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Conceitos Base do sociodrama (1)

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PSICODRAMA
Conceitos Base do Sociodrama Moreniano
Principais conceitos da Teoria Moreniana
Moreno “ (re) criou conceitos e desenvolveu um conjunto de instrumentos específicos e métodos peculiares de ação. O seu trabalho foi muito influenciado pelas correntes filosóficas da sua época e, em particular, pelo movimento da fenomenologia existencial.” (Veiga, 2009, p.105) Assim sendo, o ser humano é dono do seu próprio destino, assumindo um papel responsável e ético na sua viagem, a que todos chamam vida, e entre conflitos e alianças que vai encontrando formas mais saudáveis de se relacionar consigo e com o mundo, (re) descobrindo as suas capacidades e aprender criativamente a sua existência.
Moreno “bebeu” da corrente filosófica existencialista para fundamentar alguns dos seus conceitos e realça a “importância de vivenciar a verdade de uma pessoa por meio da ação; o valor da realidade subjetiva; a premissa de um encontro vivo no aqui-e-agora entre as pessoas (…) e um profundo igualitarismo” (Moreno, s/d, cit. Fox, 1987, cit. Veiga, 2009, 105)
Para além destes aspectos o pai do psicodrama afirma e dá ênfase ao ser humano como um animal gregário, é o ser mais inacabado à superfície do planeta terra, e é durante o seu desenvolvimento ontogenico, condicionado pelo meio onde está inserido, que “vai ampliando ou diminuindo a sua força e bem-estar” (Veiga, 2009, 106) Sendo o meio social o molde da personalidade dos indivíduos consequentemente ele também é responsável pelos “problemas psicológicos” do ser humano “pelo que a cura passa pelo encontro vivo, no aqui-e-agora, entre as pessoas” (ibidem). Tendo isto, o autor apresenta o grupo como estratégia para efetivar a “metamorfose” do indivíduo sendo que sozinho teria dificuldade em abandonar o seu “casulo”.
As curtas premissas acima mencionadas estão na base dos conceitos desenvolvidos por Moreno. Passo a expor alguns dos conceitos:
Espontaneidade e criatividade
Como foi referido anteriormente o ser humano é o ser mais inacabado à face da terra. Invoco aqui o conceito de neotenia para complementar esta afirmação. O atraso no desenvolvimento, devido aos genes que são responsáveis pelo atraso ontogénico, implica que o ser se desenvolva mais devagar, alargando a infância e a dependência dos progenitores. Na verdade o ser humano apresenta traços e características juvenis na idade adulta. A plasticidade e a capacidade de adaptar-se em diferentes meios são uma prova disso. Esta capacidade inerente ao ser humano permite dar respostas criativas e espontâneas face ao contexto.
Assim sendo a espontaneidade é a capacidade de responder adequadamente a novas situações, ou adquirir novas condutas a condições antigas. Todavia não podemos esquecer que o Homem é um ser cultural. Durante o seu desenvolvimento a cultura regula o indivíduo cristalizando determinadas formas de estar, ser e pensar colocando em causa esta capacidade espontânea e criativa do ser humano. A espontaneidade pode ser exercitada fazendo com que “o indivíduo aja e reaja com prontidão, coerência e sem rigidez dos acontecimentos; saiba avaliar, esteja atento às alternativas e represente os papéis com desenvoltura.” (Veiga, 2009, 107)
Para que a mudança do “sine qua non” ocorra  é necessário introduzir novas sensações ao indivíduo. Este ao vivenciar uma realidade imaginária no palco dramático poderá anular e ganhar consciência das causas das relações recíprocas estéreis do mundo real estimulando para criar atuações “sui generis” com base na espontaneidade.
No “como se”....“ Expressar-se por expressar-se a todo o custo não é necessariamente ser-se espontâneo. Pode significar precisamente o contrário, pode servir para esconder ou mascarar os sentimentos autênticos. É desse exemplo aquele que fala e gesticula sem parar. Um indivíduo não deixa de ser espontâneo quando, por exemplo, sentado numa cadeira, olha tranquilamente para os outros e para os objetos que o rodeiam. ” (Moreno, 1973, cit. Aguilar, 2001)
Nascimento
O nascimento, ou parto como alguns lhes chamam, ocorre quando o feto atinge determinado estado de desenvolvimento dando-se, inicialmente, as contracções do útero acabando por expulsar o feto para o mundo “opressor”. Este é o primeiro momento do bebé protagonista que coloca à prova a sua capacidade espontânea de se adaptar ao novo mundo.
Se este bebé fosse deixado por contra própria o seu destino seria enfrentar a morte. Daí, e relacionando com inacabada “obra” que é o ser humano, o novo residente terrestre com os seu poucos recursos carece do outro para que o ajude a ultrapassar as dificuldades, que satisfaça as suas necessidades e que o integre numa cultura.
Fazendo uma analogia deste processo para o psicodrama o nascimento é um duplo processo, por um lado o bebé que tenta libertar das amarras do mundo intra-uterino, no caso do psicodrama o protagonista que tenta desamarrar as suas incapacidades conquanto, necessita de parteiras, mãe, amas, obstetrícias… (egos auxiliares) “aprenda a gerir e a lidar com os diversos obstáculos que dificultem ou impedem a sua maturação e o seu desenvolvimento.” (Veiga, 2009, 109)
Encontro
Como ser gregário o ser humano está em constante interação. Estas interações nem sempre baseiam-se na partilha, na compreensão e no diálogo. Aqui o encontro não é uma mera interação onde o indivíduo toma consciência da existência do outro (todavia pode ser um momento para criar uma relação). O encontro pressupõe uma relação onde o eu e o tu não têm medo de desconfigurarem-se face aos diferentes olhares a um dado objeto. Olham para a situação como um complemento compreendendo-se mutuamente. Este encontro promove a criatividade sendo estes dois olhares fecundantes podendo conceber uma nova forma de olhar.
Momento
Ao contrário das psicoterapias tradicionais, que buscam o passado dos indivíduos para encontrar as causas de determinados comportamentos,  o psicodrama dá importância aos momentos e às relações do presente e atuais. Mais do que a busca da origem dos problemas o psicodrama centra-se nos sentimentos, nos comportamentos atuais que incomodam o protagonista, quer por razões passadas, quer por razões futuras. As razões passadas, fora das tensões, permitem analisar a situação dando um novo “sabor”. As situações futuras permitem diminuir as ansiedades e numa experiencia comunicacional, entre o grupo, facilita uma ação criativa. Como afirma Fabregas (1995, cit. Veiga, 2009, p.109) o Psicodrama é “a-histórico e intemporal, referindo ser seu objetivo  considerar o Momento não como parte da História, mas a História como parte do Momento”
Tele
Podemos referir que a tele é um conceito multifacetado, ou “um fenómeno da interação, viabilizado entre seres humanos, incluindo percepções mas sem se limitar a ela, abrangendo mutualidade, complementaridade, coesão, globalidade vivencial e polimorfismo de desempenho de papéis, guardando correlações com posição sociométrica e dependendo dos processos intrapsíquicos que envolvem qualquer relação”(Perazzo, 1994, p.52 cit Abreu, 1992, p.102)
Por certo este é um dos conceitos mais complexos do psicodrama Moreniano e que comparo a um fenómeno social total na qual estruturam o eu e o eu contribui para essa estrutura.
Acting-out e Catarse de integração
Moreno deu relevo à exteriorização dos pensamentos e às experiências internas. A passagem do material intrapsíquico para o contexto dramático e grupal é, por si só, terapêutica. (Soeiro, 1994 cit. Veiga, 2009, p.118) 
Pode-se distinguir dois padrões de acting-out: o irracional e o terapêutico.
O acting-out irracional acontece fora da sessão psicodramática “e decorre da própria existência do indivíduo.”
O terapêutico ocorre durante a sessão quando o protagonista com o seu “bio-(corpo)psicossocial consegue representar o seu o trama interno. Este acting-out não tem que ser um processo instantâneo, ou seja, pode ser efeito de um processo gradual na qual o protagonista reconhece uma nova configuração integrando elementos e reestruturando as suas cognições sentindo-se cada vez mais responsável pela história da suavida, consciente das suas escolhas, num mundo subjetivo.
Gostaria de partilhar um momento pessoal idêntico a este processo apesar de não acontecer num contexto psicodramático mas de igual modo semelhante.
Em tempos pediram-me para construir a minha história de vida e apresentar a um grupo de uma forma original. Como possuo uma veia teatral decidi escrever um monólogo e apresentar essa dramatização. Quando registava os acontecimentos da minha vida e refletia sobre eles algo aconteceu! Comecei a perceber que muita da minha revolta interna devia-se a um conjunto de situações não muito favoráveis (assim pensava) mas que simultaneamente percebi o quanto me fizeram crescer  e o quanto foram importantes para mim. A partir desse momento comecei a valorizar essas situações e os problemas que na altura vivenciava com a minha entidade patronal ganharam um novo sabor. As minhas amarguras deixaram de as ser! Foi um momento de grande crescimento, uma nova forma de olhar para a vida. Acredito cada vez mais em proporcionar momentos de introspecção para compreendermos a complexidade da vida humana e acima de tudo aceitar aquilo que nos acontece reavaliando as situações de uma forma positiva.
Teoria dos Papéis
O papel é o elo de ligação entre a cultura e a personalidade (Abreu, 1992 , p. 53). Como referi, anteriormente, o ser humano é um ser cultural. Antes da concepção do indivíduo a cultura já existe e é essa mesma que vai incutir ao novo ser vindouro padrões de comportamento, implicitamente ou explicitamente, facilitando, ao indivíduo, vias de relacionamento social e familiar.
O papel só se materializa na existência de um outro papel complementar (pai/filho; professor/aluno; médico/paciente…) vivenciando uma “experiencia interpessoal, na qual vários atores se encontram implicados e se influenciam mutuamente” assegurando a integração na sociedade. (Veiga, 2009, p.110)
Existe duas variáveis que condicionam a teoria de papéis: multiplicidade e a integração de papéis. Relativamente à primeira está relacionada com o tipo de organização e hierarquização da própria sociedade e que por sua vez pressupõe um número de estatutos. Quanto maior for a oferta da cultura relativamente aos estatutos maior é o tempo de formação da personalidade do indivíduo. No que diz respeito à segunda – integração de papéis –  o facto de desempenhar novos papéis não significa que estes se harmonizam com os papéis precedentes. “Cada desempenho de um papel novo pode retirar a força e a adequação, ou a espontaneidade, de papéis anteriores mais ou menos compatíveis. Quando os vários papéis solicitados não se harmonizam, o seu desempenho mostra-se esteriotipado, forçado, difícil e, acima de tudo, não é realizado com prazer nem leva ao sentimento de realização pessoal ” (Fox, 1987, s/p. cit. Veiga, 2009, p.110) Assim sendo é de extrema importância o indivíduo integrar e harmonizar os diferentes papéis que desempenha de forma a se relacionar espontânea e criativamente.
Moreno apresenta três classes de papéis – psicossomáticos; psicodramáticos e sociais.
Papeis Psicossomáticos
A criança quando nasce precisa do outro para satisfazer as suas necessidades fisiológicas e é o outro, possuidor de uma cultura, que o educa de acordo com o seu quadro de referências. Assim a criança “aprende a comer, dormir, estimular-se, urinar e defecar (…) estas atividades correspondem os papéis psicossomáticos” (Abreu, 1992 , p. 60) Este processo, pela qual a criança passa, é um treino dos seus papéis acabando por integra-los à medida que se desenvolve e são nestes jogos que o novo ser se relaciona com a família.
O centro da personalidade, ou melhor dizendo, o núcleo do Eu, é um espaço profundo, íntimo e inviolável e, para além deste núcleo “pode-se perceber uma barreira defensiva que limita um outro espaço denominado de si mesmo” (ibidem)
As barreiras defensivas não permitem alcançar uma relação de auto-abertura e consequentemente colocam-na em causa baseando-se em ideias estereotipadas e pré-programadas de interação. Se ultrapassarem as barreiras “logram um contato com o exterior, estabelecem vínculos com os papéis complementares e desenvolvem-se mais” (Abreu, 1992 , p. 61)
As sessões de psicodrama permitem uma certa descontração diminuindo as defesas do «si-mesmo» “possibilitando o contato com o «núcleo do Eu». Aqui são  deixadas, a descoberto todos os papéis de forma a possibilitar um contato mais flexível, adequado e verdadeiro com o exterior. Os papéis menos desenvolvidos podem nestes contextos criar vínculos com os papéis complementares e desenvolver-se mais.” (Soeiro, 1991, s/p, cit. Veiga, 2009, p.112)
Papeis psicodramáticos ou psicológicos
Efetivamente, os papéis psicológicos, têm a sua base na cultura, conquanto o receptor é um sujeito ativo podendo recriar e redefinir esses mesmos papéis. Jamais podemos descartar o impacto  no indivíduo dos papéis que desempenha, a forma como os  integra interagindo com a sua personalidade. Mesmo que o indivíduo não assuma o seu papel pode ser entendido pelo outro durante as interações.
O papel psicológico corresponde  “à dimensão pessoal da vida psíquica, à dimensão psicológica do Eu, livre das resistências do exterior. ” (Veiga, 2009, p. 113)
Para Moreno nestes papéis psicológicos invade a função da fantasia e da imaginação do indivíduo que se mistura com a função da realidade, ou seja, o que gostaria de ser e o que esperam que eu seja limitando a sua forma de actuar, a sua espontaneidade e criatividade. Quando a função da realidade “começa a impor-se à realidade, dá-se uma fissura entre a realidade e a fantasia e a diferenciação entre os papéis psicodramáticos e sociais.” (ibidem)
Papéis sociais
Os papéis sociais desenvolvem-se depois dos papéis psicossomáticos e psicológicos e mais uma vez não podemos descurar a cultura. É importante reforçar que a cultura “oferece um amplo leque de papéis que vão ser preenchidos por vários indivíduos.” (Abreu, 1992 , p. 55) É num jogo de expectativas que são treinadas muitas vezes na infância que permitem ganhar capacidades para desenvolver outros papéis.
Com a formação e a escolarização diferenciada permitirá ao indivíduo aceder a informações conducente a uma eficácia do seu papel. Se o seu papel for bem desempenhado é porque tem algo de “original e criativo. É enriquecido e enriquece a personalidade do protagonista. Neste sentido, pode transformar-se num papel psicodramático. (Ibidem, p.57)
Uma pequena curiosidade, como amante do teatro e ator amador, (tenho pena que por limitações de tempo esteja um pouco apagado) revejo-me muitas vezes nas personagens que desempenho, não é de facto o meu papel enquanto real, mas vou integrando alguns aspectos das personagens criadas na minha personalidade. Assim sendo, e apesar de não estar a treinar o meu papel onde posso repetir de uma forma diversificada, como é o caso do sociodrama, penso que em muito me ajuda a desenvolver relações empáticas, com alguma facilidade descentro-me do meu “eu” e coloco-me no lugar do outro. Depois a dificuldade de perceber as fronteiras do papel social e o meu papel psicodramático.
Moreno (várias datas) define psicodrama como ciência que busca a «verdade» através de métodos dramáticos, trabalhando com relações interpessoais e mundos privados. No psicodrama todos os papéis do indivíduo podem ser trabalhados. Já o sociodrama foi definido como um método profundo de ação para abordagem de relações intergrupais e de ideologias coletivas, sendo o seu foco o grupo ou o tema. (Veiga, 2009, p.120)
Existem duas escolas que apresentam determinadas peculiaridades relativamente ao sociodrama. Uma defende que esta abordagem deve estar centrada exclusivamente no grupo, enquanto a outra complementa afirmando que tal abordagem pode contar com um protagonista (ou vários protagonistas) desde que declame um tema comum aos vários elementos do grupo.
No psicodrama o director e a restante equipa centra-se no indivíduo e nos seus “tramas” pessoais sendo a formação do grupo cuidada e não muito extenso.
Conquanto, existem autores que afirmamque as fronteiras destas duas terapias são águas salobras, onde o sal do mar se mistura com o doce do rio. Bertão defende que o limite entre grupal e individual é algo espalhado, “o social se confunde com o pessoal, um não existe sem o outro” (2004, p.3 cit. Veiga, 2009, p. 120) e “a catarse coletiva não impede em alguns momentos o aparecimento da catarse individual e o grupo entendido enquanto protagonista não impede o surgimento de protagonistas individuais” (Bertão, 2008, p.17, cit. Veiga, 2009, p.120)
Na verdade tanto uma como outra procuram despoletar no(s) indivíduo(s) capacidades espontâneas face à conjuntura vivencial.
 Instrumentos do sociodrama
O Atelié do Sociodrama
O pintor pinta incansavelmente à procura da perfeição. Que seria do pintor sem os seus pigmentos, sem o seu pincel, sem a sua destreza fina e delicada. Para as sua obras é necessário conhecer as cores, os pincéis duros de pêlo de centauro, ou os pincéis de pêlo macio de Pégaso. Assim é o sociodrama que carece de instrumentos para poder esboçar o desenho, de uma palete onde se possa confrontar as cores sendo fundamental conhecer a consciência subjetiva e objetiva do ser humano.
O sociodrama troca o ateliê pela sala sociodramática, a tela pelo cenário, o pintor pelo diretor, o pigmento pelo protagonista, o cavalete pelos egos auxiliares e o museu pelo auditório.
A expressão dramática dá asas à nossa imaginação, tão depressa estamos no planeta Marte como tão depressa estamos numa sala sociodramática. Assim sendo, através da imaginação, e com uma ajuda detalhada, voaremos para esse ambiente.
Sala do sociodrama
O ideal, de uma sala do sociodrama, é um espaço amplo onde se deve contar sempre com um estrado baixo no centro da sala que designaremos de “ cenário, sobre o qual estão colocadas, num dos topos, duas cadeiras vazias encostadas pelas pernas da frente”  (Abreu, 1992 , p. 23) As cadeiras representam o psicodrama, neste caso o sociodrama, e dependendo da fase do processo poderão estar em posições diferentes. Durante o aquecimento a posição das cadeiras formam uma união entre as pernas posteriores. Após o emergente grupal os pontos que se unem entre as cadeiras tornam-se pólos opostos abrindo-se para a dramatização. O diretor encontra-se por detrás das cadeiras assim como os egos- auxiliares e à volta destes os elementos sentados que formam o grupo – em círculo. Todavia nem sempre se pode obedecer aos pré-requisitos – uma sala com um estrado…um espaço minimamente acolhedor pode servir perfeitamente para sessões sociodramáticas.
O cenário
A tela, ou melhor dizendo, o cenário, ou palco,  é a “boca de cena” onde desenrola a dramatização. A dramatização é orientada pelo diretor e como espaço dramático o público pode dar lugar a um outro papel, o protagonista pode encarnar outro ser, e aquele palco pode-se transformar num outro espaço. Tudo é possível! Podemos voltar ao passado e instantaneamente voltar ao presente, projetarmo-nos num futuro e repentinamente voltar ao passado. Tudo depende do emergente grupal. São estes jogos, entre o real e a imaginação (nada impede que a imaginação se torne real, pelo menos espera-se que se torne vantajoso para os indivíduos) que permitem  “criar situações (…) e, simultaneamente, um instrumento de reflexão para se chegar à invenção e à criatividade. É um espaço de “ confronto que obrigam o jogador a reagir a partir dos indutores que lhe são propostos; considera-os um «ensaio sem riscos», defendendo que uma das virtualidades mais importantes do jogo dramático e da improvisação é o permitir as repetições e os regressos. (…) exploram-se tentativas, aperfeiçoa-se e inventa-se. ” (Lopes M. V., 1999, p. 13) O cenário é um espaço de liberdade ausente de juízos de valor ou condenações. É fundamental que durante as sessões sociodramáticas o grupo seja coeso (existe alturas em que coesão inviabiliza a liberdade na medida em que grupo age de acordo com as expectativas que uns têm de outros agindo em conformidade – actuam para que seja aceite no grupo em detrimento dos seus verdadeiros pensares e sentires), maduro mas acima de tudo que deixe os seus mecanismos de defesa de lado e se baseiem em relações de aceitação, compreensão e confiança.
Os protagonistas
Em todas as sessões as cores misturam-se dando origem a uma nova pigmentação, ou talvez não… No sociodrama “o objetivo da terapia é o próprio grupo” (Abreu, 1992 , p. 25) sendo os elementos do grupo protagonistas (não quer dizer que se destaque um ou outro elemento). No início de cada sessão devido aos problemas, as vivências, as necessidades, a importância ou a urgência de determinada questão (tudo tem que ser bem medido) dá luz ao emergente grupal. O diretor neste momento tem a dura tarefa de encontrar o caminho para a dramatização.
No meu caso particular todas as questões giram em torno do curso de educação social, das nossas dificuldades, dos nossos problemas, das questões inter-relacionais que ocorrem no nosso percurso académico. No cenário vivenciamos situações comuns que nos permitem refletir sobre elas, fazer uma descrição das dificuldades e encontrar ou criar novas estratégias para as colmatar. O diretor “pode optar por substituir a dramatização por jogos com o objetivo de tratar temas coletivos, fortalecer a coesão do grupal ou obter diagnósticos, podendo, no decorrer deste processo, evidenciar-se um protagonista em particular. ” (Veiga, 2009, p.128)
Egos-auxiliares
Os egos-auxiliares são aqueles que colaboram com o diretor e que interagem durante a dramatização com os protagonistas “que podem ter ou não relação com o grupo, e prestam-se a auxiliar os protagonistas, assumindo personagens e ajudando a encontrar um clima emocional adequado.” (Lopes M. S., 2008, p. 356) Na certeza, os papéis que assumem os egos-auxiliares, idênticos à situação original, provocam aos protagonistas uma nova reavaliação da situação real, ou imaginária. Ao contracenar com o outro, repetindo as vezes necessárias, livres de tensões do quotidiano, os protagonistas encontram possíveis razões para a situação vivencial. Na minha opinião a existência de egos-auxiliares permite aos protagonistas afastarem as suas representações mentais que em muito influenciariam se a ação fosse simplesmente unilateral e discursiva, ou seja, se a dramatização fosse baseada num pensamento único (do protagonista) e que pouco ou quase nada se alteraria. Assim sendo, ao contracenar com outro ser pensante, as estruturas cognitivas, possivelmente, sofrerão uma nova acomodação e o desenvolvimento ocorrerá.
O pintor ao contemplar a paisagem para passar para a sua tela poderá dar nuances e sombras não existentes, alterando a realidade. No Sociodrama o diretor serve-se dos egos-auxiliares como se fossem sombras e nuances de forma a permitir a criatividade dos protagonistas, dando um novo sabor à realidade.
Por vezes utilizam-se elementos que integram o grupo como egos-auxiliares designados por naturais. Quando um elemento do grupo é convidado para representar um papel inicia-se um duplo processo desenvolvimental, quer para o protagonista quer para o ego auxiliar (profissional ou natural). Para uma melhor explicação passo a uma experiência pessoal no teatro amador. Quando representava um papel paralelamente fazia uma crítica comparativa entre a personagem que estava a representar e o meu “eu”, reconhecendo, assim, a minha própria personalidade, o que queria realmente para mim enquanto pessoa. Assim sendo também considero que o desenvolvimento é bilateral tanto para o protagonistas como para o egos-auxiliares, bem como para todos os elementos que integram este processo.
O auditório
O auditório é constituído pelos restantes elementos que não entram na ação dramatizada. É o público que assiste ao clímax do emergente grupal. Referi num outro diário de bordo que “ler um livro, ir cinema parece ser uma simples diversão mas por detrás deste «pano» a que eu chamo passatempo está escondido experiências da vida humana, realidades próximas da minha. Através destas distrações posso observar situações e abrir o meuleque de respostas às mais diversas conjunturas.” Nas dramatizações existe algo de semelhante vivenciado situações semelhantes à minha (podendo ser importantes para futuras situações) ou simplesmente observar e constatar a complexidade das relações humanas. “No final da dramatização, o auditório é convidado, caso o protagonista deseje, a expressar as suas emoções e opiniões.” (Veiga, 2009, p.134) É nesta fase que me sinto protagonista, é nesta fase que eu posso intervir e que em muito me satisfaz, i.e., onde eu posso mostrar o meu ponto de vista a partir da análise situacional, ser participativo, dar a minha opinião e contributo crescendo paralelamente com aquilo que ouço.
Apesar de considerar importante a partilha, e que em muito contribui para o nosso desenvolvimento, também tenho verificado que existe alguns constrangimentos na fase da partilha onde o público/auditório dá um feedback da dramatização ou de um outro jogo. Parece-me importante referir que as minhas reflexões são feitas de acordo com as minhas experiências inviabilizando uma visão generalista. Não podemos confundir uma árvore com uma floresta. Afiro, quando dialogo com o meu cigarro nos intervalos das aulas, alguns ruídos paralelos acerca das sessões do sociodrama. Entendo esses ruídos como posturas conformistas ou de falta de maturidade. Depois é interessante observar os comportamentos das pessoas dentro das sessões. Comunicar não é o simples discurso verbal, consigo fazer leituras, já com o complemento exterior, e o que se passa dentro das sessões. São as trocas de olhares, são os sorrisinhos sarcásticos, enfim…tendo esta situação tomo atitudes conformistas caso contrário criaria mais constrangimentos e mais conflitos entre o grupo. Depois é interessante verificar que para as pessoas está tudo bem, mostram a imagem de tudo controlado e de harmonia grupal. Possivelmente contribuo para essa imagem. Tenho em conta que o grupo em questão está junto há quase três anos lectivos. A diversidade de formas de estar e ser contribui para um eterno movimento de conflitos e alianças. Esta é a natureza humana. Assim como o pintor pinta incansavelmente à procura da perfeição o ser humano procura a perfeição da relação entre conflitos e laços e assim se vão conhecendo e assim se vai construindo uma relação.
O diretor
Diretor é um pintor que pinta incansavelmente à procura da perfeição. São estas atitudes que se pretendem que todos os elementos, que passam por este processo sociodramático, adquirem, ou seja, o desejo de se tornarem melhores pessoas, o desejo de encontrar o desenvolvimento eterno inatingível.
O diretor estimula os membros do grupo a pincelar o quadro comum, faz circular a comunicação para, em conjunto, construir uma nova obra de arte. O diretor faz circular os pensamentos de forma a oferecer aos pensamentos novas ideias para resolver ou confrontar tarefas e problemas.
Existem autores que afirmam que o diretor tem a função de catalisador (estimular) como Educador Social gosto da expressão “guardião”, ou seja, aquele que permite a “participação” e assegura que todos os elementos possam “compartilhar as suas ideias e sentimentos” sentindo-se protegidos (Cascão & Neves, 2001, p. 49) No meu olhar só se pode estimular se o estimulado sentir que existe alguém a protege-lo (o contrário poderá fortalecer os mecanismos de defesa e a resistência do estimulado). É num clima de proteção e de aceitação que os elementos do grupo se podem libertar podendo dar lugar a tão esperada catarse. Penso que a dura tarefa do diretor é possibilitar ao grupo posturas humanistas, tal a perspectiva Rogeriana, elevado nível de compreensão e empatia, aceitação positiva incondicional, total autenticidade e congruência. São nestas relações co-construídas que o processo sociodramático ganha uma qualidade invejável caminhando nos caminhos da entre ajuda e contribuindo para o empowerment dos indivíduos
Não existe sombras de dúvidas que o diretor deve ter um conjunto de conhecimentos mais técnicos/profissionais e a sua formação pessoal é deveras importante. Como seria um diretor com as suas falhas narcísicas? Onde a preocupação era encher o seu ego em detrimento do outro? Desta forma o diretor deve ser possuidor de um determinado perfil cuja preocupação é a emancipação do outro através de um olhar mais analítico. É necessário fazer leituras que estão para além do concreto, dos discursos implícitos, das resistências dos protagonistas (é preciso salientar um aspecto, o processo sociodramático é voluntario, ninguém é obrigado a participar), perceber o que querem evitar, clarificar discursos, devolver as incoerências …
O diretor (psicoterapeuta) deve dar  ênfase no “aqui” e no “agora” do que  os processos clássicos de terapia que buscam o passado para explicar situações presentes. A busca de explicações passadas da terapia clássica pode ofuscar outras potencialidades dos protagonistas, assim sendo, o diretor da mais realce aos assuntos atuais de forma a capacitar os protagonistas para situações futuras.
Partindo destes pressupostos mais acrescento, o diretor é de facto o responsável por todo o processo do psicodrama, desde o aquecimento, passando pela dramatização e findando na partilha.
Fases do Sociodrama 
Aquecimento
Durante esta fase podemos distinguir dois tipos de aquecimento – inespecífico e o específico. O diretor inicia o aquecimento inespecífico com perguntas vagas relacionadas, no meu caso, sobre as expectativas dos alunos de educação social, dos problemas que vão emergindo durante o nosso percurso académico ou de assuntos que os alunos desejariam que fossem abordados. É “um tempo de relaxamento ou de expectativas, convida os elementos do grupo à participação e à interação livre.” (Veiga, 2009, p. 135) Também é neste momento que o diretor pergunta aos elementos do grupo se existe algum assunto ainda por falar relativamente a sessão anterior e se gostariam de se debruçar ainda em determinado assunto. A partir dessas questões os alunos começam a interagir acabando por emergir o assunto principal, dando lugar ao aquecimento específico. Após uma abordagem acerca do emergente grupal, para melhor clarificar, dá-se lugar a uma dramatização e/ou estátuas e/ou outros tipos de técnicas para que os protagonistas com o seu biopsicossocial tome consciência das suas representações mentais, dos seus esquemas cognitivos, da sua forma de ver o mundo.
Dramatização
A dramatização tem a sua raiz na palavra drama que deriva do grego – drãma – que, por sua vez, significa ação. A dramatização é o ato de pôr em ação o emergente grupal proveniente do aquecimento específico.
A dramatização oferece no “aqui” e no “agora” três dimensões temporais, ou seja, pode entrar em jogo o presente, passado e futuro. Por outro lado oferece uma dimensão espacial permitindo aos elementos do grupo trazer, ao palco dramático, espaços do real ou do imaginário.
A dramatização é a ação que mais se aproxima da realidade, com a vida, na medida em que permite recriar, simbolizar e representar situações do quotidiano (“como se”), contudo a dramatização não é a realidade. “ Não se trata de abandonar o universo do imaginário em favor do universo da realidade (…) mas antes definir os meios pelos quais o indivíduo pode adquirir um completo domínio de uma situação, vivendo nas duas vias e capaz de passar de uma para a outra” (Moreno, 1970, cit. Aguilar, 2001)
A dramatização permite aos protagonistas a exteriorização das suas vivências interiores, das suas ideias, emoções, sentimentos, necessidades, dificuldades e simultaneamente auto-descobrir novas formas de interagir. Ao jogar entre o “eu” e o “tu” poderá ocorrer novos sentimentos sendo a empatia um dos propósitos da dramatização. É nesta troca de papéis, e numa ação dinâmica comunicacional, que surge a espontaneidade. Integrando outros papéis, o contato com o outro e descentrando-se de si, possibilita a compreensão e consequentemente desenvolver competências de âmbito social. Muitas vezes o diretor pode-se munir dos seus egos auxiliares, “a quem dará instruções,e através dos quais ele vai lidar com o protagonista” (Abreu, 1992 , p. 28) facilitando a produção de novas formas de estar, ser e pensar. Como referi anteriormente, o desenvolvimento tanto é para o protagonista como para o ego-auxiliar, assim como para o auditório que “testemunham as situações dramatizadas e ampliam-nas com as suas emoções e vivências, já que, ao mesmo tempo que o protagonista dramatiza no palco, cada um dos elementos do grupo pode ser protagonista no seu palco anterior”. (Veiga, 2009, p. 137)
Não é menos verdade que devemos estar atentos à linguagem corporal (mais do que o discurso que facilmente camufla as suas vivências interiores). São estas formas de comunicar que traduzem a realidade vivencial dos protagonistas.
Dando uma pequena nuance da importância da dramatização é importante realçar (mais uma vez) que a dramatização é uma sequência do aquecimento específico na qual o diretor ajuda a construir as cenas. No decorrer da dramatização o diretor poderá utilizar determinadas técnicas (inversão de papéis, solilóquio, espelho, duplo, entre outras). É nesta fase que os protagonistas deixam de descrever as situações e passam a demonstrar com o seu bio(corpo)psicossocial as ações. O diretor pode introduzir novas cenas ou terminar a dramatização unindo os pés opostos das cadeiras como o “fecho das cortinas” de uma peça de teatro se tratasse. O “como se” termina e os elementos voltam para os seus lugares decorrendo os comentários/partilha.
Partilha/comentários
Este é o momento na qual se integra as fases precedentes. É um momento de partilha sobre a sessão. A partilha compreende um processo organizado. O diretor começa a dar voz ao protagonista sobre a sua vivência dramática, de seguida ao auditório, posteriormente os egos auxiliares e por fim, a última palavra é a do diretor. É importante salientar que este momento não se deve confundir com um debate. Em silêncio cada um deverá ouvir o que o outro tem para dizer. “Este procedimento técnico, favorece a integração e sobretudo inibe o confronto no contexto grupal e as consequências projetivas e disruptivas daí advenientes ” (Dias, 1993, p.41 cit. Veiga, 2009, p. 138)
Para mim este é o momento de maior crescimento onde os diferentes olhares dos elementos, sobre uma determinada situação vivencial do contexto psicodramático, podem fazer brotar um novo quadro de referências. Julgo que as aprendizagens são transversais a todos os elementos. A partilha potencia uma maior reflexão sobre a situação e, simultaneamente, lembrar que temos outras escolhas que se podem fazer. Ter uma atitude mais crítica face ao seu “eu” e, consequentemente, poder dar uma resposta mais criativa. Todavia é preciso ter a consciência que apesar da diversidade das respostas dadas a uma situação problemática não nos permite ter uma receita chave, pois, na verdade, cada ser humano é incomparável, cada grupo é único e, possivelmente, a “chaves” encontradas não entraram na “aloquete”. Creio que durante a partilha o grupo sai com mais dúvidas do que certezas para que cada um, individualmente, possa construir no âmbito social, profissional e pessoal novas interações, possamos ser melhores pessoas com sentimentos de liberdade e éticos (assim acredito!). “Nesta troca reside uma das riquezas das terapias de grupo, ao permitir que todos os elementos possam ser numa sessão terapeutas e protagonistas.” (Veiga, 2009, p. 139)
Técnicas do Psicodrama
Durante a ação terapêutica o diretor utiliza determinadas técnicas de forma a favorecer a meta comunicação, a empatia e os sentimentos. Existe um grande número de técnicas, conquanto, irei realçar as principais, jamais por desvalorizar as outras mas pela natureza do trabalho.
Inversão de papéis
Como o próprio nome indica o processo desta técnica é a troca de papéis. Quando na dramatização o protagonista interage com o ego auxiliar e o diretor enuncia a palavra troca o protagonista toma o papel do seu interlocutor.
Julgo que esta técnica é mais complexa do que parece. Já vivenciei esta técnica e, efetivamente, o que esta técnica permite é aceder às representações que possuo acerca do outro e quando tomo o lugar do outro sou unicamente a projeção das minhas representações. Todavia não deixa de ser interessante porque nos permite ganhar a consciência que de pouco ou quase nada sabemos acerca do outro e que de facto é necessário fazer um constante esforço para o compreendermos. “Antes de tudo é preciso salientar que a inversão ou a troca de papéis só ocorre quando as pessoas envolvidas estão de facto presentes. Quando o protagonista «troca» de papel, desempenhando o papel de alguém a quem está se referindo, real ou imaginário, o que se está usando é uma variação da técnica de apresentação de papéis, em que ele toma o papel do outro, expressando o modo pelo qual o vê.” (Monteiro, 1998, p. 21)
Tendo isto penso que a inversão de papeis como alguns lhe chamam, ao contrário do que este último autor designa, permite-nos perceber que a descentralização do nosso “eu” e a compreensão empática é um processo difícil e é vivenciando esta técnica que entendemos que “os versos” da vida têm valores tão subjetivos como o bem e o mal.
Solilóquio
O solilóquio acontece quando o diretor durante a ação “congela a cena e pede ao protagonista que «pense alto» ou «diga em voz alta o que está a sentir» ”. (Veiga, 2009, p. 143)
Parece ser normativo no ser humano durante as suas interações no dia-a-dia a utilização de uma comunicação não muito clara. Na verdade, o ser humano discursa o que acha que deve discursar, fala o que se espera falar (é obvio que as coisas não são assim tão lineares) e que muitas vezes não corresponde com os seus sentires ou com aquilo que realmente deseja dizer. Durante o contexto psicodramático estes aspectos perpetuam-se e para tal o director utiliza esta técnica para aceder aos afectos e às percepções internas do protagonista. O director ao aceder a aspectos internos do protagonista poderá dar uma outro nuance à acção recorrendo, se for o caso, a novas ordens aos egos auxiliares.
Passando por esta experiência (não este ano lectivo) senti algum desconforto na medida em que ganhei a consciência que de facto não estava a ser coerente comigo mesmo e que os meus sentimentos em relação à situação eram de revolta. Nos dias de hoje penso que é importante mostrar assertivamente o que sinto sobre determinada situação e ser coerente comigo mesmo (claro que tudo tem que ser bem mediado)
Interpretação de resistências
Durante as ações o diretor pede aos egos auxiliares para agir de uma forma diferente daquela que o protagonista descreveu, por exemplo: se o protagonista diz que o seu “contrapapel”  é um individuo agressivo o diretor pede ao ego-auxiliar, sussurando ao seu ouvido, que adopte uma outra conduta contrária. Desta forma, o protagonista vai treinando a sua espontaneidade e criatividade da sua resposta.
Não é menos verdade que somos o que somos na interação. Se parto da ideia que a pessoa com quem eu estou a interagir é agressiva possivelmente terei uma resposta já condicionada com esta forma de perspectiva-la. Se tenho a consciência que comportamento gera comportamento, se sou conduzido por ideias estereotipadas e preconceituosas, a recriação da relação ganhará um novo sabor.
Espelho
Esta situação ocorre quando o diretor pede a um ego auxiliar para imitar o protagonista retratando as condutas, a forma de comunicar, etc. com o átomo social. Assim sendo o protagonista vê-se a si mesmo podendo corrigir e melhorar a sua auto-percepção e as suas condutas. “Este tipo de auto-observação pode ser incómoda para o protagonista que se apercebe e se vai corrigindo, obtendo assim resultados imediatos.” (Abreu, 1992 , p. 41)
Em todo o meu percurso sociodramático nunca assisti ao uso desta técnica contudo experienciei uma situação semelhante a esta técnica e que achei bastante importante para a minha formação profissional e até pessoal. Em tempos na minha formação de Animador Sociocultural a docente responsável pela disciplina principal do curso utilizava ovídeo para gravar as apresentações de trabalhos dos alunos de forma a estes poderem auto-percepção e melhorar a sua postura para futuras exposições públicas. Achei a técnica utilizada pela docente do curso magnífica na medida em que me ajudou a modificar determinados aspectos inconscientes que tinha durante a exposição treinado e recriando o meu papel.
Duplo
Durante a ação o duplo é utilizado “quando o protagonista está impossibilitado ou tem muita dificuldade para se expressar verbalmente.” (Monteiro, 1998, p. 18) O diretor pede ao ego auxiliar, durante a dramatização, que coloque a mão sobre o ombro do protagonista e faça um desdobramento do seu “eu”.  O ego auxiliar faz uma interpretação da situação vivencial ou seja, dos sentimentos dos protagonistas, uma melhor clarificação dos conteúdos verbais, “os verdadeiros receios, motivações ou intenções escondidas” (Abreu, 1992 , p. 42) Esta técnica pode negligenciar a fala e utilizar gestos e expressões corporais sendo uma mais-valia, pois a mensagem é pouco clara podendo o protagonista dar asas à sua interpretação não sentido ofendido caso a interpretação do ego auxiliar não corresponda verdadeiramente ao sentido do protagonista.
Representação simbólica
A representação simbólica é utilizada quando, por alguma razão, é impossível trazer para o contexto dramático a situação da vida real, tal como sexo, violência, entre outros. Tenta-se encontrar formas de representar essa situação simbolicamente. Por exemplo, “o caso de um relacionamento sexual. Pode então recorrer-se à representação simbólica, que consiste em convencionar um comportamento equivalente, como um  jogo de mãos, que corresponde ao contato dos corpos.” (Abreu, 1992 , p. 43)
A dramatização também é ela uma forma de representação simbólica independentemente de não corresponder ao real, “pois elas tentam duplicar factos reais sem com eles coincidirem nem, na maioria das vezes, se lhes assemelharem.” (Abreu, 1992 , p. 83)
Estátua
É habitual o uso desta técnica pelos psicodramatistas encaminhando o protagonista para “esculpir”, utilizando os egos auxiliares ou simplesmente panos, para representar concretamente um sentimento, uma vivência, um valor, entre outros. Posteriormente, e após o término estátua, o diretor pede ao protagonista para clarificar e explicar a sua “obra de arte” de forma a compreende-la e aceder às representações mentais do «escultor». “Esta técnica associa a audácia da comunicação sincera e criativa, que nem sempre é verbal, à liberdade de interpretação. “ (Abreu, 1992, s/p cit. Veiga, 2009, p. 143)
Role-Playing
“O role playing pode ser usado como técnica para a exploração e para a expansão do eu num universo desconhecido.” (Moreno, 1959, p.157 cit. Veiga, 2009, p.144) Esta técnica, como o próprio nome indica – jogar o papel –   permite ao protagonista desenvolver o seu papel treinando-o num ambiente livre de tensões avançando e retrocedendo a cena sempre que necessário.  São nos contextos dramáticos que os protagonistas preparam-se para a situação real desencadeando a criatividade e a espontaneidade.
Reportando-me para a minha experiência sociodramática compreendo a importância de passar por este processo e por esta técnica na medida em que desenvolvo a minhas aptidões profissionais (contudo as fronteiras entre o profissional e o pessoal tornam-se imperceptíveis) em que cada momento que passo vou recriando a minha relação, vou sentido a necessidade de estar em constante mudança, a estar mais atento ao outro e a estar mais atento às eventuais projeções que faço (face às representações que possuo sobre o outro e que em muito impede respostas criativas).
 
O encontro: Educação social no palco sociodramático
Aprendizagens soltas surgem nas histórias de egos auxiliares. No desejo de um encontro e reencontro para alicerçar o aprendizado, os técnicos de educação social (que vivenciaram o papel de ego-auxiliar) falam de um renascimento como energia impulsionadora que permitiu o desenvolvimento destes profissionais enquanto investigadores, profissionais de terreno, técnicos de relação, mediadores de grupo, facilitadores de empoderamento…
Olhando detalhadamente para o Sociodrama e Educação Social encontramos água salobra entre ambas. Estas secreções da criação humana reencontram-se entre o doce e o sal. Jamais quereremos entrar em conflito entre estes saberes, antes, uma reflexão sobre os pontos comuns.
Saem da boca palavras atiradas ao ar: complexidade da realidade; capacidade de se descentrar; modelos de referência; saber perguntar; saber escutar; autorreflexão; criatividade e a metodologia de investigação ação participante (IAP). Todavia estes conceitos carecem de um laço que consolide o seu entendimento.
No sentido figurado de renascimento de que falamos, surgem à luz dois caminhos que se cruzam e que fortalecem o nosso saber – trilho metodológico e teórico – e que as palavras soltas entrelaçam-se em cada uma delas.
https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=yHK4SRDYgBIC&oi=fnd&pg=PA9&dq=psicodrama+e+grupos&ots=efRiNC57R8&sig=h8Mj0ASIVLInB9vHq5ORTVpXd8M#v=onepage&q=psicodrama%20e%20grupos&f=false
https://books.google.com.br/books?id=GB2lz4Rq9zEC&pg=PA7&dq=psicodrama+e+grupos&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiG_MGRko3XAhXEf5AKHWhgCrkQ6AEIVjAJ#v=onepage&q=psicodrama%20e%20grupos&f=false

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