Buscar

A colaboração premiada e a Lei nº12850

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A colaboração premiada e a Lei nº12850/13 – isa parte
A colaboração premiada vem sendo tema de discussões na atualidade tendo em vista a sua recorrente utilização em casos criminais de grande foco no país e, principalmente, pelas posições contrárias que trazem as doutrinas. Vale ressaltar que, apesar da expressão ser bastante utilizada pela mídia, colaboração premiada e delação premiada não são sinônimas, sendo a primeira, gênero, enquanto a segunda, é espécie.
O instituto da colaboração visa beneficiar aquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, trazendo informações da prática criminosa do caso. O deferimento do benefício só ocorrerá caso as informações do delator resultem em uma das situações previstas no artigo 4º, incisos I a V, da lei 12.850/13.
Podemos dizer que a colaboração é uma via de mão dupla: de um lado aquele que colaborou ganhará benefícios na aplicação da sua pena ou até mesmo o perdão judicial, de outro lado, o Estado e o Ministério Público terão, obrigatoriamente, informações que auxiliarão na obtenção de provas e indícios.
Como estratégia de defesa esta é normalmente utilizada nos casos em que a probabilidade de condenação se mostra superior ao de absolvição, sendo a colaboração uma nova estratégia de defesa, que poderá conceder o perdão judicial, a redução em até dois terços da pena privativa de liberdade ou ainda tê-la substituída por restritiva de direitos, caso o acordo de colaboração seja homologado pelo juiz competente por julgar e processar a ação penal.
Outro benefício que pode ser adquirido com a colaboração é a imunidade processual, que, na prática significa que pode o órgão acusador deixar de oferecer denúncia contra o colaborador, caso ele tenha sido o primeiro a prestar a efetiva colaboração e não seja líder da organização criminosa.
Buscando a eficácia e a justiça no emprego da colaboração premiada, parte da doutrina entende que o benefício adquirido em decorrência da colaboração deve ser proporcional à participação do colaborador na prática do crime. Assim, ao realizar o acordo, será analisada além de sua participação no crime, a relevância das informações obtidas, personalidade do colaborador, a natureza, circunstâncias, gravidade e a repercussão social do fato criminoso, na tentativa de se evitar injustiças e exageros.
Outro aspecto importante que a lei 12.850/13 traz é o caráter sigiloso do acordo de colaboração, sendo que só se tornará público após o recebimento da denúncia. Infelizmente, o que se pode observar é que tal dispositivo não vem sendo respeitado nos casos com repercussão midiática, que quebra o sigilo fixado em lei.
A Lei 12.850/13 entrou em vigor no dia 16 de setembro de 2013 dirigindo em seu teor, a tão esperada definição de organização criminosa. Até então, tínhamos uma lacuna no nosso ordenamento jurídico que era preenchido por entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. A referida lei apresenta inúmeras modificações ao sistema penal brasileiro, sendo como principal, a alteração da nomenclatura do artigo 288 do Código Penal, modificando quadrilha ou bando para associação criminosa.
A Lei das organizações criminosas, determina algumas causas de aumento de pena, como por exemplo, o emprego de arma de fogo, a participação de criança e adolescente, o concurso de funcionário público, a destinação do produto ou proveito do crime, as conexões entre organizações criminosas e a transnacional idade.
O cidadão brasileiro vem quase que diariamente assistindo através dos meios de comunicação as negociações da delação premiada, principalmente no âmbito da “operação lava a jato”, onde as vezes mesmo sem entender do que se trata ou de como a delação estar sendo operada, o cidadão aplaude e concorda plenamente. Mas deve-se ficar atento, uma colaboração premiada não pode ser vista apenas como uma “ajuda” para desvendar um crime ou que se conheça os participantes da organização criminosa, a delação premiada também é uma forma “traição”, não no bom sentido de estar ajudando a pátria, trazendo ao judiciário principalmente grandes integrantes de organização criminosa, o que se há é apenas a intenção do delator em ganhar a “premiação”, ou seja, que sua delação acarrete a diminuição da pena privativa de liberdade (redução em até 2/3), ou substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, ou até mesmo o perdão judicial, caso o delator tenha colaborado com efetividade trazendo na colaboração um ou mais resultados estabelecidos no artigo 4º, incisos I, II, III, IV e V. Assim estabelece o Artigo 4º da Lei 12.850/2013:
“Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.”
Assim, a verdade de tamanha disposição da pessoa acusada por um crime envolvendo organização criminosa se tornar da noite para o dia delator, “ajudante” da justiça, é pura vontade de ter uma das premiações do referido artigo citado acima, buscando a oportunidade de sair ileso do crime praticado, ou pelo menos com uma pena bem abaixo do que teria sem a colaboração.
Tem-se então a traição, onde o colaborador em busca da sua satisfação penal, ou seja, da premiação penal, resolve entregar seus companheiros de crime, trazendo todas as informações que sabe para que o Estado já falido e sem armas para o combate ao crime possa esclarecer o crime, apontar responsáveis, reaver o produto do crime, seja dinheiro ou bens, e o mais importante, trazer para si de volta o respeito da sociedade.
O instituto da delação premiada não é ultrapassado ou ilegal (inconstitucional) se usado de forma certa, com respeito aos direitos fundamentais do indivíduo, tanto do delator como do delatado. A delação deve ser voluntária, ou seja, o delator não pode ter qualquer tipo de pressão ou coação, seja psicológica ou física, pois a voluntariedade deve partir dele próprio. Não é o que se ver atualmente, pois o MP e PF primeiro restringe o direito de ir e vir do acusado e sob pressão ou coação, e com promessas de uma retribuição em sua condenação ou até mesmo com perdão judicial, que entregue os companheiros da empreitada criminosa, fazendo com que a pessoa se mostre voluntária para a delação, há então uma certa nulidade difícil de se provar, pois com a prisão do indivíduo não se tem outra saída para sair daquela situação a não ser concordar com a delação, é o que chamo de “Deleção Pressionada”, onde em constante pressão por parte da Policia Federal e/ou Ministério Público, o acusado resolve então trair seus comparsas.
Com relação aos resultados da delação ora praticado pelo acusado, lembro que além da “traição” o acusado tem a obrigatoriedade de falar a verdade e renunciar seu direito de permanecer em silêncio (§ 14º do artigo 4º), sendo assim, deve o delator falar tudo o que sabe, sem esquecer dos mínimos detalhes, sob pena de sua delação ir por água abaixo e perder todos os “prêmios” prometidos. Além do mais, em todos os atos da delação deve o colaborador estar assistido por seu defensor, não podendo colher suas informações sem que esteja presente um advogado, pois trata-se de formalidade essencial para tal ato, podendo o documento não gerar nenhuma eficácia ou efeito jurídico. Não obstante vale ressaltar que o juiz “poderá” conceder tais benefícios/premiaçõesprometidos ao delator, ficando a cargo do magistrado a faculdade de aplicar ou não tais benesses.
Portanto para o colaborador a delação premiada é uma oportunidade de ver sua pena amenizada ou até mesmo se ver premiado com o perdão judicial, mas deve-se ficar atento para que sua “traição” seja efetiva, ou seja, aquilo que é real, verdadeiro e que tenha um ou vários resultados estipulados nos incisos do artigo 4º da Lei 12.850/2013.
Partimos agora para o outro lado, o delatado, aquele que foi traído. A pessoa delatada no instituto da delação premiada fica à mercê de um depoimento no qual só poderá ter acesso após a homologação da delação, o que mitiga seu direito de defesa, pois não tem a oportunidade de se defender antes da homologação e rebater as acusações antes de se tornar pública, a delação se tornará pública assim que recebida a denúncia por força do § 3º do artigo 7ºda Lei 12.850/2013. Fica então a pessoa delatada com permissão ao acesso do “acordo de delação premiada”, assim como conhecer a identidade do órgão do Ministério Público e do Juiz que participaram do acordo, viabilizando um possível impedimento de um ou de ambos. Vale observar que mostra-se necessário que a publicidade não pode ferir alguns do direitos do colaborador preconizado no artigo 5º, incisos I, II, II, IV, V e VI da Lei 12.850/2013. Ressalta-se que a homologação do “acordo de delação premiada” é recebida pelo juiz por intermédio de decisão interlocutória, não se confundindo com “oferecimento da denúncia”, que é oferecida pelo Ministério Público para propor a ação penal. Oportuno salientar que nenhuma sentença condenatória terá como fundamento apenas nas declarações do delator, conforme inteligência do § 16º do artigo 4º da Lei 12.850/2013.
Quanto ao Estado, que de forma descontrolada vem usando o instituto da delação premiada para obter informações sobre determinada investigação, se mostra ultrapassado, sem o velho e bom procedimento investigatório realizado pela polícia, obtendo provas técnicas, identificando suspeitos, realizando diligências. Na verdade estamos diante de um Estado praticamente sem armas, que buscou na delação premiada uma forma de desvendar os crimes e seus autores, mesmo que para isso tenha que beneficiar ou premiar um acusado de um crime com uma pena mais branda ou com o perdão judicial, se tornando assim o Estado “amigo” do acusado, ou tornando-se o acusado “funcionário” do Estado. Há uma ineficiência/deficiência por parte do Estado na luta contra o crime organizado, ficando fragilizado frente a organizações tão organizadas ao ponto de premiar um criminoso que colaborar com a justiça, de premiar um “traidor”, afrontando valores ético e morais. Nos dizeres de Camile Eltz de Lima e Fernanda Corrêa Osório: “Nesse sentido, o uso ilimitado do instituto 
Colaboração Premiada acaba por atestar a ineficiência dos meios legítimos e constitucionais do Estado para o exercício do poder punitivo, autorizando-o a valer de meios que afrontam valores éticos fundantes do próprio Estado de Direito, como as garantias limitadoras do poder do Estado e a segurança e estabilidade jurídica na sociedade.”1
Por fim, temos o instituto da delação premiada que pode ser usada de uma melhor forma, não transgredindo a ética e a moral, ser usada de forma consistente, trazendo o benefício ao delator de acordo com a lei, deixando com que o delator faça sua “traição” de forma livre e espontânea, talvez com o fim de abrandamento de sua pena, ou para que se tire de suas costas todas as acusações e dívida com outros tal peso do resultado do delito, não se pode determinar uma prisão de um acusado para que se force uma delação, mais primordial que se respeite os princípios constitucionais do delator e delatado, que os órgãos persecutórios não usem a coação moral ou física para determinar quem deve ou não delatar com a promessa de benefícios em sua pena, e que não se trate a delação como uma prova incontestável.
Referências bibliográficas:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm
https://adrianomsadvocacia.jusbrasil.com.br/artigos/539835460/aspectos-relevantes-do-instituto-da-delacao-premiada-na-lei-12850-2013-lei-da-organizacao-criminosa
https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/4849/os-requisitos-concessao-colaboracao-premiada-contexto-organizacoes-criminosas
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI264643,41046-Aspectos+gerais+da+utilizacao+da+colaboracao+premiada+Lei+1285013
Todos os links foram acessados em 15/05/2019 – das 20hr até as 21:30hr

Continue navegando