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História do Direito Romano

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POMPONIO,
LWRO ONICO DO ENQUIRIDION,
OU MANUAL ELEMENTAR
(Fr. 2 do Digesto, De origmejuris)
Parece-nos necessano narrar a origem e os progressos do direito.
§ 1 °- No come^o, a nossa nagao vivia sem leis e sem direito certo,
tudo se regendo pelo arbitrio dos reis.
§ 2.° - Mais tarde, tendo aumentado a Cidade, conta-se que o pro-
prio Romulo a dividiu em trinta partes, que denominou curias, porque a
esse tempo o governo do Estado (reipublicae curia) se fazia pelas suas
resolu96es. E, assim, ele mesmo apresentou leis curiatas ao povo. Apre-
sentaram-nas tambem os reis que se Ihe seguiram, as quais se acham to-
das reunidas no livro de Sexto Papfno, varao dos mais ilustres do tempo
de Soberbo, filho de Demarato Corinto.
0 livro a que aludimos se chama Jus Civile Papirianum (Direito
Civil Papiriano), nao porque Papfrio Ihe acrescentasse alguma coisa dele
mesmo, mas porque colecionou as leis que estavam dispersas.
§ 3.° - Expulsos os reis pela Lei Tribumcia, todas as leis se acaba-
ram, e de novo comegou o povo romano a reger-se mais pelo direito in-
certo e pelo costume do que por leis promulgadas, e, assim, se passaram
cerca de vinte anos.
§ 4.° - Para que tal situagao nao continuasse por mais tempo, o povo
resolveu escolher dez varoes (decenviros), mediante os quais se obtives-
sem leis das na^oes gregas para a nossa na^ao. As leis, escritas em lami-
284 msTiTUTAs DO DVIPERADOR JUSTINIANO
nas, ou tabuas (tabulas) de marfim, foram colocadas na pra9apiiblicapara
que pudessem ser mais conhecidas.
Aos decenviros foi dado o supreme poder naquele ano, para que
pudessem corrigir as leis, se fosse necessario, e interpreta-las, nao ha-
vendo recurso de suas decisoes, como das dos outros magistrados.
Notaram entao que alguma coisa faltava a essas primeiras leis; por
isso, no ano seguinte, acrescentaram mais duas tabuas, e por esse fato se
chamouLez dos XIITdbuas, tendo sido autor do projeto, segundo alguns,
/
um certo Hermodoro, de Efeso, exUado na Italia.
-§-5.c—Promulgada-essa-lei,-eome9GU>-eonio@-iiatuTal,-a-tomar-se
necessaria a sua interpretagao, e, par conseguinte, a sua discussao nos
tribunals. A interpretagao e o direito nao escrito, que se formou pelos
jurisconsultos, nao tem nome especial, como as outras partes do direito,
mas tem o nome comum de direito civil (jus civile).
§ 6.° -Da Lei das XUTabuas, quase ao mesmo tempo, se formaram
as a^oes pelas quais cada um defendia o seu direito. Para que nao ficas-
sem ao arbitrio do povo, as a^oes tiveram formas certas e solenes, e, por
isso, essa parte do direito se chama agoes da let {legis actiones\ isto e,
agoes legitimas {legitimae actiones).
Assim, quase simultaneamente, nasceram essas tres partes do di-
reito: a Lei das XH Tabuas e, atraves dela, o direito civil e as a^oes da lei.
0 direito nao so de interpretar as leis, bem como as a9oes, compeda
exclusivamente ao colegio dos pontffices, o qual designava todos os anos
o encarregado das questoes privadas.
Esse regime durou cem anos, mais ou menos.
§ 7.° -Mais tarde, tendo Apio CIaudio posto em ordem, e por escri-
to, essas aqoes, Gneio Flavio, seu secretario, filho de um liberto, publi-
cou o livro que Ihe roubara, e tao benefico foi tal servigo ao povo, que foi
eleito tribuno da plebe, senador e edil curul.
Esse livro, que contem as a9oes, se chama Direito Civil Flaviano
(Jus Civile Flavianum), do mesmo modo que se chamou o Uvro de Sexto
Papmo Direito Civil Papiriano, pois Gneio Flavio nada de seu a ele acres-
centou.Aumentandoana9ao,esendonecessarioacrescentaralgumacoisa
ENQUIRIDION 285
as formulas das a9oes, Sexto EUo compos novas formulas, pouco depois,
e as publicou, sendo chamadas direito EUano {Jus Aelianum).
§ 8.° — Como se regesse a nagao pela Lei das XII Tabuas, pelo direi-
to civil, e pelas a9oes da lei, aconteceu que a plebe se desentendeu corn
os patricios, e se retirou, constituindo leis para si, que receberam o nome
de plebiscitos. Tendo sido de novo chamada aplebe, pois muitas discor-
dias nasciam dos plebiscitos, resolveu-se, pela Let Hortensia, que estes
seriam observados como leis, e assim aconteceu que a sua autoridade foi
a mesma das leis, das quais so diferiam na forma9ao.
§ 9.° - Tornando-se dificil reunir a plebe, e muito mais dificil reu-
nir o povo, por tratar-se de muita gente, a necessidade fez corn que se
confiasse ao Senado o governo da nagao. Assim, come9ou o Senado a
char o direito, observando-se as suas resolu9oes, que se chamaram se-
natusconsultos.
§ 10 - Nessa epoca, os magistrados tambem distribuiamjusti^a, e,
para que os cidadaos soubessem o que cada um decidiria sobre cada
materia, e se acautelassem, publicavam-se editos, os quais constituiram
o direito honordrio (jus honoranum). Chamava-se honordrio porque
provinha da dignidade ou honra do pretor (ab honore pretoris).
§ 11 - For ultimo, como a natureza das coisas necessitasse reuni-
lo em menos maos, aconteceu que, gradualmente, se tornou impres-
cindivel que o governo fosse confiado a urn so, porque o Senado nao
podia governar bem todas as provfncias. For isso, escolhido o princi-
pe, a sua vontade foi atribuida for9a de let {quod principi placuit habet
legisvigorem).
§ 12-Assim, rege-se anossana9aopelo direito, isto e, pelalei; pelo
diieito chamado propriamente de civil, que e nao escrito, e consistente
so na interpreta9ao dos jurisconsultos; pelas 09668 da lei, que dao as for-
mas de demandar; pelos plebiscitos, que sao formados sem a audiencia
dos patricios; pelos editos dos magistrados, donde provem o direito ho-
norario; pelos senatusconsultos, que valem pela autoridade do Senado
sem necessidade de lei; e pelas Constituigoes Imperials, pois a vontade
do principe e lei.
§ 13 - Depois de conhecida a origem do direito e seus progressos, e
mister conhecennos a origem e os nomes dos magistrados, pois o diieito
286 DSTSTTTUTAS DO IMPERADOR JUSTINIANO
so se efetiva pelos magistrados, e seria inutil haver leis, se nao houvesse
quem as executasse.
Trataremos, a seguir, daordem em que apareceram osjuristas, por-
que nao pode existir o direito sem que existamjurisperitos, que dia a dia
o tomem melhor.
§ 14 - Quanto aos magistrados, diremos que, nos primeiros tem-
pos, os reis tinham poder absoluto.
§ 15 -Exisdam tambem os tribunos celeres {tribuni celerum\ que
comandavam a cavalaria, e tinham o segundo lugar depois dos reis. Foi
_tribuno-ceIere-Jumo-Bruto,-que-promoveu-aexpulsaodos-reis^
§ 16 - Expulsos estes, por meio de uma lei, escoUieram-se dois
cfinsules, os quais teriam poder supremo. Chamaram-se consules, por-
que eram consultados na maior parte dos negocios do govemo. E, para
que nao pretendessem o poder real total, promulgou-se outra lei, permi-
tindo recurso de suas decisoes e proibindo a condena9ao a morte de cida-
dao romano, sem audiencia do povo. Dava-se-lhes somente o direito de
castiga-lo, mandando prende-lo nas cadeias publicas.
§ 17-Em seguida, vindo o censo a tomarmais tempo, como nao
fossem suficientes os consules, foram criados os censores corn essa
fun^ao.
§ 18 - Tendo-se desenvolvido a na^ao, e havendo repetidas guerras
einvasoes dos vizmhos, tomou-senecessario constituirmagistrados corn
mais amplos poderes. Daf nasceram os ditadores, de cujas decisoes nao
cabiarecurso, e tinham tambem o direito de condenar ^ pena capital. Nao
Uies era Ucito conservar, por mais de sets meses, essa magistratura, por
ser absolute o seu poder.
§ 19 -A esses magistrados eram dados, como auxiliares, os coman-
dantes da cavalaria (magistri equitum), do mesmo modo que se davam
aos reis os tribunes celeres. As fungoes dos comandantes da cavalaria
eram analogas as que exerce hoje o prefeito do pretdrio. Essas magistra-
turas eram, porem, legitimas.
§ 20 -Nessa epoca, pouco mais ou menos dezessete anos depois da
expulsao dos reis, a plebe separou-se dos patricios, e criou, para si, os
tribunes daplebe, no MonteSagrado, os quaissenammagistradosplebeus.
ENQUIRIDION 287
Chamaram-se tribunes,ou porque antigamente o povo se dividia
em tribus ou tres partes, escolhendo, cada uma, um magistrado, ou por-
que eram eleitos pelo sufragio das tribus.
§ 21 - Tambem, para que houvesse quem superintendesse os edifi-
cios, foram escolhidos dois membros da plebe, chamados edis {aediles),
encarregados de resolver em name delas.
§ 22-Como o erario publico aumentasse, foram criados os questores
(quaestores), que deveriam superintende-lo. Chamaram-se assim por-
que se instituu-am para examinar e prover as finangas.
§ 23 — E porque, segundo ja referimos, nao era dado aos consules
pronunciar senten^a de morte contra cidadao romano sem audiencia do
povo, foram por este criados os questores, que tinham a fun9ao de deci-
dir a respeito, chamados questores deparricidio (quaestoresparricidii),
aos quais alude a Lei das XII Tabuas.
§ 24 -Tendo de ser organizada uma cole9ao de leis, deliberou o povo
que todos abdicassem das magistraturas, sendo criados os decenviros,
por um ano. Estes, expirado o prazo, quiseram prorrogar a suajurisdi^ao
e maltrataram o povo, e recusaram-se a ceder seu lugar aos magistrados
que os deviam suceder, a fun de que se perpetuassem, no governo, corn a
sua fac^ao.
0 dommio dos decenviios foi tao aspero e excessivo, que o exercito
deles se afastou. Contam que quem come9ou a secessao foi um certo
Verginio, por ver que Apio CIaudio se recusava a entregar-lhe a filha,
contra o antigo direito que ele mesmo trasladara para a Lei das XII Ta-
buas, sob o pretexto de Ihe estar sujeita par escravidao.
0 rapaz, apaixonado pela mo^a, lan^ou mao de meios indecorosos,
pelo que o pai se indignou, ao ver que nao se observava, corn rela9ao a sua
filha, a antiqmssima pratica do direito (observada por Bruto, que foi o pri-
meiro consul de Roma, e que se pronunciou pela liberdade na causa de
Vindex, escravo dos ViteUos, o qual denunciara o piano da conjuragao).
Prefermdo ver a filha morta a v£-la desonrada, Apio Claudio tomou
um facao de um a^ougue e matou-a, para apagar corn a morte a sua de-
sonra. Ainda corn as maos tintas do sangue da filha, procurou os seus
companheiros de armas, que abandonaram os antigos chefes, e transpor-
288 msTiTUTAS DO IMPERADOR JUSTDSTEANO
taram as bandeiras do monte Algido, onde se achavam, a servi^o de guerra,
as legioes, para o monte Aventino.
Para ai se dirigiu logo toda a plebe da cidade, mas alguns dos chefes
desse levante, tendo sido mortos na prisao, corn consentimento do povo,
a catma voltou novamente.
§ 25 - Passados alguns anos, depots da Lei das XIT Tabuas, a plebe
entrou em luta corn os patricios, e quis escolher consules entre seus mem-
bros, recusando-se aisso os patricios. Resolveu-se entao criar os tribunos
militares, corn autoridade consular, sendo escoUudos parte daplebe, e
parte dos patricios. 0 seu numero foimuito variavel, sendo oravinte, ora
mais, ora menos.
§ 26 - Deliberou-se mais tarde escolher consules dentre a plebe,
comegando a ser escolhidos das duas classes; e, para manter a suprema-
cia dos patricios, resolveu-se eleger dois magistrados dentre eles, e as-
sim se fizeram os edis curuis.
§ 27 - Sendo os consoles convocados para as guerras corn os vizi-
nhos, e nao havendo na cidade quem administrassejustiga, criou-se o
pretor urbano, comjurisdigao na cidade.
§ 28 - Passados muitos anos, nao sendo suficiente essepretor ur-
bano, porque grande multidao de estrangeiros (peregrini) vinha a cida-
de, foi criado outro pretor, chamado, por isso, de pretor peregrino, que
ordinariamente decidia as questoes eatre os estrangeiros.
§ 29 - Como se fizesse mister uma magistratura que zelasse pelas
hastas, estabeleceram-se decenviros parajulgar as demandas.
§ 30 - Criaram-se tambem, nessa epoca, quatro varoes {quattuor^iri\
para as estradas; triunviros moedeiros (triumviri monetales), para a fun-
di^ao de eobre, prata e ouro, e triunviros capitals (triumviri capitales\
que cuidavam da seguran^a das prisoes, e tinham por fim punir, quando
necessano.
§ 31 -E, porque era inconveniente virem os magistrados a publico,
depois do ocaso do sol, foram criados cinco varoes, aquem e alem do Tibre,
para servirem como suplentes, durante a noite.
§ 32 - Tomada a Sardenha, a Sicilia, a Espanha e a Provincia
Narbonense, criaram-se tantos pretores quantas as provmcias domina-
ENQUIRIDION 289
das, devendo uns tratar dos negocios urbanos, outros dos negociospro-
vmciais.
Cornelio Sila estabeleceu os processos publicos da falsidade, do
pamcidio, dos sicarios, e acrescentou quatro pretores.
Caio Julio Cesar criou dois pretores, e dois edis para zelar pelo tri-
go, que receberam o nome de cereals {cereales), de Ceres. Assim, se cria-
ram doze pretores e seis edis. 0 imperador Augusta criou dezesseis
pretores, e o imperador Claudio acrescentou mais dois para tratar dos
fideicomissos. 0 imperador Tito extinguiu um desses pretores e o impe-
rador Nerva criou um para tratar dos negocios entre o Fisco e os parti-
culares. Assim, dezoito pretores administram ajusti^a na cidade.
§ 33 - Isso se observa, quando os magistrados se acham nas suas
fun9oes; quando se ausentam, fica um, que administra ajusti^a, chama-
doprefeito da cidade (praefectus urbi). Esse prefeito era outrora nomea-
do, de cada vez, por uma lei; mais tarde, foi criado ordinariamente para
as ferias latinas, as quais se celebram anualmente. 0 prefeito dos viveres
(praefectus annonae) e o dos guardas (vigilum) nao saomagistrados, mas
se nomeiam por conveniencia, extraordinariamente. Todavia, os que
chamamos cistiberes, e mais tarde os edis, eram criados por um senatus-
consulto.
§ 34 - Em resumo, havia dez tribunes da plebe, dois consules, de-
zoito pretores, e seis edis, administrando ajusti$a.
§ 35 - Muitos e notaveis varoes professaram a ciencia do direito.
Mencionaremos os que receberam maior considera^ao entre os ro-
manos, para que se saiba quais os que formaram e transmitiram a ciencia.
§ 36 - De todos osjurisconsultos, foiTiberio Coruncanio o primei-
ro a professar publicamente o direito; os outros tratavam de estudar o
direito civil e nao o direito publico, e de preferencia respondiam a
consulentes, mais do que ensinavam. Foi Publio Papirio o primeiro
jurisconsulto quereuniu em cole^ao as leis regias. Foi seu discipulo Apio
Claudio, um dos decenvtros, que principalmente dirigiu a elabcu^ao da
Lei das XII Tabuas.
Depots deste, outro Apio Claudio, da mesma familia, distinguiu-se
por seu notavel saber; foi denominado Centimano, construiu aViaApia,
290 INSTTTUTAS DO mPERADOR JUSTINIANO
o aqueduto Claudio, e opinou para que nao se recebesse Pirro na cidade.
Escreveu sobre as a^oes, e foi o primeiro a tratar das usurpa9oes, num
livro que se perdeu. Um outro Apio Claudio, que se considera filho des-
te, foi quem inventou a letra r, pois antes se dizia Valesii em vez de Valerii,
e Fusii ao inves de Furii.1
§ 37 -Vieram depois destes: Sempronio, de grande ilustra^ao, a
quem o povo romano chamou de Sofus (o Sdbio), e ninguem, nem antes,
nem depots, foi assim denominado; Caio Cipiao Nasica, que foi chama-
do o Otimo pelo Senado, tendo recebido do Estado uma casa na Via Sa-
era, parapoder sermais facilmente consultado; e QuintoMucio, que, tendo
ddo_enYiad-o_c-omo_emhaixadoiLaos-cartagineses ,-como-lhe-ofereces sem-
dois dados, um para ser declarada a guerra, outro para ser celebrada apaz,
dando-lhe o direito de escolher, tomou os dois dados, e declarou que os
cartagineses e que deviam dizer qual preferiam.
§ 38 - Vieram, em seguida, Tiberio Coruncanio, o primeiro que
professou o direito, como flcou dito, do qual nao resta livro algum, po-
rem, restam muitos e notaveis pareceres e memoriais; Sexto EUo, e seu
innao Public Elio; e Public Atilio, que professaram corn grande sabedo-
ria. Os dois Elios foram consules, eAtUio foi o primeiro que recebeu do
povo o nome de Sapiens (sdbio).
A . /
Enio louvou Sexto Elio, havendo um livro deste que tem o nome de
tripertita (tripartido), que e, por assim dizer, o ber^odo diieito. E cha-
mado tripertita, porque contem a Lei das XU Tabuas, em seguida a inter-
preta^ao dosjuristas, e as agoes da lei. Dizem alguns que sao de sua au-
toria tres outros livros, o que os outros negam.
Catao imitou estes grandes homens, e, depois, Marco Catao, chefe
da famflia Porcia, se distinguiu. Deixou livros, e teve varios filhos, que
escieveram-obras.----------- -
§ 39 - Depois destes, apareceram PubUo Mucio, Bruto e Manflio,
que criaram o direito civil. PubUo Mucio deixou dez livros; Bruto, sete;
Manflio, tres; tendo chegado a nos os de Mamlio. Aqueles foram consu-
les, Bruto, pretor, e PubUo Mucio pontifice maximo. Poram seus disci-
u) Absurdo. A letra rja existia no alfabeto latino. Aqui, o que houve foi o fe-
n6meno fonetico do rotacismo, tendo o s intervocalico passado a r.
ENQUIRIDfON 291
pulos: Public Rutflio Rufo, que foi consul em Roma, e proconsul na Asia,
Paulo Vergmio, e Quinto Tubero, o estoico, discfpulo de Pansa, que tam-
bem foi consul.
§ 40 - Sexto Pompeu, tio patemo de Gneo Pompeu, foi da mesma
epoca, bem como CelioAntipater, o historiador, que se entregou, porcm,
mais a eloqiiencia do que a ciencia do direito, e Lucio Crasso, irmao de
Public Mucio, foi chamado Muniano, a quem Cicero denominou de
jurisconsulto ilustradfssimo.
§ 41 -Depois destes, surgiu Quinto Mucio, filho de Publio, ponti-
fice maxima, que foi o primeiro a expor sistematicamente o direito civil
em dezoito livros.
§ 42 - Foram muitos os discipulos de Mucio, mas gozam de maior
autoridade Aquilio Galo, Balbo Lucflio, Sexto Papmo e Gaio Juvencio,
dentre os quais refere Servio que Galo tinha a maior influencia na opi-
niao publica. Todavia, Sendo Sulpicio os refere, ainda que seus escritos
nao agradem, nem sejam consultados por todos. Servio leu e copiou as
obras, conservando, assim, alembranga desses escritos.
§ 43 - Conta-se que Servio Sulpicio, o primeiro dentre os oradores
depots de Cicero, foi consultar Quinto Mucio a respeito do negocio de
um amigo. Ao chegar, e a questaojuridica Ihe fosse respondida, pouco a
entendeu Servio, pelo que reperguntou-a a Quinto Mucio, respondendo-
Ihe este de novo, sem que ele ainda a entendesse.
Quinto Mucio o censurou, por nao parecer bem a um patricio, no-
bre e orador, ignorar o direito em vigor.
Servio, insultado corn a advertencia, dedicou-se ao estudo do direi-
to civil, e ouviu, como discfpulo, a muitos dos referidos, tendo aprendi-
do corn Balbo Lucflio, e principahnente corn Galo Aquflio, que morou
em Cercina, e por isso ha muitos livros seus datados de Cercina. Pereceu
em uma embaixada e ergueu-lhe o povo romano uma estatua na pra^a
publica,queseveaindanaPra9adeAugusto.Restammuitasdesuasobras,
pois deixou cerca de cento e oitenta.
§ 44 - De Balbo LucHio vieram muitos, e quase todos escreveram
livros, tais como Alfeno Varo, Aulo Offlio, Tito Cesio, Aufidio Tuca,
Aufidio Namusa, Havio Prisco, Gaio Ateio, Pacuvio, Labeao Antfstio,
Cina, pai de Labeao Antistio, e Publicio Gelio.
292 INSTITUTAS DO IMPERADOR JUSTD^ANO
Oito destes dez escreveram Uvros, que foram reunidos por Aufidio
Namusa em cento e quarenta volumes. Dentre esses discipulos, gozaram
de maior autoridade Alfeno Varo e Aulo Ofilio. Varo foi tambem c6nsul.
Offlio contmuou na ordem dos cavaleiros; era mtimo de Cesar, e escre-
veu varios Uvros, tratando de todas as partes do direito civil, pois foi o
primeiro a escrever sobre as leis da vintena (yicesimae\ e a tratar profun-
damente dajurisdigao do pretor. Antes dele, Servio escrevera dois livros
resumidos corn referenda ao edito, dedicados a Bruto.
§ 45 - Viveram, nesse tempo, Trebacio, discipulo de Cornelio
Maxima, e Aulo Cascelio, discipulo de Quinto Mucio, discipulo de
-Volcacio.Emhonradaquelerinstituiuseuherdetro^emtestamentorPublio
Mucio, neto deste. Foi tambem questor, e nao quis ter cargo mais alto,
emboraAugusto Ihe tivesse oferecido o consulado.
Diz-se que Trebacio era mais habil que Cascelio, e Cascelio mais
eloquente que Trebacio; mas Offlio era mais douto que ambos. Nao nos
restamescntosdeCascelio,anaoserumUvrodenominado5ene^cforum.
DeTrebacio temos varies livros, porem, nao sao usados corn freqiiencia.
§ 46 - Depots destes, existiu Tubero, que ouviu as U^oes de Offlio.
Era tambem patricio, e passou de orador para o direito civil, depois de ter
sido vencido na acusa^ao de Quinto Ligario perante Caio Cesar. Poi este
Quinto Ligario que, estando na praia Afncana, nao permitiu a Tubero,
enfermo, aproar, nem tomar agua, tendo par isso sido acusado, e tendo-
o defendido Cicero. Ha uma belissima ora$ao deste, que tem o nome de
Pro Quinto Ligario.
Tubero foi considerado doutissimo no direito publico e privado,
deixando varies livros sobre um e outro desses ramos. Pretendeu, toda-
via, escrever em esdlo antigo, e, por isso, os seus Uvros sao considerados
pouco agradaveis.
§ 47 - Depois deste, quem teve maior autoridade foi Ateio Capito,
que seguiu Offlio, e Antistio Labeao, que ouviu a todos, mas foi discfpu-
lo de Trebacio.
Ateio foi consul. Labeao nao quis aceitar essa honra, ao the ofe-
recerAugusto o consulado, para o qual seria eleito, mas preferiu de-
dicar-se ao estudo. Tinha o ano dividido, de modo que passava seis
meses em Roma corn os estudiosos, e nos outros seis meses se retira-
ENQUIRIDION 293
vaparaescrever os seus livros. Assim, deixou quarenta volumes, amaior
parte dos quais passaram de mao em mao. Os dois primeiros formaram
como que duas escolas opostas, porque Ateio Capito mandnha a tradi-
9ao que Ihe transmitiam, ao passo que Labeao, confiado em seu talen-
to, e em sua cultura, tendo estudado os filosofos, resolveu introduzir
mmtas inova^oes.
§ 48 -AAteio Capito sucedeuMasurio Sabino.ALabeao sucedeu
Nerva, e urn e outro aumentaram as dissensoes. Nerva foi tambem mti-
mo de Cesar. Masurio Sabino pertenceu a ordem equestre, e foi o primei-
ro a responder publicamente.
Tiberio deu mais tarde esse direito aoutrosjurisconsultos, masja o
dera anterionnente a Sabino.
§ 49 - Para que nao nos esquegamos de mencionar, sempre diremos
que, antes do tempo de Augusta, o direito de responder nao era concedi-
do pelos pnncipes, mas quem tinha confian^a nos seus estudos respon-
dia a consulentes. As respostas nao eram sigilosas, mas muitas vezes
escritas nos autos, tornando conhecidos os pareceres.
Para ter o direito maior prestigio, a estabelecer que respondessem
corn sua autoridade, Augusta foi o primeiro, e, desde esse tempo, se co-
me^ou a pedu' esse poder como um privilegio.
0 grande imperador Adriano, como Ihe pedissem ex-pretores aos
quais fosse permitido responder, disse que isso nao se pedia, pois era ja
concedido por lei, e que teria gosto de verjurisconsultos responderem a
consultas do povo.
§ 50 - A Sabino foi concedido por Tiberio Cesar o direito de res-
ponder ao povo. Foi recebido na ordem eqiiestreja em idade avan^ada,
quase corn cinquenta anos. Nao teve muitos bens de fortuna, tendo sido
sustentado principalmente por seus discipulos.
§ 51 - A este sucedeu Caio Cassio Longino, nascido de uma filha
de Tubero, que era neta de Servio Sulpfcio, e, por este motivo, chama
Servio Sulpicio de bisavo. Este foi consul corn Quartino, no tempo de
Tiberio, e teve grande autoridade, ate que Cesar o expulsou de Roma.
Tendo sido deportado para a Sardenha, foi chamado porVespasiano, e
morreu.
294 INSTFTUTAS DO IMPERADOR JUSTINIANO
A Nerva sucedeu Proculo. Foi contemporaneo de Nerva, filho, bem
como de um outro Longino, da ordem eqiiestre, o qual depois chegou ate
a pretura; mas a autoridade de Proculo foi maior que a de ambos.
Os jurisconsultos foram denominados, uns, Cassianos, e outros,
Proculeianos, tendo-se dai originado as duas escolas de Labeao e Capito.
A Cassio sucedeu Celio Sabino, que teve muita influencia no Eem-
po deVespasiano; aProculo sucedeuPegaso, que, no tempo deVespasiano,
foi prefeito da cidade; a Celio Sabino sucedeu Prisco Javoleno; aPegaso,
Celso; a Celso, pai, Celso, filho, e Prisco Ner^cio, tendosido ambos
consules. A Prisco Javoleno sucederam Aburnio Valente, Tusciano e
Salvio Juliano.

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