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Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Organização Marilene de Sá Cadei Livro do Professor 2ª edição GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Governador Sérgio Cabral Vice-governador Luiz Fernando de Souza Pezão Secretária de Estado do Ambiente Marilene Ramos Subsecretária de Política e Planejamento Ambiental Elizabeth Cristina da Rocha Lima Superintendente de Educação Ambiental Lara Moutinho da Costa Coordenação de Educação Ambiental no Ensino Formal Andréa Bello Secretária de Estado da Educação Tereza Porto Subsecretária de Gestão da Rede e de Ensino Teresa Cozetti Pontual Superintendente de Educação Básica Maria Lúcia Castello Branco Diretora Geral de Programas e Projetos Magda Elaine Sayão Capute Coordenadora Estadual de Educação Ambiental Deise Keller Cavalcante Secretário de Ciência e Tecnologia Alexandre Aguiar Cardoso Subsecretários Luiz Edmundo Horta Barbosa Costa Leite Julio Oscar Lagum Filho Presidente da Faetec Celso Pansera Vice-presidente Educacional Maria Cristina Lacerda Silva Vice-presidente Administrativo Elder Lugon Diretora de Desenvolvimento Educacional Leila Gelelete Bandeira Antunes Coordenador do Programa Márcia Cristina Pinheiro Farenazo Supervisão Maria Inês Pinto de Souza UERJ – Reitor Ricardo Vieiralves de Castro Sub-reitoria de Graduação Lená Medeiros de Menezes Sub-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa Monica da Costa Pereira Lavalle Heibron Sub-reitoria de Extensão e Cultura Regina Lúcia Monteiro Henriques MATERIAL DIDÁTICO Presidente Masako Oya Masuda Vice-presidente de Educação Superior a Distância Mirian Araujo Carlos Crapez Vice-presidente de Divulgação Científi ca Mônica Dahmouche Coordenação de Desenvolvimento Instrucional Cristiane Brasileiro Desenvolvimento Instrucional Aline Ferrari Gustavo Tarcsay Romulo Siqueira-Batista Revisão Anna Maria Osborne Paulo Cesar Alves Coordenação de Produção Tereza Queiroz Supervisão de Produção Jorge Moura Copidesque Tereza Queiroz / Patrícia Paula Revisão Tipográfi ca Patrícia Paula / Elaine Bayma Projeto Gráfi co e Capa Katy Araujo Diagramação Katy Araujo / Patricia Seabra Ilustração André Dahmer FINANCIAMENTO Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (FECAM) E24e Educação ambiental e Agenda 21 escolar: formando elos de cidadania: livro do professor. / Marilene de Sá Cadei (Org.). – 2.ed. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. 311p.; 19 x 26,5 cm. ISBN: 978-85-7648-666-4 1. Meio ambiente. 2. Agenda 21. 3. Educação ambiental. 4. Ecossistemas. I. I. Cadei, Marilene de Sá. II. Título. CDD: 333.7 Sumário Aula 1 – Que curso é esse? .................................................................................................................................9 Marilene de Sá Cadei Aula 2 – Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? .............................................21 Ana Maria de Almeida Santiago / Gilcélia Cristina de Magalhães Bastos Aula 3 – Com a mão na massa: construindo agendas 21 escolares .........................................39 Ana Maria de Almeida Santiago / Gilcélia Cristina de Magalhães Bastos Aula 4 – Educomunicação Socioambiental. O que é isso? ............................................................59 Márcia Rolemberg / Néri Olabarriaga Aula 5 – Educomunicação Socioambiental na Agenda 21 Escolar. Vamos praticar!...................................................................................................................................73 Márcia Rolemberg / Néri Olabarriaga Aula 6 – Bacia hidrográfi ca como unidade espacial de análise ..................................................87 Ronaldo Pimenta de Carvalho Junior Aula 7 – Ecossistemas naturais e Unidades de Conservação do Rio de Janeiro .............105 Carla Conde / Leonor Ribas Aula 8 – Mata Atlântica .................................................................................................................................123 Leonor Ribas / Carla Conde Aula 9 – Ambiente urbano ............................................................................................................................139 Marcelo Neto Galvão Aula 10 – Sociedade atual – desafi os socioambientais globais e locais ...............................151 Lincoln Tavares Silva / Andrea da Paixão Fernandes Aula 11 – Cultura, concepções de meio ambiente e Educação Ambiental: origens e desdobramentos ........................................................................................................169 Lincoln Tavares Silva / Andrea da Paixão Fernandes Aula 12 – Educação Ambiental no ensino formal: construção de caminhos metodológicos ...........................................................................185 Elza Neffa Aula 13 – A Educação Ambiental como prática integrada no ensino não-formal ..................................................................................................................207 Elza Neffa Aula 14 – Redes: entre nessa! ........................................................................................................................233 Néri Olabarriaga Aula 15 – As grandes convenções sobre o meio ambiente e os acordos internacionais para a sustentabilidade – I .........................................................................................................251 Carlos Eduardo Leal Aula 16 – As grandes convenções sobre o meio ambiente e os acordos internacionais para a sustentabilidade – II ...........................................265 Carlos Eduardo Leal Aula 17 – A institucionalização da Educação Ambiental no Brasil .........................................279 Cibele Schwanke Aula 18 – A Educação Ambiental no Estado do Rio de Janeiro ...............................................293 Cibele Schwanke Aula 19 – Ainda com a mão na massa: construindo projetos de intervenção...................305 Ana Maria de Almeida Santiago / Gilcélia Cristina de Magalhães Bastos Caros educadores e educandos, Bem-vindos ao Curso de Form-Ação em Educação Ambiental e Agenda 21 na Escola: Formando elos de cidadania, a distância, fi nanciado com recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental – Fecam. Este curso chega para vocês, professores, alunos, diretores, coordenadores acadêmicos, animadores culturais, entre outros agentes educadores públicos, dentro de um contexto de descentralização da gestão ambiental do Estado do Rio de Janeiro e visa atender a duas demandas importantes: 1) desenvolvimento de uma política de formação continuada do professor, que é a segunda demanda nacional da categoria. 2) qualifi cação das comunidades locais para a participação na gestão ambiental e para o exercício do controle social, de modo a atender o disposto no Art 225 da Constituição Federal, nas Leis Federal nº 9.795/99 e Estadual nº 3.225/99, que estabelecem respectivamente as Políticas federal e estadual de educação ambiental. Tais demandas se materializaram no Programa Agenda 21 na Escola: Formando Elos de Cidadania, lançado em abril de 2007, e desenvolvido em parceria entre as Secretarias de Estado do Ambiente, Educação e de Ciência e Tecnologia, sendo na Fase I executado pela UERJ e o Coletivo Jovem do Rio de Janeiro, e agora na Fase II pela UERJ e pelo CEDERJ. O Programa Formando Elos de Cidadania tem como objetivo: 1. levar a temática ambiental e de desenvolvimento para dentro da escola, em sua relação com a comunidade, contextualizando histórica e localmente os temas abordados; 2. qualifi car professores e alunos (com refl exo na comunidade escolar) para a participação na vida pública e para o exercício do controle social; 3. mobilizar a comunidade escolar para a formação de parcerias com a comunidade do entorno da escola, a vizinhança, para a construção coletiva de projetos e açõesde intervenção local, de modo a apoiar a gestão ambiental, o desenvolvimento local, a conservação do ambiente e a promoção de sociedades participativas, justas e sustentáveis; 4. formar os Elos 21 nas escolas: Espaços Livres de Organização de Ações Socioambi- entais, espécie de centros/núcleos/locais de aglutinação e irradiação de iniciativas, projetos e pessoas. O programa segue a linha metodológica “Educação no Processo de Gestão Ambiental”1 e utiliza o espaço da gestão ambiental como espaço pedagógico de aprendizagem e a Agenda 21 na escola como instrumento de educação ambiental e prática de cidadania, promovendo, no processo, a análise crítica (historicizada e politizada) da realidade. Tem como premissas básicas que: • o acesso e uso dos recursos ambientais na sociedade é confl ituoso (cheio de disputas, tensões e problemas); • a Gestão Ambiental é um processo de mediação de interesses e confl itos, uma vez que a distribuição dos custos e benefícios dos usos dos recursos naturais na sociedade é feita de maneira desigual, assimétrica, não sendo isso evidente; • a noção de sustentabilidade está na base da gestão ambiental, porém o que é sustentável para um grupo social pode não ser para outro; • as soluções para os problemas/tensões e confl itos encontrados muitas vezes não são técnicas e individuais, mas políticas e coletivas; • a participação e o controle social na gestão ambiental dependem da superação de assimetrias. Assim, o programa visa criar as condições para a participação social de forma permanente, responsável e politizada nos processos decisórios, sobre o acesso e uso dos recursos ambientais, realizando processos educativos com grupos sociais diretamente afetados pelas atividades de gestão ambiental – no caso a comunidade escolar em associação com sua vizinhança – para que possam desenvolver os talentos e as habilidades necessárias para o exercício do controle social, expressos através do monitoramento da qualidade do ambiente no qual estão inseridos, acompanhamento e controle dos recursos públicos e investimentos feitos, geração e execução de políticas públicas, entre outros. Buscamos com isso desenvolver um ambiente de exercício da criatividade voltada para a conservação do ambiente, desenvolvimento social, prática cidadã, justiça social e participação jovem. 1 Desenvolvida pela CGEAM/IBAMA. O que se produz é uma Agenda de compromissos e prioridades, transformadas em ações e projetos com objetivos, metas e resultados alcançáveis a curto, médio e longo prazos. Estamos felizes que vocês tenham aceitado este convite! Sabemos que se trata de um desafi o para a escola como instituição, mas principalmente para cada ator envolvido no processo de ensino-aprendizagem, pois o curso o tempo todo fará com que repensemos nossas práticas pedagógicas cotidianas, as relações e os espaços existentes ou não dentro da escola. E mais, nos impulsionará para a ação aprofundando em cada um o desejo de participar da construção do hoje e do amanhã da história da nossa comunidade, da nossa cidade, do nosso estado e do nosso país. E mãos à obra! Lara Moutinho da Costa Superintendente de Educação Ambiental Secretaria de Estado do Ambiente Marilene de Sá Cadei Que curso é esse? Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 1 Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 10 META DA AULA Apresentar aos cursistas o Curso de Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar: Formando elos de cidadania – a distância: as metas e os objetivos gerais do curso, a metodologia adotada, a equipe pedagógica-administrativa e as ações e os compromissos a serem assumidos pelos participantes. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de 1. identifi car as metas e os objetivos gerais do curso; 2. explicar a metodologia adotada; 3. identifi car os diferentes componentes da equipe pedagógica- administrativa, assim como as suas funções; 4. relatar as principais ações e compromissos a serem assumidos pelas unidades escolares participantes e pelos cursistas. PRÉ-REQUISITOS Muita vontade de estudar e de desenvolver, de forma coletiva, ações socioambientais locais. Aula 1 Que curso é esse? 11 Introdução Esta é a primeira aula de uma série de dezenove aulas que compõem o Curso de Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar: Formando Elos de Cidadania – a Distância. O curso que você está iniciando tem como metas: • qualifi car mil professores e profi ssionais da Educação Básica e mil estudantes da rede pública para o planejamento e o desenvolvimento da Agenda 21 Escolar e de projetos de intervenção em Educação Ambiental; Você imagina por que decidimos organizar um curso, envolvendo professores, profi ssionais da educação e estudantes? A resposta é simples: o desenvolvimento de uma Agenda 21 Escolar e de projetos de intervenção exige que todos os envolvidos tenham uma formação capaz de possibilitar o desenvolvimento dessas atividades de forma coletiva, crítica e participativa. • incentivar a formação, em cada uma das escolas participantes do curso, de um grupo de professores, profi ssionais da educação e estudantes comprometidos em iniciar um movimento coletivo e participativo de concepção e de desenvolvimento de uma Agenda 21 Escolar contextualizada histórica, política, social, ambiental e espacialmente; De acordo com a Secretaria de Estado do Ambiente, a Agenda 21 Escolar pressupõe a inclusão da temática ambiental na escola em sua relação com a comunidade e a inserção da educação ambiental nos projetos político- pedagógicos escolares de forma transversal. • criar um Espaço Livre de Organização de Ações Socioam- bientais Locais (ELO-21) em cada uma das unidades escolares participantes do curso, visando garantir ao grupo responsável pela Agenda 21 Escolar um espaço físico ou “virtual” que facilite a elaboração e a implementação das suas propostas. O ELO-21 não necessita de um espaço físico ELO-21 A sigla ELO-21 signifi ca Espaço Livre de Organização de Ações Sócio-Ambientais Locais. Cu ri os id ad e Ex pl ic at iv o Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 12 fi xo para funcionar. Ele é muito mais o grupo que o compõe do que o local em que o grupo se reúne, por isso ele sempre estará onde o grupo estiver reunido trabalhando: na sala de professores, no refeitório, na sombra da árvore do pátio da escola, no salão da igreja, na varanda da casa de um funcionário ou de um aluno etc. • fomentar a elaboração e o desenvolvimento de Agendas 21 Escolares e de projetos de intervenção (planos de ação) que considerem as características e as necessidades do entorno da unidade escolar e da bacia hidrográfi ca em que estão inseridas. Veja as grandes bacias hidrográfi cas do Estado do Rio de Janeiro consultando a página da Rede LabGeo.RJ: <http://200.156.34.70/website/ mapas/estadual/viewer.htm> Para que isso ocorra, iremos, ao longo das diferentes aulas: • apresentar e discutir diferentes legislações e temas (conteúdos); • debater e vivenciar diferentes técnicas e metodologias; • observar, descrever e analisar situações reais do cotidiano e os ambientes em que se localizam; • propor ações coletivas de intervenção local. Como você já deve estar percebendo, este curso exigirá muita leitura e atenção, mas, principalmente ação. Por isso, a partir de agora, está decretado que a vontade de estudar, pesquisar, observar, ver, olhar, sentir, escutar, emocionar-se, questionar, querer, sonhar, mudar e viver se instalará em cada um de nós e irá contagiar a todos e todas que de nós se aproximem. Vamos à Aula 1? M ul ti m íd ia Aula 1 Que curso é esse? 13 Como tudo começou? Era uma vez... Era uma vez um grupo de profi ssionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que, convidados pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), se reuniu parapensar uma forma de organizar um curso de formação em Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar para professores, profi ssionais da educação e estudantes da rede pública estadual de ensino. O grupo, juntamente com a SEA, escolheu as unidades de Ensino Médio para desenvolver o curso, por considerar que a faixa etária em que se encontram estes estudantes seria a mais adequada para o incentivo ao protagonismo juvenil e para o desenvolvimento de um curso nos moldes propostos. Protagonismo juvenil De acordo com a Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Tocantins, a expressão protagonismo juvenil “signifi ca, tecnicamente, o jovem participar como ator principal em ações que não dizem respeito apenas à sua vida privada, familiar e afetiva, mas a problemas relativos ao bem- comum na escola, na comunidade ou na sociedade”. <http://www.seduc. to.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=714> Outro motivo foi a constatação de que vários cursos e programas estaduais e federais têm sido direcionados mais especifi camente aos estudantes do Ensino Fundamental, deixando uma lacuna a ser preenchida em relação aos professores, profi ssionais da educação e estudantes do Ensino Médio. A proposta do primeiro curso foi apresentada ao Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam), pela Secretaria de Estado do Ambiente, no primeiro semestre de 2007. Saiba mais sobre o Fecam pesquisando no endereço <http://www.semadur. rj.gov.br/pages/fecam/fecam_2.html> Ex pl ic at iv o M ul ti m íd ia Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 14 Após avaliar e aprovar o Curso de Formação em Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar: Elos de cidadania, o Fecam liberou recursos para o seu desenvolvimento, o que ocorreu de outubro de 2007 a outubro de 2008. O primeiro curso envolveu cerca de 150 unidades escolares das coordenadorias regionais metropolitanas da Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) e da Fundação de Apoio à Escola Técnica. O segundo curso foi desenvolvido de abril a dezembro de 2009 e envolveu cerca de 400 unidades estaduais e municipais, localizadas em mais de setenta municípios do Estado do Rio de Janeiro. Os resultados obtidos incentivaram o grupo a formatar outros cursos também fi nanciados pelo Fecam. Esse novo curso é muito semelhante aos anteriores, apresentando aulas presenciais e a distância, e está sendo oferecido às unidades escolares estaduais e municipais. A adoção da Educação a Distância – EAD – apresenta-se como uma alter- nativa capaz de possibilitar aos professores e profi ssionais da educação a participação em cursos de formação inicial e continuada sem terem de se deslocar de suas localidades. Denominamos educação a distância o processo de ensino-aprendizagem em que, devido à separação espacial e temporal existentes entre os docentes e discentes, existe a necessidade da mediação de novas tecnologias, como a Internet, ou de materiais mais tradicionais, como livros, roteiros, programas de rádio etc. Embora a coordenação pedagógica do curso tenha fi cado sob a responsabilidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o fato de o curso envolver diferentes secretarias faz com que a equipe pedagógica e administrativa seja composta pelas seguintes instituições/órgãos e profi ssionais: Ex pl ic at iv o Aula 1 Que curso é esse? 15 Secretaria de Estado do Ambiente Superintendência de Educação Ambiental Coordenadoria de Educação/Eixo de Educação Ambiental Formal Lara Moutinho da Costa Andrea Rosa Bello Ana Maria Santiago Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) • Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (IBRAG)- Departamento de Ensino de Ciências e Biologia /Núcleo de Ensino e Pesquisa em Ciências, Biologia e Ambiente a Distância • Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável - Ceads) • Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CEPUERJ) Marilene de Sá Cadei Cibele Schwanke Maria das Graças Freire Silva Rosane Vidal Vargas Leal Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC) Márcia Cristina Pinheiro Farenazo Fundação Centro de Ciências em Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CECIERJ / Consórcio CEDERJ) Masako Masuda Flávio de Brito Pinheiro Renato Anatholio dos Santos de Castro Secretaria de Estado de Educação Coordenação Estadual de Educação Ambiental Deise Keller Cavalcante Para escrever as aulas do curso dos professores e profi ssionais da educação e coordenar as atividades daí resultantes foram convidados especialistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e de outras universidades, instituições e órgãos parceiros. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 16 Instituição/órgão Profi ssional Aula(s) Universidade do Estado do Rio de Janeiro Profª Drª Marilene de Sá Cadei Coordenação 1 Profª MSc. Ana Maria de Almeida Santiago 2, 3 e 19 Prof. Dr. Ronaldo Pimenta de Carvalho Junior 6 Prof. MSc. Lincoln Tavares Silva 10 e 11 Profª. MSc. Andrea da Paixão Fernandes Profª Drª Elza Maria Neffa Vieira de Castro 12 e 13 Prof. Dr. Carlos Eduardo dos Santos Leal 15 e 16 Profª Drª Cibele Schwanke 17 e 18 Secretaria de Estado do Ambiente Márcia Rolemberg 4, 5 e 14 Secretaria de Estado de Educação Prof. MSc. Marcelo Neto Galvão 9 Profª MSc. Carla Conde 7 e 8 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Profª MSc. Gilcélia de Magalhães Bastos 2, 3 e 19 Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro Profª MSc. Néri Andreia Olabarriaga 4, 5 e 14 As aulas do curso, destinado aos estudantes, foram escritas por alguns dos especialistas mencionados anteriormente e por membros do Coletivo Jovem de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Além dos profi ssionais citados anteriormente, muitos outros trabalharam e ainda vão continuar trabalhando para que você possa realizar o curso: técnicos de informática, designers gráfi cos, revisores e avaliadores de textos, ilustradores, tutores, contadores, auxiliares administrativos etc. Recursos fi nanceiros e muitos equipamentos também estão sendo utilizados para dar a você e aos outros cursistas as melhores condições possíveis de estudo; portanto, aproveite a opor- tunidade e estude muito. Estude pra valer!!! Aula 1 Que curso é esse? 17 Quem faz o curso comigo? O curso está atendendo a mil (1.000) profi ssionais da educação e professores de diferentes áreas de ensino e a mil (1.000) estudantes de unidades escolares do Ensino Médio e Fundamental da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC), da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (FAETEC) e de diferentes secretarias municipais de educação. São unidades escolares de todas as regiões do Estado do Rio de Janeiro reunidas em polos distribuídos pelas diferentes regiões. De cada unidade escolar inscrita no curso participam dois estudantes e dois professores e/ou profi ssionais da educação. Você poderá ver os nomes das unidades escolares e dos cursistas no site da Secretaria de Estado do Ambiente (http://www.semadur.rj.gov.br) e no site do Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (http://www.cepuerj.uerj.br/). Como será o curso? O curso é de aperfeiçoamento e, devido às características da temática adotada (Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar), utilizará um modelo semi-presencial (encontros presenciais e aulas e atividades a distância). Você poderá ver os polos do curso e os municípios que integram cada polo no site da Secretaria de Estado do Ambiente (http://www.semadur. rj.gov.br), no site do Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (http://www.cepuerj.uerj.br/) e na página do curso (http:// plat-srv6.cederj.edu.br/sisinsc). Os conteúdos a serem trabalhados no curso visam ao aprofundamento teórico-conceitual sobre Educação Ambientale Agenda 21 Escolar e serão desenvolvidos a distância e por meio de atividades e ofi cinas presenciais. M ul ti m íd ia M ul ti m íd ia Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 18 Etapa Descrição Carga horária A distância Aulas na plataforma/ atividades 90 h/a Presencial Ofi cinas / atividades 30 h/a Total 120 h/a Os conteúdos desenvolvidos a distância estarão disponíveis sob a forma de aulas na Plataforma do CEDERJ e em materiais instrucionais impressos. Três ofi cinas presenciais e diferentes atividades práticas compõem a parte presencial do curso. Destinam-se a propiciar aos cursistas subsídios teóricos e práticos voltados para: • o uso da plataforma do CEDERJ e de equipamentos de informática; • o diagnóstico da realidade local; • a elaboração da Agenda 21 Escolar; • a criação de um Espaço Livre de Organização de Ações Socioambientais Locais (ELO-21); • o desenvolvimento coletivo de um projeto de intervenção. Os cursistas serão acompanhados a distância pelos coordenadores do curso, pelos professores (conteudistas) responsáveis pela produção das aulas e por uma equipe de tutoria. As aulas presenciais serão marcadas pela coordenação do curso e realizadas no pólo do curso a que a sua unidade escolar estiver ligada. Cada pólo fi cará sob a responsabilidade de um tutor. Este profi ssional, além de orientar e tirar dúvidas sobre os conteúdos e as atividades desenvolvidas, funcionará como um elo entre os cursistas e a equipe de coordenação do curso. Para não se perder no meio de tantas informações, você deverá seguir o guia de estudos do curso. Seguindo-o, você organizará o seu tempo para estudar as aulas e desenvolver as atividades propostas dentro dos prazos estipulados. No guia de estudos, você também encontrará as orientações sobre como desenvolver as ativ- Ações. Não sabe o que é isso? Achou que a palavra foi digitada de forma errada? Calma, já iremos explicar! O nome ativ-Ação signifi ca atividade de observ-Ação e particip-Ação local. A palavra “Ação” aparece em destaque para ressaltar que neste tipo de atividade você deverá colocar em prática (em ação) os conteúdos apresentados nas aulas. Aula 1 Que curso é esse? 19 E a avaliação? Bem, todos os cursistas serão avaliados por meio de atividades a distância e atividades presenciais. a. Atividades de avaliação a distância → relatórios das ativ-Ações. Em períodos pré-determinados, uma atividade prático-teórica denominada ativ- Ação deverá ser realizada coletivamente (professores, profi ssionais da educação e estudantes). A ativ-Ação deverá ser postada ou enviada pela plataforma ou por e-mail, dentro do prazo previsto para o endereço determinado pela coordenação do curso. As ativ-Ações serão avaliadas pelos docentes responsáveis pelas aulas, tutores e/ou coordenação. b. Atividades de avaliação presencial • participação nas atividades propostas nos encontros (ofi cinas) presenciais; • relatório das atividades. c. Projeto de Intervenção em Educação Ambiental que contemple uma das questões destacadas na Agenda 21 Escolar. Os cursistas não serão os únicos avaliados. A avaliação abrangerá os materiais didá- ticos, a plataforma, a metodologia utilizada, as atividades propostas, os tutores, os conteudistas, os coordenadores etc. Todos serão avaliados, mas também terão a oportunidade de avaliar. Mas o que embasa toda essa proposta? Você já deve ter percebido que a proposta de curso que estamos apresentando se diferencia da grande maioria dos cursos que existem. Nós estamos investindo num curso que adota pressupostos teóricos e uma prática voltados para o empoderamento da comunidade escolar, no sentido de transformar a escola num espaço politizado (nunca neutro, pois essa dita neutralidade não existe), num espaço de pertencimento e identidade própria e que seja capaz de funcionar como um polo produtor e irradiador de informações e ações voltadas para a busca por soluções coletivas para os problemas socioambientais existentes. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 20 Para que isso possa se transformar em realidade, estamos defendendo a necessidade da construção coletiva de uma Agenda 21 Escolar e do desenvolvimento de projetos de intervenção em Educação Ambiental que contemplem as questões mais relevantes da Agenda. Vale ressaltar, contudo, que não estamos falando de qualquer tipo ou categoria de Educação Ambiental, mas de uma Educação Ambiental que é comprometida com a transformação da “realidade rumo à sustentabilidade socioambiental e percebe o ambiente educativo como movimento, mas um movimento aderido ao da realidade socioambiental, onde se contextualiza” (GUIMARÃES, 2005, p. 194). Adotamos uma Educação Ambiental que, apoiada numa vertente crítica, busca a transfor- mação da realidade socioambiental por intermédio da observação, do questionamento, da análise e da avaliação da realidade, da participação crítica e ativa na busca por soluções socialmente justas e ambientalmente sustentáveis, de ações coletivas que abarquem todos os indivíduos e grupos envolvidos (professores, estudantes, diretores, familiares, moradores etc.) e a construção de novos modos de ser, de ter, de utilizar e de se relacionar consigo, com o outro e com o ambiente. Depois disso, será que ainda falta explicar alguma coisa? Com certeza, ainda há muito a ser dito; no entanto, que tal terminarmos o papo e come- çarmos logo o curso? Durante as aulas, você terá muitas formas de tirar as dúvidas, e não faltarão pessoas para ajudá-lo(a), pois o que mais desejamos é vê-lo(a) estudando tranquilamente e realizando todas as atividades propostas. Bom curso! Ana Maria de Almeida Santiago Gilcélia Cristina de Magalhães Bastos Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 2 Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 22 META DA AULA Desenvolver os conceitos de Agenda 21 e de Agendas Ambientais. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de 1. analisar o conceito de agenda; 2. conceituar Agenda 21 e Agendas Ambientais; 3. contextualizar historicamente a produção dessas Agendas; 4. defi nir o papel da Agenda 21 e das Agendas Ambientais; 5. avaliar a importância do Planejamento Participativo na implementação das Agendas; 6. relacionar Projeto político-pedagógico e Agenda 21 Escolar. Navegar é preciso./ Viver não é preciso – Fernando Pessoa Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 23 Introdução Você deve ser a mudança que quer ver no mundo – Gandhi Como informa o próprio título, a Aula 2 pretende abordar questões de base teórico-metodológicas referentes à educação ambiental e à Agenda 21. Para sermos coerentes com a nossa proposta, procuraremos, sempre que possível, construir a base teórica a partir de refl exões baseadas em exemplos concretos. O tópico inicial – “Agenda 21 e Agendas Ambientais” – abordará o signifi cado da Agenda 21 e o seu desdobramento em agendas específi cas para que, posteriormente, possamos tratar da Agenda 21 Escolar propriamente dita. O segundo tema a ser abordado – “Projeto político-pedagógico e questões socioambientais” – discutirá as principais tendências pedagógicas que vigoraram no Brasil desde o século XIX. Agendas 21 e agendas ambientais O que é a Agenda 21? Vamos começar com uma atividade de motivação e refl exão, utilizando a técnica conhecida como TEMPESTADE DE IDEIAS. TEMPESTADE DE IDEIAS (BRAINSTORMING) Castro, Lima e Borges-Andrade (2005) defi nem o Brainstorming como uma “técnica para geração de idéias”, cujo objetivo é a “solução de problemas ou tarefas geralmente a cargo de um grupo”. Prevê, em um primeiro momento, a “formulação de idéias de maneira livre”; posteriormente, “as idéias podem ser criticadas pelos outros membros dogrupo”. Trabalha-se, por conseguinte, com campos semânticos, isto é, palavras que se aproximam por signifi cação. Escola, por exemplo, teria como palavras correlatas, do mesmo campo semântico, professor, aluno, saber, aprendizado, conhecimento, livro, biblioteca etc. Em Cordiolli (2005), texto disponível na internet, você pode encontrar uma descrição detalhada dessa técnica. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 24 Assim, mesmo as pessoas que nunca ouviram falar em Agenda 21 podem intuir que se trata de algum compromisso fi rmado, com vistas a ser cumprido. Para não ser esquecido, fi cou agendado. Resumindo, a Agenda 21 “não se trata de uma determinação, imposição ou regra legal, mas de uma carta de princípios e compromissos – uma agenda de intenções – que toda a sociedade assume” (CADEI e SANTIAGO, 2007). Mas como se chegou à elaboração desse documento? Em 1992, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nesse encontro, reuniram-se mais de 170 países, aqui no Rio de Janeiro, para juntos estabelecerem metas, visando ao desenvolvimento sustentável do Planeta. Dessa reunião, a chamada Rio-92, originou-se o documento intitulado “Agenda 21”, que propõe um plano de ações necessárias para o século XXI. Qual a preocupação principal desse documento? Essa é sua próxima tarefa a superar! Atende ao Objetivo 1 A palavra agenda remete você a que outras palavras de mesmo campo semântico? Registre essas palavras-chave na agenda a seguir. 1 A ti vi da de RESPOSTA COMENTADA No dicionário Aurélio, temos o seguinte signifi cado para “agenda”: caderneta ou registro de compromissos, encontros etc. Trata-se, portanto, de um planejamento de tarefas/ações futuras. Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 25 Cu ri os id ad e A denominação ofi cial da chamada Rio-92 é Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Deve-se evitar o uso da expressão Eco-92, pois, tradicionalmente, as conferências da ONU utilizam o nome da cidade-sede e o ano de realização do encontro como um codinome. Atende aos Objetivos 2 e 4 Leia o trecho inicial do Capítulo I da Agenda 21 Global. A humanidade se encontra em um momento de defi nição histórica. Defrontamo- nos com a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossistemas de que depende nosso bem-estar. Não obstante, caso se integrem as preocupações relativas a meio ambiente e desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será possível satisfazer às necessidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e construir um futuro mais próspero e seguro. São metas que nação alguma pode atingir sozinha; juntos, porém, podemos – em uma associação mundial em prol do desenvolvimento sustentável (ONU, 1992). Qual é, então, a preocupação principal da Agenda 21 Global? Esse documento se limita às questões puramente relacionadas aos danos à Natureza? 2 A ti vi da de RESPOSTA COMENTADA Como você pôde perceber pelo texto lido, essas ações não focam apenas, portanto, questões puramente relacionadas aos danos à Natureza, mas tudo o que diz respeito ao contexto que envolve a relação do homem com a Natureza. Logo, o problema ambiental compreende a questão da miséria, do desemprego, do desenvolvimento sustentável etc. Solucionar, desta forma, a questão ambiental signifi ca melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, mediante o respeito ao ambiente. O documento, no entanto, não se destina apenas ao cumprimento de ações globais. Constituído por 40 capítulos, estabelece também metas de alcance nacional e local. Seu slogan, inclusive, é o seguinte: pense globalmente, aja localmente. C Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 26 A essa altura, você pode se perguntar: como construir e implementar essa Agenda 21? A resposta está no próprio documento, que indica como forma de ação o PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO. Este é o princípio básico que norteia, teórico-metodologicamente, todas as etapas de construção de uma Agenda 21. Logo, as “metas, recursos e responsabilidades para orientar o caminho em direção à susten- tabilidade” devem ser elaboradas e implementadas “por meio do planejamento participativo” (CADEI e SANTIAGO, 2007). PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Podemos dizer que é o processo de organização coletiva do trabalho de planejar, acompanhar, avaliar e, se for necessário, planejar novas ações com objetivos defi nidos. Nesse sentido, “é a busca de uma visão múltipla, integrada e sustentável de desenvolvimento” (http:// www.quixada.ce.gov.br/noticias/ noticia.asp?ID=764), pois permite a uma coletividade traçar objetivos para o seu futuro, propor estratégias de ação para alcançá-los, identifi car formas de avaliação dos resultados e redefi nir caminhos ao longo do processo. Para mais informações sobre planejamento participativo, consulte o artigo de Pedro Ganzeli, O processo de planejamento participativo da unidade escolar, disponível em http://www.fclar.unesp.br/publicacoes/revista/gestao.html e o artigo de Hilda Fadiga de Andrade, Planejamento Participativo: Por quê e Para quê, disponível em http://www.novasociedade.com.br/conjuntura/ artigos/hilda1.htm. M ul ti m íd ia Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 27 A Agenda 21 Brasileira O Brasil foi um dentre os demais países que assinaram os acordos fi rmados na Rio-92. Apesar disso, avançou muito pouco. Cinco anos depois, em 1997, ainda não havia colocado em prática os acordos. Tanto assim que, naquele ano, quando houve a primeira reunião de avaliação da Rio-92, praticamente nada tinha a dizer. Somente em 2002, após um longo processo de construção, “sob a coordenação da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS) e a participação de dife- rentes atores sociais, foi elaborada a Agenda 21 Brasileira” (CADEI e SANTIAGO, 2007). Poucas semanas depois, realizou-se, em Johannesburgo, na África do Sul, a Conferência Rio+10. O conhecimento desse histórico de construção pode ser aprofundado na página do Ministério do Meio Ambiente (http://www.mma.gov.br). Clique no link Agenda 21 que você terá acesso a diversas informações, como, por exemplo, a Agenda 21 Brasileira. Nessa mesma página, no link Baixar Arquivos, vários documentos estão à sua disposição. M ul ti m íd ia Em 2003, a Agenda 21 Brasileira foi incorporada ao PPA (Programa do Plano Plurianual – 2004/2007) como programa de governo. A partir de então, ganhou status político e institucional, o que favoreceu a sua real implementação na esfera nacional. Várias ações têm sido desenvolvidas pelo governo, no sentido de ampliar o programa. Na próxima atividade, você terá a chance de conhecer um pouco do processo de implementação da Agenda 21 no Brasil. Boa leitura! Atende aos Objetivos 2, 3 e 4 Leia o texto Agenda 21 Brasileira, disponível no endereço eletrônico www. ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=/gestao/index.html&conteudo=/ gestao/agenda.html. Identifi que no texto e transcreva, de forma sintética, QUATRO ações que já foram realizadas pelo Governo Federal visando à implementação da Agenda 21 Brasileira. 3 A ti vi da de Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 28 RESPOSTA COMENTADA Dentre as diversas ações já realizadas, você poderá selecionar algumas das seguintes: ampliação da CPDS; realização do I do II Encontro Nacional das Agendas 21 Locais, respectivamente em 2003 e 2005; implementação do Programa de Formação em Agenda 21, voltado para a formação de cerca de 10.000 professores das escolas públicas do País (2003); participação na consolidação da Frente Parlamentar Mista para o DesenvolvimentoSustentável e Apoio às Agendas 21 Locais; elaboração e monitoramento, em conjunto com o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), do Edital 02/2003, voltado para Construção de Agendas 21 Locais; publicação da Série Cadernos de Debate Agenda 21 e Sustentabilidade; publicação de mil exemplares da segunda edição da “Agenda 21 Brasileira: Ações Prioritárias e Resultado da Consulta Nacional”; parcerias e convênios com diversos ministérios; além de parcerias com outras instituições, tais como: Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA)/Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura e Agronomia (CREA), Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e prefeituras brasileiras. A Agenda 21 do Estado do Rio de Janeiro A Agenda 21 do Estado do Rio do Janeiro encontra-se em elaboração. A Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro criou, em 2007, a Superintendência da Agenda 21 Estadual para tentar efetivar ações de seu programa de Agenda 21. Para tanto, fi xou 21 metas a serem desenvolvidas em seis momentos. Vale a pena conferir, para termos uma visão clara do que está sendo proposto em nosso Estado. Momentos Prazo Comunicação e mobilização abril a dezembro de 2007 Estruturação/fortalecimento de fóruns regionais e locais janeiro a julho de 2008 Realização dos diagnósticos participativos julho de 2008 a julho de 2009 Estruturação dos planos locais de desenvolvimento sustentável e dos sistemas de informações regionais e municipais nas escalas de sub-bacias julho a dezembro de 2009 Implementação de programas e projetos janeiro e julho de 2010 Ações de monitoramento e reforço julho a dezembro de 2010 Fonte: Disponível em www.semadur.rj.gov.br. Consultado em 30/6/2008. Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 29 Nos tópicos anteriores, foram apresentadas as principais ações, no âmbito nacional e estadual (RJ), respectivamente, para a implementação de suas Agendas. É importante insistir no fato de que estas se pautam nas diretrizes estabelecidas pela Agenda 21 Global, da Rio-92, assim como qualquer uma que seja construída em esferas locais, guardando-se as características próprias de cada um desses espaços. As agendas ambientais Baseadas naquelas mesmas diretrizes traçadas pela Agenda 21 Global, em todos os níveis – nacional, estadual e local – foram instituídas, também, as agendas ambientais (a agenda marrom, a agenda verde e a agenda azul), com o objetivo de focalizarem, mais de perto, aspectos socioambientais específi cos. Vamos, mais uma vez, usar seu conhecimento prévio! Atende aos Objetivos 2 e 4 As agendas ambientais de que estamos falando receberam nomes, relacionando suas temáticas com cores. Observe as ilustrações a seguir. Complete os parênteses, utilizando a legenda proposta. AM –Agenda Marrom AV – Agenda Verde AA – Agenda Azul 4 A ti vi da de Fonte: www.sxc.hu ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( )( ) Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 30 Obviamente, a implementação de cada uma dessas Agendas Ambientais, construídas também de forma participativa, atenderá às necessidades dos espaços onde serão desenvolvidas as ações, isto é, deve estar relacionada à realidade e às demandas locais. O Projeto Político-Pedagógico e as questões socioambientais O Projeto Político-Pedagógico e as tendências político- pedagógicas Você já ouviu falar em projeto político-pedagógico (PPP)? Possivelmente sim, porque toda unidade escolar deve elaborar participativamente esse documento. De qualquer forma, sempre é bom termos acesso a um conceito. Segundo Nogueira (2005), (...) o projeto político-pedagógico visa colocar em prática, coletivamente, as ações intencionais da escola. Por defi nição é • projeto, pois rompe com o presente e sonha com um futuro, diferente do mundo atual; • político, já que visa formar e dar bases para que os cidadãos possam integrar-se e interagir na sociedade; • pedagógico, no sentido de traçar planos e defi nições das ações educativas na escola. Esse tema, que será abordado nesta aula, necessita de algumas observações preliminares. A primeira delas refere-se ao fato de que, na prática pedagógica do dia-a-dia, várias tendências político-pedagógicas, muitas vezes, misturam-se. Obviamente, num dado momento histórico, houve o predomínio de alguma delas. Isso porque a educação não é uma esfera separada da sociedade, imune às questões de seu tempo. Muito pelo contrário. RESPOSTA COMENTADA Moleza, não?! A Agenda Marron está relacionada à ecologia urbana; a Verde, à preser- vação das fl orestas e a Azul, à preservação dos oceanos, mares, rios e zonas costeiras. Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 31 As tendências político-pedagógicas baseiam-se em princípios fi losófi cos gerais, de cunho político e social, além daqueles especifi camente pedagógicos. Sendo assim, a adoção de uma tendência pedagógica tem implicações de ordem política e social. Essa adoção, em uma perspectiva democrática, implicará o desenvolvimento de um projeto político–pedagógico, que deverá ser delineado pela comunidade escolar como um todo. Outra observação: ainda que a escola não tenha escolhido uma tendência norteadora para a sua prática pedagógica e, em consequência, não desenvolva explicitamente um projeto político- pedagógico, cada educador o estará fazendo mesmo sem perceber. Isso porque o sujeito/educador não é neutro. Não existe educação neutra, desprovida de valores, de orientações políticas e de perspectivas pedagógicas! É de suma importância, entretanto, que, conscientemente, a comunidade escolar faça as suas escolhas. Dessa forma, apesar das diferenças individuais, na escola, uma trajetória político- pedagógica deve ser perseguida por todos, de modo a favorecer o alcance de metas mais concretas e defi nidas. Nenhum projeto pedagógico será bem-sucedido se não for estabelecida uma relação de envolvimento, de crença, com os princípios propostos. Você já deve ter percebido, então, que não podemos, simplesmente, tentar trabalhar as questões socioambientais sem que tenhamos delineado um projeto político-pedagógico com os nossos pares. Isso seria “atirar no escuro”, “fazer uma viagem sem planejar o itinerário”. Daí a importância de lembrarmos algumas das principais tendências político-pedagógicas que infl uenciam o cotidiano escolar e que estão, implícita ou explicitamente, no PPP. Observe o quadro-síntese das principais tendências político-pedagógicas. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 32 Ca ra ct er ís tic a Li be ra l o u N ão -c rít ic a Pr og re ss is ta o u Cr íti ca Pó s- cr íti ca o u Pó s- m od er na Tr ad ic io na l Re no va da o u Es co la N ov a Te cn ic is ta Li be rt ad or a Re pr od ut iv is ta s Pe río do h is tó ric o de a po ge u Sé cu lo X IX Fi na l d o sé cu lo X IX e in íc io d o sé cu lo X X Dé ca da 1 95 0/ 60 Dé ca da 1 96 0 Dé ca da 1 97 0 Co nt em po râ ne o Pa pe l d a es co la Tr an sm iti r cu ltu ra Es tim ul ar o cr es ci m en to p es so al e a in te gr aç ão s oc ia l M od el ar o co m po rt am en to hu m an o pa ra o tr ab al ho e a v id a em s oc ie da de Qu es tio na r e tr an sf or m ar a re al id ad e so ci al Re pr od uz ir o st at us q uo Pr op ic ia r u m es pa ço d e lu ta po lít ic o- id eo ló gi ca , de e m ba te s di sc ur si vo s Sa be r e sc ol ar En ci cl op éd ic o Ba nc ár io Ce nt ra do n os in te re ss es e ne ce ss id ad es d os al un os Ci en tifi c is ta Pr ob le m at iz ad or d a re al id ad e do s ed uc an do s De te rm in ad o pe la cl as se d om in an te Co m pl ex o M ul tic ul tu ra l Inte rd is ci pl in ar Re la çã o pr of es so r- al un o H ie rá rq ui ca , se m in te ra çã o Pa rt ic ip at iv a e in te ra tiv a Pa ss iv a, s em in te ra çã o Ig ua lit ár ia , i nt er at iv a Re pr od ut or a da s re la çõ es d a so ci ed ad e Ig ua lit ár ia , in te ra tiv a En si no - ap re nd iz ag em Re ce pt iv o e m ec ân ic o Ex po si tiv o Au to -a pr en di za ge m Ap re nd er fa ze nd o In st ru ci on al Ex po si tiv o e pr át ic o Pr ob le m at iz ad or Re pr od ut or d as de m an da s da cl as se d om in an te Pr ob le m at iz ad or Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 33 As tendências político-pedagógicas e a questão socioambiental Após recordarmos sobre as principais tendências político-pedagógicas, entra “em cena” a temática da “questão socioambiental”. Este não é o momento para a escolha de uma daquelas tendências, a partir da qual trabalharíamos essa questão. Isso deverá ser feito, em cada espaço escolar, por todos os envolvidos no processo. Entretanto, é importante lembrarmos as contribuições de algumas delas, que poderão favorecer o tratamento dessa temática. Primeiramente, vale destacar a amplitude do debate sobre as questões socioambientais em todo o planeta. Todas as esferas discutem esse problema ou, ao menos, apresentam-no como grave e proeminente. Como exemplo, vejamos o que dizem duas estrofes de um poema de cordel, que traduz, por meio da literatura popular, essa preocupação: A sustentabilidade ecológica E nosso patrimônio ambiental Estão acima das leis demagógicas Das Potências ricas do mal! Devemos punir os infratores Os venais da Terra, mutiladores Porque ‘O PLANETA SENTE AS DORES’! A Terra necessita de transplantes De cirurgias e muitas plásticas De transfusão e reimplantes De urgentes decisões drásticas De líderes natos, Homens de valor De Mulheres corajosas, com amor Mas! Salvem ‘O PLANETA QUE SENTE A DOR’! (João Batista-Campos-de Farias. “O Planeta sente a dor”, nº36) Comparemos, agora, com um trecho da “Carta da Terra”: Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação am- biental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divi- didos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os confl itos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 34 Em ambos os textos, que representam esferas sociais diferentes, percebemos as mesmas preocupações com o destino do meio ambiente. Além disso, nos dois, há a denúncia de uma política, centrada nos interesses dos mais ricos, que acabou contribuindo intensamente para a devastação ambiental. Essa questão, abordada mesmo que implicitamente, no primeiro texto, e, claramente, no segundo, é o problema social, relacionado intimamente ao problema ambiental. Os ricos focam a sua ação exclusivamente no desenvolvimento, com o objetivo de gerarem riquezas para si mesmos. Fazem isso a qualquer preço, devastando o meio ambiente. Este, cada vez mais destruído, deixa de gerar recursos para os que dependem dele a fi m de sobreviver: os pobres. Assim, cada vez mais, como num ciclo vicioso, os ricos fi cam mais ricos e os pobres mais pobres. Por tudo isso, nomeamos esse problema como sendo de âmbito socioambiental. Vale indagarmos por que, hoje, mesmo a classe dominante e as grandes potências mundiais estão tão interessadas em “resolvê-lo”. Obviamente, a questão econômica novamente é central, é o verdadeiro motivo que rege os interesses das potências mundiais. Os recursos da Terra não são inesgotáveis. Para garantir a sua riqueza, os ricos precisam cuidar da “galinha dos ovos de ouro”. Além disso, por não deixarem saída aos pobres, que precisam sobreviver, temem pelo avanço da violência, a que têm sido expostos cada vez mais. De qualquer forma, temos uma certeza: é preciso tratarmos o problema socioambiental à luz de um projeto político, acordado democraticamente em nossa comunidade escolar. Esse projeto e a sua implementação serão fruto dos diversos debates travados entre os diferentes atores envolvidos na comunidade escolar. Na verdade, o resultado de diversas vozes sociais. Por isso mesmo, por mais que possam se assemelhar com outros, de diferentes comunidades, nunca serão iguais. Seria o problema socioambiental propriedade de alguma disciplina? É necessário criar mais uma disciplina no currículo escolar para tratar do assunto? A resposta a essas perguntas está na necessidade de um tratamento interdisciplinar das questões socioambientais. Não podemos nos esquecer, no entanto, de que projetos interdisciplinares deverão estar intimamente ligados ao nosso projeto maior (PPP). Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 35 Atende ao Objetivo 6 Responda às questões que se seguem. a. Sua escola possui um PPP? b. Como ele foi elaborado? c. Você conhece o PPP de sua escola? d. O PPP de sua escola se refl ete na prática pedagógica da comunidade? e. Que tendências pedagógicas você identifi ca na prática pedagógica de sua escola? f. Identifi que os pontos do PPP da sua escola que sejam favoráveis à construção de uma Agenda 21 Escolar. RESPOSTA COMENTADA As respostas à Atividade Final são de cunho pessoal. Provavelmente, todas as escolas possuirão um PPP. Infelizmente, nem todas o terão construído por meio de um plane- jamento participativo, fundamental para expressar os anseios da comunidade e fazer com que a prática político-pedagógica seja signifi cativa para todos. Essa atividade é fundamental para você refl etir sobre as possibilidades de implementação de uma Agenda 21 escolar, associada ao PPP de sua escola. Além disso, você terá a oportunidade de refl etir sobre sua própria prática político-pedagógica. A ti vi da de F in al Conclusão Por tudo o que foi exposto nesta aula, concluímos que é urgente fazermos algo para contribuir com a solução dos problemas socioambientais vivenciados em nossa sociedade. A Agenda 21 é uma saída estratégica para isso, já que sua proposta abrange todas as esferas: mundial, nacional, estadual e local. Como educadores, não podemos “fi car de fora”. Se cada escola conseguir implementar a sua Agenda 21, envolvendo a comunidade interna e a externa, as coisas vão começar a mudar. É verdade que “uma andorinha só não faz verão”, mas várias andorinhas sim!! Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 36 Re su m o Você estudou o que é a Agenda 21, onde e como ela se originou, assim como a sua relação com as agendas ambientais. Verifi cou, também, que a forma de se construir essa Agenda é sempre por meio do planejamento participativo. Isso quer dizer que, isoladamente, nada vamos conseguir. Além disso, foram apresentadas as ações da Agenda 21, já efetivadas, em nível nacional e estadual, assim como as que estão planejadas para ainda serem implementadas. Revisou, também, o conceito de Projeto Político-Pedagógico (PPP), assim como algumas de suas principais vertentes. Isso foi importante para você conseguir identifi car, em sua escola, se o PPP propicia, em algum momento, a inclusão de projetos na área socioambiental, que poderiam ser desenvolvidos na construção de uma Agenda 21 Escolar. Informação sobre a próxima aula Na próxima aula, iremos trabalhar o planejamento participativo para a construção de Agendas 21 Escolares. Referências bibliográfi cas CADEI, Marilene e SANTIAGO, Ana Maria de A. Tudo agendado. In: Onda jovem. São Paulo, 7, mar 2007. Disponível em http://ondajovem.terra.com.br/materiadet.asp?idtexto=147, consultado em 30/6/2008. CASTRO, Antônio Maria Gomes de, LIMA, Suzana Maria Valle e BORGES-ANDRADE,Jairo Eduardo. Metodologia de planejamento estratégico das unidades do Ministério da Ciência e Tecnologia. Brasília: MCT, 2005. Disponível em http://planejamento.sir.inpe.br/documentos/arquivos/ referencias/Metodologia_PE_MCT_2005.pdf, consultado em 7/10/2007. CORDIOLLI, Sergio. Enfoque participativo no trabalho com grupos. Apostila Curso Gestão Estratégica Pública. Campinas, 2005. Disponível em http://www.campinas.sp.gov.br/rh/uploads/ egds_material/txt_apoio_sergio_cordiolli.pdf , consultado em 30/6/2008. GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofi a da Educação. São Paulo: Cortez,1994. Aula 2 Agendar é preciso... E pôr em prática... Não é preciso? 37 NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos. Etapas, papéis e atores. São Paulo: Érica, 2005. ONU. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento: Agenda 21 Global. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteud o.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575, consultado em 30/6/2008. UNESCO. Carta da Terra. Paris, 2000. Disponível em http://www.mma.gov.br/estruturas/ agenda21/_arquivos/carta_terra.doc, consultado em 30/6/2008. Sites consultados http://www.ambientebrasil.com.br http://www.mma.gov.br http://www.semadur.rj.gov.br 3 Ana Maria de Almeida Santiago Gilcélia Cristina de Magalhães Bastos Com a mão na massa: construindo Agendas 21 escolares Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 40 META DA AULA Demonstrar as etapas do planejamento participativo, visando à construção da Agenda 21 Escolar, cuja execução pode ser viabilizada por meio da pedagogia de projetos. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de 1. identifi car as etapas do planejamento participativo; 2. aplicar técnicas e métodos de diagnóstico participativo da realidade socioambiental na construção da Agenda 21 Escolar; 3. avaliar a importância dos projetos como mecanismos de efetivação da Agenda 21 Escolar. Aula 3 Com a mão na massa: Construindo Agendas 21 escolares 41 Introdução Passemos da teoria para a prática! Nossa tarefa agora é mais concreta! Iremos, nesta aula, trabalhar a forma de desenvolver uma Agenda 21 Escolar através da PARTICIPAÇÃO coletiva. PARTICIPAÇÃO “É o processo pelo qual grupos de interesse infl uenciam e partilham controle sobre o estabelecimento de prioridades, políticas, alocação de recursos e/ ou implementação de programas” (TIKARE et al., 1995; apud CASTRO, LIMA e BORGES- ANDRADE, 2005). Para facilitar sua vida, iremos apresentar, passo a passo, as etapas de um planejamento para a elaboração desta agenda. Em seguida, você terá contato com uma metodologia que pode favorecer a sua efetivação. Estamos falando da pedagogia de projetos. Mão na massa! Boa aula! A Agenda 21 e o planejamento: a opção pelo enfoque participativo Você já percebeu que “agendar é preciso”, e urgente, pois a nossa forma de viver não “está de acordo com a capacidade do planeta de oferecer, renovar seus recursos naturais e absorver os resíduos que geramos” (disponível em http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica/ o_que_e_pegada_ecologica/index.cfm, consultado em 1/7/2008). Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 42 Mas para agendar é preciso planejar! Como você já deve ter percebido nas aulas anteriores, a elaboração de uma Agenda 21 é, em última instância, um processo de planejamento coletivo, que se formaliza em um documento: uma carta de intenções. Mas como colocar essas intenções em prática? Uma das possibilidades é utilizarmos a metodologia da pedagogia de projetos. Temos falado muito em PLANEJAMENTO, mas o que se pode entender por isso? Pode-se entender o planejamento como “uma ferramenta de trabalho utilizada para tomar decisões e organizar as ações de forma lógica e racional” (BUARQUE, 1999). É pré-condição dessa ferramenta o exercício coletivo do poder de decisão, isto é, as decisões e a organização das ações são resultado de escolhas do grupo, de seu consenso. O planejamento constitui-se, portanto, da interação de duas di- mensões: a política e a técnica. É, por um lado, fruto de “decisões e escolhas de alternativas em torno de objetivos coletivos” (dimensão política) e, por outro, o resultado de um “processo ordenado e siste- mático de decisão” (dimensão técnica). A construção do planejamento prevê etapas progressivas, que se interligam e se alimentam continuamente: o conhecimento da realidade, a tomada de decisão, a execução do plano e o acompa- nhamento, controle e avaliação das ações. Segundo Buarque (1999), o planejamento é útil para mobilizar as energias sociais, para aglutinar politicamente os atores sociais envolvidos e para ampliar a efi cácia e a efi ciência das ações propostas. Agora complicou! O que esse Buarque quis dizer? Em outras palavras, como esse documento – a Agenda 21 – ordena e sistematiza alternativas de ações, torna-se um importante “instrumento de negociação” da coletividade para atingir metas futuras. PLANEJAMENTO “É um pacote de medidas inovadoras, claramente delimitado em função dos recursos, tempo e local, que estabelece objetivos e metas a serem alcançados por meio de um processo interativo entre todos os atores envolvidos e cuja implementação se dá por meio das instituições executoras, organizações ou grupos sociais” (disponível em http://www. participando. com. br/ metodologia/ metodologia.asp, consultado em 13/10/2007). Aula 3 Com a mão na massa: Construindo Agendas 21 escolares 43 Logo, existe uma forte afi nidade entre planejamento e participação. Como já vimos no início da aula, podemos concluir que participar é a ação de “fazer parte de, tomar parte em” (CUNHA, 2001). Para que isso ocorra, ou seja, para que haja um ENFOQUE PARTICIPATIVO, é necessário levar em conta alguns aspectos fundamentais, como • o diálogo ativo; • a PROBLEMATIZAÇÃO; • a condução compartilhada do processo. Falar é fácil ... difícil é fazer! Esse é um desafi o de toda prática pedagógica: transformar a teoria em prática. Por isso mesmo, apresentamos, a seguir, alguns instrumentos que podem facilitar a integração das pessoas em um processo participativo de planejamento. ma forte afinidade entre planejamento e participaç ENFOQUE PARTICIPATIVO Pode ser entendido como uma aproximação sistemática a processos de grupos, buscando mobilizar seus potenciais e fornecer-lhes instrumentos para melhorar as suas ações pelas contribuições dos participantes e em que se manifesta e incorpora o meio socioeconômico e cultural de cada situação (CORDIOLLI, 2005). PROBLEMATIZAÇÃO Técnica de formulação de perguntas, orientadoras do trabalho. Não existem “receitas de bolo” para a prática pedagógica e para os processos participativos de planejamento. Logo, os instrumentos são possibilidades. Não são, portanto, excludentes. Podem ser combinados e alimentados por outros, como os jogos. Cada grupo deve, então, selecionar, e até mesmo criar, suas próprias estratégias que promovam a participação do grupo. Use e abuse de sua imaginação, de sua criatividade! A te nç ão Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 44 Entre os diferentes instrumentos, merecem destaque: • a OFICINA (workshop) – trata-se de uma metodologia de trabalho, organizada a partir de atividades práticas, previamente planejadas, com o objetivo de propiciar condições de refl exão e de aprendizado. Como sugere o nome, a ofi cina pretende que o aprendizado se realize no desenvolvimento prático dos trabalhos propostos, estabelecendo uma relação de causa e efeito entre fazer e aprender. Considerando seu objetivo prático, pode prever o uso planejado de diversas técnicas e jogos; •a MODERAÇÃO – o moderador diferencia-se do especialista, pois “o moderador é mais um facilitador, um catalisador, um orientador metodológico para o processo, enquanto o especialista é essencialmente um assessor, um orientador técnico, um agente que irá transferir conhecimentos para facilitar a análise e a tomada de decisão pelo grupo, sem decidir por ele” (CORDIOLLI, 2005); • a VISUALIZAÇÃO – consiste no “registro visual contínuo de todo o processo, mantendo as idéias sempre acessíveis para todos. Desse modo, as contribuições não se perdem, sendo mais objetivas e mais transparentes para todo o grupo” (CORDIOLLI, 2005); • o TRABALHO EM GRUPO – segundo Cordiolli (2005), “é adotado para aumentar a efi cácia da comunicação e garantir um momento intensivo de criação, gerando idéias que possam ser o ponto de partida para a discussão em plenária”; • as SESSÕES PLENÁRIAS – permitem “o aperfeiçoamento e a lapidação das idéias geradas nos grupos. São os momentos de socialização dos resultados, das tomadas de decisão e de se estabelecer a responsabilidade e a cumplicidade pelo resultado alcançado” (CORDIOLLI, 2005). É o espaço no qual a multiplicidade de vozes poderá ser ouvida de forma organizada e as idéias poderão ser negociadas e sistematizadas; • a TEMPESTADE DE IDÉIAS (brainstorming) – Castro, Lima e Borges-Andrade (2005) de- fi nem o brainstorming como uma “técnica para geração de idéias”, cujo objetivo é a “solução de problemas ou tarefas geralmente a cargo de um grupo”. Prevê, em um primeiro momento, a “formulação de idéias de maneira livre”; posteriormente, “as idéias podem ser criticadas pelos outros membros do grupo”. Sugerimos consultar a publicação de Honsberger e George, denominada Facilitando ofi cinas: da teoria à prática. Trata-se de uma cartilha que ensina a construir ofi cinas, disponível em http://www.portaldovoluntario. org.br/site/pagina.php?idmenu=5&bibliotecaPage=9. M ul ti m íd ia Aula 3 Com a mão na massa: Construindo Agendas 21 escolares 45 Em Cordiolli (2005), encontra-se uma descrição detalhada desses instrumentos. Acesse o texto para aprofundar sua compreensão. Ele se encontra disponível em www.preac.unicamp.br/arquivo/materiais/txt_ apoio_sergio_cordiolli.pdf. M ul ti m íd ia A opção por processos participativos é, portanto, plenamente justifi cável. De acordo com Cordiolli (2005), a participação não é somente um instrumento para a solução dos problemas, mas também uma necessidade do homem de auto-afi rmar-se, de interagir em sociedade, criar, realizar, contribuir, sentir-se útil. É um instrumento muito efi caz para aumentar a motivação e o entusiasmo das pessoas, contribuindo para a expressão do pleno potencial de uma organização. Concluindo, os processos participativos contribuem para a mudança de comportamentos, para a aprendizagem coletiva, para o fortalecimento da cidadania. Nesse caso, “participar vai muito além de estar presente”, pois “signifi ca tomar parte no processo, emitir opinião, concordar/ discordar” (CORDIOLLI, 2005). Agora vamos, fi nalmente, detalhar as etapas de um planejamento participativo. Você poderá utilizar esse passo a passo para construir a Agenda 21 Escolar. Etapas do planejamento participativo A preparação do processo Em primeiro lugar, existe uma fase preparatória, na qual ocorre a montagem de uma equipe técnica ou de trabalho, responsável pela condução e pela articulação do processo. No caso da Agenda 21 Escolar, essa equipe será composta, obviamente, de indivíduos atuantes na escola. Os cursistas serão o núcleo mobilizador desses indivíduos. MM Essa é uma equipe de gerenciamento do trabalho. Não cabe a ela fazer a Agenda 21 Escolar, mas organizar os encontros coletivos a partir dos quais essa Agenda será construída sob o enfoque do planejamento participativo. Nesse sentido, o grupo pode crescer ao longo do processo. O importante é começar! A te nç ão Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 46 Ainda nesta etapa, a equipe precisa debater os conceitos básicos que irão nortear teoricamente o planejamento (uniformização conceitual). Quais seriam esses conceitos? No contexto da Agenda 21, serão todos aqueles que a equipe, inicialmente, considerar importantes para o debate com a comunidade. Trocando em miúdos: a equipe técnica ou de trabalho precisa, antes de iniciar os debates, refl etir sobre o que venha a ser agenda, meio ambiente, sustentabilidade etc. Esses conceitos, ao longo do processo, poderão ser revisitados e revistos pelo coletivo. A equipe deverá, também, nesta fase, organizar e detalhar o plano de trabalho, composto por atividades a serem desenvolvidas em um cronograma. Nossa! O que quer dizer isso? Quer dizer que o grupo precisa defi nir os dias, a pauta e as estratégias de cada encontro, de acordo com os objetivos pensados para cada evento. Lembre-se de que esse é apenas um planejamento inicial! Pode haver necessidade de ser alterado no processo com o coletivo. A última atividade da fase preparatória, a ser realizada pela equipe técnica, é o trabalho de identifi cação, motivação, mobilização e sensibilização dos atores sociais. Neste momento, a equipe estará reconhecendo que grupos sociais (atores sociais) têm ligação com o espaço escolar – alunos, responsáveis, funcionários, comerciantes do entorno etc. É nesse momento que estaremos criando o Espaço Livre de Organização de Ações Socioambientais – ELO-21. Esse reconhecimento é fundamental para garantir parceiros no planejamento da Agenda 21 Escolar. A partir da resposta à pergunta “quem pode nos ajudar?”, a equipe pode desenvolver estratégias de motivação, que sensibilizem e propiciem a mobilização desses atores na cons- trução da Agenda. Mesmo que resistências sejam encontradas, o grupo precisa insistir na sensibilização e na mobilização das pessoas, repensando as estratégias de motivação. Essa identifi cação de atores é preliminar! Serve como detonadora do processo. Ao longo do caminho, novos parceiros devem e podem ser integrados ao grupo. Cabe notar que o próprio grupo pode identifi car outros possíveis integrantes não pensados pela equipe técnica. Fiquem tranquilos! Essas inclusões são naturais. A te nç ão Aula 3 Com a mão na massa: Construindo Agendas 21 escolares 47 O conhecimento da realidade socioambiental A segunda etapa do planejamento participativo corresponde ao conhecimento da realidade, subdividindo-se em três momentos: o da análise dos envolvidos, o do diagnóstico e o do prognóstico. Vejamos cada um deles com detalhes! Análise dos envolvidos: a identifi cação de parcerias Como já vimos, a identifi cação dos parceiros, GRUPOS DE INTERESSE, foi feita, preliminarmente, pela equipe técnica, que deveria prever, no cronograma de trabalho, um momento de revalidação dessa identifi cação pelo coletivo. Isso signifi ca que, no início do processo de planejamento, outros atores podem ser identifi cados. O grau de envolvimento desses atores, entretanto, pode variar muito, isto é, é possível ter diferentes graus de compartilhamento do poder na tomada de decisão. Tanto a identifi cação dos atores quanto o seu nível de envolvimento podem ser analisados, por meio de diversas técnicas. Um exemplo de dinâmica usado para a identifi cação dos parceiros é o da tempestade de ideias, anteriormente descrito. Outra possibilidade é utilizar o Diagrama Institucional ou Jogo de Bolas (Diagrama de Venn). Nesse caso, a identificação dos parceiros já vem acompanhada de uma análise de seu envolvimento. Nesta representação gráfi ca da realidade, o retângulo simboliza a comunidade em estudo e os círculos, os atores. O tamanho dos círculos representa a importância do agente, e a sua posição (distância), em relação ao círculo representativo principal, identifi ca sua infl uência. Observe o exemplo: Os GRUPOS DE INTERESSE (stakeholders ou atores sociais) podem ser defi nidos como todos osgrupos sociais (internos e externos) que têm interesse e/ou infl uência sobre a ação ou rumos da instância que sofre planejamento, que no nosso caso é a escola. stância), em relação ao círculo representativo principal, identifi ca sua infl uên emplo: Fonte: Adaptado de CASTRO, LIMA e BORGES-ANDRADE, 2005. 7 4 1 5 3 2 6 Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 48 Vamos tentar entender o funcionamento do diagrama, analisando os casos dos atores 6 e 7, no exemplo dado. O ator 6, embora não pertença à comunidade, é relevante e exerce infl uência sobre ela. Já o ator 7, que também não pertence à comunidade, tem pouca importância no cenário, mas atua nela. Sacou como funciona?! Uma segunda técnica que conjuga, também, a identifi cação com a análise dos envolvidos é a da matriz de relação. Essa matriz possibilita a caracterização do agente, segundo algumas categorias pré-determinadas. Pode ser apresentada na forma de um quadro, como o seguinte. Grupos ou Atores Categorias Funções Interesse Potencial Limitações etc. Ator 1 Ator 2 Fonte: Adaptado de Minguillo (s/d). Essa análise da infl uência e do interesse pode ser realizada também através da aplicação de escala, por exemplo, de 0 a 10. É claro que existem outras técnicas que podem ser usadas. Você poderá encontrá-las nas obras de referência que utilizamos. Aprofunde as informações em http://www.rcee.org.br/downloads/ Apostila %20FMSS%20MÉTODO%20ZOPP.doc. M ul ti m íd ia Aula 3 Com a mão na massa: Construindo Agendas 21 escolares 49 Análise dos problemas e das potencialidades: o diagnóstico da realidade socioambiental a. O que é um diagnóstico? Cotidianamente, associamos a palavra diagnóstico à prática médica, o que envolveu a palavra de uma conotação negativa. Assim, temos a tendência de pensar que o diagnóstico aponta sempre os problemas, nunca as potencialidades. No entanto, originalmente, a palavra diagnóstico, tanto no grego como no latim, vem a ser “o conhecimento sobre algo, ao momento do seu exame”; ou “a descrição minuciosa de algo”; ou, ainda, “o juízo declarado ou proferido sobre a característica, a composição, o comportamento, a natureza etc. de algo, com base nos dados e/ou informações deste, obtidos por meio de exame”. Sendo assim, agora você entende por que falamos em diagnóstico da realidade socioambiental, envolvendo tanto problemas quanto potencialidades. b. Qual a importância do diagnóstico? Conhecer a realidade socioambiental na qual estamos inseridos é fundamental para se refl etir sobre o futuro (prognóstico) e planejar ações efetivas que encaminhem o coletivo para a realização de metas. É impensável construir uma Agenda 21 Escolar sem partir da relidade na qual se pretende intervir! c. Como fazer um diagnóstico da realidade socioambiental? Sinteticamente, trata-se de listar os principais problemas e as potencialidades locais, identifi cando inter-relações, causas e consequências. Não se trata de identifi car todos os problemas ou potencialidades, mas de apontar alguns considerados centrais e, a partir destes, outros correlatos, estabelecendo relações de causa e de efeito. A te nç ão Existem várias metodologias de diagnósticos participativos da realidade. Dentre elas, pode-se destacar o Diagnóstico Rápido Participativo – DRP. O DRP utiliza, normalmente, as ofi cinas de trabalho como estratégias estimuladoras da participação. Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 50 Apresentaremos, a seguir, algumas técnicas que podem ser usadas no DRP. Uma delas, usualmente utilizada nesta etapa, é a da ÁRVORE DE ENCADEAMENTO LÓGICO. d. Como se constrói essa árvore? O primeiro passo é listar, separadamente, os problemas e as poten- cialidades. Em um segundo momento, estabelece-se, coletivamente, a “relação de causa e efeito existente entre os problemas listados”. O resultado da análise é, portanto, uma representação gráfi ca. A Árvore de Encadeamento Lógico (Árvore de Problemas e Potencialidades) “representa, grafi camente, a relação da causalidade, portanto, diferenciando e hierarquizando”. Nessa representação gráfi ca dos problemas ou potencialidades encontram-se, na base da árvore, os fatores que possuem “o maior poder explicativo da situação- problema”. Vejamos, passo a passo, como construir uma Árvore de Problemas utilizando a técnica de visualização e o trabalho em plenária. • o problema central é registrado, por cada participante, em fi chas de cartolina (tarjetas); • as fi chas são afi xadas num painel; • o grupo discute e identifi ca o problema central; • as causas do problema central são registradas, por cada participante, nas tarjetas; • as consequências do problema central são registradas, por cada participante, nas fi chas; • os problemas listados são analisados pelo grupo; • por fi m, o grupo constrói um diagrama, em forma de árvore, estabelecendo as relações de causa e efeito entre os problemas. ÁRVORE DE ENCADEAMENTO LÓGICO É “uma forma bastante simples de expressão gráfi ca da hierarquia dos problemas e potencialidades (ou das ações) – resultante das relações de causa e efeito –, ressaltando os fatores mais relevantes e determinantes do futuro. Esta hierarquia de relevância manifesta-se na forma de uma árvore, que estabelece a ordem [de infl uência] entre os problemas (raiz, tronco e galhos)”. A defi nição encontra-se em Buarque, disponível em http: //www.iica.org.br/ Docs/Publicacoes/ PublicacoesIICA/ SergioBuarque.pdf. Aula 3 Com a mão na massa: Construindo Agendas 21 escolares 51 Observe um modelo de uma árvore de problemas. Impacto 1 Impacto 2 Impacto 3 Impacto 4 Impacto 5 Problema Resultante 1 Problema Resultante 2 Problema Resultante 3 Problema Relacionado Problema Central Problema Relacionado Problema Causal 1 Problema Causal 2 Problema Causal 3 Problema Contribuidor Problema Contribuidor Problema Contribuidor Problema Contribuidor Problema Contribuidor Lembre-se de que a Árvore de Encadeamento Lógico é uma das técnicas disponíveis. Você pode utilizar outras e/ou adaptá-la de acordo com o universo em que está trabalhando. Entre outras técnicas comumente usadas, podem-se, ainda, mencionar: • história, retratos, citações Trata-se do registro das histórias locais, oralmente transmitidas, associadas ou não a fotos e a dizeres populares. Fonte: Miguillo s/d. Você poderá encontrar outras sugestões de técnicas em BUARQUE, Sérgio C. Metodologia de planejamento do desenvolvimento local e muni- cipal sustentável. Material para orientação técnica e treinamento de multiplicadores e técnicos em planejamento local e municipal. Brasília: MEPF/INCRA/IICA, 1999 (http://www.iica.org.br/Docs/Publicacoes/ PublicacoesIICASergio Buarque.pdf). M ul ti m íd ia Educação Ambiental e Agenda 21 Escolar Formando elos de cidadania 52 • pesquisa de dados secundários em registros ofi ciais Trata-se da busca de informações em órgãos públicos sobre a realidade da comunidade. Nessas instâncias, é possível termos acesso a dados referentes à coleta de lixo, ao consumo de água e de energia, ao perfi l do consumidor, à demografi a etc. • entrevistas A entrevista é entendida como uma técnica de coleta de dados, na qual o pesquisador tem contato direto com um indivíduo que disponibiliza informações, a partir de situações de estímulo geradas pelo entrevistador (GIL, 2006). Ex pl ic at iv o Entre as vantagens da utilização da técnica de entrevista, podemos destacar a possibilidade de obtenção de informações detalhadas sobre o tema em estudo, como o registro dos aspectos que envolvem o cotidiano, as crenças, os valores, os sentimentos e as práticas de uma coletividade. No âmbito das desvantagens, menciona-se a interferência que o entre- vistador pode exercer sobre as manifestações do entrevistado, quer pela sua presença, quer pelo conhecimento prévio do entrevistado
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