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Manual de Procedimentos para Elaboração de Projectos de Cooperação 2009 Ma n u a l d e P ro ce d im e n to s p a ra E la b o ra çã o d e P ro je ct o s d e C o o p e ra çã o 20 09 Manual de Procedimentos para Elaboração de Projectos de Cooperação 3 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Índice Prefácio ........................................................................................................................................ 5 Acrónimos .................................................................................................................................... 7 Alguns Conceitos ........................................................................................................................ 9 Preâmbulo ................................................................................................................................. 12 Primeira Parte - Informação Geral sobre Concursos ............................................................... 13 1. Introdução ............................................................................................................................. 15 2. Considerações preliminares para candidaturas de sucesso ............................................... 16 2.1. Ciclo de aprovação do projecto ......................................................................................... 16 2.2. Preparação para a proposta de projecto ...................................................................... 17 2.3. Aspectos a considerar na elaboração de propostas ..................................................... 18 2.4. Aspectos a considerar para o sucesso das propostas ................................................... 26 Segunda Parte - Estratégias de cooperação dos principais doadores .................................... 29 3. Sintese dos programas e inicativas ..................................................................................... 30 4. Fund o Global para o Ambiente (GEF) ................................................................................. 30 4.1. Prioridades e linhas de intervenção .............................................................................. 33 4.2. Ciclo de Proposta GEF .................................................................................................... 34 4.3. Considerações para a elaboração de propostas GEF .................................................... 36 4.4. Requisitos específicos por tipo de projecto .................................................................. 38 4.5. Fundos específicos relativos a alterações climáticas .................................................... 40 5. Acordos Multilaterais de Ambiente ..................................................................................... 43 5.1. Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (CQNUAC) ..... 44 5.2. Convenção sobre Diversidade Biológica e Protocolo de Cartagena ........................... 50 5.3. Convenção sobre o Combate à Desertificação nos Países Afectados por Seca Grave e/ ou Desertificação, em Particular África ............................................................................... 53 5.4. Convenção de Viena para a Protecção da Camada de Ozono e Protocolo de Montreal sobre as Substâncias que Empobrecem a Camada de Ozono ............................ 56 5.5. Convenção sobre o Movimento Transfronteiriço de Resíduos Perigosos e sua Eliminação (Convenção de Basileia) ..................................................................................... 57 5.6. Convenção sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (Convenção de Estocolmo) ....... 58 5.7. Convenção sobre o Direito do Mar (Convenção de Montevideu) ............................... 59 6. PNUD e PNUA ........................................................................................................................ 61 6.1. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) ................................. 62 6.1.1 Estratégias e quadros de intervenção para o desenvolvimento sustentável ........ 64 6.1.2 Governação do sector da água ................................................................................ 67 4 5 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração 6.1.3. Conservação e uso sustentável da biodiversidade ................................................ 69 6.1.4. Gestão sustentável dos solos para combater a sua degradação e a desertificação ....71 6.1.5. Acesso a serviços energéticos sustentáveis ............................................................ 72 6.1.6. Políticas e planeamento nacional / sectorial para o controle das emissões de substâncias que reduzem a camada de ozono e poluentes orgânicos persistentes ..... 75 6.2. Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) .............................................. 75 6.2.1. Objectivos, prioridades e linhas de intervenção.................................................... 75 6.2.2. Outros Mecanismos de Apoio................................................................................. 77 7. União Europeia e Comissão Europeia ................................................................................. 79 7.1 Objectivos, prioridades e linhas de intervenção ........................................................... 79 7.2. Instrumentos de Financiamento .................................................................................... 80 7.2.1.Programa Temático para o Ambiente e a Gestão Sustentável dos Recursos Naturais incluindo a Energia ............................................................................................ 80 7.2.2. Iniciativa da União Europeia para a Água ............................................................. 83 7.2.3. Iniciativa da União Europeia para a Energia ......................................................... 86 7.2.4. Investigação e Desenvolvimento – 7º Programa Quadro de Apoio ..................... 88 8. Banco Mundial ...................................................................................................................... 92 8.1 Objectivos, prioridades e linhas de intervenção ........................................................... 92 8.2. Programas Promovidos pelo Banco Mundial ................................................................ 94 8.2.1. Fundo do Protocolo de Montreal ........................................................................... 94 8.2.2.Fundo para gestão de Poluentes Orgânicos Persistentes (POP) ............................ 96 8.2.3. Financiamento de Carbono (Carbon Finance - CFU) ............................................. 97 8.3. Outras Parcerias e Iniciativas do Banco Mundial .......................................................... 98 9. Banco Africano de Desenvolvimento ................................................................................ 100 9.1 Objectivos, prioridades e linhas de intervenção ......................................................... 100 9.2 Mecanismos de Financiamento Específicos ................................................................. 103 9.2.1 Facilidade Africana para a Água (African Water Facility - AWF) ........................ 103 9.2.2. Fundo para a floresta da Bacia do Congo (Congo Basin Forest Fund - CBFF) ... 105 10. Banco Asiático ................................................................................................................... 106 10.1 Objectivos, prioridades e linhas de intervenção ....................................................... 106 10.2. Mecanismos de Financiamento Especificos .............................................................. 106 10.2.1.Programa Pobreza e Ambiente ........................................................................... 107 10.2.2. Programa de Financiamento da Água (Water Financing Program) ................. 108 10.2.3. Parceria para o financiamento de energia limpa (Clean Energy Financing PartnershipFacility) ......................................................................................................... 109 10.2.4.Energias Renováveis, Eficiência Energética e Alterações Climáticas (Renewable Energy, Energy Efficiency, and Climate Change - REACH) ............................................ 110 10.2.5. Iniciativa Mercado de Carbono (Carbon Market Initiative) .............................. 111 Anexo - Quadro Resumo dos programas e iniciativas focadas .......................................... 113 Anexo à secção GEF ............................................................................................................... 117 Anexo à secção AMA ............................................................................................................. 135 Anexo à secção União Europeia e Comissão Europeia ......................................................... 141 Prefácio A crescente globalização dos problemas ambientais e a cada vez maior interdependência entre os diferentes actores da comunidade internacional, tem contribuído para que a cooperação para o desenvolvimento se transforme numa ferramenta fundamental para a resolução desses mesmos problemas. A procura e a mobilização de recursos para apoiarem a cooperação são temas recorrentes nas negociações internacionais sobre desenvolvimento. Um maior conhecimento das oportunidades de financiamento existentes e da melhor forma de lhes aceder potenciarão, estamos certos, um assegurado êxito na obtenção dos apoios necessários a uma mais eficiente gestão dos actuais desafios globais em matéria de ambiente e ordenamento do território. Assim, por ocasião do 3.º Encontro Lusófono Ambiente e Território, que junta em Lisboa, responsáveis das áreas do Ambiente, Ordenamento do Território e Cartografia e Cadastro, o Gabinete de Relações Internacionais (GRI) do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, publica este Manual de Procedimentos para a Elaboração de Projectos de Cooperação, que pretende ser um instrumento de trabalho útil e eficaz para os países de língua oficial Portuguesa. Alexandra Ferreira de Carvalho Directora do GRI do Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais 7 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Acrónimos AAE Avaliação Ambiental Estratégica ACoop Agências de Cooperação ACTF Áreas de Conservação Transfronteiriça AMA Acordos Multilaterais de Ambiente AND Autoridade Nacional Designada BAD Banco Asiático de Desenvolvimento BAfD Banco Africano de Desenvolvimento BM Banco Mundial BPG Bens Públicos Globais CDB Convenção sobre Diversidade Biológica CE Comissão Europeia CITES Convenção Internacional de Comércio de Espécies Ameaçadas CMS Convenção sobre Espécies Migratórias CNUCD Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação CPLP Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa CQNUAC Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas DCP Documento de concepção do projecto DFID Agência de Cooperação do Reino Unido ECOFAC Ecossistemas Florestais da África Central (Ecosystèmes forestiers d’Afrique centrale) EIA Estudo de Impacte Ambiental EOD Entidade Operacional Designada EPANB Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (National Biodiversity Strategy and Action Plan – no âmbito da CDB) ETA Estação de Tratamento de Águas ETAR Estação de Tratamento de Águas Residuais FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação FED Fundo Europeu de Desenvolvimento FIDA Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola FLEGT Plano de Acção da União Europeia para a aplicação da legislação, a governação e o comércio no sector florestal FNUAP Fundo das Nações Unidas de Apoio à População GEE Gases com Efeito de Estufa GEF Fundo Ambiental Global (Global Environment Facility) 8 9 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Alguns Conceitos Problemas ambientais à escala global – este tipo de problemas pode subdividir-se em três categorias: 1. Problemática dos componentes dos sistemas da Terra, cuja resolução requer acções coordenadas de todos os países e que inclui: • Alterações climáticas1; • Redução da camada de ozono; • Perda de certos elementos da biodiversidade como recursos genéticos de importância mundial ou espécies migratórias; • Acumulação de poluentes orgânicos persistentes (POP). 2. Degradação dos recursos naturais, que embora sejam de natureza regional ou nacional, requerem acções coordenadas a nível internacional: • Degradação de águas internacionais e ecossistemas marinhos; • Poluição atmosférica de longo alcance (transfronteiriça); • Degradação de terras e desertificação; • Degradação e perda de recursos florestais. 3. Regulação de comércio internacional/movimentos transfronteiriços, a qual tem sido reforçada por Acordos Multilaterais de Ambiente (AMA) dos quais se destacam: • Movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e sua eliminação – Convenção de Basileia; • Comércio internacional de produtos químicos e pesticidas perigosos – Convenção Procedimento de Prévia Informação e Consentimento (PIC); • Comercialização de espécies ameaçadas de extinção e de outras que possam vir a ser ameaçadas de extinção como consequência dessa comercialização – Convenção CITES; • Biossegurança (protecção no domínio da transferência, manipulação e utilização seguras de organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia moderna que possam ter efeitos adversos para a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica, tendo igualmente em conta os riscos para a saúde humana) – Protocolo de Cartagena; Neste âmbito é ainda de destacar o grave problema da Biopirataria (contrabando de espécies de flora e fauna, apropriação e monopolização de recursos genéticos desrespeitando as culturas e conhecimentos tradicionais ou sem proceder à partilha de benefícios) que ainda não tem um acordo multilateral específico. Serviços fornecidos pelos ecossistemas – os serviç os fornecidos pelos ecossistemas e dos quais depende o desenvolvimento incluem a purificação da água e do ar, a conservação do solo, o controlo de doenças e pragas, a redução da vulnerabilidade aos desastres naturais como 1 Cerca de 75% dos gases com efeito de estufa têm sido emitidos pelos países industrializados e ainda hoje as emissões per capita são 5 vezes mais baixas nos países em desenvolvimento que nos países industrializados (fonte: Banco Mundial). GEPE Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística GRI Gabinete de Relações Internacionais do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional de Portugal HIV/SIDA Vírus da Imunodeficiência Humana / Sindroma da Imunodeficiência Adquirida IPAD Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo NCSA Auto-avaliação de Capacidades Institucionais (National Capacity Self- Assessment) NEPAD Nova Parceria para o Desenvolvimento de África NORAD Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norwegian Agency for Development Cooperation) OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ODS Substâncias que Deterioram a Camada de Ozono OMS Organização Mundial de Saúde ONG Organização Não Governamental OSC Organização da Sociedade Civil PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PALOP+TL Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa+Timor Leste PANA Plano de Acção Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, no âmbito do Protocolo de Quioto PD Países em Desenvolvimento PEI Iniciativa Pobreza Ambiente (Poverty Environment Initiative) PIB Produto Interno Bruto PIC Procedimento de Prévia Informação e Consentimento PNUA Programa das Nações Unidas para o Ambiente PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento POP PoluenteOrgânico Persistente RCE Reduções Certificadas de Emissões RVE Reduções Verificadas de Emissões SADC Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral SAICM Abordagem Estratégica à Gestão Internacional de Químicos SARDC Centro de Investigação e Documentação da África Austral (Southern African Research and Documentation Centre) UE União Europeia UICN União Internacional para a Conservação da Natureza WWF Fundo Mundial para a Natureza (World Wildlife Fund for Nature) ZEE Zona Económica Exclusiva 10 11 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Gases com efeito de estufa (GEE) e alterações climáticas – Os GEE são substâncias gasosas que absorvem parte da radiação infra-vermelha, emitida principalmente pela superfície terrestre, e dificultam a sua libertação para o espaço. Isto impede que ocorra libertação de calor para o espaço e a Terra mantém-se a uma temperatura mais elevada, como numa estufa. O efeito de estufa é um fenómeno natural e indispensável para a vida no planeta, tal como a conhecemos hoje. Se não existisse efeito de estufa a temperatura média da Terra seria 33ºC mais baixa. No entanto, se o efeito de estufa aumenta, aumenta também a temperatura média na superfície do planeta e o nível do mar, o que pode levar ao desequilíbrio do clima (de forma diferente em diferentes pontos da Terra), torna mais fortes e frequentes as condições extremas – secas e cheias, pode originar a fusão de glaciares3,–, ou seja, produzem-se as alterações climáticas. Os principais gases responsáveis pelo efeito de estufa são: o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), perfluorcarbonetos (PFC), os hidrofluorcarbonetos (HFC), SF6 (hexafluoreto de enxofre) e o ozono (troposférico). Uma vez que nem todos estes gases contribuem da mesma forma para o efeito de estufa, estabeleceu-se uma medida padrão para avaliar as emissões de cada um e do conjunto destes gases, o CO2 equivalente. O CO2 equivalente é calculado multiplicando-se a quantidade de emissões de um determinado gás pelo seu efeito no clima – por exemplo: o metano contribui 21 vezes mais do que o CO2 para o efeito estufa, pelo que 1 tonelada de metano corresponde a 21 toneladas de CO2 equivalente. Adaptação às alterações climáticas – inclui todas as acções que contribuem para que a população e os ecossistemas reduzam a sua vulnerabilidade aos impactes das alterações climáticas. Não existe um modo único e universal de adaptação, as medidas têm que ser ajustadas ao contexto específico. Mitigação das alterações climáticas – visa reduzir os gases de efeito de estufa ou aumentar a capacidade da natureza para as absorver, por exemplo através do aumento da superfície florestal, ou da implementação de medidas para evitar emissões de gases, como metano e outros. Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS) – uma ENDS é um sistema nacional, elaborado no e para o país, que contém um conjunto de processos participativos (envolvendo toda a sociedade) sectoriais ou regionais, em melhoria continua, com o objectivo de responder aos desafios do desenvolvimento sustentável. Esta estratégia permite definir metas, articular compromissos globais com acções locais e contribuir para a coerência, equilíbrio e sustentabilidade da agenda política de desenvolvimento. 3 Nos últimos 50 anos o nível médio do mar subiu 10 a 20 cm, desde o fim dos anos 60 a cobertura de neve mundial regrediu 10% e a espessura do Ártico cerca de 40%. cheias, secas e desabamento de terras. Ilustrando com dois exemplos: i) uma floresta numa encosta purifica o ar, conserva o solo e reduz a vulnerabilidade a desabamentos de terras (que tem maior probabilidade de acontecer se a encosta não tiver vegetação) e contribui também para a regulação do clima; ii) um rio tem a capacidade de se auto-regenerar, desde que o grau de contaminação não seja demasiado forte. Assim, os serviços fornecidos pelos ecossistemas são de grande utilidade para uma parte substancial da população da CPLP, que depende da biodiversidade para obter alimentos, combustível, abrigo, medicamentos e rendimentos. Valor dos bens ambientais – a crescente tomada de consciência da inter-dependência entre o desenvolvimento económico, social e ambiental bem como dos problemas ambientais à escala global tem conduzido a reformas na atribuição de valores aos bens ambientais. As estimativas incidem sobre a quantificação do valor económico total dos recursos naturais, chegando mesmo os países industrializados a quantificar uma componente de valor de não uso2. Existem diferentes métodos para a avaliação económica de danos ambientais, nomeadamente: • estimativa da diferença entre os valores económicos avaliados num contexto inicial (uma floresta, por exemplo, permite extrair determinado valor de madeira ou de mel, ao mesmo tempo que permite à população não ter que comprar certos medicamentos ou carvão) e os valores económicos no contexto final (a desflorestação, que irá impedir o uso da floresta); • no caso de recursos transaccionados no mercado, o valor económico do dano é estimado directamente pela alteração dos preços de mercado (se a erosão dos solos provocar diminuição da produção de determinado produto o seu preço aumentará caso se mantenha o nível de procura); • no caso de recursos não transaccionados no mercado pode medir-se o custo da necessidade de ter que recorrer a alternativas, bem como o custo das mudanças de hábitos da população (a poluição de um rio pode implicar problemas no solo e nas águas subterrâneas e dificultar ou impedir o seu uso – cultivo, irrigação, pesca; a destruição de um mangal pode originar a intrusão salina danificando rios e solos e obrigar à deslocalização da população). Alguns exemplos de possíveis quantificações: i) quantificação da degradação de terras e desertificação – o valor mínimo pode obter-se pelo rácio do PIB gerado pela agricultura sobre a quantidade de terra utilizável (PIBagricultura/Superfície Agrícola Útil) a multiplicar por quantidade de terra destruída; ii) a sobre-pesca pode ser estimada pelo rácio do PIB gerado pela pesca sobre a biomassa (PIBpesca/Biomassa) a multiplicar por redução do stock; iii) no que diz respeito à desflorestação, para além do valor acima referido, pode-se calcular o potencial de sumidouro de carbono por m2, isto é o valor de kton E-CO2 (quilotonelada Equivalente de CO2) que deixa de poder ser transaccionável no mercado internacional – o valor de E-CO2 é definido internacionalmente. 2 Muitas empresas de produção de bens de base (produção de electricidade, abastecimento de água potável, etc) cobram pela disponibilidade para produzir. 12 13 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Primeira Parte Informação Geral sobre Concursos Preâmbulo O Gabinete de Relações Internacionais (GRI) do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR), tem a responsabilidade de fomentar e coordenar as acções de cooperação de Portugal nos domínios das atribuições e competências do MAOTDR, em articulação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros. De modo a reforçar a cooperação em matéria de ambiente de Portugal com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste (TL), o GRI iniciou um processo de identificação das prioridades ambientais e dos instrumentos de intervenção disponíveis que permitirão o planeamento e a implementação de acções de cooperação. Portugal, à semelhança de outros países industrializados, contribui para os instrumentos de cooperação multilateral. Os principais são o GEF (Global Environmental Facility), que é implementado pelo PNUD, o PNUA e o Banco Mundial –, os programas e fundos das Nações Unidas e os mecanismos de apoio dos acordos multilaterais de ambiente. Para além disso, Portugal contribui e é membro de bancos de desenvolvimento regionalcomo o Banco Africano de Desenvolvimento. Todas estas entidades disponibilizam fundos e outros apoios no âmbito de diversas iniciativas, programas e projectos. Dadas as relações históricas e culturais com os PALOP e TL, Portugal procura tirar o máximo partido das contribuições acima referidas e potenciar tanto quanto possível o eixo bi-multi em benefício destes países. Para tal é necessário que os países conheçam as oportunidades e as aproveitem, articulando esforços com Portugal. Por outro lado, enquanto membro da União Europeia (UE), Portugal tem influência na definição da política de cooperação da Comissão Europeia (CE). De modo a estar numa posição negocial mais forte e com maior influência na tomada de decisão que possa beneficiar este grupo de países, é importante que os PALOP e TL se envolvam mais nos projectos e coordenem esforços. O presente Manual procura dar resposta à necessidade expressa por quadros ligados ao ambiente dos PALOP e TL de maior conhecimento das oportunidades de financiamento existentes e de apoio ao acesso a essas mesmas oportunidades. Para além disso, o Manual indica algumas práticas para maximizar os resultados das propostas apresentadas. 15 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração 1. Introdução É crescente a tomada de consciência relativamente aos problemas ambientais à escala global e de que a sua resolução e a sustentabilidade ambiental à escala local contribuem para o bem- estar de toda a humanidade. O interesse que desperta o fenómeno das alterações climáticas é exemplo disso – no caso dos projectos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) os países industrializados beneficiam mais directamente através de licenças de emissão. É também cada vez mais evidente que a pobreza e a degradação das condições ambientais são fenómenos intimamente ligados e que cada um deles pode ser a causa ou a consequência do outro. As tendências da cooperação internacional vão pois no sentido da resolução à escala local de problemas globais, o que passa pela inclusão de preocupações ambientais nas estratégias nacionais de redução da pobreza, pela implementação de estratégias de desenvolvimento sustentável (que articulam aspectos ambientais, sociais e económicos) e pela persecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). A Cooperação Portuguesa em matéria de ambiente está em linha com estes princípios. Em virtude do exposto acima, a maioria dos programas e iniciativas existentes dizem respeito às três convenções do Rio – alterações climáticas (CQNUAC), diversidade biológica (CDB), combate à desertificação (CNUCD) –, bem como à gestão de águas internacionais (rios e mar) e gestão de substâncias químicas com efeitos nefastos no ambiente. A temática das florestas está também na ordem do dia, dado estar na fronteira entre os temas tratados pela CDB e pela CNUCD e ter forte implicação nos temas da CQNUAC. O presente Manual descreve as modalidades de financiamento do GEF, os mecanismos de apoio dos AMA, os programas e iniciativas do PNUD e PNUA, os programas e iniciativas da União Europeia (UE), os programas do Banco Mundial, do Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD) e do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD). É ainda apresentada uma breve descrição do MDL. O Manual apresenta de forma genérica os procedimentos para a elaboração de propostas de projectos, bem como o ciclo de aprovação. É de notar que cada concurso tem as suas especificidades a nível de preparação da proposta, de preenchimento de formulários e do processo de aprovação. Em certos casos, como nos projectos GEF, os doadores disponibilizam financiamentos para estudos preliminares necessários à preparação da proposta. Estes casos serão abordados nas secções do Manual correspondentes a cada um dos financiadores. Os concursos, iniciativas e oportunidades estão em constante mudança, pelo que o Manual terá uma versão na internet que irá ser regularmente actualizada. A versão electrónica permite também estabelecer ligações para concursos abertos. Para além disso, poderão ser elaborados módulos adicionais relativos a temas específicos, com a explicação de determinados formulários considerados mais relevantes, ou outros que venham a ser solicitados ou considerados relevantes no decorrer da utilização do Manual pelos seus destinatários. É conveniente que as autoridades nacionais de ambiente envidem esforços para integrar o ambiente nos documentos de estratégia de cooperação. Isto porque cada vez mais os financiadores seguem conceitos de Desenvolvimento Sustentável e exigem avaliações ambientais estratégicas a programas e projectos. Cabe às autoridades de ambiente o trabalho junto aos ministérios da economia, finanças e/ou do planeamento que são em geral quem negoceia as estratégias com os doadores. O facto do ambiente vir focado nestes documentos 16 17 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração plurianuais de cooperação como prioridade ou com ênfase especial, faz com que o país possa mais facilmente tornar-se palco de projectos piloto e receba mais fundos destinados ao ambiente (o que os doadores chamam earmarked). 2. Considerações preliminares para candidaturas de sucesso Cada vez mais a filosofia dos financiadores multilaterais é a de cooperação efectiva. Isto é, espera-se que os países beneficiários contribuam para o objectivo geral do programa global. Dito por outras palavras, os países devem aportar os seus conhecimentos e experiência relativos ao contexto da sua realidade e demonstrar o esforço que já empreenderam e que estão dispostos a empreender para a obtenção de resultados. No caso de projectos de ambiente espera-se que o país beneficiário demonstre ter a percepção de que os resultados alcançados com os projectos propostos beneficiam não só a população do país, mas toda a humanidade. É assim muito importante que nas propostas fiquem referidos de forma clara os objectivos de desenvolvimento nacionais, as estratégias nas quais o programa ou projecto para o qual se solicita financiamento se enquadram e as capacidades que o país já tem ou que necessita desenvolver para atingir os objectivos. É também muito importante conhecer as politicas de cooperação dos programas ou financiamentos a que se concorre. Isto não só para escolher o financiamento mais adequado como para poder explicitar na proposta de que forma o projecto proposto, para além de alcançar os seus próprios objectivos, é adequado ao contexto do Programa/financiamento a que se concorre e contribui para a concretização dos objectivos deste. Convém ter presente que a forma como os planos e projectos são planeados e executados segue uma ordem designada por ciclo do projecto: programação →identificação → formulação → decisão de financiamento → execução → avaliação. Isto significa que, quando a proposta chega ao financiador, existe já uma estratégia na qual a proposta tem que se enquadrar de modo a ser considerada. Assim, antes de começar a elaborar uma proposta, é necessário consultar os documentos mais recentes relativos às políticas e objectivos dos financiamentos/financiadores a quem se está a dirigir. 2.1. Ciclo de aprovação do projecto Para muitos dos doadores descritos no presente Manual, o ciclo de aprovação do projecto leva tempo e envolve diferentes gabinetes a nível nacional, regional e por vezes mundial. Numa primeira fase, faz-se uma comunicação ao doador mediante a agência de implementação no país e através de um documento de concepção do projecto (DCP)4. Os DCP são revistos por um painel técnico que emite um parecer ao secretariado ou painel regional de coordenação da iniciativa ou do fundo. Os DCP são analisados para avaliar o seu enquadramento em políticas e estratégias regionais do programa do financiador. Caso sejam aprovados nesta 4 No caso do GEF chama-se Project Identification Form (PIF), no caso de outrosdoadores pode chamar-se concept note, ou concept proposal. etapa, os documentos são então enviados para o nível de decisão mundial, que tem de reunir e aceitar o projecto proposto. Chegados a esta fase o fundo ou iniciativa solicita o documento de proposta completo. No caso de projectos de maior dimensão, como por exemplo alguns dos submetidos ao GEF, o próprio fundo co-financia os estudos necessários à elaboração da proposta. Uma vez aprovada a proposta inicia-se a fase de assinatura de contratos e a organização da gestão do projecto. Este processo, do DCP à aprovação, pode levar mais de um ano. No caso de concursos, o processo é mais directo. A proposta pode ser enviada directamente, sem passar por processos preliminares (como são os casos de concursos da UE como o programa de Ambiente e Recursos Naturais incluindo Energia). Convém por isso que as autoridades estejam atentas à abertura dos concursos. Referem-se no Manual as páginas de internet nas quais os concursos são anunciados. 2.2. Preparação para a proposta de projecto Para projectos de pequena ou média dimensão os processos acima descritos podem ser simplificados e alguns dos passos suprimidos. Muitos doadores, embora possam receber documentos de concepção do projecto em qualquer altura, realizam as avaliações apenas algumas vezes por ano (em geral uma a três vezes por ano). Quer para os fundos do GEF, quer para os mecanismos de apoio dos secretariados das convenções, os interessados devem trabalhar juntamente com as representações nacionais do PNUD ou PNUA e, em alguns casos, do Banco Mundial. Ainda que alguns fundos permitam que qualquer entidade proponha o documento de concepção do projecto, este deve vir acompanhado de nota de interesse por parte das autoridades nacionais e por parte do ponto focal do fundo. As representações dos organismos das Nações Unidas são quem, em geral, coordena o esforço de obtenção dos documentos para cumprimento dos requisitos administrativos. Por vezes poderá ser vantajoso estabelecer parcerias para aumentar a capacidade de implementação dos projectos propostos. Pode começar-se por desenvolver a ideia do projecto e seguidamente procurar instituições/redes /grupos elegíveis que possam estar interessados na colaboração. Muitas vezes acontece existir já uma relação sólida com outras entidades e desenvolve-se a ideia e o conceito do projecto em conjunto. De qualquer forma, é importante que o grupo – chamado consorcio - reúna todas as competências necessárias para a implementação do projecto e que cada um dos parceiros tenha uma percepção profunda do mesmo e esteja altamente motivado e empenhado na realização do projecto. Em geral não existe um limite máximo para o número de parceiros. No entanto é importante considerar que a complexidade da gestão do projecto aumenta com o número de parceiros e que é importante haver uma distribuição de tarefas e responsabilidades clara. É imperioso que haja confiança e um espírito cooperativo no seio do grupo, o que também é mais fácil em grupos mais pequenos, Para a selecção do líder da parceria, os elementos mais importantes são a experiência e a capacidade de gestão de projectos. Como se verá adiante, a governação do projecto é um factor importante na avaliação de propostas. 18 19 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração 2.3. Aspectos a considerar na elaboração de propostas De modo geral, o primeiro aspecto a ter em conta é que os avaliadores são o público alvo da proposta. Os avaliadores podem não ser especialistas no domínio da proposta que analisam, pelo que apenas terão acesso às informações fornecidas na proposta. Por outro lado, os avaliadores têm em geral que analisar um grande número de propostas, com grandes limitações de tempo. Assim não terão tempo para ler cada proposta mais do que uma vez, pelo que uma leitura única terá que ser suficiente para compreender correctamente o que está escrito e têm que ficar convencidos de que o que é proposto é o melhor a fazer. O dossier de candidatura deve por isso ser bem estruturado, claro, conciso e completo. É também importante ter em conta que os fundos disponíveis são limitados. Por isso, só as melhores propostas são escolhidas. O facto de não ser seleccionada não quer dizer que a proposta seja fraca, apenas que não é tão forte. Por isso, não se pode permitir que a proposta tenha qualquer ponto fraco, todas as partes da proposta devem ser de excelente qualidade. Os aspectos preliminares aqui referidos são igualmente válidos para os DCP. Como se viu acima, a primeira meta a alcançar para o sucesso da proposta é o interesse que o documento de concepção desperta. Em apenas 4 ou 6 páginas é necessário convencer os avaliadores a ter vontade de ler a proposta com detalhe. Um titulo de projecto que seja conciso e suficientemente explícito quanto à acção proposta também ajuda. Uma proposta de projecto deve conter pelo menos os seguintes elementos: • Definição do objectivo geral e dos objectivos específicos; • O cenário de partida – estado da situação, enquadramento jurídico e institucional, etc; • Resultados esperados; • Plano de Implementação – actividades e calendário; • Definição dos recursos a accionar — Recursos humanos — Recursos financeiros – os custos elegíveis; • Monitorização dos avanços e avaliação dos resultados – indicadores. Uma abordagem que auxilia a elaboração de uma proposta é a Abordagem do Quadro Lógico, que é um processo analítico que envolve a análise dos intervenientes e do problema, a definição dos objectivos, a selecção das actividades, ajuda a identificar possíveis riscos na execução do projecto e conduz à elaboração da matriz do quadro lógico que é exigida por vários financiadores, A abordagem contém as seguintes etapas: i) Análise da situação; ii) Análise dos intervenientes; iii) Análise dos problemas; iv) Análise dos objectivos; v) Análise de alternativas; vi) Planificação das actividades; vii) Planificação dos recursos. A análise da situação e análise dos intervenientes é a primeira etapa da elaboração de qualquer proposta. É necessário balizar a proposta, isto é, ter uma noção clara de quais são os domínios ou temas gerais de preocupação em que o projecto se irá concentrar. É conveniente conhecer o contexto histórico dessas questões e, caso já tenham existido projectos comparáveis ao proposto, conhecer que lições podem ser deles retiradas com utilidade para o projecto proposto. É importante saber se existem entidades no país que trabalhem já nas questões do projecto, o que fazem e de que forma o projecto proposto se enquadra ou é complementar a essas actividades. Por outro lado há que definir de modo global qual é a finalidade do projecto e em que tema específico do problema, ou em que área geográfica, se vai centrar. Há que definir também a duração prevista do Projecto, o nível de financiamento necessário e a equipa necessária à implementação do projecto. A análise dos intervenientes (ou stakeholders) por seu lado consiste na análise pormenorizada das pessoas, dos grupos ou das organizações que podem influenciar ou ser influenciados pelo problema abordado, pelo projecto proposto ou pela eventual solução do problema. Interessa nesta etapa ficar com a noção clara do interesse e das expectativas destes grupos e organizações e debater com eles o seu papel, interesses, capacidade de participação e expectativas em relação ao projecto e como se relacionam entre si. Ao analisar os intervenientes, é útil distinguir entre os “grupos-alvo” e os “beneficiários finais”: Os “grupos- alvo” são os grupos ou as entidades que serão afectados directa e positivamente pelo projecto – podem também ser designados por “beneficiários directos”; Os “beneficiários finais” são aqueles que beneficiarão do projecto a longo prazo e ao nível da sociedade, ou seja que beneficiarão da eventual solução ou da contribuição paraa solução do problema. Objectivos Os objectivos gerais devem ser claros. Os objectivos específicos devem ser claros e mensuráveis, por exemplo o aumento em x% do acesso da população à água. É fundamental mencionar o número de população beneficiária do projecto. O cenário de partida (background ou baseline) O cenário de partida deve descrever o problema a abordar, as suas causas, e a sua evolução. O cenário de partida é a referência em relação à qual os impactes do programa serão medidos. As análise de situação e análise de beneficiários fornecerão os elementos para a descrição do cenário de partida. É importante referir a importância que o governo atribui ao problema que se pretende ultrapassar com o projecto, bem como as políticas públicas em curso e a legislação aplicável. O enquadramento do projecto inclui a descrição da sua relação com os Planos de Redução da Pobreza, os Planos de Acção para atingir os ODM, as Estratégias e Planos sectoriais existentes, etc. Como referido acima, é importante fornecer um sumário dos esforços realizados na área temática que o projecto aborda. É também crucial demonstrar conhecimentos de como as actividades propostas vão resolver o problema e os factores de inovação ou de complementaridade que as acções têm com os esforços em curso. Uma ferramenta que facilita a análise de problemas e a definição de objectivos e conduz a uma apresentação sucinta e clara de ideias, é a construção de árvore de problemas e árvore de objectivos. A “árvore de problemas” é um diagrama que contém a identificação dos principais problemas duma determinada área e a definição das relações de causa-efeito. O exercício deve ser realizado numa reunião de discussão, em que se dispõe (utilizando cartões) numa parede ou num quadro os problemas segundo uma hierarquia de “causa–efeito”, podendo ser acrescentados novos problemas à medida que a árvore se vai desenvolvendo. O problema principal que se tenta abordar com o projecto deve ficar no tronco principal da 20 21 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração árvore. Os problemas que originam este problema principal devem ser as raízes, enquanto os problemas que o problema principal origina devem ser os ramos da árvore. A forma mais fácil de desenvolver a árvore de problemas é começar com um problema “inicial” e ir acrescentando progressivamente os outros problemas. O problema escolhido como inicial até pode vir a mudar mais tarde, pelo que o problema “inicial” deve ser um problema a que os participantes atribuam grande importância. A árvore de problemas é construída relacionando sucessivamente os restantes problemas com o problema inicial, utilizando a ligação causa-efeito: se o problema é causa do problema “inicial”, o cartão é colocado por baixo; se o problema é efeito do problema “inicial”, o cartão é colocado por cima; se não é causa nem efeito, o cartão é colocado ao mesmo nível. Exemplo muito simplificado de Árvore de Problemas. De notar que na base poderiam ser colocados os problemas que causam a escassez de legislação. Ao transformar-se os problemas inscritos na árvore de problemas em condições positivas, obtém-se a árvore de objectivos. A árvore de objectivos também pode ser vista como um diagrama de “fins” e de “meios”. O topo da árvore indica o que se pretende alcançar com o projecto – a finalidade do projecto - e os níveis mais baixos da árvore contêm informação relativa aos meios para atingir os fins. A vantagem deste processo é que os potenciais objectivos do projecto ficam relacionados com a resolução de um conjunto de problemas prioritários bem definido. Árvore de objectivos relativa à árvore de problemas acima. Produtos e Resultados (outputs e outcomes) Os produtos e os resultados esperados com a realização do projecto são dos aspectos de maior peso na análise de propostas e decisões de financiamento. Os produtos dizem respeito às realizações físicas, por exemplo, a instalação de 50 painéis solares nas escolas da região. Os resultados exprimem o que é conseguido com as realizações, por exemplo, pelo facto de se terem instalado 10km de canalização (produto), o índice da população com acesso a saneamento de qualidade aumentou 60% (resultado). A relação entre produtos e resultados tem que ser explicada o mais claramente possível. Isto nem sempre é fácil, pois pode não existir um nexo de causalidade claro, ou podem existir outros factores que influenciem o resultado atingido no final do projecto. É por isso muito importante, como acima se referiu, evidenciar a articulação e a complementaridade do projecto proposto relativamente a outras actividades em curso. Outro aspecto importante a clarificar é a evolução das capacidades locais ou nacionais que permanecem quando o projecto termina. Por exemplo, no final do projecto as cinco comunidades que dele beneficiaram irão estar em condições de praticar técnicas de agro- silvicultura sustentável e de rentabilizar a conservação da floresta. Plano de implementação O plano de implementação tem que conter as principais actividades e a sua relação com os resultados esperados. No corpo da proposta as actividades devem ser descritas de forma genérica e agrupadas em categorias. É importante ter em conta que o orçamento irá atribuir valores aos grupos de actividades e que poderá haver necessidade de descrever as actividades com maior detalhe nas notas justificativas dos orçamentos. Esta informação varia consoante as especificações dos formulários. A População é consultada para a tomada de decisão ambiental Análise de impacte ambiental e Fundo do Ambiente regulamentados Código do Ambiente revisto e aprovado Existência de legislação avulsa em sectores específicos Sector do ambiente bem regulamentado e bom nível de implementação da legislação As cidades estão limpas e os resíduos das fábricas são encaminhados para destinos adequados A População não participa na tomada de decisão Falta regulamentação relativa a impactes ambientais. Falta estabelecer o fundo do ambiente Falta rever e aprovar o Código do ambiente Inexistencia de legislação avulsa em sectores específicos A Regulamentação do sector do ambiente é incompleta e não é aplicada Verifica-se elevado grau de poluição na cidade e junto às fábricas 22 23 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Um aspecto muito valorizado na análise das propostas é o grau de envolvimento dos parceiros de desenvolvimento nacionais ou locais que aportarão os seus conhecimentos e experiência ao projecto. Sempre que possível (e pertinente) é importante envolver as comunidades locais nos projectos e organizá-los de forma participativa. Isto aumenta as possibilidades do projecto ser sustentável – isto é, que certas actividades prossigam após o fecho do projecto/ programa – e que os seus impactes positivos perdurem. Um aspecto que poderá determinar a exclusão da proposta é o formato da equipa e o modelo de coordenação e de governação do projecto/programa – ou seja como se articulam e relacionam entre si os diferentes colaboradores e intervenientes. O modelo a apresentar deve ser bem estruturado e robusto (é importante ter argumentos sólidos que fundamentem a capacidade da equipa e do modelo de governação escolhidos em detrimento de outros). Convém descrever a forma como o programa se articulará com outros parceiros de desenvolvimento locais e outras iniciativas de doadores internacionais. Caso existam, é muito importante evidenciar oportunidades de co-financiamento. Pode ser relevante verificar se o projecto se adequa a parcerias público–privado e incluir essa possibilidade na proposta. Este tipo de parcerias tem dado muito bons resultados e é valorizado pelos analistas das propostas. Um aspecto obrigatório é a descrição dos potenciais riscos e obstáculos que poderão impedir o cumprimento dos objectivos propostos.Como foi referido acima será muito importante realçar as medidas que serão implementadas para assegurar a sustentabilidade dos resultados. Monitorização e Avaliação A monitorização e a avaliação são considerados elementos fundamentais para o sucesso de uma intervenção. É necessário definir indicadores quantitativos e qualitativos para todos os resultados e para os possíveis impactes dos projectos ou programas. É recomendável que os indicadores incluam metas de desenvolvimento de capacidades institucionais dos diversos intervenientes. A escolha de indicadores deve ter em conta diversos factores, desde logo que a obtenção de informação envolve custos e que um indicador bem escolhido pode valer mais do que vários indicadores menos precisos. Há que procurar que os indicadores sejam mensuráveis (podem ser quantitativos ou qualitativos), sejam específicos, pertinentes e exactos (isto é, permitam medir com objectividade e inequivocamente se o projecto está a ser bem sucedido e possam ir sendo comparados ao longo do tempo), sejam realizáveis financeiramente e relativamente aos meios e tempo disponíveis, sejam sensíveis de modo a captar alterações e sejam circunscritos e definidos no tempo - os indicadores devem poder dar informações rapidamente e ser definidos cada trimestre, semestre ou ano (indicadores de progresso) e devem existir também indicadores definidos para o final do período de implementação. A proposta deve incluir também uma metodologia para medir os indicadores. Nomeadamente, a forma como as informações devem ser recolhidas (por exemplo, realização de inquéritos; análise de registos administrativos, estatísticas nacionais, estudos e publicações nacionais), onde podem ser recolhidas as informações, com que frequência e por quem devem ser recolhidas as informações. Será importante referir também o formato em que a informação deve ser disponibilizada. É importante planificar correctamente as fontes e meios de verificação e ter noção dos custos e esforços que o seu acesso envolve, bem como dos factores temporais. Por exemplo, as estatísticas oficiais são em geral facilmente acessíveis e gratuitas, mas normalmente reportam-se a períodos passados de um ano ou mais em relação à situação real. Por outro lado, um inquérito orientado fornece informações precisas e actualizadas, mas a sua realização pode ser muito dispendiosa. Sempre que possível e adequado, é preferível utilizar sistemas e fontes existentes do que criar novos. Caso se pretenda que um determinado projecto tenha um programa de monitorização e avaliação com fichas de indicadores, metodologias de seguimento e equipas próprias, este programa deve constituir uma componente do projecto. Quadro Lógico Como se referiu acima o Quadro Lógico de Intervenção é a compilação dos dados obtidos com a Abordagem do Quadro Lógico. Desta forma o quadro lógico articula e sistematiza numa matriz os pontos acima referidos. O quadro lógico define os objectivos, os resultados com os quais se alcançam os objectivos, as actividades necessárias para atingir os resultados, os riscos e oportunidades inerentes a cada actividade, bem como as formas de acompanhamento sistemático e de posterior avaliação do projecto, através dos indicadores. A Comissão Europeia adoptou esta ferramenta como imprescindível na elaboração de propostas de Cooperação para o Desenvolvimento e de Educação para o Desenvolvimento. O quadro lógico assenta em dois princípios básicos: 1) as relações de causa-efeito entre as diferentes partes de um problema (lógica vertical) – as actividades, os resultados, os propósitos (objectivos específicos) e o fim último (objectivo geral) podem ser vistos como um conjunto de objectivos hierarquizados do projecto no sentido em que o sucesso de cada nível (linha da matriz) contribui para alcançar o estipulado na linha superior. 2) o princípio da correspondência (lógica horizontal) – vincula cada nível de objectivos à medição do resultado atingido (indicadores e meios de verificação) e às condições que podem afectar a sua execução e posterior desempenho (hipóteses). 24 25 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Lógica da intervenção indicadores objectivamente verificáveis fontes e meios de verificação Hipóteses objectivos gLobais Qual é o objectivo global (geral) para o qual o projecto contribuirá? Quais os indicadores-chave associados ao objectivo geral? Quais são as fontes de informação para esses indicadores? objectivos específicos Quais os objectivos específicos que o projecto previsto deve concretizar? Que indicadores qualitativos e quantitativos demonstram que, e em que medida, foram concretizados os objectivos específicos do projecto? Que fontes de informação existem e podem ser agrupadas? Quais os métodos aplicados para obter essas informações? Que factores e condições fora do controlo directo do projecto serão necessários para atingir estes objectivos? Quais são os riscos a considerar? resuLtados esperados Quais são os resultados concretos específicos previstos pelos objectivos específicos? Quais são os efeitos e os benefícios previstos do projecto? Quais serão as melhorias e as mudanças resultantes do projecto? Que indicadores permitem determinar que o projecto atingiu, e em que medida, os resultados e os efeitos previstos? Quais são as fontes de informação para estes indicadores? Que factores e condições deverão estar reunidos para atingir os resultados esperados dentro dos prazos previstos? actividades a executar Quais são as actividades- chave a realizar, e em que ordem, para obter os resultados previstos? Meios: Quais os meios necessários para executar estas actividades, por exemplo, pessoal, material, formação, estudos, fornecimentos, instalações de funcionamento, etc? Quais são as fontes de informação sobre o desenrolar do projecto? Que condições prévias são necessárias para iniciar o projecto? Que condições fora do controlo directo do projecto devem estar reunidas para a execução das actividades previstas? Em geral o quadro lógico ajuda os avaliadores das propostas a entender melhor a natureza dos problemas que o projecto procura resolver, a relacionar todas as vertentes do projecto e entender as formas preconizadas para a monitorização sistemática do projecto - com vista à melhoria contínua de desempenho e medição dos resultados parciais - e como pode o projecto ser avaliado posteriormente de forma objectiva e transparente. O ou os objectivos gerais situam o projecto no contexto em que se insere, esclarecem sobre a mudança na realidade para a qual o projecto procurará contribuir e têm em conta a existência de outros actores, alguns dos quais a trabalhar para objectivos semelhantes. Os ODM podem servir de orientação para definir os objectivos gerais de projectos de cooperação para o desenvolvimento e as metas estabelecidas nos ODM podem servir de guia em termos de indicadores. Os objectivos específicos correspondem ao compromisso do projecto, isto é, correspondem à mudança efectiva que o projecto pretende produzir na realidade. Assim os objectivos específicos devem realçar os impactes nos beneficiários que o projecto se propõe alcançar. Para além do que foi acima referido quanto a produtos e resultados, em projectos maiores pode ser mais fácil considerar os resultados do projecto como componentes (ou subprojectos) que concorrem para alcançar um objectivo específico. Neste caso deve ser muito clara a demonstração da interacção entre as diversas componentes do projecto. As actividades podem ser agrupadas nas componentes. Cada componente pode ser executada de forma autónoma para produzir um determinado resultado. A definição das actividades é um processo complexo que procura o equilíbrio entre: os recursos disponíveis e possíveis de angariar e os resultados e objectivos a alcançar. Há que terem consideração aspectos de eficiência e eficácia no sentido da rentabilização dos custos. Orçamento Existem diferentes formatos de apresentação de orçamentos. A regra geral é que devem ser claros e apresentar custos razoáveis e respeitar as despesas elegíveis. Ocorre frequentemente o montante da subvenção solicitada nas propostas ser muito próximo dos montantes máximos que o financiamento pode conceder. Isto pode criar aos avaliadores a impressão que este valor foi tomado como ponto de partida e que a proposta foi sendo preenchida com actividades só para justificar esse montante. Na construção do orçamento ajuda partir das actividades necessárias para realizar com êxito cada acção e depois traduzi-las em custos. Agrupar despesas por classes pode facilitar a apresentação. Por exemplo, despesas de pessoal (honorários, ajudas de custo, impostos, segurança social), despesas necessárias ao funcionamento logístico (por exemplo, viagens, despesas com meios de locomoção, funcionamento de escritório e armazém e telecomunicações), despesas inerentes à implementação das actividades, contratação de serviços externos, entre outros. Ocorre frequentemente a inclusão nas propostas de fundos para compra de equipamentos como computadores, aparelhos de ar condicionado, ou veículos. Estes são custos que os avaliadores encaram com atenção redobrada, pelo que se deve incluir na proposta apenas se for estritamente necessário e apenas o que for estritamente necessário. É muito importante mostrar quais são as origens do financiamento e é sobretudo muito importante maximizar a parte da contribuição própria e/ou do co-financiamento. Muitos financiadores disponibilizam apenas uma determinada percentagem do montante global do projecto, o restante deve ser assegurado pelo requerente ou este deve mostrar que tem outra entidade parceira que financiará uma parte. Desta forma há um incentivo para a aprovação por parte do avaliador, que verifica que houve um esforço do requerente para levar adiante o projecto. As contribuições próprias podem ser tão diversas como parte ou a totalidade dos salários das pessoas afectas ao projecto, a disponibilização de terrenos ou de materiais, etc que muitas vezes não são contabilizados pelos requerentes. O co-financiamento pode advir de um parceiro do projecto, de outra instituição, de cooperação bilateral, etc. Em alguns casos – mas não em todos, haverá que verificar caso a caso – poderão existir o que se chama receitas directas da acção. Estas consistem no rendimento gerado pelo projecto, por exemplo: vendas de livros ou publicações, preço de entrada numa conferência realizada pelo projecto, e podem servir para que o financiamento requerido para determinada actividade diminua. 26 27 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração 2.4. Aspectos a considerar para o sucesso das propostas Um dos problemas principais das propostas que não obtêm sucesso está relacionado com aspectos administrativos – a não entrega de alguns documentos, o não cumprimento dos prazos, as propostas redigidas à mão ou ininteligíveis, etc. A maioria das vezes as propostas são analisadas quanto à Relevância, Sustentabilidade, Metodologia e Análise económica e financeira. Apresentam-se de seguida listas com aspectos a ter em atenção relativamente a cada um dos referidos elementos de análise para facilitar o sucesso das propostas. De notar que as listas não são exaustivas. Lista de aspectos reLacionados com a reLevância Os objectivos são claros e os objectivos específicos são mensuráveis? A proposta demonstra o impacte do projecto sobre os ODM? A proposta demonstra que o projecto está orientado para a redução da pobreza? A proposta demonstra uma análise adequada dos problemas/necessidades, que os objectivos do projecto tentam resolver/colmatar? As actividades propostas são claras e exequíveis (tendo em vista o contexto, os recursos e a duração do projecto)? Qual o peso do financiamento para actividades de manutenção e funcionamento de sistemas ou estruturas já em utilização?5 O número de beneficiários está bem identificado? A proposta demonstra que os beneficiários do projecto pretendem que o projecto se realize, pretendem participar na sua implementação e estão dispostos a contribuir (com financiamento, trabalho ou géneros)? Os aspectos de formação e capacitação foram considerados e estão descritos na proposta? 5 Não é demais referir que algumas propostas não têm sucesso por falta de actividades de formação e capacitação ou que promovam a participação. Os analistas interpretam muitas vezes estes casos como resultantes de problemas no levantamento das necessidades. No que diz respeito à metodologia, muitas vezes o insucesso advém de problemas no quadro- lógico. Lista de aspectos reLacionados com a metodoLogia O plano de acção é coerente, ou seja, as actividades são eficazes para atingir os resultados e os resultados são suficientes para atingir os objectivos? Os indicadores são apropriados e objectivamente verificáveis? Foi elaborada uma análise de risco? Os potenciais riscos e obstáculos estão bem identificados? A proposta descreve acções planeadas para mitigar os riscos? 5 As propostas de financiamento servem para complementar actividades, ou para realizar actividades que não poderiam implementar- se sem o financiamento externo. Por isso os doadores não apreciam propostas que se destinem a custear pura e simplesmente salários e ajudas de custo, ou arrendamento de escritórios, ou manutenção de viaturas para o funcionamento das estruturas do Estado, ou das ONG. Se não for possível responder positivamente a todas as perguntas dos quadros abaixo, nomeadamente a nível de capacidade e experiência financeira, pode ser conveniente encontrar parceiros internacionais – por exemplo entidades internacionais sem fins lucrativos – com a capacidade requerida. Lista de aspectos reLacionados com a capacidade A proposta demonstra experiência adequada na região? A equipa proposta para implementar o projecto tem experiência na gestão de projectos semelhantes ou da mesma dimensão? A entidade proposta para implementar o projecto tem capacidade financeira para gerir um projecto com o orçamento apresentado? Tem experiência na implementação administrativo-financeira de projectos da mesma dimensão? O modelo de coordenação e governação proposto demonstra que todos os parceiros têm capacidade (técnica, administrativa, financeira) adequada para as actividades que se propõem desempenhar? Lista de aspectos reLacionados com a anáLise económica e financeira A justificação da necessidade de financiamento está claramente expressa? A contribuição dos beneficiários está incluída na proposta? Existe retorno financeiro dos investimentos do projecto, ou seja os investimentos irão gerar rendimentos mais tarde? Em caso afirmativo, está explicitado na proposta? Está claramente explicitado na proposta o custo para os beneficiários e a viabilidade dos pagamentos por serviços prestados pelos bens ambientais? É de notar que muitas vezes os problemas da análise económica e financeira resultam de uma fraca participação das partes interessadas (stakeholders) no planeamento do projecto. Um aspecto também muito relevante é assegurar que o número de beneficiários proposto é o mesmo em todos os documentos do projecto. A sustentabilidade das actividades iniciadas com um projecto ou o efeito duradouro dos benefícios de um projecto são dos factores mais preponderantes para a aceitação de uma proposta. Lista de aspectos reLacionados com a sustentabiLidade A proposta descreve claramente as capacidades que as estruturas existentes (físicas, de governação, etc) terão que ter no final do projecto para continuar a produzir resultados depois de o projecto terminar? Estão previstas no projecto actividades de reforço dessas capacidades? São identificados de forma clara os impactes – benefícios duradouros, mudanças profundas– que o projecto trará, nomeadamente aos grupos mais vulneráveis? A proposta indica a sustentabilidade ambiental? 29 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração segunda Parte Estratégias de cooperação dos principais doadores 30 31 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração 3. Síntese dos programas e iniciativas Na primeira parte do Manual foram referidos aspectos gerais e boas praticas relativas ao preenchimento de propostas. Nesta segunda parte serão referidos os principais mecanismos de financiamento, enquadrados na filosofia de cada financiador para facilitar a escolha do mecanismo financeiro e para reforçar a proposta através da sua adequação à política do financiador. O Anexo do Manual apresenta um quadro resumo dos programas e iniciativas referidos para os diferentes doadores, divididos pelas grandes áreas temáticas: estratégia de desenvolvimento sustentável e iniciativas para o cumprimento de ODM; alterações climáticas; biodiversidade; combate à desertificação e químicos. Para uma noção rápida dos financiamentos disponíves aconselha-se a consulta ao referido quadro, depois no corpo do manual pode encontrar-se mais detalhe sobre como aceder ao financiamento. Inciciativas relativas a alterações climáticas têm tido interesse acrescido nos últimos anos, com a maior parte dos doadores multi-laterais a iniciarem programas visando facilitar o acesso por parte dos países em desenvolvimento aos mecanismos de desenvolvimento limpo. Os projectos de água (conservação, gestão e distribuição a população pobre) são também muito frequentes. A maior parte dos doadores atribui prioridade também aos temas da biodiversidade e à gestão de produtos químicos (incluindo a conservação da qualidade do ar). É de notar que cada vez mais os doadores privilegiam o apoio às iniciativas e propostas que partam das autoridades nacionais (em vez de solicitar autorização para a implementação de projectos pré-definidos como era antes usual) e requerem o co-financiamento efectivo do governo, em especial em países com recursos financeiros. 4. Fundo Global para o Ambiente (GEF) O Fundo Global para o Ambiente é um mecanismo financeiro de apoio à implementação de diversos AMA e um instrumento que visa a integração de preocupações ambientais globais nos processos de desenvolvimento. O GEF financia projectos nas seguintes áreas temáticas: biodiversidade, alterações climáticas, combate à desertificação, protecção da camada de ozono, poluentes orgânicos persistentes e águas internacionais (este último que se aplica a bacias hidrográficas e ao mar, pode ter actividades nacionais mas incluídas em projectos internacionais). Os fundos do GEF são utilizados, tanto quanto possível, na área da boa governação ambiental internacional. Os países doadores financiam o GEF, cada quatro anos, através de um processo denominado “GEF Replenishment.” Em Agosto de 2006, 32 países comprometeram-se a disponibilizar mais de 3 mil milhões USD, para o financiamento das actividades do GEF de 2006 a 2010. Além disso, vinte países (entre os quais Portugal) comprometeram-se a contribuir voluntariamente com um suplemento adicional. O GEF leva a cabo as suas actividades através de Agências de Implementação: • PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento • PNUA – Programa das Nações Unidas para o Ambiente • Banco Mundial Para além disso, existem sete agências executoras que contribuem para a gestão e implementação dos projectos GEF: • Banco Africano de Desenvolvimento • Banco Asiático de Desenvolvimento • Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento • Banco Inter-Americano para o Desenvolvimento • FIDA – Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola • FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura • ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial Verifica-se igualmente o envolvimento de diversas Organizações Não-Governamentais (ONG) em projectos GEF, sendo um dos objectivos o maior envolvimento do sector privado, nomeadamente através de parcerias e co-financiamentos. São várias as entidades envolvidas na conceptualização e implementação dos projectos financiados pelo GEF. O Anexo 1 descreve sucintamente as entidades envolvidas no ciclo de projecto GEF. O GEF presta apoio financeiro de diferentes ordens de grandeza e com propósitos específicos. Os formulários a utilizar para concorrer aos diversos financiamentos podem ser encontrados em http://www.thegef.org/interior_right.aspx?id=166746. Os apoios incluem: • Apoio à preparação de projectos (Project Preparation Grant, PPG) – o apoio à elaboração de propostas e a estudos preliminares necessários à elaboração de projectos e programas, que são de três tipos: a) Apoio financeiro a ser utilizado nas fases iniciais de identificação do projecto ou programa cobrindo as despesas no país; (b) Apoio financeiro no âmbito de projectos ou programas que já estão claramente identificados para apoiar a conclusão da preparação do programa ou projecto para submissão ao Conselho e posterior avaliação; (c) Apoio financeiro limitado a propostas de projectos que tenham sido aprovados pelo Conselho, mas requerem trabalho técnico de concepção e engenharia mais aprofundado para aumentar a viabilidade. • Actividades facilitadoras (Enabling Activities) – apoio à preparação de planos, estratégias ou programas destinados a cumprir compromissos assumidos no âmbito dos AMA, por exemplo: apoios até 200 mil USD para Auto-avaliação de Capacidades Institucionais (NCSA) apoios até 350 mil USD para preparação e planos de acção nacionais e primeiras comunicações de alterações climáticas ou biodiversidade; apoio até 500 mil USD no âmbito dos POP; apoios até 1 milhão de USD para biosegurança ou para adaptação especial às alterações climáticas. • Apoio a iniciativas de âmbito mais localizado (Small Grants) – (região de um país, província, distrito) mas com relevância para a biodiversidade mundial – Este tipo de projectos destina-se a apoiar pequenas iniciativas de âmbito comunitário que contribuam para conservar a biodiversidade a nível global, atenuar os efeitos das 6 Ou entrando no site www.thegef.org e clicando sobre Projects e depois Project Types, Templates and Guidelines. 32 33 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração alterações climáticas, proteger as águas internacionais, reduzir o impacte dos POP e prevenir a degradação dos solos, ao mesmo tempo que procuram melhorar a qualidade de vida das populações. Trata-se essencialmente de projectos complementares aos de média e grande dimensão, que se destinam a possibilitar a participação de ONG, comunidades locais e outras organizações da sociedade civil. O montante máximo para cada projecto é 150 mil USD (aprovado pelo PNUD), mas em média o programa tem desembolsado 20 mil USD por projecto. Os fundos vão directamente para ONG ou outras Organizações Comunitárias de Base; • Projectos de Média Escala (Medium Size Projects) – Financia projectos até 1 milhão USD no âmbito de uma prioridade estratégica, programa operacional ou resposta de curto prazo; • Projectos de Larga Escala (Full Size Projects) – Financia projectos acima de 1 milhão USD que, para além dos requisitos dos medium size projects, obedeçam a requisitos de elegibilidade dos AMA. 4.1. Prioridades e linhas de intervenção As prioridades de intervenção do GEF são: 7 área focaL7 prioridades Biodiversidade · Apoio a actividades de preservação e gestão integrada dos diversos ecossistemas: áridos e semi-áridos; marinhos, costeiros e de água doce; florestais; de montanha. · Sustentabilidade dos Sistemas de Áreas Protegidas ao nível nacional. · Sensibilização para a importância da biodiversidade e da sua integração na tomada de decisão. · Conservação e uso sustentável da diversidade biológica com importância para a agricultura.· Capacitação para a implementação do Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica. Alterações Climáticas · Adaptação. · Redução dos custos a longo prazo das tecnologias energéticas de baixa emissão de gases com efeito de estufa. · Promoção da utilização de energias renováveis e remoção de barreiras através da redução dos custos de implementação. · Remoção de barreiras à eficiência energética e conservação de energia. · Promoção da mobilidade sustentável (transportes ambientalmente sustentáveis). · Facilitação de actividades, comunicações nacionais e outras obrigações no âmbito da CQNUAC. Desertificação e Degradação dos Solos · Gestão sustentável de terras que visa o combate à desertificação e à degradação de terras, através das seguintes áreas temáticas: · Agricultura · Pastorícia · Florestas · Gestão integrada e múltipla da água e terras. Águas Internacionais · Acções de recuperação e tratamento de cursos de água seriamente ameaçados, nomeadamente com impacte transnacional. · Sistemas transnacionais que: · Ainda não estejam muito degradados; · Sejam vocacionados para preocupações ambientais relacionadas com outras áreas focais do GEF; · Necessitem de medidas preventivas para avançarem para um processo de desenvolvimento sustentável. · Projectos-piloto ou de demonstração baseados na aprendizagem Sul-Sul que podem envolver os seguintes tópicos: · Actividades em terra que degradam as águas marinhas; · Poluentes globais; · Poluentes relacionados com navios; · Apoio técnico e capacitação regional / global. Camada de Ozono · Apoio aos objectivos do Protocolo de Montreal sobre as substâncias que empobrecem a Camada de Ozono à Convenção de Viena para a Protecção da Camada de Ozono. Poluentes Orgânicos Persistentes (POP) · Apoio aos objectivos da Convenção sobre Poluentes Orgânicos Persistentes: - Reforço de capacidades; - Intervenções de terreno; e - Investigação por objectivos. 7 Os nomes das áreas correspondem a uma tradução directa dos nomes utilizados pelo GEF. Depreende-se dos programas que estes se destinam a preservar a biodiversidade e a qualidade das águas internacionais e a combater a degradação de terras, a redução da camada de ozono ou a existência de POP. 34 35 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração Desde Março de 2003, os financiamentos do GEF inserem-se em programas operacionais. Existem 15 programas operacionais, dos quais 11 reflectem as áreas prioritárias de intervenção. O Anexo 2 contém a lista dos Programas Operacionais em vigor. 4.2. Ciclo de Proposta GEF Como foi referido acima, a informação detalhada sobre os tipos de documentos a utilizar e os prazos apropriados para submeter propostas pode ser encontrada no seguinte endereço: http://thegef.org/interior_right.aspx?id=16674 A preparação da proposta deve ser feita em articulação com os pontos focais de cada Programa Operacional no país – estes serão uma das agências de implementação do GEF (em geral PNUD, PNUA ou Banco Mundial), que se encarregarão de enviar a documentação ao GEF. Como referido acima existem diferentes tipos de apoio. No entanto, o primeiro documento a apresentar é sempre um formulário de identificação de projecto (PIF – Project Identification Form). O documento com a proposta só pode ser enviado após o PIF ter sido aprovado. No caso das actividades facilitadoras (enabling activities) existem documentos de proposta específicos de acordo com o âmbito de cada actividade: âmbito formuLário de proposta específico Biodiversidade Projecto de biodiversidade Projecto de biosegurança Alterações Climáticas Redacção da comunicação inicial sobre alterações climáticas Preparação do Plano de Acção Nacional de Adaptação (PANA) Poluentes Orgânicos Persistentes Elaboração do Programa de Implementação Nacional (PIN) Multissectorial Preparação do NCSA – Auto-avaliação de Capacidades Institucionais8 Pedido de apoio à preparação de projectos 8 Para Projectos de Larga Escala (Full Size Projects) o ciclo de proposta é complexo e tem uma duração de 22 meses em média. Para Projectos de Média Escala (Medium Size Projects) o prazo é um pouco menor dado que o secretariado tem poder de decisão. As propostas de projectos de média dimensão podem ser submetidos em qualquer altura. As figuras abaixo representam o ciclo de projecto. Inicialmente o PIF é submetido ao Secretariado do GEF e, caso tenha condições, segue para comentários do Painel de Aconselhamento Técnico e Científico. É possível submeter ao Secretariado o pedido de apoio à preparação de projectos (PPG) ao mesmo tempo que se submete o PIF. Isto irá poupar tempo, uma vez que o Secretariado (liderado pelo Director Executivo – DE) tem poder para aprovar o PPG. Caso o PIF tenha que ser rectificado, existe um formulário próprio para o efeito. 8 Os resultados do NCSA são utilizados como importantes pontos de partida em futuras actividades de desenvolvimento de capacidades. Se o Secretariado der o seu aval, o PIF e o PPG (caso haja) são integrados no programa de trabalhos do Conselho. O Conselho reúne duas vezes por ano e em certos anos poderá reunir-se outras vezes, para decidir sobre projectos. Entretanto, caso o PPG tenha sido aceite, iniciam-se os estudos para a elaboração da proposta. Estes estudos envolvem muitas vezes a contratação de consultores nacionais e internacionais, visitas ao terreno, workshops, etc. Ciclo de projecto de larga escala. Fonte: http://www.gefcountrysupport.org/docs/505.ppt A avaliação por parte do Conselho é estratégica, ou seja os critérios são a equidade geográfica e temática da intervenção, a coerência com outros projectos GEF na região e a contribuição do projecto proposto para os objectivos do GEF para a região. As informações relativas a este aspecto, que determinam as probabilidades da proposta final ser aceite, devem ser recolhidas pelos interessados junto às agências de implementação ou agências executoras no país. É com base nas informações do Conselho que o DE irá determinar os montantes de financiamento. As agências de implementação ou as agências executoras, enviam então ao DE toda a documentação da proposta – a mesma que terão submetido às representações regionais ou à sede da sua própria organização9 – solicitando a aprovação da proposta. O Secretariado tem então 10 dias para rever os documentos da proposta e o DE determina se a proposta cumpre as condições para ser aprovada. Se a proposta preenche todos os requisitos, o Secretariado envia a proposta para o Conselho. Este tem quatro semanas para se pronunciar relativamente a qualquer aspecto - de procedimento, de política ou alguma 9 Em geral, as agências de implementação ou as agências executoras procedem a uma revisão interna da proposta e enviam-na às suas delegações regionais ou à sede, pois são co-responsaveis pela proposta e são elas que irão gerir os financiamentos. Desenvolvimento do PIF Opção de submeter PPG Avaliação Final Implementação monitorização e avaliação do projecto Endosso pelo DE DE considera PIF Inclusão do PIF no programa de trabalhos do Conselho Preparação da proposta de projecto 4 semanas de revisão do documento do projecto pelo Conselho DE aprova PIF (ePPG) Os impactes do projecto continuam para além do financiamento 36 37 Manual de ProcediMentos Para elaboração de Projectos de cooPeração incoerência da proposta. A aprovação final compete ao DE, que terá em linha de conta as recomendações do Conselho e envidará esforços para corrigir os elementos necessários. Dificilmente uma proposta reprovará quando já chegou até aqui. O portal da internet do GEF10 vai mostrando os PIF submetidos, os pareceres do Painel de Aconselhamento Técnico e Científico, as preocupações do Conselho, o estado da proposta – por exemplo, que aguarda rectificação para ser finalmente aprovada, e finalmente os documentos finais da proposta. No caso de projectos de média dimensão o processo
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