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PLANO DE AULA 03

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FACULDADE ESTACIO DE SÁ – CURITIBA 
CASO CONCRETO 03
Marcos Silva, aluno de uma Universidade Federal, autarquia federal, inconformado com a nota que 
lhe fora atribuída em uma disciplina do curso de graduação, abordou a professora Maria Souza, 
servidora pública federal, com um canivete em punho e, em meio a ameaças, exigiu que ela 
modificasse sua nota. Nesse instante, a professora, com o propósito de repelir a iminente agressão, 
conseguiu desarmar e derrubar o aluno, que, na queda, quebrou um braço. Diante do ocorrido, foi 
instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD), para apurar eventual responsabilidade da 
professora. Ao mesmo tempo, a professora foi denunciada pelo crime de lesão corporal. Na esfera 
criminal, a professora foi absolvida, uma vez que restou provado ter agido em legítima defesa, em 
decisão que transitou em julgado. O processo administrativo, entretanto, prosseguiu, sem a citação 
da servidora, pois a Comissão nomeada entendeu que a professora já tomara ciência da instauração 
do procedimento por meio da imprensa e de outros servidores. Ao final, a Comissão apresentou 
relatório pugnando pela condenação da servidora à pena de demissão. O PAD foi encaminhado ao 
reitor da universidade para a decisão final, que, sob o fundamento de vinculação ao parecer emitido 
pela Comissão, aplicou a pena de demissão à servidora, afirmando, ainda, que a esfera 
administrativa é autônoma em relação à criminal. Em 11/01/2017, a servidora foi cientificada de sua
demissão, por meio de publicação em Diário Oficial, ocasião em que foi afastada de suas funções, e,
em 22/02/2017, procurou seu escritório para tomar as medidas judiciais cabíveis, informando, 
ainda, que, desde o afastamento, está com sérias dificuldades financeiras. Como advogado(a), 
elabore a peça processual adequada para amparar a pretensão de sua cliente, analisando todos os 
aspectos jurídicos apresentados. 
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUÍZ(A) FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO (...)
MARIA DE SOUZA, nacionalidade, estado civil, servidora pública federal, RG nº (...) e CPF nº (...), residente e 
domiciliada na rua (...), com fulcro no Art. 109, I, da CRFB/88 c/c Art. 319 e seguintes do NCPC, vem, por seu 
advogado, infrafirmado, com endereço profissional na rua (...), onde serão recebidas as intimações do feito, propor
a presente AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em desfavor da 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO (...), autarquia federal, pessoa jurídica de direito público, CNPJ nº 
(...), com sede na rua (...), pelos fatos e fundamentos a seguir:
DOS FATOS
A Autora, Maria Souza, foi atacada em sala de aula por um dos seus alunos, Marcos Silva, que, com um canivete 
em punho e, em meio a ameaças, exigiu que ela modificasse sua nota que lhe foi atribuída em uma disciplina do 
curso de graduação. Nesse instante, com o propósito de repelir a iminente agressão, a professora conseguiu 
desarmar e derrubar o aluno, que, na queda, quebrou um braço.
Diante do ocorrido, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD), para apurar eventual 
responsabilidade da professora. Ao mesmo tempo, ela foi denunciada pelo crime de lesão corporal.
Na esfera criminal, ela foi absolvida, vez que restou provado ter agido em legítima defesa, em decisão que 
transitou em julgado. O processo administrativo, entretanto, prosseguiu, sem a citação da servidora, pois a 
Comissão nomeada entendeu que ela já tomara ciência da instauração do procedimento por meio da imprensa e de
outros servidores. Ao final, a Comissão apresentou relatório pugnando pela condenação da servidora à pena de 
demissão.
O PAD foi encaminhado à autoridade competente para a decisão final, que, sob o fundamento de vinculação ao 
parecer emitido pela Comissão, aplicou a pena de demissão à servidora, afirmando, ainda, que a esfera 
administrativa é autônoma em relação à criminal.
Em 10/04/2015, ela foi cientificada de sua demissão, por meio de publicação em Diário Oficial, ocasião em que 
foi afastada de suas funções, e, em 10/09/2015, procurou seu escritório para tomar as medidas judiciais cabíveis, 
informando, ainda, que, desde o afastamento, está com sérias dificuldades financeiras, que a impedem, inclusive, 
de suportar os custos do ajuizamento de uma demanda.
DO CABIMENTO
É cabível a propositura da presente ação sob o rito ordinário com fulcro no artigo 319 c/c 300 do NCPC, por se 
tratar de violação a direito da Autora.
DA TUTELA DE URGÊNCIA
O artigo 300 do Novo Código de Processo Civil define como requisitos para antecipação de tutela a probabilidade 
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
O perigo ou receio de dano irreparável (periculum in mora) resta demonstrado uma vez que a Autora não está 
percebendo proventos em razão da sua demissão e, por conta disso, passa pordificuldades financeiras.
A probabilidade do direito/verossimilhança das alegações (fumus boni iuris) está consubstanciada na nulidade do 
PAD por ausência de citação, com flagrante violação aos princípios do devido processo legal, do contraditório e 
da ampla defesa, capitulados no Art. 5º, LIV e LV da CRB/88 c/c Art. 143 da Lei nº 8.112/90, bem como pela 
inobservância do fato de que a sentença penal absolutória transitada em julgado necessariamente vinculará o 
conteúdo da decisão administrativa, nos termos do Art. 125 e 126 da Lei nº 8.112/90 c/c o Art. 65 do CPP.
Logo, em razão dos vícios do PAD, ora apresentados, e do prejuízo/lesão sofrido pela Autora em decorrência de 
sua demissão, imperiosa é a concessão da presente tutela de urgência, com a determinação da reintegração da 
Autora ao cargo público, sem prejuízo do direito ao pagamento dos salários atrasados e de todas as vantagens do 
cargo.
DO MÉRITO
Primeiramente, o Art. 5º, inciso LIV e LV da CRFB/88 garante o direito ao devido processo legal, ao contraditório
e a ampla defesa. Vejamos:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e 
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
No mesmo sentido, o Art. 143 c/c 161, §1º da Lei 8.112/90 estabelece que qualquer procedimento 
administrativo destinado à apuração de eventual ato ilícito cometido pelo servidor público, seja 
sindicância ou PAD, deve assegurar ao acusado a ampla defesa. Vejamos:
 
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração 
imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.
Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indiciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele 
imputados e das respectivas provas.
§ 1o O indiciado será citado por mandado expedido pelo presidente da comissão para apresentar defesa escrita, no 
prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição.
Na situação apresentada, a Autora só foi cientificada, por meio de publicação em Diário Oficial, 
após a sua demissão. Tal ato do Poder Público viola os princípios do devido processo legal, do 
contraditório e da ampla defesa.
Outrossim, na hipótese de absolvição penal com fundamento em excludente de ilicitude, como a 
legítima defesa, não há espaço para aplicação do resíduo administrativo (falta residual), vez que 
constitui uma das hipóteses de mitigação ao princípio da independência entre as instâncias, 
capitulado no Art. 2º da CF/88.
Ademais, a decisão proferida na esfera penal necessariamente vinculará o conteúdo da decisão 
administrativa, nos termos do Art. 125 e 126 da Lei nº 8.112/90 c/c o Art. 65 do CPP.
Assim, ante aos vícios do PAD, ora apresentados, imperioso é a anulação do ato demissional, bem 
como a determinação da reintegração da servidora ao cargo público, sem prejuízo do direito ao 
pagamento retroativo de todas as verbas e vantagens do cargo desde a suspensão da sua 
remuneração,em razão da lesão patrimonial sofrida pelo não recebimento dos vencimentos, na 
forma do Art. 28 da Lei nº 8.112/1990.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
1) a concessão da tutela de urgência para garantir a reintegração da servidora aos quadros funcionais
da autarquia federal, até a decisão final, com fulcro no Art. 9º c/c Art. 701 do NCPC;
2) a citação do Réu para que, querendo, contestar o feito no prazo de lei;
3) a confirmação da tutela de urgência com a anulação do ato que resultou na demissão da servidora
e a condenação do Réu à reintegração da servidora aos quadros funcionais da autarquia federal, bem
como ao pagamento retroativo de todas as verbas e vantagens do cargo a que a Autora faria jus se 
em exercício estivesse e a concessão da justiça gratuita em razão das dificuldades financeira 
enfrentadas pela parte Autora, na forma da Lei nº 1.050/1960;
4) a produção de provas por todos os meios admitidos em direito e necessários a solução da
 controvérsia, inclusive a juntada dos documentos anexos;
5) a condenação do Réu ao pagamento das custas processuais e aos honorários advocatícios.
Dá-se à causa o valor de R$ (...).
Local, data
Advogado
OAB/...

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