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ECONOMIA POLÍTICA Filipe Prado Macedo da Silva Karl Marx e a luta de classes Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a influência de Karl Marx na sociologia. Relacionar as mudanças ocorridas, decorrentes da Revolução Industrial, com o surgimento do capitalismo, na visão de Marx. Analisar a teoria da luta de classes enquanto força motriz da história. Introdução Neste capítulo, você vai estudar as principais contribuições teóricas de Karl Marx, um importante intelectual social e econômico que analisou e criticou as transformações produzidas pelo domínio do sistema de produção capitalista. Karl Marx influenciou fortemente os arcabouços teóricos da sociologia e a forma de enxergar as lutas de classes. Para isso, construiu uma teoria da luta de classes e um conjunto de reflexões acerca das mudanças ocorridasem decorrência da Revolução Industrial e de como isso mudaria para sempre as relações sociais entre as classes dominantes (burgueses) e dominadas (trabalhadores). A influência de Karl Marx na sociologia Não há dúvidas de que Karl Marx foi um importante teórico para o campo da sociologia (NETTO, 2006). Isso porque, até hoje, as contribuições teóricas de Karl Marx ajudam a explicar a sociedade atual — pelo menos, nos últimos 150 anos. Foi nesse mesmo período — a partir da Revolução Industrial — que a sociedade capitalista se consolidou como forma de organização social e material. Em outras palavras, as obras literárias de Karl Marx, em especial o livro O Capital, em que ele analisou profundamente as raízes do capitalismo, trouxeram “novas formas de enxergar o mundo e a sociedade que nascia”, e que perdura até hoje — a sociedade capitalista. E o que está envolvido na análise de Karl Marx? Nesse sentido, a grande influência de Karl Marx está em seus profundos conhecimentos e/ou reflexões sobre o modo de produção capitalista (NETTO, 2006). É nesse momento histórico que as contribuições sociológicas de Karl Marx ganham o mundo cientifico e político, a partir de uma nova visão acerca do “novo mundo de prosperidade material e econômica”. Esse “novo mundo de prosperidade material e econômica” surgia ao mesmo tempo em conexão com uma “nova sociedade ou civilização”, com características predominantemente urbanas e industriais. Assim, a sociedade pós-Revolução Industrial baseava-se em uma “nova razão de vida individual e coletiva moderna”, e estruturava-se em “novas relações sociais”, com “novas classes sociais” (SILVA, 2010). Sendo assim, a análise sociológica de Karl Marx tinha como “núcleo duro” o capital e a sua reprodução social. Isso incluiu entender o seu entorno e o seu funcionamento, a fim de compreender como a sociedade tratava a mercadoria, as relações de trabalho, as relações entre nações, os meios de produção, a relação com a moeda, entre outros (MARX, 2008). Por exemplo, ao iniciar seus pressupostos sobre a produção de mercado- rias, Karl Marx buscou entender como as ferramentas e o trabalhador eram utilizados na produção e na reprodução de mercadorias, e como as relações sociais evoluem ou se transformam. Além disso, ele escreveu fortemente sobre o “mundo burguês” que nascia em torno ao capitalismo, adquirindo protagonismo social, político e econômico — ou seja, um sistema econômico de ordem burguesa (MANDEL, 1968; NETTO, 2006). Paralelamente ao “mundo burguês”, nascia ainda, com a urbanização e a industrialização em massa, um “mundo do proletariado”, com a massificação dos trabalhadores urbanos industriais. Já, no século XIX, eram visíveis as transformações da sociedade inglesa, que passava de um “plano rural rudi- mentar” para um “plano urbano mecanizado”, em que os padrões da sociedade tradicional (mais socializada e religiosa) davam lugar a novos padrões seculares e econômicos (mais racionais e pragmáticos) (SILVA, 2010). Em suma, Karl Marx destacou que a sociedade capitalista era formada por: burgueses e trabalhadores. Os burgueses estabeleciam-se em torno dos meios de produção — terra, matérias-primas, máquinas, etc. Já os trabalhadores, alienados dos meios de produção, estruturavam-se em torno da sua força de trabalho. Ambas são distintas, mas são necessárias uma para a existência da outra, de acordo com Karl Marx (MARX, 1983). Em outras palavras, “a sociedade burguesa não pode existir sem os traba- lhadores”, e o capitalismo não pode prosperar sem a evidente divisão social Karl Marx e a luta de classes2 entre essas duas classes sociais (MARX, 1983; NETTO, 2006). Além do mais, a lógica da sociedade capitalista não existe sem alguns dos mecanismos predominantes nas relações produtivas como, por exemplo, a alienação do trabalhador e o “fetichismo da mercadoria”. Em todas as suas obras, Karl Marx trabalhou bastante as distinções entre as classes sociais do capitalismo e suas novas relações — moldando novos paradigmas sociais. Por exemplo, na Antiguidade, a luta de classe acontecia pelo permanente confronto entre os senhores e os escravos — enquanto, na Idade Média, esse conflito evidenciava-se no esforço dos servos contra os senhores feudais. Ou seja, em qualquer momento da história, inclusive do capitalismo, existem relações sociais de opressão (MARX, 2008). Essas relações sociais de opressão — segundo Karl Marx — produzem con- flitos e geram a possibilidade de uma revolução social com a perspectiva de novas relações produtivas. Foi no Manifesto Comunista que Karl Marx escreveu que “os proletários nada têm a perder a não ser seus grilhões, tendo um mundo a ganhar [sob outras perspectivas]”. Essa foi a recomendação de Karl Marx em 1848. É claro que existem inúmeras interpretações sobre a obra de Karl Marx, e análises conflitantes entre os próprios marxistas sobre essas questões teóricas e metodológicas. Em geral, Karl Marx tinha até uma visão otimista com relação à luta de classes, acreditando que, no final desse processo histórico, os trabalhadores construiriam uma nova sociedade dos proletários. Nessa sociedade dos proletários, a grande maioria da sociedade definiria os objetivos dessa nova sociedade — comunista ou socialista; esse seria o curso natural da história. Como frisou Karl Marx, assim como aconteceu no escravismo e no feudalismo, o capitalismo chegaria ao fim com uma grande crise interna, que colapsaria a economia, as instituições e as relações sociais de produção. Dessa forma, as crises seriam cada vez mais constantes nas economias industrializadas, revelando as contradições internas em que o sistema econômico capitalista se estrutura, e logo, “se autodestrói estruturalmente” (NETTO, 2006). Do ponto de vista econômico e sociológico, as crises capitalistas poderiam, em geral, se resumir às crises de acumulação, ou crises da mais-valia (SILVA, 2010). Isso significa que — economicamente — quando os burgueses não conseguem mais aumentar a mais-valia, seja em termos absolutos ou em termos relativos, entram socialmente em crise, pressionando a outra classe social a aumentar a mais-valia. Isso quer dizer que, nas crises capitalistas, os burgueses são obri- gados a explorarem cada vez mais os trabalhadores — em busca de melhores resultados econômicos, ou seja, da produção de mais-valia absoluta e relativa. Consequentemente, as relações sociais de produção capitalista não ficam apenas restritas aos efeitos do campo econômico. Também produzem fortes 3Karl Marx e a luta de classes efeitos sobre o campo social e o campo político. Logo, Karl Marx percebeu e influenciou não somente as relações de produção, mas também as relações sociais (ou da sociedade) e as relações políticas — como fundamentais para a compreensão da dinâmica das lutas de classes (KISHTAINY et al., 2013; MARX, 1983; SILVA, 2010). O modo de produção é um conceito elaborado por Karl Marx (e utilizado pelos seus seguidores, os marxistas) para definir o conjunto das forças produtivas e das relações de produção em seu entorno.Às vezes, o modo de produção pode se confundir, de certa maneira, com a estrutura econômica de uma sociedade qualquer — incluindo assim a produção, a distribuição, a circulação e o consumo. Historicamente, distinguem-se vários modos de produção: o comunista primitivo, o escravista, o feudal, o capitalista e o socialista. De acordo com Karl Marx, pelo menos na visão teórica, numa formação social concreta, podem estar presentes diferentes modos de produção, tendo ao menos um como domi- nante (SANDRONI, 2005). Por exemplo, recentemente, o modo de produção que é mais dominante é o capitalista. Logo, cabe destacar que Karl Marx, em sua obra mais importante, O Capital, ocupa-se fundamentalmente em analisar e teorizar sobre o modo de produção capitalista. Em outras palavras, ele busca entender como ocorre a produção capitalista, a distribuição capitalista entre as classes sociais e a circulação capitalista nas sociedades, e como o consumo se organiza entre os agentes socioeconômicos e as instituições. As mudanças ocorridas em decorrência da Revolução Industrial Com a ascensão do mercado e dos processos industriais, o período feudal chegou categoricamente ao seu fi m, dando lugar ao sistema de produção capitalista (MARX, 1983). Assim, a visão de Karl Marx surgiu num período extremamente turbulento da história europeia (BELL, 1961). A Revolução Industrial já havia encontrado seu rumo na Europa, deixando em seu rastro grande riqueza material e muita pobreza social. Na prática, Karl Marx e seu companheiro intelectual Friedrich Engels tiveram a grande oportunidade de presenciar o novo conjunto de inovações técnicas que surgem com a Revolução Industrial. Essas novas técnicas pro- dutivas produziram diferentes custos sociais no desenvolvimento capitalista, surgindo em toda a sociedade fenômenos e problemas sociais em larga escala. Karl Marx e a luta de classes4 Tudo isso era fruto das mudanças geradas pela Revolução Industrial — que foi o principal fenômeno da história humana na consolidação do sistema capi- talista como regime produtivo. Por exemplo, na Inglaterra, registros revelam que a Revolução Industrial causou profundas transformações sociais — como exploração e alienação extrema do trabalhador, ampliação da pobreza, aumento do desemprego e, ainda, concentração do capital e da produção (SILVA, 2010). Na realidade, Karl Marx, em O Capital, detalha minuciosamente o funcio- namento do sistema capitalista de maneira magistral. É por isso que muitos acham a leitura de O Capital complexa e densa — e com níveis elevados de abstração (intelectual). Nessa sua obra seminal, Karl Marx analisou inicialmente o processo de produção do capital, ressaltando o quanto a sociedade industrial passou a va- lorizar a mercadoria e o dinheiro como importantes elementos do processo de troca social. Daí, a mudança percebida por Karl Marx: no sistema capitalista, a perspectiva era transformar dinheiro/capital em mercadoria e, depois, em mais dinheiro/capital (D — M — D’). Para isso, novas lógicas de trabalho e novos mecanismos de valorização do capital passaram a ser gerados no seio da sociedade capitalista. Aqui cabe destacar a diferença que Karl Marx apontou entre capital constante e capital variável — além de diferenciar a mais-valia absoluta da mais-valia relativa. Esses conceitos fundamentais da economia marxista revelaram uma profunda alteração na lógica produtiva da sociedade. No capitalismo, de acordo com Karl Marx (1983), a mais-valia consiste no valor do trabalho não pago ao trabalhador. Cabe pontuar que, na sociedade capitalista, diferentemente do escravismo ou feudalismo, o preço da força de trabalho é medido mediante o salário. O salário é a remuneração pela compra da força de trabalho por parte dos proprietários do meio de produção — criando um sistema social em que as relações, portanto, são mediadas pelo salário (monetá- rio). Karl Marx destacou que, ainda que o salário seja a nova forma das relações sócio-produtiva, existe cada vez mais aquela parte do esforço do trabalho de que o trabalhador não pode se apropriar, pois é a parte com a qual o proprietário do meio de produção executa a sua acumulação de capital (MARX, 1983, 2008). Além do mais, a partir da Revolução Industrial, a lei geral da acumulação capitalista passou “a reinar como a lógica dominante do sistema capitalista” (SILVA, 2010). Em poucas palavras, a produção passou a ser apenas uma etapa para a acumulação do capital — sendo que o capital passa a ser a riqueza mais desejada da economia. A acumulação em termos absolutos e relativos tornou-se a pedra de toque da sociedade. 5Karl Marx e a luta de classes Aquelas relações de troca simplistas (ou seja, o escambo) e relações de trabalho não assalariadas ficaram para trás nas estruturas sociais predomi- nantemente capitalistas (SILVA, 2010). Assim, no capitalismo, a monetização da economia passou a ser a palavra de ordem, em uma lógica econômica, social e política em que o poder passou a ser do capital (BELL, 1961). Do outro lado, o progresso capitalista fez surgir as primeiras manifestações dos trabalhadores contra a nova estrutura social e econômica da sociedade. Na segunda década do século XIX, começaram a surgir as primeiras ideias socialistas, sobretudo na França e na Inglaterra, que tornavam claro que a classe operária teria que tomar consciência de sua exploração, das péssimas condições de trabalho, da falta de unidade [...] de classe, e da falta de uma doutrina alternativa que servisse de bandeira para a luta [...]” (SILVA, 2010). Portanto, a exploração dos trabalhadores, agora em massa, foi outro marco estrutural introduzido pela Revolução Industrial e ampliado pela consolidação do sistema capitalista de produção. Karl Marx revelou em suas análises que “o valor de uma mercadoria se baseava no trabalho necessário para produzi-lo, e que os capitalistas (ou proprietários dos meios de produção) organizavam os preços dos bens finais somando o preço do trabalho ao custo inicial do produto e depois adicionavam o lucro” (KISHTAINY et al., 2013). Logo, para elevar os lucros ou a mais-valia, os proprietários dos meios de produção mantêm os salários baixos, introduzem novas tecnologias para aumentar a eficiência produtiva e, portanto, condenam grandes contingentes de trabalhadores a condições degradantes de trabalho, monotonia e, por fim, desemprego. Ou seja, a Revolução Industrial trouxe “progresso econômico com deterioração social” (SILVA, 2010). Outra mudança importante observada por Karl Marx foi no campo da concorrência entre os capitalistas (SANDRONI, 2005). A tendência — se- gundo Karl Marx — é que cada vez menos produtores controlem os meios de produção, e uma burguesia cada mais restrita concentre cada vez mais riqueza. No longo prazo, isso criaria monopólios que poderiam explorar não somente os trabalhadores, mas também os consumidores (KISHTAINY et al., 2013). Assim sendo, as fileiras do exército industrial de reserva crescem/incham com os ex-burgueses excluídos e com os desempregados. Esse movimento levaria a uma maior complexidade da sociedade e dos mercados, revelando e ampliando cada vez mais as contradições internas do sistema capitalista de produção mercantil (SILVA, 2010). Em síntese, sob o capitalismo, Karl Marx notou que os meios de produção pertencem cada vez mais a uma minoria, que explora o trabalho da maioria e obtém lucro. Paralelamente, essa ganância pelo lucro leva a uma super- Karl Marx e a luta de classes6 produção dos bens procurados, causando uma crise produtiva na economia. Isso produz, de maneira cíclica e cada vez mais profunda, crises econômicas que geram instabilidade social e econômica, gerando agitação social. É essa “agitação social” que torna os trabalhadores cada vez mais conscientes de sua exploração e mais instruídos para derrubarem as classes dominantes que controlam a produção. É isso que leva a uma revolução segundo Karl Marx, alterando mais uma vez alógica da sociedade. É importante destacar que Karl Marx é uma coisa, e o Marxismo é outra coisa. O que isso quer dizer? Enquanto o primeiro trata-se do autor e de suas obras, sobretudo, o Manifesto Comunista (de 1848), a Contribuição à Crítica da Economia Política (de 1858) e O Capital (de 1867, 1885 e 1894), o segundo — o Marxismo — é uma denominação consagrada para a obra teórica de Karl Marx e Friedrich Engels e de seus seguidores. Em poucas palavras, o Marxismo “constitui uma fundamentação ideológica do moderno comunismo” (SANDRONI, 2005). Essa também chamada Escola do Pensamento Marxista baseia-se, principalmente, na obra O Capital, defendendo uma teoria da mais-valia e o capitalismo como um sistema transitório, sujeito a crises cíclicas, e que por efeito do agravamento de suas contradições internas, cairá a partir da revolução. A teoria da luta de classes enquanto força motriz da história Karl Marx elaborou também uma teoria da luta de classes, buscando explicar melhor os confl itos existentes no sistema capitalista. Segundo ele, “as desi- gualdades sociais observadas no seu tempo eram provocadas, em sua análise, pelas relações de produção do capitalismo, que dividem toda a sociedade em proprietários (burgueses) e não proprietários (proletariado)” (SILVA, 2010). São essas desigualdades que constituem as bases das classes sociais (MARX, 1983). Logo, as relações entre a sociedade no capitalismo se caracterizam por relações antagônicas, de oposição, incompatibilidade, exploração e complemen- taridade entre as classes sociais (BELL, 1961; MARX, 1983). Daí a percepção de que o conceito de luta de classes é inseparável do conceito materialista da história (MARX, 2008). Porém, o que isso quer dizer? De acordo com Karl Marx, “a história não passa de um registro cruel dos esforços do homem para ganhar ascendência material”. Ele acreditava que todos os conflitos repousavam em questões econômicas, e tais lutas eram 7Karl Marx e a luta de classes entre os que tinham e os que não tinham (MARX, 1983). Essas lutas eram a força motriz das sociedades capitalistas, e a razão inevitável e absoluta dos conflitos internacionais (SILVA, 2010). Novamente cabe observar que, no sistema capitalista, Karl Marx identificou relações de exploração da classe dos proprietários (a burguesia) sobre os traba- lhadores (o proletariado). Isso porque a posse dos meios de produção, sob a forma legal de propriedade privada, faz com que os trabalhadores, a fim de assegurar a sobrevivência, tenham que vender sua força de trabalho ao capitalista, “[...] o qual se apropria do produto do trabalho de seus operários” (MARX, 1983). Em termos práticos, essas relações são de obstinação e antagonismo, na medida em que os interesses de cada classe são inconciliáveis e, muitas vezes, inegociáveis (SILVA, 2010). O burguês deseja preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e das mercadorias, além da máxima exploração do trabalhador, seja reduzindo os salários, seja ampliando a jor- nada de trabalho. Por sua vez, o trabalhador procura diminuir a exploração ao batalhar por uma jornada de trabalho menor, além de melhores salários e participação nos lucros do empresário. Por outro lado, as relações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra (MARX, 1983). Karl Marx observou que só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos, cuja única propriedade é sua força de trabalho. Em suma, as classes sociais são, apesar “de sua oposição”, complementares e interdependentes Mesmo assim, para Karl Marx a luta de classes deve, necessariamente, acarretar a vitória do proletariado sobre a burguesia, e, uma vez conseguida esta vitória e desaparecido o antagonismo entre capital e trabalho, a luta de classes deixará de existir para sempre. Esse é o avanço histórico previsto por Karl Marx. Além do mais, Karl Marx ampliou, na teoria da luta de classes, o conceito de alienação do trabalhador, mostrando que a industrialização, a propriedade privada e o salário afastaram o trabalhador dos meios de produção — ferra- mentas, matérias-primas, terras e máquinas —, que estavam sob o controle dos capitalistas (MARX, 2008; SILVA, 2010). Karl Marx (1983) destaca que essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital. Do ponto de vista político, o homem também ficou alienado, pois o liberalismo criou a lógica de um Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade — e todas as suas classes — e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. No entanto, Karl Marx mostrou que, na sociedade de classes, esse Estado representava apenas as classes dominantes, e agia conforme seus interesses e objetivos. Em outras palavras, no capitalismo, o Estado é um Estado burguês, a Karl Marx e a luta de classes8 serviço dos interesses do capital. Dessa maneira, essa questão estatal maximiza a luta de classes como “motor de transformação da história humana” (SILVA, 2010). É comum associar sempre os escritos de Karl Marx aos movimentos dos trabalhadores e aos conflitos ou às negociações perpetradas pelos sindicatos. Isso porque é importante lembrar que os trabalhadores são, em qualquer país, a maioria da população. Foi, neste sentido, que Karl Marx destacou a importância da luta de classes: sempre os trabalhadores seriam maioria, e logo, precisavam de consciência para se organizarem e romperem os paradoxos da história. 1. Marx não tinha a mesma compreensão dos cientistas sociais sobre o papel da ciência. Se para Max Weber, por exemplo, a ciência social deveria se afastar da esfera moral e política, para Durkheim e Marx, pelo menos nesse ponto os dois concordavam, cabia a ela produzir um conhecimento capaz de conduzir os homens a uma vida melhor e a uma sociedade mais justa. Embora tenha escrito sobre várias fases da história, Marx concentrou-se principalmente: a) na Revolução Francesa. b) no positivismo de Augusto Comte. c) nas mudanças ocorridas devido ao desenvolvimento do capitalismo. d) nas ideias de Émile Durkheim e nos fatos sociais. e) nas grandes navegações. 2. É uma ideologia política e socioeconômica, sem divisão de grande escala entre ricos e pobres, ou seja, a ausência de uma pequena classe monopolizando as riquezas e a grande maioria das pessoas recebendo poucos benefícios que seu trabalho gera. Seria uma sociedade mais humana do que a que conhecemos. Assinale abaixo a alternativa que identifica essa nova ordem: a) Comunismo. b) Feudalismo. c) Escravismo. d) Primitivo. e) Indústria. 3. Sobre as mudanças sociais, Marx tinha um ponto de vista que chamou de concepção materialista da história. Assinale a alternativa que descreve essa visão: a) Não são os valores ou as ideias que os homens detêm que promovem as principais mudanças sociais, essas mudanças são induzidas por influências econômicas. b) O estudo dos fatos sociais é que levariam a uma maior compreensão da sociedade. c) Conforme essa visão, o capitalismo era muito parecido com os modos de produção que o antecederam. d) Conforme essa visão, o capitalismo era uma fase passageira e a sociedade logo voltaria ao modo de produção feudal. e) Conforme essa visão, o capitalismo era a última fase de evolução da sociedade. 9Karl Marx e a luta de classes 4. A teoria dos modos de produção sucessivos, que se iniciou pela análise estruturada das sociedades humanas, teve início com o que Marx chamou de "comunismo primitivo", a partir de estudos de pequenos grupos do passado remoto. Nesses grupos, tudo o que era adquirido era de propriedade comum, e não havia divisões de classe. Mas esses grupos evoluíram e a propriedade privada surgiu, inclusive a escravidão, como na Grécia e Roma antiga. A partir daí, as sociedades desenvolveram-se com base na agricultura e em relações de propriedade feudal, que era dividida entre proprietários de terra, camponeses e arrendatários, forçados a trabalhar para os proprietáriospara sobreviver. Esse modo de produção também chegou aos seus limites. A partir desses estudos, Marx concluiu que o capitalismo: a) nunca chegaria ao fim. Como era um sistema novo, totalmente diferente dos modos de produção que o antecederam, ele sempre encontraria formas de se renovar. b) também chegaria ao fim, abrindo espaço para outro modo de produção, gerado a partir de trabalhadores descontentes, que desenvolveriam uma consciência de classe, pondo fim à propriedade privada e estabelecendo as relações comunais. c) chegaria ao fim e, como era um sistema novo, sucumbiria, e a sociedade retornaria ao sistema feudal. d) também chegaria ao fim, abrindo espaço para outro modo de produção, fruto de decisões políticas, que quisessem o melhor para a sociedade. e) também chegaria ao fim, abrindo espaço para outro modo de produção, gerado a partir de decisões da classe burguesa. 5. Ao contrário do comunismo primitivo, Marx previa um comunismo moderno, que teria a sua disposição todos os benefícios do sistema capitalista altamente produtivo. Assinale a alternativa que melhor descreve essa forma de comunismo moderno. a) Seria uma forma avançada e sofisticada de comunismo, capaz de cumprir o princípio comunista que diz “de cada um conforme sua capacidade, a cada um, conforme sua necessidade”. b) Seria uma forma avançada e sofisticada de comunismo, capaz de cumprir o princípio comunista que diz que a propriedade privada é a base da sociedade. c) Seria uma forma primitiva de comunismo, conforme o modelo dos tempos remotos, estudados por marx. d) Seria uma forma avançada e sofisticada de comunismo, porém, serviria de retorno ao sistema feudal. e) Seria uma forma avançada e sofisticada de comunismo, mas que levaria a um novo modo de produção, o primitivo. Karl Marx e a luta de classes10 BELL, J. F. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1961. KISHTAINY, N. et al. O livro da economia. São Paulo: Globo, 2013. MANDEL, E. A formação do pensamento econômico de Karl Marx: de 1843 até a redação de O Capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008. MARX, K. O capital: critica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983. NETTO, J. P. O que é marxismo. São Paulo: Brasiliense, 2006. SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005. SILVA, F. P. M. O fator trabalho na teoria econômica. Lauro de Freitas, BA: Editorial FPMS, 2010. Leituras recomendadas CARCANHOLO, R. A. Marx, Ricardo e Smith: sobre a teoria do valor trabalho. Vitória: Edufes, 2012. RÍO, H. Marx para principiantes. Buenos Aires: Era Naciente, 2004. 11Karl Marx e a luta de classes Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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