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30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 1/28 INFÂNCIA NA HISTÓRIA E NA CULTURA CONTEMPORÂNEA CAPÍTULO 4 - COMO A CRIANÇA VÊ E ENTENDE SEU MUNDO? Suellen Irene Pereira Pierri INICIAR 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 2/28 Introdução Antes de falarmos sobre a infância, devemos entender a criança. Quem são as crianças hoje? Essa pergunta é fundamental, já que encaminha um debate para pensarmos as concepções vigentes, assim como visualiza possibilidades de mudança e melhorias no que se refere a essas concepções. Então não há um conceito único de infância? A sociedade e as pessoas que permeiam a vida da criança influenciam a maneira como ela vive sua infância? Para pensar sobre isso, se faz necessário desconstruir padrões baseados na ideia de que todas as crianças passam por esse período da mesma forma. Deve-se caminhar na compreensão de que viver a infância depende de situações econômicas, sociais, políticas e culturais de cada família ou indivíduo. Esse olhar para a infância permite que se enxergue a criança sem estereótipos ou pré- conceitos, mas de uma forma aberta e que possibilite inúmeras interpretações e entendimentos sobre cada indivíduo e tudo o que ele sabe e tem a oferecer. Neste capítulo, você irá ampliar as discussões sobre as diversas formas de viver a infância no mundo contemporâneo, no intuito de refletir sobre o que é ser criança na sociedade de hoje. Bom estudo! 4.1 Infância como um direito da criança Criança é cidadã de direitos. Essa frase soa como vento nos dias de hoje. Todos sabemos que a criança é entendida, em especial nas teorias sobre a infância, como ser de direitos, “em pleno desenvolvimento, social e histórico que [...] marca e é marcado por uma determinada cultura (PIERRI, 2009, p. 1). Porém, a criança tem esses direitos respeitados diariamente? No que se refere à sua rotina, seja na escola, em casa ou entre os indivíduos com que convive, as pessoas tendem a respeitar suas falas, desejos e vontades, dentro das possibilidades de cada situação, e permitir a elas compreender o mundo também a partir de si mesmas? 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 3/28 Devemos refletir sobre a maneira pela a qual as crianças são tratadas, os direitos conquistados podem ser perdidos a qualquer momento, não apenas de forma abrupta, mas por meio de simples gestos e palavras. Por este motivo, é preciso estar atento a essas questões o tempo todo. 4.1.1 Legitimação social dos direitos da criança A criança não consegue viver sozinha. Diferentemente de outras espécies do reino animal, as crianças precisam da ajuda de seus pais desde o nascimento até larga idade. Quando pequenas, mal se movimentam e precisam de ajuda para se alimentar, para se higienizar, para se vestir. Precisam ainda de um lar e de um adulto que as provenha, já que não podem ainda se sustentar sozinhas. Sob essa perspectiva, o adulto na vida da criança atua como necessário ao seu desenvolvimento e à própria sobrevivência. Porém, essa necessidade não deve ser confundida com propriedade. Muitos adultos veem a criança como sua propriedade, decidindo cada aspecto de sua vida, e quando em casa seus familiares não o fazem completamente, há a escola e outras instituições que, muitas vezes, cercam as crianças sob o discurso de proteção e vulnerabilidade da infância. É incontestável que a criança precisa de cuidados do adulto para sobreviver, mas esse fato não deve ser usado para mascarar uma inabilidade ou impossibilidade de permitir à criança gozar de seus direitos, em uma concepção paternalista que prevê que a criança não tem capacidade ou maturidade de tomar decisões por si mesmas. É comprovado a partir de pesquisas (PASCAL; BERTRAM, 1996; PRADO, 2012; ENGDAHL, 2013) que as crianças são dotadas de iniciativa, quando querem algo, indiferente de sua idade, fazem várias tentativas para alcançar seu objetivo. O trabalho de Engdhl (2013) trata da observação de crianças de um a três anos em uma creche municipal sueca. Sua pesquisa se baseia em entender como os bebês estabelecem relações entre si. A pesquisadora concluiu que as crianças, desde muito cedo, se interessam pelo outro e se comunicam com ele, cada um à sua maneira, e essa relação não depende do adulto para acontecer, as crianças conversam e brincam entre elas a partir de si mesmas. Prado (2012), em sua pesquisa com bebês em uma creche municipal de Campinas (SP), constatou que as crianças eram capazes não apenas de estabelecer relações entre si como havia iniciativa em conhecer os adultos em profundidade. 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 4/28 Desta forma, é comprovado que as crianças têm um poder de decisão sobre si mesmas e suas escolhas desde a mais tenra idade, das mais diversas formas de comunicação de que dispõem, elas se comunicam e se relacionam com quem querem e de diversas maneiras, sem necessariamente ter um adulto mediando ou intervindo. Pascal e Bertram (1996) tratam sobre o bem-estar e envolvimento da criança nas escolas e concluem, sob vários aspectos, que as crianças têm competências e são capazes de agir e decidir significativamente sobre suas vidas, sendo que o resultado de suas ações, em conjunto com o trabalho dos adultos, refletem diretamente em seu bem-estar e envolvimento na escola. Se as crianças desde pequenas são capazes de fazer escolhas conscientes e têm competências para escolher seguir seus próprios caminhos, porque ainda existem discursos que deslegitimam a cidadania da criança, deixando que os adultos façam todas as escolhas por elas? Há de haver uma concepção corrente de que a criança é capaz de estabelecer múltiplas relações, fazer escolhas coerentes com suas vontades baseadas em seus aprendizados e relações constantes. Aos adultos e instituições educacionais cabe o papel de escutar essa criança, ampliar seus conhecimentos a partir do que já sabem e mediar suas relações com os outros e com o mundo, na tentativa de fazer valer seus direitos de cidadãos sociais que são com vontades, saberes e quereres próprios. 4.1.2 As diferenças entre as infâncias – ontem e hoje Apesar de hoje haver um maior entendimento sobre a importância de dar voz às crianças, como também um aumento de pesquisas sobre o tema da infância e um conjunto de leis voltadas ao entendimento da proteção delas em suas particularidades, socialmente, vários aspectos influenciam e diferenciam as infâncias e a maneira que as crianças veem e entendem o mundo à sua volta. As infâncias das crianças em seus vários tempos e espaços foram –e são– influenciadas pelos costumes e culturas da sociedade à sua volta, de forma que a classe social, etnia, gênero, situação econômica a que cada criança está exposta desde que nasce igualmente exercem sua interferência sobre a maneira que a criança vive seu dia a dia. Vivemos hoje a era da informação, momento em que, de acordo com Castells (2002), o desenvolvimento das tecnologias impacta diretamente o campo das relações humanas. Desta forma, entende-se que as crianças que vivem suas 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 5/28 infâncias neste momento são influenciadas por esses aparatos tecnológicos e tudo o que advém dessa nova era informatizada. Essa forma atual de viver a infância, cercada por facilidades tecnológicas, permite às crianças viverem em um mundo que crianças de outras eras não viveram, diferenciando, por si só, a infância de hoje da de nossos pais ou avós. São inúmeras informações, produtos, alimentos e imagens na distância deum clique, permitindo aos pequenos adentrar mundos, consumir, conhecer pessoas e se aventurarem nas mais diversas redes e das mais diversas formas. Figura 1 - Nos dias de hoje, as crianças são imersas no mundo informatizado a partir de suas próprias famílias. Fonte: Filimonov, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 6/28 Porém, ao mesmo tempo em que essa nova forma de entendimento de mundo é utilizada para ampliar o conhecimento das crianças de forma rápida e lúdica, também pode ser aplicada de forma a prejudicá-las, seja a partir de imagens impróprias à idade, do incentivo ao consumo de produtos na tentativa de manipular a criança a pedi-los a seus pais e ampliar vendas ou em incessantes comerciais de alimentos nocivos à saúde e direcionados ao público infantil, tudo também ao alcance de um clique. Cabe aos adultos ensinarem às crianças a ter o discernimento necessário para separar o que há de bom e o que há de ruim nessa nova era da informação rápida e dinâmica a que estão expostas, ao mesmo tempo em que vigiam, na tentativa de minimizar possíveis danos que possam vir a ser causados pela exposição a essas novas tecnologias de informação e comunicação. Figura 2 - A informatização também leva a criança a um mundo de conhecimentos. Fonte: Haywiremedia, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 7/28 4.2 Consumismo, obesidade, erotização precoce, banalização da agressividade e violência na infância, uso da tecnologia na infância A criança contemporânea vive uma infância particular permeada pela tecnologia, tendo à disposição uma variedade de programas televisivos para entretenimento, rapidez na busca de informações, abundância em tipos de alimentos industrializados e/ou prontos etc. Essas possibilidades, ao mesmo tempo em que são progressistas e facilitadoras do processo de conhecimento, entendimento e manipulação do mundo infantil, trazem consigo alguns problemas, como altas taxas de obesidade na infância e a transformação da criança em pequenos consumidores. Essa é uma discussão que tem adquirido seu espaço em pesquisas acadêmicas, documentários e notícias de jornal e vem ganhando destaque atualmente, afinal, é possível que as crianças aproveitem as possibilidades do mundo contemporâneo sem serem prejudicadas? 4.2.1 Consumismo e obesidade infantil A obesidade pode ser considerada hoje uma pandemia, pois afeta grandes parcelas da população dos mais diversos locais do mundo. Em abril de 2017, o Ministério da Saúde divulgou pesquisa apontando que a obesidade em adultos passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016. E a obesidade acarreta outras doenças, como a diabetes que, de acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, passou de 5,5%, em 2006, para 8,9%, em 2016; e a hipertensão que, no mesmo período, subiu de 22,5% para 25,7% (BRASIL, 2017). VOCÊ SABIA? O Ministério da Saúde lançou, em 2014, uma nova edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pela primeira vez em 2005. A nova edição indica uma base alimentar na tentativa de minimizar as doenças em ascensão no país derivadas da má alimentação como hipertensão, obesidade e algumas doenças crônicas, promovendo saúde. Para mais informações, consulte: 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 8/28 <http://www.brasil.gov.br/saude/2014/11/ministerio-da-saude-lanca-guia- alimentar-para-a-populacao-brasileira (http://www.brasil.gov.br/saude/2014/11/ministerio-da-saude-lanca-guia- alimentar-para-a-populacao-brasileira)>. A obesidade não afeta somente os adultos, mas os hábitos alimentares atuais das crianças também têm deixado os pequenos acima do peso e a caminho de doenças. De acordo com estudo feito pela Organização das Nações Unidas do Brasil (ONUBR), o sobrepeso em crianças de até cinco anos no Brasil chegou a 7% em 2017 (ONUBR, 2017). Em um documento lançado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre segurança alimentar, Alan Bojanic, representante do órgão no Brasil, alerta sobre a importância de dar a devida atenção à alimentação da criança: Precisamos estar muito atentos ao que as nossas crianças estão consumindo. Apesar da rotina acelerada que muitos pais têm, é necessário que as famílias se esforcem para garantir que os pequenos tenham acesso a alimentos nutritivos e adequados para o desenvolvimento. A primeira infância influencia muito nos adultos que formaremos (ONUBR, 2017, s. p.). Importantes organizações estão se mobilizando e mostrando dados alertando que a obesidade está crescendo no país, tanto em adultos quanto em crianças, no entendimento de que essa é uma doença que está ligada a hábitos adquiridos na contemporaneidade. O consumo está diretamente ligado à obesidade, as crianças hoje são consideradas pequenas consumidoras, com propagandas televisivas, alimentos, objetos e brinquedos personalizados, tudo na tentativa de garantir o interesse dos pequenos que, por sua vez, pedem que seus familiares os comprem. Desta forma, a criança é cliente em potencial, consumidor de determinado desenho ou personagem que rapidamente se transformará em inúmeros objetos e diversas formas de alimento. http://www.brasil.gov.br/saude/2014/11/ministerio-da-saude-lanca-guia-alimentar-para-a-populacao-brasileira 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 9/28 VOCÊ SABIA? O Instituto Alana lançou em 2006 um programa intitulado “Criança e Consumo” que promove ações em diferentes esferas para alertar sobre o consumismo na infância e fomentar o diálogo. O programa recebe denúncias de publicidade abusiva dirigida às crianças e atua por meio de ações jurídicas, pesquisa e educação, influenciando a formulação de políticas públicas e o amplo debate na sociedade civil. Para mais informações, acesse: <http://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/ (http://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/)>. As crianças são levadas a pensar de determinada maneira, instigadas em todo momento sobre o que comer, ficando à mercê de propagandas que impulsionam o consumismo em larga escala de alimentos que prometem diversão, delícias e brincadeiras. Essas informações existem para conduzir a criança a pensar da forma que os propagandistas querem e, consequentemente, consumir o que eles estão vendendo. Figura 3 - A maneira que a criança vê a comida é diretamente influenciada pelas propagandas. Fonte: Inspiring, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom http://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/ 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 10/28 As estratégias de marketing direcionadas às crianças não se referem apenas à alimentação, mas também aos itens de consumo em geral. A mochila deve ser do personagem favorito, assim como as estampas de roupas e sapatos devem conter mensagens ou desenhos distintos. É a manipulação das crianças por meio da propaganda. O documentário Criança, a alma do negócio, da Maria Farinha Produções, faz uma crítica ao consumismo na infância, impulsionado pela publicidade e propaganda. Confira em: <https://www.youtube.com/watch?v=ur9lIf4RaZ4 (https://www.youtube.com/watch?v=ur9lIf4RaZ4)>. A criança é, então, bombardeada o tempo todo por informações de como se vestir, o que assistir, o que comer, o que fomenta uma discussão sobre a liberdade das crianças em suas escolhas, já que, muitas vezes, elas estão sendo manipuladas através de desenhos e publicidade exacerbada. VOCÊ QUER VER? https://www.youtube.com/watch?v=ur9lIf4RaZ430/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 11/28 Constata-se que o uso de tecnologias pelas crianças aumentou muito nos últimos anos e elas passam muito tempo livre na televisão ou na internet, o que diminui seu tempo de atividade física e aumenta suas probabilidades de serem bombardeadas constantemente por propagandas, alimentícias ou não, aumentando as chances de obesidade e manipulação midiática. Figura 4 - Desde muito novas, as crianças passam tempo na frente da televisão, podendo ser influenciadas pela publicidade e propaganda. Fonte: Greenland, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 12/28 Desta forma, pode-se constatar que o consumismo e a obesidade infantil estão intimamente ligados à quantidade de tempo que as crianças passam assistindo televisão ou usando o computador, já que estes são os canais que veiculam as propagandas de forma mais rápida e intensa. Cabe à sociedade proteger as crianças de determinadas propagandas, assim como aos familiares e pessoas próximas às crianças limitar seu acesso à internet e televisão, já que as tecnologias, ao mesmo tempo em que geram avanços, como a rapidez no acesso à informação, diminuição das distâncias entre as pessoas, avanços na robótica e áreas industriais, entre outros, podem ser prejudiciais quando utilizadas para exercer manipulação ou passar informações deturpadas. 4.3 As infâncias no mundo contemporâneo São várias as maneiras de viver a infância. O lugar e classe econômica em que se nasce, a possibilidade de adquirir bens de consumo e quanto tempo se passa na internet ou televisão, atualmente, influenciam a forma de a criança ver e entender o mundo, assim como a maneira que ela vive sua infância. Hoje, como há mais tecnologia à disposição, as crianças estão mais vulneráveis a ela. De alguma forma, e indiferentemente da classe social em que vivem, elas têm contato com a televisão, jogos e internet, o que pode acarretar diversas transformações em seu modo de agir e na formação de valores. De acordo com algumas pesquisas (MEDEIROS, 2001; SOUZA, 2003; BELLONI, 2004; entre outras) vários jogos, brinquedos ou músicas veiculados inúmeras vezes nas mídias podem levar a criança a condutas que não condizem com sua faixa etária ou à banalização de sentimentos e falta de empatia em relação ao outro. Desta forma, o acesso às tecnologias influi diretamente no modo como as crianças vivem e pensam o mundo e o outro. 4.3.1 O papel das tecnologias na infância Em pesquisa realizada pela AVG Technologies em 2016 com famílias de todo o mundo, 66% das crianças entre três e cinco anos de idade conseguiam usar jogos de computador, 47% sabiam como usar um smartphone, mas apenas 14% eram 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 13/28 capazes de amarrar os sapatos sozinhos. No caso das crianças brasileiras, o levantamento apontou que 97% das crianças entre seis e nove usam a internet, e 54% têm perfil no Facebook (PLANALTO, 2017). As crianças são vulneráveis aos apelos da mídia, por serem ainda indivíduos em formação. Em 2014, foi promulgada a Resolução 163, que proíbe o direcionamento à criança de anúncios impressos, comerciais televisivos, spots de rádio, banners e sites, embalagens, promoções, merchandising, ações em shows e apresentações e nos pontos de venda. Em contrapartida, uma pesquisa feita pelo IBOPE em 2016 aponta que “anunciantes do setor de brinquedos e acessórios veicularam mais de sete mil comerciais no mês que antecedeu o Dia das Crianças” (IBOPE, 2016, p. 1), isso apenas na televisão aberta, sem contar a publicidade nas redes fechadas e internet. Figura 5 - Atualmente, crianças muito pequenas já têm familiaridade em mexer no computador, tablet ou celular, mostrando que a tecnologia não tem limitação de idade. Fonte: Suriyachan, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 14/28 Sendo assim, a resolução não teve impacto na maneira como é feita a publicidade nos canais abertos de televisão, assim como o crescimento de produtos com detalhes de personagens infantis, como materiais de papelaria, alimentação e vestimentas está em grande ascensão no mercado. O livro "Crescer na Era das Mídias Eletrônicas", de David Buckingham (2007), é baseado em extensas pesquisas e lança um novo olhar às preocupações já estabelecidas sobre os efeitos das mídias nas crianças. O autor trata a questão de modo desafiador e revigorante, envolvendo pesquisadores, familiares, educadores, produtores de mídia e planejadores. O mesmo pode ser dito sobre uma erotização precoce das crianças a partir dos meios de comunicação, sendo que algumas propagandas ou programas televisivos mostram determinadas cenas que não são indicadas para o público mais jovem, assim como alguns brinquedos explicitam sexualidade e padrões de conduta em suas formas. Algumas campanhas publicitárias estimulam de forma precoce a erotização infantil: programas de televisão estimulam a sexualidade das crianças através de concursos de dança com músicas e coreografias insinuantes, apresentadoras de programas posam nuas para revistas, maquiagens para crianças estão cada vez mais sofisticadas, bonecas com corpos magros, seios grandes e muitas trocas de roupas são vendidas para qualquer faixa etária, revistas exploram os corpos das crianças com roupas e acessórios que se adequariam ao público adulto, entre outras inúmeras situações (SANTOS, 2009, p. 7). Destarte, o consumismo infantil também está intimamente ligado à forma pela qual a criança se enxerga ou como é vista pelos outros. Além do fato de alguns brinquedos demonstrarem padrões de vestimenta, corpos ou maneiras de ser às crianças, há as disputas por quem tem mais coisas de determinados personagens, brinquedos que são “presenteados” àqueles que têm condições de comprar VOCÊ QUER LER? 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 15/28 determinados lanches, assim, as crianças são levadas a ter ideias sobre si mesmas e do outro sob a neblina das diferenças, daquele que tem ou não tem, daquele que é ou não é, o que leva a uma desigualdade criada no plano do consumo, diferenciando aqueles que têm condições de consumir determinados produtos e aqueles que não têm. Alguns autores também culpabilizam a exposição à mídia e às tecnologias a uma banalização da agressividade ou características violentas nas crianças. “O conteúdo da mídia oferece uma orientação, uma estrutura de referência que determina a direção do próprio comportamento do sujeito. A mídia estimula e reforça modelos, principalmente entre as crianças” (MEDEIROS, 2001, p. 36). Belloni (2004) trata como a mídia passa imagens de uma violência generalizada através de filmes de guerras, lutas e modos de comportamento agressivos, contribuindo para: [...] criação e consolidação de uma cultura jovem mundializada, cujas características mais marcantes podemos assim resumir: consumismo, narcisismo, banalização da violência como imagem do mundo urbano contemporâneo, legitimação do uso de meios violentos como forma de resolver conflitos, tudo isto levando à dessensibilização dos jovens com relação a cenas de violência física e psíquica e sua consequência, o sofrimento do outro (BELLONI, 2004, p. 579). Souza (2003), em sua pesquisa sobre a implicação da televisão em uma naturalização da violência, defende que os discursos da mídia estimulam a construção, por parte do sujeito, de representações sobre o mundo e sobre ele próprio,orientadas a partir de um sentido único, ou seja, a televisão apresenta ao sujeito um mundo que não é o dele, assim como sensações e experiências que o espectador realmente não vivencia, homogeneizando sentimentos e fazendo com que uma grande parcela da população sinta e viva as mesmas coisas de forma estereotipada. A televisão oferece ao telespectador a ilusão de que ele se vincula a inúmeras pessoas através do seu acesso a informações sobre as mais variadas situações. Esse processo acontece, pois o discurso televisivo assume para o sujeito o papel de portador de significados ao veicular imagens e discursos construídos acerca dessas 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 16/28 imagens, ou seja, a interpretação oferecida acerca de uma situação vem corroborada pela verdade das imagens, dificultando a possibilidade de construção de outros enunciados sobre elas (SOUZA, 2003, p. 85). E é dessa forma que a violência, assim como outras formas de mostrar o mundo criadas pela mídia, se torna naturalizada, já que, segundo a autora, essa forma subjetiva de encarar e entender certos fatos possibilita que o sujeito encare como única e verdadeira as várias interpretações acerca do mundo conseguidas a partir da mídia. “Acreditamos que a violência secundária se manifeste através do trabalho do discurso televisivo, ao transportar o telespectador do mundo espaço- temporal para o mundo temporal das experiências mediatizadas” (SOUZA, 2003, p. 87). Deve-se ter em mente que as tecnologias não são as únicas responsáveis pelos hábitos de consumo e comportamento infantil, mas principalmente os adultos e a sociedade, que caminham cada vez mais rápido em direção a uma vida com a maior parte do tempo dedicado ao trabalho e ao uso incessante da internet e televisão, passando esses valores e modos de vida às crianças. Se criança é um ser social, ela está exposta aos modos de viver da sociedade que está à sua volta desde o nascimento e direcionará seu entendimento de mundo a partir daquilo que ela vê, ouve e vive diariamente a partir e com o outro, sendo assim, é essa mesma sociedade que deve estar atenta ao que está ensinando e mostrando às crianças, assim como cuidar daquilo que é mostrado a elas através da televisão e internet. As tecnologias vieram para ficar. Privar a criança do contato com a televisão ou internet é algo que hoje beira o impossível, porém, cuidar da forma que essa exposição é feita é o desafio – e responsabilidade – dos adultos que permeiam a vidas de crianças e adolescentes. 4.4 O brincar e as brincadeiras na constituição do ser criança em diferentes tempos e espaços culturais 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 17/28 Hoje, entende-se que o brincar é mais do que momento de diversão para a criança, mas é forma de entendimento e ressignificação. Através da brincadeira, as crianças estabelecem relações, criam e vivem papéis sociais na tentativa de entender o mundo à sua volta e criar sobre ele. Porém, esse entendimento é recente, até bem pouco tempo atrás, o brincar era reconhecido como passatempo, forma simples de interação, tempo perdido. A partir de estudos e pesquisas (BRITO, 2015; BROUGÈRE, 2001; KISHIMOTO, 1996; 2002), hoje damos a devida importância à brincadeira, compreendendo que essas relações no brincar acontecem desde o nascimento do bebê, de maneira que ela é importante parte do processo de entendimento de mundo e significação de conhecimento da criança. 4.4.1 O brincar como possibilidade de ação no mundo De acordo com Laevers (2014, p. 159), é na brincadeira que as crianças encontram o envolvimento. Quando brincam, elas mostram sinais de satisfação, expressam sentimentos positivos, há um prazer explícito e implícito nas coisas que fazem e nas quais se envolvem, ou seja, demonstram bem-estar. Desta forma, se faz importante tratar sobre o conceito de brincar que, resumidamente, se baseia na ideia de Brougère (1998, p. 19) que a entende como “uma atividade dotada de uma significação social precisa que, como outras, necessita de aprendizagem”. Sendo assim, e entendendo a criança como ser histórico e social, pode-se afirmar que a criança apreende o brincar a partir das relações estabelecidas com as pessoas à sua volta desde o momento em que nasce e entra em contato com o mundo e com o outro. 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 18/28 Brougère (1998) escreve que o bebê começa a se inserir no jogo em seu primeiro contato com a mãe, primeiro como brinquedo e depois como parceiro, então, inicia-se sua compreensão do mundo a partir do brincar em experiências não apenas reproduzidas, mas “recriadas a partir do que a criança traz de novo, com o seu poder de imaginar, criar, reinventar e produzir cultura.” (BRASIL, 2007, p. 34). O livro "Jogo e Educação", de Gilles Brougère (1998), trata das relações entre jogo e educação, procedendo a uma profunda análise para chegar às suas conclusões acerca do lugar do jogo no universo infantil e na natureza humana. Vale conferir! Figura 6 - A criança brinca e interage com o outro na busca de entender sua realidade desde o nascimento. Fonte: VojtechVlk, Shutterstock, 2018. VOCÊ QUER LER? Deslize sobre a imagem para Zoom 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 19/28 A brincadeira é a primeira possibilidade de ação da criança, numa esfera cognitiva que permite a ela ultrapassar a dimensão perceptiva motora do comportamento. O brinquedo concede as estruturas básicas necessárias para as mudanças das necessidades e da consciência infantil, vivenciando uma experiência, no ato de brincar, como se fosse bem maior do que realmente é. A infância é, consequentemente, um momento de apropriação de imagens e de representações diversas que transitam por diferentes canais. As suas fontes são muitas. O brinquedo é, com suas especificidades, uma dessas fontes. Se ele traz para a criança um suporte de ação, de manipulação, de conduta lúdica, traz-lhe, também, formas e imagens, símbolos para serem manipulados (BROUGÈRE, 2001, p. 40-41). Para Vygotsky (1984), a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento do educando, ou seja, a memória, a atenção, percepção e o raciocínio lógico. O brinquedo, então, é uma ferramenta extremamente importante para o processo de ensino aprendizagem, uma vez que, por meio deste, é possível levar a criança a novos conhecimentos. Na abordagem histórico-cultural de Vygotsky, o brinquedo (fazendo referência ao ato de brincar) não é só uma atividade que dá prazer à criança, pois muitas outras atividades também o proporcionam e não são consideradas brinquedo. Também não é o fato de existir prazer em certa atividade que vai determiná-la como jogo. Entre as características do brinquedo, segundo o autor, está a satisfação de necessidades com a realização de desejos que não poderiam ser imediatamente satisfeitos, pois o brinquedo seria um mundo ilusório, onde qualquer desejo pode ser realizado. A situação imaginária, assim como as regras, é característica sempre presente no brinquedo (NAVARRO; PRODÓCIMO, 2012, p. 636). Ao brincar, as crianças têm a possibilidade de adentrar em mundos que, fora da brincadeira, talvez não lhes fosse possível. É, então, característica do brincar explorar novas possibilidades, ser outras pessoas, experimentar situações fora de sua zona de conforto, enfim, fazer coisas que o sujeito deseja, ou quer compreender melhor, de uma maneira confortável e lúdica. 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 20/28 A promoção de atividades que favoreçamo envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola pode se utilizar deliberadamente desse tipo de situação para atuar no processo de desenvolvimento das crianças. Observe o exemplo descrito no caso a seguir. CASO Creche pública, crianças de quatro anos de idade, a professora está em momento de acolhimento das crianças e as permite brincar livremente enquanto vai fazendo a entrada da turma. Logo, uma criança se aproxima da professora e pede que brinque junto, pois precisam de um médico no hospital. Por ainda possuir alguns minutos até que chegue mais uma criança, a professora atende ao pedido e vai até um grupo que está brincando de hospital. Imediatamente, lhe dão um jaleco e recomeçam a brincadeira já aceitando a professora como o médico. Neste momento, a professora pega uma injeção e finge aplicar em um paciente, quase que imediatamente, uma criança grita “Não!”. Assustada, a professora se vira e pergunta o que aconteceu. A criança responde que ela não pode dar injeção sem antes examinar o paciente e ver qual a doença dele, às vezes nem há necessidade de injeção. Neste momento, a professora percebe que, na pressa, se esqueceu de que a brincadeira é uma representação daquilo que a criança conhece, na busca de entender e conhecer o mundo que a cerca e há uma lógica social no atendimento médico que deve ser respeitado também na brincadeira. O brincar sempre fez parte do cotidiano infantil, mas nem sempre lhe foi dada a devida importância. Durante muito tempo o brinquedo era visto apenas como uma forma de dar prazer às crianças, e era apenas com esse intuito que pais e escolas incentivavam as crianças a brincar. No entanto, hoje, pesquisas e estudos comprovam que definir o brinquedo apenas como uma atividade prazerosa não é correto (SILVA; SANTOS, 2009; NAVARRO; PRODÓCIMO, 2012). 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 21/28 O ato de brincar não é somente “o brincar por brincar”, mas sim o que ela representa para quem brinca. Kishimoto (2002) lembra que o brincar era considerado uma atividade oposta ao que é sério, isto é, a brincadeira não era vista como uma prática que proporcionava às crianças um repertório de informações e experiências. Porém, o brincar está em uma dimensão valorizada no desenvolvimento do aprender, abrangendo crianças e adultos, elevando-os a patamares ainda maiores pelo brincar e representando a necessidade de conhecer, construir e de descontrair, em um mundo real ou simbólico cheio de momentos maravilhosos que só acontece através do brincar. Tizuko Morchida Kishimoto é professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, estuda o jogo e as brincadeiras na infância há mais de 40 anos, tendo uma amplitude de livros e artigos publicados sobre o tema. Para mais informações, acesse: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4790126Y8 (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4790126Y8)>. O brinquedo facilita a apreensão da realidade e é muito mais um processo do que um produto. Exige movimentação física, envolvimento emocional, além do desafio mental que provoca. O brinquedo possibilita a emergência de comportamentos espontâneos e improvisados, ele é a essência da infância, veículo do crescimento, um meio extremamente natural que possibilita à criança explorar seu mundo, possibilitando as descobertas, o entendimento, conhecer os seus sentimentos, suas ideias e sua forma de reação. Numa situação imaginária com a brincadeira de faz de conta [...] a criança é levada a agir num mundo imaginário (o ônibus que ela está dirigindo na brincadeira, por exemplo) em que a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira (o ônibus, o motorista, o passageiro etc) e não pelos elementos reais concretamente presentes (as cadeiras da sala onde está brincando de ônibus, as bonecas etc). [...] VOCÊ O CONHECE? http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4790126Y8 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 22/28 Mas além de ser uma situação imaginária, o brinquedo é também uma atividade regida por regras. Mesmo no universo de faz de conta, há regras que devem ser seguidas (OLIVEIRA, 1993, p.172). A importância do brinquedo não deve ser ignorada, ao contrário, a criança precisa se sentir livre para criar suas brincadeiras ao mesmo tempo em que é desenvolvida sua interação social. “A brincadeira é um processo de relações da criança com o brinquedo, com outras crianças e com os adultos, portanto, um processo de cultura” (PORTO, 1998, p. 189). Figura 7 - Ao brincar, a criança imagina situações e cria representações baseadas naquilo que já conhece. Fonte: Gladskikh, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 23/28 Sendo assim, as brincadeiras possibilitam a compreensão da realidade por meio da representação simbólica do ato de brincar. A criança imagina situações, cria, inventa, porém, todas as suas criações possuem base em sua realidade, ou seja, em algo conhecido. “Sendo assim, a brincadeira, para quem a organiza, é algo sério, já que precisa ser planejada [...]” (BELTHER, 2017, p. 89). O professor que assume a concepção de criança que tem saberes, é curiosa e investigadora deve estar atento a essas brincadeiras e a essas maneiras de as crianças montarem, recriarem e compreenderem o mundo através do brincar. É através de observações das brincadeiras livres que se faz o planejamento e se organiza o currículo com intencionalidade, ou seja, baseados naqueles saberes que as crianças já têm e naqueles que elas almejam. O brincar, então, não se estende apenas às percepções sensoriais ou como maneira de satisfazer curiosidade, mas é atividade social e historicamente produzida, na qual a pessoa mais experiente atribui sentido ao que está à volta da criança e esta, em contrapartida, se apropria desta interpretação e a ressignifica a partir de seu entendimento e “suas características singulares” (ZANELLA; ANDRADA, 2002, p. 127). Desta forma, podemos concluir que o brinquedo tem grande influência no desenvolvimento das crianças, já que essa atividade possibilita uma bagagem cultural que resultará na formação do futuro adulto. Sendo assim, é fundamental e insubstituível a mediação do professor. Ele é capaz de proporcionar a dimensão pedagógica e significado ao brinquedo ao propor situações que garantam o envolvimento do bebê e seu bem-estar na creche, possibilitando, desta forma, que as crianças cresçam compreendendo e ressignificando a cultura em que estão imersas e o mundo em que vivem e atuem como cidadãos plenos de seus direitos e deveres sociais. Síntese Concluímos o estudo referente às infâncias no mundo contemporâneo. Agora você já sabe que as crianças vivem suas infâncias a partir do outro e das relações que estabelece socialmente, compreendendo que a maneira como a sociedade vive, 30/04/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 24/28 assim como os valores que exprime, influem diretamente na forma pela qual a criança conhece e entende o mundo que a cerca. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: observar os resultados de pesquisas que estudam a criança em sua capacidade de fazer escolhas e estabelecer relações; conhecer melhor os direitos das crianças, e se estes são ou não legitimados socialmente; constatar que a garantia de direitos depende da classe social e econômica; identificar as consequências positivas e negativas que o avanço tecnológico traz para a infância; compreender que a criançaentende o mundo a partir do brincar e da brincadeira. Referências bibliográficas ALANA. Criança e Consumo, 2016. Disponível em: <http://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/ (http://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/)>. Acesso em: 09/03/2018. BELLONI, M. Infância, máquinas e violência. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 87, p. 575-598, maio/ago. 2004. 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