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AULA 13: O PENSAMENTO DE MILTON SANTOS: UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A GLOBALIZAÇÃO 
Comunicação e política 
COMUNICAÇÃO E POLÍTICA 
Aula 13: O pensamento de milton santos: um olhar 
crítico sobre a globalização 
AULA 13: O PENSAMENTO DE MILTON SANTOS: UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A GLOBALIZAÇÃO 
Comunicação e política 
Temas/objetivos desta aula 
 1. Analisar o processo de globalização a partir de uma 
perspectiva latino-americana; 
 
2. Compreender o pensamento do autor Milton Santos 
sobre o papel da Nação-estado 
na contemporaneidade. 
 
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O pensamento de Milton Santos – parte I 
• O geógrafo brasileiro Milton Santos 
(1926-2001) foi um intelectual 
importante, reconhecido em diversas 
partes do mundo. 
 
• A imagem ao lado é do autor Milton Santos. 
Fonte: TV Brasil - Conexão Roberto D‘Ávila - 
episódio "Uma homenagem a Milton Santos", 
CC BY 3.0 br. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?
curid=19302048, última consulta em 
09/01/2017. 
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O pensamento de Milton Santos – parte II 
• Nascido na Bahia, Milton Santos teve uma trajetória intelectual bastante relevante, publicando 
diversos livros efetuando uma articulação da geografia com as questões urbanas das cidades 
dos países em desenvolvimento (à época, durante a Guerra Fria, chamados de “países do 
Terceiro Mundo”); 
 
• Também atuou em cargos políticos e de consultoria para organismos internacionais, 
desempenhando, ainda, atividades na área jornalística; 
 
• Sempre se caracterizou como um pensador com fortes críticas ao capitalismo enquanto modelo 
de desenvolvimento, tendo sido preso e exilado durante o período da ditadura militar. 
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O pensamento de Milton Santos – parte III 
• No período em que esteve fora do Brasil (durante parte das décadas de 1960 e 1970), o 
geógrafo lecionou em diversas universidades relevantes de países europeus (França), norte-
americanos (Estados Unidos da América e Canadá) e latino-americanos (Venezuela), além de 
participar de importantes projetos acadêmicos no continente africano; 
 
• Ao retornar ao Brasil, lecionou em diferentes universidades, com destaque para a UFRJ e a USP; 
 
• Além do doutorado concluído na Universidade de Estrasburgo, recebeu diversos títulos de 
Doutor Honoris Causa de importantes universidades europeias, latino-americanas e brasileiras. 
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O pensamento de Milton Santos – parte IV 
• Foi o primeiro pensador latino-americano a receber o Prêmio Internacional de Geografia 
Vautrin Lud (1994), o mais importante da área; 
 
• Apesar de geógrafo, é considerado um livre pensador e um dos cientistas latino-americanos 
mais importantes do século XX; 
 
• Suas discussões sobre o conceito de espaço e suas características sociais são bastante 
estudadas até hoje; 
 
• Suas críticas ao processo de globalização também são alvo de discussão na atualidade. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte I 
• A crítica de Milton Santos ao processo de globalização serve como uma referência importante 
da crítica latino americana sobre este assunto; 
 
• A grande questão aqui é que a globalização não ocorre por igual em todos os países do mundo; 
 
• Deste modo, os países que foram colonizados sentem os efeitos da globalização de forma 
bastante diversa a dos países considerados desenvolvidos dentro do sistema capitalista. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte II 
• Faz-se necessário ressaltar este aspecto, pois isto explica a razão pela qual a visão latino-
americana não pode ser parecida com a visão europeia ou norte-americana sobre o processo 
de globalização. Deste modo, a crítica latino-americana, aqui representada pelo pensamento de 
Milton Santos, é mais contundente no que se refere à identificação do processo de globalização 
como uma extensão da exploração colonial a partir de um novo contexto pós-colonial, onde a 
economia se constitui como o fator decisivo; 
 
• Se Bauman aponta (como visto na aula 12) o problema causado pela globalização a partir da 
ausência de um centro diretivo claro, Santos critica de modo mais incisivo o fator ideológico 
contido nesta aparente ausência de controle. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte III 
• Milton Santos fundamenta sua crítica ao processo de globalização na noção de ideologia (em 
sentido marxista), ou seja, de um falseamento do real através das ideias da classe dominante 
materializadas através um discurso que indica uma visão de mundo. Esta visão de mundo, por 
ser única e procurar convencer as classes dominadas de sua veracidade, ocasionaria, segundo 
Marx, um falseamento do real das classes subalternas. Assim, a ideologia funciona como um 
discurso enganoso, que faz crer que o real se constitui de determinado modo, quando, de fato, 
ele se constitui de maneira diversa; 
 
• Portanto, a ideologia funciona como elemento de manutenção da exploração. No caso do 
sistema capitalista, sob o ponto de vista marxista, esta exploração é constante e constituinte do 
próprio sistema de produção de valor. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte IV 
• Portanto, Santos apresenta, logo no início de sua obra intitulada Por uma outra globalização: do 
pensamento único à consciência universal, três diferentes mundos. O autor fala sobre vivermos 
em um mundo confuso. Esta confusão se daria pelo fato do mundo em que vivemos ser 
construído pelo próprio ser humano: não apenas as edificações, mas toda a constituição do 
espaço social e toda a construção de um discurso sobre este mesmo espaço são humanos. 
Assim, segundo Santos, existe um mundo construído pelos setores dominantes que nos é 
apresentado de um certo modo, como algo positivo. Mais do que isto, é apresentado como se 
não existissem outras possibilidades. O processo de globalização é mostrado, geralmente, desta 
forma: um mundo de velocidade e conquistas tecnológicas, onde o dinheiro permite que as 
satisfações sejam exercidas pelos seres humanos e que vivamos em um processo de busca pela 
felicidade. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte V 
• A despeito disto, Milton Santos afirma que a confusão está justamente nas contradições entre 
este discurso e a existência real de muitos seres humanos e grupos sociais que não participam 
plenamente de seus efeitos positivos. Para o autor (SANTOS, 2001, p. 18), existem, de fato, três 
mundos: 
 
 1) “O mundo tal como nos fazem vê-lo” (ideologicamente construído); 
 
 2) “O mundo tal como ele é” (aquele no qual vivemos todos os dias); 
 
 3) “O mundo como ele pode ser” (aquele que precisa ser construído a partir de nossa vontade 
de mudar as coisas que não nos parecem satisfatórias). 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte VI 
• A cada um destes mundos, segundo Santos (2001, p. 18), existe um processo de globalização 
correspondente: 
 
 1) “O mundo tal como nos fazem vê-lo” => “A globalização como fábula”; 
 
 2) “O mundo tal como ele é” => “A globalização como perversidade”; 
 
 3) “O mundo como ele pode ser” => “Uma outra globalização”. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte VII 
• Toda a crítica apontada neste livro ao processo de globalização é uma tentativa de mostrar o 
quanto existe uma discrepância entre o discurso geralmente positivo construído pelos meios de 
comunicação, por alguns governos e mesmo por acadêmicos, de alguns países desenvolvidos, 
sobre o processo de globalização e a realidade concreta vivida por muitos, incluindo aí grande 
parte dos povos latino- americanos. Isto significa que o autor busca esclarecer sobre um lado da 
globalização que não costuma ser mostrado cotidianamente com tanta ênfase; 
 
• É importante lembrar que este texto foi escrito no final dos anos 1990. Ou seja, apesar de ser 
ainda muito atual, em diversos aspectos, algumas coisas mudaram um pouco desde aquele 
época. Após os atentados de 11 de setembro, nos EUA, e vários outros acontecimentos políticos 
(além da crise econômica internacional iniciada em 2008), o discurso sobre a globalização 
tornou-se um pouco mais moderado e menos positivo. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização - parte VIII 
• Ainda assim, países latino-americanos, por conta do seu histórico enquanto colônia de 
exploração dos países europeus, são afetados de modo diverso pelo processo de globalização; 
 
• Embora não seja um processo tão simples, um país como o Brasil tende realmente a receber 
um número de produtos industrializados importados muito maior do que a exportar estes 
mesmos produtos. Assim, de roupas a filmes, somos inundados por uma cultura que vem de 
determinados países (principalmente, hoje, dos Estados Unidos da América e de alguns países 
do ocidente europeu); 
 
• Apenas como exemplo: apesar da maior proximidade física, a música e o idioma dos países 
vizinhos ao Brasil são menos difundidos aqui do que a música norte-americana e o idioma 
deste país. 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização – parte IX 
• Milton Santos, portanto, ressalta que são construídos fábulas e mitos a respeito de elementos 
como a informação e o dinheiro que somente ajudam a manter o atual sistema ideológico. 
Nas palavras do próprio autor: 
 
“Entre os fatores constitutivos da globalização, em seu caráter perverso atual, encontram-se a 
forma como a informação é oferecida à humanidade e a emergências do dinheiro em estado puro 
como motor da vida econômica e social. São duas violências centrais, alicerces do sistema 
ideológico que justifica as ações hegemônicas e leva ao império das fabulações, a percepções 
fragmentadas e ao discurso único do mundo, base dos novos totalitarismos – isto é, dos 
globalitarismos – a que estamos assistindo” (SANTOS, 2001, p. 38). 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização – parte X 
• Dentre estas fábulas e mitos, estão: 
 
 1) “A ideia de aldeia global” => Embora seja possível se comunicar a distância como nunca 
antes, isto se faz por intermédio de objetos (o que é bem distinto de uma aldeia); 
 
 2) “Mito do espaço e do tempo contraídos” => Apesar dos avanços em termos de velocidade, 
esta mesma velocidade não está ao alcance de todos, mas limitada a apenas alguns. O autor 
demonstra, por meio de dados, que a concentração de renda é maior hoje do que há algumas 
décadas; 
 
 3) “Humanidade desterritorializada” => Embora as fronteiras entre nações possam hoje ter 
papéis distintos do passado, estas fronteiras ainda existem e a ação dos Estados nacionais continua 
importante no que se refere a assuntos ligados à cidadania. 
 
 
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A crítica latino-americana ao processo de globalização – parte XI 
• No livro citado, Santos (2001, p. 38-44) afirma que a informação veiculada pelos meios de 
comunicação é interesseira e interessada, por se tratarem, tais meios, de empresas capitalistas, 
ou seja, com interesses comerciais que se sobrepõem a outros interesses coletivos; 
 
• O autor afirma também que, no atual sistema ideológico, o dinheiro e a informação são como 
duas faces da mesma moeda. 
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A importância dos estados nacionais – parte I 
• Para o geógrafo Milton Santos, estamos passando de uma época da política dos Estados para 
uma época da política das empresas; 
 
• O autor afirma que isto é muito ruim, pois a política, em sua origem, era algo coletivo. A noção 
de “público” (já analisada na aula 5) está relacionada a algo compartilhado; 
 
• Porém, as empresas são instituições de caráter privado. Não possuem, portanto, em termos 
simbólicos, uma ligação com a coletividade. A natureza do negócio da empresa capitalista é o 
lucro, que está ligado diretamente à produção de valor por meio da exploração; 
 
• Portanto, o autor afirma que uma política das empresas seria uma não política (ou o oposto da 
política tal como concebida pelos gregos em sua origem). 
 
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A importância dos estados nacionais – parte II 
• Milton Santos considera que o início do capitalismo industrial, no final do século XVIII, possuía, 
como base filosófica, valores humanistas. A Revolução Francesa ocorreu no mesmo século. 
Assim, o pensamento iluminista tinha a solidariedade (fraternidade) como um valor. Liberdade, 
igualdade e fraternidade participaram do imaginário político das nações capitalistas do 
ocidente europeu ao longo do século XIX; 
 
• Porém, Santos percebe que, no final do século XX, os valores sistêmicos estão cada vez mais 
individualistas. O sistema globalizado já não responde exatamente a grandes questões 
filosóficas, mas ao pragmatismo da aliança entre a ciência e a técnica. Desta maneira, a 
materialidade produzida pela globalização invade os países em desenvolvimento sem 
necessariamente haver um pensamento reflexivo sobre como articular estas mudanças às 
relações sociais. 
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A importância dos estados nacionais – parte III 
• Neste sentido, o geógrafo defende que os Estados nacionais precisam ser fortes, pois existem 
como instâncias de legitimação da coletividade que habita em um determinado território. 
A política atual necessita desta instância de legitimação e de representação; 
 
• Nas palavras do autor: 
 
“A política, por definição, é sempre ampla e supõe uma visão de conjunto. Ela apenas se realiza 
quando existe a consideração de todos e de tudo. Quem não tem visão de conjunto não chega a ser 
político”. (SANTOS, 2001, p. 67) 
 
• E o mesmo continua: 
 
“Nas condições atuais, e de um modo geral, estamos assistindo a não política, isto é, à política feita 
pelas empresas, sobretudo as maiores”. (SANTOS,2001, p. 67-68) 
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Saiba mais 
• Para saber mais sobre a visão do pensador Milton Santos 
sobre o processo de globalização, leia o texto: 
 
 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do 
pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: 
Record, 2001, p. 37-78. 
 
 
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Referências 
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. 
 
_________________. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2005. 
 
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento 
único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. 
 
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VAMOS AOS PRÓXIMOS PASSOS? 
 
 
Questões importantes na relação entre 
política e mídias digitais; 
 
A possibilidade da reconstituição da 
esfera pública por meio do uso do 
ciberespaço. 
AVANCE PARA FINALIZAR 
A APRESENTAÇÃO.

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