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Dissertacao Rugero Guibo

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Prévia do material em texto

ANTONIO RUGERO GUIBO 
 
 
 
 
 
 
 
A IMUTABILIDADE DA CAUSA DE PEDIR E O 
FATO SUPERVENIENTE NO PROCESSO CIVIL 
BRASILEIRO 
 
 
 
Dissertação apresentada à Banca 
Examinadora da Pontifícia 
Universidade Católica de São 
Paulo, como exigência parcial para 
obtenção do título de MESTRE em 
Direito (Direito das Relações 
Sociais), sob a orientação do 
Professor Livre-docente Doutor 
Sérgio Seiji Shimura. 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2005 
 i
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
 
 
 
 
 ii
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Sílvia, 
minha esposa. 
 
e ao pequeno César, 
meu filho. 
 
Porque me inspiram a buscar o 
que há de melhor em mim. 
 
 
 
 iii
 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar, a meus pais, José Guibo e Maria 
Amakaho Guibo, que desde cedo me ensinaram o valor do estudo e 
do trabalho. 
À minha esposa Sílvia, pelo irrestrito apoio ao longo 
do curso de mestrado e por compreender e aceitar os momentos em 
que o estudo privou-me do convívio famil iar. 
Ao amigo Joaquim Portes de Cerqueira César, com 
quem tive a honra de trabalhar na Assessoria Jurídica do Banco do 
Brasil em São Paulo, que me incentivou a ingressar no curso de 
mestrado e com quem muito aprendi e continuo aprendendo a 
respeito da advocacia e da vida. 
E, f inalmente, um agradecimento especial ao 
Professor Sérgio Seij i Shimura, que muito me honrou ao aceitar-me 
como seu orientando, pela generosa atenção e paciência com que me 
auxil iou na elaboração deste trabalho, dando-me, assim, o privilégio 
de contar com o seu incentivo fraterno, suas crít icas sempre 
enriquecedoras e suas indicações sempre muito precisas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 iv
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho volta-se para o estudo da tensão existente entre, de 
um lado, o imperativo da estabilização da demanda, segundo o qual é vedado ao 
autor alterar a causa petendi, e de outro, o reconhecimento de que os fatos 
supervenientes devem ser tomados em consideração pelo juiz, influindo, assim, 
no julgamento da lide. 
Busca-se, primeiramente, examinar a origem e evolução histórica da causa 
petendi, como elemento identificador da ação, para chegar ao estudo da temática 
da estabilização da demanda, tanto no direito comparado quanto no direito 
positivo brasileiro. 
Passa-se, então, à análise do problema tal como se apresenta no 
ordenamento processual em vigor, quando se traça um paralelo com um instituto 
bastante correlato, porém distinto, que é o princípio da eventualidade. Examinam-
se, ainda, as diferentes implicações decorrentes da eficácia preclusiva da coisa 
julgada, conforme se trate de fato superveniente que beneficie o autor ou o réu, 
bem como a relação da temática da estabilização da demanda com os princípios 
da congruência e da causalidade. 
Por fim, coloca-se a questão sob a ótica da teoria dos recursos. 
O objetivo do presente trabalho é buscar uma sistematização dos conceitos 
envolvidos, de modo a harmonizar as normas tendentes à estabilização da 
demanda, em face da necessidade de lidar com o fato superveniente. Sem 
prejuízo da discussão quanto aos aspectos teóricos, pretende-se não perder de 
vista o interesse prático na busca de critérios aptos a tornar operável, coerente e 
eficiente o conjunto formado pelos institutos mencionados, com vistas a delimitar 
o exato alcance do postulado da imutabilidade da causa de pedir no direito 
processual civil brasileiro, em face da ocorrência de fatos supervenientes. 
 
 
 
 
 
 
 v
 
ABSTRACT 
 
The present work is related to the study of the tension between, on one 
side, the necessity of the steadiness of the dispute by which the claimant is not 
allowed to modify the cause of action, and on the other side, the recognition that 
the new facts have to be taken into consideration by the judge, thus interfering on 
the judgement of the lawsuit. 
The main goal is to examine the origin and historic evolution of the cause of 
action as the identifying element of the lawsuit, to arrive at the study of the 
steadiness of the dispute theme in the comparative law, as well as in the Brazilian 
statutory law. 
Further, the problem is analyzed as the way it is presented in the current 
civil proceeding’s system, where a parallel is made with a very similar but not 
identical institute, the contingency principle. Also the different implications of the 
preclusive characteristic of the res judicata are analysed, if it is related to a new 
fact which benefits the claimant and the defendant, as well as the relation of the 
steadiness theme of the lawsuit with the congruency and causality principles. 
Finally, the question is posed from the appeal theory point of view. 
The purpose of the present work is to seek a systematization of the 
concepts involved which allows the harmonization of the rules which will take to 
the steadiness of the lawsuit, due to the necessity of dealing with the new fact. 
Without prejudice to the discussion in respect to the theoretical aspects, it is 
intended not to lose track of the practical interest of seeking criteria capable of 
making operable, coherent and efficient the group formed by the above mentioned 
institutes, with the view to delimitate the exact reach of the immutability of the 
cause of action in the Brazilian civil proceeding’s system, due to the appearance of 
new facts. 
 
 
 
 
 
 
 
 vi
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 1 
 
1. GENERALIDADES.................................................................................................................
 
6 
 1.1 A individuação da demanda......................................................................................... 6 
 1.1.1 Teoria da identidade da relação jurídica .......................................................... 7 
 1.1.2 Teoria da tríplice identidade................................................................................ 8 
 1.2 A causa de pedir como um dos elementos individualizadores da demanda........... 10 
 1.3 O conteúdo da causa de pedir ..................................................................................... 12 
 1.3.1 Teoria da individualização.................................................................................. 13 
 1.3.2 Teoria da substanciação..................................................................................... 18 
 1.3.3 O ponto de afastamento entre ambas as teorias.............................................. 21 
 
2. COLOCAÇÃO DO PROBLEMA – A ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA E O FATO 
SUPERVENIENTE.............................................................................................................. 
 
 
23 
 2.1 A estabilização da demanda........................................................................................ 23 
 2.1.1 Alguns aspectos conceituais .......................................................................... 23 
 2.1.2 Fundamentos da estabilização da demanda ................................................... 26 
 2.2 Sistemas rígidos e flexíveis ........................................................................................ 28 
 2.3 A imutabilidade da ação e o fato superveniente........................................................ 31 
 
3. CAUSA DE PEDIR – EVOLUÇÃO HISTÓRICA...................................................................
 
33 
 3.1 Direito romano.............................................................................................................. 33 
 3.2 Direito romano visigótico............................................................................................. 37 
 3.3 Idade média e direito comum......................................................................................38 
 3.4 Difusão do pensamento jurídico romano-canônico nos Estados Monárquicos 
da Península Ibérica – Espanha e Portugal..............................................................
 
41 
 
4. A ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO COMPARADO...............
 
44 
 4.1 Nos países socialistas................................................................................................. 44 
 4.2 Direito inglês................................................................................................................. 45 
 4.3 Direito alemão............................................................................................................... 46 
 4.4 Direito italiano .............................................................................................................. 49 
 4.5 Direito espanhol............................................................................................................ 53 
 4.6 Direito português ......................................................................................................... 55 
 
 vii
5. A ESTABILIZAÇÂO DA DEMANDA E O CONTEÚDO DA CAUSA DE PEDIR NO DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO.................................................................................................. 
 
60 
 
 5.1 Evolução legislativa.................................................................................................... 60 
 5.1.1 Ordenações Filipinas........................................................................................ 60 
 5.1.2 Regulamento 737............................................................................................... 61 
 5.1.3 Os códigos de processo civil estaduais......................................................... 61 
 5.1.4 O Código de Processo Civil de 1939............................................................... 63 
 5.1.5 O Código de Processo Civil de 1973............................................................... 64 
5.2 Substanciação e individualização – posicionamento da doutrina brasileira 
quanto ao conteúdo da causa de pedir ................................................................... 
 
65 
 5.2.1 A doutrina majoritária – adoção da teoria da substanciação....................... 65 
 5.2.2 A posição de José Ignácio Botelho de Mesquita........................................... 70 
 5.2.3 A posição de Ovídio Baptista da Silva............................................................. 71 
 5.2.4 A natureza do direito material envolvido, como critério para definir a 
necessidade de substanciação dos fatos.......................................................
 
72 
 5.3 O artigo 264 do Código de Processo Civil e a imutabilidade da causa de pedir .. 74 
 
 
6. O CONHECIMENTO DO FATO SUPERVENIENTE NA SENTENÇA – ART. 462 DO CPC 
 
 
77 
 
 6.1 Antecedentes............................................................................................................... 77 
 6.2 Fundamentos para a consideração dos fatos supervenientes na sentença.......... 79 
 6.3 Fato superveniente e direito superveniente............................................................... 81 
 
 
7. HARMONIZAÇÃO DOS ARTIGOS 264 E 462 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL...........
 
 
85 
 7.1 Colocação do problema................................................................................................ 85 
 7.2 Verdade real e verdade formal...................................................................................... 86 
 7.3 A natureza instrumental do processo e a tensão entre os princípios dispositivo, 
da estabilização da demanda e da economia processual..........................................
 
87 
 
 
8. ALTERAÇÃO DO FUNDAMENTO JURÍDICO DA DEMANDA............................................
 
 
92 
 8.1 Causa de pedir próxima e causa de pedir remota..................................................... 92 
 8.2 Definição de fundamento jurídico do pedido............................................................. 94 
 8.3 O fundamento legal da demanda................................................................................ 95 
 8.4 A mutabilidade do fundamento jurídico da demanda – iura novit curia e naha 
mihi factum dabo tibi ius............................................................................................
 
97 
 8.5 A máxima iura novit curia e o princípio do contraditório ....................................... 101 
 8.6 A apreciação de fundamento jurídico novo e o princípio da demanda................... 103 
 
 
 
 
 viii
9. ALEGAÇÃO DE FATOS SECUNDÁRIOS............................................................................ 107 
 9.1 Distinção entre fatos principais e fatos secundários................................................ 107 
 9.2 Os fatos principais e a imutabilidade da causa petendi........................................... 110 
 9.3 Os fatos secundários e o problema do conteúdo da causa de pedir...................... 111 
 9.4 Os fatos secundários e os poderes instrutórios do juiz........................................... 113 
 
10. O FATO SUPERVENIENTE – CONHECIMENTO DE FATOS CONSTITUTIVOS, 
MODIFICATIVOS OU EXTINTIVOS DO DIREITO DO AUTOR – CPC, ART. 462............
 
 
115 
 
 10.1 Distinção entre fato novo e fato superveniente........................................................ 117 
 10.2 O fato superveniente e o problema da identificação da ação................................. 120 
 10.3 A relação jurídica como parâmetro para delimitar a possibilidade de 
conhecimento do fato superveniente....................................................................... 
 
125 
 10.4 Classificação dos fatos supervenientes e considerações acerca de cada 
modalidade.................................................................................................................. 
 
127 
 10.4.1 O fato superveniente constitutivo................................................................... 128 
 10.4.2 O fato superveniente modificativo.................................................................. 133 
 10.4.3 O fato superveniente extintivo......................................................................... 134 
 10.5 O conhecimento do fato superveniente de ofício..................................................... 135 
 10.5.1 Conhecimento do fato superveniente de ofício e o princípio da 
imparcialidade ...............................................................................................
 
135 
 10.5.2 Conhecimento do fato superveniente de ofício e o princípio do 
contraditório...................................................................................................
 
137 
 
11. SITUAÇÕES PECULIARES – CAUSA DE PEDIR NAS AÇÕES POSSESSÓRIAS E NA 
TUTELA ESPECÍFICA DAS OBRIGAÇÕES DE DAR, FAZER E NÃO FAZER................
 
 
139 
 
 11.1 A fungibilidade das ações possessórias e a alteração dos elementos objetivos 
da demanda ................................................................................................................ 
 
139 
 11.2 Alteração da causa de pedir na tutela específica das obrigações de dar, fazer e 
não fazer...................................................................................................................... 
 
141 
 
12. O FATO SUPERVENIENTE E O PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA.................................. 
 
144 
 12.1 O princípio da congruência....................................................................................... 144 
 12.2 A alteração da causa de pedir e o princípio dacongruência................................ 145 
 12.3 O fato superveniente e a mitigação do princípio da congruência........................ 146 
 12.4 Síntese das conclusões sobre o tema..................................................................... 148 
 
13. O PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE E O FATO SUPERVENIENTE................................
 
149 
 13.1 Correspondência entre o princípio da estabilização da demanda e o princípio 
da eventualidade.........................................................................................................
 
150 
 13.2 Alcance da expressão “direito superveniente”..................................................... 153 
 13.3 A possibilidade de alegações incompatíveis entre si e o princípio da lealdade 
processual................................................................................................................
 
155 
 ix
 13.4 O princípio da eventualidade e o princípio do contraditório ................................ 157 
 13.5 O princípio da eventualidade e o princípio da economia processual................... 159 
 
14. DISTINÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE DA CAUSA DE PEDIR E O 
PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE. RAZÕES QUE JUSTIFICAM TRATAR DE MODO 
DIFERENTE A POSSIBILIDADE DE ALEGAÇÃO DE FATO SUPERVENIENTE PELO 
AUTOR E PELO RÉU.........................................................................................................
 
 
 
161 
 
 14.1 O problema da identificação da ação....................................................................... 161 
 14.2 Diferenças entre as posições do autor e do réu em face da eficácia preclusiva 
da coisa julgada.......................................................................................................... 
 
162 
 14.2.1 Considerações gerais a respeito da eficácia preclusiva da coisa jugalda 163 
 14.2.2 A insuficiência da teoria da tríplice identidade em face dos problemas 
decorrentes da eficácia preclusiva da coisa julgada .................................
 
167 
 14.2.3 O maior rigor do artigo 474 do Código de Processo Civil em relação ao 
demandado.....................................................................................................
 
170 
 14.3 O conhecimento novo de fato velho. Possibilidade de alegação pelo réu e 
impossibilidade pelo autor, na mesma ação.........................................................
 
171 
 14.4 Matérias cognoscíveis de ofício e que podem ser alegadas pelo réu a 
qualquer tempo – art. 303, incisos II e III. Possibilidade de alegação pelo 
autor, somente se relativas a fato ocorrido após a estabilização da demanda 
 
 
175 
 
15. FATO SUPERVENIENTE E CAUSALIDADE. TENTATIVA DE SISTEMATIZAÇÃO 
DOS ARTIGOS 22, 462 E 303, INCISOS I, II E III, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 
 
 
179 
 
 15.1 O artigo 22 do Código de Processo Civil e o princípio da causalidade............ 179 
 15.2 Distinção entre as hipóteses previstas nos artigos 22 e 462 do Código de 
Processo Civil .........................................................................................................
 
183 
 15.3 Condenação em custas e perda do direito aos honorários de sucumbência e 
as hipóteses previstas no artigo 303, incisos I, II e III do Código de Processo 
Civil........................................................................................................................... 
 
 
185 
 15.3.1 O artigo 22 do Código de Processo Civil e o direito superveniente 
(art. 303, inciso I, do Código de Processo Civil)......................................
 
187 
 15.3.2 Incidência do artigo 22 do Código de Processo Civil nas hipóteses de 
alegação tardia de matérias que o juiz possa conhecer de ofício (art. 
303, inciso II), ou que possam, por autorização expressa da lei, ser 
alegadas a qualquer tempo (art. 303, inciso III) ...................................... 
 
 
 
191 
 15.3.3 Distinção entre a inércia culposa prevista no artigo 22 e a litigância 
de má-fé prevista nos artigos 17 e 18 do Código de Processo Civil..... 
 
195 
 
16. DO CONHECIMENTO DO FATO SUPERVENIENTE EM GRAU DE APELAÇÃO........... 
 
197 
 
17. DO CONHECIMENTO DO FATO SUPERVENIENTE EM SEDE DE RECURSO 
EXCEPCIONAL.................................................................................................................. 
 
 
203 
 
 
 
 
 
 x
18. PROPOSTAS DE ABRANDAMENTO DA RIGIDEZ IMPOSTA PELO REGIME DA 
ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA E PELO PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE NO 
PROCESSO CIVIL BRASILEIRO.......................................................................................
 
 
207 
 18.1 A necessidade de flexibilização............................................................................... 207 
 18.2 Sugestões formuladas pela doutrina....................................................................... 209 
 18.2.1 Inserção, no Código de Processo Civil, de dispositivo semelhante ao 
artigo 384 do Código de Processo Penal ................................................... 
 
209 
 18.2.2 Valorização da audiência preliminar prevista no artigo 331 do Código 
de Processo Civil, como momento para fixação dos termos da 
controvérsia e estabilização da demanda .................................................. 
 
 
210 
 18.2.3 Alteração consensual da causa petendi e do pedido.................................. 212 
18.2.4 Releitura da visão tradicional de estabilização da demanda, à luz do 
reconhecimento da supremacia do princípio do acesso à justiça............
 
213 
 
CONCLUSÕES..........................................................................................................................
 
219 
 
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 
 
233 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xi
 1
INTRODUÇÃO 
 
O processo começa com a iniciativa do autor e se completa com a 
citação do réu. Na petição inicial, o autor deve, desde logo, especificar o pedido, 
bem como os fatos e os fundamentos jurídicos que o embasam. Feita a citação, o 
autor somente poderá modificar o pedido ou a causa de pedir com o 
consentimento do réu e, após o saneamento do processo, é vedada a alteração 
de tais elementos. 
Isso significa que, no processo civil brasileiro, vige o princípio da 
imutabilidade da ação, uma vez que, após a fase de saneamento (art. 264 do 
CPC), tornam-se inalteráveis seus elementos subjetivos e objetivos, com o que se 
verifica o fenômeno conhecido como estabilização da demanda. 
Dentre os elementos objetivos, encontra-se a causa petendi, que em 
nosso ordenamento compreende tanto os fatos quanto os fundamentos jurídicos 
do pedido. Daí decorre que, após a estabilização da demanda, é vedado, em 
princípio, introduzir fatos jurídicos que não foram deduzidos no momento 
apropriado. 
O princípio da imutabilidade da ação e a conseqüente estabilização 
da demanda guardam relação com o princípio dispositivo, pois, a partir dos 
elementos constantes da petição inicial, delimita-se o exato campo sobre o qual 
atuará a jurisdição. Diz respeito também ao princípio do contraditório, uma vez 
que é quanto aos fatos alegados e ao pedido formulado na inicial que o réu 
elaborará sua defesa. Relaciona-se, ainda, com a busca da celeridade da 
 2
prestação jurisdicional, já que a permissão de sucessivas idas e vindas no 
procedimento, em virtude da introdução de fatos novos, tornaria mais demorado o 
desfecho do processo. 
Nada obstante o princípio da imutabilidade da ação atender a uma 
necessidade até mesmo de natureza lógica do processo, concebido como uma 
sucessão ordenada de atos que deve orientar-se para uma resposta do órgão 
estatal em face da pretensão deduzidapelo autor, não se pode deixar de 
reconhecer que a realidade social concreta, da qual se origina a lide e sobre a 
qual deve incidir a tutela jurisdicional, não será imutável jamais. 
Nesse sentido, uma vez que o processo se desenvolve ao longo do 
tempo, é muito provável que haja transformações na realidade que interfiram 
tanto no complexo fático que constitui a causa de pedir, quanto na efetividade da 
futura prestação jurisdicional. 
Em função disso, o legislador vê-se obrigado a lidar com o problema 
do tempo no processo, o qual desafia a doutrina com importantes 
questionamentos que podem ser desdobrados em duas ordens. 
A primeira diz respeito às mudanças no contexto fático, que 
ameaçam a efetividade da prestação jurisdicional. Nesse caso, lança-se mão das 
chamadas tutelas de urgência, cujo alcance amplia-se a cada dia, para fazer 
frente aos problemas crônicos de morosidade da justiça. 
Já a segunda ordem de questões diz respeito às alterações no 
mundo dos fatos que interferem no próprio julgamento da ação, quando adquire 
 3
relevância o estudo do assim chamado fato superveniente e suas implicações no 
que se refere à estabilização da demanda. 
Verifica-se, ainda, que a primeira ordem de questões tem sido objeto 
de grande interesse por parte da doutrina atual, preocupada sobremaneira com a 
temática da efetividade da tutela jurisdicional. 
Por outro lado, diferentemente, a temática atinente ao fato 
superveniente e à estabilização da demanda não tem sido tão freqüentada pela 
doutrina mais recente. Entretanto, tais assuntos também parecem merecer 
estudo, uma vez que se cuida de institutos antigos e basilares do Processo Civil, 
que devem receber atenção sempre renovada. 
Cabe observar ainda que, ao lado da questão da estabilização da 
demanda e correspondentemente à vedação imposta ao autor de alterar a causa 
de pedir, dado o princípio da imutabilidade da ação, justificou-se a formação, em 
relação ao réu, do princípio da eventualidade, pelo qual todas as defesas, salvo 
as exceções e os incidentes, deverão ser alegadas na contestação, sob pena de 
preclusão. 
Embora se trate de categorias muito próximas, a estabilização da 
demanda e o princípio da eventualidade são institutos distintos, posto que, a rigor, 
a defesa apresentada pelo réu não altera a demanda. 
Todavia, muito embora o foco do presente trabalho seja o estudo da 
estabilização da demanda propriamente dita, não se pode deixar de comparar as 
soluções adotadas nesse campo, com as que se propõem em relação ao princípio 
da eventualidade, dada a íntima correlação entre ambos. 
 4
Estabelecidas as mencionadas premissas, será possível abordar o 
problema do fato superveniente, considerando, de início, que nosso ordenamento 
estabelece que o juiz, no momento de proferir a sentença, deve considerar os 
fatos supervenientes, constitutivos, modificativos ou extintivos do direito (art. 462 
do CPC). 
Surge então um aparente paradoxo, pois, se por um lado o autor é 
impedido de alegar fatos novos após o saneamento do processo e o réu deve 
exaurir seus argumentos de defesa na contestação, por outro, o juiz deve 
conhecer dos fatos supervenientes, inclusive de ofício, no momento de proferir a 
sentença. 
Além disso, nossa lei processual consagra a eficácia preclusiva da 
coisa julgada, fazendo com que sejam reputados, deduzidos e repelidos todos os 
argumentos que as partes poderiam opor tanto ao acolhimento (afetando o autor) 
como à rejeição (referindo-se ao réu) do pedido, quer tenham ou não sido 
alegados (art. 474 do CPC). Em outras palavras, se por um lado é vedado às 
partes alegar fatos novos após o saneamento do processo, por outro, tais fatos 
são reputados como deduzidos e repelidos e não poderão ser opostos ao que vier 
a ser decidido na sentença após seu trânsito em julgado. 
O objetivo do presente trabalho é buscar uma sistematização dos 
conceitos envolvidos, que possibilite harmonizar as normas tendentes à 
estabilização da demanda, em face da necessidade de lidar com o fato 
superveniente. 
Parte-se do pressuposto de que a compreensão ampla do problema 
torna necessário o exame das raízes históricas do instituto da estabilização da 
 5
demanda e, em especial, da imutabilidade da causa de pedir, o que conduz ao 
estudo das teorias desenvolvidas ao longo de décadas, a respeito da individuação 
das ações (relação jurídica x tríplice identidade) e ao conteúdo da causa de pedir 
(substanciação x individuação). 
Para uma abordagem mais crítica, pareceu de todo conveniente 
estudar também a forma como outros sistemas jurídicos contemporâneos tratam 
da questão da estabilização da demanda, o que levou a uma abordagem de 
direito comparado. 
A evolução histórica do instituto da estabilização da demanda, 
acrescida do estudo de direito comparado, deve possibilitar a contextualização do 
problema, tal como se apresenta hoje no direito positivo brasileiro. 
Propõe-se, então, o estudo da evolução legislativa e do 
posicionamento da doutrina no Brasil, a partir do que será possível analisar, de 
modo mais minucioso, os diferentes aspectos do tema na legislação processual 
civil brasileira atualmente em vigor. 
Sem prejuízo da discussão quanto aos aspectos teóricos, pretende-
se não perder de vista o interesse prático na busca de critérios aptos a tornar 
operável, coerente e eficiente o conjunto formado pelos institutos mencionados, 
com vistas a delimitar o exato alcance do postulado da imutabilidade da causa de 
pedir no direito processual civil brasileiro, em face da ocorrência de fatos 
supervenientes. 
 6
1. GENERALIDADES 
 
1.1 A individuação da demanda: 1.1.1 Teoria 
da identidade da relação jurídica; 1.1.2 
Teoria da tríplice identidade – 1.2 A causa 
de pedir como um dos elementos 
individualizadores da demanda – 1.3 O 
conteúdo da causa de pedir: 1.3.1 Teoria da 
individualização; 1.3.2 Teoria da 
substanciação; 1.3.3 O ponto de 
afastamento entre ambas as teorias 
 
 
1.1 A individuação da demanda 
 
A individuação da rés in iudicium deducta sempre foi um dos temas 
centrais da ciência processual. Embora os primeiros estudos a esse respeito 
estivessem voltados para o problema da coisa julgada – a exceptio rei iudicate – a 
identificação da ação se mostra importante também para a verificação da 
ocorrência da litispendência e da conexão de ações. 
A esse respeito duas teorias provieram das fontes romanas 
conservadas no Digesto e tornaram-se clássicas: a da identidade da relação 
jurídica, defendida por Savigny e a da tríplice identidade que remonta diretamente 
às fontes romanas . 
Traça-se, a seguir, um breve perfil dessas teorias. 
 7
1.1.1 Teoria da identidade da relação jurídica 
 
Savigny, o grande expoente da Escola Histórica, defendia a 
renovação da ciência do direito mediante o aproveitamento da experiência jurídica 
dos romanos, com a devida adaptação à realidade do momento histórico por ele 
vivido. 
Nesse contexto, reportando-se ao pensamento do jurisconsulto 
Juliano, Savigny visualizou na eadem questio o núcleo determinante da 
individuação das ações. 
Em primoroso estudo a respeito da exceptio rei iudicate, o 
mencionado autor afirmou que uma ação futura poderia ser obstada se as duas 
demandas tivessem em comum as mesmas pessoas e a mesma questão. 
A partir dessa premissa, Savigny formulou dois critérios. Pelo 
primeiro, se duas ações referem-se a questões jurídicas diferentes, a exceção de 
coisa julgada não seria oponível, mesmo que ocorresse a aparente identidade 
(partes, pedido e causa de pedir). Isso significa que uma ação possessória, por 
exemplo, não teria o condão de prejudicar futura ação reivindicatória e vice-versa. 
Pelo segundo critério, se duas ações dissessem respeito à mesma 
questão jurídica, a exceptio seria admitida, mesmo que houvesse aparente 
discrepância entre elas. Assim ocorreria quando, por exemplo, a segunda lide 
tivessenomenclatura diferente da primeira; ou quando as partes se encontrassem 
em posição invertida; ou quando o direito que em uma ação fosse principal, em 
 8
outra fosse condicionada; ou, ainda, quando o objeto exterior do litígio não fosse o 
mesmo nas duas ações. 
Sob essa concepção, Savigny distinguia as ações pessoais das 
reais, afirmando que, quanto às primeiras, nenhum problema subsistia, uma vez 
que cada relação jurídica vinha individuada por uma determinada causa. Todavia, 
quanto à segunda, independentemente do título de aquisição, admitia-se a 
exceção de coisa julgada, dada a identidade objetiva de ambas as relações 
jurídicas. 
 
1.1.2 Teoria da tríplice identidade 
 
Apesar do esforço de Savigny no sentido de superar a construção 
clássica da tríplice identidade, a teoria da relação jurídica restou praticamente 
circunscrita à Alemanha. A teoria da tríplice identidade – pessoas, causa de pedir 
e pedido – por seu turno, prevalece na obra dos grandes processualistas do 
passado e dos tempos atuais. 
O dogma da tríplice identidade – tria eadem – deita raízes no direito 
romano e veio expressamente consagrado nas legislações francesa e italiana, 
tendo recebido, por via de conseqüência, o aval da grande maioria dos 
estudiosos. 
Nos ordenamentos processuais de tradição romano-germânica, é 
evidente o predomínio da teoria da tríplice identidade. Com efeito, aceita-se que 
 9
cada ação tem uma individualidade que se infere dos elementos que a compõem. 
Tais elementos permitem então identificar as ações, distinguindo-as umas das 
outras. Segue-se que duas ações são idênticas quando, em ambas, os seus 
elementos são os mesmos. Assim, duas ações são idênticas quando entre elas 
há: a) identidade de partes (eadem personae); b) identidade de objeto (eadem 
res); c) identidade de causa de pedir (eadem causa petendi). 
Conforme anota Arruda Alvim, “na doutrina dos países latinos, 
tradicionalmente, fala-se em teoria das três identidades, para que possam ser 
identificadas as ações. O Direito brasileiro imediatamente anterior, embora sem 
texto expresso, e o atual (agora explicitamente) também seguiram essa 
orientação, pois se lê no art. 301, § 2º, in verbis: ‘Uma ação é idêntica à outra 
quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido’”.1
Todavia, como se verá mais adiante, muito embora a teoria da 
tríplice identidade seja comumente aceita para resolver a maior parte dos 
problemas relativos à identificação das ações, há determinados casos nos quais 
ela se mostra insuficiente, levando a doutrina a buscar soluções na teoria da 
relação jurídica. 
 
 
 
 
 
1 Manual de direito processual civil, v. 1, p. 484. 
 10
1.2 A causa de pedir como um dos elementos individualizadores da 
demanda 
 
Aceitando que as ações se identificam por intermédio das partes, do 
pedido e da causa de pedir, colocamo-nos diante da dificuldade de conceituar de 
forma precisa a causa de pedir com vistas à exata individualização da demanda. 
José Ignácio Botelho de Mesquita observa que: “Na verdade, não 
surgem problemas sôbre o que se deva entender por personae e por petitum. A 
causa petendi, contudo, pela dificuldade que oferece à determinação do seu 
conteúdo, tornou-se um dos pontos mais delicados do direito processual, e isto 
por se achar no âmago do tema comumente designado por identificação das 
ações, do qual dependem decisivamente vários institutos processuais”.2
Na mesma linha, José Rogério Cruz e Tucci adverte que “hoje é 
tarefa praticamente impossível emitir um conceito unívoco e abrangente de causa 
de pedir”, observando, contudo, que a evolução da ciência processual, em época 
mais recente, orienta-se para o entendimento segundo o qual a locução indica “o 
fato ou o conjunto de fatos que serve para fundamentar a pretensão (processual) 
do demandante”.3
Usualmente, classificam-se os elementos da ação em subjetivos – 
partes – e objetivos – pedido e causa de pedir. Na verdade, os elementos 
objetivos da ação formam um todo indissociável, que constitui o objeto do 
processo. Nesse sentido, José Ignácio Botelho de Mesquita observa que: “causa 
 
2 A causa petendi nas ações reivindicatórias, Revista de Direito Processual Civil 6/185. 
 11
petendi e petitum, intimamente ligados, qual verso e reverso da mesma medalha, 
ou alicerces e paredes do mesmo edifício, são por excelência os elementos 
identificadores do objeto do processo, pois o petitum é condição de existência da 
causa petendi e esta, por sua vez, não se limita a qualificá-lo ou restringi-lo, mas 
o individua plenamente”.4
Ainda quanto à aptidão da causa de pedir, no sentido de individuar o 
pedido, Nelson Nery Júnior lembra que, para que se possa analisar a presença da 
condição da ação fundada na possibilidade jurídica do pedido, o termo “pedido” 
deve ser tomado não em seu sentido estrito, mas conjugado com a causa de 
pedir. E exemplifica mostrando que, embora o pedido de cobrança seja 
admissível pela legislação brasileira, não será possível se tiver como causa 
petendi a dívida de jogo.5
Especialmente quando empregada para aferir a presença da 
possibilidade jurídica do pedido, fica evidente que a causa petendi é, dentre os 
elementos da ação, o que constitui o ponto de contato mais direto entre o 
processo e o direito material. A esse respeito, Fazzalari afirma que a causa 
petendi, considerada como um dos elementos da ação, corresponde, 
essencialmente, ao elo entre a norma de direito material supostamente violada e 
o juízo, a partir do momento em que a situação substancial retratada na petição 
inicial é submetida à cognição judicial.6
 
3 A causa petendi no processo civil, p. 24. 
4 A causa petendi nas ações reivindicatórias, Revista de Direito Processual Civil 6/184. No mesmo 
sentido, José Rogério Cruz e Tucci sustenta que a causa petendi possui dupla finalidade. A 
primeira é individualizar a demanda e a segunda é identificar o pedido, inclusive quanto à 
possibilidade deste (A causa petendi no processo civil, p. 158). 
5 Condições da ação. Revista de Processo 64/37. 
6 Note in tema di diritto e processo, p. 122. 
 12
Tendo em vista essa função de transportar para o interior do 
processo as particularidades do direito material supostamente violado, Fazzalari 
ressalta que a indicação da causa de pedir é imprescindível para o desenrolar do 
processo de conhecimento, na medida em que “tal alegação representa, na 
verdade, o parâmetro para determinação da jurisdição, da competência, da 
legitimação para agir...”.7
 
1.3 O conteúdo da causa de pedir 
 
Dentre os diversos problemas envolvidos na busca de uma definição 
mais precisa do que seria a causa de pedir, um dos aspectos mais controvertidos 
refere-se à definição do seu conteúdo. 
Para determinar o conteúdo da causa de pedir, foram desenvolvidas 
duas teorias, a saber, a da individualização e a da substanciação. A polêmica 
entre ambas as teorias teve origem no direito alemão, dados os problemas que 
decorreram da extrema rigidez com que se aplicou a regra da Eventualmaxime, 
segundo a qual as partes eram obrigadas a formular, desde o início do processo, 
todas as alegações que pudessem interessar ao deslinde da causa, sob pena de 
não mais poder fazê-lo em momento posterior. Como resultado dessa exigência, 
o processo ficava abarrotado de uma infinidade de provas e questões que as 
partes aduziam simultaneamente, visando a evitar o risco da preclusão de suas 
proposições. Conseqüentemente, na sentença, o juiz devia analisar muitas 
 
7 Note in tema di diritto e processo, p. 47 e 115. 
 13
provas que não eram pertinentes, mas que não podiamser rechaçadas de plano, 
já que a obrigatoriedade da proposição contemporânea não permitia distinguir as 
provas úteis e pertinentes das não relevantes para a solução do caso concreto. 
Diante de tais problemas, a Eventualmaxime passou a ser questionada e, para 
evitar a formação de um processo artificial, dominado por argumentos e questões 
inúteis, tornava-se evidente a necessidade de estabelecer-se o conteúdo mínimo 
da causa de pedir. Tal tema foi objeto de estudo, especialmente de autores 
alemães e italianos, instaurando-se a acentuada polêmica sobre os elementos 
que constituiriam o aludido conteúdo mínimo da causa petendi, originando as 
teorias da substanciação (Substantiierungs theorie) e individualização ou 
individuação (Individualisierung theorie) (...)”. 
A seguir, com o objetivo de melhor compreender as razões de tal 
polêmica e suas implicações, traça-se um breve perfil de cada uma dessas 
teorias. 
 
1.3.1 Teoria da individualização 
 
Nada obstante as origens germânicas do debate em torno do 
conteúdo mínimo da causa de pedir, a teoria da individualização goza de especial 
prestígio na Itália,8 encontrando em Chiovenda um dos seus mais ardorosos 
defensores. 
 
8 Cândido Rangel Dinamarco observa que “oposto ao da substanciação (vigente no Brasil) é o 
sistema da individuação, vigente em outros países. No sistema italiano reputa-se causa de 
pedir, para o fim de delimitar o âmbito da demanda e da sentença, a referência feita pelo autor 
 14
Para os seguidores da teoria da individualização, é necessário 
distinguir as ações fundadas em direitos absolutos das demais ações fundadas 
em direito obrigacional. Nesse contexto, Chiovenda entende que, nas hipóteses 
envolvendo os assim chamados direitos absolutos, a causa de pedir deve conter, 
antes de mais nada, a “afirmação da relação jurídica de que deriva o direito 
afirmado pelo autor em confronto com o réu”. Todavia, reconhece que “essa 
afirmação basta nos direitos absolutos, mas não é suficiente nos direitos de 
obrigação”.9 
Em outras palavras, para Chiovenda, nas ações de natureza real 
basta afirmar a relação jurídica para que se preencha o conteúdo da causa de 
pedir, isso porque a causa na reivindicação não decorre propriamente do modo de 
aquisição, mas do fato atual da existência do propriedade.10 
Por outro lado, segundo Chiovenda, nas ações fundadas no direito 
das obrigações, não basta enunciar a relação jurídica para que se identifique a 
ação, uma vez que pode haver relações jurídicas obrigacionais de conteúdo 
idêntico, derivadas de diferentes obrigações. Por isso mesmo é que se faz 
 
à categoria jurídica com fundamento na qual pretende a tutela jurisdicional pedida. O histórico 
de fatos, que ele traz ao demandar, não passa de meras circunstâncias de fato e pode ser 
alterado porque assim permite o procedimento flexível lá existente” (Instituições de direito 
processual civil, v. 2, p. 128, nota 20). 
9 Instituições de direito processual civil, v. 1, p. 360. 
10 A esse respeito, Chiovenda apresenta a seguinte conclusão: “Por conseguinte, a causa na 
reivindicação não é um ou outro modo de aquisição, mas o fato atual da propriedade; a 
questão jurídica versa sempre sobre a existência do direito de propriedade, ainda quando a 
questão lógica se restrinja ao ponto, por exemplo, de se houve ou não compra e venda. Não 
há mudança de ação quando se passa de um título de aquisição a outro. Na citação, podemos 
limitar-nos a afirmar a propriedade; negada a propriedade no primeiro processo, não 
desaparece a exceção de coisa julgada só pelo fato de que no novo processo se alegue outro 
título (a menos que, entende-se, seja um título posterior ao julgado). O mesmo se pode dizer 
dos outros direitos absolutos: reconhecemos no fato atual da existência de um homem a 
causa dos direitos de liberdade ou de personalidade, sem pensar em sua origem senão como 
modo de provar-lhe a existência (Instituições de direito processual civil, v. 1, p. 437). 
 15
necessário indicar o fato constitutivo do qual decorre a relação jurídica, a fim de 
diferenciar de outras possíveis relações jurídicas de idêntico conteúdo.11 
Nessa mesma linha, Betti defende que “existem relações jurídicas 
identificáveis pelos próprios elementos estruturais e pela típica qualificação 
jurídica que lhes é própria, sem necessidade de recorrer-se ao fato de onde se 
originaram”. Refere-se o mencionado autor às relações de direito real, de direito 
de família e de estado da pessoa.12 
Igualmente, Liebmann esclarece que, nas ações fundadas em direito 
absoluto, basta indicar o direito que se afirma existente, ou, em outras palavras, a 
relação jurídica, uma vez que esta é sempre a mesma, qualquer que seja o fato 
constitutivo em particular. Explica o renomado professor de Milão que a 
propriedade de um bem, por exemplo, é sempre o mesmo direito, tenha ela sido 
adquirida por herança, compra e venda ou usucapião e, por isso, não há alteração 
da causa de pedir pelo simples fato de haver referência a esse ou aquele modo 
de aquisição.13 
Tais ações fundadas em direitos absolutos constituem as assim 
chamadas demandas autodeterminadas, uma vez que são identificadas pelo 
próprio direito e não pelo título de aquisição, porquanto contempla potencialmente 
todos os possíveis títulos. 
Assim, conforme anota Cerino Canova, tais direitos, pelo seu 
conteúdo, podem subsistir uma única vez entre as mesmas partes e “a 
individuação do direito, e da demanda, através do conteúdo e dos sujeitos, 
 
11 Instituições de direito processual civil, v. 1. p. 360. 
12 Diritto processuale civile italiano, p. 178. 
 16
justifica-se precisamente pela unicidade e irrepetibilidade da mesma situação 
substancial”.14 Nesse contexto, a alegação de fato constitutivo tem importância 
somente no que diz respeito ao juízo di fondatezza, podendo ser alterada sem 
que isso implique alteração da demanda.15 A esse respeito, no Brasil, José 
Rogério Cruz e Tucci observa que, “segundo a denominada teoria da 
individualização, a alegação dos fatos, nas ações que encerram um direito 
absoluto, delineia-se apenas como condição de êxito da demanda, e não como 
elemento identificador”.16
Por outro lado, nas demais ações que não são identificáveis, a não 
ser pelo fato que lhes deu vida, compreendidas aqui as relações obrigacionais, 
bem como as relações de direito potestativo ou de sucessão hereditária, é 
necessária a indicação do fato constitutivo. Isso porque pode haver diversas 
relações jurídicas de conteúdo idêntico, mas decorrentes de diferentes fatos. 
Trata-se das chamadas demandas heterodeterminadas, que não são 
individualizáveis apenas em função dos seus elementos estruturais – sujeitos e 
conteúdo –, mas dependem da indicação do seu fato gerador.17
Assim, da ótica da teoria da individualização, apenas no caso de 
demandas heterodeterminadas faz-se necessária a indicação dos fatos 
constitutivos, uma vez que tantas serão as relações dessa espécie quantos forem 
os fatos constitutivos. 
 
13 Struttura del processo e modificazione della domanda, p. 161. 
14 La domanda giudiziale ed il suo contenuto, p. 172. 
15 Cerino Canova, La domanda giudiziale ed il suo contenuto, p. 185. 
16 A causa petendi no processo civil, p. 116. 
17 Cerino Canova, op. cit., p.178-9. 
 17
Posto isso, é possível constatar que a teoria da individualização 
apresenta implicações mais significativas exatamente quanto às hipóteses de 
ações decorrentes de direitos absolutos.18 
Conseqüentemente, para os seguidores da teoriada 
individualização, no que tange às demandas autodeterminadas ou, em outras 
palavras, nas ações que se referem a direitos absolutos, a mudança do fato ou 
dos fatos constitutivos ocorrida no curso do processo não implica alteração da 
demanda. 
Nessa mesma linha de raciocínio, conclui-se que a sentença que 
decidir sobre a existência ou inexistência de determinada relação jurídica 
projetará sua eficácia em relação a todos os fatos possíveis de serem invocados, 
quer tenham ou não sido alegados no curso da ação. 
Conforme assinala José Ignácio Botelho de Mesquita, a coisa 
julgada que se forma em torno da relação jurídica que fora objeto da ação 
fundada em direito absoluto torna “improponível nova demanda sobre a mesma 
relação de direito, ainda que fundada em fatos não alegados na primeira”.19 
É de se reconhecer, todavia, que no Brasil pouco se estudou a 
respeito de tal teoria, uma vez que a quase totalidade da doutrina admite que teria 
sido adotada entre nós a teoria da substanciação.20
 
18 Nesse sentido, no Brasil, Calmon de Passos observa que essa teoria tem sua importância 
situada sobretudo no campo dos direitos absolutos, ou seja, no campo dos direitos reais e de 
família, e nas hipóteses de direitos relativos, ou seja, no caso das relações obrigacionais, das 
quais podem nascer diferentes obrigações de idêntica origem, mesmo os adeptos da teoria da 
individualização apontam a necessidade de se indicar o fato constitutivo para a sua distinção 
(Comentários ao Código de Processo Civil, p. 191). 
19 A causa petendi nas ações reivindicatórias, Revista de direito processual civil 6, p.186. 
20 A propósito, Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery consideram que a teoria da 
individualização estaria superada, uma vez que, na própria Alemanha, o ZPO adotou a teoria 
 18
1.3.2 Teoria da substanciação 
 
Ao contrário do que defende a teoria da individualização, para 
os seguidores da teoria da substanciação, no que diz respeito à causa de pedir 
não se deveria fazer qualquer distinção entre direitos reais e direitos 
obrigacionais, sendo necessária a indicação do fato constitutivo do direito em 
ambas as situações. 
Na doutrina italiana, Zanzucchi, aduzindo aos direitos 
absolutos e aos direitos obrigacionais, observa que “com relação a ambos a razão 
da pretensão não é especificada pela simples enunciação do direito. Tem-se a 
especificação apenas quando é indicado o fato do qual emergiu o direito, o fato 
não em abstrato, mas em concreto”.21
O mesmo autor ilustra seu raciocínio por intermédio do 
seguinte exemplo: se “A” age contra “B” para obter a entrega de determinada 
coisa, com fundamento em um direito de crédito (direito obrigacional) decorrente 
de depósito, e “B” alega já ter restituído o bem, e se diante disso “A” reconhecer a 
procedência do argumento do demandado, mas afirmar que deu a coisa em 
depósito uma segunda vez, resulta que o mesmo bem é demandado pela mesma 
espécie de relação jurídica (depósito). No entanto, não se nega, mesmo para os 
adeptos da teoria da individualização, que se está diante de modificação da 
demanda, uma vez que se altera o fato (causa petendi), já que o pedido, agora, 
passa a estar fundado no segundo contrato de depósito. Posto isso, Zanzucchi 
 
da substanciação (Código de Processo Civil e legislação processual civil extravagante, nota 2 
ao art. 282, III, do CPC, p. 487). 
 19
transpõe o mesmo raciocínio para o caso envolvendo direito de propriedade: 
tendo “A” requerido a entrega do imóvel “X”, alegando direito de propriedade 
sobre o referido bem, o réu “B” se opõe, dizendo que comprou de “A” o imóvel, 
que, por sua vez, alega que adquiriu novamente o imóvel de “B”. Nesse caso, 
segundo Zanzucchi, há igualmente a alteração do fato constitutivo do direito e, 
substancialmente, do próprio direito. Em outras palavras, seria possível distinguir 
o direito de propriedade decorrente do primeiro contrato e do segundo negócio. 
Assim, Zanzucchi conclui que tanto nas ações fundadas em direitos reais quanto 
obrigacionais, para individuar a causa petendi, “não basta apenas indicar o direito 
e a sua natureza (de propriedade, de crédito etc...), mas é necessário revelar o 
fato pelo qual o direito afeta uma determinada pessoa, e não o fato em abstrato 
(depósito, compra e venda etc.) mas em concreto (tal depósito, tal compra e 
venda etc.)”.22
Portanto, para a teoria da substanciação, mesmo no que diz 
respeito às ações fundadas em direito absoluto, a causa de pedir deve 
compreender o fato gerador do direito. Haverá então tantas demandas quantos 
forem os diferentes fatos constitutivos invocados. 
Segundo Luso Soares, daí provém a expressão 
“substanciação” – “o que substancia ou fundamenta a ação igualmente a 
individualiza”. 23
Tal concepção repercute diretamente sobre o tema da 
extensão dos efeitos da coisa julgada. Arturo Rispoli defende que a modificação 
 
21 Nuove domande, nuove eccezioni e nouve porove in appello, p.335-6. 
22 Ibid. p.336-7. 
23 Processo civil de declaração, Coimbra, Almedina, 1985, p. 587. 
 20
do título aquisitivo de um direito real enseja modificação da causa de pedir e 
conseqüentemente da ação, de modo que a compra e venda, a doação, o 
usucapião, seriam todas causas de pedir diversas, recaindo os efeitos da coisa 
julgada somente sobre a causa específica identificada na ação.24
No mesmo sentido, Mário Bellavits, a despeito de não colocar 
em dúvida a natureza erga omnes do direito de propriedade, advoga que a 
sentença declaratória de existência de direito real proferida em favor do autor ou 
do réu possui o condão de excluir a contemporânea existência de um outro direito 
de propriedade, mas isso sempre com referência ao fato jurídico constante dos 
autos, não podendo estender a sua eficácia a fato jurídico não deduzido no 
processo.25
No Brasil, Moacyr Amaral Santos observa que “a teoria da 
substanciação impõe que na fundamentação do pedido se compreendam a causa 
próxima e a causa remota (fundamentum actionis remotum), a qual consiste no 
fato gerador do direito pretendido. Não basta dizer ‘que é credor’, mas é preciso 
dizer também porque é credor; por exemplo: ‘a título de mútuo’” não basta dizer 
“que é senhor”, mas também porque o é: “conforme escritura de compra e venda 
devidamente transcrita”.26. 
Como bem sintetizado por Alexandre Alves Lazzarini, 
enquanto para a teoria da individualização o fundamento jurídico é essencial para 
identificar a ação, especialmente nas ações que versam sobre direitos absolutos, 
tais como os direitos reais ou o direito de família, para a teoria da substanciação 
os fatos é que são essenciais e não podem ser alterados, mesmo em se tratando 
 
24 Ancora sul concetto di causa petendi, Archivo di ricerche giuridiche, 8(1954):116. 
 21
de direitos absolutos.27 Exatamente nesse ponto reside o particular interesse 
quanto à discussão a respeito do fato superveniente, como se verá mais adiante. 
 
1.3.3 O ponto de afastamento entre ambas as teorias 
 
Comparando-se as implicações práticas de ambas as teorias, 
observa-se que a distinção entre elas não é tão radical. Isso porque, mesmo 
quando se adota a teoria da individualização, admite-se a necessidade de 
especificar os fatos que se tornam imutáveis, quando se trata de direitos relativos, 
o que abrange a maior parte das demandas. Por outro lado, ainda que seja 
acolhida a teoria da substanciação, a importância atribuída aos fatos constitutivos 
é atenuada consideravelmente nas ações que envolvem direitos absolutos.28José Ignácio Botelho de Mesquita, citando Ernesto Heinitz, 
observa que o ponto exato em que se afastam as duas concepções sobre a causa 
de pedir é o fato de que “a teoria da substanciação se distancia mais do direito 
material que a da individualização, e não tanto uma diversa valoração dos 
elementos de fato e de direito, pois a própria teoria da individualização sustenta 
 
25 L’identificazione delle azioni, p. 144-7. 
26 Primeiras linhas de direito processual civil, v. 2, p. 140. 
27 A causa petendi nas ações de separação judicial e de dissolução de união estável, p.20. Nesta 
mesma obra, o autor distingue direito absoluto e direito relativo, in verbis: “O direito absoluto é 
aquele com eficácia universal e que deve ser respeitado por todos, podendo o seu titular opô-
lo contra qualquer pessoa (é erga omnes), estando incluídos nesta categoria os direitos reais, 
de família e da personalidade. Já o direito relativo tem sua eficácia limitada a determinadas 
pessoas, com uma pessoa ficando obrigada a outra, como o direito de crédito e o contrato de 
compra e venda” (p.23). Observa contudo, que a questão não é pacífica, assinalando que no 
verbete “direito absoluto”, escrito pela Comissão de Redação da Enciclopédia Saraiva de 
Direito (São Paulo: Saraiva, 1977, v.25, p. 121), o direito de família puro é classificado como 
direito relativo, por tratar-se de obrigação extrapatrimonial (idem, nota 23). 
28 A esse respeito, ver Guilherme Freire de Barros Teixeira (O princípio da eventualidade no 
processo civil, p. 190). 
 22
irrelevante o puro ponto de vista jurídico e atribui importância, na maioria dos 
casos, ao fato constitutivo”. E prossegue ressaltando que “o erro fundamental da 
teoria da substanciação reside, para Heinitz, no exagerado afastamento (distaco) 
do direito subjetivo, esquecida a função do processo civil de realizar o direito 
material; afastamento este a que teriam chegado os defensores da substanciação 
do pedido por haverem encontrado dificuldade em definir o conteúdo da causa 
petendi nas ações declaratórias negativas”.29 
 
29 A causa petendi nas ações reivindicatórias, Revista de Direito Processual Civil 6/187. 
 23
2. COLOCAÇÃO DO PROBLEMA – A ESTABILIZAÇÃO DA 
DEMANDA E O FATO SUPERVENIENTE 
 
2.1 A estabilização da demanda: 2.1.1 
Alguns aspectos conceituais; 2.1.2 
Fundamentos da estabilização da demanda 
– 2.2 Sistemas rígidos e flexíveis – 2.3 A 
imutabilidade da ação e os fatos 
supervenientes 
 
2.1 A estabilização da demanda 
 
2.1.1 Alguns aspectos conceituais 
 
É comum o uso da expressão estabilização da demanda para 
designar tanto as vedações impostas ao autor, no sentido de impedir que se 
alterem os elementos da ação, quanto as que se aplicam ao réu, no sentido de 
evitar a dedução de novos argumentos de defesa após a contestação.30 
 
30 Júnior Alexandre Moreira Pinto, por exemplo, estende o conceito para abranger tanto as 
alegações do autor quanto as do réu, quando define a estabilização da demanda como sendo 
“o momento em que apresentadas todas as alegações pelas partes, estas não podem ser 
modificadas, preparando o processo para uma fase seguinte, a da realização das provas, em 
que cada litigante se incumbirá de demonstrar a veracidade de suas alegações, seja o autor 
provando o fato constitutivo de seu direito, seja o réu provando o fato modificativo, impeditivo 
ou extintivo do direito do autor” (Sistemas rígidos e flexíveis: estabilização da demanda. in 
Causa de pedir e pedido no processo civil - questões polêmicas, p. 55). 
 24
Contudo, parece-nos mais exato restringir o alcance da 
expressão às vedações impostas ao autor, que não pode modificar os elementos 
da ação inicialmente constantes do libelo, superada determinada fase processual. 
A expressão demanda é muito próxima da noção de pedido, 
posto que demandar é pedir judicialmente.31 Assim, aproxima-se da idéia de ação, 
tanto que é comum o uso de ambas as expressões indistintamente, como 
sinônimas.32
Quando se fala em estabilização da demanda, a rigor, está-se 
fazendo referência somente à imutabilidade da ação, do que se depreende a 
inalterabilidade dos seus elementos – partes, pedido e causa de pedir. 
Conseqüentemente, não se abrange a inalterabilidade dos 
argumentos de defesa, em momento posterior ao do oferecimento da 
contestação. 
Muito embora seja intenso o debate consistente em saber se 
a contestação integra ou não o objeto do processo,33 não é essa a questão posta 
nesse momento, pois, independentemente da corrente que se adote, é inequívoco 
que a defesa não interfere nos elementos identificadores da demanda.34
 
31 Conforme De Plácido e Silva. Vocabulário Jurídico, vol. II, p. 492. 
32 Na verdade, se for possível estabelecer distinção entre ação e demanda, esta será muito sutil. 
Nesse sentido, De Plácido e Silva assinala que “a acepção de demanda é mais ampla que a 
de ação, pois indica a ação em curso ou já formulada em juízo e em processo, enquanto a 
ação revela o direito de agir ou o direito de ir pedir em juízo, o que fundamenta ou autoriza a 
demanda, indicativa do exercício da ação” (idem). 
33 A respeito da controvérsia quanto a distinção entre objeto do processo e objeto litigioso, ver 
Arruda Alvim, Manual de Direito Processual Civil, vol. I, p. 483-484. 
34 A esse respeito, Cândido Rangel Dinamarco observa que: “Na contestação, o réu nega os 
fatos alegados pelo autor, ou nega-lhes a eficácia jurídica afirmada por este, ou alega fatos 
novos que excluem o direito afirmado na petição inicial, ou ainda suscita razões relacionadas 
com o processo (carência de ação, incompetência absoluta) - gerando com isso questões a 
serem apreciadas quando o juiz expuser a motivação da sentença. Mas fica absolutamente 
inalterado o material a ser objeto do pronunciamento jurisdicional (pretensão, objeto do 
processo)” (Instituições de direito processual civil, vol. II, p. 190). No mesmo sentido, muito 
embora entendendo que a contestação integra o objeto do processo mas não o objeto litigioso, 
Arruda Alvim afirma que: “O réu, contestando o mérito, ou seja, o pedido formulado pelo autor, 
 25
Se a finalidade fosse abranger em um mesmo conceito tanto 
a imutabilidade do libelo, quanto a proibição de deduzir novos argumentos de 
defesa após a contestação, seria então o caso de falar-se em estabilização do 
processo. 
Contudo, como o processo é essencialmente dinâmico, tendo 
em vista que significa exatamente o desenvolvimento em fases sucessivas, a 
expressão pareceria incongruente.35 
Ademais, até por razões teóricas que serão mais bem 
examinadas adiante, parece preferível tratar separadamente as diferentes 
situações. 
Desse modo, quando se fala em estabilização da demanda, 
faz-se referência à vedação imposta ao autor, que não poderá alterar os 
elementos da ação, superado determinado momento processual. 
A vedação imposta ao réu, no sentido de impedir a introdução 
de novos argumentos de defesa, decorre do princípio da eventualidade, que não 
se confunde nem com a imutabilidade do pedido e tampouco com a estabilização 
da demanda.36 
 
não enriquece ou aumenta juridicamente a lide, ou segundo terminologia também difundida 
entre nós, o objeto litigioso” (Manual de Direto Processual Civil, vol. II, p. 311). 
35 Nesse sentido, com amparo na opinião de José Rogério Cruz e Tucci, externada em aula 
proferida no curso de pós-graduação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 
Guilherme Freire de Barros Teixeira observa que: “comoo processo é essencialmente 
dinâmico, tendo em vista o seu desenvolvimento em fases sucessivas, parece incongruente 
utilizar a expressão estabilização do processo, pois, na realidade, o que se estabiliza são seus 
elementos objetivos e subjetivos, vedando-se a partir de determinado momento do iter 
procedimental, a alteração dos fatos e pedidos trazidos à apreciação judicial, bem como a 
modificação das partes” (O princípio da eventualidade no processo civil, p. 47, nota 41). 
36 Anote-se que, para parte da doutrina, tanto a imutabilidade do libelo, quanto a proibição da 
alegação de novos argumentos de defesa após a contestação, decorreriam do princípio da 
eventualidade, que incidiria tanto sobre o réu, quanto sobre o autor. Defendendo com 
 26
Não se trata, como se procurará demonstrar, de mero 
formalismo, mas de distinção que permite melhor compreender as diferenças de 
tratamento dispensado ao fato superveniente, conforme se trate de alegação que 
beneficie o autor, ou o réu. 
Admitindo-se então que se trata de situações distintas, passa-
se à análise da estabilização da demanda, entendida como fenômeno decorrente 
da imutabilidade da ação. 
 
2.1.2 Fundamentos da estabilização de demanda 
 
Como já antecipado, a estabilização da demanda afeta o 
autor e decorre do princípio da imutabilidade da ação, do qual decorre a 
inalterabilidade do libelo. 
Adotando-se a teoria da tríplice identidade, segundo a qual a 
ação é identificada pelo pedido, partes e causa de pedir, é certo que o princípio 
da inalterabilidade do libelo pretende fazer com que, em determinado momento do 
processo, esses elementos tornem-se imutáveis, evitando assim o risco de 
ocorrerem modificações que importariam em ferimento à segurança jurídica. As 
partes constituem o elemento subjetivo da demanda e o pedido e a causa de 
pedir os elementos objetivos. Esse princípio vem a limitar que as partes, o pedido 
e a causa de pedir sejam alterados (aditados ou modificados). 
 
convicção esse entendimento, ver Guilherme Freire de Barros Teixeira, O princípio da 
eventualidade no processo civil. 
. 
 27
A estabilização da demanda é uma decorrência também do 
princípio do contraditório, uma vez que deve o demandado ter o conhecimento do 
que está sendo processado e qual a prova a ser desenvolvida.37
Vicente Grecco Filho observa que o fundamento da 
estabilização da demanda no processo civil é o interesse público da boa 
administração da justiça, uma vez que esta deve responder de maneira certa e 
definitiva à pretensão deduzida pelo autor.38 
A solução adotada no âmbito do processo civil é diferente da 
que se adota no processo penal, pois, neste, a legislação processual prevê a 
adequação do pedido à verdade real (CPP, arts. 383 e 384). Como explica 
Vicente Grecco Filho, a existência, no processo penal, de mecanismos de 
adequação do objeto do processo ao fato justifica-se porque lá a atividade 
jurisdicional se esgota sobre todo o fato da natureza e não somente sobre o que 
constou do pedido inicial.39 
 
 
 
 
37 Sistemas rígidos e flexíveis: estabilização da demanda, in Causa de pedir e pedido no processo 
civil (questões polêmicas). José Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque 
(org.). São Paulo: RT, 2002, p. 56. 
38 “O fundamento da estabilização do processo quanto ao pedido, causa de pedir, partes e ao 
próprio juízo assim que completa a relação processual pela citação é o interesse público da boa 
administração da justiça, que deve responder de maneira certa e definida à provocação 
consistente no pedido do autor. Um sistema legislativo que permitisse livremente a alteração dos 
elementos da ação geraria instabilidade na prestação jurisdicional e, conseqüentemente, nas 
relações jurídicas em geral. O juiz decide sobre o que foi pedido, como foi pedido. Se o autor 
tiver outro pedido a fazer que o faça em processo distinto” (in Direito processual civil brasileiro, 
v. 2, p. 59). 
39 Direito processual civil brasileiro, v. 2, p. 59. 
 28
2.2 Sistemas rígidos e flexíveis 
 
Conforme observa Cândido Rangel Dinamarco, cada ordenamento 
jurídico opta por rigor maior ou menor, na exigência da ordem em que os atos do 
procedimento devem ser realizados.40 
A maneira como determinado ordenamento trata da questão da 
estabilização da demanda define se o procedimento adotado é rígido ou flexível. 
Considera-se que um modelo processual é rígido quando há um 
momento em que a demanda se estabiliza, ou seja, um momento a partir do qual 
os temas objeto do processo, que deverão ser resolvidos na decisão, não mais 
poderão ser alterados. 
Por outro lado, um sistema será considerado flexível quando, ao 
longo de todo o curso da demanda, as partes ficam livres para apresentar novas 
alegações. 
É possível concluir, ainda, que a teoria da individuação41 induz à 
adoção de um sistema flexível, uma vez que os fatos constitutivos, na medida em 
que não integram causa de pedir, a qualquer momento podem ser alterados. 
Por outro lado, a teoria da substanciação42 pressupõe a adoção de 
um procedimento rígido, pois não faria qualquer sentido exigir-se que o autor 
 
40 Instituições de direito processual civil, v. 2, p. 454. 
41 A respeito da teoria da individuação, vide item 1.3.1 retro. 
42 A respeito da teoria da substanciação, vide item 1.3.2 retro. 
 29
especificasse os fatos constitutivos do direito alegado, se, no curso da ação, eles 
pudessem ser livremente alterados.43 
Júnior Alexandre Moreira Pinto exalta as virtudes do modelo 
processual flexível, ressaltando que ele privilegia a busca da verdade real como 
fim do processo.44 
Aduz-se que a possibilidade de as partes modificarem a demanda a 
qualquer momento teria a desvantagem de trazer maior demora ao processo. 
Todavia, Júnior Alexandre Moreira Pinto sustenta que se trata de uma meia 
verdade, isto porque, se por um lado “é claro que um feito que possa ser mudado 
durante o seu curso tende a consumir mais tempo”, por outro, “esta sentença 
estaria solucionando situações que dependeriam de outro processo, que, em se 
aceitando uma certa elasticidade, já teriam sido decididas no mesmo processo”.45
Segundo Dinamarco, o procedimento flexível caracteriza-se pela 
possibilidade de retrocessos, pois “surgindo fato novo na causa e havendo 
conveniência de esclarecê-los, novas audiências se fazem apesar de já 
realizadas as que o sistema ordinariamente manda realizar. O juiz colhe 
 
43 Nesse sentido, Júnior Alexandre Moreira Pinto ressalta que “a imposição de um critério de 
preclusões constitui pressuposto da teoria da substanciação, exigindo a exposição de todos os 
fatos constitutivos, de forma simultânea, na petição inicial” (Sistemas rígidos e flexíveis: 
estabilização da demanda, in Causa de pedir e pedido no processo civil (questões polêmicas). 
José Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque (org.). São Paulo: RT, 2002, p. 
64). 
44 Segundo o referido autor, “a partir do momento em que a solução da demanda não está adstrita 
aos limites impostos pela petição inicial e pela contestação, pode o juiz, quando da prolação da 
sentença, utilizar, como pacificação da situação litigiosa, fatos, argumentos e circunstâncias 
surgidos no decorrer da demanda. É óbvio que um processo que possa se utilizar de todas estas 
variantes corresponde muito mais ao interesse da justiça do que aquele que deve ‘fechar os 
olhos’ diante de fatos que poderiam contribuir para o deslinde do caso, mas que, pelo fato de 
terem sido introduzidos em momento inoportuno, a técnica não permite que sejam considerados” 
(Sistemas rígidos e flexíveis: estabilização da demanda, in Causa de pedir epedido no processo 
civil (questões polêmicas). José Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque 
(org.). São Paulo: RT, 2002, p. 79). 
 30
manifestações das partes quantas vezes for necessário, praticamente à 
saciedade, sempre que sentir que elas ainda têm o que dizer em relação à 
discussão da causa”.46
Dinamarco observa, ainda, que no procedimento flexível o juiz tem 
grandes poderes de direção, maiores que os do juiz inserido no sistema de 
procedimento rígido.47 
É de se considerar, por outro lado, que o sistema rígido é mais 
compatível com o princípio do contraditório. Com efeito, a regra da preclusão, 
impedindo a alteração da demanda no curso do processo tem como elemento 
norteador exatamente a efetivação do contraditório.48 
Nesse sentido, Comoglio observa que o procedimento rígido tem a 
virtude de evitar surpresas aos litigantes, na medida em que se garante que as 
questões que serão decididas e que contribuirão para a formação do 
convencimento do julgador já foram submetidas ao crivo das partes.49 
O processo civil brasileiro adere tradicionalmente ao sistema de 
procedimento rígido, caracterizado pela nítida distribuição dos atos processuais 
em fases e pelo emprego acentuado do instituto da preclusão, destinado a 
impedir retrocessos. Já na Europa, vemos exemplos expressivos de procedimento 
flexível. 
 
45 Sistemas rígidos e flexíveis: estabilização da demanda, in Causa de pedir e pedido no processo 
civil (questões polêmicas). José Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque 
(org.). São Paulo: RT, 2002, p.80 
46 Instituições de direito processual civil, v. 2, p. 454. 
47 Ibid., mesma página. 
48 Júnior Alexandre Moreira Pinto, Sistemas rígidos e flexíveis: estabilização da demanda, in 
Causa de pedir e pedido no processo civil (questões polêmicas). José Rogério Cruz e Tucci e 
José Roberto dos Santos Bedaque (org.). São Paulo: RT, 2002, p.82. 
49 Diritto processuale civile tedesco, p. 9 
 31
2.3 A imutabilidade da ação e o fato superveniente 
 
Os sistemas rígidos que adotam a teoria da substanciação, 
enfrentam o problema que consiste em lidar com a ocorrência de fatos 
supervenientes. 
Como foi visto, a teoria da substanciação pressupõe a necessidade 
de especificar-se, já na petição inicial, os fatos constitutivos da relação jurídica 
posta em juízo. Tais fatos integram a causa de pedir e tornam-se imutáveis após 
a estabilização da demanda. 
Como a causa de pedir identifica a ação, a alegação de fatos novos 
implica em mudança da ação, o que é vedado nos sistemas processuais rígidos. 
Todavia, após o momento fixado para a estabilização da demanda 
podem ocorrer fatos que, embora não tenham sido deduzidos pelo autor no 
momento apropriado, interfiram diretamente na relação jurídica posta em juízo, o 
que recomenda sejam considerados na definição do resultado da demanda. 
Pode acontecer também de tais fatos, embora tenham ocorrido 
anteriormente, tornarem-se conhecidos somente após a estabilização da 
demanda. 
A esse respeito, como bem observa Ricardo de Barros Leonel, 
“embora o enquadramento esquemático e linear do desenvolvimento da demanda 
em juízo pareça simples, a realidade das coisas, a complexidade das situações 
 32
da vida deduzidas em juízo, e a dinâmica processual da atuação das partes, não 
se mostram sempre tão claras” 50
Diante de tal problema, surge a necessidade de identificar critérios 
que permitam disciplinar a assimilação dos fatos ocorridos posteriormente, ou de 
que se tenha tomado ciência somente após a estabilização da demanda, de modo 
que não seja desconsiderado o princípio da imutabilidade da ação, mas que por 
outro lado, também não se transforme o processo num exercício totalmente 
abstrato e afastado da realidade fática, da qual emerge a lide e sobre a qual deve 
atuar, concretamente, a jurisdição. Este é o principal escopo do presente trabalho. 
 
50 Objeto litigioso e direito superveniente no processo civil, p. 95 
 33
 
3. CAUSA DE PEDIR – EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
3.1 Direito romano – 3.2 Direito romano 
visigótico – 3.3 Idade média e direito 
comum – 3.4 Difusão do pensamento 
jurídico romano-canônico nos Estados 
Monárquicos da Península Ibérica – 
Espanha e Portugal. 
 
3.1 Direito romano 
 
José Rogério Cruz e Tucci adverte para o sério risco de 
transplantar-se precipitadamente para o direito atual a concepção romana de 
causa petendi, uma vez que os romanos não conheciam a distinção entre o direito 
substancial e a actio, distinção essa detectada somente pela dogmática 
moderna.51
Costuma-se dividir o processo civil romano em três grandes 
períodos: o da legis actiones, o per formulas e o da extraordinária cognitio. 
No período da legis actiones,52 que vai desde os tempos da 
fundação de Roma até o final da República, a ordem jurídica romana consistia em 
um sistema de ações. Todavia, como explica Pugliesi, a actio, naquela época, 
 
51 A causa petendi no processo civil, p. 17. 
52 José Rogério Cruz e Tucci observa que a denominação advém do fato de que ações nesse 
período eram organizadas pela lei ou conformavam-se às palavras da lei (Lições de história e 
do processo civil romano, p. 197 ss). 
 34
indicava a titularidade do direito subjetivo material.53 Sobre a origem da actio 
romana, Garrone observa que o instituto surgiu em substituição à autotutela, 
mantendo a natureza de reação privada, só que representada segundo um rígido 
modelo legal, perante o magistrado.54 Redenti salienta que “o agere, 
originariamente, correspondia ao uso da própria força para recuperar ou para 
obter alguma coisa de outrem. Quando o processo surge como exigência de 
ordem e paz social, o agere passa a constituir um retorsão justificada (...) Nas leis 
que se seguiram a tal momento, vinham definidas as causae que possibilitavam a 
alguém o agere contra outros”.55 Portanto, no âmbito do processo romano arcaico, 
causa seria o fundamento que legitimava o agere da parte ou, em outras palavras, 
seria a “justificação da ação”.56 
As legis actionis eram taxativamente especificadas na lei e tinham 
caráter muito rígidos; uma simples variação literal levava à rejeição da demanda. 
O processo era extremamente formal e devia obedecer a ritual solene e 
predeterminado. Havia, ainda, a combinação do elemento laico (jus) com o 
elemento religioso (fas).57
O período formular foi introduzido pela Lex Aebutia (149-126 a.C.) e 
estendeu-se até a época de Diocleciano (294-d.C.), instituindo um processo 
menos formalista e solene que o das ações da lei. Como é sabido, nessa nova 
ordem jurídica o pretor passa a desempenhar papel bastante relevante e o iudex 
(magistrado) passou a gozar de liberdade mais ampla. Enquanto o processo 
judicial anterior era eminentemente oral, no período formular passa a ser 
 
53 Actio e diritto subjetivo, p. 346. 
54 Contributo allá teórica della domanda giudiziale, p. 16. 
55 Breve storia semântica di causa in giudizio p. 5. 
56 Cf. Anna Maria Giomaro, La tipicitá delle legis actiones e la nonimato causae, p .51. 
 35
predominantemente escrito. A fórmula consistia no documento redigido pelo 
magistrado, com o auxílio das partes, no qual se fixava o objeto da demanda que 
seria julgado pelo iudex popular. Segundo Gaio, a fórmula possuía quatro partes 
principais, a saber: intentio, demonstratio, adiudicatio e condemnatio. Nesse 
ponto, interessa-nos identificar que, na primeira parte, ou seja, na intentio, 
enunciava-se a relação jurídica substancial deduzida em juízo, ou seja, o fato em 
que o autor fundava sua demanda, o que significa, em outras palavras, a causa 
petendi. No período

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