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HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIZAÇÃO

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HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIZAÇÃO
Aula 1: História da África Pré-Colonização
Apresentação
Nesta aula, você irá examinar alguns dos estereótipos existentes sobre o continente africano, desconstruindo-os e analisando as particularidades existentes na história da África. Além disso, identificará a necessidade de alargar o uso das fontes documentais para o estudo da história africana, sobretudo no que diz respeito à oralidade.
Objetivo
Identificar os preconceitos que cercam o estudo da história africana;
Reconhecer as múltiplas análises acerca das histórias do continente africano;
Analisar as possíveis contribuições de outras disciplinas para o estudo das histórias africanas.
A África nos tempos históricos
Atividade
1. Um dos grandes desafios no estudo da história africana é conseguir partilhar o olhar que os africanos têm de seu passado, para compreender que, na realidade, existem muitas Áfricas. Antes de começar o estudo desta aula, veja o vídeo Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história disponível na Internet e faça uma pequena resenha sobre os perigos de uma história única.
2. https://www.youtube.com/watch?v=D9Ihs241zeg
A África dos Estereótipos
 => Boa parte do sucesso desse personagem se deve ao fato de sua trajetória misturar passagens mitológicas que remetem à história de fundação de Roma – na qual os gêmeos Rômulo e Remo foram alimentados por um animal, no caso, uma loba –, com cenas românticas que fazem lembrar o amor proibido de Romeu e Julieta.
O cenário africano criado também foi de grande importância para notoriedade de Tarzan. A amizade com a macaca Chita, a agilidade em caminhar pela selva, a rapidez com que pulava de um cipó para o outro, as lutas ferozes travadas contra leões e leopardos foram aspectos da vida do herói que encantaram os leitores.
Uma das histórias mais famosas da literatura mundial ambientada no continente africano é a do Tarzan. Escrito pelo estadunidense Edgar Rice Burroughs, em 1912, o romance Tarzan dos Símios conta a história de um menino branco, filho de ingleses, que ainda bebê acompanha seus pais a uma viagem para África.
 => Devido a uma sequência de tragédias, os pais de Tarzan morrem e ele é criado por uma macaca em meio à selva africana. No início de sua juventude, mesmo sofrendo por ser diferente dos demais (já que acreditava ser um símio), Tarzan se tornou líder do grupo de macacos que o adotara.
A vida do herói muda drasticamente quando ele salva um grupo de norte-americanos que havia sido deixado na África por marujos revoltosos. A partir deste episódio, Tarzan se apaixona por Jane (uma das pessoas que ele salvou), descobre ser filho de uma nobre família inglesa e vive o conflito da escolha entre viver na África ou na Europa.
Comentário
Tarzan se tornou um personagem tão cativante que outros autores passaram a narrar suas incríveis histórias. Atualmente, além de inúmeros romances é possível conhecer a epopeia de Tarzan por meio de filmes, histórias em quadrinhos e desenhos animados.
Na realidade, mais do que encantar, tais referências ao continente africano ajudaram a formar uma determinada ideia de África.
Ainda que se trate de uma obra fictícia escrita por um homem que nunca esteve no continente africano, Tarzan reforçou uma imagem já difundida da África, na qual o continente aparece como uma região homogênea, terra de leões, girafas, zebras, rinocerontes e também de algumas tribos compostas por homens e mulheres negros que se vestiam como leopardos e possuíam pouco contato com o que se costuma chamar de “mundo civilizado”.
Em outras palavras, a história de Tarzan coroou, no Ocidente, a imagem de uma “África Selvagem”.
Por diversas razões, a “África de Tarzan” continua presente até os dias de hoje. Um exemplo disso é o fato de muitas crianças em idade escolar avançada (e por vezes até adultos) não saberem precisar se a África é um país ou um continente.
Tal confusão - que pode parecer infantil, ou até mesmo ingênua -, retrata o grande desconhecimento que existe sobre a história africana e a tendência em compreender a África como uma região única, sem diferenças internas.
E você, o que sabe sobre a África?
Desconstruindo o Mito da “África selvagem”
Ainda que a África possua florestas densas e seja habitada por leões, macacos e elefantes, caracterizá-la unicamente como uma grande selva seria um erro ao mesmo tempo geográfico e histórico.
 => Do ponto de vista geográfico, basta uma rápida análise do mapa físico do continente para observar que a floresta é uma das diversas vegetações existentes na África.
Além das florestas características da zona equatorial, a África ainda possui outros cinco tipos de vegetação:
As savanas
Que na realidade são o hábitat natural dos animais de grande porte
As estepes
Mediterrânea
Desértica
Oásis
Cada uma dessas vegetações está relacionada a um clima diferente (que leva o mesmo nome das vegetações), que por sua vez estão ordenados de forma muito parecida a partir da linha do Equador tanto ao norte quanto ao sul. Tal atributo faz com a que a África seja chamada de “continente espelho”.
O mesmo mapa ainda demonstra uma grande diferença no quadro pluviométrico africano. As regiões próximas à linha equatorial (caracterizadas tanto pelas florestas como pelas savanas) são as que possuem a maior concentração de rios e lagos. Em seguida estão as regiões de estepes que têm poucos, mas extensos rios; e por fim os dois grandes desertos africanos (o Saara e o Calahari) que possuem um único rio perene cada.
Embora não esteja explicitado nesse mapa, o continente ainda apresenta diferentes relevos e diversas paisagens litorâneas, além de estreitas relações com outros continentes, devido à sua proximidade com a Europa (via Mar Mediterrâneo) e com o Oriente Médio (via Mar Vermelho).
Frente a esse diversificado quadro geográfico é impossível pensar em uma única África. A trajetória de povos que ocuparam as regiões desérticas não pode ser a mesma dos povos que habitavam, por exemplo, a região dos Grandes Lagos ou dos grupos que se organizaram nas margens dos rios Senegal e Gâmbia. Desta forma, tal como no continente europeu, asiático e americano, o hábitat natural teve grande influência nas diferentes formas de organização social dos povos africanos.
Embora o continente africano seja muito extenso, a concentração das bacias hidrográficas em determinadas regiões e a relativa falta de rios e lagos em outras localidades acabou criando condições às quais os grupos humanos tiveram que adaptar-se. Por mais contraditório que possa parecer, uma das principais estratégias de sobrevivência das sociedades africanas foi se organizar em pequenos grupos que ficaram conhecidos como as famosas “tribos” da África.
Dessa forma, é possível afirmar que a grande quantidade de pequenas sociedades no continente africano é decorrente do conhecimento que seus habitantes possuem sobre a natureza que fazem parte, assunto que será mais bem trabalhado na Aula 3 deste curso.
O importante a sublinhar neste momento é que a formação das “tribos” africanas não está relacionada a nenhum pretenso atraso dessas populações, como se acreditou durante muitos anos.
 => Ao contrário do que disse o filósofo alemão Hegel no século XIX, a África tem, sim, inúmeras histórias. O fundamental é termos as ferramentas certas para conseguir enxergá-las.
Fontes e documentos para estudar a história da África
Um dos grandes problemas encontrados pelos historiadores ocidentais para estudar a história da África devia-se ao fato de que a maior parte das sociedades do continente serem ágrafas, ou seja, elas não haviam desenvolvido a escrita, ou então não a usavam de forma sistemática.
Até meados do século XX, os povos que viveram na África - bem como em outras regiões do mundo como partes da Ásia, América e Oceania - eram considerados desprovidos de história, porque não haviam feito registros escritos de seu passado.
Sendo assim, os primeiros historiadores do continente africano foram os antropólogos, arqueólogos e linguistas. Com o intuito de estudar manifestações culturais, vestígiosmateriais e a imensa pluralidade de línguas faladas na África, esses profissionais conseguiram resgatar muitos fatos e costumes dos povos africanos, chegando a estudar sociedades milenares.
Ao longo do século XX, a História Ocidental passou por diversas mudanças, sendo a principal delas o alargamento das fontes documentais, ou seja, das ferramentas do historiador. Ainda que a escrita seja a principal forma de acessar o passado, os historiadores do século XX ampliaram seu diálogo com outras disciplinas, sobretudo com a:
Tal ampliação permitiu que novas fontes passassem a fazer parte do escopo documental dos historiadores, e que a África passasse a ser vista como um continente possuidor de história.
 => Paralelamente à reorientação metodológica dos estudos de história, a partir da década de 1920, no contexto da luta das colônias africanas por liberdade, muitos africanos (de diferentes regiões) começaram a reivindicar a possibilidade de contarem a história de seu povo.
Importantes nomes, como Amadou Hampatê Ba e Joseph Ki-Zerbo, apresentaram para o Ocidente uma África pouco conhecida, mas de uma complexidade ímpar. Uma das maiores contribuições desses historiadores foi apresentar para o Ocidente, de maneira palatável e compreensível, que a África era um continente complexo, que precisava ser analisado dentro de sua complexidade, mas que, em muitas vezes, sua história estava mais próxima da perspectiva eurocêntrica do que os próprios europeus imaginavam.
Paralelamente à reorientação metodológica dos estudos de história, a partir da década de 1920, no contexto da luta das colônias africanas por liberdade, muitos africanos (de diferentes regiões) começaram a reivindicar a possibilidade de contarem a história de seu povo.
No entanto, um dos temas que ainda se apresenta como um desafio para o estudo da história africana e que pode ser ampliado como uma questão para a disciplina de História como um todo, é trabalhar com a oralidade. Como já foi apontado, antes do contato com os muçulmanos e com os europeus, a imensa maioria das sociedades africanas era ágrafa. A principal forma que elas desenvolveram para guardar e resgatar seu passado foi por meio da oralidade, ou seja, da palavra falada.
Saiba mais
Como este é um tema complexo, ele será retomado em outros momentos do curso. Todavia, é fundamental compreender o que os africanos entendiam por oralidade, e, para isso, o mais adequado é examinar o que um africano escreveu sobre o assunto. 
A oralidade como ferramenta para o estudo dos povos africanos:
“Quando falamos de tradição em relação à história africana, referimo-nos à tradição oral, e nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apoie nessa herança de conhecimentos de toda espécie, pacientemente transmitidos de boca a ouvido, de mestre a discípulo, ao longo dos séculos. Essa herança ainda não se perdeu e reside na memória da última geração de grandes depositários, de quem se pode dizer são a memória viva da África.
Entre as nações modernas, onde a escrita tem precedência sobre a oralidade, onde o livro constitui o principal veículo da herança cultural, durante muito tempo julgou-se que povos sem escrita eram povos sem cultura. Felizmente, esse conceito infundado começou a desmoronar após as duas últimas guerras, graças ao notável trabalho realizado por alguns dos grandes etnólogos do mundo inteiro. Hoje, a ação inovadora e corajosa da Unesco levanta ainda um pouco mais o véu que cobre os tesouros do conhecimento transmitidos pela tradição oral, tesouros que pertencem ao patrimônio cultural de toda a humanidade. Para alguns estudiosos, o problema todo se resume em saber se é possível conceder à oralidade a mesma confiança que se concede à escrita quando se trata do testemunho de fatos passados. No meu entender, não é esta a maneira correta de se colocar o problema. O testemunho, seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem. Não faz a oralidade nascer a escrita, tanto no decorrer dos séculos como no próprio indivíduo? Os primeiros arquivos ou bibliotecas do mundo foram o cérebro dos homens. Antes de colocar seus pensamentos no papel, o escritor ou o estudioso mantém um diálogo secreto consigo mesmo. Antes de escrever um relato, o homem recorda os fatos tal como lhe foram narrados ou, no caso de experiência própria, tal como ele mesmo os narra.” 
BÂ, Amadou Hampaté.
 A tradição Viva. In: Introdução à Cultura Africana. Lisboa, Edições 70, 1977.
Ao longo do curso, nós iremos estudar diferentes povos do continente africano, fazendo uso das ferramentas disponíveis para o historiador, inclusive a oralidade.
O objetivo é conseguirmos compreender os aspectos comuns existentes entre muitos povos da África, mas, sobretudo, entender a multiplicidade e complexidade que circunda o estudo deste continente para que possamos compreender a nossa própria história de maneira mais aprofundada. Comecemos com aquela África que nos é mais próxima. Bons estudos!
HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIZAÇÃO
Aula 1- A África Inventada: a questão das fontes e a contribuição de outras disciplinas.
Conteúdo Programático desta aula
· Identificar os preconceitos que cercam o estudo da história africana;
· Reconhecer as múltiplas análises acerca das histórias do continente africano;
· Analisar as possíveis contribuições de outras disciplinas para o estudo das histórias africanas. 
A ÁFRICA DOS ESTEREÓTIPOS
 => Uma das histórias mais famosas da literatura mundial ambientada no continente africano é Tarzan. Escrito pelo estadunidense Edgar Rice Burroughs em 1912, Tarzan se tornou uma personagem tão cativante que outros autores passaram a narrar suas incríveis histórias.
 => Hergé, Tintim no Congo, 1931
Na realidade, mais do que encantar, as referências feitas ao continente africano ajudaram a formar uma determinada ideia de África, que se perpetrou pelas décadas seguintes. 
DESCONSTRUINDO O MITO DA “ÁFRICA SELVAGEM”
 => Do ponto de vista geográfico, basta uma rápida análise do Mapa Físico do continente para observar que a floresta é uma das diversas vegetações existentes na África. 
=> A diversidade geográfica é apenas um dos exemplos. A África é um continente que, atualmente, possui 55 países e onde são faladas mais de 2 mil línguas. 
 
EXPLORANDO O TEMA
Frente a esse diversificado quadro geográfico é impossível pensar em uma única África. E, para compreender um pouco melhor essa diversidade africana, iremos assistir o vídeo da romancista nigeriana Chimamanda Adiche:
http://www.youtube.com/watch?v=ZUtLR1ZWtEY
FONTES E DOCUMENTOS PARA ESTUDAR A HISTÓRIA DA ÁFRICA
· Antropologia
· Arqueologia
· Geografia
· Linguística
A ORALIDADE COMO INSTRUMENTO DO HISTORIADOR
“Um estudioso que trabalha com tradições orais deve compenetrar-se da atitude de uma civilização oral em relação ao discurso, atitude essa, totalmente diferente da de uma civilização onde a escrita registrou todas as mensagens importantes. Uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um meio de comunicação diária, mas também como um meio de preservação da sabedoria dos ancestrais, venerada no que poderíamos chamar elocuções-chave, isto é, a tradição oral. A tradição pode ser definida, de fato, como um testemunho transmitido verbalmente de uma geração para outra. 
Quase em toda parte, a palavra tem um poder misterioso, pois palavras criam coisas. Isso, pelo menos, é o que prevalece na maioria das civilizações africanas. Os Dogon sem dúvida expressaram esse nominalismo da forma mais evidente; nos rituais constatamos em toda parte que o nome é a coisa, e que “dizer” é “fazer”.
A oralidade é uma atitude diante da realidade e não a ausência de uma habilidade. As tradições desconcertam o historiador contemporâneo – imerso em tão grande número de evidências escritas, vendo-se obrigado, por isso, a desenvolver técnicas de leitura rápida – pelo simples fato de bastar à compreensão a repetição dos mesmos dados em diversas mensagens. 
“As tradições requerem um retorno contínuo à fonte.”
J.Vansina. A tradição oral e sua metodologia.
História da África Pré Colonização
Aula 2: "Os Herdeiros de Ododua”: Ifé e Benin
Apresentação na África Ocidental
Nesta aula, serão analisados os principais aspectos sociopolíticos do Egito Antigo. Conheceremos parte da dinâmica do Reino da Núbia (também conhecido como Kush) e examinaremos as constantes relações estabelecidas entre as duas sociedades durante a Antiguidade Clássica.
Objetivo
Analisar aspectos gerais no Egito Antigo;
Examinar a organização sociopolítica e econômica do Reino da Núbia;
Relacionar a trajetória do Egito faraônico com a dinâmica política dos núbios.
Reflexão
Antes de iniciarmos a nossa aula, vamos realizar uma breve atividade de reflexão!
 => O papiro acima apresenta uma rainha Núbia sendo servida por seus serviçais oriundos do Egito. Antes de iniciar a aula, elabore uma hipótese sobre as possíveis razões que criaram as condições para a produção dessa imagem. Após a leitura da aula, analise a hipótese levantada.
O Egito
 => O mapa ao lado mostra a localização do Reino do Antigo Egito, cuja existência estava fortemente vinculada ao rio Nilo. Com todas essas vantagens naturais, as famílias que passaram a viver nessa região encontraram as condições ideais para a produção da agricultura. Trigo, cevada, cebolas, rabanetes, ervilhas, feijões, uvas, figos, tâmaras e oliveiras. Esses são exemplos de alguns dos gêneros produzidos na região.
A vegetação rasteira facilitou a criação de gado, carneiros e porcos que junto com os grãos e frutos cultivados proporcionaram uma alimentação rica e variada. Como a falta de alimentos não era um problema para as aldeias que viviam às margens do Nilo, a população da região cresceu rapidamente.
Por volta do ano 3200 a.C., as aldeias que tinham seus chefes e deuses próprios começaram a se unir e formaram dois reinos: o Alto e o Baixo Egito. Pouco tempo depois, o rei Menés do Alto Egito, querendo ampliar suas terras e controlar toda a produção agrícola da região, conquistou o Baixo Egito formando um só reino cuja capital era Mênfis.
A partir de então, o Egito passou a ser governado por famílias reais e as antigas aldeias deram lugar às cidades onde foi possível o desenvolvimento da escrita, da arquitetura, e das artes.
 => Durante mais de três mil anos, o soberano do Egito era o faraó, a principal figura desse reino. Tido como reencarnação de Hórus (o Deus-Falcão) e como filho de Amon-Rá, o Deus Sol, o faraó era uma figura sagrada, uma espécie de deus na terra, e por isso a vida de todo Egito girava em torno dele, o que lhe dava muitos poderes. Munido de seu cetro e seu cajado, símbolos de autoridade e que representavam os antigos reinos do Alto e do Baixo Egito, o faraó tinha poder de vida e morte sobre todo seu reino.
Além disso, era ele quem cuidava do sistema de irrigação que mantinha as terras férteis, quem decidia assuntos referentes à justiça e administração do Egito e ainda era o comandante principal do exército em tempos de guerra.
 => Apesar das diversas tarefas realizadas, o faraó tinha as melhores condições de vida de todo o Egito. Morava com sua família em um suntuoso palácio, vestia roupas e maquiagens requintadas, estava sempre usando joias de ouro e pedras precisas, tomava banhos relaxantes, alimentava-se das melhores carnes e frutas da região e bebia os melhores vinhos.
Para governar todo o reino, o faraó recebia ajuda de nobres, pessoas que faziam parte da família real ou que tinham enriquecido ao longo da vida. Esses nobres cuidavam de assuntos administrativos menores, resolviam pequenos problemas jurídicos e vigiavam a cobrança de impostos. Os nobres costumavam ser donos de terras, o que lhes garantia uma vida tranquila e com muito conforto.
Era no campo que os nobres construíam admiráveis casas que, embora fossem menores que o palácio real, eram compostas por muitos cômodos. Quartos, salas íntimas, salas de depósito de alimentos, cozinha, estábulo, capela familiar, jardins e até mesmo pequenos lagos artificiais faziam parte dessas residências.
No interior das casas era possível encontrar camas, mesas e cadeiras de madeira, colchões e almofadas de couro, além de muitos vasos e recipientes de cerâmica ricamente ornados.
 => Os soldados foram importantes personagens da história do Egito Antigo. Graças ao uso do cavalo e ao manejo de armas como arco e flecha, punhais, machados de guerra, espadas e cimitarra, o exército do Egito conseguiu conquistar a Núbia, ampliar suas redes comerciais e também expulsar o povo hicso (povo originário da atual Síria que dominou o Egito por volta do ano de 1600 a.C. Cerca de quarenta anos depois os hicsos foram expulsos pelos egípcios). A importância desses soldados era tão grande, que os principais chefes do exército acabavam se tornando homens ricos e poderosos.
Contudo, a principal força do Egito eram seus trabalhadores.
Havia os escribas, os artesãos, os comerciantes e os agricultores.
 => Os escribas eram praticamente as únicas pessoas que sabiam ler e escrever em todo reino. Por isso eles ocupavam altos cargos administrativos no governo do Egito, documentando e controlando a cobrança de impostos, a produção de alimentos, a escrita de leis e costumes e contando as histórias dos faraós. No entanto, para se tornar um escriba era necessário muito tempo de estudo, pois o alfabeto hieroglífico era composto por inúmeros símbolos, sendo que cada um deles poderia representar até cinco palavras. Mas foi graças aos escribas e às mensagens deixadas nos papiros, paredes e túmulos que parte da história egípcia chegou até nós.
 => O Egito também tinha um importante grupo de artesãos. Os mais especializados deles comandavam a construção de casas, túmulos e templos religiosos e se assemelham muito aos arquitetos de hoje em dia, pois eles conheciam materiais, técnicas de construção, matemática e astrologia. Havia também artesãos que trabalhavam com o fabrico de móveis como os carpinteiros e os marceneiros, aqueles que trabalhavam com minérios como o cobre, o ferro e o ouro, e outros que faziam belos objetos de arte, como pinturas e esculturas. Ainda que tenham existido diferentes tipos de artesanato, apenas uma pequena parcela da população se dedicava a essa atividade que era passada de geração para geração.
 => Assim como os escribas, os comerciantes também eram fundamentais para a vida do Egito, pois eram eles que faziam o comércio desse reino com outras regiões do norte da África e até mesmo com sul da Europa e com o Oriente Médio. O comércio era feito tanto por terra (no lombo de burros), como nos rios, por meio das embarcações construídas pelos egípcios. Os principais produtos comercializados pelos negociantes egípcios eram o vinho e os o artesanato feito no reino. Essas mercadorias eram trocadas com o ouro e o cobre da Núbia; o marfim, as peles de animal e as penas de avestruz vindas da África subsaariana; a cerâmica, os cavalos, a prata e os escravos do Líbano; e as cerâmicas produzidas em Creta.
 => A maior parte da população do Egito era formada por camponeses e a vida dessas pessoas era regrada de acordo com as fases do Nilo. Julho era o mês de chuva na região e consequentemente da inundação das margens do rio. Nesse período, os camponeses não trabalhavam na terra e muitas vezes eram empregados nas construções do faraó. Quando a época de chuvas passava, em novembro, os camponeses aravam o solo e jogavam as sementes.
Aos poucos a água do Nilo penetrava e irrigava as plantações. No fim de março se iniciava a colheita, principalmente do trigo, produto que era levado para o celeiro. Lá o trigo era debulhado pelas mulheres e parte dos grãos guardada para o consumo das famílias camponesas. O restante era utilizado para o pagamento dos tributos cobrados pelo faraó e o que sobrava era comercializado.
 => Os trabalhadores egípcios costumavam construir suas casas em regiões altas para que elas não fossem inundadas na época de cheia do Nilo. Eles moravam em casas retangulares construídas com argila amassada ou tijolos de barro seco, cujas portas e janelas eram feitasde madeira; tanto a argila como os tijolos de barros eram feitos a partir da mistura da lama retirada do leito do Nilo com areia.
As casas mais pobres tinham apenas um cômodo sem nenhuma mobília, mas era o abrigo que as famílias tinham nas noites frias que faziam na região próxima ao deserto. As residências dos trabalhadores mais ricos podiam ter até seis cômodos e costumavam ser pintadas com cores fortes e muito iluminadas pelo sol durante o dia.
Por fim, na condição social mais baixa estavam os escravos. Eles realizavam as atividades árduas e penosas como o trabalho nas minas; a construção de pirâmides e de templos religiosos; e até a preparação dos corpos que seriam mumificados. Esses escravos não eram egípcios e sim pessoas oriundas de regiões que haviam sido conquistadas pelo Egito. Por serem considerados inferiores eram eles que faziam as atividades mais execradas pelos egípcios. Também eram eles que tinham as piores condições de vida, dormindo no chão e se alimentando pouco.
 => Os egípcios eram politeístas, acreditavam em diversos deuses. Parte dos deuses egípcios estava ligada aos fenômenos da natureza, como o Sol, a Lua e a terra; outros misturavam a forma animal com a forma humana (os deuses antropozoomórficos); e também havia os deuses que representavam ideias como honra e justiça. Para cada um deles foi construído um templo que ficava sob a responsabilidade de sacerdotes e sacerdotisas.
Esses homens e mulheres viviam para a religião e cuidavam para que os templos fossem respeitados e que os deuses fossem corretamente cultuados. Os deuses mais importantes, como Amon-Rá, o deus criador, teve uma cidade inteira construída em sua homenagem chamada Heliópolis.
A partir do ano 300 a.C, depois de inúmeras disputas com a Núbia, e com povos do Oriente Médio e do Sul da Europa, o Império dos faraós caiu nas mãos dos persas e, duzentos anos depois, após o suicídio de Cleópatra, se transformou em uma província de Roma. Contudo, durante seus quase três mil anos de existência, o Egito teve importantes faraós, desenvolveu diversas técnicas de construção civil e naval, criou diferentes tipos de cosméticos, de jogos e brinquedos, influenciou outras regiões do mundo e deixou para a posteridade monumentos que comprovam a importância de sua história.
A Núbia
 => A Núbia era uma região que ficava ao sul do Antigo Egito e que abrangia o começo do rio Nilo e as áreas próximas que hoje fazem parte dos países do Egito, da Etiópia e do Sudão. Durante milhares de anos, a Núbia teve grande importância na história da África, pois foi por meio dessa região que ocorreu o primeiro contato entre a África subsaariana com o norte do continente. Graças à Núbia, que persas, gregos, romanos e muçulmanos souberam da existência de uma África que ficava ao sul do deserto do Saara.
O reino era formado por diferentes cidades que viviam da intensa atividade comercial. Conforme dito anteriormente, a Núbia ligava regiões distintas do continente africano e isso transformou Kush em um grande entreposto de trocas.
Saiba mais
Junto com os comerciantes que viviam transitando e negociando o que era produzido no Antigo Egito com as peles e marfins vindas da África subsaariana, as cidades cuxitas também abrigavam diferentes tipos de artesãos. 
A história da Núbia.
 => A história da Núbia é longa. Os primeiros povos começaram a ocupar a região por volta do ano 7000 a.C., e eram formados por homens e mulheres de pele negra que foram chamados pelos gregos e romanos de etíopes, ou seja: “aqueles que tem a pele negra”.
Por volta de 3200 a.C. iniciou-se a formação do mais importante reino núbio: Kush. De acordo com os documentos da época, Kush foi um reino governado pela mesma linhagem real, o que garantiu a manutenção de suas tradições. O rei era escolhido dentro da família real e depois a escolha era confirmada por um oráculo. Embora tivesse grande poder, o rei cuxita (nome dado aos habitantes do reino de Kush) deveria governar de acordo com os costumes do reino. Caso cometesse algum delito grave, como o desrespeito a deuses, era possível que os sacerdotes o obrigassem a cometer suicídio como forma de pagar por seu erro. As mulheres pertencentes à família real tinham papel importante em Kush. A chamada rainha-mãe era responsável pelas principais cerimônias religiosas do reino e, em alguns casos chegou a exercer cargos de chefia sob o título de “Senhor das Duas Terras”.
O rei era o chefe supremo que controlava toda a administração do reino. O palácio real também era um grande centro administrativo no qual trabalhavam os chefes do tesouro, chefes de arquivo, chefes de celeiro e os escribas, além dos comandantes militares. Todos esses altos funcionários eram originários de famílias nobres e auxiliavam o rei a administrar Kush.
Os sacerdotes, também provenientes da nobreza, cuidavam das cerimônias e dos templos religiosos do reino. Os deuses cultuados pelos cuxitas tinham correspondência com os deuses existentes no Egito Antigo. Junto com os deuses egípcios (Ísis, Tot, Horus, etc.), os cuxitas também acreditavam no deus-leão Apedemak que era um deus guerreiro representado pela cabeça de um leão, e em Sebiumeker que era tido como o deus criador.
 => Marceneiros e carpinteiros construíam diferentes tipos de móveis que ornavam as casas mais ricas do império. Os ferreiros e as ceramistas fabricavam vasilhas e instrumentos cortantes que eram utilizados diariamente pelos cuxitas; acredita-se que foram os ferreiros da Núbia que ensinaram os povos que viviam na África Subassariana a trabalhar com o ferro e outros metais como o cobre e o próprio ouro.
Os joalheiros eram os artesãos que mais ganharam dinheiro com a venda de suas joias. O ouro utilizado na produção dessas joias era retirado das minas localizadas próximas ao Mar Vermelho e que representaram a maior riqueza do reino e de toda Núbia.
 => Contudo, a maior parte da população de Kush era formada por camponeses. Assim como ocorria no Egito Antigo, as margens do Nilo eram terras férteis que facilitavam a produção de cevada, trigo, lentilha, pepino, melão, abóbora e uva (usada na produção de vinho).
 => No entanto, a criação de animais era a principal atividade econômica do reino. Junto com o gado de chifre longo e chifre curto, os pastores criavam carneiros, cabras e cavalos (que eram utilizados como animais de carga). A atividade pastoril era tão importante que, em alguns momentos, as terras férteis de Kush pararam de produzir cereais e se transformaram em grandes pastos.
 Pirâmides do Reino de Kush, cidade de Meroe
Cerca de seiscentos anos depois, os cuxitas conseguiram expulsar os egípcios e retomar o governo sobre sua terra. A capital do reino Kush foi transferida de Kerma para Napata, cidade na qual é possível observar a forte influência que os egípcios tiveram sobre os núbios. A escrita dos napatamos era muito parecida com o sistema de hieróglifos desenvolvido no Egito, e os reis passaram a ser enterrados em pirâmides.
A posição estratégica da Núbia e a abundância de ouro e cobre fizeram com que a região fosse constantemente atacada por povos vizinhos. Por volta do ano de 1500 a.C., a região foi invadida pelos egípcios, que se aproveitaram da localização estratégica da Núbia e passaram a controlar o comércio e a retirada do ouro. No entanto, a dominação egípcia não significou o fim do reino Kush.
Por volta do ano 600 a.C. Napata foi invadida por outros povos da região. A cidade de Meroe se tornou a nova capital do reino e passou a atrair as rotas comerciais que ligavam a África subsaariana com o Mediterrâneo. Graças à vasta floresta existente na cidade, o ferro passa a ser uma das mercadorias mais trabalhadas e comercializadas da cidade. Durante mais de quinhentos anos, Meroe constituiu um importante entreposto comercial.
A soberania do reino de Kush chegou a seu final com a invasão romana, contudo, os vestígios de sua história são um convite para estudar uma África pouco conhecida. Bons estudos!
HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIZAÇÃO
Aula 2- A África “próxima”: o continente africano na AntiguidadeClássica
Conteúdo Programático desta aula
· Analisar aspectos gerais do Egito Antigo;
· Examinar a organização sociopolítica e econômica do reino da Núbia;
· Relacionar a trajetória do Egito faraônico com a dinâmica política dos núbios.
A “DÁDIVA DO NILO”
 => “O Egito é uma Dádiva do Nilo”. 
Com essa frase o historiador Heródoto sintetizou a dependência que os egípcios tinham em relação ao rio Nilo.
A UNIFICAÇÃO
 => Por volta do ano 3200 a.C., as aldeias que tinham seus chefes e deuses próprios começaram a se unir e formaram dois reinos: o Alto e o Baixo Egito. Pouco tempo depois, o rei Menés do Alto Egito, querendo ampliar suas terras e controlar toda a produção agrícola da região conquistou o Baixo Egito formando um só reino cuja capital era Mênfis. A partir de então, o Egito passou a ser governado por famílias reais e as antigas aldeias deram lugar às cidades onde foi possível o desenvolvimento da escrita, da arquitetura, e das artes.
OS FARAÓS
Durante mais de três mil anos, o soberano do Egito era o faraó, a principal figura desse reino. Tido como reencarnação de Hórus (o Deus-Falcão) e como filho de Amon-Rá, o Deus Sol, o faraó era uma figura sagrada, uma espécie de deus na terra, e por isso a vida de todo Egito girava em torno dele, o que lhe dava muitos poderes. Munido de seu cetro e seu cajado, símbolos de autoridade e que representavam os antigos reinos do Alto e do Baixo Egito, o faraó tinha poder de vida e morte sobre todo seu reino. Além disso, era ele quem cuidava do sistema de irrigação que mantinha as terras férteis, quem decidia assuntos referentes à justiça e administração do Egito e ainda era o comandante principal do exército em tempos de guerra.
TRABALHADORES DO EGITO
 => A maior parte da população do Egito era formada por camponeses e a vida dessas pessoas era regrada de acordo com as fases do Nilo. Julho era o mês de chuva na região e consequentemente da inundação das margens do rio. Nesse período, os camponeses não trabalhavam na terra e muitas vezes eram empregados nas construções do faraó. Quando a época de chuvas passava, em novembro, os camponeses aravam o solo e jogavam as sementes. Aos poucos a água do Nilo penetrava e irrigava as plantações.
 => O Egito também tinha um importante grupo de artesãos. Os mais especializados deles comandavam a construção de casas, túmulos e templos religiosos e se assemelham muito aos arquitetos de hoje em dia, pois eles conheciam materiais, técnicas de construção, matemática e astrologia. Havia também artesãos que trabalhavam com o fabrico de móveis como os carpinteiros e os marceneiros, aqueles que trabalhavam com minérios como o cobre, o ferro e o ouro, e outros que faziam belos objetos de arte, como pinturas e esculturas.
 => Os escribas eram praticamente as únicas pessoas que sabiam ler e escrever em todo reino. Por isso eles ocupavam altos cargos administrativos no governo do Egito, documentando e controlando a cobrança de impostos, a produção de alimentos, a escrita de leis e costumes e contando a histórias dos faraós. No entanto, para se tornar um escriba era necessário muito tempo de estudo, pois o alfabeto hieroglífico era composto por inúmeros símbolos, sendo que cada um deles poderia representar até cinco palavras.
RELIGIÃO ENTRE OS EGÍPCIOS
 => Os egípcios eram politeístas e acreditavam em diversos deuses. Parte dos deuses egípcios estava ligada aos fenômenos da natureza, como o Sol, a Lua e a terra; outros misturavam a forma animal com a forma humana (os deuses antropozoomórficos); e também havia os deuses que representavam ideias como honra e justiça. Para cada um deles foi construído um templo que ficava sob a responsabilidade de sacerdotes e sacerdotisas. Esses homens e mulheres viviam para a religião e cuidavam para que os templos fossem respeitados e que os deuses fossem corretamente cultuados. 
NÚBIA
 => Os primeiros povos começaram a ocupar a região por volta do ano 7000 a.C., e eram formados por homens e mulheres de pele negra que foram chamados pelos gregos e romanos de etíopes, ou seja: “aqueles que tem a pele negra”.
 => Por volta de 3200 a.C. iniciou-se a formação do mais importante reino núbio: Kush. De acordo com os documentos da época, Kush foi um reino governado pela mesma linhagem real, o que garantiu a manutenção de suas tradições. O rei era escolhido dentro da família real e depois a escolha era confirmada por um oráculo. Embora tivesse grande poder, o rei cuxita (nome dado aos habitantes do reino de Kush) deveria governar de acordo com os costumes do reino.
A IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO
 => Os sacerdotes, também provenientes da nobreza, cuidavam das cerimônias e dos templos religiosos do reino. Os deuses cultuados pelos cuxitas tinham correspondência com os deuses existentes no Egito Antigo. Junto com os deuses egípcios (Ísis, Tot, Horus, etc.), os cuxitas também acreditavam no deus-leão Apedemak que era um deus guerreiro representado pela cabeça de um leão, e em Sebiumeker que era tido como o deus criador.
A SOCIEDADE NÚBIA
 => A sociedade Núbia era tão complexa quanto o Egito faraônico:
Abaixo dos reis, encontravam-se os nobres, os sacerdotes, guerreiros (habilidosos arqueiros), trabalhadores das cidades, camponeses e alguns escravos.
Marceneiros e carpinteiros construíam diferentes tipos de móveis que ornavam as casas mais ricas do império. Os ferreiros e as ceramistas fabricavam vasilhas e instrumentos cortantes que eram utilizados diariamente pelos cuxitas; acredita-se que foram os ferreiros da Núbia que ensinaram os povos que viviam na África Subassariana a trabalhar com o ferro e outros metais como o cobre e o próprio ouro. Os joalheiros eram os artesãos que mais ganharam dinheiro com a venda de suas joias. O ouro utilizado na produção dessas joias era retirado das minas localizadas próximas ao Mar Vermelho e que representaram a maior riqueza do reino e de toda Núbia. 
O COMÉRCIO DOS NÚBIOS
 => A posição estratégica da Núbia e a abundância de ouro e cobre fizeram com que a região fosse constantemente atacada por povos vizinhos. Por volta do ano de 1500 a.C., a região foi invadida pelos egípcios, que se aproveitaram a localização estratégica da Núbia e passaram a controlar o comércio e a retirada o ouro. No entanto, a dominação egípcia não significou o fim do reino Kush.
DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
Cerca de seiscentos anos depois, os cuxitas conseguiram expulsar os egípcios e retomar o governo sobre sua terra. A capital do reino Kush foi transferida de Kerma para Napata, cidade na qual é possível observar a forte influência que os egípcios tiveram sobre os núbios. A escrita dos napatamos era muito parecida com o sistema de hieróglifos desenvolvidos no Egito, e os reis passaram a ser enterrados em pirâmides.
Por volta do ano 600 a.C. Napata foi invadida por outros povos da região. A cidade de Meróe se tornou a nova capital do reino e passou a atrair as rotas comerciais que ligavam a África subsaariana com o Mediterrâneo. Graças à vasta floresta existente na cidade, o ferro passa a ser uma das mercadorias mais trabalhadas e comercializadas da cidade. Durante mais de quinhentos anos Meroé constituiu um importante entreposto comercial. A soberania do reino de Kush chegou a seu final com a invasão romana, contudo, os vestígios de sua história são um convite para estudar uma África pouco conhecida.
História da África Pré-Colonização
Aula 3: A África tradicional: Uma análise das matrizes africanas
Apresentação
Nesta aula, analisaremos as matrizes socioculturais da África Subsaariana, examinando as consequências da expansão bantu durante o processo de ocupação do continente africano e aprendendo a importância que a família, a noção de ancestralidade e o poder da palavra falada tinham para as sociedades da África Tradicional.
Objetivos
Identificar as matrizes da chamada África tradicional;
Reconhecer os aspectos semelhantes existentes nos diferentes povos da África localizada ao sul do Saara;
Analisar as origens das semelhanças socioculturais que compõem a África Tradicional.
Percepção sobre a África
Antes de começaro estudo, faça a seguinte reflexão:
Anote em um papel as palavras que lhe vem à cabeça quando você pensa na
ÁFRICA.
Depois de ter feito a aula, procure analisar o porquê da sua escolha. Em seguida, elenque as palavras-chave da aula 03 e justifique sua resposta.
Essa atividade também pode ser estendida para outras pessoas. Se possível, formem um grupo de discussão para tentar analisar as palavras elencadas.
 => Um dos grandes equívocos cometidos ao se estudar a história da África Subsaariana é imaginar que todos os povos que habitaram essa região eram iguais.
Existiram comunidades tradicionais africanas que sobreviviam da atividade pesqueira; outras que dependiam da criação de gado e muitas que viviam da produção agrícola. Além disso, nem todas essas sociedades se organizavam da mesma forma: existiram aldeias, clãs de aldeias e até mesmo cidades-estados e reinos.
 => O convívio entre essas comunidades também não era sempre pacífico e harmonioso. Por diferentes razões esses grupos travavam guerras entre si e muitas vezes escravizavam grupos vizinhos.
Todavia, embora os pequenos grupos que habitavam não se enxergassem como iguais, havia semelhanças significativas entre eles que devem ser entendidas.
Muitas das características em comum encontradas em diversas sociedades africanas, sobretudo na África Subsaariana, são decorrentes de um movimento migratório ocorrido entre três e quatro mil anos atrás, denominado Expansão Bantu.
A Expansão Bantu
O bantu era umas das subdivisões da família linguística Níger-congo, que era falado por populações que habitavam as proximidades do rio Níger.
... graças ao aumento populacional e ao desmatamento decorrentes da pesca farta e do cultivo de gêneros alimentícios como o arroz, o inhame e as palmeiras oleaginosas (como a do dendê), os grupos humanos que ocupavam essa região iniciaram dois grandes processos de migração em busca de novas terras.
 => O primeiro processo migratório partiu da região central de Camarões e rumou para o norte da atual República Democrática do Congo e para a África oriental. Esse movimento migratório ainda desenvolveu a atividade pastoril e adquiriu os conhecimentos necessários para o manejo do ferro com sociedades que habitavam o norte do continente.
Já o segundo movimento de migração das línguas bantu saiu da região da floresta do sudeste na Nigéria e expandiu-se para a bacia do rio Congo e seus afluentes, chegando ao sul da África. Essas regiões só aprenderam o manuseio do ferro anos depois.
Os grupos de caçadores coletores que entraram em contato com essa “onda de migração” adotaram as línguas bantas para se aproximarem e negociarem com os grupos recém-chegados. Desse encontro de culturas surgiriam inúmeras sociedades que, embora fossem diferentes e muitas vezes inimigas, guardavam traços socioculturais semelhantes.
As Famílias de Linhagem
Uma das principais instituições das chamadas sociedades tradicionais africanas era a família, pois era ela que primeiro definia o pertencimento dos indivíduos no grupo.
 => No entanto, na África subsaariana, a noção de família é diferente do modelo europeu. As famílias africanas eram extensas, formadas não só pela mãe, pai e seus filhos, mas também pelos avós, tios, sobrinhos, netos e primos que tinham um ancestral em comum.
A família extensa, também chamada de linhagem, era a organização que assegurava a existência física e a perpetuação dos indivíduos, permitia a socialização no grupo e proporcionava o sentimento de pertencer a um coletivo, na medida em que possibilitava a conexão de cada membro à sua ancestralidade, ou seja, à sua história.
Comentário
Conforme dito anteriormente, as condições naturais de muitas regiões africanas nem sempre eram as mais favoráveis para a sobrevivência humana. Desse modo, por meio de uma rede de direitos e deveres que, estabelecidos hierarquicamente, as famílias extensas conseguiram garantir a vida da comunidade.
Cada geração de uma determinada linhagem tinha obrigações a cumprir e direitos a gozar. Geralmente, os adultos eram responsáveis pelo sustento da linhagem e deveriam produzir o suficiente para alimentar os idosos e as crianças. Os mais velhos, grupo mais respeitado de cada família, ocupavam os cargos de chefia das comunidades e eram responsáveis pelos rituais de iniciação dos mais jovens e cultos aos ancestrais familiares.
Sendo assim, quanto maior fosse o tamanho de uma linhagem, principalmente no que diz respeito ao número de adultos, maiores eram as chances desta família sobreviver. Não por acaso, a poligamia era prática comum nessas sociedades, pois permitia o crescimento constante das linhagens e a manutenção da ampla rede de parentesco.
As linhagens também determinavam o prestígio social de um homem. Quanto maior o número de pessoas dependentes dele (fossem mulheres, filhos, netos, sobrinhos e irmão), maior era a importância que ele tinha dentro da comunidade. 
Esse prestígio exercia grande influência nos acordos nupciais feito entre as diferentes famílias – permitindo a união de grandes linhagens por meio de casamentos – e na escolha dos chefes da comunidade, escolhidos dentre os líderes das famílias mais extensas, pois eram os homens que detinham maiores recursos econômicos e maior respeitabilidade social. 
O chefe recebia ajuda de um conselho composto pelos anciões de cada família da comunidade. Juntos, o chefe e os membros do conselho deveriam cuidar de assuntos relacionados à administração e justiça da aldeia, garantir a segurança de seus habitantes em momentos de guerra, assim como zelar pelos costumes e tradições de seu povo.
 => De forma geral, todas as atividades que estivessem relacionadas com o espaço doméstico eram realizadas pelas mulheres adultas (entre 15 e 40 anos).
Eram elas que tratavam de todos os afazeres da casa, criavam os filhos, cortavam lenha para o fogo, buscavam água, confeccionavam utensílios de cerâmica e, principalmente, cuidavam da produção dos gêneros agrícolas.
Já aos homens da mesma idade cabia a criação de animais, a atividade pesqueira, a caça (quando essa atividade era realizada), a segurança da comunidade, as diferentes atividades artesanais, sobretudo o manuseio do ferro e as produções artísticas.
Saiba mais
Por meio de vias fluviais ou terrestres, o excedente daquilo que era produzido nas comunidades tradicionais era comercializado nos mercados locais próximos. Tais mercados viabilizavam não só a troca de produtos oriundos de diferentes localidades, mas também possibilitavam a circulação de informação e a formação de redes sociais entre duas ou mais sociedades.
Religiosidade: O Culto Ancestral e as Divindades da Natureza
Junto com a noção de família extensa, a religiosidade era uma das características definidoras das sociedades da África Subsaariana. Embora cada comunidade acreditasse em um Deus ou em deuses próprios, as formas por meio das quais os membros desses grupos entravam em contato com o divino era muito semelhante. Isso porque em praticamente toda a África abaixo do Saara a religião era vivenciada no cotidiano. Toda ação humana era uma ação religiosa.
O cultivo da terra era geralmente antecedido por cerimônias que visavam a fertilidade. Quando meninos e meninas entravam na fase adulta, era comum que fossem feitos rituais de iniciação secretos, nos quais os jovens ficavam reclusos por algum tempo aprendendo os ensinamentos da idade adulta e da profissão que deveriam seguir. Em algumas comunidades, o processo de iniciação dos meninos que se transformariam em ferreiros chegava a durar anos.
Até a família extensa era compreendida por meio da religião. Praticamente todas as sociedades da África subsaariana acreditavam na coexistência do mundo dos mortos e por isso realizavam o culto aos antepassados acreditando que eles eram uma espécie de semideuses que serviam como intermediários na comunicação com forças maiores. De forma parecida com o que aconteceu com o império romano antes da conversão ao cristianismo, quase todas as casas africanas tinham pequenos altares particulares, no qual cultuavam seus ancestraisfamiliares.
 => Junto o culto aos antepassados, as comunidades africanas também cultuavam deuses específicos que estavam diretamente relacionados com elementos da natureza. Esses cultos geralmente eram acompanhados de muita música e dança e, em alguns casos, envolvia o transe de pessoas que estavam iniciadas para incorporar os deuses ancestrais. Em diversos casos, esses deuses tinham sido os chefes fundadores da sociedade que após a morte tinham se transformado em deuses do trovão, deuses da chuva, deuses da Lua e do Sol.
Muitos povos acreditavam em entidades que viviam nas águas dos rios e dos lagos, ou então na força de uma determinada árvore e de animais específicos. Mas é importante lembrar que as aldeias africanas não acreditavam nos mesmos deuses. Cada comunidade, cidade ou reino tinha seus deuses e entidades próprios e formas específicas de realizar seus cultos e cerimônias religiosas.
Embora a religião fosse praticada por toda comunidade, pois era ela que dava o sentido de coletividade aos diferentes povos, existiam figuras que tinham relação ainda mais intensa com o mundo do divino, como os sacerdotes e os feiticeiros. Os sacerdotes eram as pessoas (homens ou mulheres) responsáveis por boa parte das cerimônias religiosas, comandavam os rituais de iniciação e eram as pessoas mais capazes para ler os possíveis sinais dos deuses, bem como os jogos de adivinhação.
Saiba mais
Os feiticeiros tinham atributos semelhantes ao dos sacerdotes, mas o fato de saberem alterar as características físicas de alguns elementos da natureza fazia com que fossem figuras ao mesmo tempo temidas e respeitadas pelo grupo. Não por acaso, muitos dos feiticeiros também eram ferreiros, pois ambos detinham o poderoso conhecimento de como alterar a natureza.
O Poder da Palavra Falada
De maneira geral, era por meio da palavra falada que o conhecimento era transmitido de geração para geração. Isso porque a palavra era uma das formas que o homem tinha de se conectar com o mundo divino e sobrenatural, era o elo entre o passado, o presente e o futuro.
Saiba mais
Dessa feita, era por meio da tradição oral que o conhecimento, os costumes, as histórias e os mitos eram contados. Embora a palavra fosse respeitada por todo o grupo, assim como ocorria com a religião, cada sociedade tinha um sacerdote da palavra, ou seja, uma pessoa responsável por guardar a palavra. 
O poder da palavra falada
Os domas, por exemplo, eram homens treinados para guardar a memória de um povo. Depois de passar por um processo de mais de 20 anos de iniciação, esses homens eram capazes de memorizar a história de quase todos os antepassados da sua comunidade e se transformavam numa espécie de “documentos vivos” da sociedade. O respeito que os domas tinham pela palavra era tão grande que eles falavam apenas quando necessário. Os domas também nunca mentiam, pois mentir significava quebrar o elo que os ligava com a memória e a história daqueles que havia vivido antes deles. Era a maior ofensa que poderiam fazer.
Outra figura importante eram os griots. Diferentemente dos domas, os griots falavam muito e contavam diversas histórias, muitas vezes acompanhados de música e dança. Assim como os gregos narraram as histórias da Guerra de Tróia e as aventuras de Ulisses, muitos griots contaram as façanhas de importantes reis, como Sundiata (o primeiro rei do Mali), ou então descreveram batalhas que haviam sido travadas no passado e até mesmo as histórias de como o homem e o mundo haviam surgido. Nas noites mais quentes, os jovens das aldeias sentavam-se em volta de uma pequena fogueira e ouviam as histórias contadas e cantadas pelos griots e pelos homens mais velhos da comunidade. Conforme dito anteriormente, embora existissem muitos aspectos em comum nas sociedades da África subsaariana, elas não eram todas iguais. E também não viveram estáticas no tempo e no espaço. Os deuses cultuados, a organização econômica, as línguas e até mesmo a formação sócio-política eram diferentes
Para ajudar a ampliar o conhecimento sobre as muitas Áfricas que existiram, as próximas aulas irão tratar de parte da história de algumas sociedades do continente africano, para que não só as semelhanças, como as diferenças existentes entre elas possam ser compreendidas. Até a próxima e bons estudos!
HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIZAÇÃO
Aula 3 –África Tradicional: uma análise das matrizes africanas
Conteúdo Programático desta aula
· Identificar as matrizes da chamada África Tradicional;
· Reconhecer os aspectos semelhantes existentes nos diferentes povos da África localizada ao sul do Saara;
· Analisar as origens das semelhanças culturais da África Tradicional.
=> A EXPANSÃO BANTU
Muitas das características em comum encontradas em diversas sociedades africanas, são decorrentes de um movimento migratório ocorrido entre três e quatro mil anos atrás: um movimento de migração iniciado há cerca de 4 mil anos pelas populações que habitavam a região central do atual Camarões.
 => ASPECTOS COMUNS DA ÁFRICA TRADICIONAL
1. O princípio do equilíbrio;
2. A Ancestralidade;
3. A noção de família extensa;
4. O pertencimento ao coletivo;
5. A tradição Oral.
 => Sociedade Bechuana realizando dança para a Lua, séc. XIX
O EQUILÍBRIO E A NATUREZA
As sociedades africanas se entendem como parte algo maior, e por isso devem zelar pelo equilíbrio das diferentes forças que compõe o todo, tais forças são divinas. A crença e o culto aos elementos da natureza é um traço comum à todas as sociedades
 => Máscara Ancestral de Ckokwe, Angola, século XIX.
A ANCESTRALIDADE
A conexão entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos é feita por meio:
a) sonhos,
b) transes,
c) confrarias de máscaras,
d) cultos familiares,
e) sacrifícios de animais.
 => A NOÇÃO DE FAMÍLIA EXTENSA
As famílias africanas eram extensas, formadas não só pela mãe, pai e seus filhos, mas também pelos avós, tios, sobrinhos, netos e primos que tinham um ancestral em comum. A família extensa, também chamada de linhagem, era a organização que assegurava a existência física e a perpetuação dos indivíduos; permitia a socialização no grupo; e proporcionava o sentimento de pertencer a um coletivo, na medida em que possibilitava a conexão de cada membro à sua ancestralidade, ou seja, à sua história. 
 => O PERTENCIMENTO AO COLETIVO
Cada geração de uma determinada linhagem tinha obrigações a cumprir e direitos a gozar. E para determinar a passagem para cada etapa da vida, eram feitos rituais de iniciação.
Geralmente, os adultos eram responsáveis pelo sustento da linhagem e deveriam produzir o suficiente para alimentar os idosos e as crianças. Os mais velhos, grupo mais respeitado de cada família, ocupavam os cargos de chefia das comunidades, e eram responsáveis pelos rituais dos mais jovens e cultos aos ancestrais familiares
A ORALIDADE
“Quando falamos de tradição em relação à história africana, referimo-nos à tradição oral, e nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apoie nessa herança de conhecimentos de toda espécie, pacientemente transmitidos de boca a ouvido, de mestre a discípulo, ao longo dos séculos. Essa herança ainda não se perdeu e reside na memória da última geração de grandes depositários, de quem se pode dizer são a memória viva da África.
Entre as nações modernas, onde a escrita tem precedência sobre a oralidade, onde o livro constitui o principal veículo da herança cultural, durante muito tempo julgou-se que povos sem escrita eram povos sem cultura. Felizmente, esse conceito infundado começou a desmoronar após as duas últimas guerras, graças ao notável trabalho realizado por alguns dos grandes etnólogos do mundo inteiro. Hoje, a ação inovadora e corajosa da Unesco levanta ainda um pouco mais o véu que cobre os tesouros do conhecimento transmitidos pela tradição oral, tesouros que pertencem ao patrimônio cultural de toda a humanidade.”
In: BÂ, Amadou Hampaté. A tradição Viva. In: Introdução à Cultura Africana.Lisboa, Edições 70, 1977
História da África Pré Colonização
Aula 4: A chegada do Islã ao continente africano
Apresentação
Nessa aula, você analisará as transformações causadas pela chegada do Islamismo na África Subsaariana, identificará as transformações que a chegada do islamismo causou no reino de Gana e examinará as dinâmicas socioeconômicas criadas a partir da conformação do comércio transaariano.
Objetivo
Analisar as transformações causadas pela chegada do Islamismo à África Subsaariana;
identificar as transformações que a chegada do islamismo causou no reino de Gana;
examinar as dinâmicas socioeconômicas criadas a partir da conformação do comércio transaariano.
Reflexão
 => O mapa ao lado apresenta as principais rotas do comércio transaariano criadas a partir do século IX. Elabore em seu caderno uma hipótese sobre quais eram os principais produtos que circulavam nessas rotas. Ao final desta aula, releia sua hipótese e verifique os possíveis erros e acertos.
O Islamismo
O islamismo chegou ao continente africano no século VIII e tal evento trouxe muitas mudanças para a África. As razões para tamanha influência islâmica no continente africano só podem ser entendidas se compreendermos melhor o que é o islamismo.
História do Islamismo
O islamismo ou o islã é uma religião monoteísta que começou a ser pregada do século VII na região da atual Arábia Saudita. Seu principal profeta foi Maomé, um comerciante da região que um dia começou a receber visitas do anjo Gabriel. Esse anjo revelava-lhe as palavras divinas de Alá, o Deus único. A partir de então, Maomé passou a transmitir os preceitos que lhe eram revelados e rapidamente ganhou diversos seguidores. Como Maomé estava revelando não só uma nova religião, mas também uma nova forma de vida, suas palavras foram anotadas e compiladas em um único livro, Alcorão, que até hoje é considerado o livro sagrado do islamismo.
Uma das principais atividades do muçulmano era difundir o islamismo por todo mundo. Essa difusão ocorreu de duas formas: por meio de negociações comerciais e por meio das jihads. As jihads eram guerras santas travadas pelos muçulmanos. Tais guerras tinham por objetivo converter outros povos ao islamismo e escravizar os “infiéis”, ou seja, aqueles que se recusavam a crer em Alá.
Os Almorávidas e a Chegada do Islã na África Subsaariana
 => Rapidamente, inclusive por uma proximidade geográfica, o islamismo chegou ao norte da África.
No entanto, durante mais de cento e cinquenta anos, os muçulmanos não conseguiram converter os povos seminômades que viviam nos oásis do Saara e que controlavam boa parte das caravanas de camelos que atravessavam o deserto.
Segundo os cronistas da época, no século X, o sacerdote muçulmano chamado Abdallah ibn Yacine foi designado para cuidar da conversão dos berberes. No entanto, Yacine foi muito mal recebido e acabou sendo expulso da região.
Obrigado a se retirar, o sacerdote partiu para um local desconhecido da costa Atlântica acompanhado por dois berberes: Yaya ibn Omar e seu irmão Abu Bakr. Neste local, Yacine e seus discípulos começaram a receber adeptos e criaram uma espécie de convento militar muçulmano (o ribat), cujos membros eram chamados de Al-Morabetin – que significa aqueles que pertencem ao ribat.
 => Em pouco tempo, os almorávidas transformaram-se em um dos principais braços armados do islamismo, levando a palavra de Alá para regiões distantes como a Península Ibérica e a África Subsaariana.
Contatos com a África Subsaariana: o Caso de Gana
 => O contato dos muçulmanos com os povos africanos ocorreu de diferentes formas e em diferentes momentos da história da África. Com as pequenas aldeias da África Subsaariana, os muçulmanos, muitas vezes, faziam suas guerras santas e escravizavam aqueles que haviam sobrevivido e se recusavam a se converter.
 => No entanto, com os grandes reinos e cidades, as relações dos muçulmanos se iniciaram por meio de trocas comerciais.
O comércio também foi a porta de entrada do islamismo nas cidades de Ifé e Benin.
Já a realeza do império do Mali se converteu às crenças do Islã e sob o governo de Mansa Musa inúmeras mesquitas e escolas muçulmanas foram construídas em todo o império.
 => Nas cidades litorâneas da Costa Índica da África, grande parte dos comerciantes também se converteu ao islamismo. Todavia, a primeira grande sociedade subsaariana a entrar em contato com os muçulmanos foi o reino de Gana que, até então, vivia de acordo com seus preceitos iniciais.
Gana, também conhecido como o “país do ouro”, foi um dos grandes estados formados no continente africano. Situado abaixo do deserto do Saara entre os rios Níger e Senegal (na atual Mauritânia), Gana foi fundado no século IV pelo povo africano Soninquê e entrou em decadência no século XIII.
 => Durante seus quase mil anos de existência, Gana exerceu influência sobre outros povos da África Ocidental e ficou conhecido na Europa e no Oriente Médio por suas minas de ouro. Os viajantes árabes que visitaram a região a partir do século VIII ficaram surpresos com a organização desse estado e já no ano de 700 Gana foi colocado no mapa-múndi pelo geógrafo árabe Al-Khuarizni.
Saiba mais
Segundo os viajantes árabes, gana era o nome dado aos reis desse estado. Além de ser chamado de gana (chefe de guerra), o soberano poderia responder por caia-manga (rei do ouro) e turca. Mas não foi por acaso que Gana ficou conhecido pelo título atribuído aos seus governantes. O gana ou caia-manga exercia um grande poder sobre os habitantes da região e era considerado o senhor do ouro.
 => Grande parte do poder do caia-manga vinha do monopólio que ele exercia sobre as minas de ouro. Todos que quisessem trabalhar ou comercializar o metal precioso deveriam pagar impostos ao soberano. Além do controle sobre o ouro, o caia-manga também exercia um forte poder político sobre o restante da população e era tido como uma figura quase sagrada.
Saiba mais
O caia-manga usava colares, braceletes e pulseiras de ouro. Quando sua chegada era anunciada, as pessoas que estavam presentes se ajoelhavam e jogavam pó sobre suas cabeças como forma de reverenciá-lo. Nessas audiências, toda a pompa da gana podia ser observada. Além de suas ricas vestimentas, o rei era acompanhado por seu exército particular formado por homens armados e a cavalo, pelos filhos dos chefes de aldeias e pelos ministros que o ajudavam a governar.
 => O rei e sua corte viviam na capital do reino que era formada por duas cidades. Kumbi Saleh era um complexo murado cujo interior tinha um palácio feito de pedras e madeiras (dentro do qual havia uma enorme pepita de ouro) e por pequenas cabanas que tinham o teto cônico. Ao redor dessa cidade havia cabanas e pequenos bosques onde viviam os feiticeiros, homens responsáveis pelos cultos religiosos do reino.
Esses bosques eram lugares guardados onde ninguém poderia entrar sem autorização, sobretudo os estrangeiros que eram expressamente proibidos de visitá-los. Esse controle se devia ao fato de os bosques serem considerados lugares ao mesmo tempo sagrados e temidos. Além de comportarem os santuários religiosos, eram nos bosques que os antigos ganas estavam enterrados e era para lá que muitos criminosos eram mandados.
 => Casas cônicas que, segundo os viajantes muçulmanos, eram comuns em Gana.
A segunda cidade que formava a capital do reino era um grande centro comercial no qual moravam muitos mercadores ricos (inclusive muçulmanos), artesãos e pequenos comerciantes.
As casas da cidade variavam de tamanho. Os grandes mercadores habitavam casas de dois andares que possuíam mais de nove quartos. Já os artesãos e os pequenos comerciantes moravam em pequenas casas feitas de barro e cobertas de palha.
Além da capital, o reino de Gana abrangia diversas aldeias cuja maior parte dos moradores era composta por camponeses e criadores de animais. Essas famílias viviam em casas rodeadas por hortas, plantações de pepinos, palmeiras, figueiras e pequenos currais onde eram criados carneiros e algumas aves. Parte do que era produzido por essas famílias era pagacomo tributo ao caia-manga.
 => A mineração do ouro, responsável pela riqueza de Gana, era uma atividade sigilosa. Apenas os homens que trabalhavam na mineração e alguns traficantes sabiam a exata localização das minas.
Isso permitia que o caia-manga pudesse controlar o ouro que era retirado de suas terras. Todas as pepitas de ouro pertenciam à gana, os mineradores e traficantes só poderiam comercializar o ouro que era encontrado em pó.
 => Como o ouro era abundante, ele era usado como principal forma de taxar os impostos cobrados sobre o comércio realizado em Gana. O caia-manga cobrava um dinar (moeda de ouro criada pelos califas muçulmanos).
Seu peso equivalia a 4,72 gramas para cada carga de sal que entrava em seu reino e dois dinares para a carga de sal que saía. Conforme visto há pouco, os camponeses pagavam seus impostos com as mercadorias que produziam e muitos artesãos utilizavam barras de cobre como forma de pagar o tributo que devia à gana.
Graças ao ouro e às outras formas de tributo, o caia-manga e sua corte tinham uma vida farta e cheia de regalias.
 => Embora Gana não tivesse se convertido ao islamismo, durante muitos anos o reino teve boas relações com os muçulmanos que lá viviam. Contudo, no século XI, os almorávidas obrigaram Gana a se converter ao Islã.
Junto com a conversão forçada, a chegada dos almorávidas mudou a estrutura econômica de Gana e a maior parte das zonas agrícolas foi transformada em pasto. Essa mudança causou um grande desequilíbrio no reino que, mesmo depois da expulsão dos almorávidas no século XII, não conseguiu se reestruturar completamente. Em 1204, o povo africano sosso invadiu e passou a controlar militarmente o reino. Muitos soninquês fugiram para outras regiões.
O Comércio Transaariano e a Escravidão
 => Antigo forte muçulmano de escravos, na Tanzânia
Se, a chegada do islamismo acelerou o processo de desarticulação do reino de Gana, a presença muçulmana na África representou a criação de uma intrincada rede de comércio. Cidades e reinos africanos tinham especial interesse no sal e nos produtos vindos da Europa e do norte da África que eram comercializados pelos muçulmanos.
Em muitos casos, o sal e os produtos importados eram trocados por ouro, noz de cola, marfim e escravos. Os escravos que eram comercializados pelos grandes estados africanos eram produtos das guerras que eles faziam com as aldeias vizinhas.
 => Os comerciantes muçulmanos compravam tanto escravos quanto escravas da África Subsaariana. Normalmente, as escravas africanas seriam vendidas a outros muçulmanos e se tornariam esposas ou concubinas. Já os homens escravizados seriam transportados para outras regiões, inclusive para a China, Arábia Saudita e para a Europa e estavam sujeitos a executar os mais variados tipos de trabalho.
 => Tombuctu se encontrava na confluência de 4 rotas comerciais do Saara
Na maioria dos casos, os homens e mulheres que eram comprados na África subsaariana precisavam atravessar o deserto do Saara para chegar ao seu destino final (mercados europeus e asiáticos).
Esse transporte de escravos ocorria junto com as caravanas de camelos que faziam o transporte das outras mercadorias. Tal travessia era extremamente difícil, pois o escravo a fazia a pé e muitas vezes carregando diversos produtos. Além disso, o forte calor, o clima muito seco, a pouca quantidade de água e comida e o longo trajeto a ser percorrido dificultavam ainda mais a viagem. Quase um terço dos escravos não aguentavam a jornada e morriam.
 => Com o islamismo, o escravo africano se tornou, de fato, uma mercadoria, e uma mercadoria muito importante. Durante quase mil anos (entre os séculos VIII e XIX), os comerciantes muçulmanos compraram e venderam escravos africanos em diferentes continentes.
Estima-se que cerca de dez milhões de africanos foram comercializados nesse período, número muito próximo do que foi negociado pelos europeus, como será trabalhado nas aulas 9 e 10.
HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIZAÇÃO
Aula 4 - A chegada do islã no continente africano
Conteúdo Programático desta aula
· Analisar as transformações causadas pelo islamismo na África Subsaariana;
· Identificar as transformações causadas que a chegada do islamismo causou no reino de Gana;
· Examinar as dinâmicas socioeconômicas criadas a partir da conformação do comércio transaariano.
 => O ISLÃ
O islamismo chegou ao continente africano no século VIII e tal evento trouxe muitas mudanças para a África.
O islamismo ou o Islã é uma religião monoteísta que começou a ser pregada do século VII na região da atual Arábia Saudita. Seu principal profeta foi Maomé, um comerciante da região que um dia começou a receber visitas do anjo Gabriel.
 => A FORMAÇÃO DO ISLÃ
Esse anjo lhe revelava as palavras divinas de Alá, o deus único. A partir de então, Maomé passou a transmitir os preceitos que lhe eram revelados e rapidamente ganhou diversos seguidores. Como Maomé estava revelando não só uma nova religião, mas também uma nova forma de vida, suas palavras foram anotadas e compiladas em um único livro, Alcorão, que até hoje é considerado o livro sagrado do islamismo.
OS PILARES
Todo muçulmano tem 5 obrigações, que constituem os pilares do Islamismo:
Professar e aceitar o credo (Chahada ou Shahada);
Orar cinco vezes ao longo do dia (Salá, Salat ou Salah);
Pagar dádivas rituais (Zakat ou Zakah);
Observar as obrigações do Ramadão (Saum ou Siyam);
Fazer a peregrinação a Meca (Hajj ou Haj).
Existia também mais uma obrigação: a jihad
 => OS ALMORÁVIDAS E A CHEGADA DO ISLÃ NA ÁFRICA SUBSAARIANA
Rapidamente, inclusive por uma proximidade geográfica, o islamismo chegou ao norte da África. No entanto, durante mais de cento e cinquenta anos, os muçulmanos não conseguiram converter os povos seminômades que viviam nos oásis do Saara e que controlavam boa parte das caravanas de camelo que atravessavam o deserto. 
 => A CONVERSÃO
Segundo os cronistas da época, no século X, o sacerdote muçulmano chamado Yacine foi designado para cuidar da conversão dos berberes. No entanto, Yacine foi muito mal recebido e acabou sendo expulso da região. Obrigado a sair, o sacerdote se retirou para um local desconhecido da costa Atlântica acompanhado por dois berberes: Yaya ibn Omar e seu irmão Abu Bakr. 
Neste local, Yacine e seus discípulos começaram a receber adeptos e criaram uma espécie de convento militar muçulmano (o ribat), cujos membros eram chamados de Al-Morabetin – que significa aqueles que pertencem ao ribat.
 => CONTATOS COM A ÁFRICA SUBSAARIANA: O CASO DE GANA.
Gana, também conhecido como o “país do ouro”, foi um dos grandes estados formados no continente africano. Situado abaixo do deserto do Saara entre os rios Níger e Senegal (na atual Mauritânia), Gana foi fundado no século IV pelo povo africano soninquê e entrou em decadência no século XIII.
O REINO DE GANA
Durante seus quase mil anos de existência, Gana exerceu influência sobre outros povos da África Ocidental e ficou conhecido na Europa e no Oriente Médio por suas minas de ouro. Os viajantes árabes que visitaram a região a partir do século VIII ficaram surpresos com a organização desse estado e já no ano de 700, Gana foi colocada no mapa-múndi pelo geógrafo árabe Al-Khuarizni. 
Segundo os viajantes árabes, Gana era o nome dado aos reis desse estado. Além de ser chamado de gana (chefe de guerra), o soberano poderia responder por caia-manga (rei do ouro) e turca. Mas não foi por acaso que Gana ficou conhecido pelo título atribuído aos seus governantes. A gana ou caia-manga exercia um grande poder sobre os habitantes da região e era considerado o senhor do ouro. 
 => O OURO DE GANA
Grande parte do poder do caia-manga vinha do monopólio que ele exercia sobre as minas de ouro. Todos que quisessem trabalhar ou comercializar o metal precioso deveriam pagar impostos ao soberano. Além do controle sobre o ouro, o caia-manga também exercia um forte poder político sobre o restante da população e era tido como uma figura quase sagrada. 
AS CAPITAIS DE GANA
O rei e sua corte viviam na capital do reino que era formada por duascidades. A residência da gana e sua família era um complexo murado cujo interior tinha um palácio feito de pedras e madeiras (dentro do qual havia uma enorme pepita de ouro) e por pequenas cabanas que tinham o teto cônico. Ao redor dessa cidade havia cabanas e pequenos bosques onde viviam os feiticeiros, homens responsáveis pelos cultos religiosos do reino. Esses bosques eram lugares guardados onde ninguém poderia entrar sem autorização, sobretudo os estrangeiros que eram expressamente proibidos de visitá-los. Esse controle se devia ao fato de os bosques serem considerados lugares ao mesmo tempo sagrados e temidos. Além de comportarem os santuários religiosos, eram nos bosques que os antigos ganas estavam enterrados e era pra lá que muitos criminosos eram mandados.
A segunda cidade que formava a capital do reino era um grande centro comercial no qual moravam muitos mercadores ricos (inclusive muçulmanos), artesãos e pequenos comerciantes. As casas da cidade variavam de tamanho. Os grandes mercadores habitavam casas de dois andares que possuíam mais de nove quartos. Já os artesãos e os pequenos comerciantes moravam em pequenas casas feitas de barro e cobertas de palha.
Além da capital, o reino de Gana abrangia diversas aldeias cuja maior parte dos moradores era composta por camponeses e criadores de animais. Essas famílias viviam em casas rodeadas por hortas, plantações de pepinos, palmeiras, figueiras e pequenos currais onde eram criados carneiros e algumas aves.
GANA E OS ALMORÁVIDAS
Embora Gana não tivesse se convertido ao islamismo, durante muitos anos o reino teve boas relações com os muçulmanos que lá viviam. Contudo, no século XI, os almorávidas obrigaram Gana a se converter ao Islã. Junto com a conversão forçada, a chegada dos almorávidas mudou a estrutura econômica de Gana e a maior parte das zonas agrícolas foi transformada em pasto. Essa mudança causou um grande desequilíbrio no reino que, mesmo depois da expulsão dos almorávidas no século XII, não conseguiu se reestruturar completamente. Em 1204, o povo africano sosso invadiu e passou a controlar militarmente o reino. Muitos soninquês fugiram para outras regiões. 
O COMÉRCIO TRANSAARIANO E A ESCRAVIDÃO
Se, a chegada do islamismo acelerou o processo de desarticulação do reino de Gana, a presença muçulmana em África representou a criação de uma intrincada rede de comércio. Cidades e reinos africanos tinham especial interesse no sal e nos produtos vindos da Europa e do norte da África que eram comercializados pelos muçulmanos. Em muitos casos, o sal e os produtos importados eram trocados por ouro, noz de cola, marfim e escravos. Os escravos que eram comercializados pelos grandes estados africanos eram produto das guerras que eles faziam com as aldeias vizinhas. 
Na maioria dos casos, os homens e mulheres que eram comprados na África subsaariana precisavam atravessar o deserto do Saara para chegar ao seu destino final (mercados europeus e asiáticos). Esse transporte de escravos ocorria junto com as caravanas de camelos que faziam o transporte das outras mercadorias. Tal travessia era extremamente difícil, pois o escravo a fazia a pé e muitas vezes carregando diversos produtos. Além disso, o forte calor, o clima muito seco, a pouca quantidade de água e comida, e o longo trajeto a ser percorrido dificultavam ainda mais a viagem. Quase um terço dos escravos não aguentava a jornada e morria.
 
História da África Pré Colonização
Aula 5: Povos da curva do Níger: O caso do Mali e de Songhai
Apresentação
Nesta aula, você analisará a fundação dos impérios de Mali e Songhai, a organização sociopolítica e econômica desses dois reinos e a história desses impérios com a expansão árabe no continente africano.
Objetivo
Analisar a fundação dos impérios de Mali e Songhai;
Examinar a organização sociopolítica e econômica desses dois reinos;
Relacionar a história desses impérios com a expansão árabe no continente africano.
O Mali
 => O Mali foi um dos maiores e mais conhecidos impérios africanos. Localizado no alto do rio Níger, região que atualmente abriga partes dos países Senegal, Gâmbia, Guiné Bissau e Mali, esse império foi fundado pelo povo Africano Malinquê no século XIII e ficou mundialmente conhecido por suas minas e pelas proezas realizadas por seus imperadores.
Segundo a tradição oral, o império Mali foi fundado por Sundiata no início do século XIII. Rapidamente, o exército de Sundiata conseguiu dominar amplas regiões da África Ocidental e subjugar os povos que nelas viviam. Controlaram as terras do antigo reino de Gana e a parte norte dos rios Níger, Gâmbia e Senegal.
Assim como o governante de Gana recebia o título de gana ou caia-manga, o soberano do Mali recebia o título de mansa. Ao mansa cabia chefiar o exército e controlar a arrecadação de impostos pagos pelo restante da população. Era do soberano a palavra final nos assuntos administrativos e nas disputas jurídicas.
A mansa vivia com sua corte em um amplo palácio, onde além de mobílias e objetos de ouro, também era possível encontrar tecidos fabricados na Europa e aves raras. Suas vestimentas eram tão ornamentadas quanto seu palácio: segundo um viajante muçulmano que visitou o Mali em 1352, a mansa se vestia com uma túnica vermelha e felpuda, usava um solidéu de ouro na cabeça, além de colares e pulseiras feitas do mesmo metal.
Para governar uma área tão extensa, o mansa contava com o auxílio de dois importantes grupos sociais. De um lado, cuidando das questões administrativas do império, estava a linhagem real, uma espécie de nobreza do Mali, que controlava o pagamento de impostos feito pelas aldeias que deviam obediência ao mansa.
Do outro, estava o poderoso exército do Mali, responsável principal pelas conquistas do império. O exército do Mali chegou a ser formado por cerca de 10 mil homens que se dividiam entre a cavalaria do mansa e os milhares de arqueiros. Esses homens usavam espadas, capacetes, cotas de malhas e cavalos, produtos importados do norte da África e da Europa. Essas armas, junto com a experiência dos arqueiros, fizeram com que, durantes muitos anos, o exército do Mali parecesse indestrutível.
1 => Além da nobreza e do exército, o Mali adotou uma tática de dominação parecida com a que o Império Romano empregou durante suas conquistas. Ao invés de obrigar os povos dominados a viverem de acordo com seus costumes, o mansa preferiu respeitar as diferentes culturas que compunham seu império, desde que essas pessoas pagassem os impostos devidos. Essa estratégia diminuía o índice de revolta dos povos dominados e garantia certa estabilidade para o império.
2 => Assim como ocorreu em outras partes da África, o Mali também tinha homens livres que formavam castas de profissionais como os ferreiros, os carpinteiros e artistas que trabalhavam com barro e metais. Esses homens e mulheres costumavam morar em bairros isolados nas aldeias e cidades do Mali e casavam apenas entre si.
3 => No entanto, a maior parte da população era composta por agricultores, pescadores e pastores. Esses homens e mulheres que viviam do campo moravam em vilarejos e habitavam pequenas casas feitas do barro socado e cobertas com palha. Cultivavam milhete, sorgo, arroz; criavam bois, cabras e camelos e pescavam nos rios próximos ou no mar. Parte dessa produção era destinada à subsistência das famílias camponesas, uma parcela preestabelecida era usada como forma de pagamento dos tributos que deviam ao mansa e o restante ia para os mercados das cidades do Mali.
 => Junto com os camponeses, havia um número significativo de escravos que trabalhava na produção agrícola do Mali. A maior parte desses escravos (que era obtida nas guerras realizadas pelo exército) era empregada nas fazendas que pertenciam ao mansa. Outra trabalhava nas minas de ouro do império e um pequeno número deles era usado nas casas dos nobres e no palácio do mansa.
 => Apesar de a grande maioria da população viver da agricultura, da atividade pastoril e da pesca, o comércio do ouro foi a maior atividade. Devido a seu extenso domínio na região

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