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Aula 9 - Participação política na sociedade global e Direito

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26/09/2018 Disciplina Portal
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Sociologia Jurídica e
Judiciária
Aula 9 - Participação política na sociedade
global e Direito
INTRODUÇÃO
Nesta aula trataremos de questões muito atuais e que dizem respeito à situação contemporânea, diante das formas
atuais de produção e implementação do Direito. Esta situação é confusa e complexa, pois há, ainda, a permanência das
formas de produção normativas tradicionais, mas ao lado dessas surgem tipos de produção normativa “pós-
modernas”, na medida em que constituem uma superação da concepção moderna do Direito e do Estado.
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Assim, diante do impacto da globalização sobre a relação jurídica, a principal questão colocada atualmente pelos
juristas é como pensar o Direito, como operar com o Direito neste período de grandes transformações.
Ao longo das aulas de Sociologia Jurídica e Judiciária você pode perceber que uma forte característica deste período
de sociedade transnacionalizada é a divisão da soberania do Estado com outras instâncias, e dessa forma também seu
poder central de dizer o Direito, ou seja, o Direito não emana apenas do Estado (pluralismo das fontes) e, como
consequência, tem-se que o Estado não está no centro de toda a vida jurídica, ou seja, há, atualmente, uma
descentralidade.
A partir dessa constatação temas como sociedade global e o direito, os contornos globais dos novos desa�os: meio
ambiente, relações de trabalho, sociodiversidade e minorias passam a fazer parte da agenda dos pro�ssionais do
direito. 
Vamos a eles!
OBJETIVOS
Compreender o processo de mundialização do Direito.
Examinar os conceitos relativos à fragmentação, hegemonia e participação política na sociedade global.
Identi�car os novos desa�os globais relativos aos trabalhadores, ao meio ambiente e às minorias.
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A MUNDIALIZAÇÃO DO DIREITO E A BUSCA DE UMA COMUNIDADE DE
VALORES
"A mundialização do direito se limita a
construir uma comunidade econômica ou
prenuncia uma verdadeira comunidade
mundial de valores?“
Quem indaga é a jurista francesa Mireille Delmas-Marty, titular da cátedra de Estudos Jurídicos Comparativos e
Internacionalização do Direito do Collège de France. Segundo a jurista, "a mundialização não remete apenas ao direito
nascido da globalização econômica, mas também à universalização dos direitos do homem, fundada na Declaração
Universal de 1948".
No entanto, ela considera que, depois da queda do Muro de Berlim em 1989 e da criação da Organização Mundial do
Comércio (OMC) em 1994, teve início uma espécie de corrida entre esses dois processos:
"O direito do comércio se judicializa com a
criação do órgão de apelação junto à OMC,
ao passo que ainda não existe uma corte
mundial de direitos humanos".
O DIREITO DA SOCIEDADE GLOBALIZADA
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De acordo com Alves, Santos et al. (2013), “o ordenamento jurídico estatal está perdendo sua exclusividade e
centralidade, embora, como coloca Faria (2002), ainda seja a referência básica para os cidadãos comuns. O Direito
estatal passa a ser parte de um polissistema, pois concorre e convive com normatividades paralelas ou justapostas,
que revelam o desenvolvimento de uma regulação jurídica à margem e, até mesmo em alguns casos, contrária ao
Direito positivo estatal, deixando de ser o eixo de um sistema normativo único.
Assim, a regulação social, atualmente, pode ser dividida em tradicional e contemporânea:
REGULAÇÃO SOCIAL TRADICIONAL
A tradicional, de origem moderna, tem como característica o pressuposto de que a regulação social se faz pelo Direito, sendo que
este é exclusividade do Estado.
REGULAÇÃO SOCIAL CONTEMPORÂNEA
A regulação contemporânea ou pós-moderna traz novos pressupostos: a regulação social não precisa obrigatoriamente passar
pelo Direito e o Estado perde terreno em sua soberania através do Direito. Ou seja, o Direito estatal perde terreno em favor de
normas alternativas de regulação social e de solução de con�itos.
Vive-se, atualmente, diante dos processos de desregulamentação e aparecimento de novas esferas de poder, uma
redução da imperatividade do Direito positivo, caracterizado por uma �exibilidade nunca antes vista, o chamado soft
law”.
O DIREITO DO NOVO CAMPO DE PODER É DUAL
Segundo Alves, Santos et al. (2013), “de um lado tem-se o Direito estatal deprimido sob o açoite das políticas de
desregulação, do outro, tem-se a forti�cação das regras ditadas pelo mercado. Ou seja, “... os campos antes
regimentados pelas normativas estatais ou geral públicas se abrem assim a regulamentações pactuadas entre sujeitos
privados ou entidades corporativas (caso do direito laboral) mais ou menos à margem das instituições públicas
propriamente ditas.” (2002, p. 268).
Ou, como coloca Santos, tem-se além do Direito positivo estatal duas outras instâncias: a supraestatal e a infraestatal:
SUPRAESTATAL
No plano supraestatal, os mecanismos do sistema mundial desenvolvem leis que se sobrepõem à normatividade estatal (seria a
lei do mercado meta estatal de que fala Capella)”.
INFRAESTATAL
Já no plano infraestatal, encontram-se ordens jurídicas locais com ou sem base territorial, regendo determinadas categorias de
relações sociais e interagindo, de múltiplas formas, com o direito estatal’”. (2002, p. 171).
NEOLIBERALISMO EXPRESSÃO IDEOLÓGICA DA GLOBALIZAÇÃO
Em seu texto intitulado Globalização e participação política, Valmir Lima de Almeida considera que “a participação
política dos indivíduos na sociedade global apresenta-se como um caminho, uma das principais vias alternativas, para
o alcance da inserção social e da diminuição das desigualdades econômicas reveladas pela globalização.
O processo de globalização em marcha acabou com os limites geográ�cos, mas não eliminou a fome, a miséria e os
problemas políticos de milhões de globalizados que vivem (ou sobrevivem) abaixo da chamada linha da pobreza
absoluta. 
Afastados dos centros das decisões pelos princípios excludentes do neoliberalismo, os indivíduos, limitados na própria
capacidade de compreensão dos conceitos neoliberais, não encontram pontos de referência para tornarem-se agentes
de in�uência política no processo global”.
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VOCÊ SABIA?
O neoliberalismo é mostrado como expressão ideológica da globalização. São evidenciados os efeitos políticos que a
doutrina neoliberal provoca nos indivíduos, quando imposta no contexto da globalização como uma evolução natural
da sociedade, com um aprimoramento cultural do próprio homem. Revela-se, ao contrário do que apregoam os
princípios neoliberais, que as diferenças sociais na globalização acentuam-se quanto maior for o nível alienante de
exclusão social que esteja incluído o indivíduo.
CONTORNOS GLOBAIS DOS NOVOS DESAFIOS: MEIO AMBIENTE
Fonte da Imagem: kowition / Shutterstock
Bernard Cassen, membro do Conselho internacional do Fórum Social Mundial, a�rma que existe uma crise em curso
em relação ao sistema capitalista na sua versão neoliberal e que tal crise apresenta “várias dimensões: a �nanceira,
monetária, alimentar e energética”.
Segundo Cassen (2015) essa crise aponta no sentido de uma “falência total das políticas neoliberais e a necessidade
do retorno do Estado como garantia de sobrevivência da economia e da manutenção de um mínimo de coesão social.
Paradoxalmente, esta crise, que já vem se aprofundando há algum tempo epoderia ter reforçado o “movimento dos
movimentos”, provocou seu enfraquecimento”.
Esta crise envolve, em especial, as questões pertinentes à própria sobrevivência do planeta e de seus recursos naturais,
na medida em que a busca sem limites do lucro a qualquer custo levou à utilização dos recursos advindos da natureza
sem qualquer controle, aliada a uma cultura que coloca o meio ambiente sempre em segundo plano, ainda que
aparentemente haja uma preocupação com a ecologia global.
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CONTORNOS GLOBAIS DOS NOVOS DESAFIOS: RELAÇÕES DE
TRABALHO
Fonte da Imagem: jesadaphorn / Shutterstock
A globalização econômica que já foi estudada por você ao longo de nossos encontros e é decorrência do modelo de
produção capitalista, que surgiu com a primeira revolução industrial, é consequência dessa busca desenfreada pelo
lucro que, por isso mesmo, leva a conquista por novos mercados consumidores. 
Trouxe consequências no modo de trabalho existente, provocando a reestruturação do trabalho. Como exemplo,
podemos apresentar as mudanças no contrato de trabalho que, para atender à pressão econômica e se adaptar às
novas exigências pela busca de maior competitividade e produtividade, vem se fragmentando em vários outros tipos de
relação de trabalho. Assim, o processo de globalização tem contribuído para a mudança nas relações de trabalho
ocasionando a descentralização produtiva, também chamada de terceirização e o surgimento de novas formas de
trabalho como a parassubordinação (glossário).
CONTORNOS GLOBAIS DOS NOVOS DESAFIOS: SOCIODIVERSIDADE
Fonte da Imagem: Annasunny24 / Shutterstock
O neologismo sociodiversidade foi criado pela Antropologia e, em sua origem, estava relacionado às comunidades
indígenas encontradas no Brasil, com hábitos e cultura próprios e que merecem ser respeitados e preservados. Aos
poucos, este conceito foi se ampliando e hoje sociodiversidade signi�ca a existência simultânea de grupos humanos
que possuem recursos sociais próprios, ou seja, cuja organização social está sedimentada por padrões próprios, que
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envolvem modelos diferentes de autoridade política, de acesso e utilização do espaço territorial, de hierarquias de
valores éticos ou morais etc. 
A existência de culturas e grupos humanos diversos coexistindo em um mundo globalizado ocasiona uma série de
questões que envolvem desde os modos de construção de uma sociedade democrática, plural e justa, até e ao mesmo
tempo, a conciliação do direito à diferença com o à direito igualdade. 
Assim, falar em sociodiversidade signi�ca destacar a questão da convivência dos diferentes com suas diferenças em
um contexto de tolerância e solidariedade que consiga ultrapassar a violência, as hierarquias excludentes, o tratamento
perverso, as desigualdades econômico-sociais.
CONTORNOS GLOBAIS DOS NOVOS DESAFIOS: A QUESTÃO DAS
MINORIAS
Objetivamente, o processo de globalização também traz em seu bojo uma tendência de padronização cultural, na
medida em que a sociedade consumista utiliza os meios de comunicação em massa para induzir o estabelecimento de
valores culturais arti�cialmente estabelecidos e que determinam o que e como se deve comer vestir, assistir, ouvir,
comprar e pensar. 
Como forma de resistir a esse processo que desrespeita as diferenças e nivela todos os indivíduos, existem tanto no
nível interno (nacional) como no internacional, diversos grupos que se distinguem pela defesa de suas práticas
culturais, de sua orientação sexual, de seus credos e etnias próprios. Esses grupos são denominados minorias,
correspondem a grupos sociais ou mesmo nações que lutam na defesa de seus ideais. Os grupos sociais (negros,
mulheres, homossexuais, transgêneros (glossário), quilombolas, pessoas especiais, idosos etc.) lutam pelo respeito à
sua dignidade e cidadania; as nações (povos indígenas, palestinos, bascos etc.) almejam sua independência territorial,
cultural, religiosa e política. 
O ponto em comum dessas minorias é situação de exclusão e/ou discriminação que provoca o surgimento de
organizações (movimentos sociais) que procuram conquistar a dignidade e respeito por meio de ações políticas.
ATIVIDADE PROPOSTA
A queda do Muro de Berlim é considerada um dos pontos de partida para as profundas transformações que estão em
curso na sociedade mundial. Leia a notícia abaixo, publicada no jornal El Pais, na Espanha, dia 09 de novembro de 2014
e, a seguir, responda algumas questões:
25 ANOS DA QUEDA DO MURO 
“Neste �m de semana, Berlim voltará a ser uma cidade dividida. Oito mil balões desenharão uma linha luminosa de 15
quilômetros de extensão, um traçado que durante a guerra fria foi uma das fronteiras mais vigiadas do mundo. Mas
quem sair às ruas em 9 de novembro não encontrará o muro de 3,6 metros de altura que dividiu Berlim – e, de certa
forma, o mundo inteiro – entre 1961 e 1989. Sob o lema “valor à liberdade”, os cidadãos celebrarão o 25º aniversário do
dia em que tudo mudou. Desde então, qualquer um pode viajar tranquilamente de Dresden a Hannover, sem ir para a
cadeia ou perder a vida, como ocorreu às quatrocentas pessoas que morreram tentando abandonar a Alemanha
socialista. 
“É incrível. Nunca pensamos que poderíamos estar aqui”, dizia naquela noite inesquecível um jovem a repórteres de
televisão em um vídeo hoje disponível para qualquer um no YouTube. Diante de um Portão de Brandemburgo às
escuras, os entrevistados diziam, a quem quisesse ouvir, que não pretendiam �car na parte ocidental da cidade. Só
queriam ver como era o outro lado e voltar para casa. Vinte e quatro horas mais tarde, e não muito longe dali, Willy
Brandt pronunciaria um discurso histórico. “Nada voltará a ser como antes. Sempre soube que a separação de
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concreto, arame farpado e faixa da morte ia contra a corrente da história. Disse isso no verão, sem saber que
aconteceria tão rápido: Berlim viverá e o Muro cairá”, bradou o antigo chanceler e prefeito de Berlim durante a
construção do muro da vergonha”.
a) Que transformação mundial é decorrência do episódio narrado no texto?
Resposta Correta
b) Que outros episódios contribuíram para essas profundas transformações que estão em curso na sociedade
mundial?
Resposta Correta
c) Quais as consequências desses diversos episódios para a sociedade mundial?
Resposta Correta
Glossário
PARASSUBORDINAÇÃO
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A parassubordinação é caracterizada principalmente pela pessoalidade, continuidade e coordenação na prestação dos serviços,
sendo assim, uma modalidade intermediária entre o trabalho subordinado e o trabalho autônomo. A parassubordinação é, com
frequência, identi�cada nos serviços prestados por cooperativas de trabalho ou pro�ssionais liberais.
TRANSGÊNEROS
Transgeneridade ou transgenerismo refere-se à condição em que a expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma
pessoa é diferente daquelas atribuídas ao gênero designado no nascimento.

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