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1 NOME DO CAPÍTULO DHEG Eduardo Antunes Martins Cap. 04 Ginecologia e Obstetrícia Ponta Grossa SUMÁRIO Introdução ........................................................................ 1 DHEG............................................. 1 Eclampsia ........................................................... 4 Síndrome HELLP ........................................................... 5 HAC na Gestação ........................................................... 6 Referências Bibliográficas .............................................. 6 Ginecologia e Obstetrícia 1 U N I D A D E I Neste capítulo falaremos das possibilidades de interação entre a HAS e a gestação, sendo que temos duas entidades distintas: a hipertensão crônica na gestante e a doença específica da gravidez (DHEG). DHEG A DHEG é definida como hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria após as 20 semanas da gestação e que não se mantém após o puerpério, sendo a HAS crônica da gestante aquele aumento na pressão anterior à gestação ou antes de 20 semanas e que se mantém após o puerpério (definição do Colégio Americano de GO, de 1972). DHEG e pré-eclâmpsia (PE) são sinônimos, enquanto eclampsia é utilizado para descrever convulsõs tônico- clônicas em pacientes com PE. Podemos ter ainda uma HAS crônica sobreposta a PE e a chamada hipertensão transitória, que é semelhante à DHEG, mas não tem proteinúria e normaliza-se em até 10 dias do pós-parto. Atualmente sabe-se que a eclampsia nada mais é do que uma forma grave de PE (como uma evolução, não necessária). Já a hipertensão transitória é considerada uma HAS crônica que apareceu clinicamente mais branda na primeira metade da gestação. Como já comentado, a DHEG é definida por: HAS: com pressão sistólica > 140 mmHg e/ou diastólica > 90 mmHg; Edema: pode ser de mãos e face, como também edema mais generalizado. É não depressível, não desaparece com repouso. Também considera-se edema o aumento de > 1 kg por semana; ou Proteinúria > ou igual a 300 mg/24 h. Epidemiologia Ocorre em 6-8% das gestações, correspondendo a 15% das mortes maternas dos EUA e 25% das mortes maternas na América Latina. O baixo nível sócio-econômico e, consequentemente, pré-natal precário está apenas associado a um aumento no número de evoluções para eclampsia e síndrome HELLP, e não com a DHEG propriamente dita. São fatores de risco para DHEG: Primeira gestação (75 % em nulíparas) Idade materna avançada > 40 anos Obesidade História familiar DHEG prévia Gestação múltipla DM Trombofilias Isoimunização Rh Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) – única situação que pode deflagrar a DHEG antes de 20 semanas Etiologias São várias as possibilidades de causas de pré-eclâmpsia, sendo as teorias mais aceitas as seguintes: Deficiência da invasão trofoblástica: na gestação normal o trofoblasto invade e modifica as artérias espiraladas. Na DHEG a invasão é insuficiente e os vasos mantêm-se com pequeno diâmetro e alta resistência, resultando em diminuição do fluxo no espaço interviloso. Fatores imunológicos: a incidência de DHEG em multíparas que engravidam de novo parceiro é semelhante à incidência em nulíparas. A exposição prévia a um mesmo antígeno paterno parece ter efeito protetor e o contato com antígeno diferente parece aumentar o risco (multípara com DHEG dificilmente será com o mesmo parceiro – mas sempre lembrar de outros fatores de risco, como idade, DM e obesidade); C A P Í T U L O 4 DHEG 2 Lesão endotelial e alterações inflamatórias: nos vasos de mulheres com PE há menor concentração de substâncias vasodilatadoras (óxido nítrico e prostaciclina) e maior concentração de vasoconstritoras (endotelina) e de fatores pró-coagulantes. Predisposição genética: filhas e irmãs de pacientes que apresentaram DHEG têm maior incidência da doença. Fatores nutricionais: pesquisa-se se suplemento com cálcio, vit C e E conferem proteção ao surgimento de PE. Estresse: é importante fator no aumento da PA. Provoca lesões no endotélio através de alterações no sistema imunológico e da produção de radicais livres. Resumidamente, a fisiopatologia da DHEG inicia com vasoespamo e lesão endotelial, o que leva a um aumento na resistência periférica total e da PA e consequente redução da perfusão tecidual. Figura 1 – Prováveis etiologias e fisiopatologia da DHEG. Diagnóstico O diagnóstico da DHEG é clínico e laboratorial. O fator mais importante a ser visto e cada vez mais traz-se que ele sempre deve estar presente é a proteinúria maior que 300 mg/24 hr (ou mais de 3 cruzes na fita indicadora). A proteinúria é importante também como fator prognóstico para o bebê, já que eleva o risco perinatal (RCF, por exemplo) e risco de óbito fetal. A proteinúria maciça associado a uma pressão diastólica maior que 120 mmHg aumenta a mortalidade perinatal em 29 vezes. O ácido úrico, apesar de não necessário para firmar o diagnóstico, é um indicador muito bom da doença, pois eleva-se precocemente na DHEG (mas ainda assim não pode ser usado como teste de screening) e esta relacionado Ginecologia e Obstetrícia 3 U N I D A D E I à gravidade da doença e a RN de baixo peso. Na DHEG grave esse ácido úrico geralmente está acima de 6 mg/dl (normal para gestante é até 4,5 mg/dl). Outros exames complementares que podem estar alterados: Plaquetas < 100.000 (normal até 115.000) TGO / TGP > 70 LDH > 600 BT > 1,2 Também se pode pesquisar colagenoses e trombofilias em casos de DHEG grave de instalação precoce e TC cerebral para avaliar a presença de hemorragia cerebral (piora bastante o prognóstico) nos casos de eclampsia com convulsões reincidentes. Prevenção Não existe prevenção primária da DHEG, já que não se conhece sua etiologia corretamente. A prevenção secundária é limitada, sendo restrita ao reconhecimento de fatores de risco e a tentativa de sua diminuição. É na prevenção terciária que se pode atuar mais, com controle de PA, prevenção de crises convulsivas, avaliação de crescimento e vitalidade fetal, interrupção da gestação. Tratamento Conduta Cl ínica Divide-se em: Medidas não farmacológicas: repouso e diminuir a quantidade de estresse. DLE por até 4 horas (dois períodos de 2 hr). Pode se aplicar também uma dieta hipossódica (não abusar); Farmacológicas: sedação com benzodiazepínico (Neozine gotas; 3-4 gotas sublingual à noite – ansiolítico e hipotensor suave) é geralmente o tratamento inicial e primário, sendo o único nos casos mais leves (DHEG leve, com 34 semanas ou mais e que melhora parcialmente com o afastamento do trabalho). Utiliza-se hipotensores nos casos sem pré-natal ou no pré-parto (rotina de DHEG para investigar síndrome HELLP, ou seja, com edema pronunciado, sintomas graves e aumento da PA). São em ordem de escolha: pindolol até 30 mg/dia, metildopa 750 a 2.000 mg / dia, anlodipina / nifedipina retard até 120 mg/dia. Já para o tratamento de complicações hipertensivas agudas utiliza-se as seguintes medidas: DLE e dorso elevado Acesso venoso com SG 5% Hidralazina 5 mg EV a cada 15 minutos Monitorar PA, deve-se reduzir 20-30% Cardiotocografia Alternativa é o nitroprussiato Conduta Obstétrica A DHEG associa-se a maior risco de insuficiência placentária, entretanto não é uma “sentença” de evolução ruim da gestação. Dessa forma, se o quadro clínico materno estiver controlado e o crescimento e a vitalidade fetal estiverem assegurados, o parto deve ocorrer o mais próximo possível do termo. Como só temos dois tipos de DHEG (leve e grave) temos as seguintes condutas para cada situação: PE leve: A partir do diagnóstico de DHEG: acompanhamento ambulatorial semanal deve-se realizar avaliação clínica, proteinúria e vitalidade fetal. Acima de 34 semanas recomenda-se realizar sopplervelocimetria e atividades biofísicas fetais pelo menos 1 vez por semana (é uma cardiotocografia associado a um mobilograma – a mais usada é a que deita por 30 minutos após 30 C A P Í T U L O 4 DHEG 4 minutos da última refeição para avaliar a movimentação fetal, sendo feito isso nas 3 principais refeições do dia PE grave ou HAS crônica sobreposta a DHEG (PE superajuntada – diferencia-se da PE grave pela presença de proteinúria de 24 hr): considera-se uma PE grave aquelas pacientes que apresentam: o PAS > = 160 ou PAD > = 110 o Proteinúria > 5 g / 24h o Edema generalizado o Oligúria < 400 ml / 24h o Cianose / edema pulmonar o Iminência de eclampsia – parte clínica, sem relação com PA Nesses casos a conduta é: Internação em enfermaria de gestação de alto risco Vitalidade fetal de 2 x semana até diariamente Na iminência de eclampsia usar sulfato de magnésio Interromper com 37 semanas (ou com a piora do quadro) – a interrupção imediata da gestação ocorre em: o Interrupção imediata se: mau controle pressórico com 3 drogas em dose máxima, Doppler umbilical ou CTG ou PBF (perfil biofísico fetal – exame que conjuga cardiotocogofria com USS, para perceber movimento respiratório e ativa dos membros do bebê) alterados, ILA < 30 mm (normal é 80 mm). o Interrupção mediata, após corticoide (mais ou menos 2 dias), se: ILA entre 30 e 50, Doppler ducto venoso alterado Após o parto deve-se manter a mãe sem hipotensores por 72 hr, introduzindo novamente se a pressão diastólica estiver > 100 mmHg. A HA e proteinúria podem perdurar por semanas e até 2 anos! Predisposição à HAS e complicações cardíacas e renais futuras. ECLAMPSIA É a ocorrência de convulsões tônico-clônicas generalizadas em portadoras de PE, excluindo-se outras causas para convulsões (epilepsia, trauma, lesão de SNC, distúrbio metabólico, infecções). Dessa forma a única paciente que pode apresentar eclampsia se já apresentava DHEG (diagnosticada ou não). Como já comentado, piores condições socioeconômicas estão associadas apenas com eclampsia e síndrome HELLP, pois o pré-natal não é feito de maneira correta (a detecção da DHEG fica falha, ocorrendo maior número de evoluções para eclampsia). As complicações (que dependem da IG e das condições maternas) ocorrem pela hipóxia secundária às convulsões. A eclampsia pode ser classificada em: Eclâmpsia não complicada = Convulsão, sem outras intercorrências. Eclâmpsia complicada + Coagulopatias, insuficiência respiratória, insuficiência cardíaca, IRA, icterícia, PAD > = 120. Eclâmpsia descompensada + choque, coma, hemorragia cerebral, necessidade de assistência ventilatória. Não se conhece a fisiopatologia da eclampsia, mas algumas possibilidades já foram sugeridas: edema cerebral, isquemia, encefalopatia hipertensiva, infarto cerebral, hemorragia cerebral. Quadro Clínico O quadro clínico é facilmente identificado, sendo a própria definição da eclampsia. Pode ocorrer ainda aumento do tônus uterino, da frequência das contrações e bradicardia fetal. São diagnósticos diferenciais (todos podem causar crises epilépticas): AVC; Lesões do SNC – tumor, abscesso; Epilepsia Feocromocitoma; Doenças metabólicas; Púrpura trombocitopênica trombótica; Doenças infecciosas. Ginecologia e Obstetrícia 5 U N I D A D E I Tratamento Primeiramente avalia-se rapidamente o estado geral, garantindo oxigenação materna adequada. A partir daí, aplica-se medicamentos para controle das convulsões: Sulfato de magnésio: em uma dose de ataque de 4-6 g EV em 20 minutos (dilui-se em 20 ml, para gluconato a 50%, e aplica-se manualmente 1ml por minuto, observando qualquer sinal de toxicidade); depois aplica-se dose de manutenção de 1-2 g EV por hora em bomba de infusão, mantendo-se por 24 hr após o último evento (considera-se evento uma convulsão ou o nascimento do feto). Lembrar sempre de já estar preparado o antídoto! Você ainda pode repetir apenas MAIS UMA VEZ a dose de ataque caso ela volte a convulsionar após a dose de manutenção. Caso ainda não funcione é indicado hidantalizar a paciente; Fenitoína (hidantalização): indicado em convulsões persistentes ou hemorragia cerebral. Dose de ataque de 250 mg EV, 3x a cada 30 minutos; manutenção de 100 mg de 8/8 horas. O “antidoto” do sulfato de magnésio, que deve ser preparado em conjunto com o produto a ser aplicado na gestante e colocado na parede identificado ao lado do leito da paciente, é o gluconato de cálcio. O hipotensor é utilizado quando a pressão diastólica for maior que 110 com 30 minutos após dose de ataque da sulfatação. Isso é feito porque se deve tratar a eclampsia antes da crise hipertensiva e, além disso, o sulfato de Mg tem efeito hipotensor pequeno-médio. Utiliza-se hidralazina EV. Além disso manter a monitorização fetal, IG correta, peso e vitalidade. Tratamento Obstétrico O tratamento definitivo da eclampsia é a interrupção da gestação. Na eclâmpsia não complicada com feto vivo e inviável (menor que 24 semanas) pode haver conduta conservadora até 34 semanas (muito difícil, pois o quadro é muito grave). Manter a compensação da ventilação, oxigenação, quadro convulsivo, PA, volemia, equilíbrio ácido-básico e coagulação. O ato anestésico (por exemplo, a cesárea) deve ser feita apenas depois de 2 horas da dose de ataque do sulfato de Mg. SI NDROME HELLP A síndrome HELLP é uma complicação da PE, sendo um anagrama para: H = Hemólise: destruição das hemácias provoca aumento de bilirrubina não conjugada e de DHL EL = Elevação de enzimas hepáticas: necrose de hepatócitos provoca aumento de TGO e TGP LP = Plaquetopenia: por destruição das plaquetas As manifestações clínica da HELLP são bastante inespecíficas, criando grande dificuldade na definição e diagnóstico da síndrome. São elas: cefaléia, dor epigástrica, dor HCD, perda de apetite, náusea, vômitos, escotomas, alteração do nível de consciência. Dessa maneira, a confirmação diagnóstica é laboratorial: Esquizócitos periféricos; BT (Hb fetal) > 1,2 Plaq < 100.000 DHL > 600 TGO e TGP > 70 São diagnósticos diferenciais: Síndrome hemolítico-urêmica: IRA, geralmente após o parto PTT: predomínio de sintomas neurológicos Esteatose hepática aguda da gravidez: hipoglicemia grave e CIVD Colagenoses, pancreatopatias, colecistopatias C A P Í T U L O 4 DHEG 6 Tratamento A conduta é a mesma para formas graves de HAS (estabilização materna, profilaxia da convulsão, anti- hipertensivos, avaliação da vitalidade fetal). Corticóide anteparto melhora parâmetros laboratoriais (plaq, enzimas hepáticas, bilirrubinas – para melhora do quadro clínico da mãe), dessa forma indica-se Dexametasona 10 mg 12 /12 horas. Tratamento Obstétrico Deve-se interromper a gestação com > 34 semans, de preferência pelo parto vaginal (cesárea sangra mais e tem maior probabilidade de lesão hepática). Anestesia geral se plaquetopena < 70.000. A monitoração pós parto em UTI com PA, diurese, pulmões, balanço HE, laboratório 12/12h, sulfatação 24 h. HIPERTENSA O CRO NICA EM GESTANTE É a doença hipertensiva anterior à gravidez ou hipertensão identificada pela primeira vez durante a gravidez. A HAC pode ser dividida em complicada (comprometimento da função renal ou cardíaca, ou PE superajuntada) e não complicada (função renal e cardíaca normais. Na 1º consulta deve-se solicitar ECG, ecocardiografia, fundo de olho, US rins. Orientar DLE, dieta hipossódica e estresse. Nos 3 trimestres solicitar proteinúria (para diferenciar de DHEG), ureia, ácido úrico e creatinina. Doppler realizado com 20, 26, 32 e 35 semanas. Após 34 semans fazer consultas semanais e CTG. O uso de anti-hipertensivos ocorre quando PAD > 90 mmHg, sendo o uso de diuréticos controverso (não usar de princípio). Critérios de internação: PE sobreposta, crise hipertensiva, controle insatisfatório da PA, comprometimento fetal (ILA, Doppler). Interromper a gestação com: 40 semanas se PA bem controlada e feto bem 37 semanas se PE sobreposta Interrupção imediata se comprometimento materno Referências Bibliográficas Zugaib Obstetrícia - editor: Marcelo Zugaib - 2ª edição - Barueri, SP: Manole, 2012.
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