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Edição Porto • Ano XXXI • n.º 10.964 • 1,70€ • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos
Desconfinamento segue com incertezas
Multas até 350 euros por andar sem máscara nos transportes públicos • Futebol só deve regressar nos estádios do Euro 
2004 • Governo quer crianças de famílias de risco de volta à escola mais cedo • Guião para a nova normalidade 
• O que pode a fotogra a perante o medo sobre a cidade? • Destaque, 2 a 24 e Editorial • Ípsilon • Acompanhe em publico.pt/coronavirus
1.º DE MAIO
Trabalhadores em alerta com 
novos riscos que a covid-19 
trouxe ao mundo laboral 
ISNN-0872-1556
2 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Governo abre 
porta mas 
diz “fique 
em casa”
“Não terei vergonha em dar um passo 
atrás”, garantiu António Costa, vincando 
que cada passo em frente dependerá do 
anterior. Devagarinho, para chegar longe. 
E daqui a 15 dias, tudo pode mudar
Liliana Borges
P
rolongar os apoios sociais e 
económicos excepcionais em 
vigor, cobrar coimas entre os 
120 e os 350 euros para quem 
não usar máscara nos trans-
portes públicos e garantir 
que as empresas continuam em tele-
trabalho até Junho. Precisamente dois 
meses depois de ter sido diagnostica-
do o primeiro caso de covid-19 em 
Portugal, o Governo está preparado 
substituir o estado de emergência 
pelo estado de calamidade. 
Mas “o risco mantém-se elevado e 
a pandemia mantém-se activa”, avi-
sou o primeiro-ministro. António 
Costa disse que não é de dar passos 
atrás, mas avisou que não hesitará “se 
for necessário”. “Não terei vergonha. 
Este é um percurso que temos de 
fazer com em conjunto.” 
Entre as regras que permanecem 
intocáveis estão a obrigatoriedade 
do isolamento pro láctico, sendo 
que a sua violação continua a ser cri-
me de desobediência, sublinhou o 
primeiro-ministro. Além disso, a proi-
bição dos ajuntamentos com mais de 
dez pessoas e o dever de recolhimen-
to continuarão “para novos e velhos, 
com ou sem factores de risco”. No 
lugar do quadro legal excepcional do 
estado de emergência, o primeiro-
ministro apelou ao “dever cívico” 
para evitar que “o comportamento 
de um mês estrague os duros sacrifí-
cios dos dois meses anteriores”, até 
porque ainda que o estado de emer-
gência tenha acabado, “o comporta-
mento do vírus é o mesmo”. 
Se no início do surto o isolamento 
dos portugueses começou de uma 
forma voluntária, os últimos dias 
revelam uma crescente inquietação, 
identi cou o primeiro-ministro. 
“Estas últimas semanas têm parecido 
uma eternidade”, confessou António 
Costa, antes de explicar o porquê “de 
o Presidente da República ter enten-
Razões para reabertura? Menor risco de contágio e menos casos
P
ara justificar a reabertura 
gradual de vários sectores 
de actividade, António Costa 
invocou uma série de 
indicadores que provam a 
evolução “positiva” da pandemia 
em Portugal. Desde logo, a 
evolução do famoso R (número 
de pessoas que cada infectado 
contagia em média), que nos 
últimos cinco dias voltou a estar 
abaixo de 1 em todo o país, 
depois de na semana anterior ter 
ultrapassado este limite na 
região de Lisboa e Vale do Tejo. 
Também a diminuição dos 
novos casos de infecção, dos 
internamentos de doentes com 
covid-19, nomeadamente em 
unidades de cuidados intensivos, 
além da estabilização do número 
de óbitos, foram determinantes 
para suportar a decisão de 
levantamento progressivo do 
confinamento. 
Com gráficos a ilustrar a 
evolução dos indicadores, o 
primeiro-ministro começou por 
enfatizar que o risco de 
transmissibilidade da infecção, 
depois de ter chegado a ser de 
2,5 (cada pessoa infectada 
contagiava em média “duas 
pessoas e meia”), era de “0,92” 
no país nos últimos cinco dias, 
voltando a estar abaixo de 1 em 
todas as regiões. 
De igual forma, o número de 
internados — que atingiu o 
máximo em 15 de Abril —, foi 
decrescendo, à semelhança do 
que aconteceu com os 
internamentos em cuidados 
intensivos, que registaram uma 
quebra consistente. As unidades 
de cuidados intensivos têm tido 
taxas de ocupação entre 50 a 65 
por cento e “só 50 a 60% são 
doentes covid”, especificou 
António Costa. Do total de 
pacientes com covid-19, 95% 
estão a ser seguidos em casa e 
tem-se observado uma 
“estabilização” no número de 
óbitos. 
Na Europa, acrescentou, só o 
Chipre, a Lituânia e a Polónia 
fazem mais testes de diagnóstico 
do que Portugal, que ultrapassou 
já os 300 mil exames 
laboratoriais — e apenas 5,5% 
das pessoas testadas estavam 
infectadas. Alexandra Campos
25.045
989 1519
RecuperadosMortes
540
Situação em Portugal
Em 30 Abril às 13h30
Fonte: DGS
Novos casos diários
Casos
confirmados
Novos
casos
0
500
1000
301 Abr.2 Mar.
Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 3
de espectáculos terão de esperar até 
1 de Junho para abrir portas. O PÚBLI-
CO tentou obter junto do Ministério 
da Cultura informação adicional acer-
ca do modo como serão xadas as 
lotações nestes espaços, mas o gabi-
nete de Graça Fonseca escusou-se a 
adiantar para já quaisquer detalhes. 
Quanto aos apoios sociais que esta-
vam indexadas ao estado de emer-
gência, como as moratórias das ren-
das, despejos e proibição de corte de 
bens essenciais, António Costa garan-
tiu que irão vigorar “mais um mês 
para além do estado de emergência”. 
Já os apoios que estavam a ser pagos 
a 66% aos pais que têm a seu cargo 
crianças com menos de 12 anos pro-
longar-se-ão até ao nal do ano lecti-
vo, ou seja, até 26 de Junho. 
Apesar da abertura de serviços 
como cabeleireiros, barbeiros e 
comércios de pequena dimensão, 
haverá serviços essenciais que con-
tinuarão de portas fechadas, à excep-
ção de casos de urgência. É o caso 
dos dentistas. Mas Costa espera que 
o alargamento do atendimento pos-
sa acontecer “tão rapidamente quan-
to possível”, depois de de nidas as 
normas técnicas pelas autoridades 
de saúde. 
As medidas aprovadas ontem tra-
duzem-se em vários decretos e pro-
postas de lei. Marcelo Rebelo de 
Sousa promulgou ainda esta noite o 
decreto das restrições de circulação 
até segunda-feira. Numa reunião de 
mais de sete horas, o Conselho de 
Ministro aprovou também uma alte-
ração à Lei Orgânica do Governo, de 
modo a garantir a cobertura legal às 
funções de coordenação regional 
assumidas por cinco secretários de 
Estado no combate e prevenção da 
pandemia. Até agora, estas acções 
estavam cobertas pelos decretos de 
execução do estado de sítio e com o 
m do estado de emergência foram 
várias as vozes de constitucionalistas 
e líderes partidários preocupadas 
com a inconstitucionalidade das 
decisões. 
“A força das pessoas não se pode 
esgotar toda agora”, pede o primeiro-
ministro. Até porque mesmo com a 
urgência de saída e a calamidade à 
porta, a mensagem continua a mesma 
de há dois meses: “Fique em casa”. 
com São José Almeida, Sofia Cor-
reia Baptista, Leonete Botelho, 
Luciano Alvarez e Álvaro Vieira
liliana.borges@publico.pt
JOÃO RELVAS/LUSA
Número de testes
realizados versus
casos positivos
Fonte: Plano de Desconfinamento,
Conselho de Ministros 
11.929
662
5,5%
3
25
0
4000
8000
12.000
16.000
1 Mar. 1 Abr. 27
Amostras
Positivos
0
400
800
1200
2 Mar. 1 Abr. 29
Número
de casos
internados
9
1302
968
Taxa de ocupação de UCI 
2 Mar. 1 Abr. 27
0%
25%
50%
75%
100%
normal”, vincou. “É isso que deve-
mos a todos os que já perderam a 
vida, aos que estão contaminados, às 
famílias dos que perderam entes que-
ridos, a quem tem pessoas infectados 
e aos pro ssionais de saúde que dão 
o seu melhor”, declarou o chefe do 
Governo. 
Também para as vítimas e familia-
res, Costa deixou uma mensagem (e 
novidade). Além do regresso das cele-
brações de missas, as cerimónias 
fúnebres vão poder decorrer sem 
limitação de presença defamiliares. 
“Tem sido das coisas mais difíceis”, 
desabafou, admitindo que em alguns 
casos “as regras têm sido excessivas”. 
Até porque “o acomodar da dor tam-
bém diminui a capacidade de resis-
tência a uma luta que vai ser muito 
prolongada”. 
Por isso, e como condições essen-
ciais para que os sacrifícios não 
tenham sido em vão, o Governo 
decretou que será obrigatório manter 
o distanciamento social no mínimo 
de dois metros, evitar deslocações 
necessárias e o uso obrigatório de 
máscara em transportes públicos, 
escolas, comércio e outros locais 
fechados com múltiplas pessoas (até 
agora era apenas recomendado). 
Numa nota de tranquilidade, o pri-
meiro-ministro garantiu que houve 
um reforço na produção de materiais 
de protecção e de desinfectantes e 
que o cenário de prateleiras vazias 
não será mais um problema. E desta 
vez há coimas. Quem não usar más-
cara nos transportes públicos poderá 
pagar de 120 a 350 euros pela contra-
venção, uma vez que nos transportes 
é mais difícil cumprir o distancia-
mento social, explicou. 
Tal como tinha sido revelado nos 
últimos dias, a reabertura dos espa-
ços será feita em três fases: a primeira 
arrancará já na segunda-feira, 4 de 
Maio; a segunda acontece dia 18; e a 
terceira entra em vigor a 1 de Junho. 
Na cultura, o descon namento 
também se fará em três actos. Biblio-
tecas e arquivos reabrem na segunda-
feira, com lotação reduzida e distan-
ciamento físico, e também as livrarias 
com porta aberta para a rua, “inde-
pendentemente da sua área”, podem 
voltar já a receber clientes. No dia 18, 
regressam museus, monumentos, 
palácios, galerias de arte e salas de 
exposições, nos quais vigorará a mes-
ma lotação máxima de cinco pessoas 
por cada cem metros quadrados. 
Cinemas, teatros, auditórios e salas 
António Costa reuniu-se com o 
Presidente em Belém antes de 
anunciar as medidas ao país
N
o Parlamento, na apresenta-
ção do relatório sobre o 
segundo período do estado 
de emergência, o ministro da 
Administração Interna e a 
ministra da Saúde ouviram 
críticas sobre os critérios usados na 
libertação de reclusos no âmbito da 
prevenção da covid-19. 
O social-democrata Carlos Peixoto 
apontou que “só os 14 presos liberta-
dos por indulto tinham problemas de 
saúde” e que o “Governo arranjou 
uma fórmula mágica para pôr cá fora 
132 vezes mais”, acrescentando que 
se tratou de uma “absurda proeza” e 
uma “bizarria” que o Governo “deve 
explicar”. André Ventura, do Chega, 
seguiu a mesma linha: “A nal, sim, 
tivemos presos perigosos cá fora e a 
cometer crimes”, disse, questionan-
do os números destes reclusos assim 
como a situação dos migrantes insta-
lados em hostels em Lisboa. 
Foi o socialista Pedro Delgado Alves 
que fez o contraditório, ao garantir 
que as medidas “aprovadas não são 
um expediente para resolver um pro-
blema” de sobrelotação das prisões. 
Já o líder da bancada do CDS regis-
tou a discrepância entre o “auto-elo-
PSD e Chega questionam 
libertação de reclusos
gio” das descrições do relatório e a 
realidade. Telmo Correia quis saber 
se existirão sanções para quem não 
usar máscaras na próxima fase, mas 
cou sem resposta por parte do 
ministro da Administração Interna. 
PCP e PEV mantiveram o discurso 
de que o estado de emergência era 
dispensável. A ecologista Mariana 
Silva duvida se na próxima semana 
“vai ser possível cumprir o distancia-
mento social nos transportes públi-
cos”. João Oliveira, líder da bancada 
comunista, lembrou que são precisas 
“medidas de saúde pública e de res-
posta social aos pequenos empresá-
rios, agricultores, trabalhadores”. Já 
Pedro Filipe Soares, líder da bancada 
do BE, advertiu que o estado de emer-
gência “não legitima atropelos à lei”, 
nomeadamente os “despedimentos 
ilegais e a selvajaria nas relações labo-
rais”. No outro pólo, a líder da banca-
da do PAN, Inês Sousa Real, defendeu 
que “este continua a ser o momento 
da luta sanitária”, e não de arriscar. 
No encerramento do debate, a 
ministra da Saúde descreveu que se 
passou de “80 mil testes no mês de 
Março para 144 mil testes no período 
deste estado de emergência [duas 
semanas]”, disse. Só João Cotrim 
Figueiredo, da Iniciativa Liberal, cri-
ticara a falta de estratégia para os 
testes, além da omissão da disponibi-
lização de dados à comunidade cien-
tí ca, questão a que Marta Temido 
não respondeu. 
Nos debates das propostas de lei 
sobre apoios aos municípios, a direi-
ta deixou avisos ao Governo de que 
não pode continuar a levar ao Parla-
mento autorizações de despesa, seja 
para o Estado central seja para os 
municípios, sem começar a explicar 
onde e como o dinheiro é gasto. Esse 
foi um dos argumentos usados na 
discussão do diploma que permite 
às autarquias adiarem as contribui-
ções anuais que fazem para o Fundo 
de Apoio Municipal (FAM) e que as 
autoriza a recorrer ao Fundo Social 
Municipal para as despesas de com-
bate à covid-19 – quando este fundo 
é de verbas para competências des-
centralizadas. 
Maria Lopes
Carlos Peixoto, do PSD, apontou 
o dedo ao Governo
dido e o Governo ter apoiado” não 
renovar o estado de emergência. 
O processo de transição do estado 
de emergência para o estado de cala-
midade “tem riscos”, admitiu, mas a 
reabertura da economia era “neces-
sária”, justi cou. 
Acompanhado por grá cos, curvas 
e números, Costa garantiu ao país que 
estão reunidas as condições para rea-
brir a economia, mas o relato da apa-
rente estabilização da evolução da 
pandemia foi sempre acompanhado 
pelo alerta de que um passo em falso 
pode conduzir ao desastre. 
E desengane-se quem fala em 
regresso à normalidade. “Todos 
temos de ter consciência que até 
haver uma vacina disponível no mer-
cado e acessível a todos nós, ou até 
haver um tratamento, vamos ter de 
continuar a viver sem a nossa vida 
4 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Marcelo dá luz verde a restrições 
de circulação até domingo 
O Presidente da República 
assinou ontem à noite o decreto 
do Governo que determina a 
limitação à circulação entre hoje e 
domingo, ao abrigo do estado de 
emergência (até às 24h de 
amanhã) e da situação de 
calamidade que se segue.
Diário da 
pandemia
a 
mia
O QUE JÁ POSSO FAZER AGORA? GUIÃO PARA VOLTAR À NORMALIDADE
O estado de emergência termina 
sábado, mas o vírus não 
desapareceu. O Governo montou 
um plano para a reabertura da 
economia e para o regresso das 
pessoas à rua, que apresentou 
esta quinta-feira. Haverá 
esplanadas, museus, livrarias, 
mais lojas abertas e idas ao 
cabeleireiro. Tudo com regras 
novas. Enquanto não houver 
vacina, haverá máscara em 
muitos sítios. 
O estado de emergência vai 
terminar sábado à meia-noite. 
Já posso sair de casa? 
O Governo decidiu reduzir as 
restrições ao confinamento. E 
com a abertura de algumas lojas 
e outras actividades, surge 
também o dever cívico de 
recolhimento, que apela à 
responsabilidade individual de 
cada um, em vez dos deveres 
geral e especial de recolhimento, 
que vigoram no estado de 
emergência. 
Todos podem sair, mesmo as 
crianças e as pessoas de mais 
idade? 
Sim. Na apresentação do plano 
de desconfinamento, o 
primeiro-ministro sublinhou que 
este dever cívico de 
recolhimento se aplica a 
crianças, jovens, adultos e 
idosos, independentemente de 
pertencerem a grupos de risco. 
No entanto, há uma excepção: 
continua a existir o dever de 
confinamento profiláctico para 
quem seja diagnosticado com 
covid-19 e o crime de 
desobediência. 
Isso significa que no domingo 
posso ir dar um passeio à praia? 
Depende. Até domingo à 
meia-noite, vigora a proibição de 
mudar de concelho. O Governo 
decidiu impor para este 
fim-de-semana prolongado a 
mesma restrição que usou na 
Páscoa, proibindo viagens entre 
concelhos. Além disso, existem 
algumas praias que têm tido o 
acesso vedado. 
Quando posso ir fazer surf? 
O acesso às praiaspara certas 
actividades é retomado a partir 
de segunda-feira. Entre estas 
actividades, estão os desportos 
náuticos, entre os quais está o 
surf. Os desportos individuais 
podem ser retomados ao ar livre 
a partir deste dia, mas sem 
utilização de balneários ou 
piscinas. 
Posso ir jantar a casa de 
amigos? 
O primeiro-ministro não falou 
desta situação específica, mas 
deixou algumas indicações que 
podem ser úteis na hora de 
decidir. Explicou que há um 
dever cívico de recolhimento e 
que, a partir de 4 de Maio, entra 
em vigor a proibição de 
ajuntamentos com mais de dez 
pessoas. E mesmo assim, “deve 
manter-se a regra do 
afastamento”. 
E posso visitar os meus pais? 
Se viverem noutro concelho, não 
o poderá fazer neste domingo, 
diz o Governo. Depois disso, 
aplicam-se as regras gerais. Cada 
um tem de assumir a sua 
responsabilidade, no 
cumprimento do dever cívico de 
recolhimento, e não podem 
juntar mais de dez pessoas. 
Quando os meus filhos 
 voltam à escola? 
Depende da idade deles. As 
creches abrem a 18 de Maio, na 
mesma data, reabrem as escolas 
para os alunos do 11.º e 12.º anos 
(entre as 10 e as 17 horas), o 
pré-escolar retoma a 1 de Junho. 
Aqui será obrigatório o uso de 
máscara (excepto crianças em 
creches e jardins de infância). Os 
alunos do básico e do 10.º ano 
não voltam a ter aulas este ano 
lectivo e as universidades têm 
autonomia para decidir. 
Quando posso ir à esplanada? 
A 18 de Maio, abrem os 
restaurantes, as pastelarias, os 
cafés e as esplanadas. No 
entanto, tal como na maior parte 
das situações, haverá limitações. 
Nos restaurantes, a lotação 
máxima é de 50% e o horário de 
funcionamento será até às 23 
horas. 
Os cabeleireiros vão abrir 
brevemente? 
Sim. Na segunda-feira, estarão a 
funcionar, mas por marcação 
prévia e com condições 
específicas que serão 
conhecidas entretanto. As 
manicures e similares também 
podem abrir, assim como 
livrarias, stands de venda 
automóvel. Na mesma data, 
abrem também as lojas até 200 
metros quadrados, a partir das 
10h e com uso de máscara. No 
entanto, se este tipo de lojas se 
situar em centros comerciais, 
não abrem já. Só a 1 de Junho. 
Tenho de andar sempre de 
máscara? 
Não. Só é obrigatório em 
situações específicas: lojas, 
transportes públicos, serviços 
públicos e escolas (para alunos 
do 11.º e 12.º e todas as pessoas 
que estiverem em ambiente 
escolar). A não utilização de 
máscara nos transportes 
públicos dará direito a multa, de 
120 a 350 euros. 
Tenho de continuar a manter a 
distância de dois metros em 
relação a outras pessoas? 
Esta regra continua a vigorar 
mesmo com a reabertura de 
várias actividades. A lavagem das 
mãos e a etiqueta respiratória 
também se mantêm. 
Quando posso ir ao cinema? 
A 1 de Junho abrem os cinemas, 
teatros e auditórios, com lugares 
marcados, lotação reduzida e 
distanciamento físico. 
Quando volto ao trabalho? 
Depende. Os trabalhadores de 
bens essenciais mantiveram-se a 
trabalhar mesmo durante o 
estado de emergência. Os que 
tiveram de ficar em casa para 
acompanhar os filhos ficaram em 
regime de teletrabalho ou com 
apoio público (igual a 66% do 
salário). O teletrabalho vai 
manter-se como regra em Maio. 
A partir de 1 de Junho, começa o 
teletrabalho parcial, com 
“horários desfasados ou equipas 
em espelho”. 
Posso ir para qualquer lado de 
metro? 
Sim. Mas tem de ir de máscara. E 
contar com uma limitação 
máxima de dois terços da 
capacidade total. 
Quando volta a haver missas? 
No fim-de-semana de 30/31 de 
Maio, pode voltar a haver 
celebrações religiosas de 
qualquer confissão. As regras em 
que essas celebrações poderão 
acontecer ainda vão ser 
definidas. 
Quando posso voltar ao estádio 
de futebol? 
Tão cedo não vai ser possível. As 
competições oficiais da 1.ª Liga 
de Futebol e Taça de Portugal 
serão retomadas a 30/31 de Maio, 
mas os jogos serão à porta 
fechada. 
Posso ir já passar férias em 
Maio? 
Pode. Mas conte com algumas 
restrições. O acesso às praias 
passa a ser possível a partir de 4 
de Maio para desportos náuticos. 
No entanto, para acesso às praias 
para férias, o Governo ainda está 
a falar com os municípios e as 
capitanias. 
Tinha bilhete para o Nos Alive 
em Julho. Vai acontecer? 
Ainda não há uma resposta 
clara. Para já, estão proibidos 
eventos que juntem mais 
de dez pessoas. O calendário 
de retoma do Governo não 
fala sobre festivais e a situação 
ainda vai ser analisada no 
próximo Conselho de Ministros. 
Mas António Costa já sugeriu 
que “há enorme probabilidade 
de que não se realizem”. 
Marta Moitinho Oliveira
PAULO PIMENTA
Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 5
Mais de 36 mil testes a idosos 
O Ministério do Trabalho, 
Solidariedade e Segurança 
Social (MTSSS) revelou 
ontem que o programa de 
despistagem de covid-19 em 
instituições sociais de apoio a 
idosos realizou, até ao momento, 
mais de 36 mil testes em 1350 
instituições. 
Operações stop 
A GNR e a PSP avisam que estão a 
realizar, desde hoje e até ao 
próximo dia 4 de Maio, 
segunda-feira, operações de 
intensificação do patrulhamento, 
sensibilização e fiscalização, em 
todo o território para garantir o 
cumprimento das normas do 
estado de emergência. 
Apoio aos media 
O Governo aprovou em 
Conselho de Ministros o 
decreto-lei que estabelece um 
regime excepcional e temporário 
de aquisição de espaço para 
publicidade institucional 
aos media, no montante de 
15 milhões de euros, no âmbito 
da pandemia de covid-19.
O
 plano de descon namento 
aprovado pelo Governo e a 
passagem do estado de 
emergência para o estado de 
calamidade levantam várias 
questões a constitucionalis-
tas como Jorge Bacelar Gouveia, José 
de Melo Alexandrino e Vital Moreira. 
O primeiro-ministro tem usado a 
expressão “descer um degrau no nível 
de contenção”, mas os juristas lem-
bram que não se trata da mesma esca-
la: não se desce um degrau, antes se 
“muda a natureza do regime”. 
A diferença fundamental é que em 
estado de calamidade (ou em qual-
quer outro previsto na Lei de Bases 
da Protecção Civil ou da Saúde) não 
se podem suspender direitos consti-
tucionais, mas apenas restringi-los, 
de forma bem fundamentada e deli-
mitada no tempo e no espaço. 
Para Bacelar Gouveia, que também 
é especialista em questões de seguran-
ça, as medidas apresentadas excedem 
a gura do estado de calamidade, pois 
todas as restrições de direitos, liber-
dades e garantias só podem ser feitas 
pelo Parlamento ou pelo Governo, no 
âmbito de autorização legislativa, que 
não aconteceu. “António Costa fala de 
estado de calamidade em sentido polí-
tico, e não legal”, diz. 
José de Melo Alexandrino, da Facul-
dade de Direito de Lisboa, concorda e 
acrescenta que, na ausência dessa 
aprovação, grande parte das medidas 
apresentadas “não são restrições, são 
recomendações”: “O Governo está a 
trabalhar de limbo em limbo, com 
medidas que não são estritamente jurí-
dicas, mas recorrendo ao soft law”. 
“A distinção-chave aqui é justamen-
te entre restrição do exercício e sus-
pensão do exercício”, escreveu no 
sábado, no blogue Causa Nossa, Vital 
Moreira, admitindo que a distinção 
“pode não ser ser fácil” em situações 
limite. Nesse caso, “o mais aconselhá-
vel é renunciar a tais restrições ou 
repetir o estado de emergência”. Veja-
mos as dúvidas em concreto: 
1. Dever cívico de recolhimento 
Peritos desconhecem o “dever 
cívico de recolhimento”
— com o m do estado de emergência, 
acaba o dever geral de recolhimento 
domiciliário, mas o Governo determi-
na o dever cívico de recolhimento. 
Algo que os constitucionalistas não 
sabem o que é, pois não existe essa 
gura jurídica. “É um pouco como o 
dever cívico de votar — e vê-se o resul-
tado”, nota Bacelar Gouveia. 
2. Restrições à circulação entre 
concelhos até ao dia 4, um dia 
além do estado de emergência — A 
Lei de Bases da Proteção Civil prevê 
restrições à circulação, mas no “estri-
to respeito pelo princípio da necessi-dade e da proporcionalidade”, como 
lembra Vital Moreira. Bacelar Gouveia 
acrescenta que têm de ser fundamen-
tadas, proporcionais e restritas geo-
gra camente: “Onde essa restrição 
não se impõe, não se aplica”. 
3. Con namento pro láctico de 
infectados — “Só pode ser determi-
nada por decisão judicial”, diz Bacelar 
Gouveia, lembrando que equivale à 
prisão domiciliária. Vital Moreira avi-
sa: “A privação da liberdade pessoal, 
que a Constituição cuidou de regular 
exaustivamente, não pode decorrer 
de fundamentos tão indirectos.” 
4. Proibição de ajuntamentos 
com mais de 10 pessoas — “É de 
duvidosa legalidade”, considera Ale-
xandrino. “Põe em causa o direito 
fundamental de reunião e manifesta-
ção”, acrescenta Bacelar Gouveia. 
5. Liberdade de culto — com o m 
do estado de emergência, a liberdade 
de celebrar cerimónias religiosas é 
reposta. Há uma lacuna no plano do 
Governo, pois só prevê “celebrações 
comunitárias de acordo com regras a 
de nir entre DGS e con ssões religio-
sas” a partir de 30 de Maio. José Ale-
xandrino e Bacelar Gouveia concor-
dam: se alguma igreja celebrar missa 
antes, não está a violar a lei.
Leonete Botelho
Confinamento 
profilático de 
infectados não se 
basta com o 
estado de 
calamidade, diz 
Vital Moreira
Plano de desconfinamento
CONDIÇÕESMEDIDASDATA
Maio
Maio
Confinamento obrigatório para pessoas doentes
e em vigilância activa
Dever cívico de recolhimento domiciliário
Proibição de eventos ou ajuntamentos
com mais de dez pessoas
Lotação máxima de cinco pessoas/100m2
em espaços fechados
Funerais: com a presença de familiares
Cerimónias religiosas: celebrações comunitárias de acordo 
com regras a definir entre DGS e confissões religiosas
Lotação de 2/3
Exercício profissional continua em regime de teletrabalho, 
sempre que as funções o permitam
Teletrabalho parcial, com horários desfasados
ou equipas em espelho
Junho
Balcões desconcentrados de atendimento
ao público (repartições de Finanças, conservatórias, etc.)
Comércio local: lojas com porta aberta
para a rua até 200m2
Cabeleireiros, manicures e similares
Livrarias e comércio automóvel, independentemente da área
11.º e 12.º anos ou 2.º e 3.º anos de outras ofertas 
formativas (10h-17h)
Equipamentos sociais na área da deficiência
Creches (com opção de apoio à família)
Bibliotecas e arquivos
Museus, monumentos e palácios, galerias de arte e similares
Prática de desportos individuais ao ar livre
Futebol: competições oficiais da 1.ª Liga de Futebol e Taça 
de Portugal
Cinemas, teatros, auditórios, salas de espectáculos
Lojas com porta aberta para a rua até 400m2 ou partes de 
lojas até 400 m2 (ou maiores por decisão da autarquia)
Restaurantes, cafés e pastelarias/esplanadas
Lojas com área superior a 400m2 ou inseridas
em centros comerciais
Creches/Pré-escolar/ATL
Lojas do Cidadão
Uso obrigatório de máscara/ 
Higienização e limpeza
Uso obrigatório de 
máscara/Atendimento
por marcação prévia
Escolas: uso obrigatório de 
máscaras (excepto crianças 
em creches e jardins
de infância)
Com lugares marcados, 
lotação reduzida e 
distanciamento físico
Sem utilização de balneários 
nem piscinas
• Lojas: uso obrigatório
de máscara/
/funcionamento
a partir das 10h para
as lojas que reabrem
• Cabeleireiros e similares: 
por marcação prévia
e condições específicas
• Restaurantes: lotação
a 50%, funcionamento
até às 23h e condições
específicas
Condições gerais:
•
• 
• 
• 
• 
 
Maio
Maio
Maio
Maio
Maio
Maio
Maio
REGRAS
GERAIS
TRANSPORTES
PÚBLICOS
TRABALHO
SERVIÇOS
PÚBLICOS
COMÉRCIO E
RESTAURAÇÃO
ESCOLAS
E EQUIPA-
MENTOS
SOCIAIS
CULTURA
DESPORTO
Disponibilidade no mercado de máscaras e gel desinfectante
Higienização regular dos espaços
Lotação máxima reduzida
Higiene das mãos e etiqueta respiratória
Distanciamento físico (2m)
Decisões reavaliadas a cada 15 dias
Fonte: Plano de desconfinamento, Conselho de Ministros PÚBLICO
Junho
Junho
Junho
Maio
Maio
Maio
30-31
30-31
4
4
4
4
1
Junho
1
1
1
1
4
4
18
18
18
4
6 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Comércio de rua 
pronto para abrir 
na segunda-feira 
e cabeleireiros já 
estão esgotados
Cabeleireiros e actividades similares vão 
abrir a 4 de Maio e boa parte tem agenda 
esgotada para as próximas semanas.
Dimensão das lojas a abrir nesta primeira 
fase é limitada a 200 metros quadrados
C
omo se esperava, as lojas 
com porta aberta para a 
rua e com áreas até 200 
metros quadrados (m2) 
podem retomar actividade 
na segunda-feira. Também 
os cabeleireiros e actividades simi-
lares, as livrarias e o comércio auto-
móvel podem iniciar actividade, 
independentemente da área, uma 
decisão ontem aprovada pelo 
Governo. 
Boa parte do comércio local já está 
em condições de abrir segunda-feira, 
adianta ao PÚBLICO o presidente da 
Confederação do Comércio e Servi-
ços de Portugal (CCP), João Vieira 
Lopes, apesar de a assinatura dos 
protocolo de auto-regulação, a assi-
nar com a Direcção-Geral da Saúde, 
ter sido adiada de ontem para ama-
nhã. Os comerciantes já conhecem as 
principais regras a cumprir, nomea-
damente a disponibilização de álcool 
gel, o uso de máscaras e os limites de 
ocupação de cinco pessoas (inicial-
mente eram quatro) por cada 100 
metros quadrados. 
Alguns sectores, como o dos cabe-
leireiros e similares (onde é necessá-
Rosa Soares
rio marcação prévia, que em boa 
parte deles já está totalmente assegu-
rada para as próximas semanas), mas 
também o comércio de automóveis 
ou as lojas de óptica, já assinaram os 
protocolos de auto-regulação, adian-
tou o presidente da CCP. 
Deste primeiro grupo de lojas auto-
rizadas a abrir estão excluídas as que 
se localizam em centros comerciais, 
mesmo com dimensão até 200 m2, 
que vão permanecer fechadas até ao 
nal do mês, por permitirem um 
maior ajuntamento de pessoas. 
O Plano de Descon namento do 
Governo estabelece que as lojas com 
porta aberta para a rua até 400 m2 
ou partes de lojas até 400 m2 (ou 
maiores, por decisão da autarquia) 
poderão abrir a partir de 18 de Maio. 
Já as lojas com área superior a 400 
m2 inseridas em centros comerciais, 
e os restaurantes, os cafés e as paste-
larias/esplanadas só poderão abrir a 
1 de Junho. 
Nas condições de abertura das 
lojas está a obrigatoriedade de uso 
de máscara comunitária e o funcio-
namento só a partir das 10h, bem 
como as limitações na lotação, para 
assegurar que se cumprem as regras 
de distanciamento social. Falta ainda 
conhecer, em detalhe, as obrigações 
de higiene e segurança a cumprir. 
Já os restaurantes poderão ter uma 
lotação a 50%, bem mais do que os 
30% que chegou a ser apontado, e 
vão funcionar, no máximo, até às 
23h. Há ainda outras condições espe-
cí cas a de nir. 
Sobre o protocolo de auto-regula-
ção, o primeiro-ministro, António 
Costa, referiu ontem: “No próximo 
sábado, iremos assinar, no Palácio 
da Ajuda, um acordo desse tipo com 
o sector do comércio e também com 
a associação de cabeleireiros e bar-
beiros de Portugal, tendo em vista 
de nir as normas de protecção indi-
vidual, de higienização, de distancia-
mento adequados a cada uma dessas 
actividades e o mesmo iremos fazer 
antes de 18 de Maio também com o 
sector da restauração”, revelou. 
“Relativamente às condições de rea-
bertura da actividade da restauração 
a partir do dia 18 de Maio, nós ire-
mos, entretanto, concluir o trabalho 
que estamos a desenvolver, em par-
ticular com a Ahresp [Associação da 
Hotelaria, Restauração e Similares 
de Portugal], tendo em vista de nir 
as normas de higienização, protec-
ção e segurança nos espaços de res-
tauração”. 
Sobre este aspecto, no sector da 
restauração está a ser preparado um 
guia de boas práticas pela Associação 
de Hotelaria, Restauração e Similares 
de Portugal, que já criou alguma ten-
são com alguns empresários. 
Segundo Ana Jacinto, a secretária-
geral da associação, existem donos 
derestaurante que já estão a com-
prar divisórias de acrílico para os 
seus estabelecimentos ou a tomar 
outras medidas, algo que diz ser 
“precipitado”, uma vez que o refe-
rido guia ainda está a ser avaliado 
pelo Governo. E a expectativa era 
poder divulgar o documento até ao 
nal desta semana, assim que tives-
se luz verde da Direcção-Geral da 
Saúde, da ASAE e de outras entida-
des governamentais que o estão a 
analisar. O que não aconteceu. 
“No guia que apresentámos ao 
Governo não falamos de métricas da 
redução da capacidade nem de acrí-
licos a separar o que quer que seja. O 
que dizemos é que o empresário vai 
ter que reorganizar o layout das suas 
salas, de modo a criar regras de segu-
rança”, explicou Ana Jacinto ao 
PÚBLICO, esta semana. 
A responsável da Ahresp não des-
carta a possibilidade de o Governo vir 
a de nir essas métricas, mas, para 
isso, será necessário aguardar. 
Já os serviços públicos desconcen-
trados, como repartições de Finanças 
e conservatórias, também reabrem 
na próxima segunda-feira, embora o 
atendimento seja realizado com mar-
cação prévia e com o obrigatório uso 
de máscara. 
As Lojas do Cidadão só devem vol-
tar a abrir portas a partir de 1 de 
Junho. 
ADRIANO MIRANDA
Iremos assinar um 
acordo com o 
comércio e também 
com a associação 
de cabeleireiros 
e barbeiros 
de Portugal 
António Costa 
Primeiro-ministro rsoares@publico.pt
Livrarias, stands de automóveis e cabeleireiros foram escolhidos para arrancar reabertura de comércio
Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 7
Para andar nos transportes 
públicos a máscara é obrigatória
C
om as novas regras que ditam 
os passos na direcção da nor-
malidade, o Governo decidiu 
que os transportes públicos 
passam a ter sua lotação limi-
tada a 2/3 do máximo da sua 
capacidade. Além disso, de acordo 
com o que a rmou ontem o primeiro-
ministro, passa a ser obrigatório “o 
uso de máscaras de protecção comu-
nitária” pelos passageiros, “para evi-
tar a sua contaminação e a contami-
nação alheia”, e haverá “normas 
muito exigentes em matérias de lim-
peza e higienização” por parte das 
empresas. 
Estas medidas entram em vigor já 
na segunda-feira, dia em que já have-
rá, de novo, a obrigatoriedade de 
validação dos acessos e reposição das 
barreiras. 
Na Área Metropolitana de Lisboa, 
por exemplo, os títulos mensais já 
podem ser carregados desde o dia 26, 
rede Multibanco incluída, o que, diz 
a AML, é recomendável para evitar 
“formação de las ou concentração 
em locais de venda” e minimizar “os 
contactos pessoais directos”. De acor-
do com a resolução do Conselho de 
Ministros, haverá dispensadores de 
gel desinfectante e os autocarros 
terão uma cabina para o condutor. 
Por parte da Fertagus, a empresa 
a rmou ontem que vai retomar os 
horários normais a partir de segun-
da-feira, e reforçar as horas de aber-
turas das bilheteiras. Já a Barraquei-
ro frisou à Lusa: “Se for necessário 
reforçar a oferta, nós vamos preci-
sar de apoio do Governo”. “Estamos 
a trabalhar com prejuízo. Aquilo 
que vamos fazer é continuar a assu-
mir a oferta que estamos a dar, que 
é de cerca de 40/45% nas áreas 
metropolitanas e, fora, de cerca de 
20%”, referiu, adiantando que “está 
a ser negociada com as autoridades 
de transportes uma oferta estabili-
zada nas áreas metropolitanas”. 
Máscaras no Metro do Porto 
Já o Metro do Porto destaca que have-
rá o “reforço da oferta em toda a rede, 
promovendo o distanciamento 
social”, um “forte reforço das opera-
ções de desinfecção com produtos 
licenciados para a eliminação de vírus 
e bactérias” e a presença “de um efec-
tivo alargado de piquetes de limpeza 
em prontidão”. 
Sobre a questão das máscaras, a 
empresa diz que a “generalidade das 
máquinas de vending disponíveis” 
vão ter máscaras à venda, e em 
alguns locais pode haver também 
“luvas descartáveis e embalagens de 
álcool gel”. Além disso, “como medi-
da de prevenção adicional”, o metro 
terá dispensadores de álcool gel 
para as mãos, isto nas estações de 
maior procura. E aproveita para dei-
xar conselhos aos passageiros: “Uti-
lize sempre a máscara de protecção 
individual nos acessos às estações”, 
“evite viajar nas horas de ponta” 
(viaje preferencialmente depois das 
Luís Villalobos
MIGUEL MANSO
Haverá de novo a obrigatoriedade de validação dos acessos 
10h e antes das 17h), e “mantenha 
uma distância de segurança face aos 
outros clientes”, entre outros. 
Fortes quebras 
Com uma forte quebra de receitas em 
Março e Abril, as empresas de trans-
portes públicos tiveram de se ajustar 
às medidas do estado de emergência, 
que incluíam a imposição de não 
superar a lotação além dos 33,3%, de 
modo a “garantir a distância de segu-
rança entre passageiros”. O que, 
regra geral, foi atingido através do 
ajustamento da oferta, que se mante-
ve acima da procura. 
Houve, aliás, uma forte retracção 
do número de passageiros a partir do 
momento em que as escolas foram 
encerradas, a 16 de Março. Nessa 
data, a procura do metro de Lisboa 
caiu 69%, de acordo com os dados 
cedidos pela empresa ao PÚBLICO. 
No Metro do Porto, a queda foi de 
80% no dia 17 — último dia em que os 
validadores estiveram ligados. Este 
m-de-semana, no entanto, ainda há 
fortes restrições à circulação e, por 
parte da CP, foram suprimidos a 
maioria dos comboios Alfa Pendular 
e Intercidades.
Transportes públicos 
passam a ter lotação 
máxima de 2/3. Medidas 
entram em vigor já na 
próxima segunda-feira
luis.villalobos@publico.pt
O
 regime de teletrabalho vai 
continuar a ser a regra 
durante o mês de Maio para 
quem desempenha funções 
que são compatíveis com o 
trabalho digital à distância. 
Só a partir de 1 de Junho haverá um 
regresso parcial aos locais de traba-
lho. A decisão foi con rmada pelo 
primeiro-ministro, António Costa, 
na apresentação do plano de descon-
namento ontem aprovado em Con-
selho de Ministros. 
A partir de 1 de Junho, o teletra-
balho passará a ser parcial. Os tra-
balhadores poderão voltar às 
empresas e serviços, mas com horá-
rios desfasados ou através de orga-
nização de equipas em espelho, 
para prevenir a propagação do sur-
to do novo coronavírus. 
Com este calendário, as empresas 
têm um mês para preparar o regresso 
parcial e faseado dos funcionários aos 
locais de trabalho, de forma a garantir 
a implementação das regras de segu-
rança e higiene, que exigem também 
uma limpeza regular dos espaços. 
Os trabalhadores, do privado ou 
da administração pública, podem 
optar pelo regime de teletrabalho 
sem que seja necessário o acordo do 
empregador, desde que a prestação 
à distância seja compatível com as 
suas funções. A excepção vai para os 
serviços essenciais, como funcioná-
rios em estabelecimentos de ensino 
que promovam o acolhimento dos 
lhos dos pro ssionais de saúde, das 
forças e serviços de segurança e de 
socorro, incluindo os bombeiros 
voluntários e das forças armadas, 
bem como de gestão e manutenção 
de infra-estruturas essenciais. 
Quem está em regime de teletra-
balho tem direito ao salário por 
inteiro e não pode aceder ao apoio 
previsto para quem tem de car em 
casa com os lhos devido ao encer-
ramento das escolas. Por outro lado, 
se um dos pais estiver em regime de 
teletrabalho, o outro não poderá 
aceder a este apoio. 
Segundo uma sondagem da Pita-
górica, divulgada no nal do primei-
ro período de estado de emergência 
pelo JN e TSF, quase metade dos por-
tugueses estava em teletrabalho, 
sendo que desse universo 23% tinha 
rendimentos mais baixos e 68% salá-
rios mais elevados. 
Teletrabalho continua a ser 
a regra no mês de Maio
Pedro Crisóstomo
PAULO PIMENTA
Regresso parcial aos locais de trabalho só depois de 1 de Junho
pedro.crisostomo@publico.pt
Nenhuma empresa no sector 
dos transportes consegue ter, 
de um momento para o outro, 
uma cabina fechada 
Rui CaleirasPresidente do Sindicato dos Trabalhadores de 
Transportes (Sitra)
8 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Mulher infectada detida 
Uma mulher de 76 anos infectada 
com o novo coronavírus foi detida 
na quarta-feira pela PSP de Ovar, 
pelo crime de desobediência. 
Estava a circular na rua sem 
máscara. A detenção aconteceu 
no âmbito das acções destinadas 
a verificar o cumprimento do 
confinamento domiciliário.
Se não existirem 
condições 
de segurança, 
directores não 
reabrirão as escolas
E
stá feito o anúncio o cial sobre 
o reinício das aulas presenciais 
a 18 de Maio para o 11.º e 12.º 
ano, que abrangerá também os 
colégios, e ainda para os últi-
mos dois anos dos cursos pro-
ssionais, o que, neste último caso, é 
novidade. Falta agora ver como se irá 
concretizar, se a evolução da pande-
mia assim o permitir. E esse é um 
trabalho que terá de ser “feito escola 
a escola, porque todas são diferentes 
e as realidades mudam de uma para 
outra”, alerta o presidente da Asso-
ciação Nacional de Dirigentes Escola-
res (ANDE), Manuel Pereira. 
Este responsável deixa uma certe-
za: “Nenhum director se responsabi-
lizará por abrir uma escola se não 
estiverem reunidas as condições para 
garantir a segurança de alunos e pro-
fessores”. Isto passa por terem todo 
o material de protecção individual e 
de higienização dos espaços que foi 
apresentado como indispensável. E 
também pela veri cação de que as 
condições físicas dos próprios esta-
belecimentos escolares permitem 
manter as regras de distanciamento 
social que continuarão em vigor. 
Antes de se prosseguir, uma nota 
para uma das novidades do dia. Para 
além dos alunos do 11.º e 12.º ano 
também voltarão a ter aulas presen-
ciais os que frequentam os últimos 
Clara Viana
Alunos do 11º e 12º anos voltam em Ma
dois anos dos cursos pro ssionais, 
cenário que só ontem foi anunciado 
por António Costa. Serão mais cerca 
de 70 mil alunos a voltar à escola. Até 
agora, o Governo indicara que estes 
alunos poderiam concluir a sua for-
mação à distância. Não foram apre-
sentadas razões para esta mudança. 
“Distanciamento de dois metros 
entre cada um. Lotação máxima de 
dez pessoas por 100m2. Nas escolas? 
Como?”, questiona o director da 
Escola Secundária Camões, João Jai-
me, que no ensino diurno tem 1050 
alunos entre o 10.º e o 12.º ano. O res-
ponsável deste liceu centenário de 
Lisboa, que se encontra em obras e 
onde os alunos estavam a ter aulas em 
contentores, adianta que está à espe-
ra do decreto com as medidas de exe-
cução para o que foi anunciado 
ontem, para tentar perceber melhor 
como será a sua “operacionalização”. 
Mas dúvidas não faltam. Não poden-
do estar mais de dez alunos em sala 
de aula, poderá signi car ter de “divi-
dir a turma em três partes. Qual será 
então a carga lectiva semanal por dis-
ciplina?”. “Também não foi referido 
nada sobre os funcionários e os pro-
fessores em situação de risco [que 
estão dispensados deste regresso]. 
Quem é que os vai substituir?”. O 
PÚBLICO já questionou o Ministério 
da Educação a este respeito, mas ain-
da não chegaram respostas. 
O presidente da ANDE está convic-
to de que a “a maior parte das escolas 
O regresso às aulas presenciais também 
vai abranger os alunos dos dois últimos 
anos dos cursos pro ssionais. Serão 
mais 70 mil a voltar às escolas
encontrará soluções pací cas” para 
este regresso, mas acentua que outras, 
como as grandes secundárias das 
cidades, irão “ter muitos problemas” 
e que o ME tem de estar disponível 
para se encontrarem “soluções alter-
nativas”, caso se comprove que exis-
tem estabelecimentos de ensino sem 
condições de segurança. Por agora, 
está con ante que essa será a atitude 
por parte da tutela. E também, estan-
do” habituados a trabalhar no o da 
navalha”, que os directores consegui-
rão encontrar “soluções” para asse-
gurar as aulas presenciais: “Somos 
parte da solução e não do problema 
e este regresso poderá ajudar a que se 
crie alguma tranquilidade entre os 
alunos, pais e na comunidade.” 
Professora de Português do 12.º ano 
na secundária de Barcelos, Fátima 
Gomes será uma das docentes que vão 
C
om a abertura xada para o 
dia 18 de Maio, as creches — 
particulares e do sector social 
— terão duas semanas para se 
prepararem para voltar a aco-
lher crianças. O primeiro pas-
so é garantir que todos os pro ssionais 
destes equipamentos são submetidos 
ao teste de despistagem do novo coro-
navírus. É uma operação que, segun-
do Lino Maia, presidente da Confede-
ração Nacional das Instituições Parti-
culares de Solidariedade Social (CNIS), 
que detém metade das cerca de 2300 
creches existentes no país, já foi posta 
em marcha por várias autarquias. 
“A desinfecção dos espaços tam-
bém já começou nalguns casos a ser 
feita. Creio que, nas próximas duas 
semanas, será possível fazer a forma-
ção dos trabalhadores para que tudo 
corra bem e para que as famílias que 
ainda mantêm alguma apreensão 
sintam a con ança de que precisam 
para voltarem a pôr os seus lhos nas 
creches”, acrescentou Lino Maia. 
O Ministério do Trabalho, Solida-
riedade e Segurança Social (MTSS) vai 
reunir-se, já no início da próxima 
semana, com os representantes des-
tes equipamentos para de nir um 
manual de boas práticas capazes de 
minimizar o risco de contágio nestes 
equipamentos. Sublinhando que as 
crianças constituem o grupo de 
menor risco para a covid-19, o primei-
ro-ministro adiantou ontem que 
deverão ser privilegiadas “actividades 
ao ar livre” não só nas creches, mas 
também nos ATL (actividades de tem-
pos livres) e no pré-escolar, cuja aber-
tura está programada para o dia 1 de 
Junho, bem como os equipamentos 
sociais na área da de ciência. 
A partir do dia 18 de Maio, o recurso 
às creches será facultativo, isto é, os 
pais que optem por se manter em casa 
com as crianças até aos três anos de 
idade continuarão a poder bene ciar 
do apoio excepcional às famílias que 
lhes garante 66% do salário. “Apesar 
de permitirmos a reabertura das cre-
ches a partir do dia 18 de Maio, temos 
Profissionais de creches e 
jardins-de-infância testados
bem consciência de que é daquelas 
actividades que têm gerado movimen-
to mais contraditórios: tanto recebo 
muitos apelos para que, com a máxi-
ma urgência, procedamos à reabertu-
ra das creches como recebo súplicas 
para que não o façamos, porque é um 
risco para as crianças. Precisamente 
por isso, consideramos útil haver um 
período de transição em que, entre os 
dias 18 de Maio e 1 de Junho, as creches 
estão abertas, mas mantendo-se os 
apoios às famílias, para que estas pos-
sam experimentar e ganhar a con an-
ça de que precisam para voltarem a 
colocar as suas crianças nas creches”, 
precisou Costa, explicando que, de 1 
a 26 de Junho, dia em que termina o 
ano lectivo, esse apoio será concedido 
só a famílias com crianças em idade 
de frequentar o básico e cujas aulas 
presenciais não serão retomadas. 
As crianças das creches e jardins- -
de-infância não serão obrigadas a 
usar máscara. Quanto aos pro ssio-
nais, têm duas semanas para receber 
formação quanto às normas de higie-
ne, protecção e segurança a adoptar 
no dia-a-dia. “São duas semanas 
importantes, que nos permitirão 
esclarecer todas as dúvidas e tomar 
as medidas necessárias, disse Susana 
Batista, presidente da Associação de 
Creches e Pequenos Estabelecimen-
tos de Ensino Particular.
Natália Faria
Creches abrem a 18 de Maio
Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 9
Câmara de Lisboa está a estudar 
distribuição de máscaras 
A Câmara de Lisboa está a 
estudar a distribuição de 
máscaras reutilizáveis aos utentes 
de transporte público. A 
informação foi adiantada ontem 
pelo presidente da câmara, 
Fernando Medina, durante a 
reunião pública do executivo.
Levantada suspensão da pesca 
em rios ao fim-de-semana 
Com o fimdo estado de 
emergência, a pesca em “águas 
interiores não-marítimas”, que 
estava supensa, pode ser 
retomada, desde que cumpridas 
as recomendações de saúde. A 
medida saiu ontem em Diário da 
República.
DGS diz que há um caso de 
criança com reacção rara 
A Organização Mundial de Saúde 
está a estudar a possibilidade de a 
reacção inflamatória rara que foi 
já identificada em crianças de 
vários países poder ser uma 
consequência tardia da covid-19. 
Em Portugal há um caso em 
análise, confirmou a DGS.
13 
utentes de “O Lar do Comércio”, 
de Matosinhos, morreram por 
covid-19. Há 89 infectados, fez 
saber a instituição
DIÁRI DA QUARENTENA, 45
Um dia, we will meet again
23
 de Março de 
2020. De manhã, 
dei os parabéns à 
minha mãe, 
perguntei-lhe o 
que ia fazer no 
dia de anos, com Portugal 
fechado a sete chaves. Ela ia 
continuar a ler Dostoievski e 
Amis. A realidade dela parecia-me 
diferente: no Reino Unido, onde 
vivo, ainda se circulava 
livremente por todo o lado. Na 
minha rua, o barbeiro Sam 
continuava a dizer-me “good 
morning”, com aquele sotaque 
bristoliano arrastado. A argelina 
da lavandaria continuava com 
aquele ar de 14 horas diárias de 
trabalho. O sioterapeuta israelita 
continuava a vigiar a rua como se 
fosse da Mossad. As estudantes 
mini-Billie Eilish continuavam a 
caminhar para a universidade. 
Só que foi o último dia da ida 
para o trabalho, para a rua, para a 
vida pública. Às 20h, Boris 
Johnson apareceu em declaração 
curta e grave ao país, ele que não 
fazia grave. O Reino Unido, a mãe 
das democracias liberais, iria, pela 
primeira vez na História, fechar as 
portas. O coronavírus conseguiu 
algo que nem a Luftwa e alguma 
vez tinha imaginado: um país 
inteiro em casa. 
A partir daí, as rotinas 
alteraram-se. Reuniões de 
trabalho substituídas por 
videoconferências. Ficámos todos 
a saber um pouco mais dos outros 
ao entrar assim pelas casas dentro. 
Quem lê, o que lê. Quem decora as 
paredes, como decora. Quem tem 
crianças pequenas que 
desrespeitam chamadas sérias de 
adultos. Um vislumbre de 
Ricardo Arruda-Bunker
hiperintimidade numa nova era de 
separação. Há colegas que 
imediatamente cam sem nada 
para fazer. Seguem para furlough, 
nova palavra de 2020, igual ao 
lay-off português. O Estado, de 
repente, paga tudo: salários, 
transportes, empresas. 
Há outros como eu que cam 
mais ocupados do que nunca. 
Trabalhar em casa ajuda na 
produtividade, desmotiva na falta 
de olhar e trocar. Trabalham-se 
ainda mais horas, sem se notar, 
talvez para se escapar à realidade. 
Ensaiam-se novas formas de 
contactar clientes, mudam-se 
estratégias. Adapta-se. Lá dizia o 
Darwin: “Survival of the fittest”. Há 
colegas que se queixam de 
depressão nas crianças. Há outros 
que se lançam em regimes de 
desporto olímpico dentro de portas. 
Lê-se mais, vêem-se mais lmes, 
escapa-se para breves voltas nos 
parques, numa valsa calculada de 
dois metros de distância. 
A realidade torna-se uma 
hiper-realidade. Todos os dias há 
conferências de imprensa. 
Contam-se os mortos como uma 
estatística abstracta. Pouco se sabe 
deles. Que pais, mães, avós, eram 
eles? Que vida tinham? Que 
projectos tinham? Os noticiários são 
um boletim clínico, em que se está 
sempre ao lado de um ventilador. 
Foi você que pediu dor gratuita? O 
próprio Boris entra nos cuidados 
intensivos, ressuscita qual Cristo, 
agradece à neozelandesa Jenny e ao 
português Luís pelo cuidado 
médico. O país venera o National 
Health Service. As noites de 
quinta-feira são dedicadas a bater 
palmas aos médicos e enfermeiros, 
os novos ícones. 
A rainha Isabel II, com as suas 
nove décadas de experiência, disse 
ao país que um dia nos 
encontraremos todos de novo. Um 
dia tudo voltará ao normal. Um dia.
Gestor, residente em Bristol, 
Reino Unido
DANIEL ROCHA
io às aulas presenciais
cviana@publico.pt
voltar à escola. “Não encontro sentido 
nesta abertura, não a acho necessária, 
e temo que crie uma desestabilização 
nada aconselhável neste período”. O 
Governo justi cou este regresso por 
parte dos alunos do 11.º e 12.º ano com 
a necessidade de se prepararem para 
os exames nacionais. “Mas já estão a 
ter aulas à distância e têm idade para 
o estudo autónomo”, contrapõe Fáti-
ma Gomes, que aponta ainda para um 
país que é profundamente diferente. 
Como garantir, por exemplo, que os 
alunos vão estar o “mínimo tempo 
possível nas escolas”, segundo o acon-
selhado por Costa, se em muitos sítios 
existe apenas um autocarro, que leva 
os alunos de manhã para a escola e os 
traz de volta às suas freguesias à tar-
de?, questiona.
A
 regra aplica-se a todos. 
Todos os intervenientes 
numa diligência processual 
terão de estar separados 
por dois metros de distân-
cia. Sejam eles os juízes que 
integram o mesmo colectivo, procu-
radores ou advogados que partilham 
a mesma bancada. A reivindicação 
foi feita por juízes e procuradores e 
foi apoiada pela Direcção-Geral de 
Saúde que impediu assim que o 
Ministério da Justiça conseguisse 
impor apenas um metro de distância 
entre os vários intervenientes. 
O PÚBLICO apurou que este é um 
dos poucos pontos que já está assen-
te para o regresso dos tribunais à 
normalidade possível durante a 
pandemia de covid-19. Falta perce-
ber como vai ser possível aplicar a 
regra às inúmeras salas dos tribu-
nais cuja dimensão impede um jul-
gamento presencial. O plano de 
descon namento anunciado esta 
quinta-feira à tarde pelo primeiro-
ministro António Costa não faz qual-
quer referência à forma como se 
processará o regresso à normalida-
de nos tribunais. Na entrevista dada 
pelo chefe do Executivo à RTP, Cos-
ta também não falou do assunto. 
Contactado pelo PÚBLICO, o Minis-
tério da Justiça não respondeu como 
os tribunais vão funcionar após o 
estado de emergência. Não se sabe 
até quando é que os prazos judiciais 
se vão manter suspensos. 
O PÚBLICO sabe, contudo, que na 
última semana a directora-geral da 
Administração da Justiça, Isabel 
Namora, se reuniu várias vezes com 
representantes dos conselhos supe-
riores da Magistratura e dos Tribu-
nais Administrativos e Fiscais e da 
Procuradoria-Geral da República. 
Após a falta de entendimento sobre 
as regras a aplicar foi realizada uma 
reunião presencial no Campus da 
Justiça, em que participou um ele-
mento da Direcção-Geral da Saúde. 
E o nó desfez-se com o perito em 
saúde pública a defender o mesmo 
Tribunais sem data 
para voltar à normalidade
que juízes e procuradores: a regra 
do distanciamento é dois metros e 
não de um metro como pretendia o 
ministério. 
Segundo informações recolhidas 
pelo PÚBLICO, admitiu-se a hipóte-
se de serem colocados acrílicos 
frontais e laterais em salas onde não 
seja possível manter os dois metros 
de distância e ainda não se sabe se 
as máscaras serão ou não obrigató-
rias. É certo que a limpeza será 
reforçada e que as salas serão desin-
fectadas após cada diligência. 
Os funcionários judiciais deverão 
começar a trabalhar por turnos, para 
não congestionar as instalações. 
Logo, os juízes com quem trabalham 
só poderão fazer as diligências pre-
senciais quando os o ciais de justiça 
estiveram sicamente nos tribunais, 
o que condicionará a agenda dos 
juízes e dos procuradores. Nos tribu-
nais superiores a regra continuará a 
ser o teletrabalho. As normas que 
de nirão as novas regras de funcio-
namento dos tribunais deverão ser 
publicadas nos próximos dias. 
A Associação Sindical de Juízes 
Portugueses reagiu com estranheza 
ao plano de descon namento anun-
ciado por António Costa. “Não con-
sigo compreender que os jogos de 
futebol sejam mais importantes que 
a justiça”, observa o presidente da 
associação, Manuel Ramos Soares, 
numa alusão ao facto de o chefe do 
Governo ter recebido esta semana 
vários dirigentes desportivos e de oplano de descon namento ter 
medidas previstas relativamente às 
competições o ciais da 1.ª Liga de 
Futebol e à Taça de Portugal. Mas 
sobre os julgamentos não existe 
uma única palavra. 
Mariana Oliveira
A área da Justiça, 
tutelada por 
Francisca Van 
Dunem, não foi 
abordada por 
Costa com os 
jornalistas
mariana.oliveira@publico.pt 
10 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Açores deixa de pagar 
quarentena a não residentes 
O Governo Regional dos Açores 
vai deixar, a partir de 8 de Maio, 
de suportar os custos das 
quarentenas obrigatórias dos não 
residentes que chegam ao 
arquipélago, e que têm de as 
cumprir num hotel. Passam a ter 
de ser os próprios a pagar. 
Governo quer 
crianças de 
famílias de risco 
de regresso à 
escola mais cedo
Medida é para crianças acompanhadas 
por comissões de protecção por maus 
tratos físicos ou psicológicos, negligências 
graves ou violência doméstica. Irão para a 
escola os menores em situação mais grave
O
 Governo quer que as crian-
ças entre os três e os 18 anos 
a viver em famílias de risco 
regressem à escola antes do 
nal do ano lectivo. Esse 
regresso antecipado – inde-
pendentemente de a criança frequen-
tar o pré-escolar, os vários ciclos do 
ensino básico ou o secundário – deve-
rá ser decidido como medida de pro-
tecção e vigilância das crianças em 
situação de maior perigo. 
A medida será aplicada para quatro 
situações: maus tratos físicos ou psi-
cológicos, negligências graves ou vio-
lência doméstica e poderá abranger 
milhares de crianças. 
O con namento prolongado das 
crianças com pais negligentes ou mal-
tratantes começou a ser “uma grande 
preocupação”, disse ao PÚBLICO fon-
te o cial ligada ao sistema de promo-
ção e protecção. “Com o passar do 
tempo, começámos a ver que é difícil 
ter a informação do que se está a pas-
sar.” A medida está numa “fase avan-
çada” e poderá ser anunciada “rapi-
damente”, depois de ter sido um 
assunto central em reuniões entre os 
ministérios da Educação e da Segu-
Ana Dias Codeiro
rança Social e a Comissão Nacional de 
Promoção dos Direitos e Protec-
ção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) 
pelo menos no último mês, disse ao 
PÚBLICO a mesma fonte. 
“Estas crianças não são vistas por 
ninguém porque estão sempre em 
casa e mesmo nas aulas virtuais”, 
durante as quais o professor poderia 
aperceber-se de alguns sinais de ins-
tabilidade ou sofrimento, “alguns 
alunos não aparecem e os professores 
não sabem o que lhes aconteceu”, 
continua a mesma fonte. 
O sistema de promoção e protec-
ção e escolas “têm vindo a pensar 
nisto” porque estão “cada vez mais 
preocupadas”, acrescentou Filinto 
Lima, presidente da Associação 
Nacional dos Directores de Agrupa-
mentos e Escolas Públicas. 
“Esses miúdos preocupam-nos. O 
Ministério da Educação tem-nos reco-
mendado nas reuniões para denun-
ciarmos às comissões de protecção” 
eventuais situações e “para chegar-
mos a todos”, acrescenta Filinto 
Lima. Há alunos que deixaram de 
aparecer nas aulas virtuais e pais que 
não atendem o telefone quando são 
contactados pela escola. 
Além da negligência e de poder 
estar a ser ocultada alguma situação, 
Com o estado de emergência, as famílias deixaram de ser acompanhadas pelas equipas técnicas das CPCJ
mostram que em 2018 quase 35 mil 
crianças estavam a ser acompanha-
das, das quais 28 mil estavam com os 
pais. Nos últimos cinco anos, só a 
negligência e a violência doméstica 
representaram cerca de 55% dos 
contextos de perigo. 
Todas as CPCJ foram chamadas a 
pronunciar-se sobre os processos que 
acompanham para identi carem 
quais as crianças que deveriam ser 
abrangidas por este “auxiliar de pro-
tecção”. Há umas crianças que estão 
mais em perigo do que outras, subli-
nha a mesma fonte o cial. “São as 
comissões de protecção que sabem 
ver quais os processos que suscitam 
maior preocupação. Às vezes estas 
medidas de apoio junto dos pais são 
medidas provisórias, com muitas reti-
cências”, acrescenta. 
Porém, os pro ssionais estão com 
algumas reticências sobre se estão 
estes casos potenciam o insucesso 
escolar ou eventual abandono, o que 
também con gura uma situação de 
perigo, no sistema de protecção, por 
estar em causa o direito à educação 
da criança. 
“Agora à distância, é mais fácil ao 
aluno esse desaparecimento quando 
os pais não colaboram connosco”, 
salienta Filinto Lima. 
Com o estado de emergência, as 
famílias deixaram de ser acompanha-
das pelas equipas técnicas das comis-
sões de protecção de crianças e jovens 
(CPCJ) em visitas domiciliárias entre-
tanto suspensas para a maioria dos 
casos. E nas situações mais graves 
em que foram excepcionalmente 
mantidas as visitas, os pais nem sem-
pre abrem a porta com o pretexto do 
risco do contágio e da obrigatorieda-
de de os lhos carem em casa. 
O PÚBLICO tentou saber junto dos 
ministérios da Educação e do Traba-
lho, Solidariedade e Segurança Social 
a partir de que data seria aplicada esta 
medida do regresso à escola de crian-
ças em perigo e se se con rmavam 
que estas crianças seriam colocadas 
nos estabelecimentos de ensino que 
permaneceram abertos excepcional-
mente para pro ssões impossibilita-
das de parar como os pro ssionais de 
saúde ou as forças de segurança. 
“Estamos a avaliar vários mecanis-
mos para reforço da sinalização e 
protecção das crianças em risco no 
momento que vivemos, estando 
várias situações em análise”, respon-
deu o gabinete de imprensa da minis-
tra Ana Mendes Godinho. 
As crianças com medidas aplica-
das de apoio junto dos pais represen-
tam em média 80% das crianças e 
jovens acompanhados pelas CPCJ. Os 
dados mais recentes disponíveis 
Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 11
Europeu de hóquei cancelado 
As competições europeias de 
clubes de hóquei em patins já não 
serão reatadas na presente 
temporada e o Campeonato da 
Europa da modalidade, que 
deveria realizar-se em França no 
fim de Julho, também não terá 
lugar. A decisão foi comunicada 
pela confederação europeia. 
Provas-piloto no ciclismo 
A Federação Portuguesa de 
Ciclismo revelou que vai iniciar 
um diálogo com as associações 
regionais e as equipas 
profissionais para a retoma da 
modalidade, contando em Junho 
realizar duas provas-piloto. O 
arranque da Volta a Portugal está 
ainda previsto para 29 de Julho.
Praias vão ser mais fiscalizadas 
A Autoridade Marítima Nacional 
pede à população para não ir à 
praia neste fim-de-semana. 
Esperam-se temperaturas 
elevadas. Mas haverá um reforço 
da fiscalização, promete, com o 
objectivo de “evitar 
comportamentos de risco” e 
“salvaguardar a saúde pública”.
20,9 
por cento foi quanto 
caiu o consumo 
de gasolina em Março 
 
DANIEL ROCHA
acordeiro@publico.pt
Só se jogará o futebol de primeira e a Taça 
A partir do último m-de-semana de 
Maio, voltará a haver futebol em Por-
tugal. O plano de descon namento 
revelado ontem pelo Governo prevê 
a conclusão da I Liga, que ainda tem 
dez jornadas por disputar, e da Taça 
de Portugal, cuja nal será discutida 
entre FC Porto e Ben ca. De acordo 
com o plano anunciado por António 
Costa, todos os encontros decorrerão 
à porta fechada e é provável que nem 
todos os estádios da I Liga recebam 
jogos. No que diz respeito ao futebol, 
a II Liga cou de fora deste plano de 
descon namento, sendo que conti-
nuam interditas todas as modalidades 
praticadas em recinto fechado, 
incluindo os desportos de combate. 
A prática do desporto individual ao 
ar livre, que não seja em competição, 
também “deixará de ter limitações”. 
O primeiro-ministro anunciou, no 
entanto, que ainda há condições a 
cumprir para que o regresso seja uma 
realidade. Segundo revelou António 
Costa no Palácio da Ajuda, após uma 
reunião do Conselho de Ministros, o 
regresso está dependente da aprova-
ção por parte da Direcção-Geral da 
Saúde (DGS) do plano sanitário apre-
sentadopela Liga Portuguesa de Fute-
bol Pro ssional (LPFP), um protocolo 
que prevê, por exemplo, a realização 
extensiva de testes a todos “os ele-
mentos da cha de jogo e jogadores 
não convocados” e outros elementos 
adicionais, entre outras medidas. 
António Costa deu ainda a enten-
der que nem todos os estádios terão 
condições para a realização destes 
jogos à porta fechada e que, de acor-
do com os protocolos sanitários, essa 
avaliação será igualmente feita pela 
DGS. Ao que o PÚBLICO apurou, em 
causa estarão essencialmente os está-
dios que foram construídos para o 
Euro 2004 e, eventualmente, o Está-
jornada. O calendário pré-pandemia 
do futebol português previa que a I 
Liga terminasse no m-de-semana de 
16 e 17 de Maio, com a nal da Taça de 
Portugal a realizar-se no domingo 
seguinte, a 25 de Maio. Agora, serão 
90 jogos da I Liga, ainda com tudo por 
decidir (título, classi cações euro-
peias e despromoções), mais um para 
a nal da Taça. 
No que diz respeito à nal da Taça, 
está tudo ainda muito inde nido, a 
começar pela própria realização do 
jogo entre Ben ca e FC Porto. Sendo 
habitualmente o encontro que fecha 
a época do futebol português, a data 
da nal não foi ainda de nida, nem é 
um dado adquirido que seja realizada 
no Jamor, como é a tradição. Ponto 
assente é que o parecer da DGS ditará 
os passos a seguir. 
Pouco depois da comunicação de 
António Costa, o Sporting anunciou, 
em comunicado, que o seu regresso 
à competição será a 1 de Junho. Ou 
seja, o encontro dos “leões” com o V. 
Guimarães, a contar para a 25.ª jor-
nada, ocorrerá a uma segunda-feira. 
II Liga por decidir 
O plano de descon namento anun-
ciado por António Costa não se refe-
riu directamente ao que iria acon-
tecer com a II Liga, mas o primeiro-
ministro anunciou, de forma 
implícita, que esta não iria ser reto-
Marco Vaza
Competições reatadas no 
último fim-de-semana de 
Maio. Todos os jogos serão à 
porta fechada e os estádios 
carecem de parecer da DGS
mvaza@publico.pt
MANUEL FERNANDO ARAUJO/EPA
O FC Porto vai recomeçar o campeonato na liderança
mada. “Tivemos a oportunidade de 
ouvir a Liga e a Federação Portugue-
sa de Futebol. Só para a I Liga é que 
havia condições para a reabertura 
da época”, referiu o primeiro-minis-
tro. Mais tarde, em entrevista à RTP, 
o governante reforçou que essa 
decisão de limitar o regresso do 
futebol à I Liga e à Taça foi fruto de 
um consenso: “No futebol é óbvio 
que há proximidade. A primeira 
medida que se tomou foi que não 
haverá público nos estádios. Depois, 
foi limitado à I Liga, onde consen-
sualmente a Federação, a Liga e os 
clubes assumiram que têm as con-
dições técnicas e organizativas para 
cumprir as normas de protecção, de 
testagem e isolamento”. 
Esta decisão deixou os clubes do 
segundo escalão do futebol português 
bastante revoltados. O PÚBLICO sabe 
que haverá uma reunião informal na 
sede da Liga já hoje, sendo que deve-
rá haver uma assembleia geral do 
organismo para discutir os cenários 
de promoções e despromoções na II 
Liga, no início da próxima semana. 
O PÚBLICO tentou contactar vários 
dirigentes de clubes da II Liga, mas a 
única reacção que obteve foi de 
expectativa pelas indicações do orga-
nismo liderado por Pedro Proença. 
Da parte do Farense, que está na 
segunda posição da II Liga e bem lan-
çado para o regresso ao primeiro 
escalão, há a crença de que a classi-
cação será homologada. 
Se isto acontecer, serão promovi-
dos o Nacional (líder, com 50 pontos) 
e o Farense (segundo, 48), sendo que 
a luta pelos dois lugares de promo-
ção ainda estava totalmente em aber-
to com dez jornadas por disputar — 
aos dois primeiros seguiam-se Fei-
rense (42), Mafra (39) e Estoril (39). 
Uma reacção o cial veio da Olivei-
rense, que, em comunicado, fala de 
“dois pesos e duas medidas para o 
futebol pro ssional”. “Há um regime 
de excepção para a I Liga e para a 
Taça. Ou paramos todos ou jogamos 
todos. Não queremos uma competi-
ção no relvado e outra na secretaria”, 
refere o presidente, Horácio Bastos.
dio Cidade de Barcelos, que serve de 
casa para o Gil Vicente. Seis dos dez 
recintos do Euro 2004 são utilizados 
por equipas da I Liga (Luz, Dragão, 
Alvalade, Bessa, Guimarães e Braga), 
mas está também em aberto a utiliza-
ção dos outros quatro (Algarve, Avei-
ro, Leiria e Coimbra). Seja onde for, 
não poderão estar mais de 300 pes-
soas em cada jogo. 
Os clubes dos arquipélagos 
Uma eventual concentração geográ-
ca dos jogos implicará que as equi-
pas insulares joguem apenas em Por-
tugal continental. O Santa Clara, pela 
voz do seu presidente, Rui Cordeiro, 
já garantiu que o clube açoriano irá 
disputar todos os jogos longe do 
arquipélago, até porque o Governo 
regional impôs uma quarentena obri-
gatória a quem chegasse à região. Já 
em relação ao madeirense Marítimo, 
o seu presidente, Carlos Pereira, está 
contra essa concentração. “O cam-
peonato é normal e tem de ser reali-
zado conforme mandam os regula-
mentos. Não vou alimentar cenários 
quando não concordo com eles”, 
referiu, citado pelo jornal O Jogo. 
Havendo o parecer favorável da 
DGS, a I Liga irá, então, voltar à acti-
vidade dois meses e meio depois de 
ter sido interrompida por causa do 
novo coronavírus — a competição foi 
suspensa quando se ia disputar a 25.ª 
reunidas as condições para se pode-
rem pronunciar, uma vez que o 
acompanhamento destas famílias 
ou não tem sido feito ou tem sido 
apenas feito à distância nos últimos 
dois meses. 
“Nós compreendemos as di culda-
des destes técnicos em assumir res-
ponsabilidades neste capítulo e esta-
mos a aconselhá-los a pedir orienta-
ções mais precisas aos seus dirigentes 
e a questionarem-nos sobre como 
fazer o que lhes está a ser pedido, 
uma vez que um mero telefonema 
não chegará para efectuarem uma 
avaliação sobre a necessidade de 
regresso destes jovens e crianças às 
escolas”, disse José Abraão, Secretá-
rio-geral da Federação de Sindicatos 
da Administração Pública (Fesap). 
com Ana Henriques
12 • Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Arquivo.pt: 
“Daqui a 50 anos, 
a Internet vai 
ajudar a contar 
a história 
da covid-19”
O Arquivo.pt está a guardar jornais 
online, sites do Governo, blogues e artigos 
de opinião para ajudar a contar a história 
da pandemia pelo novo coronavírus
F
uturos académicos, cientistas 
e jornalistas que estejam a 
estudar a resposta portuguesa 
à pandemia da covid-19 vão 
querer ler testemunhos em 
primeira mão de quem foi 
afectado, registos o ciais do número 
de vítimas, e recomendações dos 
médicos, políticos e cientistas da 
época. Grande parte da história está 
a ser escrita na Internet e guardada 
pelo Arquivo.pt, um serviço público 
que desde 2008 preserva milhões de 
páginas recolhidas da Web portugue-
sa para consulta futura. É desenvol-
vido pela Fundação para a Compu-
tação Cientí ca Nacional (FCCN), 
uma unidade da Fundação para a 
Ciência e a Tecnologia. 
“Estamos a arquivar diariamente 
páginas de 106 sites com informação 
especí ca sobre o impacto da covid-
19 na vida em Portugal”, explica ao 
PÚBLICO João Gomes, director da 
Área de Serviços Avançados da FCCN 
e coordenador do Arquivo.pt. “O 
objectivo é garantir que a informação 
não se perde.” De acordo com a equi-
pa, após um ano, apenas 20% de um 
Karla Pequenino
conjunto de endereços online se 
mantêm válidos. A homepage de um 
jornal online, por exemplo, muda 
diariamente. 
“Daqui a 50 anos, a Internet vai aju-
dar a contar a história da covid-19”, 
continua João Gomes. “É sempre ten-
tador reescrever a história, mas com 
este repositório vai ser possível voltar 
atrás e ver como as pessoas pensaram 
durante o período da pandemia.” 
O foco tem sido guardar as páginas 
dos meios de comunicação social 
com secções dedicadas à covid-19, 
informação o cial do Governo(como actualizações no site da 
Direcção-Geral da Saúde e destaques 
no site do Governo), blogues sobre 
as experiências das pessoas durante 
o isolamento social e sites que estão 
muito activos. 
A colecção nal, disponível para 
consulta em 2021, vai permitir, por 
exemplo, ver a forma como informa-
ção sobre o primeiro estado de emer-
gência declarado em Portugal duran-
te a pandemia, a 18 de Março, mudou 
entre os dias 17 e 19 de Março de 2020, 
quando a medida entrou em vigor, 
através da análise de notícias publica-
das em diferentes jornais nacionais. 
“Portugal foi rápido o su ciente a 
se achou que máscaras não faziam a 
diferença?”, enumera João Gomes. 
“São perguntas deste tipo que que-
remos explorar.” 
Esforço mundial 
Portugal não é o único país a preser-
var o seu arquivo digital. O Consórcio 
Internacional de Preservação da 
Internet (IIPC), com parceiros de 45 
países, incluindo o Arquivo.pt, está 
a coordenar uma colecção de conteú-
do digital publicado desde Fevereiro 
sobre o novo coronavírus. À data, já 
há mais de 5150 páginas preservadas 
na colecção. 
“O propósito destas colecções é 
obviamente manter um registo dos 
eventos e do seu impacto, e poder 
comparar diferentes pontos de vista 
no futuro”, explicou ao PÚBLICO 
Marie Payet, porta-voz da Biblioteca 
Nacional Francesa, que também está 
a colaborar com o IIPC e começou a 
arquivar sites sobre a pandemia des-
de o nal de Janeiro. 
Embora a maioria dos países tenha 
imposto medidas de isolamento 
social para travar a propagação da 
covid-19, há excepções. A Suécia tem 
optado por uma abordagem de “res-
ponsabilização individual”, ao man-
ter escolas, bares, e restaurantes 
abertos com algumas limitações. Já os 
presidentes do Brasil, Nicarágua, Bie-
lorrússia e Turquemenistão têm des-
valorizado a pandemia para proteger 
o sector económico. 
Um dos benefícios de recolher dife-
rentes versões de um mesmo site, em 
dias diferentes, é perceber a forma 
como o conhecimento evolui. “Hoje 
em dia, as publicações online são o 
principal canal de disseminação de 
informação de última hora, juntamen-
te com a televisão e a rádio, enquanto 
que versões impressas, por exemplo 
jornais, são uma espécie de resumo 
de tudo aquilo que já foi lido e debati-
do”, disse ao PÚBLICO Pär Nilsson, 
responsável pela colecção digital da 
Biblioteca Nacional da Suécia. 
Contribuição de Portugal 
Até agora, Portugal tem sido dos paí-
ses que mais contribuíram para o 
arquivo do IIPC. Depois de sites que 
acabam em .com, o domínio de topo 
português (.pt) é o mais comum na 
colecção. “Somos um dos maiores 
contribuidores do mundo, porque o 
nosso sistema é gerido por uma equi-
pa de tecnólogos. Todo os países têm 
os seus arquivos online, mas alguns 
É sempre tentador 
reescrever a 
história, mas com 
este repositório vai 
ser possível voltar 
atrás e ver como as 
pessoas pensaram 
durante o período 
da pandemia 
 
João Gomes 
Fundação para a Computação 
Científica Nacional
reagir? Como é que a opinião dos 
portugueses mudou desde Janeiro, 
quando o vírus parecia estar só na 
China? Quais os países com as medi-
das mais e cazes? Até quando é que 
Público • Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 • 13
T
em vindo a ser divulgada 
por alguns meios de 
comunicação, por políticos 
e cientistas, a ideia 
imprudente de que a 
imunidade de grupo é a 
única maneira viável para nos 
salvarmos da covid-19. Ainda 
recentemente, esta teoria foi 
exposta na imprensa portuguesa 
pelo virologista Pedro Simas. De 
acordo com o Expresso, Pedro 
Simas “defende que o próprio vírus 
é a solução, que o único caminho é 
a imunidade de grupo e vê na 
sociedade um ‘excessivo medo de 
morrer’”. 
A meu ver, esta ideia é não só 
contrária à lógica como é 
praticamente impossível de atingir, 
pelas seguintes razões: 
Primeiro, porque não temos 
absolutamente nenhuma prova de 
que os infetados com este vírus em 
particular desenvolvam qualquer 
tipo de imunidade a longo prazo. 
Aqueles que sobrevivem à covid-19 
tanto podem adquirir imunidade 
por uma semana, como por um 
mês, um ano ou dez anos. Ninguém 
sabe. E sem imunidade de longo 
prazo, não é possível assegurar a 
proteção generalizada da 
sociedade. Além disso, tal como 
acontece com outros vírus, surgirão 
indubitavelmente variações 
individuais. Algumas pessoas 
manter-se-ão imunes durante anos, 
outras apenas algumas semanas. 
Em resumo, advogar a imunidade 
de grupo como política a seguir 
nesta altura seria na minha opinião 
extremamente arriscado. 
Em segundo lugar, os 
especialistas que estudam este 
problema consideram que, para 
que a imunidade de grupo pudesse 
oferecer uma proteção signi cativa, 
seria necessário que 70% da 
milhões de pessoas infetadas com o 
novo coronavírus em Portugal 
necessitassem de hospitalização: 
teríamos mesmo assim 70 mil 
pessoas a recorrer aos hospitais. 
Com 70 mil pessoas exigindo 
cuidados médicos urgentes, todas 
as unidades de cuidados intensivos 
do país cariam rapidamente 
sobrelotadas. Vários milhares de 
pessoas apresentando sintomas de 
risco de vida teriam de ser enviadas 
para casa, por ser impossível 
admiti-las nos hospitais. Além 
disso, teria igualmente de ser 
negado acesso a cuidados médicos 
a pacientes com outras doenças e 
problemas de saúde graves: vítimas 
de acidentes rodoviários, mulheres 
apresentando complicações de 
gravidez constituindo risco de vida, 
vítimas de ataques cardíacos e AVC, 
por exemplo. 
A quem caberá decidir quem é 
autorizado a entrar para uma 
unidade de cuidados intensivos e 
quem deve voltar para casa e 
possivelmente morrer? 
Teremos de dispor de uma 
estratégia para recusar assistência a 
milhares de pessoas. O que signi ca 
que os órgãos hospitalares terão de 
estar preparados para decidir 
quem será admitido ou não 
admitido no hospital. E quem fará 
parte desses órgãos? Médicos? 
Administradores hospitalares? 
Quais serão os critérios por eles 
adoptados? Será que tais órgãos 
poderão decidir que as pessoas 
com mais de 70 anos não deverão 
ter acesso a cuidados médicos? Os 
cegos ou os surdos? As pessoas em 
cadeiras de rodas? Os imigrantes? 
A não ser que queiramos basear 
o futuro do nosso país numa ideia 
que pode vir a revelar-se impossível 
de atingir e a não ser que 
queiramos ter de criar órgãos de 
especialistas para decidir quem 
vive e quem morre, mais vale 
pormos de parte a ideia de que a 
imunidade de grupo é uma maneira 
viável e lógica de resolver o 
problema que nos é colocado por 
esta pandemia.
Uma ideia imprudente
Opinião
Richard Zimler
população em causa fosse infetada 
e desenvolvesse uma imunidade 
forte. Se sete milhões de 
portugueses fossem infetados, 
quantos de nós poderiam car 
seriamente doentes e exigindo 
hospitalização? Neste momento, 
ninguém o sabe. Porquê? Porque 
não dispomos de estatísticas áveis 
sobre a percentagem de pessoas 
que ou não apresentam sintomas 
ou cujos sintomas são tão fracos 
que passam despercebidos e não 
são registados. 
Consequentemente, nem 
cientistas nem políticos estão 
habilitados a fazer qualquer 
previsão ável sobre quantos 
daqueles sete milhões de pessoas 
sobreviveriam e quantos 
morreriam. 
Deveria Portugal e outros países 
pôr termo às suas políticas de 
distanciamento social e de 
quarentena — substituindo-as por 
uma política de imunidade de 
grupo — com base nesta situação de 
quase total ignorância em que nos 
encontramos? 
Tudo me faz crer que não. 
Outro problema que teríamos de 
defrontar é que, mesmo que 
apenas uma ín ma percentagem 
das pessoas infetadas viessem a 
car seriamente doentes, os nossos 
serviços de cuidados intensivos 
cariam rapidamente 
sobrecarregados. Imagine-se, por 
exemplo, que apenas 1% desses sete 
Escritor
Advogar a imunidade 
de grupo como 
política a seguir 
nesta altura seria na 
minha opinião

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