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DIREITO AGRÁRIO Professora: Ms. Tamiris Melo Pereira AULA 01 1- DENOMINAÇÃO - não é pacifica entre os estudiosos do Direito Agrário a denominação desse ramo do direito, podendo ser: Direito Rural, Direito da Reforma Agrária, Direito da Agricultura, Direito Agrícola e outros. - a denominação mais consagrada é de Direito Agrário, pois reflete o aspecto dinâmico do seu conteúdo (relações jurídicas entre o homem e a terra, visando a produção de alimentos) - há rivalidade entre as denominações Direito Agrário (predominante) e Rural: ✓ Explica-se que a preferência pela denominação “Direito Agrário” está no substantivo ager, agri, de que decorre o agrarius, significando campo. O Direito Rural, proveniente do substantivo, rus, ruris, de que decorreu o ruralis, também quer significar campo. Mas esses termos não têm, a rigor, o mesmo sentido. O rural é concebido como o terreno que se situa distante da urbs, pouco importando a sua destinação. Já o agrário é considerado o campo suscetível de produção ou destinado à exploração. O rural tem a conotação estática, enquanto o agrário tem caráter dinâmico. ✓ os dois vocábulos – rural e agrário – vêm sendo empregados indistintamente na ainda dispersa legislação pertinente a esse ramo da ciência jurídica. Fala-se, por exemplo, em “Reforma Agrária”, “Contratos Agrários’, mas também se insere na vasta legislação, notadamente no Estatuto da Terra, as alocuções “Crédito Rural”, “Seguro Rural”, “Imposto Territorial Rural”, “Penhor Rural”, “Módulo Rural” etc. Aliás, é imperioso lembrar que os primeiros projetos elaborados em nosso país, com vistas à implantação dessa nova rama do Direito, preferiram o vocábulo “Rural” ao “Agrário”. Não padece dúvida, porém, de que a preferência, hoje, é pela denominação “Direito Agrário”, até porque reflete o sentido dinâmico enfeixado no princípio da função social da propriedade imóvel. ✓ a autonomia legislativa do Direito Agrário, que se deu por uma emenda constitucional (EC no 10, de 10.11.1964), adotou essa terminologia, o que se repetiu na atual Carta Magna (art. 22, inc. I). 2- CONCEITO - São vários os conceitos de Direito Agrário, e eles variam de autor para autor: ✓ Direito Agrário é o conjunto sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade (BORGES, P. Torminn, ob. cit., p. 17). ✓ Direito Agrário é o conjunto de princípios e de normas, de Direito Público e de Direito Privado, que visa a disciplinar as relações emergentes da atividade rural, com base na função social da terra (SODERO, F. Pereira, ob. cit., p. 32). OBS: não é a simples relação do homem com a terra que conforma o Direito em foco, ou seja, o Direito Agrário. A simples relação homem-terra, qualquer que seja ela, a posse, a parceria, o usufruto, o arrendamento, o fiduciário, o real, o pessoal, entre outros, são fatores de relacionamento estático, enquanto o Direito Agrário exige algo mais do que isso. E, no Brasil, afigura-se-nos o conceito concernente ao desempenho da função social da propriedade, ou seja, o exercício da produção racional e econômica, visando chegar à empresa rural pelo que, com esse fator dinâmico, acrescido aquele estático, podemos afirmar ser a terra o objeto do Direito Agrário. ✓ “Direito Rural ou Agrário é o conjunto de normas reguladoras dos direitos e obrigações concernentes às pessoas e aos bens rurais.” (Joaquim Luís Osório) ✓ “Direito Agrário é o conjunto de normas que asseguram a vida e o desenvolvimento econômico da agricultura e das pessoas que a ela se dedicam profissionalmente.” (Malta Cardozo) ✓ “Direito Agrário é o conjunto de princípios e normas que, visando a imprimir função social à terra, regulam relações afeitas à sua pertença e uso, e disciplinam a prática das explorações agrárias e da conservação dos recursos naturais.” (Raymundo Laranjeira) 3- OBJETO A atividade agrária, segundo o magistério de EMÍLIO ALBERTO MAYA GISCHKOW, “é o resultado da atuação humana sobre a natureza, em participação funcional, condicionante do processo produtivo”. O autor aduz, ainda, que a mencionada atividade agrária pode ser considerada em três aspectos fundamentais, a saber: 1. Atividade imediata → tendo por objeto a terra, considerada em sentido lato, abrangendo a atuação humana em relação a todos os recursos da natureza. 2. Os objetivos e os instrumentos dessa atividade, compreendendo a preservação de recursos naturais→ a atividade extrativa de produtos inorgânicos e orgânicos; a captura de seres orgânicos (caça e pesca) e a produtiva (agricultura e pecuária). 3. Atividades conexas → como o transporte de produtos agrícolas, os processos industriais e as atividades lucrativas, ou seja, o comércio propriamente dito. O Prof. RAYMUNDO LARANJEIRA, depois de ressaltar a importância que tem a designação do elemento ruralidade, como ponto de partida para a verdadeira caracterização da matéria jusagrarista, esclarece que esse elemento “vem sempre preso à ideia de espaço fundiário em que se deva desenvolver uma atividade de produção e/ou de conservação de recursos naturais, vinculando-se, pois, a noção de trato de terra, do que é ager ou rus”. Assim, RAYMUNDO classifica as atividades agrárias: • Explorações rurais típicas: que compreendem a lavoura, a pecuária, o extrativismo vegetal e animal e a hortigranjearia. • Exploração rural atípica: que compreende a agroindústria. • Atividade complementar da exploração rural: que compreende o transporte e a comercialização dos produtos. OBS: A agroindústria, tida como exploração atípica, diz respeito ao processo industrializante desenvolvido nos mesmos limites territoriais em que são obtidos os produtos primários. São exemplos dessa atividade as usinas de beneficiamento de arroz, a produção de rapaduras, farinha de mandioca etc. Pode-se dizer que essas atividades são de beneficiamento ou de transformação dos produtos rústicos, a chamada matéria-prima. OBS: A atividade complementar da exploração rural, por sua vez, é aquela que diz respeito ao transporte e à comercialização dos produtos, diretamente do estabelecimento rural e pelo próprio produtor. Não sem razão, uma corrente doutrinária denomina de conexas essas atividades. A classificação dessas atividades como agrárias, todavia, não é pacífica, pois há quem as inadmita mesmo como atípicas, à consideração de que se situam no setor terciário da economia. A primeira – transporte – é considerada como prestação de serviços, e a segunda – comercialização – como atividade tipicamente comercial (mercantil). Não obstante argumentos tão relevantes, tem-se que é bastante compreensível que essas atividades constituam o “coroamento lógico do próprio processo produtivista”, como observa, acertadamente, o Prof. RAYMUNDO LARANJEIRA, assinalando que “essa é a vazão natural que o produtor procura dar aos frutos obtidos, não só para atender às necessidades de consumo de terceiros, como para haurir os benefícios da sua atividade mesma”. 4- AUTONOMIA - como ramo autônomo o Direito Agrário surgiu na EC n. 10/64 na Constituição Federal de 1946 pouco antes do Estatuto da Terra, Lei 4.504 de 1964. Hoje porém a disciplina é prevista na CF/88, art. 22, I, segundo o qual compete à União legislar sobre direito agrário. - Já é entendimento pacífico entre os doutrinadores que o Direito Agrário goza de autonomia sob os seguintes aspectos: legislativo, científico, didático e jurisdicional. a) A autonomia legislativa → se deu através da EC no 10, de 10.11.64, quando se acrescentou, na Constituição Federal de 1946, então vigorante, mais uma alínea – a alínea a – ao inciso XV, do art. 5o. Por tal inserção, a União ampliou a sua competência legislativa, podendo fazê-lo também sobre Direito Agrário.na sequência da EC n. 10/64, foi logo promulgado o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504, de 30.11.64), para muitos considerado um verdadeiro código agrário, que ainda se conserva, não obstante a avalanche de decretos posteriores que se propuseram regulamentá-lo, além de alterações que se fizeram em seu texto original. b) autonomia científica → é identificada na existência de princípios e normas próprias, diferenciados dos demais ramos da ciência jurídica. Além do mais, o Direito Agrário tem um objeto particularizado, conforme foi explicitado em outro momento. c) autonomia didática → constitui uma realidade da maior evidência, porquanto, hoje, a disciplina Direito Agrário é lecionada em praticamente todos os estabelecimentos de ensino superior de Direito, alguns nos níveis de graduação e de pós-graduação, como sucede com a Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás. d) autonomia jurisdicional → infelizmente ainda não foi possível implantar a Justiça Agrária no Brasil, a despeito da pregação sistemática de quantos se tornam agraristas convictos. Ela representa um anseio e uma necessidade! A EC no 45, de 31.12.2004 – que dispõe sobre a reforma do Judiciário –, modificou a redação do art. 126 da Constituição, substituindo a expressão “designará juízes de entrância especial” por “proporá a criação de varas especializadas”. Um tímido avanço na direção da instituição da Justiça Agrária defendida pelos agraristas. Tímido, mas um avanço, oxalá os Tribunais criem as Varas Agrárias e as provejam com juízes que tenham ao menos o curso de especialização em Direito Agrário! 5- NATUREZA JURÍDICA - o Prof. RAYMUNDO LARANJEIRA, que concluiu por uma posição intermediária, observando o seguinte: “o Direito Agrário é, de fato, composto de normas privadas e públicas, ao mesmo tempo... Dúvidas não persistem quanto ao caráter misto do Direito Agrário”. - é imperioso reconhecer que há um predomínio de normas de ordem pública sobre as de direito privado, porquanto, até mesmo na disciplina dos contratos agrários, onde a vontade das partes tem o seu maior espaço, a autonomia privada é quase nenhuma, em face das normas imperativas impregnadas no Decreto n. 59.566, de 14.11.66. - Merece consignar, afinal, que o princípio maior da função social, que constitui até uma exigência constitucional a subordinar a garantia do direito de propriedade, é o principal preceito de ordem pública impregnado no ordenamento jurídico agrário. 6- PRINCÍPIOS DO DIREITO AGRÁRIO 1. Função social da Propriedade: este princípio reza que a propriedade deve atender as necessidades da coletividade, ou seja, no sentido de ser produtiva gerando emprego, renda etc; 2. Justiça social: este princípio se molda no sentido de que as regras de direito agrário são voltadas para atender a necessidade de justiça social nas relações no campo, combatendo a desigualdade; 3. Prevalência do Interesse Coletivo Sobre o Particular: este princípio tem por base a supremacia do interesse público, no direito agrário faz jus ao sentido social do direito agrário, pois só desta forma é possível combater os interesses dos mais privilegiados sobre os que realmente trabalham no campo e dependem da terra para sua subsistência; 4. Conservação e preservação dos recursos naturais e do meio ambiente etc. – a produção rural não deve desperdiçar ou por em risco os recursos naturais disponíveis; 5. Dicotomia do direito agrário: política de reforma agrária e política de desenvolvimento rural – a terra deve estar disponível a todos, e estes devem nela produzir; 6. Proteção à propriedade familiar e a pequena e média propriedade – a lei deve buscar a manutenção da propriedade que sirva ao sustento de um núcleo familiar, e as pequenas e médias propriedades – sempre produtivas, claro – devem ter o estímulo do poder público; 7- SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS NO BRASIL a)Tratado de Tordesilhas → as terras eventualmente descobertas no mundo passariam ao domínio de quem as descobrisse, conforme a estipulação seguinte: traçada uma linha imaginária do Polo Ártico ao Polo Antártico, distante 370 léguas das Ilhas de Cabo Verde, em direção ao Poente, as terras que fossem encontradas à direita daquela linha imaginária seriam de Portugal, enquanto as à esquerda seriam da Espanha. b)Capitanias hereditárias (foi uma divisão administrativa)→ representaram a primeira divisão de terras ocorrida na colônia, e foi executada pela Coroa portuguesa em 1534. O território foi dividido em 14 grandes lotes, em faixas que iam do litoral até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, e foram entregues a 12 Capitães Donatários, pessoas que faziam parte da pequena nobreza de Portugal. Os motivos para a Coroa portuguesa implantar o sistema de capitanias foram os seguintes: dificuldade em defender o território, decadência do comércio português nas índias, falta de recursos lusos e promover uma colonização mais dinâmica. . - as Capitanias respondiam a um poder central e absoluto, exercido pela Coroa portuguesa, que nomeava juízes que, por sua vez, fiscalizavam os capitães donatários e funcionários para auxiliar na administração da capitania. - Os capitães tinham apenas o direito de posse das terras, que ainda eram propriedade da Coroa portuguesa. Cabia aos capitães explorar o terreno retirando o pau-brasil, iniciar e avaliar a produtividade de outros cultivos, explorar o curso dos rios e criar animais, incentivando a agropecuária. OBS: aos índios não foi reconhecido direito algum sobre as terras. OBS: As capitanias hereditárias eram grandes faixas de terra que o Rei de Portugal concedia a pequenos nobres portugueses, os donatários da capitania, que passavam a representar os interesses do governo português no território sob seu controle, tendo como missão desenvolver estas terras, garantir impostos para o Estado português e recebiam, em troca, a garantia de que as terras passariam para os seus filhos. -Já as sesmarias eram faixas de terras que eram distribuídas dentro de cada uma das capitanias hereditárias pelos donatários aos sesmeiros, homens livres que desejavam trabalhar em suas próprias terras no Brasil, pagando impostos aos portugueses. - A diferença era, então, que as sesmarias eram bem menores que as Capitanias Hereditárias e que a sua posse dependia de que o sesmeiro trabalhasse nas terras, sendo produtivo, por uma certa quantidade de tempo, devendo obedecer ao donatário. c)Sesmarias – Lei Sesmarial de 1373 → extinto em 17 de julho de 1822. - Em Portugal, as sesmarias tinham outro significado, porquanto eram assim definidas: “São propriamente as dadas de terras casais ou pardieiros que foram ou são de alguns senhorios e que já em outro tempo foram lavradas e aproveitadas e agora o não são.” - as sesmarias não se adequavam ao Brasil, pelo menos com o sentido que tinham naquele outro país. Aqui as terras eram virgens, enquanto lá já haviam sido aproveitadas e lavradas. Outro aspecto diferenciador residia na natureza jurídica das sesmarias em Portugal. Ali, eram consideradas um verdadeiro confisco, enquanto, no Brasil, guardavam perfeita similitude com o instituto da enfiteuse, pois só se transferia o domínio útil. - nas respectivas cartas de sesmarias, segundo a qual as terras concedidas poderiam ser retomadas e dadas a outras pessoas, caso os concessionários não as aproveitassem no prazo de dois anos. Provavelmente, a adoção do instituto para o novo território decorreu da falta de outro instrumento jurídico, e urgia a ocupação de sua extensa área, para livrá-la de possíveis investidas de potências estrangeiras, como viria a acontecer mais tarde por parte de franceses e holandeses. Além dessa cláusula resolutiva, inseriam-se nos instrumentos das sesmarias as seguintes obrigações impostas ao sesmeiro, assim chamado o beneficiário da concessão, a saber: colonizar a terra, ter nelaa sua morada habitual e cultura permanente, demarcar os limites das respectivas áreas, submetendo-se a posterior confirmação e, ainda, pagar os tributos exigidos na época. - as concessões de terras eram feitas a pessoas privilegiadas que, muitas vezes, não reuniam condições para explorar toda uma gleba de extensa área, e, não raro, descumpriam as obrigações assumidas, restringindo- se apenas ao pagamento dos impostos. Certamente essa prática clientelista – lamentavelmente ainda hoje adotada em nosso país – influenciou o processo de latifundização que até hoje distorce o sistema terreal brasileiro. - trabalhadores vindos de Portugal, também com a esperança de obterem uma área de terra, terminavam ocupando sobras de sesmarias não aproveitadas, ou mesmo invadindo áreas não concedidas, gerando pequenas posses. Registra-se que essas pequenas posses foram responsáveis pelo abastecimento interno de então – quiçá ainda hoje – e não é desarrazoado dizer-se que também contribuíram enormemente para a formação de minifúndios. - pode-se avaliar que o emprego do instituto das sesmarias, no Brasil, foi maléfico e benéfico a um só tempo. Maléfico porque, mercê das distorções havidas, gerou vícios no sistema fundiário até os dias de hoje, que reclamam reformulação consistente e séria. Benéfico porque, a despeito de os sesmeiros não cumprirem todas as obrigações assumidas, permitiu a colonização e o povoamento do interior do país, que se consolidou com dimensões continentais. - na época das sesmarias vigeram no Brasil a lei portuguesa: as Ordenações Afonsina, depois, as Ordenações Manuelinas, e quando Portugal estava sob domínio Espanhol, passou a vigorar as Ordenações Filipinas. d)Sistema de posses → as sesmarias foram extintas em 17 de julho de 1822, a época da Independencia do Brasil, esse período acabou somente em 1850, quando foi editada a Lei Imperial 601 de 1850 chamada de Lei de Terras, criada para defrontar a falta de disciplina das ocupações e pacificar os conflitos fundiários, ou seja, o Brasil ficou 28 anos sem lei territorial. -o período ficou conhecido como “extralegal” ou “de posses”. - Esse período considerado anárquico gerou o seguinte quadro: 1. Proprietários legítimos, por títulos de sesmarias concedidas e confirmadas, com todas as obrigações adimplidas pelos sesmeiros. 2. Possuidores de terras originárias de sesmarias, mas sem confirmação, por inadimplência das obrigações assumidas pelos sesmeiros. 3. Possuidores sem nenhum título hábil subjacente. 4. Terras devolutas (vazias, desocupadas, sem dono), aquelas que, dadas em sesmarias, foram devolvidas, porque os sesmeiros caíram em comisso (significa não cumprir a lei, as regras). e)Lei de Terras (Lei 601/1850) - teve por objetivos básicos: (1) proibir a investidura de qualquer súdito, ou estrangeiro, no domínio de terras devolutas, excetuando-se os casos de compra e venda; (2) outorgar títulos de domínio aos detentores de sesmarias não confirmadas; (3) outorgar títulos de domínio a portadores de quaisquer outros tipos de concessões de terras feitas na forma da lei então vigorante, uma vez comprovado o cumprimento das obrigações assumidas nos respectivos instrumentos; e (4) assegurar a aquisição do domínio de terras devolutas através da legitimação de posse, desde que fosse mansa e pacífica, anterior e até a vigência da lei. - o diploma legal teve ainda o mérito de definir o instituto de “terras devolutas”, bem como de estabelecer mecanismos para a sua discriminação, extremando-as das terras de particulares. Aliás, o procedimento discriminatório até hoje persiste no ordenamento jurídico pátrio, passados quase dois séculos. OBS: Não obstante a amplitude e as virtudes da “Lei de Terras”, com o seu Regulamento de 1854, os resultados não se mostraram suficientemente satisfatórios, até aqui, porque não foi solucionado, em definitivo, o problema relacionado com a distribuição de terras em nosso país. Esse problema se situa em dois polos: de um lado, a concentração de extensas áreas improdutivas em mãos de poucos (latifúndios), e, de outro, a grande quantidade de minifúndios. f)Após a proclamação da Republica, em 1889, houve avanços em nível constitucional - na primeira constituição republicana – a de 1891 –, no artigo 64, que se tornou famoso, transferindo para os Estados as terras devolutas, ficando reservadas à União apenas áreas destinadas à defesa de fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro, além dos terrenos de marinha. - Em 1912, Joaquim Luís Osório elaborou o primeiro projeto do Código Rural, embora restrito ao Estado do Rio Grande do Sul. Em 1917, entrou em vigor o Código Civil brasileiro, resultado de uma longa e penosa elaboração iniciada desde 1859, com Teixeira de Freitas, passando por Nabuco de Araújo, em 1872, e Felício dos Santos, em 1881, finalmente concluído com Clóvis Beviláqua. - A Constituição Federal de 1934, sedimentando ideias agraristas já desenvolvidas, inclusive com o projeto do Código Rural de Joaquim Luís Osório refundido, preconizou a formulação de “normas fundamentais de Direito Rural” (art. V, XIX, c). Do mesmo modo, criou o usucapião pro labore, abrigou normas pertinentes à colonização e dimensionou a proteção aos silvícolas e ao trabalhador. - A Constituição Federal de 1946, entretanto, pode ser considerada a que impregnou avanços mais significativos, tendentes à institucionalização do nascente ramo jurídico. Em primeiro lugar, porque manteve as normas de conteúdo agrarista inseridas na Constituição anterior. Em segundo lugar, porque ampliou o raio de abrangência de situações ligadas diretamente ao setor rural, podendo-se destacar a criação da desapropriação por interesse social que, mais tarde, viria a ser adaptada para fins de reforma agrária. - EC n. 10/64 institucionalizou o Direito Agrário no Brasil. Há quem a chame de “certidão de batismo” do Direito Agrário. g)Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964) → existe até hoje h)Constituição Federal de 1988 (art. 184)