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UnisulVirtual Palhoça, 2018 Contabilidade de Custos Universidade Sul de Santa Catarina Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Mauri Luiz Heerdt Vice-Reitor Lester Marcantonio Camargo Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Hércules Nunes de Araújo Pró-Reitor de Administração e Operações Heitor Wensing Júnior Assessor de Marketing, Comunicação e Relacionamento Fabiano Ceretta Diretor do Campus Universitário de Tubarão Rafael Ávila Faraco Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Zacaria Alexandre Nassar Diretora do Campus Universitário UnisulVirtual Ana Paula Reusing Pacheco Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Ana Paula Reusing Pacheco Gerente de Administração e Serviços Acadêmicos Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Moacir Heerdt Gerente de Relacionamento e Mercado Guilherme Araujo Silva Gerente da Rede de Polos José Gabriel da Silva Livro Didático Professor conteudista Onei Tadeu Dutra Designer Instrucional Luiz Henrique Milani Queriquelli (4ª edição) Cristina Klipp de Oliveira (5ª edição) Assistente Acadêmico Thayanny Aparecida Bedinot Da Conceicao (4ª edição rev. e atual.) Ester Konig da Silva (5ª edição) Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Fernanda Vieira Fernandes Revisão Ortográfica Diane Dal Magoi (4ª edição) ISBN 978-85-506-0257-8 e-ISBN 978-85-506-0258-5 Ficha catalográfica elaborada por Carolini da Rocha CRB 14/1215 D97 Dutra, Onei Tadeu Contabilidade de custos : livro didático / Onei Tadeu Dutra. – 5. ed. rev. e atual. – Palhoça : UnisulVirtual, 2018. 152 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN978-85-506-0257-8 e-ISBN 978-85-506-0258-5 1. Contabilidade de custos. I. Título. CDD (21. ed.) 657.42 Copyright © UnisulVirtual 2018 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Livro didático 5ª edição UnisulVirtual Palhoça, 2018 Contabilidade de Custos Onei Tadeu Dutra Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Introdução à contabilidade de custos | 9 Capítulo 2 Nomenclaturas básicas aplicadas à contabilidade de custos | 27 Capítulo 3 Elementos de custos | 43 Capítulo 4 Classificação dos custos | 69 Capítulo 5 Custeio | 79 Capítulo 6 Departamentalização | 95 Capítulo 7 Planilha de custos | 107 Considerações Finais | 131 Referências | 133 Sobre o Professor Conteudista | 135 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação | 137 Anexos | 147 Introdução Nos dias de hoje, muito se tem falado da globalização. Para alguns, este fenômeno surgiu no final do século passado; para outros, trata-se de um fenômeno que sempre existiu na história do homem. Esta corrente alega que a troca de mercadorias entre países foi uma constante e que o comércio internacional é um prolongamento do comércio local. O que se pode inferir neste sentido é que a globalização sempre existiu. O que se acentuou nos últimos anos foi a intermediação financeira, pois, se as transações também existiam, a intensificação das trocas monetárias adquiriu uma proporção maior do que as trocas internacionais de mercadorias diante da disseminação dos computadores. À primeira vista, a globalização financeira beneficiou diretamente os bancos, pelo fato de o dinheiro ser a mercadoria do banco. Mas este benefício também atingiu diretamente o comércio internacional devido à facilidade de as empresas movimentarem as quantias monetárias resultantes do comércio globalizado. A melhora nas transações comerciais entre países possui um lado positivo e um negativo. O lado bom da globalização é que as transações internacionais ficaram muito mais fáceis de serem realizadas. Para muitas empresas que já operam há algum tempo nesse tipo de Comércio, realizar uma transação comercial no seu país e realizar uma transação comercial com outro país é a mesma coisa, descontando-se o tempo e certa burocracia. Quanto ao ponto negativo, muitas empresas que somente possuíam concorrentes nacionais passaram a competir internacionalmente, pois seus clientes possuem facilidades de importação e, certamente, comparam os preços de venda do mercado interno com os do mercado externo. Para a população, o aumento da concorrência é benéfico, e, para as empresas, este aumento de concorrência leva-as a aumentar sua eficácia no processo de fabricação e venda. A eficácia se traduz em redução de custos e aumento da exposição do produto perante os consumidores. Quanto à promoção do produto, existe todo um conteúdo específico sobre o assunto, que é a propaganda. A propaganda, o marketing constituem matéria a ser abordada em tópico específico. O que cabe neste material de estudos é a redução de custos. Talvez a denominação “redução de custos” não seja a melhor forma de expressar o que você estudará neste livro didático. Afinal, entende-se que a redução de custos é somente uma faceta no gerenciamento das empresas. E saber onde a empresa gasta seus recursos é primordial na empresa moderna. Para gerenciar os gastos com recursos, a empresa dispõe de uma ferramenta fornecida pela contabilidade de custos, que é a planilha de custos. Com este instrumental, a empresa tem condições de gerenciar onde são consumidos todos os recursos, podendo ser nos produtos ou nos departamentos. Utilizando esta planilha, a empresa pode avaliar o estoque, através do custo unitário, pode analisar os diversos setores da empresa que consomem recursos, pode analisar a rentabilidade dos produtos e pode utilizar a planilha para fazer projeções (orçamentos). Assim, estudando contabilidade de custos, você estará habilitando- se a se debruçar sobre a redução de custos Entretanto, para você dominar essa prática, é necessário, antes, o estudo da teoria: a prática sem a teoria não é muita coisa, somente uma maneira de fazer. E, convenhamos, o contador é muito mais do que a pessoa que digita os valores na planilha de custos. Ele é a pessoa que “desenha” e implanta a contabilidade de custos. Então, para efetuar essa implantação, o contador precisa muito mais do que fazer a planilha de custos: precisa discernir teoricamente a contabilidade de custos. Bons estudos! Professor Onei T. Dutra 9 Capítulo 1 Introdução à contabilidade de custos Noções Preliminares Com o estudo da unidade de aprendizagem Contabilidade de Custos, você estará habilitado a avaliar o estoque de uma empresa. Entretanto, existe um conteúdo desta unidade de aprendizagem que não está relacionado com as técnicas da contabilidade de custos: você tem ideia de como avaliar o estoque de uma empresa quando a empresa não possui contabilidade de custos? Bem, se a empresa possui contabilidade de custos, aplicam-se estes conteúdos para se avaliar o estoque. Mas, em caso negativo, como avaliar os estoques? Esta pergunta estava no “ar”, insistente. Então, vamos à resposta. Antes de iniciarmos o conteúdo propriamente dito, iremos aprender como avaliar o estoque de uma empresa quando não existe contabilidade de custos. Preste atenção! Você irá estudar contabilidade de custos nesta unidade de aprendizagem. Mas antes, você estudará o que acontece quando não existe contabilidade de custos. De início, parece meio contraditório (avaliar o estoque sem contabilidade de custos, já que iremos estudar justamente esta matéria), mas trata-se de uma situação que se apresenta na prática, então devemos dominá- la. Muitas vezes, os contadores avaliam os estoques apenas por não possuírem tempo de implantar a contabilidade de custos ou por não saberem utilizar o conteúdo da matéria. Assim, na sequência do livro, primeiro você verá um conteúdo que está fora da unidade de aprendizagem, ouseja, avaliação do estoque quando a empresa não possui contabilidade de custos. Depois, o conteúdo da unidade de aprendizagem. 10 Capítulo 1 Contabilidade de custos não integrada com a contabilidade geral Antes de adentrarmos, efetivamente, a nossa unidade de aprendizagem Contabilidade de Custos, gostaríamos de propor-lhe a seguinte situação: digamos que você é convidado a assumir a contabilidade de custos de uma indústria no dia 20 de dezembro de um ano qualquer. Ao assumir o cargo, percebe que a empresa não possui contabilidade de custos. Com isso, fica a pergunta: como você irá avaliar o estoque da indústria, se a mesma não possui contabilidade de custos? Perceba, também, que a empresa deve avaliar o estoque para a publicação do balanço patrimonial e que este balanço deve ser publicado no início de janeiro. Como você não possui tempo hábil, de que modo avaliar o estoque sem contabilidade de custos? Neste caso, quando a empresa não possui contabilidade de custos, deve-se utilizar os preceitos do Decreto-Lei n. 1.598, de 26/12/77. O Decreto-lei 1.598/77 ainda está em vigor. Porém, para ficar mais prático, a Secretaria da Receita Federal condensou toda a legislação do Imposto de Renda em um único instrumento legal, no sentido de facilitar a tarefa do contribuinte. Assim, toda a legislação da Receita Federal está inserida no Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Voltando ao assunto, se a empresa não possui contabilidade de custos, deve-se avaliar o estoque conforme as regras a seguir, inseridas no Artigo 14, parágrafo 3º, do citado Decreto-lei 1 n.1.598/77. a. Considerar os materiais em processamento, calculando por uma vez e meia o maior custo das matérias-primas adquiridas no período-base, ou em 80% do valor dos produtos acabados. b. Os produtos acabados, em 70% do maior preço de venda do período-base (com ICMS). Observe que, neste caso, é feita a avaliação do estoque de uma indústria – em outro momento veremos diferentes tipos de empresa. 1 Observe que, na hierarquia das leis, temos um Decreto-lei, o 1.598; e um Decreto, o 3.000. Decreto-lei e Decreto não são a mesma coisa. Decreto é o ato pelo qual o chefe do governo determina a observância de uma regra legal, cuja execução é de competência do Poder Executivo. O Decreto-Lei é um decreto com força de lei, que num período anormal de governo é expedido pelo chefe de fato do Estado, que concentra nas suas mãos o Poder Legislativo, então suspenso. 11 Contabilidade de Custos Tenha presente que o estoque de uma indústria é composto por três contas básicas: matéria-prima, produtos em processo e produtos acabados, diferentemente das empresas comerciais, que somente utilizam uma conta, ou seja, mercadoria. Matéria-prima A avaliação desta conta não requer nenhum tipo de técnica contábil da contabilidade de custos, pois será avaliada pelos valores lançados na contabilidade da empresa. Ou seja, os valores desta conta serão as compras de materiais que a empresa efetua ao longo do período (podendo ser mensal ou anual, dependendo do período que a empresa estiver utilizando. Se estivermos nos referindo ao balancete, o período é mensal; e, se estivermos nos referindo ao balanço, então o período é anual). Perceba, também, que se o estoque será avaliado pelo preço médio ou pelo Primeiro que Entra Primeiro que Sai (PEPS), ou, ainda, pelo Último que Entra Primeiro que Sai (UEPS), isto não depende da contabilidade de custos. Ademais, perceba que o Decreto-lei 1.598/77 não faz referência a esta conta, somente às duas outras contas (observe o Art. 14, § 3º, já citado). Produtos em Processo Para esta conta, o referido Decreto-lei 1.598/77 (ou o artigo 296 do Decreto 3.000/99) informa que os valores devem considerar o consumo de matéria-prima (M. P.), multiplicado por 1,5 ou 80% do produto acabado. Então, o valor total da conta é o consumo de M. P., multiplicado por 1,5. Ou o contador de custos pode avaliar o estoque de produtos em processo, multiplicando o valor do produto acabado por 80%. Produto acabado O estoque de produtos acabados deve ser avaliado em 70% do preço de venda (com ICMS). Ou seja, o valor deste estoque é a receita do produto multiplicado por 70%, incluindo, neste percentual, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), incidente na venda do produto. Vamos transformar estas informações em lançamentos. A avaliação dos estoques apresenta os seguintes lançamentos: Matéria-prima: o valor do estoque deve estar de acordo com a contabilização das compras de M. P. (não interessa, não importa para a contabilidade de custos se o estoque é avaliado pelo preço médio, PEPS ou UEPS). 12 Capítulo 1 Lançamento: D – estoque de M. P. C – caixa, banco ou fornecedores Histórico e valor (valor: da nota fiscal da compra de M. P. no período). Produtos em Processo: 1,5 da matéria-prima ou 80% do produto acabado. Lançamento (para um produto): D – produtos em processo C – estoque de matéria-prima Histórico e valor (valor: 1,5 do consumo de M. P. no período ou 80% do valor do produto acabado no período). Produtos acabados: este estoque deve ser avaliado em 70% do preço de venda, com ICMS. Lançamento (também para um produto): D – produtos acabados C – produtos em processo Histórico e valor (valor: 70% do preço de venda no período, com ICMS). Na venda do produto, os lançamentos são os seguintes: Primeiro lançamento – recebimento do dinheiro ou direito D – caixa, banco ou clientes C – receita com vendas Segundo lançamento – baixa do estoque D – custo dos produtos vendidos C – estoque de produtos acabados Histórico e valor (valor: custo dos produtos vendidos). 13 Contabilidade de Custos Então, veja que, seguindo a sequência anterior, conseguiremos avaliar o estoque de uma indústria sem precisarmos utilizar a contabilidade de custos. Mas perceba que a nossa unidade de aprendizagem é, justamente, Contabilidade de Custos e que seu estudo inicia, de fato, na seção 1, na sequência. Antes, atente para o fato de que o conteúdo de Custos é abordado em duas unidades de aprendizagem distintas: Contabilidade de Custos e Análise de Custos. A Contabilidade de Custos possui a finalidade de avaliar o estoque de uma empresa. Ou seja, é um conteúdo totalmente formal, pois está calcado na Lei 6.404/76, nos princípios fundamentais da contabilidade, nas normas brasileiras de contabilidade, nas normas da Comissão de Valores Mobiliários, nas normas dos três níveis de fisco (federal, estadual e municipal), entre outras normas que se aplicam à contabilidade. Já o estudo da análise de custos é totalmente informal, pois a análise de custos não depende de leis ou normas. Depende exclusivamente da empresa, da necessidade de informação da empresa. E, óbvio, da competência dos contadores, de sua cultura, de seu conhecimento. Existem algumas regras e técnicas básicas para se fazer análise, mas podemos dizer que são poucas. A “maior” análise dependerá, mesmo, do contador de custos, como, por exemplo, aumento do consumo de M. P. em comparação à produção; aumento do gasto da mão de obra em relação à produção. Tais comparações não são ensinadas em uma disciplina, pois dependerão da necessidade de informação por parte da empresa. Como você já sabe, a lei básica da contabilidade é a de número 6.404/76. Com exceção da noção de débito e crédito, esta lei regula a maioria das normas contábeis no Brasil (junto com os princípios contábeis, as normas brasileiras de contabilidade, normas da comissão de valores mobiliários, normas do fisco, entre outras). Esta Lei, ao entrar em vigor, alterou significativamente a prática de contabilidade no Brasil. Então, a partir dela, o fisco federal precisou se adaptar às novas normas da contabilidade e, para tanto, editou o Decreto-lei 1.598/77.A partir daí, o fisco foi atualizando -o, o que resultou no atual Regulamento do imposto de renda (Decreto n. 3.000/99), que é uma consolidação das leis e normas do imposto de renda. Contabilidade de custos integrada com a contabilidade geral Caro aluno, a partir deste momento, iniciamos propriamente os estudos da unidade de aprendizagem: iremos estudar as técnicas contábeis para avaliar os estoques de uma empresa. 14 Capítulo 1 Seção 1 Por que estudar a contabilidade de custos? Como você já deve ter percebido, a contabilidade de custos está relacionada com os custos dos produtos. Esse tipo de contabilidade existe para calcular os custos dos produtos. Esta informação é importante nas empresas, principalmente nos dias de hoje, quando a concorrência é muito acirrada. E porque o conhecimento dos custos de fabricação dos produtos é uma informação relevante no processo de tomada de decisão das empresas. Peter Drucker dizia que um produto para ser vendido deveria ter o “máximo de propaganda” e o menor custo. Seção 2 O que é contabilidade de custos e em que tipo de empresas ela se aplica? Pode-se definir contabilidade de custos como a sistematização de um conjunto de métodos contábeis com a finalidade de determinar os custos unitários de produtos e serviços. Conhecendo o custo unitário do produto/serviço, a empresa pode utilizar esta informação para determinar o valor do estoque de produtos/ serviços. Como você deve ter percebido, esta definição abrange o produto e o serviço. É isto mesmo: a contabilidade de custos pode calcular o custo unitário dos produtos, em uma indústria, ou também o custo unitário do serviço, nas prestadoras de serviços. Assim, podemos dizer que a contabilidade de custos se aplica às indústrias, às prestadoras de serviços e às empresas rurais. Somente não se aplica às empresas que comercializam produtos. Este fato se justifica pela própria definição da contabilidade de custos, quando especifica que ela serve para calcular o custo unitário. Veja que, nas empresas comerciais, o custo unitário já está calculado, e está informado na nota fiscal de compra da mercadoria. Neste caso, o custo da mercadoria é o valor de compra, 15 Contabilidade de Custos não havendo necessidade de cálculo adicional para se encontrar o custo unitário da mercadoria. Muitas empresas comerciais comentam que aplicam a contabilidade de custos. Na realidade, elas aplicam somente a planilha de custos, pois a contabilidade de custos serve para avaliar o estoque, e esse tipo de empresa já tem seus estoques avaliados pelo valor da nota fiscal da mercadoria. Assim, elas utilizam a planilha de custos para controlar os gastos da empresa, ou seja, somente para gerenciar os gastos da empresa, e não para avaliar o estoque. Ao contrário das empresas comerciais, nas empresas industriais, de serviços e rurais, precisamos somar três fatores para conhecer o custo unitário de um produto, que são: • Matéria-prima (M. P.); • Mão de obra direta (MOD); e • Custos indiretos de fabricação (CIFs). Assim, podemos dizer que os estoques desses três tipos de empresa (industriais, rurais e prestadoras de serviços) se classificam em matéria-prima, produtos em processo e produtos acabados (as empresas de serviços não possuem a conta contábil estoque de serviço acabado). Na empresa comercial, o estoque recebe a denominação de mercadoria. Acompanhe o quadro seguinte, que dispõe esta relação de estoques por tipo de empresa 2. 2 Nas empresas de criação de animais (pecuária, por exemplo), se o animal continuar vivo na atividade produtiva, não há estoque de produto acabado, pois se considera o pressuposto de que o animal ainda está em “processo”, ou seja, ainda gera custo para a empresa. E, se gerar custo, este deve ser contabilizado no estoque de produtos em processo. 16 Capítulo 1 Quadro 1.1 – Tipos de estoque relacionados por tipos de empresa Tipo de Empresa Indústria, Rural e Prestadora de Serviço Comercial Estoques Estoque Matéria-prima Mercadoria Produtos em processo Indústria: produto em processo Rural: nome da cultura ou nome do animal de criação Empresa de Serviço: serviço em andamento Produto Acabado Indústria: produto acabado Rural: nome da cultura ou animal abatido Serviço: não existe nas empresas de serviços Fonte: Elaboração do autor, 2007. Tipos de empresa A classificação já apresentada sobre os tipos de empresa (indústria, rural, prestação de serviço e comercial) é somente uma das possíveis. Existem outras classificações, como, por exemplo, lucrativas e não lucrativas; financeiras e não financeiras etc. Na classificação apresentada anteriormente, todos os tipos de empresa que você possa imaginar se enquadram, como, por exemplo: • banco (serviços); • escola (serviço); • governo (serviço); • frigoríficos (indústria); • plantação de seringueiras (rural); • montadoras de carros (indústria); • construção civil (indústria) etc. 17 Contabilidade de Custos Conforme já mencionado, a contabilidade de custos se aplica às empresas industriais, rurais e de serviços. O que diferencia a contabilidade de uma empresa para outra empresa é a nomenclatura utilizada nos estoques, já que a técnica é a mesma para os três tipos de empresa. Veja, a seguir, como funciona o estoque destes três tipos de empresa. Funcionamento do estoque na empresa industrial Para a empresa industrial, o estoque de matéria-prima é composto pelos insumos que serão utilizados na produção. E, aqui, a contabilidade de custos não atua, pois essa conta contábil somente registra os valores da matéria- prima. A contabilidade de custos apenas define os valores das outras duas contas contábeis que compõem o estoque das empresas industriais: estoque de produtos em processo e estoque de produtos acabados. O estoque de produtos em processo é a soma da M. P. que está sendo utilizada na produção, mais a MOD, que é o salário dos funcionários, os quais estão fabricando os produtos, e os diversos CIFs que estão sendo usados na produção. Antecipadamente, para você não ficar em dúvida, veja alguns exemplos de CIFs: depreciação, água (quando não é M. P.), seguro do prédio da fábrica, entre outros. E veja que o estoque de produtos acabados é o valor total do estoque de produto em processo depois de terminado. Funcionamento do estoque na empresa rural Nas empresas rurais, o estoque de matéria-prima é a soma dos insumos que serão utilizados na produção. No caso de uma empresa agrícola, vão ser as sementes, os adubos, os defensivos agrícolas, entre outros. Se for empresa de criação de animais, vai ser o próprio animal (como pinto, porco, gado, entre outros), a alimentação, as vacinas, os remédios etc. O produto em processo da agricultura refere-se ao desenvolvimento da cultura, ou seja, são os gastos com matéria-prima, mais os gastos com a mão de obra para plantar, cuidar e colher a plantação e os outros gastos indiretos (CIFs). Na pecuária, o produto em processo refere-se ao desenvolvimento da criação do animal. Ou seja, nesta conta contábil serão lançados o valor pago pelo animal, a ração, os remédios, a mão de obra direta para cuidar dos animais e os demais custos indiretos. O produto acabado da agricultura é a cultura pronta para a venda (feijão, café, laranja etc.). 18 Capítulo 1 A conta contábil estoque de produto acabado na pecuária não existe em empresas que criam animais para a venda “em pé” (ou animais vivos). Nas empresas pecuárias, esta conta somente recebe lançamentos, se a empresa abater o animal e vendê-lo nesta condição, abatido. Quando se tratar de animais que não serão abatidos, (reprodutores, ovelha para produção de lã, cavalos de corrida etc.) tais animais (traduzidos em valores monetários) serão contabilizados não no estoque, esim na conta contábil imobilizado, do grupo permanente. Assim também na empresa agrícola, quando a plantação é permanente (videiras, seringueiras, laranjeiras etc.), o seu registro é feito na conta contábil imobilizado, ao contrário das culturas temporárias, nas quais o registro é feito no grupo estoque (arroz, feijão, soja etc.). Funcionamento do estoque na empresa prestadora de serviço Nas empresas de serviços, o estoque de matéria-prima é composto pelos insumos gastos na prestação do serviço. Se bem que, como se pode notar em tais empresas, tais insumos, muitas vezes, são insignificantes quanto ao valor. Por exemplo, em um escritório de contabilidade, as matérias-primas são canetas, lápis, folhas de papel, tinta da impressora etc., utilizados na prestação do serviço. O estoque de produto em processo recebe o nome de serviço em andamento, ou outro nome que identifique o tipo de serviço em andamento (por exemplo, cliente um, cliente dois ou serviço “este”, serviço “aquele” ou obra “disto”, obra “daquilo” etc.). Quando o serviço é faturado (cobrado) por mês, o “estoque de serviço em processo” existe somente do primeiro ao último dia do mês. Quando o serviço que está sendo executado leva mais de um mês para ser terminado, o valor da conta “estoque de serviço em processo” passa de um mês para o outro (por exemplo, o serviço que um escritório de advocacia está prestando para um cliente, a construção de uma obra pública etc.). Quanto à conta contábil “estoque de serviços acabados”, esta não existe nas empresas prestadoras de serviços pelo simples fato de não se conceber o estoque de um serviço. De acordo com a realidade humana, não podemos conceber o serviço “estocado”. Para terminar esta seção, lembre-se de que a técnica da Contabilidade de Custos que se aplica nas empresas industriais, rurais e de serviço é a mesma. Somente cabe uma adaptação nas nomenclaturas, principalmente nas empresas de serviço. Mas o cálculo e o raciocínio são os mesmos. 19 Contabilidade de Custos Seção 3 Qual a diferença entre a contabilidade de custos e o sistema de custos? No meio empresarial (e na bibliografia de custos também), muito se fala em Sistemas de Custos e Contabilidade de Custos. Mas, se formos analisar efetivamente um e outro, perceberemos que a principal distinção entre estes é a complexidade. Neste sentido, podemos dizer que a classificação entre Contabilidade de Custos e Sistema de Custos está relacionada ao porte da empresa. Se formos analisar uma microempresa até uma empresa de porte médio, podemos dizer que existe Contabilidade de Custos. Se a análise recair em uma empresa de porte médio até empresas de grande porte, a denominação não é mais Contabilidade de Custos, e sim Sistema de Custos. Esta diferença de nomenclaturas se verifica na quantidade de dados manipulados, no tamanho da planilha, na quantidade de dados extraídos, na quantidade de informações que permeiam a Contabilidade de Custos, de maneira geral. Assim, quando a Contabilidade de Custos incorpora muitos dados e fornece muita informação, dizemos que existe um Sistema de Custos, pelo aumento da complexidade da Contabilidade de Custos. Tanto um sistema de informação como o outro (Sistema de Custos e Contabilidade de Custos) possuem dois objetivos básicos, a saber: a. determinar o custo unitário de produtos e/ou serviços - o primeiro objetivo do sistema de custos, ou da contabilidade de custos, é determinar o custo unitário. Tal custo é a informação básica para qualquer tomada de decisão nas empresas. Esta informação serve para avaliar o estoque (produtos em processo e produtos acabados) e determinar o lucro, pois, grosso modo, o lucro é a receita menos os valores pagos para fabricar os produtos (ou produzir os produtos rurais), ou prestar os serviços; b. servir como instrumento gerencial - o primeiro objetivo é o mais importante (determinar o custo unitário). Todavia, com os sistemas informatizados de hoje (computadores e programas), ele (custo unitário) deixou de ser relevante, devido à facilidade de se implantarem Sistemas de Custos nas empresas. O que passou a ser relevante é a análise que se faz a partir das informações geradas pelo sistema de custos. 20 Capítulo 1 Uma análise bastante utilizada nas empresas é o controle. Por meio do conhecimento dos custos, os gestores podem saber se a produção está aumentando ou diminuindo, ou se o consumo de M. P., por unidade, é a mesma dos meses anteriores. Enfim, os dirigentes da empresa possuem informações de todo o processo produtivo. Outro instrumento de análise é o custo-padrão, que serve para fazer projeções de valores, principalmente na confecção dos orçamentos. O Sistema de Custos também informa a margem de contribuição, que é uma ferramenta básica na determinação do ponto de equilíbrio. • O custo-padrão é o custo do mês em análise (unitário ou total), projetado para o futuro, geralmente doze ou vinte e quatro meses. • A margem de contribuição (M. C.) é o preço de venda diminuído dos valores variáveis (unitário ou total). • O ponto de equilíbrio é a situação em que as receitas e as despesas são iguais. Assim, indica-se a quantidade vendida, quando não há lucro nem prejuízo. Até aqui, você estudou alguns fundamentos dos sistemas de custos (ou contabilidade de custos). Mas, com esses conhecimentos básicos, você pode estar se perguntando: quais são as desvantagens e vantagens da contabilidade de custos ou sistema de custos? Acompanhe as seguintes respostas. Desvantagens do sistema de custos ou da contabilidade de custos São duas as desvantagens do sistema de custos ou da contabilidade custos: alto gasto na implantação e excesso de burocracia. 1. Alto gasto na implantação - Para se implantar uma contabilidade de custos ou sistema de custos, as empresas incorrem em desembolsar uma boa quantidade de dinheiro nessa implantação, mesmo porque isto leva certo tempo para terminar, dependendo do porte da empresa. Mas, esse gasto é somente na implantação, visto que, após implantar-se a contabilidade de custos ou o sistema de custos, a empresa praticamente não terá mais gasto. O difícil é definir a planilha de custo. Depois que a planilha estiver pronta para um mês, para os meses seguintes é preciso somente atualizar os dados, ou seja, digitar os valores do mês do qual se queira calcular o custo. 21 Contabilidade de Custos 2. Excesso de burocracia - Aqui a desvantagem é maior para a empresa. É que, antes da implantação do sistema/contabilidade de custos, quase não existem rotinas nas empresas para “levantar” dados, já que não há necessidades deles. Com a implantação do sistema de custos, a empresa precisa saber todos os valores referentes à M. P. (quantidade consumida, em qual produto foi alocada etc.), aos valores da MOD (quantidade de horas trabalhadas, alocação da MOD para cada produto etc.) e a todos os outros custos indiretos de fabricação (CIFs). Perceba que, com a implantação de uma contabilidade de custos, gera-se uma rotina na empresa (levantamento de dados). Este levantamento de dados cria uma burocracia na empresa. E esta burocracia pode prejudicar bastante o processo de implantação e continuidade do sistema de custos. Se não for devidamente administrada (a burocracia), pode inviabilizar a contabilidade de custos pela resistência que, por ventura, venha a ser oposta pelos funcionários da produção da empresa. Estas foram as desvantagens. Mas as vantagens, basicamente, duas, são mais importantes. Vantagens do sistema de custos ou da contabilidade de custos São duas as principais vantagens do sistema de custos ou da contabilidade custos: revelar o custo unitário e ser um instrumento gerencial. 1. Revela o custo unitário - com a implantação da contabilidade de custos, ou do sistema de custos, as empresaspodem saber o custo unitário do produto e/ou do serviço. O seu simples conhecimento é muito importante para a empresa, tanto para saber quanto custa um produto, como para avaliar o estoque da empresa. A informação do estoque é importante no sentido de se conhecer o valor monetário que aparecerá no balanço patrimonial, nas contas dos estoques. Então, sem a contabilidade (ou sistema) de custos, a empresa não tem como saber o valor da conta sintética “estoque”. Assim, nesse caso, deve arbitrar o valor do estoque conforme regras do Decreto-Lei 1.598/77, já vistas anteriormente. 2. Instrumento gerencial - como instrumento gerencial, a contabilidade de custos proporciona análise quantitativa e qualitativa. Quantitativa, na comparação de valores, como, por exemplo, comparação no consumo de M. P. entre vários meses, análise quantitativa de horas trabalhadas etc. Qualitativa, na 22 Capítulo 1 análise do crescimento da produção menor do que o crescimento do consumo de M. P., ou aumento da produção com a mesma quantidade de horas trabalhadas, entre outros. Determina-se, assim, conhecer onde possa haver desperdício de capital, pelo consumo excessivo, em relação à produção, ou um aumento de gasto sem uma relação direta com benefícios para a empresa. Identificam-se, também, os departamentos ou os produtos que proporcionam lucros ou prejuízos pela análise da rentabilidade destes, por meio das receitas geradas e dos consumos de recursos vinculados a esses departamentos e/ou produtos. Como você pode notar, as vantagens proporcionadas pela contabilidade de custos são basicamente duas: custo unitário e análise gerencial. O custo unitário é fácil de calcular com a planilha. Quanto à análise, não existe uma fórmula pronta de análise de custos. Como será estruturada a planilha, quais informações farão parte da planilha, que informações dela serão extraídas, que importância será dada a ela no gerenciamento da empresa? Observe que todos estes tópicos de análise dependerão dos gestores das empresas. A necessidade da empresa, a sua necessidade como gestor do custo, a sua cultura em relação ao assunto (custo) é que vai determinar a estrutura da planilha e, principalmente, que tipo de análise será feita. Saber utilizar a planilha de custos na comparação de valores talvez seja mais importante do que as simples técnicas de análise de custos, presentes nos livros didáticos. A título de exemplo, deve ser considerado o consumo de M. P. em relação à produção, acréscimo ou decréscimo do custo da MDO em relação à produção, entre outros. Estas são informações que não se aprendem na escola, o contador de custos deve aprender no dia a dia. Ao tratar dos sistemas de contas, alguns autores distinguem dois tipos: o sistema monista – que compreende um só conjunto de livros, uma só razão geral, ou seja, as contabilidades externas e internas estão resumidas; e o sistema dualista – formado por duas contabilidades autônomas, embora mutuamente subsidiadas. Esta noção, entretanto, não é aplicada na contabilidade atualmente. 23 Contabilidade de Custos Atividades de autoavaliação Ao final de cada capítulo você vai ser instigado a realizar atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático, mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo a sua aprendizagem. Responda, então: 1. Para um produto existir na realidade, quais são os fatores que concorrem para sua existência? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2. Em quais tipos de empresa pode-se aplicar a contabilidade de custos? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 3. Por que não se aplica a contabilidade de custos nas empresas comerciais? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 24 Capítulo 1 4. Qual o “estoque” que existe nas empresas industriais e rurais e que não existe nas empresas prestadoras de serviços? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 5. Qual a diferença básica entre um sistema de custos e uma contabilidade de custos? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 6. Quais são os dois objetivos da contabilidade de custos? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 7. Qual a principal desvantagem do sistema de custos? Explique a sua resposta. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 25 Contabilidade de Custos 8. Nos dias de hoje, com a popularização dos computadores, qual a principal vantagem da contabilidade de custos? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 9. Existe uma “fórmula” pronta e acabada de se fazer análise de custos? Comente sua resposta. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 10. Vamos supor que determinada empresa comercial, um supermercado, por exemplo, convide você para implantar um sistema de custos. Como você aceitou o desafio, pergunta-se: qual o seu objetivo com a implantação da “contabilidade de custos” em uma empresa comercial? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 27 Capítulo 2 Nomenclaturas básicas aplicadas à contabilidade de custos Seção 1 O que são gastos? Gastos são sacrifícios financeiros desembolsados pela empresa para adquirir bens ou serviços. Estes sacrifícios financeiros se caracterizam pela entrega ou promessa de entrega de valores do ativo (ou contabilizados diretamente no grupo despesa), normalmente dinheiro. Vamos recapitular. Como exemplosde bens, temos dinheiro (caixa), estoques, máquinas, terrenos etc. Como exemplo de direitos, temos banco (dinheiro depositado no banco), clientes (contas a receber), empréstimos a diretores etc. O gasto somente se define quando há a transferência de propriedade do bem ou serviço para a empresa, ou seja, no instante em que a empresa assume a dívida ou no momento da redução do valor do ativo (ou considerado imediatamente como despesas), entregue como pagamento. Este conceito de gasto é bastante amplo e está próximo do linguajar que se usa no dia a dia. Em uma empresa, muito dos valores desembolsados do caixa (ou do banco) da empresa são gastos, mas alguns valores não o são. Então, quando a empresa sacrifica algum valor do ativo para adquirir outro ativo, há o gasto. O mesmo acontece, quando a empresa sacrifica algum valor do ativo para adquirir uma despesa (pagamento de água, por exemplo). 28 Capítulo 2 Veja alguns exemplos de gasto. Quando a empresa compra matéria-prima está incorrendo em gasto, pois trocou um ativo, dinheiro, por outro ativo, matéria-prima. A empresa também está incorrendo em gasto quando cumpre a folha de pagamento, pois está efetuando uma troca de ativos, neste caso dinheiro, por serviço de seus funcionários. Compra de máquinas e outros imobilizados também são gastos, já que há uma troca de ativos. Outro exemplo é o pagamento de despesas. Neste caso, a empresa está trocando um ativo, dinheiro, por um bem de consumo (gasolina do carro do presidente da empresa, por exemplo). Perceba que os gastos podem ser alocados no ativo ou lançados diretamente na despesa. Como exemplo de ativo podemos citar a compra de matéria -prima, compra de imobilizado, entre outros. Quanto à despesa, podemos citar a compra de material de expediente, pagamento de funcionários administrativos, entre outros. Mas observe que todo gasto, direta ou indiretamente, tornar-se-á despesa, pois todo ativo se tornará despesa, cedo ou tarde. Um exemplo é o gasto com imobilizado, que se tornará despesa com a depreciação deste (já que a depreciação será contabilizada futuramente no grupo Despesa). Quanto ao gasto com despesa, dispensa maiores comentários, pois, por natureza, já é despesa. Entretanto, há vários exemplos de desembolso do caixa que não são gastos. Neste caso, temos os valores que a empresa desembolsa da conta caixa ou da conta banco e que não serão lançados futuramente no grupo despesa. Acompanhe dois exemplos de desembolso que não são tidos como gastos. • Amortização de empréstimos: neste caso, há a saída de dinheiro do caixa, mas não há a aquisição de bem ou de um direito. Veja que não há aumento do ativo e nem aumento da despesa. Há somente o pagamento do empréstimo. Perceba que a amortização do empréstimo não é gasto, mas o juro pago pelo empréstimo é gasto, já que o juro é o sacrifício em que a empresa incorre para utilizar o dinheiro do banco (neste caso, o juro do empréstimo será contabilizado no grupo despesa e a amortização do empréstimo, por sua vez, não será). • Empréstimo a diretores: com esse mesmo raciocínio, também podemos dizer que o empréstimo a diretores não é gasto, pois a empresa não está entregando dinheiro em troca de um bem ou serviço. Em um futuro próximo, os diretores devolverão o empréstimo, e a empresa não arcará, então, com nenhuma despesa. 29 Contabilidade de Custos Veja que todo “gasto” é uma despesa, direta ou indiretamente. Diretamente, quando os valores são lançados imediatamente no grupo despesa; e, indiretamente, quando os valores do gasto transitam primeiramente pelo grupo ativo e depois são lançados no grupo despesa. Seção 2 O que é custo? Custo é o consumo de recursos no processo produtivo. É o gasto em que a empresa incorre para fabricar um produto ou prestar um serviço. Perceba que custo ocorre somente no processo de produção (na fábrica). O seguinte trocadilho expressa uma grande verdade! “Todo custo é um gasto, mas nem todo gasto é um custo”. Então, observe que os custos são somente o consumo de matéria-prima (M. P.), o gasto com mão de obra dos funcionários da fábrica (MOD) e os demais gastos (CIFs) que ocorrem no processo de transformação da matéria-prima em produtos, nas indústrias e empresas rurais, e os valores nos quais as prestadoras de serviços incorrem para prestar o serviço. Os demais gastos da empresa não são considerados custos, e sim despesas administrativas, de vendas ou financeiras. Para os objetivos deste trabalho, definiremos estas três despesas, já citadas, como despesas acessórias. De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas (6.404/76), a demonstração do resultado do exercício deve discriminar o que são custos dos produtos vendidos (CPV) das despesas operacionais do exercício. No CPV, vão os gastos de fabricação dos produtos que já foram vendidos; e, nas despesas operacionais, os gastos com a manutenção da estrutura burocrática da empresa. A estrutura burocrática é representada pelos departamentos de contabilidade, contabilidade de custos, diretoria, financeiro, administração, vendas, marketing, as assessorias (jurídica, entre outras), entre outros exemplos. Uma particularidade importante entre os custos e as despesas é que os custos, necessariamente, são contabilizados primeiramente nos estoques, ou seja, todo valor gasto, e que seja custo, deve ser lançado na conta produto em processo e, depois, na conta produtos acabados. 30 Capítulo 2 Já as despesas devem ser contabilizadas (lançadas) diretamente na conta despesas operacionais (despesas administrativas, despesas com vendas e despesas financeiras). Esta segregação, separação, justifica-se pelo fato de o gasto com a produção ser com o produto, e o produto, por sua vez, necessariamente dever estar estocado, ao menos durante o processo de fabricação. Se a empresa fabrica produto, esse deve ser contabilizado necessariamente na conta produto em processo, para, quando terminar a produção, ser transferido para a conta produto acabado. Quando da venda, aí sim, o custo é transferido para o resultado do exercício, para a conta custo do produto vendido. Esta sistemática também se aplica às empresas rurais e às empresas prestadoras de serviço. Como existem duas classificações distintas nas empresas rurais (agricultura e pecuária), você deve prestar atenção na especificação da empresa para definir o que seja “custo” e como alocá-lo aos estoques. As empresas agrícolas também possuem uma classificação específica, cultura permanente e cultura temporária. • Cultura permanente: Na cultura permanente, primeiro, há a plantação dos pomares. Então, todos os gastos na formação destes pomares devem ser contabilizados no ativo imobilizado da empresa, para posterior exaustão da plantação. Esta exaustão é contabilizada (lançada) na conta produtos em processo, ou outra nomenclatura de conta que informe efetivamente a colheita daquela cultura. Após a colheita, o valor da conta é transferido para produtos colhidos, ou outra nomenclatura de conta que informe efetivamente qual cultura foi colhida e que será estocada. • Cultura temporária: Na cultura temporária, os materiais (sementes, adubos, defensivos agrícolas etc.) são transferidos da conta insumos agrícolas (matéria-prima, na indústria) para a conta plantação em andamento – plantação de milho, plantação de feijão etc. (produto em processo, na indústria). Após a colheita, esses valores são transferidos para a conta que represente a cultura colhida – estoque de milho, estoque de feijão (trata-se da conta produtos acabados, na indústria). E, nas empresas prestadoras de serviço, o estoque de produtos em processo, da indústria, recebe o nome de serviço sendo executado ou serviço em andamento. Nessa conta, serão lançados (contabilizados) todos os gastos nos 31 Contabilidadede Custos quais a empresa incorre para prestar o serviço, como, por exemplo, matéria-prima (nas empresas de serviços, a matéria-prima geralmente é irrelevante, mas existe – por exemplo: papel, tinta de impressão, caneta, entre outros), a mão de obra gasta para executar o serviço (geralmente o valor mais preponderante dos gastos, nesse tipo de empresa) e os demais custos indiretos suportados pela empresa para prestar o serviço. Um detalhe importante nas empresas prestadoras de serviços é que não existe a conta contábil serviços acabados (conta produtos acabados, na indústria), já que, na realidade humana, não podemos conceber o “estoque de um produto intangível”. Como você irá visualizar na figura seguinte, todos os gastos em que a empresa incorrer no prédio da fábrica são custos; já o gasto no prédio da administração é despesa. Figura 2.1 - Distinção entre o prédio da fábrica e o prédio da administração Prédio de Fábrica CUSTO Prédio da Administração DESPESA OPERACIONAL Fonte: Elaboração do autor, 2007. A partir deste momento, fique atento/a à palavra “custo”, pois, toda vez que você a ler neste livro didático, ela terá esta conotação, ou seja, gasto no processo produtivo. Mas mais importante do que utilizar a palavra “custo” nesta unidade de aprendizagem é você utilizar esta palavra em todos os assuntos relacionados à profissão de contador. Como já falado, a conta sintética estoque está subdividida em três contas analíticas (por enquanto, vamos ficar nestas três: mais tarde, veremos a subdivisão delas). 32 Capítulo 2 • Estoque; • Matéria-prima; • Produtos em processo; • Produtos acabados. Perceba que somente podemos usar a denominação “custo” em duas contas: produtos em processo e produtos acabados. Não podemos usar a palavra “custo” no estoque de matéria-prima, pois o custo é a soma de M. P., mais a MOD e os CIFs. E, no estoque de matéria-prima não existe esta soma, e sim somente nos estoques de produtos em processo e produtos acabados. Então, a palavra “custo” se confunde com aqueles dois estoques e não se confunde com o estoque de matéria-prima. Seção 3 O que é despesa? Em contabilidade, define-se despesa como a contrapartida da receita. Então, para a empresa auferir, obter uma receita, deve incorrer em despesa. Se a empresa vender um produto, ela vai conseguir uma receita (vai receber um dinheiro ou direito), e a principal despesa vinculada a essa receita é o custo do produto vendido (ou o custo do serviço prestado ou, ainda, o custo do produto rural vendido). Aqui você pode ter ficado em dúvida. Pode estar se perguntando: se o custo do produto vendido é uma despesa, e o “custo”, como já estudado, somente existe no processo de produção, como esta nomenclatura pode estar sendo utilizada como despesa? Observe que estamos usando esta terminologia, custo do produto vendido, por imposição da Lei das Sociedades Anônimas, a qual determina que esta conta contábil receba tal denominação. E como essa é a Lei que nomeia as contas contábeis no Brasil (ao menos as principais contas), somos forçados a segui-la. Entretanto, segundo a definição de despesa, essa conta deveria denominar-se “despesa do produto vendido”, seguindo a lógica de existirem custos somente nos estoques. Quando o produto é baixado pela venda, aquele custo de produção perde a condição de “custo” e passa a ser uma despesa com o produto vendido. 33 Contabilidade de Custos Como a Lei é soberana, iremos nos referir a essa conta como custo do produto vendido, entretanto, cientes de que a denominação correta (teoricamente falando) deveria ser “despesa do produto vendido”. A par desta explicação, a peça contábil que informa as receitas e as despesas do exercício é a demonstração do resultado do exercício (DRE). E, na DRE, existem duas despesas vinculadas às receitas: uma principal e outra a que podemos nos referir como acessória. A despesa principal é o próprio custo do produto vendido, pois é o valor relacionado diretamente com a receita. Se uma empresa vende um produto, o gasto principal com aquela venda é o valor que a empresa desembolsou para fabricá-lo – ou comprá-lo, no caso de uma empresa comercial. Então, essa é a principal despesa na venda do produto. E as despesas acessórias são as despesas operacionais em que a empresa incorre para ter condições de vender o seu produto, as quais não estão relacionadas diretamente com o produto, mas indiretamente. Vejamos um exemplo. O salário da secretária do presidente da empresa não mantém uma relação direta com a venda de um produto em particular. Mas o trabalho da secretária contribui para que o produto seja fabricado, em um primeiro momento, e vendido, em um segundo momento. Isto pode ser justificado, se você imaginar o presidente da empresa sem uma pessoa que o auxilie. Primeiramente, toda empresa deve ter uma pessoa que a comande, e, depois, se esta pessoa é muito atarefada, o acúmulo de tarefas dificulta o discernimento do gestor. Se ele não tiver tempo para gerir a empresa da melhor forma possível, provavelmente essa empresa não cumprirá seus objetivos, quais sejam, produzir e vender produtos. Percebe-se, então, que todos os gastos operacionais que não estão vinculados diretamente ao produto contribuem para o esforço de produção e venda, por isto são considerados despesas operacionais. Aqui estão incluídos os salários administrativos, o consumo de água da administração, a depreciação dos computadores e mobiliários da parte administrativa da empresa, a depreciação dos automóveis da diretoria, todos os gastos com o departamento de vendas, todos os juros pagos pela empresa, entre outros. Um detalhe importante que você deve perceber é que toda receita possui uma despesa vinculada, do contrário não seria receita – veja bem, sem exceção. Algumas pessoas citam exemplos de receita sem despesa, notadamente juro da poupança, por exemplo, e doação. Quanto ao juro da poupança, este não é receita, mas sim o lucro da aplicação. Se compararmos os lançamentos da compra e venda de uma mercadoria com a aplicação financeira na caderneta de poupança, veremos que os dois lançamentos são equivalentes. Acompanhe, na sequência, esses lançamentos. 34 Capítulo 2 Compra e venda de um bem do estoque (mercadoria qualquer) Lançamento na compra D – Estoque de mercadoria C – Caixa, banco ou fornecedores 1.000,00 Lançamentos na venda Pelo recebimento do dinheiro ou reconhecimento do direito D – Caixa, banco ou clientes C – Receita com vendas 1.200,00 Baixa do Estoque D – Custo da mercadoria vendida C – Estoque de mercadoria 1.000,00 Então, como a receita foi de $ 1.200,00 e a despesa foi de $ 1.000,00, a transação gerou um lucro de $ 200,00 para a empresa. Aplicação e resgate da poupança (não utilizado – mas que deveria ser utilizado) Lançamento da aplicação D – Aplicação financeira – poupança C – Caixa ou banco 1.000,00 Lançamentos no resgate D – Caixa ou banco – Receita com aplicação 1.2000,00 35 Contabilidade de Custos Baixa da aplicação D – “Custo da aplicação financeira” C – Aplicação financeira – poupança 1.000,00 Igualmente ao lançamento da compra e venda da mercadoria, a empresa obteve uma receita de $ 1.200,00 e uma despesa de $ 1.000,00. O lucro com a aplicação financeira foi de $ 200,00. Entretanto, o lançamento que se faz na prática do dia a dia das empresas é o seguinte: Aplicação e resgate da poupança (utilizado na prática diária – incorreto) Lançamento da aplicação D – Aplicação financeira – poupança C – Caixa ou banco 1.000,00 Lançamento de resgate da aplicação D – Caixa ou banco 1.200,00 C – Aplicação financeira – poupança 1.000,00 C – Receita com juros 200,00 Perceba que a técnica mais correta é a primeira, pois é a mesma do lançamento damercadoria. A segunda é uma técnica simplificada, que não revela, na DRE, o valor aplicado pela empresa (“custo da aplicação” – similar ao custo da mercadoria / produto). Devido a este segundo lançamento é que muitas pessoas dizem não existir “despesa” na aplicação financeira. Mas, como vimos no primeiro lançamento, existe sim e é justamente o quanto a empresa perdeu ($ 1.000,00) para ganhar o valor de $ 1.200,00 obtendo, com isso, um lucro de $ 200,00, como já comentado. Muitas pessoas dizem que não há condições de se fazer este primeiro lançamento, devido à tributação dos impostos; mas, a contabilidade deveria 36 Capítulo 2 seguir os princípios contábeis, e não os ditames do fisco. Existe toda uma metodologia para transformar os dados da contabilidade para o fisco, que se denomina Livro de Apuração do Lucro Real (Lalur) – aliás, é como previsto na Lei das Sociedades Anônimas (6.404/76). Quanto à “doação”, saiba que esta não é receita, pois não possui despesa. Alguns profissionais alegam que existem taxas, impostos, entre outros encargos na transmissão do bem. Mas, os encargos são mais detalhes do que propriamente um gasto para se ter o bem. A doação tanto não é receita que o seu lançamento não é efetuado nas contas de resultados (receita e despesa), mas sim diretamente no patrimônio líquido da empresa. Seção 4 O que são perdas? As perdas são os valores que desaparecem durante o processo produtivo e para os quais não há maneiras de recuperação. São os recursos consumidos na empresa, sem que haja uma contrapartida de receita. Normalmente, o termo “perda” está relacionado com o processo produtivo, mas pode-se usar este conceito também com relação às despesas operacionais. Assim, pode haver perda na atividade burocrática da empresa, como, por exemplo, perda de material no departamento de contabilidade, entre outras. No processo produtivo, as empresas incorrem em dois tipos de perdas: as normais e as anormais. Perdas normais As perdas normais são os gastos previsíveis que a empresa suporta e que não irão proporcionar nenhuma receita. Essas perdas podem ocorrer com os materiais, com a mão de obra e com os custos indiretos de produção. a. Perdas com materiais: São os materiais consumidos de forma normal e involuntária pela empresa, sem que a empresa vá receber alguma receita. A título de exemplo, podemos citar as aparas de papel, em uma gráfica. Elas são consideradas perdas, pois a empresa está tendo um gasto que não irá recuperar. O custo dessas aparas será incorporado ao custo do produto, mas, se a empresa pudesse eliminá-las, o custo seria menor para fabricar o produto. Portanto, neste caso, as aparas são uma perda para a empresa. 37 Contabilidade de Custos Sabemos que a receita do produto vai contemplar essa perda, mas, se a empresa pudesse eliminá-la, então poderia reduzir o valor da venda e, com isto, aumentar a quantidade vendida. Ademais, a empresa não pode vender “perdas”, ela deve vender um produto que tenha o menor custo possível. Mais exemplos de perdas com materiais são evaporação dos produtos voláteis, perda com estoques perecíveis (alimentos, por exemplo), entre outros. b. Perdas com mão de obra: São os tempos não produtivos dos empregados, pelos quais a empresa remunera a hora trabalhada, embora eles não produzam. Como exemplo, podemos citar o tempo despendido para lanches, as faltas justificadas, as férias, o descanso semanal remunerado (DSR), as paradas de manutenção da fábrica, os feriados etc. Aqui somente é considerada perda, se a empresa remunerar a hora trabalhada. No caso do tempo de almoço, este não é considerado perda, pois, geralmente, a empresa não remunera esse tempo. c. Perdas com custos indiretos de fabricação: São os gastos involuntários e previsíveis que a empresa tem com esses valores. Os exemplos podem ser os mais variados possíveis, desde que a perda seja previsível e que o valor seja classificado como custos indiretos de fabricação. Para exemplificar, podemos citar as perdas com materiais indiretos, entre outros. As perdas normais possuem duas características bem definidas: são previsíveis e contabilizadas no estoque. São previsíveis à medida que a gerência da fábrica consegue fazer uma estimativa antecipada da ocorrência daqueles gastos. Por exemplo, a perda com produtos voláteis pode ser estimada, levando-se em consideração o volume de materiais. As faltas justificadas podem ser previstas em função do histórico de faltas dos funcionários nos anos anteriores. Como são previsíveis e normais no processo produtivo, e a empresa não possui maneiras de eliminá-las, seus valores são contabilizados nos estoques, junto aos produtos fabricados, que deram origem àquelas perdas. Somente irão para as contas de resultados com a venda do produto, junto ao custo do produto vendido. 38 Capítulo 2 Perdas anormais Perdas anormais são os gastos não previsíveis incorridos pela empresa. Enquanto as perdas normais possuem uma relação direta com a atividade normal da empresa (produção de produtos e atividades burocráticas – contabilidade, administração, vendas, financeiro, marketing etc.), as perdas anormais se relacionam com qualquer aspecto da empresa, tanto pode ser perda do estoque como do imobilizado. Para um melhor entendimento, podemos citar os gastos causados por enchente, incêndio, furto, greve, entre outros exemplos. Então, o gasto com incêndio nos estoques causa uma perda anormal, assim como o gasto com o incêndio em uma máquina que fabrica os produtos. Ambos os gastos são perdas anormais, pois a empresa não poderia prever essa perda. Os valores relacionados com as perdas anormais são contabilizados diretamente nas contas de resultados, não transitando pelos estoques de produtos em processo e produtos acabados. São consideradas perdas, no grupo, as Despesas. No grupo despesas não operacionais somente são contabilizados os valores da baixa extraordinária do permanente. A título de exemplo, podemos citar, entre outros: venda do imobilizado, roubo do imobilizado, baixa por ser inservível e danificação. A baixa ordinária do permanente somente acontece pela depreciação, exaustão e amortização, ou seja, pela depleção. 39 Contabilidade de Custos Atividades de autoavaliação Ao final de cada capítulo, você será provocado a realizar atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará estimulando a sua aprendizagem. Então: 1. Defina, com as suas palavras, o que são gastos. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2. Dos itens a seguir, indique quais são gastos (G) e quais não são (N): a) ( ) Compra de materiais indiretos. b) ( ) Empréstimos a funcionários. c) ( ) Pagamento do seguro. d) ( ) Compra de uma máquina para a produção. e) ( ) Pagamento para a empresa de vigilância da fábrica. 3. Explique, sucintamente, o que é custo. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 40 Capítulo 2 4. Indique em quais contas contábeis devem ser lançados, originalmente, os seguintes valores: gastos no processo produtivo e gastos com a manutenção burocrática da empresa. ____________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 5. Na contabilização dos custos, estes, necessariamente, devem ser lançados (contabilizados) primeiramente em qual conta contábil? E as despesas, em quais contas devem ser lançadas (contabilizadas)? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 6. Na contabilidade agrícola e na contabilidade de empresas de criação de animais, o valor da cultura permanente e o valor dos animais reprodutores são transferidos do imobilizado para o “estoque de produtos em processo” por meio de que “figura” contábil? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 41 Contabilidade de Custos 7. Explique o que é despesa, resumidamente. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 8. Cite um exemplo de despesa relacionada diretamente com o produto e uma despesa que não mantém relação direta com o produto. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 9. Com poucas palavras, explique o que são perdas no processo produtivo. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 10. O que devemos considerar para distinguir as perdas normais das perdas anormais? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 43 Capítulo 3 Elementos de custos Seção 1 O que é material direto ou matéria-prima? Matéria-prima são os materiais alocados diretamente aos produtos (ou serviços), sem haver dúvidas nesta alocação. São os componentes adquiridos prontos, os produtos in natura, as embalagens e outros componentes que a empresa agrega ao produto fabricado. Veja um exemplo: Podemos imaginar a fabricação de uma mesa. Para este produto existir, a empresa precisa de madeira, cola, prego, tinta, entre outros materiais que vai utilizar para a fabricação da mesa. Perceba, então, que todos os materiais que a empresa gasta, que estão contidos na mesa e que podem ser identificados diretamente com o produto, são matérias-primas. Aqui podem ocorrer exemplos de matéria-prima que não estejam contidos no produto final, mas que concorrem para o processo de fabricação. Um exemplo típico desta situação é o gás combustível que a empresa utiliza para fabricar um produto. Esse material, apesar de não fazer parte do produto final, já que serviu para aquecer uma caldeira, por exemplo, é considerado matéria-prima, pois se trata de um material direto, identificado com a produção do produto. Agora, se esse gás combustível servir para a fabricação concomitante de dois produtos distintos, podemos dizer que é material indireto, portanto, não é mais matéria-prima, e sim custo indireto de fabricação. Isto se justifica por não existir uma relação direta entre o gasto com o material e o produto fabricado. 44 Capítulo 3 A situação anteriormente descrita pode ser percebida pelo tempo que os produtos levam para ficar prontos. Se um produto é mais demorado do que outro para ser terminado, então, não se sabe quanto de gás combustível é utilizado efetivamente por um ou por outro no processo de fabricação. Neste caso, como não se conhece a quantidade de material consumido efetivamente por produto, individualmente, considera-se o material como custo indireto. Um detalhe importante é que, se nem todos os materiais são M. P., temos de identificar a empresa que estamos analisando para saber se o material alocado à produção é M. P., ou não. Isto quer dizer que a matéria-prima de uma empresa pode não ser a de outra. Tal fato pode ser exemplificado com as folhas de papel. Em uma gráfica, as folhas são consideradas materiais diretos, já que fazem parte do produto da empresa. Em uma oficina mecânica, as mesmas folhas são consideradas custos indiretos, pois servem para fazer anotações gerais da parte produtiva. Perceba que devemos conhecer o processo produtivo da empresa para definirmos se o material será contabilizado como M. P. ou custos indiretos. Então, para ser considerado matéria-prima, o gasto deve ser identificado com o produto e manter uma relação direta de consumo do material e a quantidade produzida, não necessitando de arbitramento para ser alocado ao produto. Composição do valor da matéria-prima O valor da matéria-prima no estoque deve levar em consideração todos os gastos incorridos para colocar o ativo em condições de realização, ou em condições de venda. Falando de outra forma, todos os gastos suportados pela empresa para utilizar normalmente o ativo incorporam o valor desse mesmo ativo. Assim, no estoque de matéria-prima devemos contabilizar, primeiramente, o próprio valor da M. P., depois o gasto com frete (se houver), também o gasto com seguro de transporte (se houver), o valor pago pela armazenagem da M. P. antes de chegar à fábrica (se houver) e os impostos de importação da M. P. (juntamente com as despesas alfandegárias, se houver), entre outros valores desembolsados para colocar a M. P. em condições de uso. Você deve perceber aqui que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e de Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) não são contabilizados no estoque de matéria-prima, pois são impostos recuperáveis. Muitas empresas contabilizam o frete, o seguro e as despesas alfandegárias (entre outros gastos) diretamente no grupo Despesa, para diminuir o lucro e pagar menos imposto de renda. Perceba que esta atitude não está de acordo com o princípio contábil do custo como base de valor. 45 Contabilidade de Custos Por outro lado, como falamos de estoque, é oportuno comentar a valorização do imobilizado, já que este possui as mesmas características do estoque de matéria- prima quanto à valoração. E, como utilizaremos o imobilizado no “custo”, por meio da depreciação, vamos aproveitar o momento e comentar sobre esse tema. Assim, repetindo a argumentação sobre o estoque de M.P.: todos os gastos para colocar o imobilizado em condições de uso devem incorporar o valor deste. Portanto, além do próprio valor de compra, devemos contabilizar também no imobilizado o frete, o seguro, a armazenagem, os equipamentos e as ferramentas para instalação deste, a mão de obra de instalação, a matéria-prima utilizada para testar a máquina até a produção, entre outros valores gastos para colocar o imobilizado em condições de operação. Desconto financeiro na compra de matéria-prima Os descontos financeiros recebidos pela empresa na antecipação de pagamentos da matéria-prima não integram o custo do produto. São tratados como receitafinanceira no resultado do exercício. A título de exemplo, podemos utilizar a seguinte situação: Considere a compra de M. P., a prazo, por $ 1.000,00, com pagamento em 30 dias. A empresa pagou o valor com 10 dias de antecedência, com desconto financeiro de $100,00. Com estas informações, pede-se o lançamento. Lançamento na compra Lançamento no pagamento D – Estoque – M. P. 1.000, 00 D- Fornecedores 1.000, 00 C- Fornecedores – 1.000, 00 C- Caixa ou bancos 900,00 C- Receitas financeiras 100,00 Perceba que o valor recebido no desconto financeiro não altera o valor do estoque de matéria-prima, e é contabilizado como receita financeira. 46 Capítulo 3 Descontos comerciais e abatimentos (na compra de matéria-prima) Os descontos comerciais e abatimentos integram o custo do produto na compra da matéria-prima. Não confunda desconto comercial e abatimento na compra de M. P. com desconto comercial na venda de produtos. O desconto comercial e abatimento alteram o valor do estoque de M. P. Já o desconto na venda de mercadoria é uma dedução da receita, portanto, débito de receita. Descontos comerciais Os descontos comerciais são os descontos negociados na compra da M. P. e estão destacados na própria nota fiscal. Por exemplo, quando vamos a uma loja comprar uma roupa e falamos para o vendedor que, na outra loja, encontramos a mesma peça por um preço menor: o vendedor, então, resolve nos dar um desconto, se levarmos a peça. Nisto, o vendedor emitirá a nota fiscal pelo valor de venda menos o desconto comercial; encontrando o valor líquido de venda. A priori, não há lançamentos na contabilidade. Somente “a priori”, pois, se quisermos fazê-lo, não existe problema algum. E “somente”, pois não é uma rotina na contabilidade a contabilização dos descontos comerciais. Abatimentos Os abatimentos são negociados posteriormente à emissão da nota fiscal por motivo de avarias, qualidade do produto, atrasos, especificações não cumpridas, entre outros motivos. Aqui, a ideia do abatimento é a seguinte: quando se compra uma matéria-prima, tem-se presente que a entrega será de acordo com o contrato de compra e venda. Se a M. P. for entregue fora das especificações do contrato, podemos recusar o recebimento da contabilidade de custos. Agora, se a M. P. não está de acordo com o contrato e o vendedor resolver conceder um “desconto” ao comprador, para este ficar com a M. P., o “desconto” recebe a denominação de Abatimento. Entretanto, somente há abatimento na venda com a entrega posterior, pois, se houver a entrega da M. P. no ato da compra, o comprador analisará o “produto” no momento de recebê-lo e, então, não poderá alegar problemas com a M. P. Veja este exemplo de abatimento: Considere a aquisição de 500 peças, para entrega posterior, por $ 750,00. Posteriormente, verificou-se atraso na entrega, e o fornecedor resolveu conceder um abatimento de $ 50,00 no pagamento. Com estes dados, pede-se o lançamento. 47 Contabilidade de Custos Lançamento na compra Lançamento na entrega D - Estoque – M. P. 750,00 D - Fornecedor 50,00 C - Fornecedor 750,00 C - Estoque – M. P. 50,00 Lançamento no pagamento D - Fornecedor 700,00 C - Caixa/banco 700,00 Para finalizar este tópico, faça o lançamento (somente por meio de débito e crédito) de um exemplo de desconto comercial, já que tal procedimento não foi demonstrado no parágrafo anterior. Observação: sugerimos que faça esta atividade, uma vez que é muito importante para a sua aprendizagem. Avaliação do estoque A avaliação do estoque é um dos tópicos mais importantes dos materiais, pois, dependendo do critério de avaliação utilizado, afetará o resultado da empresa. Existem duas técnicas de se avaliar o estoque de uma empresa: inventário periódico e inventário permanente. Inventário periódico O inventário periódico é caracterizado pela utilização da fórmula: custo = Ei + compras – Ef. Então, o custo da M. P. (CMP) é calculado pela seguinte expressão: = EiMP + Compras de M. P. – EfMP. Há poucos anos, esta era a técnica mais utilizada nas empresas (tanto industriais quanto comerciais) para se calcular o custo da M. P. Atualmente, com o uso dos sistemas informatizados (computador e programas), esta técnica deixou de ser utilizada na maioria das empresas. A expressão “fechado para balanço” nada mais é do que fechar a fábrica (ou loja) para contar os estoques, tanto de matéria-prima, como de produtos em processo quanto de produtos acabados (ou de mercadoria, nas lojas). Por outro lado, esta técnica não é considerada científica, pois o estoque final deve ser contado pessoalmente, não por meio da técnica contábil. 48 Capítulo 3 Inventário permanente O que caracteriza este tipo de inventário é a sua divisão em quatro tipos distintos, ou seja: Preço Específico, Preço Médio, Primeiro que Entra Primeiro que Sai (PEPS) e Último que Entra Primeiro que Sai (UEPS). 1. Preço específico – dos quatros tipos, talvez deste você ainda não tenha ouvido falar. Geralmente, os autores não o mencionam, justamente por ser muito simples a sua definição, ou mesmo: trata-se do controle e a avaliação do estoque de um único produto. Veja alguns exemplos: construção de um navio, construção de um prédio, móveis por encomenda, todos os serviços etc. No cotidiano das empresas, esta técnica quase não é comentada, mas é bastante utilizada, principalmente nas empresas que fabricam sob encomenda. As situações mais comentadas desta técnica ocorrem nos concursos públicos, geralmente, dispostas em famosas “pegadinhas”. 2. Preço médio – o custo da M. P. é encontrado dividindo-se o saldo, em valores monetários, pelo saldo em valores físicos, em todas as entradas de produtos. 3. PEPS – refere-se ao conhecimento do custo à saída do primeiro produto que entra no estoque. Por consequência, o custo dos produtos terá como base os primeiros produtos a entrarem no estoque. 4. UEPS – significa o conhecimento do custo à saída do último produto que entrou no estoque. Por consequência, a base do custo será sempre em relação aos últimos produtos que entraram no estoque. Contabilização da Matéria-prima O consumo de matéria-prima deve ser contabilizado, a débito, necessariamente na conta estoque de produtos em processo; pois é um dos três elementos de custos (o primeiro) que irá compor o futuro produto. Quanto à conta credora, dependerá de como a empresa está utilizando a entrada de matéria-prima no processo produtivo. Então, a empresa pode comprar a MP no momento da produção – assim, a conta credora será Caixa ou Banco se for compra à vista, ou conta Fornecedores se for compra a prazo. Pode também comprar MP antecipadamente (débito de Estoque de matéria-prima e crédito de Caixa, Banco ou Fornecedores). Mas, os sócios da empresa também podem integralizar Capital com MP. Nesse caso, o débito será ou Estoque de matéria-prima ou Estoque de produtos 49 Contabilidade de Custos em processo (dependendo para onde foi a MP – se para o Estoque de MP ou diretamente para a produção) e crédito na conta Capital Social. Visualizando-se os lançamentos para efeitos didáticos, temos, para a maioria dos casos práticos: Compra de matéria-prima D – Estoque de matéria-prima C – Caixa, Banco, Fornecedores ou Capital Social Histórico do lançamento e valor monetário Apropriação (consumo) da matéria-prima D – Estoque de produtos em processo C – Estoque de matéria-prima Histórico do lançamento e valor monetário Sucatas As sucatas são sobras de produção eventualmente comercializadas, vale dizer, são as perdas normais (podendo ser as anormais também, desde que oriundas do estoque, e não do imobilizado) de produção que a empresa consegue vender. Não existe mercado estável para a sua comercialização. Os custos de produção são agregados aos produtos e,
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