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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO ALUNO: RENATO NEVES TURMA: DI1MA RESENHA CRÍTICA DO CAPÍTULO 1° DO LIVRO “HISTÓRIA JURÍDICA EUROPEIA” DE ANTÔNIO MANUEL HESPANHA António Manuel Botelho Hespanha foi um historiador e jurista português. Licenciado e pós-graduado em Direito pela Universidade de Coimbra e doutorado e agregado em História Institucional e Política, docente e investigador. Ele teve grande importância na historiografia do direito, tendo escrito livros como Cultura Jurídica Europeia, 1996 (a qual esta resenha se direciona); Pluralismo Jurídico e Direito Democrático, 2019; As Vésperas do Leviathan, 1986; dentre outros tão fundamentais quanto para o estudo contemporâneo da história jurídica. Entre os anos de 1978 e 1984, Hespanha foi assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Posteriormente, de 1999 a 2011, ano da sua aposentadoria, foi Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, na qual lecionava matérias de História e de Teoria do Direito. Entre 1995 e 1998 foi, paralelamente, comissário-geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP). Em questões políticas, foi militante do Partido Comunista Português até 1988. Após, assumiu posições próximas do bloco de esquerda. Em 2000, apoiou Jorge Sampaio na sua candidatura a um segundo mandato como Presidente da República de Portugal. Antônio Manuel Hespanha faleceu dia 1 de julho de 2019, com 74 anos e deixando um legado de grandes feitos na história do direito. O livro Cultura Jurídica Europeia tem o enfoque no discorrimento acerca da importância da história do direito na formação dos juristas, ou seja, qual o papel da história do direito na formação dos juristas. O autor afirma que a missão da história do direito é problematizar o pressuposto implícito e acrítico das disciplinas dogmáticas, ou seja, o de que o direito dos nossos dias é o racional, o necessário, o definitivo (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 21). Hespanha explicita que a história jurídica pode sustentar diferentes discursos sobre o direito. O primeiro citado é a história do direito como discurso legitimador (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 22). É idealizado que a história jurídica pode contribuir para legitimar o direito estabelecido. Acerca disso, é explicado que o direito em si necessita de legitimação e a história do direito serve para fornecer essa legitimação e ainda que ela serviu, de fato, como instrumento auxiliador durante um longo período da história jurídica europeia. Existe outra perspectiva dentro dessa ideia de discurso legitimador, segundo o autor. Ele afirma que a história poderia demonstrar que se foram firmando consensos sobre certos valores e que eles deveriam ser respeitados no presente (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 26). A história do direito seria, desse modo, um fórum de um contínuo plebiscito e poderia, assim, documentar o espírito de um povo. Contudo, o autor deixa bem claro que o sentido dos termos jurídicos é relacional/ local e, por isso, possuíam uma descontinuidade no sentido. Sendo assim, essa segunda hipótese seria descartada por não poder se comprovar tal continuidade das categorias jurídicas e descarta-se com ela a ideia de “caráter natural” dessas categorias. Hespanha fala que o que ocorreu nesse caso foi uma naturalização da cultura, que consiste em considerar natural aquilo que nos é familiar, o que torna inviável a teoria de continuidade dos elementos jurídicos. O autor fala também sobre a teoria do progresso linear, que julga ser possível o uso da história para provar uma linearidade do progresso jurídico. O autor logo explicita que essa teoria resulta frequentemente de o observador ler o passado a partir da perspectiva daquilo que acabou de acontecer – anacronismo (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 29). A autoria introduz a história crítica e afirma que existem estratégias para alcançar os objetivos de uma história crítica. A primeira estratégia é a de instigar uma forte consciência metodológica nos historiadores, problematizando a concepção ingênua segundo a qual a narrativa histórica é senão o simples relato daquilo que “realmente aconteceu” (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 33). Um pouco mais a frente, o autor explicita o fato de que os acontecimentos históricos são criados pelo trabalho do historiador. Aquilo que o historiador crê encontrar como a “alma de um povo”, na verdade é ele que lá o põe – a partir de suas crenças e preconceitos. Com isso, também introduz os cuidados que o historiador deve ter ao realizar seus estudos: eles devem estar cientes do artificialismo da realidade histórica por eles criada, da forma como seus processos mentais modelam a realidade histórica e das raízes social e culturalmente embebidas deste processo de criação (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 34). Hespanha apresenta a segunda estratégia de uma história crítica, que é a de eleger como objeto da história jurídica o direito em sociedade – essa linha de evolução domina a historiografia contemporânea a partir da Escola dos Annales, com a sua ideia de história total. Essa estratégia leva a uma história do direito intimamente ligada à história dos diversos contextos com os quais o direito funciona (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 35). Adiante, se fala sobre a percepção dos poderes “periféricos”, sintetizando que o entendimento das normas jurídicas depende da sua integração com os complexos normativos que organizam a vida social e conclui que o Direito tem um sentido meramente contextual e local. Com isso, Hespanha reafirma a ideia de que ele [o Direito] sofre dessa descontinuidade temporal de sentido. Posteriormente, o autor fala sobre a ideologia da neutralidade política. Ele afirma, com base na teoria crítica da Escola de Frankfurt, que qualquer atividade humana tem uma componente política e disciplinadora, partindo do pressuposto de que toda relação social pressupõe dominação. Sempre há quem coordena a relação e quem obedece. Foucault subsidia a discussão quando fala sobre a onipresença do poder na sociedade e a necessidade de a teoria política se assumir para captá-lo em toda sua extensão. Hespanha explicita que a historiografia atual se apoia tanto em temas provindos da mais acadêmica reflexão teórica como numa pré-compreensão do mundo com raízes na mais recente cultura contemporânea. E ainda que foi dessa ideia que resultou a tendência dos historiadores do Direito de alargarem seu campo de pesquisa para além do âmbito do direito oficial, integrando nele todos os fenômenos de normação social – normas religiosas, costumes etc. Para o autor, a própria produção do direito é um processo social, ou seja, algo que depende de um complexo que envolve toda a sociedade. Por isso, é obrigatório que se considere o processo social de produção do próprio direito na explicação dele mesmo. A ideia central é de se relacionar o direito com os espaços sociais explicando a partir daí os efeitos jurídicos produzidos. Antônio Hespanha explana que a ideia comum a qualquer denominação da história do Direito é a da autonomia dele em relação aos momentos não jurídicos das relações sociais. E fala ainda que o imaginário jurídico pode, de fato, modelar imaginários sociais mais abrangentes, bem como as práticas sociais que deles decorrem. De acordo com a teoria da recepção, ler um texto é reproduzi-lo, dando-lhe um novo significado, de acordo com a nova maneira como ele é integrado no universo intelectual do leitor. Logo, segundo Hespanha, a história jurídica deve evitar a reificação dos valores na sociedade, já que eles sofrem permanentes modificações do seu sentido ao decorrer do tempo. Entretanto, algo de permanente resiste a estas sucessivas reapropriações: o hábito inculcado pela tradição literáriaem que o leitor se formou. A terceira estratégia de uma história crítica do Direito introduzida pelo autor é a de insistir no fato de que a história jurídica não constitui desenvolvimento linear, necessário, progressivo, escatológico. Isso significa que a história possui descontinuidade e ruptura de ideias. Contudo, os juristas e historiadores tendem a crer que o Direito constitui uma antiga tradição agregativa, em que as novas soluções se somam às mais antigas, atualizando-as. O autor deixa bem claro seu posicionamento acerca da suposta continuidade do Direito. Ele afirma que, se os valores são contextuais, qualquer mudança no contexto do direito corta-o da tradição prévia – de certa forma negando tal continuidade. A história do Direito é assim constituída por uma sucessão de sistemas jurídicos sincrônicos e fechados entre si – o que consiste no pluralismo jurídico. Assim, Hespanha reafirma que o direito se recompõe continuamente e, ao fazê- lo, recompõe também a leitura da sua própria história, atualizando-a e explicita a ideia de que o passado modela o presente pela disponibilização de uma grande utensilagem social e intelectual com que se produzem novos valores e normas dentro da sociedade. Com essa ideia, que traz uma crítica ao progresso linear, de genealogia e de influência, o presente deixa de ser o apogeu do passado e se torna apenas mais um arranjo aleatório que os elementos herdados da tradição poderiam ter produzido. “A ideia de descontinuidade torna o passado não mais um precursor do presente – o passado é libertado do presente” (Cultura Jurídica Europeia, 1966. P. 52.). Por fim, pode-se concluir que essa parte da obra é de fato uma excelente fonte de conhecimento, de modo objetivo e sucinto, sobre alguns pontos fundamentais da história do direito, como o cuidado que o historiador deve ter ao relatar os fatos – dentre outros pontos fundamentais. Além disso, a linguagem acessível presente no livro o torna um grande instrumento de estudo para a área do direito, história, sociologia, antropologia, entre outras diversas áreas, de modo que se faz entender por uma ampla gama de leitores os quais podem ter o intelecto profissional desenvolvido e aprofundado. BIBLIOGRAFIA HESPANHA, Antonio Manuel. Cultura Jurídica Europeia: Síntese de um Milênio. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Manuel_Hespanha https://www.conjur.com.br/2019-jul-01/morre-antonio-manuel-hespanha-jurista- historiador https://www.migalhas.com.br/depeso/306042/antonio-manuel-hespanha-o- jurista-para-a-historia