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LIVRO 3 Origens e Futuros da Cidade Criativa LANDRY 2013

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Landry, Charles 
Origens e futuros da cidade criativa / Charles Landry -- São Paulo : SESl-SP 
editora, 2013. 
96 p. il. 
ISBN 978-85-8205-067-5 
1 . Criatividade 2. Economia criativa 3. Cidades criativas 4. Cultura 1. Título 
Índices para catálogo sistemático: 
Criatividade : Regiões urbanas 
Economia criativa : Cidades criativas 
Economia criati va : Cultura 
CDD - 330.91732 
29 Recursos culturais 
31 Os setores criativos (culturais) 
33 A agenda dos talentos 
37 QUALIDADES E CARACTERÍSTICAS 
40 Criatividade individual, organizacional e urbana 
5 UM LOCAL CRIATIVO 
9 A INCONSTANTE PAISAGEM GLOBAL 
-9 A região urbana em transição 
-2 Tornar o invisível visível 
Amsterdã: Novos edifícios 
mantendo o velho estilo 
e espelhando-se uns nos 
outros na ordem inversa. 
Londres: Grandes 
locais criativos têm 
grandes ruas, como a 
Regent Street. 
55 A DINÂMICA DA CRIATIVIDADE 
55 Criatividade: Um recurso e uma moeda 
57 Massa e tamanho essenciais 
60 Urgência e problemas perigosos 
61 Doença dos custos 
62 Cenários e meio social 
64 Criatividade e burocracia 
65 O Índice da Cidade Criativa 
67 ASPLATAFORMASCOMPETITIVASPARACIDADESCRIATIVASAMBICIOSAS 
67 Liderança urbana 
69 Uma perspectiva ética de desenvolvimento 
71 Pensamento, planejamento e ato integrados 
7 4 À prova do futuro e capacidade de recuperação 
75 Conhecimento e paisagem da aprendizagem 
79 CONTORNOS DO NOVO 
79 Abertura e pensamento inovador 
81 Movimentos de mudança 
83 Alinhamento e ligação 
84 Uma rica experiência urbana 
RESUMO 
A cidade enfrenta uma crise crescente que não pode ser resolvida por 
uma atitude de "conformidade". 
Publicações curtas como esta procuram resumir brevemente agendas básicas 
e movimentos de pensamento que estão dando forma à cidade e causando 
impacto sobre seu futuro atualmente. Origens e Futuros da Cidade Criativa define 
a plataforma para uma série de outros "pequenos livros", como A Paisagem 
Sensorial das Cidades, A Arte da Convivência, A Revolução Digital e a Evolução 
das Cidades, Eco Urbanidade e o Novo Cidadão Global, O Índice da Cidade 
Criativa: Medição de seu Pulso Urbano e A Gestão da Fragilidade: Cidades do 
Século XXI. 
A cidade enfrenta uma crise crescente que não pode ser resolvida por uma atitude 
de "conformidade" . Ela deve abranger o desafio de conviver com uma grande 
diversidade e diferença, abordar a agenda da sustentabilidade, repensar seu pa-
pel e finalidade para sobreviver bem em termos econômicos, culturais e sociais e 
administrar a crescente complexidade. Essas são algumas das futuras prioridades 
Charles Landry 5 
para a criatividade, que precisa abordar os problemas que realmente importam 
em termos globais. 
Curiosidade, imaginação e criatividade são precondições para as invenções e 
inovações se desenvolverem, resolverem problemas urbanos incontroláveis e 
criarem oportunidades interessantes. 
Liberar a criatividade dos cidadãos, das organizações e da cidade é um processo 
de outorga de poder que ajuda o potencial e é um recurso vital. É uma nova 
forma de capital e moeda. 
A criatividade tem amplas implicações e aplicações em todas as esferas da 
vida. Não se trata apenas de domínio de artistas, ou daqueles que trabalham na 
economia criat iva ou de cientistas, embora eles sejam importantes. A criatividade 
inclui inovadores sociais, burocratas interessados ou qualquer pessoa que possa 
resolver problemas de maneira incomum. 
As cidades precisam criar condições para as pessoas pensarem, planejarem e 
agirem com imaginação. 
Um desafio crucial é como as cidades podem tornar visíveis seus atributos criativos 
invisíveis em seu ambiente físico, bem como se sentem. Nesse caso, a capacidade 
de se comunicar de forma icônica é fundamental. 
6 Origens e futuros da Cidade Criativa 
MONTAGEM DO CENÁRIO 
Algumas pessoas acham que se fala demais sobre criatividade e outras 
consideram que seu valor está apenas começando a ser reconhecido. E 
impressionante como a criatividade fez as agendas globais evoluírem 
rapidamente, afetando o modo como valorizamos as pessoas, avaliamos 
as empresas e quão desejáve is achamos que as cidades e as regiões sejam. 
Em termos globais, cerca de cem cidades se autodenominam "Cidades Criativas", 
ainda que, muitas vezes, apenas se refiram à sua sólida infraestrutura artística e cul -
tural. Outro exemplo é o famoso IBM 2010 Global CEO Study1, que concluiu que a 
criatividade (60%) é a mais importante qualidade de liderança para o sucesso, supe-
rando a integridade (52%) e o pensamento global (38%). Com mais de 1.500 dirigen-
tes de empresas e líderes do setor público de 60 nações e 33 indústrias, o estudo é 
a amostra mais conhecida de entrevistas individuais de CEOs, que foram sondados 
sobre o que os dirige na gestão de suas organizações nos dias de hoje. Conforme 
seus pontos de vista, a criatividade é um recurso crucial ou uma arma vital. 
IBM, Worbing Beyond Borders: lnsights from the Global Chief Human Resource Officer Study [IBM 
2010 Global CEO Study], Nova York: IBM Corporation, [2010]. (N E.) 
Charles Landry 7 
Há uma "crise de criatividade" , embora ela esteja cada vez mais legitimada. A 
evidência mais conhecida é o estudo de longo prazo de Ted Schwarzrock, que 
acompanhou 300 mil crianças norte-americanas durante sua vida, algumas delas 
por quase 50 anos. Sua conclusão é que, desde 1990, a criatividade tem caído. 
Controverso e convincente 
O conceito de Cidade Criativa se tornou controverso. Por conta de seu uso 
excessivo, é perigoso que a noção de criatividade resulte em algo sem fun-
çfamento e irreal. Alguns se preocupam com o fato de ela estar bastante na 
moda, aplicada irrefletidamente, sem um entendimento detalhado de seu 
potencial. Consequentemente, as pessoas ficam entediadas e pensam na 
"próxima grande novidade" : "a cidade do aprendizado", "a cidade habitá-
vel" ou a "cidade inteligente". Simultaneamente há um paradoxo: quanto 
mais discutimos criatividade mais nos voltamos para uma cultura de aver-
são ao risco. 
Há um frenesi global que se prolifera à medida que os locais querem evo-
luir como Cidades Criativas ou simplesmente afirmar que são uma Cidade 
Criativa . Fala-se até de um Movimento de Cidades Criativas. As pessoas 
estão reagindo a um mundo que tem mudado radicalmente. Parece uma 
mudança de paradigma; mas, enquanto muitas coisas parecem ser as mes-
mas, suas dinâmicas operacionais básicas são diferentes. 
Charles Landry 9 
Por conta de seu uso excessivo, é perigoso que a noção de criatividade 
resulte em algo sem fundamento e irreal. 
A noção de Cidade Criativa parece uma resposta para lidar com a transição . É 
como uma brotoeja que se espalha por toda parte. Frequentemente as pessoas 
querem que a criatividade solucione mais problemas que aqueles com os quais ela 
pode lidar. O mais importante é que muitos problemas ou oportunidades não re-
querem necessariamente criatividade por si só. A questão central é ter uma menta-
lidade disposta a reavaliar as coisas abertamente e ser criativo quando necessário. 
Algumas pessoas criticam a noção de Cidade Criativa afirmando que ela só está 
relacionada a grupos limitados, como artistas, setores da mídia, do design e das 
artes cênicas. Embora todas essas esferas sejam importantes, a questão essencial 
é saber quais são as qualidades específicas da criatividade artística que poderiam 
ajudar a construir uma cidade mais criativa . Igualmente essenciais são os impactos 
dos produtos, serviços e métodos de trabalho dentro da economia criativa que po-
dem torná-los uma parte significativa de um desenvolvimento urbano interess'ante. 
Alguns dizem que a noção simplesmente ajuda a tornar a cidade um espetáculo 
para atrair a "classe criativa", isto é, grupo de trabalhadores e pesquisadores do 
conhecimento que são cruciais para o desenvolvimento de uma economia mais ba-
seada no conhecimento. Dizem que isso reforça as divisões entre ricos e pobres,afastando o foco dos menos privilegiados, em vez de olhar de uma maneira imagi-
nativa para seus problemas arraigados. Embora esse segmento da população seja 
1 Ü Origens e futuros da Cidade Criativa 
crucial, constituindo talvez 25% a 30% em cidades localizadas no centro de um país, 
ele não representa a totalidade das formas criativas de uma cidade. 
A excessiva ênfase sobre esse grupo é infeliz e limitada. A criatividade urbana é 
muito mais. Conforme já salientei : "os outros 75% das pessoas aparentemente 'não 
criativas' podem contribuir para uma cidade mais criativa que descubra oportuni-
dades imaginativas para progredir ou soluções inventivas para os problemas". Para 
serem um sucesso urbano, argumentei, em 1995, que: "As cidades têm um recurso 
crucial - seu povo. A inteligência do ser humano, seus desejos, motivações, imagi-
nação e criatividade estão substituindo o local, os recursos naturais e o acesso ao 
mercado como recursos urbanos. A criatividade daqueles que vivem e trabalham 
nas cidades vai determinar o sucesso futuro. Naturalmente que isso sempre foi fun-
damental para a capacidade das cidades de sobrevivência e adaptação. As cidades, 
quando se tornam grandes e complexas o bastante para apresentarem problemas 
de gestão urbana, transformam-se em laboratórios para desenvolver soluções-tec-
nológicas, conceituais e sociais - para seus problemas de crescimento e mudança". 
As principais prioridades para a criatividade nos dias de hoje são a criação da 
quarta revolução industrial limpa, ecológica e enxuta, o entendimento intercultu-
ral, a ajuda para reduzir tanto a divisão entre ricos e pobres como a concepção de 
ambição e significado além do consumismo. 
Meu primeiro projeto de Cidade Criativa foi em Glasgow em 1990, chamado Glasgow: 
The Creative City & lts Cultural Economy. Esse projeto foi constituído em um cons-
Charles Landry 11 
Chicago: Jovens se 
fotografando dentro da 
escultura Cloudgate, 
de Anish Kapoor, no 
Millenium Park. 
tante interesse em combinar o grão da cultura de um lugar com seus recursos 
embutidos, o qual pode ajudar a reinventar uma cidade, seu setor público, as 
organizações comunitárias e as empresas privadas, dando-lhe uma vantagem es-
tratégica. Desde então, sendo inspirado por outros profissionais e autores_, tenho 
desenvolvido minhas ideias em várias cidades e visitando inúmeras outras. 
As cidades têm um recurso crucial - seu povo. 
12 Origens e futuros da Cidade Criativa 
[ ... ] uma "plataforma de criatividade" é a principal ferramenta estratégica 
para a criação de uma "ecologia criativa" abrangente dentro de uma cidade. 
As principais conclusões são que a capacidade criativa de um local é formada por 
sua história, cultura, configuração física e por suas condições operacionais globais. 
Isso determina seu caráter e sua "mentalidade" . Eu estabeleci uma diferença en-
tre o "paradigma da engenharia urbana" do desenvolvimento das cidades voltado 
para o hardware e a "formação de Cidades Criativas", que enfatiza a necessidade 
de entender simultaneamente o hardware e o software. 
Hoje, o elemento essencial da personalidade de muitas cidades é sua "cultura de 
engenharia", que reflete em sua mentalidade. Os atributos que promovem a criativi -
dade associados a essa mentalidade são tanto positivos como negativos. O elemen-
to essencial é lógico, racional e tecnologicamente hábil, que se aprende fazendo, 
tende a avançar passo a passo e por meio da experiência e do erro. Ele está voltado 
para o hardware e faz que as coisas sejam feitas. Há uma tendência de que essa 
mentalidade possa se tornar estreita, sem imaginação e inflexível e esquecer o as-
pecto do software, que está preocupado com o modo como um local se sente, sua 
capacidade de promover interações, desenvolver e aproveitar habilidade e talento. 
As mentalidades promovem ou impedem o potencial criativo . O desafio, portan-
to, é inserir um entendimento flexível e criativo no modo como a cidade funciona. 
Desenvolver uma "plataforma de criatividade" é a principal ferramenta estratégica 
para a criação de uma "ecologia criativa" abrangente d_entro de uma cidade. 
Charles Land ry 13 
Londres: Um centro 
para feiras, que são 
um elemento vital 
da circulação de 
produtos culturais. 
Mais rapidamente atravessamos fases em que 
o predomínio de um determinado ativo mudou 
e está em destaque. Percebe-se isso em nossas 
economias e na vida social construída em torno 
delas, que foram primeiramente guiadas pelo 
fator, depois pela eficiência e agora são guiadas 
pela inovação. Cada fase significa um nível cres-
cente de complexidade. 
Uma advertência é crucial : um grave perigo de en-
fatizar constantemente a inovação é que nós a de-
senvolvemos para seu próprio bem, sem nenhuma 
finalidade real. Ela pode ter pouca utilidade ou não 
lidar com necessidades importantes. O objetivo é 
simplesmente inflar desejos, sonhando sobre mo-
das e tendências sempre em constante mudança . 
Deveríamos, naturalmente, gerar novas soluções 
para muitos desafios, mesmo que, às vezes, a rea-
ção criativa seja parar e perguntar a nós mesmos se 
"precisamos dessa inovação específica" . 
ONDAS DE MUDANÇA 
Uma curva mostra o movimento ao longo do tempo: da economia agrária 
para a economia guiada pela criatividade. Fomos essencialmente uma so-
ciedade agrária por milênios, uma sociedade industrial por 200 anos, uma 
sociedade cuja criação de riqueza foi amplamente guiada pelo valor insti-
tuído pela info rmação por 30 anos, e agora falamos das economias guia-
das pelo conhecimento, pela inovação e, cada vez mais, pela criatividade. 
Cada metáfora, como "a economia da inovação" ou "a economia baseada na 
criatividade", oferece uma melhor maneira para entender e avaliar a mudança dos 
principais meios de criação de riqueza na base da concorrência, nas prioridades 
sociais e culturais, no estilo de gestão, nos sistemas operacionais, no papel do setor 
público e na medição do sucesso ou do fracasso. Agora chegamos a um estágio 
em que a criatividade e a capacidade de imaginar são vistas como essenciais . 
Toda mudança nos meios de criação de riqueza econômica engendra uma nova 
ordem social, novas formas de aprendizado e coisas para aprender, novos cená-
rios em que ocorrem o aprendizado e a demanda por novos tipos de serviços. Ela 
Charles Landry 15 
equer diferentes recursos culturais . Por exemplo, olhando para a economia, os 
ecursos e os requisitos para se instalar uma fábrica da Ford ou um supermercado 
almart são diferentes daqueles para criar uma fábrica da Apple, um escritório 
o Google, um centro educacional KaosPilots na Dinamarca ou um Forum Virium 
em Helsinki . 
" economia da inovação ou do conhecimento", por exemplo, está altamente 
associada à inovação tecnológica e às habilidades, atitudes e qualidades dos 
ecnólogos, engenheiros de software e a outras pessoas com aptidões de enge-
aria ou cientificamente direcionadas. Sem querer entrar em clichês, as carac-
e ísticas de personalidade desses grupos são mais lógicas, lineares, racionais, 
a alít icas e sistemáticas. Apesar de terem também, naturalmente, elementos de 
·atividade, são menos competentes nas questões sociais ou na comunicação. 
gumas pesquisas, por exemplo, mostram que engenheiros precisam dar aten-
ção maior às aptidões interpessoais, às habilidades comunicativas e ao grau de 
· strução cultural . 
ouve um nível de previsibilidade sobre os resultados esperados das fases ante-
- es. Prever exatamente a "vantagem emergente" da criatividade será menos 
• T Estamos mudando da "administração do conhecido" para um modelo e mé-
o de inovação e design que é a "construção do desconhecido" . Todavia, o que 
é possível é construir a aptidão e incentivar a mentalidade para que as comunida-
des tenham a intuição para identificar a "vantagem" quando ela começar a surgir, 
possuindo, assim, a capacidade criativa de reagir apropriadamente.Isso requer 
Charles Landry 17 
um espírito de controle e um sistema de gestão e aprendizagem cientes dessas 
necessidades e dispostos a se adaptar a essas novas demandas. 
Essas transições não são suaves, e há ganhadores e perdedores. As cidades 
que afirmam ser criativas possuem uma grande parte da população na pobreza 
e são muitas vezes mal administradas. Logo, o alcance da criatividade deve ser 
abrangente e incluir soluções criativas para os problemas sociais e para a gestão. 
A criatividade não é apenas sobre artes ou outros setores culturais, como filme, 
música ou design, embora eles possam dar contribuições especiais. 
As matérias-primas do novo sistema são cada vez mais a informação, o 
conhecimento e a criatividade. 
A economia do conhecimento intensivo 
Lentamente e a partir da década de 1960, ficou claro que as sociedades ocidentais 
estavam mudando profundamente. Autores como Fritz Machlup, Peter Drucker, 
Alain Touraine e Daniel Bell discutiram o surgimento de uma sociedade pós-indus-
trial baseada menos na força muscular e mais no poder cerebral e em seu conheci-
mento resultante. A respeito desse assunto, uma lista de textos básicos consta na 
bibliografia deste livro. Naturalmente, a era industrial também exigia conhecimen-
to, mas a diferença entre aquela e a era emergente era seu uso autoconsciente. 
Alguns problemas interligados e temas comuns destacados eram: as indústrias de 
18 Origens e futuros da Cidade Criativa 
ormações teriam maior importância; o conhecimento seria uma forma vital de 
capital e recurso econômico; os setores baseados na ciência dirigiriam a economia; 
as ideias poderiam desenvolver a economia; essa economia em desenvolvi-
...,ento seria guiada pela informação e pelo conhecimento e voltada para serviços. 
matérias-primas do novo sistema são cada vez mais a informação, o conheci-
mento e a criatividade. Nesse caso, o conhecimento é tanto um produto como 
a ferramenta para aumentar o valor das outras atividades. Mais exatamente 
co o um bom alimento, que para fazê-lo você precisa tanto de ingredientes como 
uma receita, que é o conhecimento (Romer) . O conhecimento é o nível acima 
informação, uma vez que por meio do discernimento e da análise ele agrega 
lor a qualquer ideia, produto ou serviço. Todavia, a análise da informação pode 
e um amplo impacto, tal como a informação em tempo real ajuda o setor de lo-
'stica a criar processos de produção do tipo just-in-time. O conhecimento é um 
capital essencialmente humano que acentua as diferentes aptidões dos trabalha-
res necessários para o funcionamento da sociedade. 
E uma economia mais baseada no conhecimento, a força de trabalho espe-
-alizada é instruída em matemática, computação e experiente em dados. O co-
ecimento é difícil de ser definido, mas requer vivência técnica e pessoal, além 
de capacidade intelectual para resolver problemas e descobrir oportunidades. 
empresas sempre procuram vincular qualquer conhecimento a seus próprios 
ocessos e produtos para que não possa escapar com aqueles que o detêm. O 4-" 
conhecimento tende a crescer em vez de se esgotar quando é compartilhado e ___ _ ____ _ 
Charles Landry 19 
Essen: Escadaria de 
Koolhaas, no Museu 
de Ruhr, o ant igo 
complexo industrial 
Zeche Zollverein, imita 
o fogo usado na anti ga 
produção de aço. 
aplicado. Isso muda a economia de um viés de escassez para uma abundância 
potencial. Aliado a isso está o alcance global possibilitado pelo poder da com-
putação, a nova mídia, criando a inteligência coletiva por meio da conectividade 
e da interatividade e de um acesso imensamente mais fácil às fontes de conhe-
cimento. Um exemplo é a velocidade da transação e a agilidade dos processos. 
Produtos e serviços de alto conhecimento são mais caros que aqueles com baixo 
20 Origens e futuros da Cidade Criativa 
conhecimento agregado. Sólidos recursos de comunicação são vitais para fazer o 
conhecimento fluir, afetando as estruturas sociais e o ambiente cultural das orga-
izações e cidades. 
Os impactos da crescente economia do conhecimento intensivo foram enormes 
a organização do trabalho e das cidades. O processo de desindustrialização no 
Ocidente reduziu o poder dos trabalhadores braçais e seus sindicatos e aumentou 
úmero das profissões "criativas" associadas ao design ou às novas mídias. La-
ntavelmente, sempre há ganhadores e perdedores nessas transformações dra-
, ·cas. Lembre-se, e isso é difícil de acreditar, de que pensávamos que as grandes 
- ades teriam pouca esperança quando suas indústrias mudaram a produção para 
a Ásia ou outros lugares. Nova York, por exemplo, quase faliu na década de 1970. 
- ade era vista como uma aceleradora de oportunidade. 
ressurgimento da cidade 
Esse enômeno de ressurgimento da cidade tornou-se significativo a partir do iní-
a década de 1980. A cidade começou novamente a exercer uma atração gra-
·o ai por causa de seus recursos em aprendizado, sua capacidade de ajudar 
e as transações, suas instituições culturais e uma vida artística mais rica e 
- ..-:.'"'"'"€ , seu estoque de edifícios e infraestrutura, bem como suas ligações de 
..,.inc:rv"\rte. A cidade era vista como uma aceleradora de oportunidade, um denso 
Charles La ndry 21 
sistema de comunicação que não era fácil de ser reproduzido em outros ambien-
tes. Assim que ressurgiu um foco urbano, um amplo processo de regeneração 
urbana começou a tornar a cidade pronta para setores relacionados a serviços 
profissionais, escritórios e empreendimentos residenciais, que também acabou 
expulsando os inquilinos mais antigos em consequência do processo de valori-
zação dos imóveis. Por conta disso, muitas vezes os resultados eram negativos. 
Simultaneamente, começou um extenso exercício de readaptação. 
No mundo inteiro, centenas de antigos depósitos e cervejarias, estações de trem, 
ônibus ou corpos de bombeiros, fábricas de cimento, carvão, tecido, fumo ou aço, 
velhos mercados ou quartéis militares foram transformados em centros de cultura 
ou experiência, incubadoras e terrenos de criação das empresas e em polos de 
regeneração urbana mais ampla. Os profissionais criativos, principalmente, foram 
atraídos para esses locais. É estranho que esses mesmos locais, que possuíam 
condições horríveis de trabalho, tenham começado a se tornar famosos para o 
novo e para o moderno. Por que essas estruturas ecoam? Porque elas exalam 
lembranças e a ferrugem da idade em uma era em que a novidade cada vez mais 
apaga as lembranças. Além disso, naturalmente, seus espaços são fisicamente 
maiores e permitem flexibilidade e estruturas interessantes. 
São exemplos desse tipo de estrutura o complexo industrial Zeche Zollverein em 
Essen, ou o Landschaftspark em Duisburg-Nord, o Distrito das Destilarias em To-
ronto, a Fábrica de Cabos em Helsinki, Halles de Schaerbeek em Bruxelas, a Fábri-
ca de Pudim de Ovos em Birmingham, a restauração dos velhos prédios industriais 
22 Origens e futuros da Cidade Criativa 
Pyrmont e Ultimo em Sydney, Metelkovo em Liubliana, a área da Cervejaria 
man em torno da Brick Lane em Londres e muitos outros. 
mesmo tempo, há aqueles que não acham uma função nessa economia em de-
volvimento porque seu conjunto de aptidões é apropriado, o que fez surgir em 
· os lugares, nas palavras de Allen J. Scott, "um brilho e sua sujeira subjacente". 
Ruh r: Essa área de 
Ruhr, que já foi o 
principal centro 
industrial da Europa, 
está se transformando 
drasticamente. 
Charles Landry 23 
A TRAJETÓRIA DA IDEIA ORIGINAL 
- deia da Cidade Criativa, comparada ao "meio criativo", surgiu a 
artir do fim da década de 1980 junto de várias trajetórias. Quando foi 
roduzida no fim da década de 19802, ela foi vista como uma aspiração; 
toque de clarim para incentivar a mente aberta e a imaginação. Sua 
t-enção era ter um impacto dramático sobre a cultura organizacional. 
fil osofia era que sempre há mais potencial em um local que qualquerum de nós 
deria pensar à primeira vista, embora pouquíssimas cidades - talvez Londres, 
ova York, Amsterdã ou Berlim - tenham sido criativas de um modo abrangente 
ao longo do tempo. 
Essa filosofia pressupunha que precisariam ser criadas condições para o povo 
pensar, planejar a agir com imaginação e, com isso, elaborar oportunidades ou 
esolver problemas urbanos aparentemente incontroláveis. Os problemas urbanos 
Veja Charles Landry, Glasgow: The Creative City & lts Cultural Economy, Glasgow: Glasgow 
::e elopment Agency, 1990; Charles Landry e Franco Bianchini, The Creative City, Londres: Demos, 1995; 
- arles Landry, The Creative City, A Toolkit for Urban lnnovators, Londres: Earthscan, 2000. (NA) 
Charles Landry 25 
podiam variar da solução da falta de moradia à criação de riqueza ou melhoria do 
ambiente visual. Era um conceito positivo; sua hipótese era a de que pessoas co-
muns podiam fazer o extraordinário acontecer se tivessem a chance. Essa agenda 
também fez parte do processo de democratização e delegação de poderes que 
avançava firmemente no mesmo período. 
A criatividade nesse contexto é a imaginação aplicada, que usa qualidades 
como inteligência, capacidade inventiva e aprendizado ao longo do caminho. Na 
Cidade Criativa, não são criativos apenas os artistas e as pessoas envolvidas nessa 
economia, embora elas possam desempenhar papéis cruciais. A criatividade pode 
vir de qualquer fonte, incluindo uma pessoa que resolva problemas de uma maneira 
inventiva, seja um empresário, um cientista ou um funcionário público. Defende-
-se a necessidade de uma cultura de criatividade ser inserida no modo como os 
grupos urbanos operam. Incentivar a criatividade e legitimar o uso da imaginação 
dentro das esferas pública, privada e comunitária ampliará o banco de ideias e 
soluções para qualquer problema urbano. Esse é o pensamento divergente que 
gera múltiplas opções e que precisa ser alinhado com o pensamento convergente, 
o qual limita as possibilidades das inovações urbanas que poderão surgir quando 
passarem por um teste de realidade. 
A criatividade [ ... ] é a imaginação aplicada, que usa qualidades como 
inteligência, capacidade inventiva e aprendizado ao longo do caminho. 
26 Origens e futuros da Cidade Criativa 
requer infraestrutura além do hardware, como prédios, estradas ou esgoto. A 
estrutura criativa é uma combinação de equipamentos e programas, inclusive 
aestrutura mental, o modo como uma cidade aborda oportunidades e pro-
as; as condições ambientais que ela cria para gerar uma atmosfera criativa e 
d ºspositivos de ativação que ela promove, gerados por meio de suas estruturas 
centivos e normas. Requer milhares de mudanças na mentalidade, criando 
ições para as pessoas se tornarem agentes da mudança, em vez de vítimas. É 
sário que a pessoa veja a transformação como uma experiência vivida e não 
o um evento isolado. 
a biente construído - o palco, o cenário, o recipiente - é crucial para criar um 
·o social. A cidade industrial e seu meio social se parecem, sentem, funcionam 
am recursos de forma diversa de uma cidade baseada no conhecimento ou 
~· Esta última precisa de um ambiente físico diverso, o qual 
ova a sociabilidade, o intercâmbio e a mistura para maximizar seu potencial . 
a forma, ela se torna um acelerador de oportunidades. 
· ade precisa proporcionar precondições físicas ou uma plataforma sobre a 
~-
ai a base de atividades ou sua atmosfera possa se desenvolver. Um "meio social - ----- ----' 
·a ·vo" é um local que contém os requisitos necessários em termos de infraes-
~- ra para gerar um fluxo de ideias e invenções. Um meio social pode ser um 
''cio, uma rua ou uma área, como a Cervejaria Truman da Brick Lane em Lon-
' a Rundle Street East em Adelaide, a Oueen Street em Toronto e o Soho em 
a York. 
Charles Landry 27 
Londres: Os setores 
criativos, como design 
e música, são urn dos 
propulsores da nova 
economia. 
Tornar-se e ser uma Cidade Criativa está muito ligado à mudança de mentalida-
des, sendo mais um processo que um plano. É ser dinâmica, e não estática . Não 
há um ponto fixo no qual uma cidade seja criativa. Para manter uma posição cria-
tiva, uma cidade precisa estar continuamente alerta e ser estrategicamente ágil. 
Para promover a criatividade, precisamos pensar de forma mais ampla em 
recursos. 
28 Origens e futuros da Cidade Criativa 
ecursos culturais 
oje em dia a criatividade é vista como aplicável a qualquer campo, mas no fim 
década de 1980, quando a maioria das ideias constituintes foi desenvolvida, os 
·ncipais termos discutidos eram: cultura, artes, recursos e setores culturais. Foi 
r isso que as pessoas começaram a reconhecer que uma nova economia estava 
rgindo e o ambiente urbano estava se tornando homogêneo, tedioso e desani-
ador, com marcas similares dominando e as velhas estruturas das cidades sendo 
struídas em nome da renovação urbana. Em consequência, a característica local 
estava decaindo e se desgastando. 
ara promover totalmente a criatividade, precisamos pensar de forma mais am-
a em recursos e tirar proveito da história de lugares e de sua cultura. Em suma, 
esses são recursos culturais que estão incorporados na criatividade, nas aptidões 
e os talentos das pessoas. Eles não são apenas "coisas" como prédios, mas são 
bém símbolos, atividades e o repertório dos produtos locais em trabalhos ma-
ais, fabricação e serviços. Eles são as matérias-primas da cidade e a base de 
seu valor; seus ativos substituindo carvão ou aço. A criatividade é o método de 
explorar esses recursos e ajudá-los a crescer. 
a região urbana tem uma vasta quantidade dessas matérias-primas, que in-
em recursos incomparáveis inseridos na criatividade, nas aptidões e nos talen-
os das pessoas, além de um ambiente natural, clima, topografia, água e paisa-
gens criadas, como parques. Há ainda recursos naturais, como carvão e florestas; 
Charles Landry 29 
história, patrimônio e tradição na estrutura construída, nas lembranças, nos rituais 
e nos conhecimentos adquiridos. A criatividade abrange a qualidade do modelo 
global, o padrão das ruas e dos bairros, o equilíbrio entre os bons prédios comuns 
e as estruturas espetaculares, icônicas e representativas . Ela consiste ainda de in-
fraestruturas que vão desde a TI até o transporte, bem como no modo como uma 
cidade faz sua limpeza urbana. Ela contém indústrias e serviços locais, aptidões e 
base de talentos, bem como possibilidades de pesquisa e educação. Sem contar 
que cada vez mais a capacidade dos setores culturais é importante, desde design 
às novas mídias ou filmes e artes cênicas. Além disso, há atividades que incluem 
feiras comerciais, esportes, arena artística e atividades comunitárias, bem como 
festivais e eventos. Finalmente, as atitudes e os atributos podem ser bens, tal 
como se existisse uma cultura de curiosidade ou de competência organizacional. 
Uma avaliação da cultura deveria modelar as tecnicalidades do 
planejamento urbano. 
Mesmo as normas e o regime de incentivos resultantes podem atuar como um es-
tímulo criativo. Por exemplo, é possível usar a tributação de maneira que incentive 
certas iniciativas ou comportamentos. 
A tarefa dos planejadores urbanos é reconhecer, gerenciar e explorar esses recur-
sos de forma responsável. Uma avaliação da cultura deveria modelar as tecnicali-
dades do planejamento urbano e do desenvolvimento, em vez de ser vista como 
um complemento marginal de assuntos importantes de planejamento, como habi-
30 Origens e futuros da Cidade Criativa 
:ação, transporte e uso da terra. Uma perspectiva culturalmente informada deveria 
:::e erminar como uma cidade pensa de si mesma e de sua visão para o futuro, 
a vez que a cultura ajuda a entender de onde um local se origina, por que ele 
e o jeito que é e como isso pode determinar seu potencial. Esse enfoque chama 
a a enção para o que é característico, incomparável e especial em qualquerlocal. 
Os setores criativos (culturais) 
s setores criativos, anteriormente chamados de setores culturais, como música, 
ídia, artes cênicas ou design, foram importantes para promover a agenda da 
Cidade Criativa. Desde o fim da década de 1970, a Unesco3 e o Conselho da 
Europa começaram a pesquisar os setores criativos. Em uma perspectiva decida-
es, foi Nick Garnham, um acadêmico do Conselho da Região Metropolitana de 
ondres, entre 1983 e 1984, que colocou os setores culturais na agenda urbana. 
Baseando-se, com adaptações, no trabalho original de Theodor Adorno e Walter 
Benjam in na década de 1930, que consideraram "o setor cultural" como um tipo 
d e monstro, e também influenciado por Hans Magnus Enzensberger4, Garnham 
viu os setores culturais como uma força potencialmente libertadora. Para ele, em-
bora o movimento da mídia alternativa tivesse sido uma vigorosa força oposicio-
nista na década de 1970, essa mídia era importante, tendia a se marginalizar e 
3 Unesco, Cultural Industries: A Challenge for the Future of Culture, Paris: Unesco, 1982. (N.A.) 
4 Hans Magnus Enzensberger, Raids and Reconstructions: Essays on Politics, Crime, and Culture, 
Londres: Pluto Press, 1976. (N.A.) 
Charles Landry 3" 
falar para si mesmo. Além disso, ele se preocupou com o fato de que muitas das 
atividades culturais eram baseadas no trabalho suado e na autoexploração ou 
dependentes da concessão de financiamentos. Em vez disso, ele argumentou que 
era necessário manter o foco na viabilidade comercial, no mercado e no público 
real, pois com isso haveria benefícios positivos e um impacto muito maior sobre a 
mudança do panorama da mídia . 
No decorrer do tempo, à medida que cidades como Liverpool, Sheffield, Manches-
ter ou Birmingham lutavam com a reestruturação industrial, os setores culturais 
pareciam ser uma possível resposta para um enigma misto de problemas, como 
a necessidade de novos empregos, a manutenção da identidade em um mundo 
em mudança e a promoção da inclusão social. Quando o governo trabalhista re-
tornou em 1997, o Departamento de Cultura, Mídia e Esportes alterou o nome 
dos setores culturais para setores criativos, talvez tentando evitar suas conotações 
políticas, bem como criou uma Força Tarefa dos Setores Criativos. Nesse ínterim, 
acontecimentos semelhantes começaram a ocorrer nas cidades europeias, embo-
ra com um atraso que recentemente foi superado. Igualmente, o reconhecimento 
da importância do setor demorou a chegar à União Europeia, com a primeira ava-
liação abrangente do setor em 2001, chamada Exploração e Desenvolvimento do 
Pótencial de Emprego no Setor Cultural na Era da Digitalização. 
A Comedia, organização fundada por mim em 1978, participou desse desenvol-
vimento empreendendo estudos em Londres, Birmingham, Barcelona e outras 
cidades, a partir de meados de 1980 até o fim dessa década. O primeiro estudo 
32 Origens e futuros da Cidade Criativa 
lhado do conceito de Cidade Criativa foi Glasgow: The Creative City and its 
ral Economy, em 1990, seguido em 1994 por uma reunião em Glasgow de 
cidades alemãs e cinco britânicas (Colônia, Dresden, Unna, Essen e Karlsruhe; 
o i, Glasgow, Huddersfield, Leicester e Milton Keynes) para explorar a criativi -
e humana, o que resultou no estudo The Creative City in Britain and Germany 
Cid ade Criativa na Grã-Bretanha e na Alemanha 5), sucedido por uma versão cur-
e The Creative City (A Cidade Criativa), em 1995, e uma mais longa, chamada 
Creative City: A Too/kit for Urban lnnovators (A Cidade Criativa : Um Conjunto 
Ferramentas para Inovadores Urbanos), em 2000, que popularizou o conceito. 
agenda dos talentos 
cidades começaram a competir mais intensamente umas com as outras a partir 
·m da década de 1980. Um alinhamento foi desenvolvido entre as agendas do 
hecimento e da criatividade, o que criou um enfoque sobre os recursos humanos 
essários para tornar as cidades competitivas. Steve Hankin, da consultoria 
cKinsey, criou o termo "guerra por talento" em 1997, que é uma abreviatura 
aptidão, conhecimento e potencial humano, qualidades necessárias para uma 
- ade que precisa competir. Nesse momento, alguns começaram a perguntar 
ais eram as condições físicas, sociais e culturais necessárias para manter e 
atrair pessoas capacitadas, especialmente aquelas com sól idas reputações, que--------~ 
Charles Landry et alli , The Creative City in Britain and Germany, Londres: Ang lo-German Foundat ion 
~~ e Study of Industrial Society, 1996. (N A) 
Charles Landry 33 
escolhem onde e com quem querem trabalhar. Elas são o principal recurso de 
uma organização. Talento é um termo vago, por isso o exig ido vai depender do 
contexto, como, por exemplo, se alguém trabalha no setor público, privado ou 
comunitário . Em um caso, pode-se querer um empreendedor interessante; em 
outro, um bom administrador de hospital ou chefe do departamento de transporte; 
em um terceiro, pode-se exigir um inovador social. Algumas ca racterísticas, 
todavia, podem ser identificadas, como ser alguém estrategicamente alerta, ter 
disposição e capacidade de liderar, ser inteligente emocionalmente, comunicar-se 
bem, pensar bem e ser capaz de produzir. 
As cidades começaram a competir mais intensamente umas com as outras 
a partir do fim da década de 1980. 
A chegada do livro de Richard Florida, The Rise of the Creative Class: And how lt's 
Transforming Leisure, Community and Everyday Life (A Ascensão da Classe Cria-
tiva: E como ela transforma o lazer, a comunidade e o cotidiano), em 2002, sensi-
bilizou e reforçou a agenda de talentos com seus slogans inteligentes, como "ta-
lento, tecnologia, tolerância - os 3 Ts", e seus interessantes indicadores sonoros, 
como "o índice de gays", que podiam dar números às ideias. E o mais importante, 
o livro conectou as três áreas: uma classe criativa - uma ideia original e-, a eco-
nomia criativa e quais são as condições das cidades que atraem a classe criativa. 
Na essência, Florida demonstrou que um novo setor surgiu nas comunidades: a 
"classe criativa " - as pessoas que trabalham para apresentar novas ideias e melho-
res maneiras de fazer as coisas. Ele argumento que lugares com grandes números 
34 Origens e futuros da Cidade Criativa 
Dubai: A cidade tentou 
deixar sua marca na 
consciência global, 
muitas vezes de maneira 
estranha . 
membros da classe criativa também eram abun-
tes e crescentes. Para apoiar sua teoria, Florida 
ntificou ocupações que ele considerava esta-
na classe criativa e mediu seu tamanho e sua 
posição. Segundo Florida, as empresas eram 
atraídas para locais onde residiam pessoas criati-
, encontrando uma forte correlação entre locais 
erantes e diferentes, conforme medidos por 
s índices de gays e boêmios, bem como cresci-
nto econômico. O autor concluiu que o desen-
imento econômico é guiado em grande parte 
los fatores dos estilos de vida, como tolerância e 
ersidade, infraestrutura urbana e diversão. 
QUALIDADES E CARACTERÍSTICAS 
criatividade tem uma capacidade polivalente de solução de problemas 
e de criação de oportunidades em geral. Sua essência é uma desenvoltura 
ersátil e a capacidade de avaliar e encontrar a maneira de alguém resolver 
roblemas ou circunstâncias incontroláveis, inesperados e incomuns. 
Igualmente, a criatividade ajuda em um processo de descoberta por meio da 
capacidade flexível de imaginar possibilidades, conceber e originar conceitos 
e ideias posteriores para ajudar a concretizá-las. Dessa forma, ela possibilita o 
potencial para o desenvolvimento. É a imaginação aplicada, usando qualidades 
como a inteligência, a criatividade e o aprendizado reflexivo ao longo do caminho. 
Ela é valiosa no campo político, organizacional e cultural, bem como na tecnologia 
e na economia . Ela pode ser aplicada a todas as esferas: desde reformular escolas e 
o ensino a inventar novos sistemas de serviços de saúde e entrega, remodelando 
est ruturas organizacionais.Crucialmente, agora se reconhece que os insumos cria-
ivos agregam valor às empresas que não são normalmente consideradas criativas, 
como engenharia, gestão de instalações ou o setor de hospitalidade, tão diferen-
tes do design, do filme ou da música. A criatividade é genérica, é uma forma de 
Charles Landry 3 7 
pensar e uma mentalidade, tem aplicações específicas e está voltada para tarefas 
er;n relação a determinados campos. 
A criatividade requer certas qualidades de espírito, disposições e atitudes. Essas 
características incluem: curiosidade, franqueza e uma atitude interrogadora, ca-
pacidade de recuar, escutar e reavaliar, coragem de não aceitar como verdadeiro 
determinados credo, prática ou teoria, ousar pensar de maneira diferente, dom 
de ver relação e conexão entre coisas aparentemente diferentes. A criatividade 
envolve fluência e flexibilidade para aproveitar ideias de disciplinas e campos de 
pesquisas, pensar paralelamente e combinar conceitos de domínios desconexos. 
Ela é baseada no pensamento divergente que descobre oportunidades, revela 
padrões e ajuda a encontrar soluções antes de se aproximar prematuramente de 
uma resposta específica. 
A criatividade não está apenas preocupada com o novo ou com uma franqueza 
vaga . Ser criativo de modo eficaz significa ter o discernimento e saber quando 
ser flexível e aberto e quando ser mais concentrado e fechado ou obstinado e 
persistente. Um equívoco é pensar que ser criativo é ser espontâneo. Ser criativo 
requer tanta atenção quanto ser um cientista ou um engenheiro. O ponto central é 
que é um tipo diferente de atenção e abordagem. Logo, em termos de educação, 
por exemplo, os alunos criativos precisam de quatro qualidades essenciais : iden-
tificar novos problemas, em vez de depender dos outros para defini-los; transferir 
conhecimento de um contexto para outro; tratar o aprendizado como um proces-
so progressivo, no qual tentativas repetidas eventualmente levarão ao sucesso; e 
38 Origens e futuros da Cidade Criativa 
perseguir uma meta . A variedade de aptidões exigidas inclui: auto-organização; 
ser interdisciplinar e ter habilidades pessoais e interpessoais. 
A criatividade requer certas qualidades de espírito, disposições e atitudes. 
Todo mundo em princípio é criativo, mas nem todo mundo é igualmente criati-
vo, embora se possa ser mais criativo que atualmente é. O mesmo se aplica a 
organizações, bairros e regiões urbanas. Alguns aspectos da criatividade podem 
ser aprendidos, mas muitas pessoas ou organizações têm maneiras específicas de 
pensar. Alguns se desenvolvem em um contexto mais livre de variação e outros 
o acham ameaçador e desestabilizador. Parece que a maioria das pessoas e das 
organizações prefere a zona de conforto do examinado e testado, do conhecido e 
do aparentemente comprovado. 
O comportamento criativo e a capacidade de inovar ocorrem quando dois tipos 
de mentalidade estão presentes. Uma é a mente exploradora, que busca e liga 
oportunidades, que pode variar horizontalmente por meio dos fatos, problemas 
e conhecimento especializado, bem como detectar ligações, temas e agendas 
transversais. Essa é a mente capacitadora associada ao fato de ser criativo. Isso 
precisa ser aliado à mente concentrada e vertical de alguém que conhece um tó-
pico, assunto ou disciplina com profundos detalhes. Essa é a mente instrumental. 
Na Cidade Criativa , a complexidade aumenta exponencialmente ... 
Charles Landry 39 
Criatividade individual, organizacional e urbana 
Podemos compreender bem facilmente o que pode ser uma pessoa criativa, sua 
capacidade, por exemplo, de fazer conexões interessantes, de pensar de maneira 
não convencional ou reformular teorias oficializadas e ter centelhas de percepção. 
Ela tem ene~gia e coragem, bem como algum senso de direção, embora muitas 
vezes não esteja claro como vai chegar lá . O mesmo se aplica a uma organização 
criativa . Mas, de outro lado, as prioridades são diferentes, pois ela adiciona uma 
camada de complexidade e outra dinâmica acontece. 
Uma organização criativa provavelmente possui dissidentes e indivíduos criativos, 
mas para funcionar precisa também de outros tipos: consolidadores, céticos, 
solidificadores, equilibradores e pessoas com aptidões. Algumas pessoas 
consideram esses tipos menos interessantes, mas isso é perigoso, porque, para 
a organização criativa funcionar, ela precisa de equipes mistas. O modo como 
as equipes trabalham juntas é importante. Você precisa alcançar uma série de 
equilíbrios, como entre ser colaborador internamente e talvez usar a concorrência 
externa para fazê-lo progredir. E a organização precisa de uma históri a e de 
uma trajetória proposta para se tornar mais coesa internamente. A tarefa é o 
alinhamento interno para enfrentar o mundo lá fora . Na verdade, pode ser o caso 
em que uma organização criativa tenha muitas pessoas "comuns", mas como seu 
espírito, ou seu etos, é aberto, exploratório e apoiador, isso maximiza o potencial, 
o que pode, então, levar a constantes realizações organizaciona is maiores. Muitas 
vezes é o que ocorre no esporte, quando uma equipe sem nenhum jogador 
40 Origens e futuros da Cidade Criativa 
altamente capacitado vence, porque sabe melhor como tirar o máximo de suas 
partes. A chave é seu espírito aberto. O valor do espírito é incalculável. 
Passando para a camada seguinte - a Cidade Criativa - os problemas se tornam 
mais difíceis, uma vez que a complexidade aumenta exponencialmente à medida 
que envolve uma massa de indivíduos e uma combinação de organizações com 
Madrí: Para onde quer 
que você olhe, sempre 
há imaginação prestes 
a surgir 
Charles Landry 41 
diferentes culturas, objetivos e atitudes. Elas podem pressionar em direções 
opostas. Por exemplo, pode ser que algumas estejam promovendo a expansão e 
a extensão urbanas, enquanto outras, voltadas para a sustentabilidade, queiram 
adensar as coisas. Ou uma organização pode apresentar um grande entendimento 
cultural, enquanto outra pode basicamente não o ter. O desafio, então, é descobrir 
onde as linhas de uma intensa concordância podem fluir e se basear nelas para 
que as similaridades se tornem mais importantes que as diferenças. 
A noção de Cidade Criativa não significa que haja um consenso cômodo. 
A noção de Cidade Criativa não significa que haja um consenso cômodo. Em vez 
disso, ela enfatiza como as regras de engajamento entre as diferenças podem ser 
negociadas para avançar como em um processo de mediação. O conhecimento 
necessário para uma Cidade Criativa é, portanto, aquele dos conectores, 
encorajadores e facilitadores. Eles podem ser indivíduos ou organizações 
intermediárias que se atêm aos detalhes do dia a dia, importantes como são, e 
observam o que realmente importa. 
"O que realmente importa" em uma cidade depende da circunstância . Em um 
caso, pode ser ajudar a impedir os jovens de deixarem a cidade, aproveitando 
mais eficazmente seu potencial; em outro caso, abordar questões ecológicas; em 
um terceiro caso, lidar com os conflitos sociais entre grupos de um bairro. Todavia, 
o que importa cada vez mais, o que torna as coisas extremamente difíceis, é ser 
ela própria "criativa", isto é, "oferecer as precondições para pensar, planejar e agir 
42 Origens e futuros da Cidade Criativa 
Edimburgo: Uma placa 
interessante acima de 
uma loja que vende 
telescópios resume 
simbolicamente a agenda 
da Cidade Criativa: 
"Mudando o jeito de 
olharmos o mundo" . 
criativamente". Isso significa que as organizações 
estão mudando sua própria cultura . 
Em outras palavras, estamos apenas no início da 
jornada para a Cidade Criativa . A noção ainda não 
se incorporou ao código genético das principais 
instituições que constroem cidades. 
UM LOCAL CRIATIVO 
Para planejar uma Cidade Criativa, precisamos saber como ela é. Um 
local criativo pode ser uma sala, um prédio, uma rua, um bairro. Asqualidades de uma Cidade Criativa são similares: um senso de conforto e 
familiaridade, uma boa mistura do velho com o novo, variedade e escolha 
e um equilíbrio entre o calmo e o vivificante ou entre o risco e a cautela. 
As pessoas acham que elas podem se realizar e se expressar, bem como promover 
seus talentos para o bem geral; existem oportunidades. Esses talentos atuam como 
um catalisador e um modelo para desenvolver e atrair mais talento. Há inumerável 
quantidade de oportunidades de aprendizagem de alta qualidade, formais e infor-
mais. O autodesenvolvimento é fácil, os programas de aprendizagem são progres-
sivos, adaptáveis e altamente interligados. Há escadas de oportunidades, escolhas 
e um senso de que a ambição e as aspirações podem ser atingidas. Também há 
uma mentalidade de "posso fazer" . A cidade é uma máquina de possibilidades. 
Há lugares para se reunir, conversar, misturar, permutar e brincar. Há cor e 
diversidade multicultural, uma vez que isso significa uma característica distintiva e 
Charles Landry 45 
natif
Realce
natif
Realce
percepções variadas. É um local "intercultural " , onde o foco é mi rar c uras e 
experiências diferentes e compartilhar juntos ideias e p rojetos. 
A confiança de ser extrovertido se origina de um senso de fa ilia - ad e com as 
pessoas e dos pontos de referência físicos da cidade, seja u a rua, ca é ou um 
conjunto de instalações. Isso f ixa com firmeza seu senso d e seg ra ça e pro eção. 
O sentimento de uma comunidade adaptável que se desen o i e é i portante. 
Quando as pessoas têm confiança, elas querem explorar, ser curiosas e ses rpreen-
der. Esse local criativo transpira crucialmente um senso de " p ropós- o s perior" , 
tem ambientes sentimentais, talvez uma galeria ou um lugar de in eresse- um t ip o 
de catedral da era pós-industrial. 
O ambiente em geral funciona bem e é fácil de se movimentar nele e se conectar. 
A arquitetura, antiga e nova, está bem instalada e o padrão d as ruas é d iversificado 
e interessante, gerando orgulho. Ligados dentro do com um estão o extraord inário 
e o excepcional ocasionais . Os criadores de todos os t ip os estão co entes, mas 
não complacentes, e motivados para criar e transmitir seu trabalho. As pessoas 
trocam ideias, desenvolvem projetos em conjunto, comercializam seus produtos 
ou trabalham em seus setores avançados. O ambiente oferece u cadast ro rico 
de vibrantes experiências, como alimentos, artes, patrimô nio e natureza, inclusive 
prósperos cenários dominantes e alternativos. O local é acolhedor e encorajador. 
Seu dinamismo o torna um imã, gerando, assim, uma massa crítica e at raindo pes-
soas de fora . 
46 Origens e futuros da Cidade Criativa 
natif
Realce
natif
Realce
natif
Realce
Sua estrutura política e pública tem propósito e direção. A Cidade Criativa enten-
de a importância de promover o potencial de seu povo . Seus trabalhos são con-
centrados, fáceis de navegar e acessíveis, abertos e estimulam a participação. Os 
funcionários públicos fazem que as coisas sejam realizadas independentemente 
dos limites departamentais. As diferenças são discutidas, aceitas e resolvidas sem 
rancor. Sua liderança tem visão e é estrategicamente ágil, todavia está fundamen-
tada na realidade do dia a dia . A Cidade Criativa é respeitada e confiável e reco-
nhece seu papel vital na identificação contínua de novas oportunidades. Promove 
a coesão, é relativamente aberta a forasteiros e a ideias novas e desconfortáveis. 
Os índices de criminalidade são em geral baixos, no local há segurança e os pa-
drões de vida são relativamente altos. O local criativo está socialmente alerta e 
procura evitar isolar sua população mais pobre. As organizações sociais são ativas, 
bem fundamentadas e construtivas. 
A indústria é inovadora e ciente do design, com um forte foco sobre novas tendên-
cias, nas tecnologias emergentes e nos setores jovens, como o desenvolvimento 
da economia ecológica ou de setores criativos. A Cidade Criativa está integrada a 
uma rede e conectada; e seu compromisso com a pesquisa e o desenvolvimento 
é acima da média. A transfertilização, mesmo por meio dos mais diversos setores, 
ocorre naturalmente . As parcerias público-privadas acontecem como rotina . A co-
munidade comercial é empresarial, tem ímpeto e é progressista. Ela entende e uti-
liza bem seus recursos naturais, promove os talentos existentes e atua como uma 
área de geração de novas aptidões. Os líderes empresariais são figuras respeita-
das e dão retorno . A comunidade, por sua vez, está orgulhosa de seus produtos 
Charles Landry 47 
natif
Realce
Portugalete: Uma 
resposta criativa 
à topografia, 
facilitando lidar 
com as ladeiras na 
cidade do estuário 
de Bilbao 
e da reputação que eles têm. Ela tem sistemas de comunicação eficazes, inclusive 
transporte local e internacional, acesso à internet de alta velocidade e conexão 
com o mundo inteiro. 
Em geral, esse local é diferente de qualquer outro. Sente-se o sussurro, que é 
óbvio tanto para os residentes como para os visitantes. Ele acentua sua distinção 
de uma forma relaxada e amigável. Ele está em paz consigo mesmo. Sua história, 
sua cultura e suas tradições estão vivas, receptivas à influência e à mudança, ab-
sorvendo novas ideias que, por sua vez, evoluem e desenvolvem sua característica 
distintiva e sua cultura. 
48 Origens e futuros da Cidade Criativa 
natif
Realce
A INCONSTANTE PAISAGEM GLOBAL 
Toda cidade ambiciosa deseja aparecer na tela do radar global. 
A região urbana em transição 
A noção de criatividade mudou para o centro do cenário, então podemos falar 
de um movimento. Há muitos desencadeadores: a natureza feroz da competição 
urbana e por que os antigos métodos de fazer muitas coisas não funcionam mais. 
Em nível global, ao longo dos últimos 20 anos, as cidades procuram respostas 
para redefinirem seu propósito e criar novos tipos de trabalhos, embora essas 
cidades muitas vezes estivessem fisicamente presas a seu passado industrial. Isso 
levou a uma autocrítica, o que significou reavaliar os métodos antigos. Muitos 
concluíram, por exemplo, que a educação não parecia preparar as pessoas para 
as demandas do "novo" mundo; elas permaneciam como fábricas para d ifundir 
o conhecimento, em vez de comunidades de pesquisa; elas ensinavam coisas es-
pecíficas, em vez de adquirir conhecimentos de ordem superior, como aprender 
a criar, descobrir, inovar, resolver problemas e se autoavaliar. Isso significa que o 
talento não era suficientemente liberado, explorado e promovido. Além disso, os 
Charles Landry 49 
sistemas hierárquicos de gestão dos setores públicos e privados eram reconhe-
cidos como ineficientes em um mundo onde estruturas uniformes e interligadas 
mostravam uma promessa maior e modelos comerciais novos à medida que a 
"inovação aberta" estava surgindo. 
Em suma, o mundo das cidades e regiões mudou drasticamente nos últimos 20 
anos, e a reinvenção de locais como Ruhr, Bilbao, Helsinki, Melbourne, Chicago, 
Vancouver, Hong Kong, Kuala Lumpur ou São Paulo é símbolo dessa mudança. 
Cidades de todos os tamanhos e em todo o mundo enfrentam períodos de pro-
funda transi ção causados amplamente pelo rigor da globalização renovada e das 
mudanças na hierarquia urbana mundial. Cada cidade-região precisa reavaliar seu 
papel nessa nova configuração, uma vez que necessita mudar sua economia para 
uma baseada em maior intensidade de conhecimento. 
Toda cidade-região com ambição real quer subir na cadeia de valores e conseguir 
uma centralidade para si mesma. É por isso que cidades-regiões estão continua-
mente buscando ser um centro de importância de nichos globais. O objetivo geral 
desses locais ambiciosos é aumentar seu "poder de atração" por qualquer meio. 
Isso avalia a dinâmica de atração, retenção e vazamento de poder, recursos e ta-
lentos. A mistura correta torna uma cidade atrativa e desejável, com vários aspec-tos que tentam diferentes públicos: corretores de poder, investidores, industriais, 
compradores, turistas, incorporadores de imóveis e líderes do pensamento. De 
um modo geral, isso cria a ressonância de uma cidade. Poucos lugares conseguem 
desenvolver o marketing urbano integrado e sofisticado que reúne esses elemen-
Charles Landry 51 
tos. Melbourne, Amsterdã e Berlim fazem isso bem. A consequência de conseguir 
um poder de atração é demonstrada no poder econômico, político e cultural - a 
capacidade de moldar as coisas - e, dessa forma, desempenho e riqueza. Novas 
dimensões de concorrência estão surgindo, tais como ser "ecológico", e lugares 
como Zurique, Freiburg e Copenhague causaram um impacto significativo . 
O objetivo geral desses locais ambiciosos é aumentar seu "poder de atração''. 
As cidades agora competem promovendo toda a dimensão de sua base de ativos 
e praticamente todas reconhecem a "criatividade" como um recurso de muitas 
faces. Muitas têm estratégias de criatividade, como Cingapura, Amsterdã, Berlim, 
Xangai, Londres, Hong Kong, Osaka e Toronto. Igualmente, cada vez mais cidades 
do segundo e terceiro grupos, como Gant, estão seguindo seu despertar. 
[ ... ] o mundo das cidades e regiões mudou drasticamente nos últimos 20 anos. 
Tornar o invisível visível 
Os recursos que as cidades e regiões têm possibilidade de usar com criatividade 
podem ser sólidos, materiais, tangíveis ou suaves, imateriais e intangíveis, reais e 
visíveis, simbólicos e invisíveis, contáveis, quantificáveis e calculáveis ou ter a ver 
com percepções e imagens. As cidades ambiciosas procuram projetar e orques-
trar seus ativos de uma forma "icônica". O objetivo é chamar a atenção para a 
52 Origens e futuros da Cidade Criativa 
cidade, criar uma riqueza de associação e reconhecimento e agarrar perfil. Ícones 
são projetos ou .iniciativas intensamente autoexplicativos, que abalam a imagina-
ção, surpreendem, desafiam e levantam expectativas. Nós os obtemos de uma 
vez. Na hora certa, eles se tornam instantaneamente reconhecíveis e emblemáti-
cos. Poucos deles existem, sendo os mais novos provavelmente o Elbphilharmonie 
na cidade portuária de Hamburgo, projetado pelo Herzog & de Meuron. Outro 
Madri: Uma 
Cidade Criativa 
começa dando 
oportunidades 
às crianças; é 
raro ver parques 
de recreaçao no 
centro urbano. 
Charles Landry 53 
que prende a imaginação é o Palm em Dubai . Mais memoráveis são os físicos . 
Um ícone, no entanto, pode ser tangível ou intangível. Um prédio, uma atividade, 
uma tradição, ter uma sede de uma organização-chave na cidade, a associação de 
uma pessoa com uma cidade, um plano ou um evento como os Jogos Olímpicos 
podem ser icônicos. Uma cidade pode até ser icônica quando ela tem muitas 
associações, como Paris, Nova York ou Istambul , que formaram em torno de si 
mesmas uma poderosa imagem composta . E o mais importante é que as imagens 
e as percepções precisam ser baseadas na realidade . 
Há uma batalha sobre como medir o sign ificado de locais, uma vez que nossos 
sistemas de medição para avaliar a dinâmica das cidades frequentemente estão 
ultrapassados. Medimos as quantidades estáticas, como a população ou o produ-
to doméstico, geralmente derivadas do Censo, tão importantes como elas são, 
tão diferentes das medidas respectivas, como a força ou os fluxos de informações, 
conexões, ligações, reputação, presença icônica e outros fatores menos tangíveis. 
É por isso que um novo volume inteiro de indicadores e sistemas de classificação 
foi proposto. 
54 Origens e futuros da Cidade Criativa 
A DINÂMICA DA CRIATIVIDADE 
Pela primeira vez na história, a imaginação é a principal fonte de 
produtividade econômica e solução de problemas. 
Criatividade: Um recurso e uma moeda 
Hoje há uma valorização da criatividade. Pela primeira vez na história, a imagina-
ção e seu conhecimento resultante são as principais fontes de produtividade eco-
nômica e de solução de problemas. Evoluímos de um mundo em que a prosperi-
dade dependia da vantagem natural (decorrente do acesso a recursos naturais e 
mão de obra mais abundantes e baratos) para um mundo em que a prosperidade 
depende da vantagem criativa, decorrente da capacidade de usar e mobilizar a 
capacidade intelectual para inovar em áreas de recurso especializado mais eficaz-
mente que outros locais. 
O sucesso depende da capacidade de uma cidade de identificar, alimentar, pro-
mover, apoiar, orquestrar e mobilizar seus recursos criativos. Ela precisa desenvol-
ver sua "ecologia criativa" . 
Charles Landry 55 
Massa e tamanho essenciais 
O potencial da criatividade é determinado pelo contexto. Esses fatores estão mui-
tas vezes além do controle de uma cidade. Eles incluem a localização física, a 
geografia, o tamanho do local, a política nacional ou os níveis de centralização. A 
massa crítica é essencial para atingir certos objetivos. Historicamente, era comum 
locais maiores se tornarem famosos por serem criativos. Olhando para os locais 
criativos reconhecidos no passado, é surpreendente quantos deles eram centros 
de impérios, como Atenas, Viena ou Londres, ou centros de rotas comerciais ou 
pontos de entrada, como Veneza ou Nova York. De forma esperada, como polos 
de atração, eles atraíram o que é conhecido como o melhor e o mais brilhante do 
mundo, o que continuamente ajudou a reforçar suas posições e gerar o poder cul-
tural e político, bem como especialidades complexas ou aglomerados industriais, 
por meio dos quais eles criaram sua riqueza. 
Cada um desses famosos centros criativos nos ofereceu algo incomparável, com 
o qual ainda podemos aprender. Atenas nos deu uma herança intelectual que 
promoveu o debate
1
, a análise e a crítica . Veneza destacou para nós a importância 
da especialização, do conhecimento e das redes comerciais. Florença nos lembra 
o quão importantes são os novos modelos empresariais, como a invenção dos 
sistemas bancários. 
A necessidade de criatividade deveria ser vista à luz de novos problemas 
complexos. 
Charles Landry S / 
Viena é um exemplo de como uma configuração de ideias fundamentais pode 
afetar várias disciplinas simultaneamente. A ascensão de Paris como líder das 
artes e da moda foi desencadeada e ajudada pelo patrocínio real, que é, de fato, 
um investimento público. Londres, na descontraída década de 1960, atingiu um 
zeitgeist global ou uma disposição para mudança . O sucesso do Vale do Silício em 
São Francisco ajuda a indicar os elementos exigidos, organizacionais, financeiros e 
legais, para transformar ideias em realidade. 
A questão interessante é se locais menores, especialmente aqueles com tradições 
industriais, como a produção de carvão, aço, bens manufaturados ou cerveja, 
podem ser criativos. Em termos relativos, a resposta é sim. Embora eles não 
possam competir com centros globais, há ampla variedade de nichos e forças 
a ser capturada . E, na verdade, locais muito grandes muitas vezes se tornam 
subutilizados, reduzindo, assim, seu potencial de criatividade. 
O que parece ser importante são as formas de conhecimento que são aglomerados 
em um determinado local. Aqui, a ideia do setor quinário é útil. A tradicional 
divisão dos setores primário, secundário e terciário, ou de serviços, é bem 
conhecida . Todavia, o setor terciário é imenso e inclui atividades que são altamente 
diferentes. Ser um garçom ou um cabeleireiro é uma tarefa de serviço, mas não 
pode realmente ser comparada a ser um advogado ou engenheiro de software, 
que exige diferentes atributos intelectuais. Alguns, portanto, definem isso como 
setor quaternário. O setor quinário inclui atividades que envolvem os níveis mais 
altos de tomada de decisão, pensamento estratégico e planejamento, em que 
58 Origens e futuros da Cidade Criativa 
muitas vezes ideias, conceitos, modelos, produtos e serviços são repensados e 
reinventados. A Cidade Criativa tem uma proporção mais altadessas pessoas. 
Brisbane: Festivais 
de ideias estâo se 
tornando cada vez 
mais populares 
à medida que as 
pessoas procuram 
novas respostas 
para os problemas 
mundiais. 
Charles Landry 59 
Istambul: Um choque 
cultural - uma loja com 
manequins nus perto 
de uma mesquita. 
Urgência e problemas perigosos 
A necessidade de criatividade deveria ser vista à luz de novos problemas comple-
xos, como ecologia e sustentabilidade que, se tratadas com seriedade, precisarão 
reformular o modo como pensamos e nos comportamos. Alguns se referem a isso 
como o aumento de problemas. Muitos problemas de políticas públicas, como a 
60 Origens e futuros da Cidade Criativa 
obesidade, que trazem implicações de saúde e sociais, são seriamente comple-
xos. Chamados "problemas difíceis", são aparentemente intratáveis, compostos 
de dilemas e assuntos interligados, questões políticas, econômicas e sociais. Os 
problemas difíceis não podem ser enfrentados pelos métodos tradicionais, em 
que são simplesmente definidos, analisados e resolvidos em passos sequenciais. 
Eles têm características que tornam o tradicional pensamento, de cima para bai-
xo, menos capaz de resolvê-los . Não há nenhuma visão "correta" definida ou es-
pecífica de formulação do problema; e diferentes grupos interessados veem o 
problema e as soluções de forma diferente, muitas vezes com pontos de vista 
ideológicos muito profundos. Os dados são frequentemente incertos, difíceis de 
ser adquiridos ou ausentes. Eles estão ligados a outros problemas e cada solução 
revela novos aspectos do problema que precisam de ajuste. 
O maior impacto da criatividade surge quando ela encontra um modo de solucio-
nar os problemas difíceis. 
A criatividade precisa de ambientes físicos e organizacionais, cenários e 
um espírito de gestão que a estimule a acontecer. 
Doença dos custos 
O desafio específico para o setor público é reter e atrair pessoas talentosas. Os sa-
lários relativos entre o setor público e o privado estão sob pressão. Isso se deve à 
Charles Landry 61 
chamada "doença dos custos". Muitas atividades, especialmente as de produção 
avançada, podem aumentar muito a produtividade por meio de melhorias na TI ou 
criatividade, justificando, portanto, aumentos de salários. Fazer mais com menos 
nesses contextos não traz ganho algum. Nos serviços comuns e personalizados, 
que são principalmente o domínio do setor público, aumentos de produtividade, 
pelo contrário, são mais difíceis de alcançar. Se um professor aumentar sua pro-
dutividade, com classes de 20 em vez de 1 O, consideraremos isso uma perda de 
serviço. O mesmo se aplica a uma enfermeira ou a uma assistente social que lida 
com mais pacientes ou clientes. Todavia, suas expectativas relativas de aptidões 
e salário são as mesmas daqueles que trabalham na produção avançada . Essa 
pressão crescente dos custos é a doença dos custos. Para o setor público há pou-
cas escolhas. Ele terá inevitavelmente demandas por salários mais altos e prova-
velmente menos investimento . Isso significa que o domínio público precisa estar 
aberto para formas inovadoras de operar. Ele deve ser imaginativo na reinvenção 
dos serviços para fazer seus recursos trabalharem mais. 
Cenários e meio social 
A criatividade precisa de ambientes físicos e organizacionais, cenários e um espíri-
to de gestão que a estimule acontecer. Muitas organizações, instituições ou cultu-
ras inadvertidamente matam sua criatividade " esmagando" seus func ionários ou, 
no caso da educação, a motivação intrínseca de seus alunos - o forte desejo in-
terno de fazer algo baseado nas paixões e nos interesses. Ambientes, empresas e 
62 Origens e futuros da Cidade Criativa 
locais que incentivam as pessoas ou organizações a serem criativas têm inúmeras 
características, como a liberdade e a autoridade para agirem delegando poder; 
alcance correto do desafio que é atingível, mas estende-se às pessoas; tempo, re-
cursos humanos e financeiros suficientes para permitir a experiência e o erro; cria-
ção de um contexto de equipe de apoio em que as pessoas estão comprometidas 
com o projeto e umas com as outras, bem como as ideias e as opiniões diferentes 
podem ser compartilhadas para desenvolver o potencial de uma ideia, processo 
ou produto; suporte gerencial e organizacional, criando um ambiente que publi-
camente valoriza e recompensa a criatividade. Certamente tudo isso causa algum 
impacto sobre o modo como as empresas, as escolas, as universidades ou as cida-
des-regiões urbanas funcionam. 
Um novo espírito organizacional está em formação . Ele difere do paradigma mais 
simples de eficiência e eficácia associado ao fim do século XX. As características e 
a dinâmica operacional da burocracia corporativa ou pública do início do século 
XXI incluem ser engenhoso, estrategicamente ágil, responsivo e imaginativo. 
As aplicações da criatividade são voltadas para o contexto. No século XIX, foi, por 
exemplo, a criatividade dos cientistas na descoberta da cura para a cólera que 
avançou a saúde pública. No século XX, aqueles que inventaram os computado-
res definitivamente criaram a economia baseada na internet. No século XXI, dois 
enfoques sobre a criatividade são fundamentais. O primeiro é necessário para 
promover a quarta revolução industrial enxuta, limpa e ecológica, bem como re-
solver problemas de integração ou convivência social ou repensar os serviços de 
Charles Landry 63 
saúde e os serviços sociais. O segundo é a capacidade de pensar holisticamente 
e por meio das disciplinas. Em parte, isso requer que as pessoas pensem de outra 
forma, pois a partir daí farão as coisas de forma diferente e, em última análise, 
talvez, coisas diferentes. 
Criatividade e burocracia 
Uma arena para a ação criativa é a burocracia pública, uma vez que a versão do 
século XXI deverá ser diferente da burocracia pública do século XX e resolver pro-
blemas mais complexos que naquele século. Nossas burocracias ocidentais foram 
desenvolvidas para lidar com problemas de sua época e refletem a cultura de sua 
era. No máximo, elas procuraram procedimentos sistemáticos para trazer trans-
parência, justiça e equidade para a tomada de decisões. Todavia, à medida que 
evoluíram, os pontos fracos surgiram e, combinados com o gerencialismo, torna-
ram-se complicados. As mudanças já estão em andamento nas práticas organiza-
cionais do setor público, das empresas comerciais e do mundo mais abrangente. 
Elas incluem uma alteração de estado para envolver mais os usuários e cogerar 
políticas, produtos ou soluções; uma mudança do pensamento hierárquico para 
o pensamento em rede, uma quebra das tradicionais fronteiras disciplinares e a 
transfertilização cultural. Estas têm implicações para o modo como as burocracias 
precisam funcionar. A ideia de "burocracia criativa" não é um plano, mas uma 
maneira proposta de funcionamento que ajuda a criar melhores planos e formas 
de funcionamento no futuro . É uma forma organizacional adaptável, responsiva e 
64 Origens e futuros da Cidade Criativa 
colaboradora que, em princípio, pode promover a iniciativa, a motivação e as inte-
ligências plenas daqueles que trabalham nela e respondem às variáveis demandas 
daqueles que procura servir. 
É possível medir a capacidade cr iativa de uma cidade. 
O Índice da Cidade Criativa 
Para medir e monitorar o pulso criativo de uma cidade, eu e meu colega Jona-
than Hyams desenvolvemos um "Índice da Cidade Criativa" direcionado para 1 O 
domínios que apresentam uma grande quantidade de perguntas de avaliação e 
grupos de indicadores. 
Os domínios são: 
• Estrutura política e pública; 
• Característica distintiva, diversidade, vitalidade e expressão; 
• Franqueza, tolerância e acessibilidade; 
• Empreendedorismo, exploração e inovação; 
• Agilidade estratégica, liderança e visão; 
• Desenvolvimento de talentos e panorama da aprendizagem; 
• Comunicação, conectividade eintegração; 
• Local e preparação do local; 
Charles Landry 65 
Berlim: O 
desenvolvimento urbano 
sempre envolve batalhas 
para se misturar bem o 
novo com o velho. 
• Qualidade de vida e bem-estar; 
• Profissionalismo e eficácia. 
Embora os títulos dos 1 O domínios sejam au -
toexplicativos, deve-se procurar uma forte de-
monstração das seguintes qualidades: motiva-
ção, tenacidade, consciência, clareza de comu-
nicação, pensamento amplo, inspiração, aspira-
ção, adaptabilidade, dinamismo, franqueza, par-
ticipação, consciência do modelo, apreciação 
sensorial, orgulho profissional, liderança e visão. 
Uma avaliação de criatividade deverá estar vol -
tada para a educação, o sistema de treinamento, 
a indústria e o comércio, a administração públi -
ca e os órgãos públicos, a comunidade, o setor 
voluntário e o domínio da cultura, do turismo e 
do lazer. 
AS PLATAFORMAS COMPETITIVAS PARA CIDADES 
CRIATIVAS AMBICIOSAS 
As regiões urbanas com o foco estratég ico correto podem se destacar 
apesar da dinâmica global, mas uma série de fatores é importante. Na 
essência, os fatores atuam como um roteiro para a criatividade urbana. 
Liderança urbana 
O primeiro fator é a liderança. Parecem ser seis as principais qualidades da lide-
rança urbana. Há a previdência, que é a capacidade de imaginar, prever e avaliar 
como as tendências mais profundas terminarão. Existe também o foco estratégi -
co, que é a habilidade de se concentrar no "quadro geral" e nas perspectivas de 
longo prazo voltadas para o futuro e, dentro disso, a capacidade de ser estrategi-
camente íntegro e taticamente flexível. Há uma necessidade de entender o urba-
nismo, a dinâmica e o iconismo da cidade de uma maneira holística, bem como as 
qualidades e características que tornam as cidades grandes. Na construção desse 
conhecimento, uma cultura de franqueza e curiosidade é essencial, o que envolve 
adotar um espírito que valorize o debate, o pensamento crítico e o aprendizado. 
Charles Landry 67 
Para fazer as coisas acontecerem, a agilidade organizacional é importante, que é 
a capacidade de passar de uma cultura de baixo risco, controladora, centralizado-
ra, uniforme e de alta responsabilidade para uma que valorize a sensibilidade e a 
flexibilidade. Todavia, essa qualidade precisa estar aliada a um enfoque determi-
nado na produção, que é a motivação, a vontade e a capacidade de fazer a coisa 
prometida acontecer, ou seja, de pôr em prática a teoria. 
Uma perspectiva ética de desenvolvimento 
O desenvolvimento promovido por valores tornou-se muito importante. É parcial-
mente incentivado pela ética e pelo interesse próprio, unindo, assim, o egocêntri-
co ao bem público. Isso é porque há um desejo profundo, especialmente entre as 
pessoas mais educadas com menos de 40 anos, que todas as aspirantes a Cidades 
Criativas ofereçam algo à sociedade ou ao mundo. Essa mudança importante é 
descrita em meu livro The Art of City-Making (A Arte da Construção de uma Cida-
de), no qual discuto a necessidade de as cidades lutarem para serem as mais cria-
tivas "para o mundo", em vez de serem as mais criativas "do mundo" . Essa única 
mudança de palavras - de "do" para "para" - tem enormes implicações para sua 
dinâmica operacional. Ela dá à construção de uma cidade uma base ética . Ela 
ajuda o objetivo das cidades de se tornarem locais de solidariedade, em que as 
relações entre indivíduo, grupo, forasteiros e o planeta estão mais bem alinhadas. 
Isso traz à tona os problemas de justiça social e ambiental. Não há como evitar que 
as cidades desejem atrair as pessoas mais talentosas do mundo. Na verdade, as 
Charles Landry 69 
Osaka: Área de Dõtonbori. 
Isso é criativo ou é apenas 
muito gritante? 
empresas estão cada vez mais dirigindo a agenda 
de mudanças climáticas por vários motivos, espe-
cialmente para manter um fluxo de entrada das 
pessoas mais talentosas . 
... serem as mais criativas "para o mundo", em 
vez de serem as mais criativas "do mundo''. 
A mesma lógica se aplica a cidades-regiões que 
querem ser líderes e modelos, assumindo respon -
sabilidades globais especialmente com relação 
às questões de sustentabilidade . Veja como Cin-
gapura, Londres e logo Nova York instituíram o 
imposto sobre congestionamento ou como Esto-
colmo e Copenhague assumiram a liderança em 
relação ao ambiente. Até a China está seguindo o 
caminho ecológico. 
Uma consequência disso é que as cidades estão 
tentando cada vez mais dobrar o mercado, repen-
sando seu regime regulador e de incentivos para 
resolver os desequilíbrios. Problemas de justiça 
social, como habitação acessível, tornam-se mais 
significativos à medida que uma Cidade Criativa precisa também ser habitável por 
todos os grupos sociais. Muitas cidades, por exemplo Londres, exigem um com-
ponente de habitação social para os principais trabalhadores, como enfermeiras e 
policiais, em todos os seus grandes projetos. Isso reduz o tempo gasto entre casa 
e trabalho e ajuda muito a eficiência da cidade. 
Pensamento, planejamento e ato integrados 
A complexidade das cidades não pode ser resolvida por meio de "um pensamen-
to encapsulado" ou de uma departamentalização. A especialidade ainda impor-
ta, mas ela precisa ser estruturada dentro de uma mentalidade que reconheça 
como as coisas estão inextricavelmente entrelaçadas. É difícil ver o todo partindo 
das partes. Todavia, é mais fácil entender o detalhe tendo em vista as interliga-
ções e as interdependências. 
No nível mais alto é preciso haver uma mudança conceituai; e, desse modo, o 
paradigma abrangente do desenvolvimento urbano muda de uma abordagem 
de engenharia urbana ou de uma abordagem guiada pela infraestrutura 
para a formação de uma Cidade Criativa . Essa é a arte de fazer lugares para 
pessoas, inclusive as ligações entre pessoas e locais, movimento e forma 
urbana, natureza e estrutura construída e os processos de construção de 
assentamentos bem-sucedidos. Isso envolve a capacidade de combinar 
iniciativas de hardware e software. O modo como a cidade física está colocada 
Charles Landry 71 
no contexto de formação da Cidade Criativa precisa agora servir as relações 
sociais e a dinâmica da integração. As cidades agora devem entender seu 
valor, enfatizando problemas, como atmosferas, habitabilidade, bem-estar e 
os valores do patrimônio público . 
... o paradigma abrangente muda de uma abordagem de engenharia 
urbana ou de uma abordagem guiada pela infraestrutura para a formação 
de uma Cidade Criativa. 
Em um nível mais do dia a dia da Cidade Criativa, muitas coisas são redefinidas, 
reconcebidas e operadas. Mesmo a simples mudança de nome pode ter efeitos 
consideráveis em um prazo mais longo, uma vez que o modo como escolhemos 
chamar as coisas determina o que pensamos sobre elas e as prioridades que esta-
belecemos. O departamento de transportes, por exemplo, pode mudar de nome 
e ser subordinado a uma divisão de mobilidade e acessibilidade, que se preocupa 
tanto com os pedestres como com os carros ou sistemas de metrô. Ou os proble-
mas de lixo e esgoto podem se tornar parte de um sistema de gestão de recursos, 
à medida que um novo pensamento ecológico transforma lixo em bem. 
Conceitos fortes podem mudar as perspectivas, especialmente quando eles nos 
forçam a pensar de forma horizontal e vertical ao mesmo tempo. Uma "conec-
tividade ininterrupta", por exemplo, procura assegurar que todas as transações 
ocorram sem atrito ou dificuldade. Isso não tem apenas uma dimensão física, 
como melhorar a mobilidade para que se possa caminhar de A para B, ou se os 
12 Origens e futuros da Cidade Criativa 
bairros se interligam facilmente e o congestionamento e os engarrafamentos no 
trânsito são reduzidos . Possui também dimensões econômicas e sociais. Aqui 
perguntamos: Quão fácil é fazer negócios e fazer as coisas andarem? As burocra-
cias são responsivas, eficazes e flexíveis? Os procedimentos

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