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ÉTICA NA SAÚDE Aula 1- Conceito e modelos de ética CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 1 - Conceitos de ética e moral; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 2 - Características do principais modelos éticos; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 3 - A influência da política, das crenças e da economia na ética de uma sociedade.; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE ASSUNTO 1 – CONCEITOS DE ÉTICA E DE MORAL O conceito de ética O termo ética deriva de éthos, que significa modo de ser, e, por isto, define-se com frequência a ética como a doutrina dos costumes ou hábitos adquiridos pelo homem. Aristóteles tornou a ética uma disciplina autônoma no domínio da filosofia moral. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE O CONCEITO DE ÉTICA Para ele, o campo ético deveria investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. Ele considerava que toda “ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade”. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE O CONCEITO DE MORAL Representa o conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens. O ato moral, portanto, provocado por um ser humano real e contextualizado historicamente, deve ser avaliado sob o código moral que vigora na sociedade daquele que promoveu a ação. * CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE ASSUNTO 2 - CARACTERÍSTICAS DO PRINCIPAIS MODELOS ÉTICOS Antes de Aristóteles, encontramos precedentes para a constituição de uma ética filosófica. Entre os pré- socráticos, por exemplo, Heráclito utiliza o vocábulo éthos para situar a condição do homem “como aquela que necessita de um lugar” ou “morada”, definindo um “modo de estar” no mundo. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Demócrito mostra a virtude sob a busca de um equilíbrio interno diante do movimento das paixões. O saber e a prudência seriam, assim, essenciais, pois ensinariam ao homem de que modo ele deveria viver, conseguindo a felicidade. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A reflexão ética autônoma no mundo grego aparece apenas com Sócrates que, combatendo os sofistas, acreditou na estabilidade das leis, dos princípios verdadeiros e universais das normas, conferindo a elas um valor intrínseco. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A partir dele, o termo ética se afasta tanto do sentido originário de morada quanto de equilíbrio das paixões, tal como Heráclito e Demócrito respectivamente entendiam. Este avanço foi possível sob a elaboração de um método, denominado maiêutica, que levasse os diversos cidadãos a uma vida virtuosa. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Para Aristóteles, existe uma correlação entre ser e bem. O bem se relaciona com a essência de cada coisa. O objeto da ética consiste em investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Aristóteles considera que toda ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade. Já para Platão a realidade fica dividida, para ele, em dois mundos distintos e contrapostos: um, superior, invisível, eterno e imutável das ideias subsistentes, outro, físico, visível, material, sujeito à transformação. A ética platônica gira em torno da aspiração dos homens à felicidade. * CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE ASSUNTO 3 - A INFLUÊNCIA DA POLÍTICA, DAS CRENÇAS E DA ECONOMIA NA ÉTICA DE UMA SOCIEDADE A transformação do cristianismo na religião oficial de Roma do século IV trouxe novos sentidos para as doutrinas éticas gregas. O período medieval caracteriza-se por uma profunda fragmentação econômica e política, devido ao surgimento de duas classes que marcam o regime feudal: os senhores feudais (donos das terras) e os camponeses e servos (que eram comprados junto com a terra). CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Diante desse quadro a religião garantia certa unidade social. A Igreja influenciava fortemente e diretamente a política, a cultura, a vida social e intelectual. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Vasquez (2002) afirma: “a moral concreta, efetiva, e a ética – como doutrina moral – estão impregnadas (...) de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval”. Nesse período os pensadores cristãos conceberam uma nova ética, que encontra em Deus os princípios da vida moral. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A esta nova ética denomina-se teonomia (théos, em grego, significa Deus). Estes pensadores aproveitaram as doutrinas gregas das virtudes e da correspondência do bom ao verdadeiro, agregando-as ao corpo de uma ética cristã, negando, por outro lado, fundamentos éticos naturalistas e hedonistas, incompatíveis com as ideias morais cristãs. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Considerando, ainda, que o homem é um peregrino que se prepara para uma vida futura ultraterrena, rejeitaram a busca da felicidade (eudemonia) que caracterizou grande parte do pensamento grego. Ironicamente, no entanto, a ética cristã de igualdade é lançada no momento histórico em que os homens conhecem as maiores desigualdades: a divisão entre escravos e homens livres, ou entre servos e senhores feudais. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A igualdade e a justiça são transferidas para um mundo ideal, enquanto aqui se mantém e sanciona a desigualdade social. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Entre os séculos XIV e XVI (Renascimento) a história da ética ganha um novo rumo a partir da valorização do homem nas ciências e nas artes, demarcando o início da ética moderna. Algumas características deste período: *Incremento de forças produtivas no plano econômico; * Aparecimento de uma nova classe social: a burguesia, na França; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE •O trabalhador troca sua força de trabalho por um salário e deixa de ser dono dos meios de produção; •A classe burguesa ao vender os produtos desenvolvidos pelos trabalhadores, obtém lucro e surge o CAPITALISMO. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A religião deixa de ser a forma de ideologia dominante e a dimensão humana coloca-se no centro da filosofia e da moral. No século XVIII, marcado pelo movimento intelectual denominado de Iluminismo, exalta-se a capacidade que tem o homem de conhecer e agir por uma luz própria da razão. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A este respeito, ressalta a obra de Immanuel Kant, para quem a consciência cognoscente ou moral é suscitada em um homem ativo, criador e legislador. Segundo afirma, a vontade é verdadeiramente moral quando é regida por imperativos categóricos – referem- se a ações objetivamente necessárias, em que suas realizações estejam subordinadas tanto a fins quanto condições; a moralidade, neste sentido, diz respeito ao fundamento da bondade dos atos, averiguando em que consiste o bom. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A resposta kantiana: o único bem em si mesmo é a boa vontade, aquela que age por puro respeito ao dever, visando sujeição do homem à lei moral – autonomia humano-moral. O dever torna-se, nesse quadro, incondicionado ou absoluto, abrangendo algo que se estende a todos os seres humanos em quaisquer tempos ou condições. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1ÉTICA NA SAÚDE Duas outras importantes contribuições para o domínio ético são encontradas ainda no século XIX: Friedrich Nietzsche e de Franz Brentano. O primeiro, analisando os valores da cultura europeia, os vê encarnados no cristianismo, socialismo e igualitarismo democrático e sustenta que são formas de uma moral a ser superada mediante a formulação de um ponto vista além do bem e do mal. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Já para Brentano há um subjetivismo ético que se relaciona a uma teoria objetiva do valor. Este é enunciado sob atos de preferência (valorização) ou repugnância (desvalorização); assim, a experiência que algo seja bom inclui um aspecto subjetivo (para alguém) e a intenção que leva um homem a preferir algo. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE ÉTICA CONTEMPORÂNEA E RELATIVISMO ÉTICO As discussões sobre as questões a respeito do conceito de bem supremo, ou os debates sobre se o bem é o bem individual ou coletivo, se parte do particular para o geral ou vice-versa, têm encontrado certo consenso no sentido de que o bem só é possível quando compartilhado ao nível social. Assim, o ético se faz a partir do todo social e não a partir da ação individual. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Deste modo, torna-se necessária a noção de uma equidade cultural que possibilitaria a uniformidade de valores e consequentemente em uma única subjetividade de valores morais e sociais que uniformizasse também as expectativas e os desejos individuais. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Caso contrário, esta posição seria utópica e desprovida de valor prático uma vez que o bem se relativiza a partir do valor cultural que o fundamenta como um bem próprio e típico do ponto de vista de uma dada Cultura. Estes ideais são direta ou indiretamente a raiz do que se convencionou chamar de Globalização. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE As atuais políticas governamentais têm pautado suas bases de atuação em critérios que desconsideram a necessidade de integração entre os diferentes níveis de desenvolvimento e negado os aspectos necessários à construção de um projeto social mais voltado para um futuro harmonioso nas relações sociais. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A Ecologia Social, integrando os estudos do homem e de seus ecossistemas através da compreensão da direta correlação entre natureza e cultura, demonstra que as relações deste com a sociedade passam necessariamente pela sanidade de suas relações não só com os demais membros de sua espécie, como também pelo modo relacional que estabelece consigo próprio e com seu ambiente. O esfacelamento deste conjunto inviabiliza qualquer tentativa de desenvolvimento. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Diversos autores, nos mais variados campos do conhecimento, têm ressaltado a importância de estabelecer-se uma relação ética com os recursos sociais, humanos e naturais que reponha uma hierarquia de valores morais e filosóficos como parâmetros do desenvolvimento. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Félix Guattari, em seu livro As três ecologias, alerta para as consequências daquilo que ele considera como “o império de um mercado mundial que lamina os sistemas particulares de valor, que coloca num mesmo plano de equivalência os bens materiais, os bens culturais, as áreas naturais.” Para outros autores, os desenvolvimentos social e cultural estão mais diretamente associados à instituição de uma ética social. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Não há desenvolvimento social sem antes a formação de uma ética que baseie os pressupostos fundamentais de uma sociedade e, todo o problema do desenvolvimento, segundo estes autores, reside justamente na ausência desta ética por parte, não apenas dos governos, mas também do próprio modelo de ciência que arbitra o sistema teórico de sustentação das políticas governamentais. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Este novo modelo, se como diz Bookchin, relativizou a ética, teve o mérito de libertar as ciências de uma perspectiva positivista de mensuração e “absolutismo” que nivelou teorias e ideologias sociais que equiparavam sociedades distintas por um único modelo econômico, político e social. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE A questão, portanto, reside em conhecer-se que modelo ético está sendo gerado nas sociedades modernas como consequência desta nova ciência e qual sua relação com o desenvolvimento. Pois, só através dele, compreenderemos os novos rumos do desenvolvimento social. * CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE CONCLUINDO: Ética e Moral estão diretamente associadas. Ambas dizem respeito ao modo como lidamos com o outro, aos costumes. A ética se constitui de princípios voltados para o bem comum. Ou seja, é a reflexão acerca dos princípios que irão nortear as relações humanas de modo justo e equânime. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE CONCLUINDO A moral, por sua vez, é o conjunto de hábitos, condutas e normas que constituem o padrão de um grupo social em determinada época, lugar ou mesmo classe social. Assim, moral são as normas de comportamento pertencentes a um grupo e ética os princípios norteadores destas normas, ou em outras palavras, os valores ideológicos que fundamentam a moral. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE CONCLUINDO A Alguém é moral ou imoral na medida em que acata ou transgride as normas de seu grupo. Alguém é ético ou antiético na medida em que fundamenta suas ações em princípios que consideram ou desconsideram a equidade, o respeito ao outro e a justiça. CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE CONCLUINDO Por exemplo: Roubar é imoral (vai contra as normas de conduta de nossa sociedade). Roubar é imoral, porque consideramos que ninguém tem o direito de retirar o que é de outro contra a sua vontade (valor ideológico ético que fundamenta o comportamento moral). * CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO: ▪ Assunto 1 - Conceitos de ética e moral; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO: ▪ Assunto 2 - Características do principais modelos éticos; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO: ▪ Assunto 3 - A influência da política, das crenças e da economia na ética de uma sociedade.; CONCEITO E MODELOS DE ÉTICA – AULA1 ÉTICA NA SAÚDE Explorando o tema Para saber mais sobre o assunto, acesso o link: http://www.notapositiva.com/resumos/filosofia/moraletica.htm E veja a diferença entre ética e moral! Bons estudos!!! ÉTICA NA SAÚDE Aula 2- Bioética – História e princípios básicos BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 1 - A origem histórica e filosófica da bioética; BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 2 – Os critérios que definem os aspectos práticos da bioética; BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 3 – princípios básicos que fundamentam a bioética; BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE ASSUNTO 1 – A ORIGEM HISTÓRICA E FILOSÓFICA DA BIOÉTICA As bases filosóficas da Bioética começaram a ser mais bem definidas após a Segunda Guerra Mundial, quando o mundo ocidental, chocado com as práticas nazistas executadas pretensamente em nome da ciência, cria um código ético para normatizar os estudos e experiências relacionados a seres humanos. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Deste episódio, fortalece-se também a ideia de que a ciência (ou qualquer outra forma de progresso) não pode ser mais importante que o homem.Assim, tecnologias e desenvolvimento técnico devem ser controlados para acompanhar a consciência da humanidade sobre os efeitos que eles podem ter, nos indivíduos, no mundo e na sociedade. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Oficialmente, o registro inicial do termo “Bioética” deu-se em 1971, no livro "Bioética: Ponte para o Futuro", do biólogo e oncologista americano Van R. Potter. BIOS = VIDA + ETHOS = RELATIVO À ÉTICA BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Em sua origem, o termo é a conjugação das palavras gregas bios (vida) + ethos (relativo à ética) e sua concepção compreende o campo disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e dos animais não humanos. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE O objetivo primordial da Bioética é discutir as questões relativas à vida e a saúde, principalmente as que surgiram a partir de inovações tecnológicas posteriores aos debates éticos tradicionais, sob um enfoque humanista e assim, evitar que estes debates se restrinjam a aspectos puramente tecnicistas, esquecendo-se de que tratamos de aspectos delicados e extremamente complexos. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Não se poderia admitir que aspectos como os provocados pelas controvertidas questões do aborto e da eutanásia, ou as discussões cada dia mais prementes acerca da biossegurança, da biotecnologia e muitos outros associados, fossem discutidos sob o prisma de antigas abordagens (muitas vezes preconceituosas ou simplesmente dogmáticas) e sem uma análise transdisciplinar mais ampla. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Por isso, a Bioética engloba áreas que abarcam aspectos práticos e normativos, através do biodireito e aspectos teóricos e filosóficos, através do biopoder. * BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE ASSUNTO 2 – OS CRITÉRIOS QUE DEFINEM OS ASPECTOS PRÁTICOS DA BIOÉTICA A ética industrial decorrente da disseminação de valores capitalistas e da incessante busca por mais desenvolvimento tecnológico, estabeleceu nas sociedades ocidentais uma ideologia chamada de teoria utilitarista, através da qual a vida humana passa a ser concebida como objetivando a maximização da qualidade. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Com isso, o debate ético sobre a sacralidade da vida humana começa a perder sentido em detrimento do quanto pode ser feito para que as pessoas em geral vivam mais e melhor. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE John Finnis e outros estudiosos da ética e da bioética que se contrapunham a esta abordagem, argumentam que a questão da maximização do prazer (ou da qualidade de vida) não pode se impor (como uma equação matemática) eticamente a aspectos morais e a valores mais amplos do que o prazer. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Segundo estes autores, temas como o aborto ou a eutanásia, não podem ser moralmente debatidos em termos de satisfatoriedade ou qualidade de vida. Ou, em outras palavras, não podemos sustentar a defesa do aborto simplesmente pelo fato de que a gestante se priva de situações ou gratificações em função da gravidez. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE O que Finnis irá propor é uma Bioética fundamentada em aspectos filosóficos mais clássicos e moralmente sustentáveis. Para solucionar questões éticas práticas, decorrentes de conflitos e controvérsias da interação humana e de suas práticas médicas ou científicas, a bioética se fundamenta em uma tríplice atuação: BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE (1) Descritiva, voltada para a descrição e análise destes conflitos; (2) Normativa, com relação a tais conflitos, no duplo sentido de proscrever os comportamentos que podem ser considerados reprováveis e de prescrever aqueles considerados corretos; (3) Protetora, no sentido de amparar, na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputa de interesses e valores, priorizando, quando isso for necessário, os mais “fracos”. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO A Bioética atua de modo a solucionar questões práticas decorrentes de intervenções médicas e científicas sobre o ser humano. Esta atuação se divide em três tipos distintos de procedimentos. São eles: Descritivo – Voltado para a descrição e análise dos conflitos produzidos pela interação entre o ser humano e as práticas científicas. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO Normativo – Direcionado para a prescrição de procedimentos médicos e científicos corretos e pela proibição de procedimentos reprováveis eticamente. Protetor – Atua de modo a proteger os envolvidos em algum tipo de disputa de interesses e valores, priorizando a defesa da parte mais fraca. Associe os exemplos a seguir com um desses procedimentos BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO Que tipo de procedimento é este? O Conselho Federal de Medicina (CFM), através da Resolução nº 1.956/2010, publicada no dia 25 de outubro no Diário Oficial da União, determinou que médicos não poderão indicar para seus pacientes marcas de órteses, próteses ou materiais implantáveis. O conselheiro Antônio Pinheiro, coordenador da comissão que elaborou a resolução, explicou que o objetivo é reduzir os conflitos existentes entre médicos e operadoras de planos de saúde, e também com instituições públicas, quando da indicação de uso desses materiais. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO: Resposta: NORMATIVO Porque é direcionado para a prescrição de procedimentos médicos e científicos corretos e pela proibição de procedimentos reprováveis eticamente. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO: Que tipo de procedimento é este? O número de processos por erro médico recebido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) mais que triplicou nos últimos seis anos. De 2002 até o fim do ano passado, o volume de ações passou de 120 para 398, segundo a Assessoria de Imprensa do tribunal. No total, tramitam no STJ atualmente 471 casos, a maioria questionando a responsabilidade exclusiva do médico e não das instituições. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO: Resposta: PROTETOR Porque atua de modo a proteger os envolvidos em algum tipo de disputa de interesses e valores, priorizando a defesa da parte mais fraca. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO: Divulgar melhor a Declaração Universal sobre a Bioética adotada pela Unesco em 2005 foi uma das maiores preocupações manifestadas pelo Comitê Internacional de Bioética reunido entre os dias 26 e 27 de outubro, em Paris.Durante dois dias, representantes dos 36 países que compõem o Comitê discutiram os relatórios elaborados por grupos de trabalho em torno de três temas: a vulnerabilidade humana e integridade pessoal, a clonagem humana e governança internacional e as implicações éticas da prática da chamada medicina tradicional. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE APLICANDO O CONHECIMENTO: Resposta: DESCRITIVO Porque é voltado para a descrição e análise dos conflitos produzidos pela interação entre o ser humano e as práticas científicas. * BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE ASSUNTO 3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE FUNDAMENTAM A BIOÉTICA A Bioética se sustenta em alguns conceitos básicos: 1. O princípio do duplo efeito: uma situação frequente é a ocorrênciade uma determinada ação que acarreta em dois efeitos concomitantes, um bom e outro mau. Apesar de buscarmos o primeiro resultado, ele sempre trás consigo um efeito colateral indesejável, porém inseparável. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE O que fazer nestas situações? Desistir do efeito positivo em função do colateral ou aceitar os danos como consequências de um fim positivo? Como decidir sobre o que irá pesar mais? O principio do duplo efeito foi elaborado para estabelecer as condições pelas quais considera-se ética uma ação boa que promove efeitos negativos. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE A primeira destas condições se refere ao fato de que a ação em si, não deve ser má. Isto significa dizer que o mal não pode ser meio para produção do bem, assim como um ato mau não pode ser moralmente aceito mesmo que produza benefícios. Desta forma, as consequências de um ato são diferentes do ato em si. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE O efeito negativo é aceito eticamente como consequência de um ato bom, mas nunca aceito como ato (negativo) em si. É apenas a reprodução do conceito moral tradicional pelo qual “o fim não justifica os meios”. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE A segunda condição diz respeito à existência de uma proporcionalidade entre os efeitos colaterais negativos e os benefícios decorrentes da ação. Os benefícios precisam ser maiores do que os malefícios da ação. Um ato no qual os efeitos negativos sejam muito maiores do que o bem que ele possa acarretar não pode ser moralmente aceitável. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Naturalmente que sempre haverá subjetividades e discordâncias relativas a esta avaliação de proporcionalidade, mas uma ação ética implica necessariamente nesta análise e (sempre que possível) em um consenso de valor entre as partes envolvidas. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE 2. O princípio da totalidade: Este princípio se origina do sistema psicológico da Gestalt que sustenta que “o todo é mais do que a soma de suas partes”. Assim, as partes do corpo não podem ser compreendidas de modo dissociado da unidade física. Em outras palavras, isso significa dizer que não podemos dispor das partes de nosso corpo sem analisarmos o que isso irá promover em termos da preservação de nossa saúde geral. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE A amputação de um órgão ou parte do corpo, por exemplo, precisa ser justificada em função de um dano permanente que não possa ser alterado e que implique em prejuízos para a saúde geral do corpo. Ou, em situações de doação a terceiros, o quanto esta remoção irá ou não afetar as condições de saúde geral do doador (em termos de proporcionalidade ao bem produzido ao outro). BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE 3. Meios ordinários e extraordinários de tratamento: Um procedimento padrão no tratamento de alguma enfermidade se traduz pela aplicação de medicamentos ou processos terapêuticos já amplamente testados, de acesso disponível e que possuem eficácia comprovada na produção de resultados. Este tipo de procedimento, chamamos de meios ordinários (comuns). BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Existem, no entanto, situações em que estes procedimentos não logram êxito, nestes casos, é preciso lançar mão de procedimentos que ao contrário dos primeiros, são muitas vezes caros, produzem efeitos colaterais indesejáveis e ainda assim, não tem sua eficácia plenamente comprovada. São os chamados meios extraordinários. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Esta distinção é decorrente de uma condição temporal, na medida em os avanços tecnológicos rapidamente podem transformar um meio extraordinário em ordinário. Esta avaliação, mesmo que sabidamente relativa ao momento presente, é extremamente importante do ponto de vista ético, na medida em que só se justifica a aplicação de um meio extraordinário se os meios ordinários já tiverem sido tentados e demonstrados sua ineficácia no caso em questão. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE 4. Justiça: Critérios de justiça estão diretamente associados aos aspectos éticos e não poderiam deixar de estar, também, vinculados à Bioética. A justiça é o conceito pelo qual cada um deve receber o que lhe é merecido por direito ou pela ação de seus atos. Assim, casos semelhantes devem ser tratados de modo semelhante e casos diferentes tratados de modo diferenciado. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Dentre os padrões de aplicação dos critérios de justiça, temos a chamada justiça comutativa, que define padrões relativos à equidade nos mais variados tipos de trocas ou relações comerciais como, por exemplo, as formas de determinação de preços e salários. Temos a justiça retributiva que estipula sanções legais para a violação das leis e que determina os meios de garantia que o que é devido seja pago ou restituído. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE E temos, ainda, a justiça distributiva que regula a partilha de bens e benefícios sociais, garantindo a cada um o que lhe é devido na distribuição de um todo. Todos estes aspectos estão intrínsecos na aplicação da Bioética, mas a justiça distributiva, em particular, tem se demonstrado uma área bastante sensível, na medida em que a obtenção de recursos de saúde interfere diretamente em muitas questões e problemas inerentes à Bioética. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE 5. Santidade da vida humana: Como vimos, quando John Finnis se opõe à ética industrial, o objetivo central de sua crítica se localizava na restauração do conceito de sacralidade da vida humana. Não precisamos, necessariamente, considerar esta concepção sob um ângulo religioso, mas é importante percebemos que a vida é o valor maior a ser preservado. BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Desta forma, qualquer intervenção ou interferência produzida sobre ela, precisa obrigatoriamente ser avaliada em termos éticos e morais e deve ter o sentido de sacralidade como paradigma central de suas considerações. Muitos autores preferem o uso do termo dignidade da vida humana para se reportar a este sentido (em oposição ao sentido de santidade da vida). BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Mais importante do que o termo utilizado ou o sentido filosófico dado, é a consciência da necessidade de respeito e preservação na aplicação de ações e direitos associados a este valor. Daniel Callahan identificou cinco elementos críticos no conceito de santidade (ou dignidade) da vida humana: BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE 1) Sobrevivência da espécie humana. 2) Preservação das linhas familiares. 3) O direito dos seres humanos terem proteção de seus companheiros. 4) Respeito por escolhas pessoais e autodeterminação, que inclui integridade mental e emocional. 5) Inviolabilidade corporal: Meu corpo, com seus órgãos, sou eu mesmo. * BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 1 - A origem histórica e filosófica da bioética; BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 2 – Os critérios que definem os aspectos práticos da bioética; BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 3 – princípios básicos que fundamentam a bioética; BIOÉTICA – HISTÓRIA E PRINCÍPIOS BÁSICOS – AULA2 ÉTICA NA SAÚDE Explorando o tema Para saber mais sobre o assunto, acesso o link: http://www.ghente.org/bioetica/ Bons estudos!!! ÉTICA NA SAÚDE Aula3- Avaliação de riscos e benefícios em Pesquisas biomédicas AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 1 –O histórico do controle de pesquisas envolvendo seres humanos; AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 2 – As pesquisas biomédicas AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 3 – Os procedimentos de avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres humanos a luz dos princípios éticos; AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 1 –O histórico do controle de pesquisas envolvendo seres humanos Surgimento da pesquisa biomédica: Como vimos na aula anterior, em consequência dos abusos criminosos promovidos por experimentações nazistas no decorrer da Segunda Grande Guerra surgiu a Bioética, uma nova concepção ética voltada de modo mais direto aos aspectos associados à saúde e às pesquisas científicas que envolvessem seres humanos. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Uma das consequências impostas aos criminosos nazistas ao fim da guerra foi o chamado julgamento de Nuremberg. Mundialmente conhecido, este foi constituído por um tribunal militar internacional que efetuou os julgamentos dos primeiros criminosos de guerra (dentre eles 20 médicos) e ocorreu entre 1945 e 1946 na cidade alemã de Nuremberg. Em função deste julgamento, foi elaborado em 1947, o chamado Código de Nuremberg. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Objetivando eliminar futuros episódios semelhantes aos praticados pelos nazistas, o código de Nuremberg surge como um importante marco na história da ética envolvida em pesquisas médicas. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Em síntese, ele determinava que deveria haver consentimento prévio e voluntário de todos os sujeitos envolvidos em pesquisas e para garantir que não haveria indução à participação, os sujeitos deveriam receber informações sobre riscos, objetivos e procedimentos experimentais. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Determinava também que toda pesquisa deveria apresentar a possibilidade de resultados não alcançáveis por outros procedimentos não invasivos e exigia a realização de experimentos anteriores em animais. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Esta foi a primeira legislação moderna que visou o controle sobre atuações científicas de riscos em seres humanos. Quase vinte anos depois, em 1964, foi criado pela Associação Médica Mundial, um novo e mais elaborado documento, conhecido pelo nome de Declaração de Helsinque. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE A Declaração passou no decorrer dos anos por diversas alterações e revisões, tendo sido a última, até o momento, efetuada em 2008, na 59ª Assembleia Médica Mundial, realizada em Seul na Coreia do Sul. A Declaração de Helsinque é considerada o mais atual e importante documento mundial sobre a ética em pesquisas na área da saúde e tem servido como base para quase que a totalidade de todos os procedimentos regulatórios sobre pesquisa biomédica. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Este documento foi dividido em três partes principais: ▪ Princípios básicos ▪ Pesquisa médica combinada com cuidados profissionais ▪ Pesquisas biomédica não terapêutica envolvendo serres humanos AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Nos princípios básicos a declaração procura seguir os princípios gerais da Bioética, ressaltando os aspectos morais envolvidos nos procedimentos e experimentos científicos e na necessária proporcionalidade entre os riscos envolvidos e os benefícios advindos destas pesquisas. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Na parte referente à pesquisa clínica combinada com o cuidado profissional, o documento aborda a possibilidade da aplicação de meios extraordinários de tratamento (pesquisas experimentais) desde que previamente consentidos e que a pesquisa traga perspectiva de reversão da patologia do próprio paciente. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE No que diz respeito à pesquisa clínica não terapêutica, a declaração de Helsinque obriga o médico pesquisador a se responsabilizar pela saúde do paciente no qual os procedimentos experimentais são efetuados e considera que, apesar do necessário consentimento explicito, consciente e plenamente justificado do paciente, a responsabilidade sobre danos ou consequências é sempre do médico pesquisador. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Podendo ainda o sujeito, objeto da pesquisa, cancelar seu consentimento ou solicitar seu encerramento a qualquer momento. Cidade de Helsinque Estes princípios tratam da necessidade de serem seguidos critérios científicos aceitos pela comunidade científica internacional e da revisão ética e científica de toda pesquisa envolvendo seres vivos. * AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 2 – As pesquisas biomédicas O primeiro documento brasileiro a tratar das questões éticas sobre pesquisas em seres humanos foi elaborado em 1988. Tratava-se da Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que regulamentava o credenciamento de centros de pesquisa e recomendava a criação de comitês de ética nas instituições de saúde (CEP’s). AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Estes comitês multidisciplinares têm com função analisar as pesquisas em seres humanos nas diversas áreas de conhecimento, bem como fomentar a discussão sobre Bioética. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Com a crescente discussão ética mundial, no entanto, a Resolução 01/88 mostrou-se ainda incipiente e para complementá-la surgiu, oito anos após, um novo documento nacional abordando os aspectos éticos em pesquisa. A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Este novo documento, que é ainda hoje a legislação regulatória geral vigente neste aspecto, nasceu de um amplo debate entre a comunidade científica e representantes da sociedade civil, e foi elaborado pelo Ministério da Saúde com o intuito de normatizar as diretrizes de todas as pesquisas que envolvessem seres humanos no território nacional. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Tomando por base os documentos internacionais e igualmente centrada nos princípios gerais da Bioética, a Resolução 196/96 instala ainda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), instância colegiada, de natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa e independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Como instância superior e reguladora dos CEP’s, a CONEP é composta por 13 membros sendo cinco personalidades destacadas no campo da ética e saúde e oito personalidades de atuação em outras áreas. Atualmente, qualquer pesquisa só consegue publicação nas revistas científicas nacionais ou internacionais, após aprovação prévia dada por um comitê de ética institucional. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE O objetivo maior de todos estes documentos citadosé assegurar os direitos à integridade e à preservação da dignidade dos pacientes envolvidos em pesquisas e regulamentar os deveres e responsabilidades da comunidade científica e do Estado, na medida em que a existência de riscos é uma característica inerente às pesquisas em seres humanos. * AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 3 – Os procedimentos de avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres humanos a luz dos princípios éticos A classificação ou definição precisa do conceito de risco é sempre algo controverso e que implica em aspectos subjetivos e muitas vezes culturais ou ideológicos. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE A antiga Resolução 01/88 classificava os riscos de uma pesquisa em risco mínimo e risco maior que mínimo, mas a Resolução 196/96 ao revogar a anterior, eliminou esta classificação e faz uma assertiva mais geral ao determinar, em sua parte V – RISCOS E BENEFÍCIOS, que “considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco”. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Complementa ainda, definindo que os danos podem ser imediatos ou tardios e individuais ou coletivos. Desta forma, estabelece o entendimento de risco como a possibilidade de dano (previsto ou não) ao sujeito da pesquisa ou, indiretamente, à coletividade como consequência da mesma. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Em maior ou menor grau, estes riscos só se tornam aceitáveis quando a finalidade da pesquisa o justificar pelos seguintes critérios básicos: •Se a pesquisa oferecer elevada possibilidade de entendimento, prevenção ou alívio do problema que afeta o sujeito. •Se o benefício esperado for de grande importância ou se o benefício for igual ou maior que o de outra alternativa já conhecida. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Assim, percebe-se a direta correlação estabelecida na relação risco x benefício ao paciente ou à sociedade. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Outro importante aspecto a ser considerado, diz respeito ao fato de que nem sempre estamos cientes de todos os riscos envolvidos em um procedimento. Em 1994, no livro Éticas da Pesquisa Científica, a Dr.ª Kristin Sharder-Frechette fala sobre o Princípio da Precaução, ressaltando que não se pode considerar como inexistente um risco desconhecido, ou seja, do qual não temos ainda as possíveis dimensões de sua ocorrência. Por isso, procedimentos de análise prévia e prevenção de riscos são tão importantes em pesquisas científicas. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) ou simplesmente Rio 92, como ficou mais conhecida, ocorreu na Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992 e dentre outros aspectos voltados para o desenvolvimento sustentável estabeleceu um documento, chamado Agenda 21, no qual foi formalmente retomado o antigo preceito grego conhecido como Princípio da Precaução. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE •Seu sentido original, reporta-se ao cuidado necessário para que seja possível antecipar danos à saúde ou à segurança das pessoas. •Retomado como um principio do direito ambiental, este conceito, no entanto, aplica-se a qualquer forma de análise de riscos referentes a atividades científicas e tecnológicas que envolvam a possibilidade de danos às pessoas. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Segundo este conceito, mediante a ausência de certeza científica da inexistência de riscos de danos, devem ser tomadas todas as medidas necessárias na prevenção de efeitos indesejáveis. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Especificamente quando falamos de intervenções clínicas ou científicas em saúde, estes efeitos indesejáveis recebem o nome de “eventos adversos”. EAs são definidos como complicações indesejadas decorrentes do cuidado prestado aos pacientes, não atribuídas à evolução natural da doença de base”. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Estes eventos podem ou não ser decorrentes de erros ou ocorrer como consequências diretas das intervenções sobre o sujeito. Reduzir sua ocorrência é, além da principal função da aplicação do Princípio da Precaução, uma preocupação constante em profissionais eticamente comprometidos e uma das atribuições básicas dos CEP’s. * AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Quando pensamos em proteção e/ou prevenção de riscos em pesquisas com seres humanos, em geral, consideramos prioritariamente os sujeitos da pesquisa, mas não podemos nos esquecer que, em muitos casos, também os pesquisadores são expostos a riscos e precisam de proteção. Veja este caso que ficou mundialmente famoso: AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA A química Karen E. Wetterhahn, do Dartmouth College/USA, era uma pesquisadora de 48 anos que pesquisava sobre os efeitos dos metais pesados sobre moléculas e células. Durante um experimento, em agosto de 1996, ela acidentalmente foi exposta ao dimetilmercúrio, que é um composto incolor extremamente tóxico, raramente utilizado. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Esta substância era considerada como padrão de controle nos testes que utilizam Ressonância Nuclear Magnética para verificar a ligação entre moléculas. A Dra. Wetterhahn era uma pesquisadora experiente e meticulosa. Durante este experimento, uma pequena quantidade desta substância respingou em sua luva de látex, quando transferia o material para um equipamento de Ressonância Nuclear Magnética. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Como estava utilizando equipamento de segurança recomendado, não deu maior importância ao fato.A substância era permeável aos poros da luva e entrou em contato com a sua pele em questão de segundos. Ela ficou doente alguns meses após e faleceu em menos de um ano do ocorrido. Após a sua morte, seus colegas iniciaram uma série de testes e verificaram que o dimetilmercúrio atravessa o látex das luvas descartáveis em menos de 15 segundos. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Se consideramos o Princípio da Precaução, estudado na aula, o que podemos aprender com este lamentável episódio? Que procedimento não foi respeitado e o que deveria ter sido feito que poderia ter evitado esta morte trágica? AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA – RESPOSTA: O Princípio da Precaução determina que não podemos considerar que uma ação não tenha riscos pelo fato destes não terem sido avaliados e que, portanto, diante da ausência de certeza cientifica confirmada da inexistência de riscos, devem ser tomadas todas as medidas necessárias no sentido de evitá-los. AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA – RESPOSTA: No caso em questão, como não se sabia a relação de permeabilidade do composto estudado em relação ao equipamento utilizado (luvas de látex), não deveria ter sido suposto segurança e sim, feitos experimentos que garantissem que o equipamento de fato protegia em relação àquela substância. * AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 1 –O histórico do controlede pesquisas envolvendo seres humanos; AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 2 – As pesquisas biomédicas AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 3 – Os procedimentos de avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres humanos a luz dos princípios éticos; AVALIAÇÃO DE RISCOS E BENEFÍCIOS EM PESQUISAS BIOMÉDICAS – AULA3 ÉTICA NA SAÚDE Explorando o tema Para saber mais sobre o assunto, acesso o link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dire trizes_operacionais_biomedicas.pdf E veja as diretrizes operacionais para comitês de ética que avaliam pesquisas biomédicas. Até a aula 4! Bons estudos!!! ÉTICA NA SAÚDE Aula 4- Transplante de órgãos e tecidos TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 1 – A noção de Direitos fundamentais do receptor e do doador. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 2 – A legislação e os princípios éticos que regem os transplantes de órgãos e tecidos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 3 – Os critérios e caracterização de morte. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 4 – Transplantes e princípios éticos TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 1 –A noção de Direitos fundamentais do receptor e do doador Transplante de órgãos e tecidos O transplante de órgãos e tecidos implica uma sequência de eventos que, desde a doação até a efetivação do transplante, abarca alguns direitos fundamentais pertinentes ao doador e ao receptor. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Estes direitos estão associados ao direito à vida, à formação dos direitos de personalidade, à integridade física e ao direito ao corpo, em particular, à liberdade de consciência e ao poder de dispor do próprio corpo. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Os chamados direitos fundamentais estão de tal forma relacionados à dignidade e aos direitos essenciais da pessoa que são, inclusive, considerados como cláusulas inatingíveis por diversas constituições democráticas pelo mundo, ou seja, não podem ser alterados por legislações. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE A questão dos transplantes frequentemente tangencia questões éticas relativas à experimentação no corpo humano, às decisões políticas relacionadas com a saúde, e, em sentido mais amplo provocam debates sobre estes direitos fundamentais. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Estes debates estão associados a aspectos que vão desde a origem dos órgãos e tecidos, até a forma de obtenção e ao tipo de procedimento realizado para o transplante. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE CURIOSIDADE O Brasil possui hoje um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Com 548 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizados a realizar transplantes, o Sistema Nacional de Transplantes está presente em 25 estados do país, por meio das Centrais Estaduais de Transplantes. * TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 2 – A legislação e os princípios éticos que regem os transplantes de órgãos e tecidos A política Nacional de Transplantes de órgãos e tecidos está fundamentada na Legislação (Lei nº 9.434/1997 e Lei nº 10.211/2001), tendo como diretrizes a gratuidade da doação, a beneficência em relação aos receptores e não maleficência em relação aos doadores vivos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Estabelece também garantias e direitos aos pacientes que necessitam destes procedimentos e regula toda a rede assistencial através de autorizações e reautorizações de funcionamento de equipes e instituições. Toda a política de transplante está em sintonia com as Leis nº 8.080/1990 e nº 8.142/1990, que regem o funcionamento do SUS. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Qual a origem dos órgãos destinados a transplantes? Existem basicamente três fontes de órgãos e tecidos utilizáveis. Este material pode ser coletado de: Animais: neste caso chamamos de xenotransplantes. Seres humanos vivos: são os chamados alotransplantes intervivos. Seres humanos mortos: que chamamos de alotransplantes de doador cadáver. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Os xenotransplantes, por enquanto, são apenas uma possibilidade teórica. •Muitos estudos vêm sendo realizados no sentido de transplantar órgãos e tecidos entre espécies distintas. •Os defensores desta técnica ressaltam os argumentos de que esta possibilidade diminuiria muito o tempo de espera por órgãos e muitas vidas poderiam ser salvas. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE •Há, no entanto uma série de dificuldades técnicas que ainda precisam ser vencidas. A principal delas se refere às rejeições e à possibilidade de transmissão de vírus não humanos para os receptores. •Além destas, há ainda aspectos éticos envolvidos como o direito ou não de humanos em utilizar-se de animais para fins de retirada de órgãos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O alotransplante intervivos, naturalmente implica na utilização de órgãos e tecidos específicos e na necessidade de respeitar-se ao preceito ético da não maleficência do doador. Isto é, não podemos promover uma doação se a mesma produzir no doador algum tipo de dano ou prejuízo a sua saúde geral. Estes aspectos já estavam dispostos na Lei 9.434/97 (Lei dos Transplantes) que estabelece em seu capítulo III, parágrafo 3, que: TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE “Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.” TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O alotransplante de doador cadáver é de fato o mais comumente utilizado para a grande maioria dos casos e a principal questão ética envolvida diz respeito ao critério de morte, na medida em que esta precisa ser atestada para que se promova a remoção do órgão. * TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 3 – Os critérios e caracterização de morte O Conselho Federal de Medicina, através da Resolução CFM 1480/97, alterou o critério de morte que anteriormente estava vinculado à falência cardiorrespiratória para a morte encefálica, possibilitando com isso, grande avanço na viabilidade e efetividade das doações. Assim, neste tipo de doação por cadáver, a questão, hoje, resume-se praticamente à forma de obtenção dos órgãos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Neste aspecto, a questão ética mais premente, se refere ao questionamento da prevalência e manutenção da voluntariedade e da espontaneidade no ato de doar ou se considerar o princípio pelo qual o bem-comum está acima da vontade individual e, consequentemente, se aceita a apropriação de órgãos de cadáveres. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE No bojo desta questão, reside o questionamento acerca do fato de sermos ou não donos de nosso corpo. O que pode não ser uma questão tão simples quanto parece como vimos em nossa aula 2 nos princípios éticos da santidade da vida e da totalidade. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4ÉTICA NA SAÚDE Ser dono implica na relação de posse o que, a princípio, só se estabelece em relação a coisas (objetos) e em poder dispor destes objetos em função exclusivamente de sua vontade. Não é assim que o corpo é concebido atualmente. As partes do corpo não podem ser dissociadas na noção integral de pessoa. Pertencem ao conjunto da nossa identidade. Não são coisas e muito menos podem ser utilizadas independentes da vontade. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE As formas de obtenção de órgão são comumente distribuídas pelas seguintes modalidades: •Doação voluntária •Consentimento presumido •Manifestação compulsória ou abordagem de mercado TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE A doação voluntária é aquela realizada através da vontade expressa do doador quando em vida. •Até 1997, no Brasil, os órgãos só poderiam ser utilizados se a pessoa tivesse assim procedido. •A partir daquele ano, a legislação brasileira substituiu a doação voluntária pelo consentimento presumido. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE • Por esta modalidade presume-se que todo cidadão é um doador em potencial a menos que tenha expressado vontade contrária. • Assim, se não há manifestação explicita da negativa de doação, as equipes de saúde podem proceder a retirada dos órgãos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE 1998 - medida provisória 2001 - promulgada Lei 10.211/2001(que alterou alguns dos dispositivos da Lei dos transplantes original de 1997) 2007 - Lei 11.633 que incluiu um artigo na lei original sobre o direito a informação sobre os benefícios da doação de placenta e sangue do cordão umbilical. A legislação brasileira substitui o critério de doação voluntária pelo do consentimento familiar, onde o cônjuge ou parente na linha sucessória assume a responsabilidade pela autorização da doação. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE As duas demais modalidades, representam apenas propostas ainda não amplamente debatidas. A chamada manifestação compulsória defende o conceito de que todo cidadão deve fazer formalmente a opção entre ser ou não um doador e a abordagem de mercado defende a possibilidade de incentivos financeiros à família do doador como forma de estimular as doações voluntárias. * TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 4 - Transplantes e princípios éticos De modo geral, podemos resumir os aspectos vinculados à questão da doação de órgãos a um conjunto de princípios éticos gerais, nos quais, se vinculam intrinsecamente as questões dos transplantes. São eles: •Princípio da intangibilidade corporal •Princípio da solidariedade •Princípio da totalidade TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O princípio da intangibilidade corporal associa de modo absoluto o corpo à identidade pessoal, e assim, estende ao corpo do indivíduo (e às suas partes) os mesmos princípios de dignidade e indisponibilidade por terceiros que regem os direitos da pessoa. O sentido de integridade, portanto, fica compreendido sob a perspectiva da integridade pessoal ampla, não sendo possível separar o “eu físico” do psíquico, compondo ambos uma única identidade. Assim, intervenções no corpo são sempre interpretadas como intervenções na integridade pessoal. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O princípio da solidariedade, que considera que o ato de doar órgãos inclui-se na possibilidade que os indivíduos têm de sacrificar sua individualidade em detrimento do bem da comunidade (de outros), desde que estas doações não impliquem em comprometimento da vida ou da saúde geral da pessoa. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O princípio da totalidade (já visto na aula 2), que entende o corpo como uma unidade, sendo cada parte do mesmo avaliada de acordo com o todo. Assim, cada parte (membro, órgão ou função), só pode ser sacrificada em função da unidade do corpo, ou seja, desde que isso seja útil para o bem-estar de todo o organismo ou que em caso de doação a terceiros, não comprometa a integridade geral. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE A estes princípios éticos gerais, somam-se ainda aspectos específicos que se traduzem em princípios do biodireito próprios para as situações de transplantes. Dentre eles, destacam-se: •Princípio da autonomia •Princípio da confidencialidade •Princípio da gratuidade •Princípio da não discriminação TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE • O princípio da autonomia, pelo qual qualquer coleta de tecidos ou órgãos tem de passar pelo consentimento do doador. • O princípio da confidencialidade, pelo qual se preserva o direito do indivíduo doador em decidir qual a informação sua que autoriza a veiculação ao receptor e qual quer manter em anonimato. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE •O princípio da gratuidade, que estabelece que o órgão ou tecido apenas poderá ser dado e nunca vendido, visto que não se trata de objetos e sim partes da própria individualidade. •Há, ainda, o princípio da não discriminação, em que a seleção dos receptores só pode ser feita mediante critérios médicos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O Ministério da Saúde, através do Sistema Nacional de Transplantes, estabeleceu na Portaria n.º 3.407 de 5 de agosto de 1998 o chamado sistema de lista única. Este sistema informatizado integra toda rede de saúde nacional e segue critérios de distribuição específicos para cada tipo de órgão ou tecido, alocando cada receptor em função de sua posição na lista de espera pelos critérios próprios do órgão ou tecido ao qual se candidatou. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE A alocação dos órgãos para transplante deve ser feita em dois estágios. “O primeiro estágio deve ser realizado pela própria equipe de saúde, contemplando os critérios de elegibilidade, de probabilidade de sucesso e de progresso à ciência, visando à beneficência ampla. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE O segundo estágio, a ser realizada por um Comitê de Bioética, pode utilizar os critérios de igualdade de acesso, das probabilidades estatísticas envolvidas no caso, da necessidade de tratamento futuro, do valor social do indivíduo receptor, da dependência de outras pessoas, entre outros critérios mais. * TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Sabemos que um dos maiores entraves técnicos que impedem os xenotransplantes (transplantes de órgãos entre espécies diferentes) é, além da infecção por vírus estranhos ao organismo humano, o imenso risco de rejeição por parte do receptor. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Pesquisas recentes demonstram que o organismo receptor pode chegar a destruir o órgão implantado em menos de 24 horas. Assim, se seguirmos uma lógica simples, quanto maior a semelhança biológica entre os seres, menor o risco de infecções por vírus estranhos e menor também os riscos de rejeição do organismo. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA PERGUNTA Por que órgãos de porcos e não de macacos são testados para transplantes em seres humanos? TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA – RESPOSTA Isso ocorre porque há bastante semelhança física entre suínos e seres humanos. "Anatomicamente, órgãos como o fígado, o coração e o rim do porco são muito parecidos com os nossos", diz o cirurgião hepático Sérgio Mies, da Universidade de São Paulo (USP) e do hospital Albert Einstein, em São Paulo. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE ATIVIDADE PROPOSTA Outra vantagem é que os porcos chegam à fase adulta muito mais rápido do que os macacos. Com apenas um ano, um porco já tem entre 60 e80 quilos e pode ser doador, enquanto gorilas, que têm órgãos com um tamanho próximo ao do ser humano, só atingem a maturidade aos 7 anos - sem contar que boa parte dos primatas está em risco de extinção. * TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Dica do Ministério da Saúde: O passo principal para você se tornar um doador é conversar com a sua família e deixar bem claro o seu desejo de ser doador. Não é necessário deixar nada por escrito. A doação de órgãos pode ocorrer a partir do momento da constatação da morte encefálica. Em alguns casos, a doação em vida também pode ser realizada, em caso de parentesco até 4ºgrau ou com autorização judicial (não parentes). Disque Saúde – Transplantes: 0800 61 1997 E-mail: snt@saude.gov.br * TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 1 – A noção de Direitos fundamentais do receptor e do doador. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 2 – A legislação e os princípios éticos que regem os transplantes de órgãos e tecidos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 3 – Os critérios e caracterização de morte. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE RESUMINDO ▪ Assunto 4 – Transplantes e princípios éticos TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS – AULA4 ÉTICA NA SAÚDE Explorando o tema Para saber mais sobre o assunto, acesso o link: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cf m?id_area=1004 E saiba mais sobre a Política de Transplantes no Brasil Até a aula 5! Bons estudos!!! ÉTICA NA SAÚDE Aula 5- ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 1 – A influência do avanço das tecnologias com os problemas éticos sobre reprodução humana. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 2 – Os principais conceitos sobre objetivos da reprodução e geração da vida. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 3 – Alguns procedimentos e a legislação sobre reprodução assistida. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Conteúdo Programático desta aula ▪ Assunto 4 – O aborto ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 1 – A influência do avanço das tecnologias com os problemas éticos sobre reprodução humana. Sempre que a tecnologia avança, seja em que campo for, ela trás consigo outros fatores paralelos à evolução do conhecimento. O mais pragmático destes fatores está no próprio uso destas novas tecnologias. Assim como o laser pode ser usado para curar, pode também ser utilizado para fins bélicos. Não podemos confundir a tecnologia em si, com o uso que se fará dela. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE O fato é que novas tecnologias implicam em novas ferramentas que podem alterar hábitos, eliminar ou transformar comportamentos, inaugurar novas possibilidades e uma série infindável de ações que se transformam em função delas. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Os frequentes avanços tecnológicos na área da saúde se, por um lado, têm propiciado imensos benefícios para a sociedade, por outro lado, têm também feito surgir novos problemas e questões éticas a serem discutidas e consideradas. Novas questões que surgem a partir de novas possibilidades de intervenção do homem sobre os fatos. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Assim tem sido em relação às alternativas de manipulação genética, no desenvolvimento de técnicas de transplantes e também nos aspectos relacionados à fertilização e reprodução humana. Manipulação genética = está diretamente relacionada com o processo de manipulação dos genes num organismo. Geralmente envolvem o isolamento, a manipulação e a introdução de DNA num denominado “corpo de prova”. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Estes procedimentos levantam não apenas questões éticas individuais, relativas aos direitos da pessoa e ao modo como pretendem se beneficiar destas tecnologias, mas também nos incitam às questões relativas à saúde coletiva, na medida em que, em geral, estas tecnologias vêm associadas a novos instrumentos de diagnóstico e tratamento e, por isso, implicam em princípios de justiça e alocação de recursos na área de saúde que, normalmente são escassos e caros. * ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 2 – Os principais conceitos sobre objetivos da reprodução e geração da vida. As questões éticas envolvidas nos procedimentos ligados à reprodução humana abarcam uma série de aspectos, mas seu conceito básico é: o objetivo da reprodução é a geração da vida. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE O que pode ser considerado “vida humana”? Em que momento a vida biológica deve ser reconhecida como pessoa? Vida humana para a Igreja católica: 1987 - A Igreja Católica possui um extenso documento intitulado “Instrução sobre o respeito à vida humana em suas origens e a dignidade da procriação em resposta a determinadas questões da atualidade” . ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Neste documento (Donum Vitae) datado de 1987, fica formalmente estabelecido que, pela perspectiva da Igreja, o início da vida humana se dá no momento em que ocorre a fecundação. 2008 - Mais recentemente, em 2008, publica outro documento sobre aspectos de Bioética ligados à dignidade humana onde reforça este entendimento. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE A partir de 2008 considera como lícitas as tecnologias de fertilização que auxiliam os casais a procriarem desde que estas respeitem a preservação do ato procriativo em si e considera moralmente ilícitas as tecnologias que dissociam a procriação do ato sexual como a criogenia ou a fecundação “in vitro”. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Além da perspectiva eclesiástica há ainda outros critérios de abordagens mais direcionadas aos aspectos do desenvolvimento embrionário. Alguns destes critérios vinculam o início da vida humana: •Ao início dos batimentos cardíacos (3 a 4 semanas). •Ao surgimento da atividade do tronco cerebral (8 semanas). •Ao início da atividade neocortical (12 semanas). ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE •Ao surgimento dos movimentos respiratórios (20 semanas). •Ao aparecimento do ritmo sono-vigília (28 semanas). •Há ainda quem defenda que o ser humano se caracteriza apenas a partir do surgimento da consciência e do “comportamento moral” (18 a 24 meses pós-parto). * ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 3 – Alguns procedimentos e a legislação sobre reprodução assistida Independente da questão da gênese do ser humano, talvez o mais importante tema ético da atualidade no que se refere à reprodução, seja mesmo o debate sobre os procedimentos de reprodução assistida. J. Goldim relata que desde o século XVIII já existem relatos médicos sobre a tentativa de realização deste tipo de intervenção. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE No entanto, apenas em 1978, com o nascimento de Louise Brown (que ficou notoriamente conhecida como o primeiro “bebê de proveta”) na Inglaterra, as técnicas de fertilização “in vitro” chegaram ao conhecimento do grande público e também ganharam mais interesse nas pesquisas médicas especializadas. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE O nascimento desta criança foi de tal importância para o desenvolvimento cientifico e tecnológico na área da saúde que foi instituído na Inglaterra, em 1981, um comitê de investigação sobre fertilização humana e embriologia, vinculado ao Ministério da Saúde britânico com o objetivo de desenvolver um relatório sobre as implicações éticas, sociais e legais provenientes da utilização desta novabiotecnologia. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE O resultado deste comitê foi a publicação, três anos após sua instalação, do chamado Relatório Warnock (em referência a Mary Warnock, presidente do comitê). Grande parte dos aspectos da Bioética e do Biodireito atuais é pautada no texto deste relatório. A partir da década de 90 as sociedades médicas mundiais passaram a inserir diretrizes éticas relativas às tecnologias de reprodução em suas normatizações. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE No Brasil, em 1992, o Conselho Federal de Medicina, seguindo as mais avançadas legislações mundiais e igualmente fundamentado no Relatório Warnock, instituiu com a Resolução CFM 1358/92, as Normas Éticas para Utilização das Técnicas de Reprodução Assistida. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Atualmente, está em vigor a Resolução CFM 1957/2010 que revoga a anterior (após 18 anos) alterando alguns poucos aspectos, dentre os principais a substituição do termo “pré-embriões” por “embriões” e a introdução de um item que afirma que: “Não constitui ilícito ético a reprodução assistida post mortem desde que haja autorização prévia específica do (a) falecido (a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente”. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Uma série de ramificações temáticas de cunho ético está associada, de modo mais ou menos direto à questão da reprodução assistida. Existem aspectos éticos vinculados ao: Consentimento informado. Seleção de sexo da criança. A doação de espermatozoides, óvulos, embriões. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE A seleção dos embriões com bases na evidência da possibilidade de doenças congênitas. A maternidade substitutiva. A clonagem. A criopreservação de embriões. E muitos outros. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Ainda que em função de todos os avanços do Biodireito, tenhamos hoje uma legislação bastante rica em relação ao tema, as consequências éticas, legais e mesmo tecnológicas da fertilização "in vitro" ainda precisam ser bem melhor definidas em muitos aspectos. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE A questão da doação de gametas, por exemplo: A Resolução CFM 1957/10 institui que a doação deve preservar o anonimato entre receptores e doadores. O argumento principal é de que isso evitaria problemas futuros relativos às situações emocionais e legais com repercussões no desenvolvimento psicológico da criança.. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Esta perspectiva, no entanto, também não é consensual. Enquanto alguns especialistas acreditam que ela permite aos pais criar seus filhos exclusivamente em função de suas influências socioculturais, outros discordam e afirmam que o desconhecimento da origem genética interfere na completa percepção de sua identidade pessoal. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Em alguns países o anonimato não é obrigatório e ainda assim, não há uma posição técnica definida em relação aos benefícios ou não deste sigilo para o desenvolvimento psicossocial da criança e/ou para o acompanhamento clínico de futuros problemas congênitos que venha a apresentar. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Outra questão associada à reprodução assistida envolve a possibilidade de gestação em casais homossexuais femininos. A legislação autoriza que mulheres utilizem sêmen doado para gestação independente da existência de vínculo familiar formal. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Há, no entanto, intenso debate ético neste aspecto, que envolve o conceito de família, a admissão do casamento entre homossexuais e a equivalência de procedimentos para adoção e fertilização. No Brasil, assim como em muitos outros países, a adoção de crianças por homossexuais tem sido admitida legalmente, o que indica também a tendência à aceitação da fertilização assistida para casais homossexuais femininos. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Desta forma, por uma perspectiva ética, seria lícito estabelecer uma equivalência entre o que poderia ser chamado, segundo Goldim, de “fertilização legalmente assistida” (adoção) e a fertilização assistida pela concepção médica de intervenção clínica no processo. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE As questões éticas envolvidas seriam então, fundamentalmente as mesmas: •Até onde deve ir a intervenção do Estado em adoções ou doações de gametas (espermatozoides e óvulos) feitas de modo informal (algumas com forte apelo comercial)? •É moralmente ética a seleção de características físicas das crianças por parte dos futuros pais adotivos ou fertilizados? ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA A Resolução RDC nº 29 de 12 de maio de 2008, da ANVISA: “Aprova o regulamento técnico para o cadastro nacional dos Bancos de Células e Tecidos Germinativos (BCTG) e o envio da produção de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Congresso Nacional PL 1184/2003 (trechos) Art. 1º Esta Lei regulamenta o uso das técnicas de Reprodução Assistida (RA) para a implantação artificial de gametas ou embriões humanos, fertilizados in vitro, no organismo de mulheres receptoras. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, atribui-se a denominação de: ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA I – embriões humanos: ao resultado da união in vitro de gametas, previamente à sua implantação no organismo receptor, qualquer que seja o estágio de seu desenvolvimento; II – beneficiários: às mulheres ou aos casais que tenham solicitado o emprego da Reprodução Assistida; ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA III – consentimento livre e esclarecido: ao ato pelo qual os beneficiários são esclarecidos sobre a Reprodução Assistida e manifestam, em documento, consentimento para a sua realização, conforme disposto no Capítulo II desta Lei. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Art. 2º A utilização das técnicas de Reprodução Assistida será permitida, na forma autorizada nesta Lei e em seus regulamentos, nos casos em que se verifique infertilidade e para a prevenção de doenças genéticas ligadas ao sexo, e desde que: ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA I – exista indicação médica para o emprego da Reprodução Assistida, consideradas as demais possibilidades terapêuticas disponíveis, segundo o disposto em regulamento; II – a receptora da técnica seja uma mulher civilmente capaz, nos termos da lei, que tenha solicitado o tratamento de maneira livre, consciente e informada, em documento de consentimento livre e esclarecido; ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA III – a receptora da técnica seja apta, física e psicologicamente, após avaliação que leve em conta sua idade e outros critérios estabelecidos em regulamento; IV – o doador seja considerado apto física e mentalmente, por meio de exames clínicos e complementares que se façam necessários. ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE LEGISLAÇÃO SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Parágrafo único. Caso não se diagnostique causa definida para a situação de infertilidade, observar-se-á, antes da utilização da Reprodução Assistida, prazo mínimo de espera, que será estabelecido em regulamento e levará em conta a idade da mulher receptora. Art. 3º É proibida a gestação de substituição (barriga de aluguel). * ÉTICA E REPRODUÇÃO HUMANA – AULA5 ÉTICA NA SAÚDE Assunto 4 – O aborto No sentido
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