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ROTEIROS TURÍSTICOS: DEFININDO UMA BASE CONCEITUAL (WEISSBACH, Paulo Ricardo Machado)

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ROTEIROS TURÍSTICOS: DEFININDO UMA BASE CONCEITUAL 
 
WEISSBACH, Paulo Ricardo Machado.
1
 
 
Palavras-chave: Turismo. Roteiro/itinerário turístico. Percurso turístico. 
 
Introdução 
O crescimento do turismo no Brasil, assim como em nível global, está vinculado a 
alguns fatores que favoreceram o seu desenvolvimento. No Brasil o crescimento do turismo 
doméstico apresentou um aumento 5,8% no período de 2002 a 2006 (CORES DO BRASIL, 
2010). O aumento pela procura dos serviços turísticos decorre, entre outros, das conquistas 
sociais dos trabalhadores, aumento dos rendimentos, motorização familiar, melhoria dos 
transportes, implementação dos serviços turísticos, interesse do Estado, o 'marketing' e os 
meios de comunicação, além da valorização das horas de lazer como uma componente 
necessária à vida humana. 
A atividade turística gera efeitos benéficos diretos e indiretos na economia. Os 
diretos resultam da despesa feita pelo turista no pagamento aos equipamentos turísticos e de 
apoio. Os efeitos indiretos são gerados pelo gasto feito por aquele que recebeu do turista e, 
ainda, por conta de um efeito induzido, por outrem que tenha recebido daqueles que 
receberam dos prestadores de serviço ou donos de equipamentos (BARRETO, 1999, p. 72). 
Com muitas vantagens, a atividade turística pode ser efetivada em melhores termos 
se for pensada de forma complementar, ou seja, que os destinos turísticos, aqui entendidos 
como os locais para onde se dirigem os turistas e onde se localizam os atrativos turísticos, 
sejam articulados entre si. A articulação logra efeitos positivos mais imediatos e com menores 
riscos de insucesso, isto porque há a ideia de complementaridade. 
Desta maneira, dentro de um estudo para a formulação de uma tese sobre políticas 
públicas para o turismo no espaço rural da Rota das Terras, sentiu-se a necessidade de se 
buscar uma conceituação para roteiro turístico. Embora o termo seja consagrado pelo uso, o 
mesmo não se encontra consolidado no meio acadêmico e a literatura especializada peca pela 
falta de caracterização do termo. 
 
1
 Professor do Instituto Federal Farroupilha. Doutor em Geografia pela UNESP-SP. paulorw@bol.com.br 
Metodologia 
O presente estudo pautou-se sobre uma pesquisa bibliográfica. Foram utilizados, no 
referencial que subsidia a discussão, estudiosos e publicações que mencionam o termo roteiro 
turístico ou termos análogos. A escassez de fontes, a priori, prenuncia uma dificuldade no 
estudo do tema, motivo pelo qual foram tomados outros termos assemelhados para o estudo, 
tais como itinerário turístico, roteirização, percurso turístico e rota turística. 
 
Discussão 
Tomando-se a necessidade de articular os esforços em direção ao desenvolvimento 
de uma dada região, Veiga (1997, p. 103) sugere que este seja considerado numa perspectiva 
mesorregional nos seguintes termos: 
 
A heterogeneidade das dinâmicas de crescimento econômico, distribuição 
de renda e preservação ambiental tornam inócuas as tentativas de 
generalização. Mesmo a abordagem por grandes regiões, ou por grandes 
ecossistemas, contêm sérias limitações. Ou seja, um bom diagnóstico do 
desenvolvimento rural exige a multiplicação de abordagens mesorregionais. 
 
Verificando a necessidade de planejamento turístico
2
 em uma determinada área, 
julga-se que os limites políticos dos municípios não são os melhores determinantes para a 
elaboração de um plano de trabalho, visto que restringe as possibilidades de se pensar essa 
área de modo mais abrangente. 
Pensar o espaço de modo integral, com suas relações, contradições e 
complementaridades pode ser um trabalho mais árduo, entretanto supera a visão estreita de 
verificar a parte excluída do todo. Desta forma a atividade turística pode ser organizada sob a 
forma de roteiros turísticos. Assim a organização de roteiros, visando articular a atividade às 
realidades locais de modo complementar, surge como uma possibilidade turística. 
Conforme Souza; Corrêa (2000, p. 130), roteiro turístico é “[...] o itinerário 
escolhido pelo turista. Pode ser organizado por agência (roteiro programado) ou pode ser 
criado pelo próprio turista (roteiro espontâneo)”. O autor relaciona roteiro a itinerário, ou 
caminho organizado. 
Moletta (2002, p. 40) define roteiro turístico como um pequeno plano de viagem em 
que o turista tem a descrição de todos os pontos a serem visitados, bem como o tempo de 
 
2
 Planejamento turístico conforme Russchmann (1999, p. 83) é “[...] uma atividade que envolve a intenção de 
estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos [...]”, ou de acordo com Barreto (1999, p. 13) 
“[...] é uma atividade, não é algo estático, é um devir, um acontecer de muitos fatores concomitantes que têm que 
ser coordenados para se alcançar um objetivo que está em outro tempo”. 
permanência em cada local e a noção dos horários de parada. Já para Tavares (2002, p. 14), os 
roteiros turísticos “[...] são itinerários de visitação organizados”. Em ambos os casos, os 
autores não são totalmente elucidativos. 
Conforme o Ministério do Turismo, roteiro turístico é “[...] caracterizado por um ou 
mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado para fins de 
planejamento, gestão, promoção e comercialização turística”. (CORES DO BRASIL, 2010). 
Já Montejano (1991, p. 210) conceitua itinerário turístico
3
 como: 
 
[...] toda ruta que transcurre por un espacio geográfico determinado, donde 
se describe y especifica los lugares de paso, estableciendo unas etapas y 
teniendo en cuenta las características turísticas propias – naturales, humanas, 
histórico-monumentales – relacionadas con la zona geográfica que se recorre 
a nivel local, comarcal, regional, nacional e internacional; la duración; los 
servicios turísticos – alojamientos, medio de transporte, etc. – y las 
actividades a desarrollar. 
 
Tavares (2002, p. 20-21), sobre a relevância dos roteiros turísticos, diz que eles “[...] 
podem ser uma das importantes maneiras de contextualizar atrativos e aumentar o seu 
potencial de atratividade, o que pode dinamizar o potencial de atração turística da localidade”. 
Desta forma, os roteiros turísticos podem ser organizados dentro de uma área que 
apresente certas peculiaridades ou afinidades. Em razão disto, formatam-se roteiros ou rotas 
turísticas, que são regiões que apresentam, além de similaridades na oferta turística, certos 
objetivos em comum em relação à atividade turística. Convém destacar que não existem 
formulações conceituais para a expressão rota. Por analogia, entende-se que rota e roteiro 
sejam sinônimos. 
No Estado do Rio Grande do Sul há uma tentativa do governo, por meio da 
Secretaria do Turismo, de definir rotas turísticas dentro da perspectiva da integração de ações 
para o desenvolvimento do turismo. (ROTAS E ROTEIROS, 2010). 
Beni (2006, p. 125), diz que a regionalização turística pode conduzir para o processo 
de clusterização
4
 turística, que significa “[...] o estabelecimento de parcerias entre destinações 
já existentes [...] sendo essencial à competitividade de qualquer destinação, pois reflete o 
estabelecimento de relações de competição e cooperação entre tais destinações [...]”. 
 
 
3
 Neste estudo, roteiro turístico está sendo considerado como sinônimo de itinerário turístico, percurso turístico e 
rota turística, tendo em vista a semelhança de conceituação entre eles. 
4
 Cluster, de acordo com Beni (2006, p. 152) é “[...] uma aglomeração competitiva, um polo consolidado com 
forte interação entre as empresas, estendendo-se verticalmente a jusante e a montante lateralmente, e 
comportando entidades de suporte privadas e públicas, com coesão social e política”. 
Conclusão 
Viu-se que não há uma definição objetivado que seja roteiro turístico. Até mesmo 
para os organismos oficiais falta uma orientação clara. No entanto, muitos “agrupamentos” de 
municípios organizam-se na forma do que, empiricamente, chama-se de roteiro turístico. 
Assim, os roteiros surgem como uma possibilidade de conjugar os esforços empreendidos na 
atividade turística. Vários municípios que dispõem de atrativos turísticos podem planejar a 
atividade conjuntamente sob uma ideia de cooperação e da complementaridade. No entanto, 
antes de formatar roteiros de forma aleatória ou desordenada, há necessidade do domínio do 
conceito, o que pode favorecer, sensivelmente, a tomada de decisões e as ações necessárias 
para o desenvolvimento turístico. Neste sentido, um referencial seguro que pode ser seguido 
no entendimento do que vem a ser roteiro turístico, é dado por Montejano. Acrescenta-se, 
porém, ao conceito do autor, a necessidade da coordenação dos esforços de planejamento, seja 
pelo poder público, seja pela iniciativa privada, com a intencionalidade de promover a 
visitação e o ordenamento da atividade. 
 
Referências 
BARRETO, M. Manual de iniciação ao estudo de turismo. Campinas: Papirus, 1999. 
BENI, M. C. Política e planejamento de turismo no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006. 
MOLETTA, V. Comercializando um destino turístico. Porto Alegre: Mercado Aberto, 
2002. 
MONTEJANO, J. M. Estructura del mercado turístico. Madri: Editorial Síntesis, 1991. 
ROTAS E ROTEIROS. Disponível em 
<http://www.turismo.rs.gov.br/portal/index.php?q=destino&cod=4&opt=>. Acesso em 02 de 
agosto de 2010. 
CORES DO BRASIL. Disponível em 
<www.turismo.gov.br/export/.../modulo_operacional_2_mobilizacao.pdf>. Acesso em 02 de 
agosto de 2010. 
RUSSCHMANN, D. V. M. Turismo e Planejamento sustentável – a proteção do meio 
ambiente. São Paulo: Papirus, 1999. 
SOUZA, A. M.; CORRÊA, M. V. M. Turismo – Conceitos, definições e siglas. Manaus: 
Editora Valer, 2000. 
TAVARES, A. M. City tour. São Paulo: Aleph, 2002. 
VEIGA, J. E. Perspectivas nacionais do desenvolvimento rural. In: Agricultura, meio 
ambiente e sustentabilidade no cerrado brasileiro. SHIKI, S., GRAZIANO DA SILVA, J.; 
ORTEGA, A. C. (orgs.). Uberlândia: 1997.

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