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GESTÃO DE CUSTOS Aline Alves Custeio por processo I Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Distinguir o método de custeio por ordem de produção do método de custeio por processo. Registrar o fluxo de custos indiretos, de materiais e de mão de obra a partir de um sistema de custeio por processo. Calcular as unidades equivalentes de produção usando o método da média ponderada. Introdução A concorrência acirrada exige das empresas a adoção de sistemas de custeio que garantam apoio para a alta gestão na tomada de decisões, a partir do fornecimento de dados de custos relevantes. Segundo Souza, Cruz e Portugal (2016) sistema de custeio é um con- junto de componentes administrativos, de registro, de fluxos, de procedi- mentos e de critérios que agem e interagem de modo coordenado para atingir determinado objetivo, que, no caso, é o custeio da produção e do produto. Dessa forma, cria-se uma espécie de banco de dados com todos os custos da empresa, oferecendo aos gestores uma visão panorâmica dos seus custos e auxiliando na tomada de decisões estratégicas. Existem três tipos de sistemas de custeio: o sistema de custeio de ordem de produção, o sistema de custeio por operação e o sistema de custeio por processo. Neste capítulo, você vai estudar os sistemas de custeio por ordem de produção e por processo, com ênfase para este. Você vai ver como são feitos os registros de fluxo de custos indiretos, de materiais e de mão de obra. Por fim, vai analisar o cálculo das unidades equivalentes de produção por meio do método da média ponderada. Métodos de custeio Custeio por processo O custeio por processo é geralmente usado quando há uma produção de uni- dades idênticas em um fl uxo contínuo. Assim, divide-se os custos acumulados de um período pela quantidade de itens produzida no período, para se chegar a custos unitários gerais e médios. Os custos são acumulados por processo, ou por departamento, e não por produto. Segundo Marion e Ribeiro (2011, apud SOUZA; CRUZ; PORTUGAL, 2016, documento on-line), Cada fase de fabricação desenvolve-se normalmente em uma seção produ- tiva (departamento), na qual são incorridos custos diretos e custos indiretos, gerando produtos cujas características não permitem o controle unitário, caso em que o acompanhamento dos custos é feito por: lote, família, grupo ou linha de produção, cabendo assim a acumulação por processos. De acordo com Jorge (2016), o custeio por processo envolve várias contas de produtos em processo, para cada um dos processos ou departamentos. A partir do fluxo dos produtos, os custos vão sendo convertidos. O custeio por processo não distingue unidade individual e produto. Nesse método, os custos são acumulados conforme um período e divididos em quantias desenvolvidas referentes a esse período. Desse modo, é adquirida uma média extensa de custos unitários. O custeio por processo é muito usado em indústrias que transformam continuamente matérias-primas em produtos homogêneos (ou seja, uniformes), como tijolos, refrigerante ou papel Conforme Martins e Rocha (2015) alguns exemplos de indústrias que usam esse sistema incluem as indústrias, farma- cêutica, química e petroquímica, bebidas, cimento, celulose e papel, petróleo e seus derivados, açúcar e álcool, eletrônicos, geração de energia; e na prestação de serviços, empresas de transporte de passageiros (custo por milha-poltrona, por exemplo), serviços de saúde (radiografias, exames laboratoriais, vacinação, hemocentros; serviços de telefonia fixa e móvel. Custeio por ordem de produção Conforme Santos (2013), o custeio por ordem de produção se adapta às em- presas que possuem produções a partir de encomendas ou não repetitivas, nas quais os produtos são elaborados por meio de lotes de produção. O custeio por ordem de produção pode ser utilizado com o objetivo de desenvolver produtos para estoque, que posteriormente são vendidos no mercado geral. Custeio por processo I2 Porém, muitas vezes, um serviço está relacionado ao pedido de um cliente específi co, conforme Hansen e Mowen (2009). Martins e Rocha (2015) dão vários exemplos de produtos que se beneficiam desse tipo de sistema de custeio, entre eles produtos que serão estocados para venda posterior; produtos sob demanda com especificação definida pela própria empresa ou customizados pelos clientes. A principal informação fornecida pelos sistemas de acumulação de custos por ordem é o custo de cada ordem ou de cada encomenda. O custeio por ordem de produção é muito usado em ambientes de produção intermitente, em que se trabalha por encomenda ou em que as especificações dos produtos se alteram com mais frequência, como na manufatura: confecções, livros, máquinas sob encomenda, aeronaves, locomotivas, navios e no setor de prestação de serviços: consultoria, auditoria, contabilidade, advocacia, arquitetura etc. Algumas semelhanças existentes entre o custeio por processo e o custeio por ordem de produção, conforme Garrison, Noreen e Brewer (2013), são listadas abaixo: a) Os dois sistemas possuem as mesmas finalidades básicas, ou seja, atribuir custos indiretos de materiais e de mão de obra de produção a outras mercadorias e prover um critério que seja utilizado para calcular os custos unitários de produtos. b) Os dois sistemas utilizam as mesmas contas de produção básicas, como: custos indiretos de produção e de matérias-primas, produção que está sendo elaborada e produtos já acabados. c) A movimentação de custos nas contas de produção é fundamentalmente a mesma nos dois sistemas. A principal diferença entre os dois métodos, por processo e por ordem de produção, segundo Garrison, Noreen e Brewer (2013), é que o custeio por processo é utilizado quando uma organização realiza uma movimentação constante de unidades que não se diferenciam entre si. Nesse método, não tem significado relacionar custos indiretos de materiais e de mão de obra a um pedido de um cliente específico, já que o pedido de um cliente está entre tantos outros que são atendidos, em meio à movimentação contínua das unidades quase idênticas que são produzidas. O custeio por processo acumula custos conforme setores, e não por pedidos, atribuindo os mesmos custos de uma forma adequada a todas as unidades que circulam pelo setor, em um espaço de tempo específico. Esse método não faz uso de relatórios de custos, utilizando em seu lugar um cálculo relativo dos custos unitários por departamento. 3Custeio por processo I Quando se trata do custeio por ordem de produção, este é utilizado na ela- boração de várias ordens de produção diferentes, que possuem imposições de produção específicas. No custeio por ordem de produção são usados relatórios de custos. Nesse método, os custos unitários são calculados mediante ordem de produção no relatório de custos. A principal característica do custeio por ordem de produção é que o custo de um serviço é diferente do custo de outro serviço, devendo ser controlado de modo individual. Na Figura 1 é possível visualizar um esquema diferenciando os dois sistemas. Figura 1. Diferença entre os métodos de custeio por ordem de produção e por processo. Fonte: Adaptada de Santos (2013, p. 66). Custeio por processo I4 Em resumo, conforme a Figura 1, o sistema por ordem de produção acumula os custos por meio de ordens de produção (pedidos), enquanto o sistema por processos acumula os custos mediante processos produtivos (departamentos ou centros de custos). Movimentação dos custos indiretos, de materiais e de mão de obra De acordo com Martins (2010), o registro a partir do custeio por processo pode ser realizada por produto ou por departamento, para posteriormente o custo ser transferido aos produtos. Os custos são acumulados conforme conta contábil dos produtos em processo. Vale ressaltar que os custos são acumula- dos também conforme centros de custos, que são identifi cados mediante um procedimentoespecífi co. Com relação aos custos de materiais, os autores Garrison, Noreen e Brewer (2013) afirmam que, no custeio por processo, os materiais são retirados me- diante formulário de solicitação de materiais. Sabe-se que os materiais podem ser incorporados aos registros de todos os departamentos de processamento, ainda que seja inusitado que isso ocorra apenas no primeiro departamento de processamento. Os departamentos posteriores têm por encargo adicionar apenas custos de mão de obra e indiretos. Por exemplo, em uma empresa que atua no ramo de bebidas, alguns materiais são somados no departamento onde são elaborados, ou seja, desenvolvidos, no entanto, outros materiais são adicionados somente no momento da embalagem do produto. Na fase de elaboração, o registro que apresenta os materiais que foram utilizados no primeiro departamento de processamento poderá ser efetuado da seguinte forma: Registro (fictício) do fluxo de materiais no primeiro departamento: ■ Produção em processo (elaboração): R$ 126,00 ■ Matéria-prima: R$ 126,00 Registro (fictício) do fluxo de materiais no segundo departamento: ■ Produção em processo (embalagem): R$ 159,00 ■ Matéria-prima: R$ 159,00 No sistema por processo, os custos de mão de obra são relacionados aos departamentos; assim, tais custos não são vinculados a ordens de produção particulares. O lançamento que demonstra o registro dos custos de mão de 5Custeio por processo I obra utilizados no setor de desenvolvimento do produto poderá ser efetuado conforme segue: Registro (fictício) do fluxo do custo de mão de obra na elaboração do produto: ■ Produção em processo (elaboração): R$ 7.590,00 ■ Salários e remuneração a pagar: R$ 7.590,00 Com o objetivo de registrar a movimentação do custo de mão de obra para o setor de embalagem, deverá ser realizado um registro semelhante, conforme o exemplo apresentado. Quando se trata de custos indiretos no custeio por processo, pode-se dizer que são geralmente utilizadas taxas já definidas de custos indiretos. Os custos indiretos de fabricação são executados em conformidade com o valor da base de designação existente no departamento de elaboração. Assim, o registro dos custos indiretos relacionados ao produto, isto é, dos produtos utilizados no momento da sua elaboração, poderá ser efetuado conforme segue: Registro (fictício) do fluxo do custo indireto aplicado na elaboração do produto: ■ Produção em processo (elaboração): R$ 109,00 ■ Custos indiretos de fabricação: R$ 109,00 Os exemplos apresentados evidenciam a forma como ocorrem os registros relacionados aos fluxos dos custos indiretos, de materiais e de mão de obra considerando o método de custeio por processo. Cálculo das unidades equivalentes de produção Segundo Garrison, Noreen e Brewer (2013), as unidades equivalentes corres- pondem à quantidade de produto que está parcialmente fi nalizada. As quan- tidades estariam concluídas se todo o esforço do processo de produção fosse designado apenas a uma parcela da produção, e não para a fabricação total. Assim, por meio do método da média ponderada, as unidades equivalentes de produção relativas a um setor representam a quantidade de unidades enviadas para o setor seguinte adicionada às unidades equivalentes nos estoques fi nais dos produtos que estão em desenvolvimento no setor. Custeio por processo I6 O cálculo das unidades equivalentes de produção relacionadas a um período específico pode ser realizado de diferentes formas. Na Figura 2, você poderá verificar como são calculadas as unidades equivalentes de um departamento pelo método da média ponderada. Figura 2. Cálculo das unidades equivalentes pelo método da média ponderada. Fonte: Adaptada de Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 149). Unidades equivalentes de produção Unidades equivalentes nos estoques �nais de produção em desenvolvimento Unidades enviadas ao setor seguinte ou para os produtos acabados. Método da média ponderada deve ser realizado o cálculo individual para cada categoria de custo em cada setor de processamento A fim de obter o cálculo das unidades equivalentes de produção, é preciso somar a quantidade de unidades transferidas do setor às unidades equivalentes nos estoques finais do setor. As unidades equivalentes que são transferidas para outro setor não precisam ser calculadas, pois as mesmas estão totalmente finalizadas, ou seja, foram concluídas no setor e, por esse motivo, foram transferidas. Na Figura 3 é apresentado um exemplo de cálculo de unidades equivalentes, com base em Garrison, Noreen e Brewer (2013). Figura 3. Exemplo de cálculo das unidades equivalentes. Fonte: Adaptada de Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 149) Percentual concluído (%) Departamento de modelagem e fresagem Produção em andamento inicial 200 5.000 4.800 400 55 100* 40 30 100* 25 Unidades que entraram em produção durante maio Unidades concluídas durante maio e transferidas para o departamento seguinte Produção em andamento �nal *Sempre supomos que as unidades transferidas de um departamento estão 100% concluídas quanto ao processamento realizado naquela deparmento. Unidades Materiais Transformação 7Custeio por processo I Na Figura 3, 55% (materiais) representa o percentual de conclusão dos estoques iniciais de produção em elaboração em relação aos custos de materiais, enquanto 30% (transformação) corresponde à quantidade que foi finalizada em relação aos custos de transformação. Destaca-se que parte dos materiais, isto é, 55% dos custos de materiais, são essenciais para a conclusão das unidades no departamento; o mesmo ocorre com os custos de transformação, dos quais 30% são primordiais para finalizar as unidades que já estavam em processo. É sempre importante destacar que as unidades transferidas já estão com- pletamente finalizadas naquele departamento; do contrário, não poderiam ter sido transferidas. Destaca-se também que o cálculo de unidades equivalentes deve ser efetuado para duas categorias: o custo de materiais e o custo de trans- formação. Na Figura 4 é possível observar que no cálculo não são consideradas as unidades constantes nos estoques iniciais de produção em elaboração e que não estavam finalizadas. Figura 4. Exemplo de cálculo de unidades equivalentes para custos de transformação. Fonte: Adaptada de Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 150). Departamento de modelagem e fresagem Unidades transferidas para o departamento seguinte 4.800 4.800 Produção em andamento �nal: Materiais: 400 unidades x 40% concluídas 160 Unidades equivalentes de produção 4.960 4.900 (veja as computações na seção anterior) (b) Transformação: 400 unidades x 25% concluídas 100 Materiais Transformação Para melhor entendimento, analise o cálculo que segue. As unidades corres- pondentes à produção em andamento inicial consistiam em 200 unidades (na Figura 3); no entanto, como somente parte dessas unidades foram finalizadas (30% das 200 unidades), elas não foram consideradas na transferência para o departamento seguinte. Assim, no total, de 5.000 unidades que estavam em produção em maio (Figura 3), somente as que foram completamente trans- formadas foram transferidas, estas totalizando 4.800 (5.000 unidades — 200 unidades). As unidades equivalentes foram calculadas a partir do seguinte cálculo: ■ Materiais: 4.800 unidades (finalizadas e transferidas para o de- partamento seguinte); foi somada somente a parcela concluída dos materiais, que totaliza 160 unidades (400 unidades × 40%). Desse Custeio por processo I8 modo, as 4.800 unidades são somadas às 160 unidades concluídas, resultando em 4.960 unidades equivalentes de produção. Assim como nos materiais, as unidades equivalentes foram calculadas para as unidades transformadas; observe: ■ Transformação: 4.800 unidades (finalizadas e transferidas para o departamento seguinte); foi somada somente a parcela concluída das unidades transformadas, que totaliza 100 unidades (400 unidades × 25%). Dessemodo, as 4.800 unidades são somadas às 100 unidades concluídas, resultando em 4.900 unidades equivalentes de produção. Os custos de transformação, também denominados custos de conversão, referem-se aos custos incorridos para converter a matéria-prima em produto. Eles abrangem os custos com a mão de obra direta e os custos indiretos de fabricação. Para calcular esse custo, utiliza-se a seguinte fórmula: custo de transformação = mão de obra direta + custos indiretos de fabricação. 9Custeio por processo I GARRISON, R.; NOREEN, E. W.; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial. Porto Alegre: AMGH, 2013. HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Gestão de custos: contabilidade e controle. 3. ed. São Paulo: Cengage, 2009. JORGE, R. K. Gestão de custos: riscos e perdas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARTINS, E.; ROCHA, W. Métodos de custeio comparados: custos e margens analisados sob diferentes perspectivas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. SANTOS, L. F. B. Gestão de custos: ferramentas para a tomada de decisões. Curitiba: InterSaberes, 2013. SOUZA, P. V.; CRUZ, U. L., PORTUGAL, G. T. Acumulação de custos por processo: uma proposta em uma siderúrgica. Sistemas & Gestão, v. 11, n. 2, 2016. Disponível em: <http:// www.revistasg.uff.br/index.php/sg/article/view/1100/432>. Acesso em: 15 set. 2018. Leituras recomendadas CORTIANO, J. C. Processos básicos de contabilidade e custos: uma prática saudável para administradores. Curitiba: Intersaberes, 2014. CRUZ, J. A. W. Gestão de custos: perspectiva e funcionalidades. Curitiba: Intersaberes, 2012. FERREIRA, J. A. S. Contabilidade de custos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos fácil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. SILVA, E. J.; GARBRECHT, G. T. Custos empresariais: uma visão sistêmica do processo de gestão de uma empresa. Curitiba: Intersaberes, 2016. Custeio por processo I10
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