da Administração Interna e a ministra da Saúde ouviram críticas sobre os critérios usados na libertação de reclusos no âmbito da prevenção da covid-19. O social-democrata Carlos Peixoto apontou que “só os 14 presos liberta- dos por indulto tinham problemas de saúde” e que o “Governo arranjou uma fórmula mágica para pôr cá fora 132 vezes mais”, acrescentando que se tratou de uma “absurda proeza” e uma “bizarria” que o Governo “deve explicar”. André Ventura, do Chega, seguiu a mesma linha: “A nal, sim, tivemos presos perigosos cá fora e a cometer crimes”, disse, questionan- do os números destes reclusos assim como a situação dos migrantes insta- lados em hostels em Lisboa. Foi o socialista Pedro Delgado Alves que fez o contraditório, ao garantir que as medidas “aprovadas não são um expediente para resolver um pro- blema” de sobrelotação das prisões. Já o líder da bancada do CDS regis- tou a discrepância entre o “auto-elo- PSD e Chega questionam libertação de reclusos gio” das descrições do relatório e a realidade. Telmo Correia quis saber se existirão sanções para quem não usar máscaras na próxima fase, mas cou sem resposta por parte do ministro da Administração Interna. PCP e PEV mantiveram o discurso de que o estado de emergência era dispensável. A ecologista Mariana Silva duvida se na próxima semana “vai ser possível cumprir o distancia- mento social nos transportes públi- cos”. João Oliveira, líder da bancada comunista, lembrou que são precisas “medidas de saúde pública e de res- posta social aos pequenos empresá- rios, agricultores, trabalhadores”. Já Pedro Filipe Soares, líder da bancada do BE, advertiu que o estado de emer- gência “não legitima atropelos à lei”, nomeadamente os “despedimentos ilegais e a selvajaria nas relações labo- rais”. No outro pólo, a líder da banca- da do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que “este continua a ser o momento da luta sanitária”, e não de arriscar. No encerramento do debate, a ministra da Saúde descreveu que se passou de “80 mil testes no mês de Março para 144 mil testes no período deste estado de emergência [duas semanas]”, disse. Só João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, cri- ticara a falta de estratégia para os testes, além da omissão da disponibi- lização de dados à comunidade cien- tí ca, questão a que Marta Temido não respondeu. Nos debates das propostas de lei sobre apoios aos municípios, a direi- ta deixou avisos ao Governo de que não pode continuar a levar ao Parla- mento autorizações de despesa, seja para o Estado central seja para os municípios, sem começar a explicar onde e como o dinheiro é gasto. Esse foi um dos argumentos usados na discussão do diploma que permite às autarquias adiarem as contribui- ções anuais que fazem para o Fundo de Apoio Municipal (FAM) e que as autoriza a recorrer ao Fundo Social Municipal para as despesas de com- bate à covid-19 – quando este fundo é de verbas para competências des- centralizadas. Maria Lopes Carlos Peixoto, do PSD, apontou o dedo ao Governo dido e o Governo ter apoiado” não renovar o estado de emergência. O processo de transição do estado de emergência para o estado de cala- midade “tem riscos”, admitiu, mas a reabertura da economia era “neces- sária”, justi cou. Acompanhado por grá cos, curvas e números, Costa garantiu ao país que estão reunidas as condições para rea- brir a economia, mas o relato da apa- rente estabilização da evolução da pandemia foi sempre acompanhado pelo alerta de que um passo em falso pode conduzir ao desastre. E desengane-se quem fala em regresso à normalidade. “Todos temos de ter consciência que até haver uma vacina disponível no mer- cado e acessível a todos nós, ou até haver um tratamento, vamos ter de continuar a viver sem a nossa vida 4 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 DESTAQUE CORONAVÍRUS Marcelo dá luz verde a restrições de circulação até domingo O Presidente da República assinou ontem à noite o decreto do Governo que determina a limitação à circulação entre hoje e domingo, ao abrigo do estado de emergência (até às 24h de amanhã) e da situação de calamidade que se segue. Diário da pandemia a mia O QUE JÁ POSSO FAZER AGORA? GUIÃO PARA VOLTAR À NORMALIDADE O estado de emergência termina sábado, mas o vírus não desapareceu. O Governo montou um plano para a reabertura da economia e para o regresso das pessoas à rua, que apresentou esta quinta-feira. Haverá esplanadas, museus, livrarias, mais lojas abertas e idas ao cabeleireiro. Tudo com regras novas. Enquanto não houver vacina, haverá máscara em muitos sítios. O estado de emergência vai terminar sábado à meia-noite. Já posso sair de casa? O Governo decidiu reduzir as restrições ao confinamento. E com a abertura de algumas lojas e outras actividades, surge também o dever cívico de recolhimento, que apela à responsabilidade individual de cada um, em vez dos deveres geral e especial de recolhimento, que vigoram no estado de emergência. Todos podem sair, mesmo as crianças e as pessoas de mais idade? Sim. Na apresentação do plano de desconfinamento, o primeiro-ministro sublinhou que este dever cívico de recolhimento se aplica a crianças, jovens, adultos e idosos, independentemente de pertencerem a grupos de risco. No entanto, há uma excepção: continua a existir o dever de confinamento profiláctico para quem seja diagnosticado com covid-19 e o crime de desobediência. Isso significa que no domingo posso ir dar um passeio à praia? Depende. Até domingo à meia-noite, vigora a proibição de mudar de concelho. O Governo decidiu impor para este fim-de-semana prolongado a mesma restrição que usou na Páscoa, proibindo viagens entre concelhos. Além disso, existem algumas praias que têm tido o acesso vedado. Quando posso ir fazer surf? O acesso às praiaspara certas actividades é retomado a partir de segunda-feira. Entre estas actividades, estão os desportos náuticos, entre os quais está o surf. Os desportos individuais podem ser retomados ao ar livre a partir deste dia, mas sem utilização de balneários ou piscinas. Posso ir jantar a casa de amigos? O primeiro-ministro não falou desta situação específica, mas deixou algumas indicações que podem ser úteis na hora de decidir. Explicou que há um dever cívico de recolhimento e que, a partir de 4 de Maio, entra em vigor a proibição de ajuntamentos com mais de dez pessoas. E mesmo assim, “deve manter-se a regra do afastamento”. E posso visitar os meus pais? Se viverem noutro concelho, não o poderá fazer neste domingo, diz o Governo. Depois disso, aplicam-se as regras gerais. Cada um tem de assumir a sua responsabilidade, no cumprimento do dever cívico de recolhimento, e não podem juntar mais de dez pessoas. Quando os meus filhos voltam à escola? Depende da idade deles. As creches abrem a 18 de Maio, na mesma data, reabrem as escolas para os alunos do 11.º e 12.º anos (entre as 10 e as 17 horas), o pré-escolar retoma a 1 de Junho. Aqui será obrigatório o uso de máscara (excepto crianças em creches e jardins de infância). Os alunos do básico e do 10.º ano não voltam a ter aulas este ano lectivo e as universidades têm autonomia para decidir. Quando posso ir à esplanada? A 18 de Maio, abrem os restaurantes, as pastelarias, os cafés e as esplanadas. No entanto, tal como na maior parte das situações, haverá limitações. Nos restaurantes, a lotação máxima é de 50% e o horário de funcionamento será até às 23 horas. Os cabeleireiros vão abrir brevemente? Sim. Na segunda-feira, estarão a funcionar, mas por marcação prévia e com condições específicas que serão conhecidas entretanto. As manicures e similares também podem abrir, assim como livrarias, stands de venda automóvel. Na mesma data, abrem também as lojas até 200 metros quadrados, a partir das 10h e com uso de máscara. No entanto, se este tipo de lojas se situar em centros comerciais, não abrem já. Só a 1 de Junho. Tenho de andar sempre de máscara? Não. Só é obrigatório em situações específicas: lojas, transportes públicos, serviços públicos e escolas (para alunos do 11.º e 12.º e todas as pessoas que estiverem em ambiente escolar). A não utilização de máscara nos transportes públicos dará direito a multa, de 120 a 350 euros. Tenho de continuar a manter a distância de dois metros em relação a outras pessoas? Esta regra continua a vigorar mesmo com a reabertura de várias actividades. A lavagem das mãos e a etiqueta respiratória também se mantêm. Quando posso ir ao cinema? A 1 de Junho abrem os cinemas, teatros e auditórios, com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico. Quando volto ao trabalho? Depende. Os trabalhadores de bens essenciais mantiveram-se a trabalhar mesmo durante o estado de emergência. Os que tiveram de ficar em casa para acompanhar os filhos ficaram em regime de teletrabalho ou com apoio público (igual a 66% do salário). O teletrabalho vai manter-se como regra em Maio. A partir de 1 de Junho, começa o teletrabalho parcial, com “horários desfasados ou equipas em espelho”. Posso ir para qualquer lado de metro? Sim. Mas tem de ir de máscara. E contar com uma limitação máxima de dois terços da capacidade total. Quando volta a haver missas? No fim-de-semana de 30/31 de Maio, pode voltar a haver celebrações religiosas de qualquer confissão. As regras em que essas celebrações poderão acontecer ainda vão ser definidas. Quando posso voltar ao estádio de futebol? Tão cedo não vai ser possível. As competições oficiais da 1.ª Liga de Futebol e Taça de Portugal serão retomadas a 30/31 de Maio, mas os jogos serão à porta fechada. Posso ir já passar férias em Maio? Pode. Mas conte com algumas restrições. O acesso às praias passa a ser possível a partir de 4 de Maio para desportos náuticos. No entanto, para acesso às praias para férias, o Governo ainda está a falar com os municípios e as capitanias. Tinha bilhete para o Nos Alive em Julho. Vai acontecer? Ainda não há uma resposta clara. Para já, estão proibidos eventos que juntem mais de dez pessoas. O calendário de retoma do Governo não fala sobre festivais e a situação ainda vai ser analisada no próximo Conselho de Ministros. Mas António Costa já sugeriu que “há enorme probabilidade de que não se realizem”. Marta Moitinho Oliveira PAULO PIMENTA Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 5 Mais de 36 mil testes a idosos O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) revelou ontem que o programa de despistagem de covid-19 em instituições sociais de apoio a idosos realizou, até ao momento, mais de 36 mil testes em 1350 instituições. Operações stop A GNR e a PSP avisam que estão a realizar, desde hoje e até ao próximo dia 4 de Maio, segunda-feira, operações de intensificação do patrulhamento, sensibilização e fiscalização, em todo o território para garantir o cumprimento das normas do estado de emergência. Apoio aos media O Governo aprovou em Conselho de Ministros o decreto-lei que estabelece um regime excepcional e temporário de aquisição de espaço para publicidade institucional aos media, no montante de 15 milhões de euros, no âmbito da pandemia de covid-19. O plano de descon namento aprovado pelo Governo e a passagem do estado de emergência para o estado de calamidade levantam várias questões a constitucionalis- tas como Jorge Bacelar Gouveia, José de Melo Alexandrino e Vital Moreira. O primeiro-ministro tem usado a expressão “descer um degrau no nível de contenção”, mas os juristas lem- bram que não se trata da mesma esca- la: não se desce um degrau, antes se “muda a natureza do regime”. A diferença fundamental é que em estado de calamidade (ou em qual- quer outro previsto na Lei de Bases da Protecção Civil ou da Saúde) não se podem suspender direitos consti- tucionais, mas apenas restringi-los, de forma bem fundamentada e deli- mitada no tempo e no espaço. Para Bacelar Gouveia, que também é especialista em questões de seguran- ça, as medidas apresentadas excedem a gura do estado de calamidade, pois todas as restrições de direitos, liber- dades e garantias só podem ser feitas pelo Parlamento ou pelo Governo, no âmbito de autorização legislativa, que não aconteceu. “António Costa fala de estado de calamidade em sentido polí- tico, e não legal”, diz. José de Melo Alexandrino, da Facul- dade de Direito de Lisboa, concorda e acrescenta que, na ausência dessa aprovação, grande parte das medidas apresentadas “não são restrições, são recomendações”: “O Governo está a trabalhar de limbo em limbo, com medidas que não são estritamente jurí- dicas, mas recorrendo ao soft law”. “A distinção-chave aqui é justamen- te entre restrição do exercício e sus- pensão do exercício”, escreveu no sábado, no blogue Causa Nossa, Vital Moreira, admitindo que a distinção “pode não ser ser fácil” em situações limite. Nesse caso, “o mais aconselhá- vel é renunciar a tais restrições ou repetir o estado de emergência”. Veja- mos as dúvidas em concreto: 1. Dever cívico de recolhimento Peritos desconhecem o “dever cívico de recolhimento” — com o m do estado de emergência, acaba o dever geral de recolhimento domiciliário, mas o Governo determi- na o dever cívico de recolhimento. Algo que os constitucionalistas não sabem o que é, pois não existe essa gura jurídica. “É um pouco como o dever cívico de votar — e vê-se o resul- tado”, nota Bacelar Gouveia. 2. Restrições à circulação entre concelhos até ao dia 4, um dia além do estado de emergência — A Lei de Bases da Proteção Civil prevê restrições à circulação, mas no “estri- to respeito pelo princípio da necessi-dade e da proporcionalidade”, como lembra Vital Moreira. Bacelar Gouveia acrescenta que têm de ser fundamen- tadas, proporcionais e restritas geo- gra camente: “Onde essa restrição não se impõe, não se aplica”. 3. Con namento pro láctico de infectados — “Só pode ser determi- nada por decisão judicial”, diz Bacelar Gouveia, lembrando que equivale à prisão domiciliária. Vital Moreira avi- sa: “A privação da liberdade pessoal, que a Constituição cuidou de regular exaustivamente, não pode decorrer de fundamentos tão indirectos.” 4. Proibição de ajuntamentos com mais de 10 pessoas — “É de duvidosa legalidade”, considera Ale- xandrino. “Põe em causa o direito fundamental de reunião e manifesta- ção”, acrescenta Bacelar Gouveia. 5. Liberdade de culto — com o m do estado de emergência, a liberdade de celebrar cerimónias religiosas é reposta. Há uma lacuna no plano do Governo, pois só prevê “celebrações comunitárias de acordo com regras a de nir entre DGS e con ssões religio- sas” a partir de 30 de Maio. José Ale- xandrino e Bacelar Gouveia concor- dam: se alguma igreja celebrar missa antes, não está a violar a lei. Leonete Botelho Confinamento profilático de infectados não se basta com o estado de calamidade, diz Vital Moreira Plano de desconfinamento CONDIÇÕESMEDIDASDATA Maio Maio Confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância activa Dever cívico de recolhimento domiciliário Proibição de eventos ou ajuntamentos com mais de dez pessoas Lotação máxima de cinco pessoas/100m2 em espaços fechados Funerais: com a presença de familiares Cerimónias religiosas: celebrações comunitárias de acordo com regras a definir entre DGS e confissões religiosas Lotação de 2/3 Exercício profissional continua em regime de teletrabalho, sempre que as funções o permitam Teletrabalho parcial, com horários desfasados ou equipas em espelho Junho Balcões desconcentrados de atendimento ao público (repartições de Finanças, conservatórias, etc.) Comércio local: lojas com porta aberta para a rua até 200m2 Cabeleireiros, manicures e similares Livrarias e comércio automóvel, independentemente da área 11.º e 12.º anos ou 2.º e 3.º anos de outras ofertas formativas (10h-17h) Equipamentos sociais na área da deficiência Creches (com opção de apoio à família) Bibliotecas e arquivos Museus, monumentos e palácios, galerias de arte e similares Prática de desportos individuais ao ar livre Futebol: competições oficiais da 1.ª Liga de Futebol e Taça de Portugal Cinemas, teatros, auditórios, salas de espectáculos Lojas com porta aberta para a rua até 400m2 ou partes de lojas até 400 m2 (ou maiores por decisão da autarquia) Restaurantes, cafés e pastelarias/esplanadas Lojas com área superior a 400m2 ou inseridas em centros comerciais Creches/Pré-escolar/ATL Lojas do Cidadão Uso obrigatório de máscara/ Higienização e limpeza Uso obrigatório de máscara/Atendimento por marcação prévia Escolas: uso obrigatório de máscaras (excepto crianças em creches e jardins de infância) Com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico Sem utilização de balneários nem piscinas • Lojas: uso obrigatório de máscara/ /funcionamento a partir das 10h para as lojas que reabrem • Cabeleireiros e similares: por marcação prévia e condições específicas • Restaurantes: lotação a 50%, funcionamento até às 23h e condições específicas Condições gerais: • • • • • Maio Maio Maio Maio Maio Maio Maio REGRAS GERAIS TRANSPORTES PÚBLICOS TRABALHO SERVIÇOS PÚBLICOS COMÉRCIO E RESTAURAÇÃO ESCOLAS E EQUIPA- MENTOS SOCIAIS CULTURA DESPORTO Disponibilidade no mercado de máscaras e gel desinfectante Higienização regular dos espaços Lotação máxima reduzida Higiene das mãos e etiqueta respiratória Distanciamento físico (2m) Decisões reavaliadas a cada 15 dias Fonte: Plano de desconfinamento, Conselho de Ministros PÚBLICO Junho Junho Junho Maio Maio Maio 30-31 30-31 4 4 4 4 1 Junho 1 1 1 1 4 4 18 18 18 4 6 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 DESTAQUE CORONAVÍRUS Comércio de rua pronto para abrir na segunda-feira e cabeleireiros já estão esgotados Cabeleireiros e actividades similares vão abrir a 4 de Maio e boa parte tem agenda esgotada para as próximas semanas. Dimensão das lojas a abrir nesta primeira fase é limitada a 200 metros quadrados C omo se esperava, as lojas com porta aberta para a rua e com áreas até 200 metros quadrados (m2) podem retomar actividade na segunda-feira. Também os cabeleireiros e actividades simi- lares, as livrarias e o comércio auto- móvel podem iniciar actividade, independentemente da área, uma decisão ontem aprovada pelo Governo. Boa parte do comércio local já está em condições de abrir segunda-feira, adianta ao PÚBLICO o presidente da Confederação do Comércio e Servi- ços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, apesar de a assinatura dos protocolo de auto-regulação, a assi- nar com a Direcção-Geral da Saúde, ter sido adiada de ontem para ama- nhã. Os comerciantes já conhecem as principais regras a cumprir, nomea- damente a disponibilização de álcool gel, o uso de máscaras e os limites de ocupação de cinco pessoas (inicial- mente eram quatro) por cada 100 metros quadrados. Alguns sectores, como o dos cabe- leireiros e similares (onde é necessá- Rosa Soares rio marcação prévia, que em boa parte deles já está totalmente assegu- rada para as próximas semanas), mas também o comércio de automóveis ou as lojas de óptica, já assinaram os protocolos de auto-regulação, adian- tou o presidente da CCP. Deste primeiro grupo de lojas auto- rizadas a abrir estão excluídas as que se localizam em centros comerciais, mesmo com dimensão até 200 m2, que vão permanecer fechadas até ao nal do mês, por permitirem um maior ajuntamento de pessoas. O Plano de Descon namento do Governo estabelece que as lojas com porta aberta para a rua até 400 m2 ou partes de lojas até 400 m2 (ou maiores, por decisão da autarquia) poderão abrir a partir de 18 de Maio. Já as lojas com área superior a 400 m2 inseridas em centros comerciais, e os restaurantes, os cafés e as paste- larias/esplanadas só poderão abrir a 1 de Junho. Nas condições de abertura das lojas está a obrigatoriedade de uso de máscara comunitária e o funcio- namento só a partir das 10h, bem como as limitações na lotação, para assegurar que se cumprem as regras de distanciamento social. Falta ainda conhecer, em detalhe, as obrigações de higiene e segurança a cumprir. Já os restaurantes poderão ter uma lotação a 50%, bem mais do que os 30% que chegou a ser apontado, e vão funcionar, no máximo, até às 23h. Há ainda outras condições espe- cí cas a de nir. Sobre o protocolo de auto-regula- ção, o primeiro-ministro, António Costa, referiu ontem: “No próximo sábado, iremos assinar, no Palácio da Ajuda, um acordo desse tipo com o sector do comércio e também com a associação de cabeleireiros e bar- beiros de Portugal, tendo em vista de nir as normas de protecção indi- vidual, de higienização, de distancia- mento adequados a cada uma dessas actividades e o mesmo iremos fazer antes de 18 de Maio também com o sector da restauração”, revelou. “Relativamente às condições de rea- bertura da actividade da restauração a partir do dia 18 de Maio, nós ire- mos, entretanto, concluir o trabalho que estamos a desenvolver, em par- ticular com a Ahresp [Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal], tendo em vista de nir as normas de higienização, protec- ção e segurança nos espaços de res- tauração”. Sobre este aspecto, no sector da restauração está a ser preparado um guia de boas práticas pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, que já criou alguma ten- são com alguns empresários. Segundo Ana Jacinto, a secretária- geral da associação, existem donos derestaurante que já estão a com- prar divisórias de acrílico para os seus estabelecimentos ou a tomar outras medidas, algo que diz ser “precipitado”, uma vez que o refe- rido guia ainda está a ser avaliado pelo Governo. E a expectativa era poder divulgar o documento até ao nal desta semana, assim que tives- se luz verde da Direcção-Geral da Saúde, da ASAE e de outras entida- des governamentais que o estão a analisar. O que não aconteceu. “No guia que apresentámos ao Governo não falamos de métricas da redução da capacidade nem de acrí- licos a separar o que quer que seja. O que dizemos é que o empresário vai ter que reorganizar o layout das suas salas, de modo a criar regras de segu- rança”, explicou Ana Jacinto ao PÚBLICO, esta semana. A responsável da Ahresp não des- carta a possibilidade de o Governo vir a de nir essas métricas, mas, para isso, será necessário aguardar. Já os serviços públicos desconcen- trados, como repartições de Finanças e conservatórias, também reabrem na próxima segunda-feira, embora o atendimento seja realizado com mar- cação prévia e com o obrigatório uso de máscara. As Lojas do Cidadão só devem vol- tar a abrir portas a partir de 1 de Junho. ADRIANO MIRANDA Iremos assinar um acordo com o comércio e também com a associação de cabeleireiros e barbeiros de Portugal António Costa Primeiro-ministro rsoares@publico.pt Livrarias, stands de automóveis e cabeleireiros foram escolhidos para arrancar reabertura de comércio Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 7 Para andar nos transportes públicos a máscara é obrigatória C om as novas regras que ditam os passos na direcção da nor- malidade, o Governo decidiu que os transportes públicos passam a ter sua lotação limi- tada a 2/3 do máximo da sua capacidade. Além disso, de acordo com o que a rmou ontem o primeiro- ministro, passa a ser obrigatório “o uso de máscaras de protecção comu- nitária” pelos passageiros, “para evi- tar a sua contaminação e a contami- nação alheia”, e haverá “normas muito exigentes em matérias de lim- peza e higienização” por parte das empresas. Estas medidas entram em vigor já na segunda-feira, dia em que já have- rá, de novo, a obrigatoriedade de validação dos acessos e reposição das barreiras. Na Área Metropolitana de Lisboa, por exemplo, os títulos mensais já podem ser carregados desde o dia 26, rede Multibanco incluída, o que, diz a AML, é recomendável para evitar “formação de las ou concentração em locais de venda” e minimizar “os contactos pessoais directos”. De acor- do com a resolução do Conselho de Ministros, haverá dispensadores de gel desinfectante e os autocarros terão uma cabina para o condutor. Por parte da Fertagus, a empresa a rmou ontem que vai retomar os horários normais a partir de segun- da-feira, e reforçar as horas de aber- turas das bilheteiras. Já a Barraquei- ro frisou à Lusa: “Se for necessário reforçar a oferta, nós vamos preci- sar de apoio do Governo”. “Estamos a trabalhar com prejuízo. Aquilo que vamos fazer é continuar a assu- mir a oferta que estamos a dar, que é de cerca de 40/45% nas áreas metropolitanas e, fora, de cerca de 20%”, referiu, adiantando que “está a ser negociada com as autoridades de transportes uma oferta estabili- zada nas áreas metropolitanas”. Máscaras no Metro do Porto Já o Metro do Porto destaca que have- rá o “reforço da oferta em toda a rede, promovendo o distanciamento social”, um “forte reforço das opera- ções de desinfecção com produtos licenciados para a eliminação de vírus e bactérias” e a presença “de um efec- tivo alargado de piquetes de limpeza em prontidão”. Sobre a questão das máscaras, a empresa diz que a “generalidade das máquinas de vending disponíveis” vão ter máscaras à venda, e em alguns locais pode haver também “luvas descartáveis e embalagens de álcool gel”. Além disso, “como medi- da de prevenção adicional”, o metro terá dispensadores de álcool gel para as mãos, isto nas estações de maior procura. E aproveita para dei- xar conselhos aos passageiros: “Uti- lize sempre a máscara de protecção individual nos acessos às estações”, “evite viajar nas horas de ponta” (viaje preferencialmente depois das Luís Villalobos MIGUEL MANSO Haverá de novo a obrigatoriedade de validação dos acessos 10h e antes das 17h), e “mantenha uma distância de segurança face aos outros clientes”, entre outros. Fortes quebras Com uma forte quebra de receitas em Março e Abril, as empresas de trans- portes públicos tiveram de se ajustar às medidas do estado de emergência, que incluíam a imposição de não superar a lotação além dos 33,3%, de modo a “garantir a distância de segu- rança entre passageiros”. O que, regra geral, foi atingido através do ajustamento da oferta, que se mante- ve acima da procura. Houve, aliás, uma forte retracção do número de passageiros a partir do momento em que as escolas foram encerradas, a 16 de Março. Nessa data, a procura do metro de Lisboa caiu 69%, de acordo com os dados cedidos pela empresa ao PÚBLICO. No Metro do Porto, a queda foi de 80% no dia 17 — último dia em que os validadores estiveram ligados. Este m-de-semana, no entanto, ainda há fortes restrições à circulação e, por parte da CP, foram suprimidos a maioria dos comboios Alfa Pendular e Intercidades. Transportes públicos passam a ter lotação máxima de 2/3. Medidas entram em vigor já na próxima segunda-feira luis.villalobos@publico.pt O regime de teletrabalho vai continuar a ser a regra durante o mês de Maio para quem desempenha funções que são compatíveis com o trabalho digital à distância. Só a partir de 1 de Junho haverá um regresso parcial aos locais de traba- lho. A decisão foi con rmada pelo primeiro-ministro, António Costa, na apresentação do plano de descon- namento ontem aprovado em Con- selho de Ministros. A partir de 1 de Junho, o teletra- balho passará a ser parcial. Os tra- balhadores poderão voltar às empresas e serviços, mas com horá- rios desfasados ou através de orga- nização de equipas em espelho, para prevenir a propagação do sur- to do novo coronavírus. Com este calendário, as empresas têm um mês para preparar o regresso parcial e faseado dos funcionários aos locais de trabalho, de forma a garantir a implementação das regras de segu- rança e higiene, que exigem também uma limpeza regular dos espaços. Os trabalhadores, do privado ou da administração pública, podem optar pelo regime de teletrabalho sem que seja necessário o acordo do empregador, desde que a prestação à distância seja compatível com as suas funções. A excepção vai para os serviços essenciais, como funcioná- rios em estabelecimentos de ensino que promovam o acolhimento dos lhos dos pro ssionais de saúde, das forças e serviços de segurança e de socorro, incluindo os bombeiros voluntários e das forças armadas, bem como de gestão e manutenção de infra-estruturas essenciais. Quem está em regime de teletra- balho tem direito ao salário por inteiro e não pode aceder ao apoio previsto para quem tem de car em casa com os lhos devido ao encer- ramento das escolas. Por outro lado, se um dos pais estiver em regime de teletrabalho, o outro não poderá aceder a este apoio. Segundo uma sondagem da Pita- górica, divulgada no nal do primei- ro período de estado de emergência pelo JN e TSF, quase metade dos por- tugueses estava em teletrabalho, sendo que desse universo 23% tinha rendimentos mais baixos e 68% salá- rios mais elevados. Teletrabalho continua a ser a regra no mês de Maio Pedro Crisóstomo PAULO PIMENTA Regresso parcial aos locais de trabalho só depois de 1 de Junho pedro.crisostomo@publico.pt Nenhuma empresa no sector dos transportes consegue ter, de um momento para o outro, uma cabina fechada Rui CaleirasPresidente do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes (Sitra) 8 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 DESTAQUE CORONAVÍRUS Mulher infectada detida Uma mulher de 76 anos infectada com o novo coronavírus foi detida na quarta-feira pela PSP de Ovar, pelo crime de desobediência. Estava a circular na rua sem máscara. A detenção aconteceu no âmbito das acções destinadas a verificar o cumprimento do confinamento domiciliário. Se não existirem condições de segurança, directores não reabrirão as escolas E stá feito o anúncio o cial sobre o reinício das aulas presenciais a 18 de Maio para o 11.º e 12.º ano, que abrangerá também os colégios, e ainda para os últi- mos dois anos dos cursos pro- ssionais, o que, neste último caso, é novidade. Falta agora ver como se irá concretizar, se a evolução da pande- mia assim o permitir. E esse é um trabalho que terá de ser “feito escola a escola, porque todas são diferentes e as realidades mudam de uma para outra”, alerta o presidente da Asso- ciação Nacional de Dirigentes Escola- res (ANDE), Manuel Pereira. Este responsável deixa uma certe- za: “Nenhum director se responsabi- lizará por abrir uma escola se não estiverem reunidas as condições para garantir a segurança de alunos e pro- fessores”. Isto passa por terem todo o material de protecção individual e de higienização dos espaços que foi apresentado como indispensável. E também pela veri cação de que as condições físicas dos próprios esta- belecimentos escolares permitem manter as regras de distanciamento social que continuarão em vigor. Antes de se prosseguir, uma nota para uma das novidades do dia. Para além dos alunos do 11.º e 12.º ano também voltarão a ter aulas presen- ciais os que frequentam os últimos Clara Viana Alunos do 11º e 12º anos voltam em Ma dois anos dos cursos pro ssionais, cenário que só ontem foi anunciado por António Costa. Serão mais cerca de 70 mil alunos a voltar à escola. Até agora, o Governo indicara que estes alunos poderiam concluir a sua for- mação à distância. Não foram apre- sentadas razões para esta mudança. “Distanciamento de dois metros entre cada um. Lotação máxima de dez pessoas por 100m2. Nas escolas? Como?”, questiona o director da Escola Secundária Camões, João Jai- me, que no ensino diurno tem 1050 alunos entre o 10.º e o 12.º ano. O res- ponsável deste liceu centenário de Lisboa, que se encontra em obras e onde os alunos estavam a ter aulas em contentores, adianta que está à espe- ra do decreto com as medidas de exe- cução para o que foi anunciado ontem, para tentar perceber melhor como será a sua “operacionalização”. Mas dúvidas não faltam. Não poden- do estar mais de dez alunos em sala de aula, poderá signi car ter de “divi- dir a turma em três partes. Qual será então a carga lectiva semanal por dis- ciplina?”. “Também não foi referido nada sobre os funcionários e os pro- fessores em situação de risco [que estão dispensados deste regresso]. Quem é que os vai substituir?”. O PÚBLICO já questionou o Ministério da Educação a este respeito, mas ain- da não chegaram respostas. O presidente da ANDE está convic- to de que a “a maior parte das escolas O regresso às aulas presenciais também vai abranger os alunos dos dois últimos anos dos cursos pro ssionais. Serão mais 70 mil a voltar às escolas encontrará soluções pací cas” para este regresso, mas acentua que outras, como as grandes secundárias das cidades, irão “ter muitos problemas” e que o ME tem de estar disponível para se encontrarem “soluções alter- nativas”, caso se comprove que exis- tem estabelecimentos de ensino sem condições de segurança. Por agora, está con ante que essa será a atitude por parte da tutela. E também, estan- do” habituados a trabalhar no o da navalha”, que os directores consegui- rão encontrar “soluções” para asse- gurar as aulas presenciais: “Somos parte da solução e não do problema e este regresso poderá ajudar a que se crie alguma tranquilidade entre os alunos, pais e na comunidade.” Professora de Português do 12.º ano na secundária de Barcelos, Fátima Gomes será uma das docentes que vão C om a abertura xada para o dia 18 de Maio, as creches — particulares e do sector social — terão duas semanas para se prepararem para voltar a aco- lher crianças. O primeiro pas- so é garantir que todos os pro ssionais destes equipamentos são submetidos ao teste de despistagem do novo coro- navírus. É uma operação que, segun- do Lino Maia, presidente da Confede- ração Nacional das Instituições Parti- culares de Solidariedade Social (CNIS), que detém metade das cerca de 2300 creches existentes no país, já foi posta em marcha por várias autarquias. “A desinfecção dos espaços tam- bém já começou nalguns casos a ser feita. Creio que, nas próximas duas semanas, será possível fazer a forma- ção dos trabalhadores para que tudo corra bem e para que as famílias que ainda mantêm alguma apreensão sintam a con ança de que precisam para voltarem a pôr os seus lhos nas creches”, acrescentou Lino Maia. O Ministério do Trabalho, Solida- riedade e Segurança Social (MTSS) vai reunir-se, já no início da próxima semana, com os representantes des- tes equipamentos para de nir um manual de boas práticas capazes de minimizar o risco de contágio nestes equipamentos. Sublinhando que as crianças constituem o grupo de menor risco para a covid-19, o primei- ro-ministro adiantou ontem que deverão ser privilegiadas “actividades ao ar livre” não só nas creches, mas também nos ATL (actividades de tem- pos livres) e no pré-escolar, cuja aber- tura está programada para o dia 1 de Junho, bem como os equipamentos sociais na área da de ciência. A partir do dia 18 de Maio, o recurso às creches será facultativo, isto é, os pais que optem por se manter em casa com as crianças até aos três anos de idade continuarão a poder bene ciar do apoio excepcional às famílias que lhes garante 66% do salário. “Apesar de permitirmos a reabertura das cre- ches a partir do dia 18 de Maio, temos Profissionais de creches e jardins-de-infância testados bem consciência de que é daquelas actividades que têm gerado movimen- to mais contraditórios: tanto recebo muitos apelos para que, com a máxi- ma urgência, procedamos à reabertu- ra das creches como recebo súplicas para que não o façamos, porque é um risco para as crianças. Precisamente por isso, consideramos útil haver um período de transição em que, entre os dias 18 de Maio e 1 de Junho, as creches estão abertas, mas mantendo-se os apoios às famílias, para que estas pos- sam experimentar e ganhar a con an- ça de que precisam para voltarem a colocar as suas crianças nas creches”, precisou Costa, explicando que, de 1 a 26 de Junho, dia em que termina o ano lectivo, esse apoio será concedido só a famílias com crianças em idade de frequentar o básico e cujas aulas presenciais não serão retomadas. As crianças das creches e jardins- - de-infância não serão obrigadas a usar máscara. Quanto aos pro ssio- nais, têm duas semanas para receber formação quanto às normas de higie- ne, protecção e segurança a adoptar no dia-a-dia. “São duas semanas importantes, que nos permitirão esclarecer todas as dúvidas e tomar as medidas necessárias, disse Susana Batista, presidente da Associação de Creches e Pequenos Estabelecimen- tos de Ensino Particular. Natália Faria Creches abrem a 18 de Maio Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 9 Câmara de Lisboa está a estudar distribuição de máscaras A Câmara de Lisboa está a estudar a distribuição de máscaras reutilizáveis aos utentes de transporte público. A informação foi adiantada ontem pelo presidente da câmara, Fernando Medina, durante a reunião pública do executivo. Levantada suspensão da pesca em rios ao fim-de-semana Com o fimdo estado de emergência, a pesca em “águas interiores não-marítimas”, que estava supensa, pode ser retomada, desde que cumpridas as recomendações de saúde. A medida saiu ontem em Diário da República. DGS diz que há um caso de criança com reacção rara A Organização Mundial de Saúde está a estudar a possibilidade de a reacção inflamatória rara que foi já identificada em crianças de vários países poder ser uma consequência tardia da covid-19. Em Portugal há um caso em análise, confirmou a DGS. 13 utentes de “O Lar do Comércio”, de Matosinhos, morreram por covid-19. Há 89 infectados, fez saber a instituição DIÁRI DA QUARENTENA, 45 Um dia, we will meet again 23 de Março de 2020. De manhã, dei os parabéns à minha mãe, perguntei-lhe o que ia fazer no dia de anos, com Portugal fechado a sete chaves. Ela ia continuar a ler Dostoievski e Amis. A realidade dela parecia-me diferente: no Reino Unido, onde vivo, ainda se circulava livremente por todo o lado. Na minha rua, o barbeiro Sam continuava a dizer-me “good morning”, com aquele sotaque bristoliano arrastado. A argelina da lavandaria continuava com aquele ar de 14 horas diárias de trabalho. O sioterapeuta israelita continuava a vigiar a rua como se fosse da Mossad. As estudantes mini-Billie Eilish continuavam a caminhar para a universidade. Só que foi o último dia da ida para o trabalho, para a rua, para a vida pública. Às 20h, Boris Johnson apareceu em declaração curta e grave ao país, ele que não fazia grave. O Reino Unido, a mãe das democracias liberais, iria, pela primeira vez na História, fechar as portas. O coronavírus conseguiu algo que nem a Luftwa e alguma vez tinha imaginado: um país inteiro em casa. A partir daí, as rotinas alteraram-se. Reuniões de trabalho substituídas por videoconferências. Ficámos todos a saber um pouco mais dos outros ao entrar assim pelas casas dentro. Quem lê, o que lê. Quem decora as paredes, como decora. Quem tem crianças pequenas que desrespeitam chamadas sérias de adultos. Um vislumbre de Ricardo Arruda-Bunker hiperintimidade numa nova era de separação. Há colegas que imediatamente cam sem nada para fazer. Seguem para furlough, nova palavra de 2020, igual ao lay-off português. O Estado, de repente, paga tudo: salários, transportes, empresas. Há outros como eu que cam mais ocupados do que nunca. Trabalhar em casa ajuda na produtividade, desmotiva na falta de olhar e trocar. Trabalham-se ainda mais horas, sem se notar, talvez para se escapar à realidade. Ensaiam-se novas formas de contactar clientes, mudam-se estratégias. Adapta-se. Lá dizia o Darwin: “Survival of the fittest”. Há colegas que se queixam de depressão nas crianças. Há outros que se lançam em regimes de desporto olímpico dentro de portas. Lê-se mais, vêem-se mais lmes, escapa-se para breves voltas nos parques, numa valsa calculada de dois metros de distância. A realidade torna-se uma hiper-realidade. Todos os dias há conferências de imprensa. Contam-se os mortos como uma estatística abstracta. Pouco se sabe deles. Que pais, mães, avós, eram eles? Que vida tinham? Que projectos tinham? Os noticiários são um boletim clínico, em que se está sempre ao lado de um ventilador. Foi você que pediu dor gratuita? O próprio Boris entra nos cuidados intensivos, ressuscita qual Cristo, agradece à neozelandesa Jenny e ao português Luís pelo cuidado médico. O país venera o National Health Service. As noites de quinta-feira são dedicadas a bater palmas aos médicos e enfermeiros, os novos ícones. A rainha Isabel II, com as suas nove décadas de experiência, disse ao país que um dia nos encontraremos todos de novo. Um dia tudo voltará ao normal. Um dia. Gestor, residente em Bristol, Reino Unido DANIEL ROCHA io às aulas presenciais cviana@publico.pt voltar à escola. “Não encontro sentido nesta abertura, não a acho necessária, e temo que crie uma desestabilização nada aconselhável neste período”. O Governo justi cou este regresso por parte dos alunos do 11.º e 12.º ano com a necessidade de se prepararem para os exames nacionais. “Mas já estão a ter aulas à distância e têm idade para o estudo autónomo”, contrapõe Fáti- ma Gomes, que aponta ainda para um país que é profundamente diferente. Como garantir, por exemplo, que os alunos vão estar o “mínimo tempo possível nas escolas”, segundo o acon- selhado por Costa, se em muitos sítios existe apenas um autocarro, que leva os alunos de manhã para a escola e os traz de volta às suas freguesias à tar- de?, questiona. A regra aplica-se a todos. Todos os intervenientes numa diligência processual terão de estar separados por dois metros de distân- cia. Sejam eles os juízes que integram o mesmo colectivo, procu- radores ou advogados que partilham a mesma bancada. A reivindicação foi feita por juízes e procuradores e foi apoiada pela Direcção-Geral de Saúde que impediu assim que o Ministério da Justiça conseguisse impor apenas um metro de distância entre os vários intervenientes. O PÚBLICO apurou que este é um dos poucos pontos que já está assen- te para o regresso dos tribunais à normalidade possível durante a pandemia de covid-19. Falta perce- ber como vai ser possível aplicar a regra às inúmeras salas dos tribu- nais cuja dimensão impede um jul- gamento presencial. O plano de descon namento anunciado esta quinta-feira à tarde pelo primeiro- ministro António Costa não faz qual- quer referência à forma como se processará o regresso à normalida- de nos tribunais. Na entrevista dada pelo chefe do Executivo à RTP, Cos- ta também não falou do assunto. Contactado pelo PÚBLICO, o Minis- tério da Justiça não respondeu como os tribunais vão funcionar após o estado de emergência. Não se sabe até quando é que os prazos judiciais se vão manter suspensos. O PÚBLICO sabe, contudo, que na última semana a directora-geral da Administração da Justiça, Isabel Namora, se reuniu várias vezes com representantes dos conselhos supe- riores da Magistratura e dos Tribu- nais Administrativos e Fiscais e da Procuradoria-Geral da República. Após a falta de entendimento sobre as regras a aplicar foi realizada uma reunião presencial no Campus da Justiça, em que participou um ele- mento da Direcção-Geral da Saúde. E o nó desfez-se com o perito em saúde pública a defender o mesmo Tribunais sem data para voltar à normalidade que juízes e procuradores: a regra do distanciamento é dois metros e não de um metro como pretendia o ministério. Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, admitiu-se a hipóte- se de serem colocados acrílicos frontais e laterais em salas onde não seja possível manter os dois metros de distância e ainda não se sabe se as máscaras serão ou não obrigató- rias. É certo que a limpeza será reforçada e que as salas serão desin- fectadas após cada diligência. Os funcionários judiciais deverão começar a trabalhar por turnos, para não congestionar as instalações. Logo, os juízes com quem trabalham só poderão fazer as diligências pre- senciais quando os o ciais de justiça estiveram sicamente nos tribunais, o que condicionará a agenda dos juízes e dos procuradores. Nos tribu- nais superiores a regra continuará a ser o teletrabalho. As normas que de nirão as novas regras de funcio- namento dos tribunais deverão ser publicadas nos próximos dias. A Associação Sindical de Juízes Portugueses reagiu com estranheza ao plano de descon namento anun- ciado por António Costa. “Não con- sigo compreender que os jogos de futebol sejam mais importantes que a justiça”, observa o presidente da associação, Manuel Ramos Soares, numa alusão ao facto de o chefe do Governo ter recebido esta semana vários dirigentes desportivos e de oplano de descon namento ter medidas previstas relativamente às competições o ciais da 1.ª Liga de Futebol e à Taça de Portugal. Mas sobre os julgamentos não existe uma única palavra. Mariana Oliveira A área da Justiça, tutelada por Francisca Van Dunem, não foi abordada por Costa com os jornalistas mariana.oliveira@publico.pt 10 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 DESTAQUE CORONAVÍRUS Açores deixa de pagar quarentena a não residentes O Governo Regional dos Açores vai deixar, a partir de 8 de Maio, de suportar os custos das quarentenas obrigatórias dos não residentes que chegam ao arquipélago, e que têm de as cumprir num hotel. Passam a ter de ser os próprios a pagar. Governo quer crianças de famílias de risco de regresso à escola mais cedo Medida é para crianças acompanhadas por comissões de protecção por maus tratos físicos ou psicológicos, negligências graves ou violência doméstica. Irão para a escola os menores em situação mais grave O Governo quer que as crian- ças entre os três e os 18 anos a viver em famílias de risco regressem à escola antes do nal do ano lectivo. Esse regresso antecipado – inde- pendentemente de a criança frequen- tar o pré-escolar, os vários ciclos do ensino básico ou o secundário – deve- rá ser decidido como medida de pro- tecção e vigilância das crianças em situação de maior perigo. A medida será aplicada para quatro situações: maus tratos físicos ou psi- cológicos, negligências graves ou vio- lência doméstica e poderá abranger milhares de crianças. O con namento prolongado das crianças com pais negligentes ou mal- tratantes começou a ser “uma grande preocupação”, disse ao PÚBLICO fon- te o cial ligada ao sistema de promo- ção e protecção. “Com o passar do tempo, começámos a ver que é difícil ter a informação do que se está a pas- sar.” A medida está numa “fase avan- çada” e poderá ser anunciada “rapi- damente”, depois de ter sido um assunto central em reuniões entre os ministérios da Educação e da Segu- Ana Dias Codeiro rança Social e a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protec- ção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) pelo menos no último mês, disse ao PÚBLICO a mesma fonte. “Estas crianças não são vistas por ninguém porque estão sempre em casa e mesmo nas aulas virtuais”, durante as quais o professor poderia aperceber-se de alguns sinais de ins- tabilidade ou sofrimento, “alguns alunos não aparecem e os professores não sabem o que lhes aconteceu”, continua a mesma fonte. O sistema de promoção e protec- ção e escolas “têm vindo a pensar nisto” porque estão “cada vez mais preocupadas”, acrescentou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional dos Directores de Agrupa- mentos e Escolas Públicas. “Esses miúdos preocupam-nos. O Ministério da Educação tem-nos reco- mendado nas reuniões para denun- ciarmos às comissões de protecção” eventuais situações e “para chegar- mos a todos”, acrescenta Filinto Lima. Há alunos que deixaram de aparecer nas aulas virtuais e pais que não atendem o telefone quando são contactados pela escola. Além da negligência e de poder estar a ser ocultada alguma situação, Com o estado de emergência, as famílias deixaram de ser acompanhadas pelas equipas técnicas das CPCJ mostram que em 2018 quase 35 mil crianças estavam a ser acompanha- das, das quais 28 mil estavam com os pais. Nos últimos cinco anos, só a negligência e a violência doméstica representaram cerca de 55% dos contextos de perigo. Todas as CPCJ foram chamadas a pronunciar-se sobre os processos que acompanham para identi carem quais as crianças que deveriam ser abrangidas por este “auxiliar de pro- tecção”. Há umas crianças que estão mais em perigo do que outras, subli- nha a mesma fonte o cial. “São as comissões de protecção que sabem ver quais os processos que suscitam maior preocupação. Às vezes estas medidas de apoio junto dos pais são medidas provisórias, com muitas reti- cências”, acrescenta. Porém, os pro ssionais estão com algumas reticências sobre se estão estes casos potenciam o insucesso escolar ou eventual abandono, o que também con gura uma situação de perigo, no sistema de protecção, por estar em causa o direito à educação da criança. “Agora à distância, é mais fácil ao aluno esse desaparecimento quando os pais não colaboram connosco”, salienta Filinto Lima. Com o estado de emergência, as famílias deixaram de ser acompanha- das pelas equipas técnicas das comis- sões de protecção de crianças e jovens (CPCJ) em visitas domiciliárias entre- tanto suspensas para a maioria dos casos. E nas situações mais graves em que foram excepcionalmente mantidas as visitas, os pais nem sem- pre abrem a porta com o pretexto do risco do contágio e da obrigatorieda- de de os lhos carem em casa. O PÚBLICO tentou saber junto dos ministérios da Educação e do Traba- lho, Solidariedade e Segurança Social a partir de que data seria aplicada esta medida do regresso à escola de crian- ças em perigo e se se con rmavam que estas crianças seriam colocadas nos estabelecimentos de ensino que permaneceram abertos excepcional- mente para pro ssões impossibilita- das de parar como os pro ssionais de saúde ou as forças de segurança. “Estamos a avaliar vários mecanis- mos para reforço da sinalização e protecção das crianças em risco no momento que vivemos, estando várias situações em análise”, respon- deu o gabinete de imprensa da minis- tra Ana Mendes Godinho. As crianças com medidas aplica- das de apoio junto dos pais represen- tam em média 80% das crianças e jovens acompanhados pelas CPCJ. Os dados mais recentes disponíveis Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 11 Europeu de hóquei cancelado As competições europeias de clubes de hóquei em patins já não serão reatadas na presente temporada e o Campeonato da Europa da modalidade, que deveria realizar-se em França no fim de Julho, também não terá lugar. A decisão foi comunicada pela confederação europeia. Provas-piloto no ciclismo A Federação Portuguesa de Ciclismo revelou que vai iniciar um diálogo com as associações regionais e as equipas profissionais para a retoma da modalidade, contando em Junho realizar duas provas-piloto. O arranque da Volta a Portugal está ainda previsto para 29 de Julho. Praias vão ser mais fiscalizadas A Autoridade Marítima Nacional pede à população para não ir à praia neste fim-de-semana. Esperam-se temperaturas elevadas. Mas haverá um reforço da fiscalização, promete, com o objectivo de “evitar comportamentos de risco” e “salvaguardar a saúde pública”. 20,9 por cento foi quanto caiu o consumo de gasolina em Março DANIEL ROCHA acordeiro@publico.pt Só se jogará o futebol de primeira e a Taça A partir do último m-de-semana de Maio, voltará a haver futebol em Por- tugal. O plano de descon namento revelado ontem pelo Governo prevê a conclusão da I Liga, que ainda tem dez jornadas por disputar, e da Taça de Portugal, cuja nal será discutida entre FC Porto e Ben ca. De acordo com o plano anunciado por António Costa, todos os encontros decorrerão à porta fechada e é provável que nem todos os estádios da I Liga recebam jogos. No que diz respeito ao futebol, a II Liga cou de fora deste plano de descon namento, sendo que conti- nuam interditas todas as modalidades praticadas em recinto fechado, incluindo os desportos de combate. A prática do desporto individual ao ar livre, que não seja em competição, também “deixará de ter limitações”. O primeiro-ministro anunciou, no entanto, que ainda há condições a cumprir para que o regresso seja uma realidade. Segundo revelou António Costa no Palácio da Ajuda, após uma reunião do Conselho de Ministros, o regresso está dependente da aprova- ção por parte da Direcção-Geral da Saúde (DGS) do plano sanitário apre- sentadopela Liga Portuguesa de Fute- bol Pro ssional (LPFP), um protocolo que prevê, por exemplo, a realização extensiva de testes a todos “os ele- mentos da cha de jogo e jogadores não convocados” e outros elementos adicionais, entre outras medidas. António Costa deu ainda a enten- der que nem todos os estádios terão condições para a realização destes jogos à porta fechada e que, de acor- do com os protocolos sanitários, essa avaliação será igualmente feita pela DGS. Ao que o PÚBLICO apurou, em causa estarão essencialmente os está- dios que foram construídos para o Euro 2004 e, eventualmente, o Está- jornada. O calendário pré-pandemia do futebol português previa que a I Liga terminasse no m-de-semana de 16 e 17 de Maio, com a nal da Taça de Portugal a realizar-se no domingo seguinte, a 25 de Maio. Agora, serão 90 jogos da I Liga, ainda com tudo por decidir (título, classi cações euro- peias e despromoções), mais um para a nal da Taça. No que diz respeito à nal da Taça, está tudo ainda muito inde nido, a começar pela própria realização do jogo entre Ben ca e FC Porto. Sendo habitualmente o encontro que fecha a época do futebol português, a data da nal não foi ainda de nida, nem é um dado adquirido que seja realizada no Jamor, como é a tradição. Ponto assente é que o parecer da DGS ditará os passos a seguir. Pouco depois da comunicação de António Costa, o Sporting anunciou, em comunicado, que o seu regresso à competição será a 1 de Junho. Ou seja, o encontro dos “leões” com o V. Guimarães, a contar para a 25.ª jor- nada, ocorrerá a uma segunda-feira. II Liga por decidir O plano de descon namento anun- ciado por António Costa não se refe- riu directamente ao que iria acon- tecer com a II Liga, mas o primeiro- ministro anunciou, de forma implícita, que esta não iria ser reto- Marco Vaza Competições reatadas no último fim-de-semana de Maio. Todos os jogos serão à porta fechada e os estádios carecem de parecer da DGS mvaza@publico.pt MANUEL FERNANDO ARAUJO/EPA O FC Porto vai recomeçar o campeonato na liderança mada. “Tivemos a oportunidade de ouvir a Liga e a Federação Portugue- sa de Futebol. Só para a I Liga é que havia condições para a reabertura da época”, referiu o primeiro-minis- tro. Mais tarde, em entrevista à RTP, o governante reforçou que essa decisão de limitar o regresso do futebol à I Liga e à Taça foi fruto de um consenso: “No futebol é óbvio que há proximidade. A primeira medida que se tomou foi que não haverá público nos estádios. Depois, foi limitado à I Liga, onde consen- sualmente a Federação, a Liga e os clubes assumiram que têm as con- dições técnicas e organizativas para cumprir as normas de protecção, de testagem e isolamento”. Esta decisão deixou os clubes do segundo escalão do futebol português bastante revoltados. O PÚBLICO sabe que haverá uma reunião informal na sede da Liga já hoje, sendo que deve- rá haver uma assembleia geral do organismo para discutir os cenários de promoções e despromoções na II Liga, no início da próxima semana. O PÚBLICO tentou contactar vários dirigentes de clubes da II Liga, mas a única reacção que obteve foi de expectativa pelas indicações do orga- nismo liderado por Pedro Proença. Da parte do Farense, que está na segunda posição da II Liga e bem lan- çado para o regresso ao primeiro escalão, há a crença de que a classi- cação será homologada. Se isto acontecer, serão promovi- dos o Nacional (líder, com 50 pontos) e o Farense (segundo, 48), sendo que a luta pelos dois lugares de promo- ção ainda estava totalmente em aber- to com dez jornadas por disputar — aos dois primeiros seguiam-se Fei- rense (42), Mafra (39) e Estoril (39). Uma reacção o cial veio da Olivei- rense, que, em comunicado, fala de “dois pesos e duas medidas para o futebol pro ssional”. “Há um regime de excepção para a I Liga e para a Taça. Ou paramos todos ou jogamos todos. Não queremos uma competi- ção no relvado e outra na secretaria”, refere o presidente, Horácio Bastos. dio Cidade de Barcelos, que serve de casa para o Gil Vicente. Seis dos dez recintos do Euro 2004 são utilizados por equipas da I Liga (Luz, Dragão, Alvalade, Bessa, Guimarães e Braga), mas está também em aberto a utiliza- ção dos outros quatro (Algarve, Avei- ro, Leiria e Coimbra). Seja onde for, não poderão estar mais de 300 pes- soas em cada jogo. Os clubes dos arquipélagos Uma eventual concentração geográ- ca dos jogos implicará que as equi- pas insulares joguem apenas em Por- tugal continental. O Santa Clara, pela voz do seu presidente, Rui Cordeiro, já garantiu que o clube açoriano irá disputar todos os jogos longe do arquipélago, até porque o Governo regional impôs uma quarentena obri- gatória a quem chegasse à região. Já em relação ao madeirense Marítimo, o seu presidente, Carlos Pereira, está contra essa concentração. “O cam- peonato é normal e tem de ser reali- zado conforme mandam os regula- mentos. Não vou alimentar cenários quando não concordo com eles”, referiu, citado pelo jornal O Jogo. Havendo o parecer favorável da DGS, a I Liga irá, então, voltar à acti- vidade dois meses e meio depois de ter sido interrompida por causa do novo coronavírus — a competição foi suspensa quando se ia disputar a 25.ª reunidas as condições para se pode- rem pronunciar, uma vez que o acompanhamento destas famílias ou não tem sido feito ou tem sido apenas feito à distância nos últimos dois meses. “Nós compreendemos as di culda- des destes técnicos em assumir res- ponsabilidades neste capítulo e esta- mos a aconselhá-los a pedir orienta- ções mais precisas aos seus dirigentes e a questionarem-nos sobre como fazer o que lhes está a ser pedido, uma vez que um mero telefonema não chegará para efectuarem uma avaliação sobre a necessidade de regresso destes jovens e crianças às escolas”, disse José Abraão, Secretá- rio-geral da Federação de Sindicatos da Administração Pública (Fesap). com Ana Henriques 12 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 DESTAQUE CORONAVÍRUS Arquivo.pt: “Daqui a 50 anos, a Internet vai ajudar a contar a história da covid-19” O Arquivo.pt está a guardar jornais online, sites do Governo, blogues e artigos de opinião para ajudar a contar a história da pandemia pelo novo coronavírus F uturos académicos, cientistas e jornalistas que estejam a estudar a resposta portuguesa à pandemia da covid-19 vão querer ler testemunhos em primeira mão de quem foi afectado, registos o ciais do número de vítimas, e recomendações dos médicos, políticos e cientistas da época. Grande parte da história está a ser escrita na Internet e guardada pelo Arquivo.pt, um serviço público que desde 2008 preserva milhões de páginas recolhidas da Web portugue- sa para consulta futura. É desenvol- vido pela Fundação para a Compu- tação Cientí ca Nacional (FCCN), uma unidade da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. “Estamos a arquivar diariamente páginas de 106 sites com informação especí ca sobre o impacto da covid- 19 na vida em Portugal”, explica ao PÚBLICO João Gomes, director da Área de Serviços Avançados da FCCN e coordenador do Arquivo.pt. “O objectivo é garantir que a informação não se perde.” De acordo com a equi- pa, após um ano, apenas 20% de um Karla Pequenino conjunto de endereços online se mantêm válidos. A homepage de um jornal online, por exemplo, muda diariamente. “Daqui a 50 anos, a Internet vai aju- dar a contar a história da covid-19”, continua João Gomes. “É sempre ten- tador reescrever a história, mas com este repositório vai ser possível voltar atrás e ver como as pessoas pensaram durante o período da pandemia.” O foco tem sido guardar as páginas dos meios de comunicação social com secções dedicadas à covid-19, informação o cial do Governo(como actualizações no site da Direcção-Geral da Saúde e destaques no site do Governo), blogues sobre as experiências das pessoas durante o isolamento social e sites que estão muito activos. A colecção nal, disponível para consulta em 2021, vai permitir, por exemplo, ver a forma como informa- ção sobre o primeiro estado de emer- gência declarado em Portugal duran- te a pandemia, a 18 de Março, mudou entre os dias 17 e 19 de Março de 2020, quando a medida entrou em vigor, através da análise de notícias publica- das em diferentes jornais nacionais. “Portugal foi rápido o su ciente a se achou que máscaras não faziam a diferença?”, enumera João Gomes. “São perguntas deste tipo que que- remos explorar.” Esforço mundial Portugal não é o único país a preser- var o seu arquivo digital. O Consórcio Internacional de Preservação da Internet (IIPC), com parceiros de 45 países, incluindo o Arquivo.pt, está a coordenar uma colecção de conteú- do digital publicado desde Fevereiro sobre o novo coronavírus. À data, já há mais de 5150 páginas preservadas na colecção. “O propósito destas colecções é obviamente manter um registo dos eventos e do seu impacto, e poder comparar diferentes pontos de vista no futuro”, explicou ao PÚBLICO Marie Payet, porta-voz da Biblioteca Nacional Francesa, que também está a colaborar com o IIPC e começou a arquivar sites sobre a pandemia des- de o nal de Janeiro. Embora a maioria dos países tenha imposto medidas de isolamento social para travar a propagação da covid-19, há excepções. A Suécia tem optado por uma abordagem de “res- ponsabilização individual”, ao man- ter escolas, bares, e restaurantes abertos com algumas limitações. Já os presidentes do Brasil, Nicarágua, Bie- lorrússia e Turquemenistão têm des- valorizado a pandemia para proteger o sector económico. Um dos benefícios de recolher dife- rentes versões de um mesmo site, em dias diferentes, é perceber a forma como o conhecimento evolui. “Hoje em dia, as publicações online são o principal canal de disseminação de informação de última hora, juntamen- te com a televisão e a rádio, enquanto que versões impressas, por exemplo jornais, são uma espécie de resumo de tudo aquilo que já foi lido e debati- do”, disse ao PÚBLICO Pär Nilsson, responsável pela colecção digital da Biblioteca Nacional da Suécia. Contribuição de Portugal Até agora, Portugal tem sido dos paí- ses que mais contribuíram para o arquivo do IIPC. Depois de sites que acabam em .com, o domínio de topo português (.pt) é o mais comum na colecção. “Somos um dos maiores contribuidores do mundo, porque o nosso sistema é gerido por uma equi- pa de tecnólogos. Todo os países têm os seus arquivos online, mas alguns É sempre tentador reescrever a história, mas com este repositório vai ser possível voltar atrás e ver como as pessoas pensaram durante o período da pandemia João Gomes Fundação para a Computação Científica Nacional reagir? Como é que a opinião dos portugueses mudou desde Janeiro, quando o vírus parecia estar só na China? Quais os países com as medi- das mais e cazes? Até quando é que Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 13 T em vindo a ser divulgada por alguns meios de comunicação, por políticos e cientistas, a ideia imprudente de que a imunidade de grupo é a única maneira viável para nos salvarmos da covid-19. Ainda recentemente, esta teoria foi exposta na imprensa portuguesa pelo virologista Pedro Simas. De acordo com o Expresso, Pedro Simas “defende que o próprio vírus é a solução, que o único caminho é a imunidade de grupo e vê na sociedade um ‘excessivo medo de morrer’”. A meu ver, esta ideia é não só contrária à lógica como é praticamente impossível de atingir, pelas seguintes razões: Primeiro, porque não temos absolutamente nenhuma prova de que os infetados com este vírus em particular desenvolvam qualquer tipo de imunidade a longo prazo. Aqueles que sobrevivem à covid-19 tanto podem adquirir imunidade por uma semana, como por um mês, um ano ou dez anos. Ninguém sabe. E sem imunidade de longo prazo, não é possível assegurar a proteção generalizada da sociedade. Além disso, tal como acontece com outros vírus, surgirão indubitavelmente variações individuais. Algumas pessoas manter-se-ão imunes durante anos, outras apenas algumas semanas. Em resumo, advogar a imunidade de grupo como política a seguir nesta altura seria na minha opinião extremamente arriscado. Em segundo lugar, os especialistas que estudam este problema consideram que, para que a imunidade de grupo pudesse oferecer uma proteção signi cativa, seria necessário que 70% da milhões de pessoas infetadas com o novo coronavírus em Portugal necessitassem de hospitalização: teríamos mesmo assim 70 mil pessoas a recorrer aos hospitais. Com 70 mil pessoas exigindo cuidados médicos urgentes, todas as unidades de cuidados intensivos do país cariam rapidamente sobrelotadas. Vários milhares de pessoas apresentando sintomas de risco de vida teriam de ser enviadas para casa, por ser impossível admiti-las nos hospitais. Além disso, teria igualmente de ser negado acesso a cuidados médicos a pacientes com outras doenças e problemas de saúde graves: vítimas de acidentes rodoviários, mulheres apresentando complicações de gravidez constituindo risco de vida, vítimas de ataques cardíacos e AVC, por exemplo. A quem caberá decidir quem é autorizado a entrar para uma unidade de cuidados intensivos e quem deve voltar para casa e possivelmente morrer? Teremos de dispor de uma estratégia para recusar assistência a milhares de pessoas. O que signi ca que os órgãos hospitalares terão de estar preparados para decidir quem será admitido ou não admitido no hospital. E quem fará parte desses órgãos? Médicos? Administradores hospitalares? Quais serão os critérios por eles adoptados? Será que tais órgãos poderão decidir que as pessoas com mais de 70 anos não deverão ter acesso a cuidados médicos? Os cegos ou os surdos? As pessoas em cadeiras de rodas? Os imigrantes? A não ser que queiramos basear o futuro do nosso país numa ideia que pode vir a revelar-se impossível de atingir e a não ser que queiramos ter de criar órgãos de especialistas para decidir quem vive e quem morre, mais vale pormos de parte a ideia de que a imunidade de grupo é uma maneira viável e lógica de resolver o problema que nos é colocado por esta pandemia. Uma ideia imprudente Opinião Richard Zimler população em causa fosse infetada e desenvolvesse uma imunidade forte. Se sete milhões de portugueses fossem infetados, quantos de nós poderiam car seriamente doentes e exigindo hospitalização? Neste momento, ninguém o sabe. Porquê? Porque não dispomos de estatísticas áveis sobre a percentagem de pessoas que ou não apresentam sintomas ou cujos sintomas são tão fracos que passam despercebidos e não são registados. Consequentemente, nem cientistas nem políticos estão habilitados a fazer qualquer previsão ável sobre quantos daqueles sete milhões de pessoas sobreviveriam e quantos morreriam. Deveria Portugal e outros países pôr termo às suas políticas de distanciamento social e de quarentena — substituindo-as por uma política de imunidade de grupo — com base nesta situação de quase total ignorância em que nos encontramos? Tudo me faz crer que não. Outro problema que teríamos de defrontar é que, mesmo que apenas uma ín ma percentagem das pessoas infetadas viessem a car seriamente doentes, os nossos serviços de cuidados intensivos cariam rapidamente sobrecarregados. Imagine-se, por exemplo, que apenas 1% desses sete Escritor Advogar a imunidade de grupo como política a seguir nesta altura seria na minha opinião
Compartilhar