Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
STREET, Brian. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. São Paulo: Parábola, 2014. Elisângela de Jesus da Silva[1] O livro Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação, de Brian Street, está dividido em cinco seções. A primeira, que o autor intitula de “Letramento, política e mudança social” está dividida em dois capítulos. No primeiro capítulo “Trazer os letramentos para a agenda política” o autor inicia afirmando ser necessário se falar em “letramentos” no lugar de “letramento”, tendo em vista que ele varia com o contexto social. Para o autor, trazer os letramentos para a agenda política deveria ser a primeira tarefa das agências de desenvolvimento e dos educadores, pois as práticas letradas estão intimamente ligadas ao seu contexto político e ideológico e, as consequências mudam de acordo com a situação. Portanto, é preciso levar em maior consideração as habilidades das pessoas e suas próprias percepções. No capítulo dois, “Letramento e mudança social: a importância do contexto social no desenvolvimento de programas de letramento”, Street argumenta que o letramento transferido de um grupo dominante para aqueles com pouca experiência de leitura e escrita provoca um impacto da cultura e das estruturas político-econômicas mais significativo do que um impacto relacionados à leitura e à escrita. No que diz respeito ao letramento “dominante”, o autor examina relações de poder implicadas em campanhas de letramento em diversos países em desenvolvimento, fazendo uma distinção com o letramento “colonial. Descreve, ainda, estudos realizados em Madagascar, Irã e Índia, concluindo, neste capítulo, que questões fundamentais aos que estão preocupados com o “futuro do letramento” poderão ser respondidas se forem feitas mais pesquisas sobre as variedades de letramento, sob a perspectiva de um letramento “ideológico” e não “autônomo”. A segunda seção do livro denominada “A etnografia do letramento” também está dividida em capítulos: o três e o quatro, nos quais o autor oferece relatos etnográficos específicos de práticas de letradas realizadas em seu trabalho de campo no Irã. No capítulo três “Os usos do letramento e da antropologia no Irã”, o autor desenvolve a obra de Richard Hoggart, examinando o resultado da aplicação dos seus métodos através da análise de diferentes concepções de “cultura”. Além disso, aplica ideias dos estudos culturais e da antropologia social aos desenvolvimentos da educação rural no Irã, nos anos de 1970, principalmente pelo fato de seu interesse estar na maneira como a estrutura piramidal incidia sobre as vidas das pessoas “no file:///D:/Mestrado/Profª%20Simone%20Assumpção/Resenha,%20STREET.docx%23_ftn1 local” e nos modos como as contradições e dificuldades provocadas no nível macro eram vivenciadas em termos da experiência diária das pessoas no nível micro. No capítulo quatro, “Oralidade e letramento como construtos ideológicos: alguns problemas em estudos transculturais”, Street afirma que as práticas letradas e orais possuem absoluta variedade e complexidade quando se adota uma abordagem etnográfica do letramento. O autor critica a posição de antropólogos que relataram suas experiências com o letramento, mas dentro de uma perspectiva do modelo “autônomo”. O autor, então, emprega o modelo “ideológico” de letramento para fazer uma abordagem de três aspectos das conceitualizações de letramento de Clammer e Goody: forma e conteúdo, manipulação e ambiguidade. Após fazer a análise desses aspectos, Street tem a esperança de oferecer um quadro teórico metodológico que possibilite um estudo do letramento e da oralidade em seus contextos sociais para que questões sobre a alternância de oralidade x letramento possam ter respostas melhores. “O letramento na educação”, terceira seção, equivale a uma demonstração dos estudos de caso e ferramentas conceituais anteriores no contexto da educação, buscando testar algumas ideias e métodos no domínio da prática escolar. Está dividida em mais dois capítulos: “A escolarização do letramento” (capítulo cinco) e “Implicações dos novos estudos do letramento para a pedagogia (capítulo seis). No capítulo seis, Street desenvolve o tema acerca de um estudo de caso em salas de aula e comunidades particulares nos Estados Unidos, relacionando com debates mais amplos sobre o “letramento cultural”. O autor busca responder a seguinte pergunta: como foi que uma variedade particular de letramento passou a ser considerada como único letramento? Para responder tal questionamento, o autor subdivide o capítulo em tópicos: “Letramento sem escolarização”, “Letramento na comunidade e na escola”, “Processos de pedagogização”, “Objetificando a língua”, “Objetificando a língua na escola”, “Objetificando a língua em casa”, “Rotulação do espaço”, “Procedimentos”, “Homogeneização ou variação?” e “Considerações teóricas: letramento, ideologia, e nacionalismo”. Conclui sugerindo que a pesquisa nesta área não deve se concentrar de forma isolada na escola. Faz-se necessário conceitualizar e pesquisar o letramento na “comunidade” e nas implicações ideológicas das práticas comunicativas em que ele está inserido. O capítulo seis traz as “Implicações dos novos estudos do letramento para a pedagogia”. Nele, Street relaciona alguns desenvolvimentos dos Novos Estudos do Letramento, esboçando seu aparato conceitual e tratando dos problemas do modelo culturalista em oposição ao modelo ideológico de letramento, abordando, ainda, as dificuldades que surgiram com o conceito de multiletramentos. Além disso, trata de algumas abordagens do ensino do letramento: o letramento escolarizado, o método Paulo Freire, a abordagem de experiência lingüística e a abordagem por gêneros. O autor conclui afirmando que os professores têm a obrigação social de fazer com que os aprendizes estejam prontos para interpretar o letramento como uma prática social crítica, percebendo desde o início os pressupostos e as relações de poder que se fundem tanto nas práticas letradas quanto nas práticas pedagógicas usadas para eles aprenderem. A quarta seção intitulada “Para um quadro teórico crítico” apresenta o exame crítico de posturas teóricas fundamentais que têm dominado os estudos sobre o letramento como os estudos de Walter Ong, no capítulo sete. Ademais, aborda algumas práticas letradas e mitos do letramento no capítulo oito. Em “Olhar crítico sobre Walter Ong e a ‘grande divisão’”, Street esclarece que o trabalho desse estudioso, principalmente sobre a divisão entre oralidade e letramento, tem dominado a abordagem do letramento em diversos domínios: círculos acadêmicos, agências de desenvolvimento e responsáveis por programas de escolarização. Entretanto, tal divisão deve ser confrontada. Para isso, o autor examina as teses de Ong em três níveis: metodológico, empírico e teórico. Conclui, então, que a tese de Walter Ong não tem muito valor na investigação da relação entre oralidade e letramento, mas que ela merece atenção, nem que seja para ser usada como forma de desenvolver modos que a ultrapassem. No oitavo capítulo “Práticas letradas e mitos do letramento” é apresentado de modo mais claro o modelo ideológico de letramento em oposição ao modelo autônomo. Street não acredita que o modelo autônomo ofereça uma síntese entre abordagens tecnicistas e sociais, mas o modelo ideológico sim, pois este tenta entender os aspectos cognitivos da leitura e da escrita como encapsulados em todos culturais e em estruturas de poder. O autor emprega a desenvolve os conceitos de evento de letramento, práticas de letramento e práticas comunicativas, baseando-se em estudos de Heath, Street e Grillo, respectivamente. Discute, ainda, alguns mitos do letramento: o mito de que o discurso escrito é codificado pelo léxico e pela gramática,enquanto o discurso oral se codifica por aspectos paralinguísticos; o mito da “conexão” e “coesão” no discurso escrito e a fragmentação e desconexão do discurso oral; e o mito do significado “preto no branco” da língua escrita contra o encaixe da língua oral nas pressões sociais adjacentes do diálogo face a face. Na última seção “Relações entre políticas, teoria e pesquisa no campo do letramento, Street argumenta a favor de uma relação entre perspectivas políticas no campo do letramento e a contribuição da teoria e da pesquisa. O autor, junto a outros pesquisadores, direciona a discussão para a perspectiva social, reunindo, de modo equilibrado, políticas, teoria e pesquisa. Para isso, vincula exemplos de abordagens políticas com o trabalho teórico no campo do letramento como prática social (LPS). Baseando-se em Leung e Lewkowitz, o etnógrafo Street argumenta que a teoria dominante, acerca de currículo e avaliação de letramento, adotada pelas agências internacionais é inadequada para a complexidade das práticas letradas em diferentes contextos sociais. Sendo assim, ele apresenta relatórios de políticas internacionais, para enfatizar que é preciso reconhecer as práticas sociais associadas ao letramento e suas implicações na educação, em vez de tratá-lo como uma habilidade isolada. O autor apresenta, também, algumas perspectivas teóricas e algumas descobertas de pesquisa, concluindo positivamente e afirmando que há formas de contestar as posturas dominantes, começando pela perspectiva de organizações pequenas, locais e comunitárias e de ONGs, desde que priorizem a aprendizagem e as práticas de letramento locais como base para os aprendizes. Em suma, a obra problematiza o conceito de letramento, ressaltando a importância do letramento ideológico, uma vez que leva em consideração os contextos sociais e sua relação de poder. O trabalho realizado com este livro nos conduz a reavaliar o lugar do letramento na sociedade como um todo, mas principalmente na escola, oferecendo-nos critérios de análise dos conceitos de letramentos que perpassam em nossa prática docente, apontando-nos caminhos possíveis para um efeito de sentido mais significativo em sala de aula. A leitura dessa obra certamente enriquecerá a prática de todos os que trabalham com o objetivo de formar aprendizes letrados dentro da perspectiva do letramento como prática social crítica e com consciência linguística crítica como propõe Brian Street. [1] Aluna do curso de Mestrado Profissional em Letras da Universidade Federal da Bahia. Turma 6 – 2019.1. sj_eli@hotmail.com file:///D:/Mestrado/Profª%20Simone%20Assumpção/Resenha,%20STREET.docx%23_ftnref1 mailto:sj_eli@hotmail.com
Compartilhar