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FACAM – FACULDADE DO MARANHÃO SOMAR SOCIEDADE MARANHENSE DE ENSINO SUPERIOR LTDA CNPJ 04.855.275/0001-68 GRADUAÇÃO – PÓS-GRADUAÇÃO – ENSINO À DISTÂNCIA POLÍTICAS SOCIAIS PAULA CAROLINA CAETANO DE MORAES São Luís 2014 Faculdade do Maranhão Políticas Sociais / Faculdade do Maranhão –. São Luís, 2014. 61f.:il. Impresso por computador (Fotocópia) Apostila (Graduação em Serviço Social a Distância) – Curso de Graduação em Serviço Social, Faculdade do Maranhão, 2014. 1. Políticas Sociais I. Título. CDU 304.4 SOMAR – Sociedade Maranhense de Ensino Superior Ltda. FACAM – Faculdade do Maranhão Carlos César Branco Bandeira Diretor Geral Thatiana Soares Rodrigues Bandeira Diretora Executiva Henilda Ferro Castro Diretora Acadêmica Heraldo Marinelli Coordenador Geral de Ensino a Distância MeyryJanes Costa Almeida Supervisora Adjunta de Ensino a Distância ENTRADA Inscrição / Seleção Orientação ao aluno Recebimento do material instrucional Processo de Estudo Independente Avaliação presencial Encontros pedagógicos TUTORIA SAÍDA Aluno inicia Estudo Independente dos demais módulos Alcançou desempenho satisfatório Aluno entra em processo de reorientação com o tutor Não alcançou desempenho satisfatório T U T O R I A FLUXOGRAMA DE ESTUDO DISCIPLINA: POLÍTICAS SOCIAIS PLANO DE ENSINO EMENTA Discute as concepções de Política Social em diferentes perspectivas teóricas. Fundamentos e conceitos básicos de política social. Gênese histórica e desenvolvimento das políticas sociais no mundo, América Latina, e no Brasil. Funções da política social no capitalismo. As dimensões históricas, econômicas e sociais da política social. Aborda a evolução e a formulação das políticas sociais no Brasil. Analisa o papel do Estado e as novas formas de Regulação Social. Discute a Questão Social e o sistema brasileiro de proteção social. Organização e gestão das políticas sociais no Brasil. As políticas setoriais no Brasil e seus programas. Avaliação das políticas sociais. O trabalho do Assistente Social e as Políticas Sociais. OBJETIVOS Objetivo Geral: O objetivo desta disciplina é proporcionar a você o contato com elementos teóricos e metodológicos que facilitem a compreensão do processo de surgimento e a dinâmica da agenda social para a avaliação de políticas sociais frente aos novos padrões de atenção e proteção social na América Latina. Objetivos Específicos: • Conceituar Política Social e contribuir, desta forma, para o entendimento da importância do estudo deste tema no processo de formação em Serviço Social; • Analisar as abordagens teóricas da Política Social em sua relação com o Serviço Social; • Compreender e descrever as origens da Política Social contextualizando-as historicamente; • Caracterizar o capitalismo, o liberalismo e a democracia em sua relação com as políticas sociais PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS RECURSOS Quadro branco e acessórios; Textos; Data Show; Computador; Papel Chamex. AVALIAÇÃO A avaliação será processual e contínua através de observação, acompanhamento dos trabalhos em diversos momentos de aprendizagem. O processo ensino-aprendizagem será avaliado na dimensão qualitativa e quantitativa – a partir de produção individual e coletiva, expressão crítica e reflexiva dos conteúdos, assiduidade, criatividade, organização e desempenho nas atividades no contexto presencial e a distância. BIBLIOGRAFIA BÁSICA BOBBIO, N. O futuro da democracia. São Paulo: Paz e Terra, 2000. BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006. FALEIROS, V.P. A Política Social do estado capitalista. 8 ed. Ver. São Paulo: Cortez, 2000. BIBLIGRAFIA COMPLEMENTAR BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 29 ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. BRASIL, Presidência da República. Lei Orgânica da Assistência Social, nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993. BRAVO, Maria Inês Souza; PEREIRA, Potyara A.P. (Org.). Política Social e Democracia. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2002. DOWBOR, Ladislau. A gestão social em busca de paradigmas. In: RICO, Elizabeth de Melo; DEGENSZAJN, Raquel Raichelis. Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: EDUC; IEE, 1999, p.31-42. FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. São Paulo: Abril Cultural, 1984. IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2007. SPOSATI, Aldaíza de Oliveira. et al. A assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. 7.ed. São Paulo: Cortez, 1988. SOUZA, Claudia Moraes de. MACHADO, Ana Claudia. Movimentos Sociais no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Ed. Loyola, 1997. APRESENTAÇÃO As políticas sociais são um referencial importante e um campo de atuação privilegiado do Serviço Social. É um desafio contraditório da sociedade e do sistema produtivo. Nesta disciplina, serão analisadas em suas dimensões teórica, histórica e política. O objetivo é capacitar futuros profissionais para a compreensão da realidade histórica das políticas sociais no Brasil. O primeiro capítulo traz uma introdução breve sobre o assunto situando o aluno dentro do conteúdo a ser estudado durante a disciplina. O segundo capítulo desta apostila intitulado “Política Social” origem histórica vem analisar o fenômeno da Política Social, contextualizando-a no interior do capitalismo e do liberalismo. e não poderia ser diferente, já que a mesma foi concebida na sociedade burguesa capitalista, e, portanto, tem relação direta com o capitalismo, estando vinculada às acumulações do capital. O terceiro capítulo traz uma análise do conceito de Estado, sua constituição e desenvolvimento, resgata o histórico do Estado desde a Antiguidade e período feudal até o Estado Moderno e a atualidade em relação à sociedade civil. O quarto capítulo vem tratar sobre o Estado de Bem Estar Social e suas políticas sociais identificadas com o conceito de cidadania. O quinto capítulo apresenta o Neoliberalismo, seus ajustes e desajustes, trazendo as contradições impostas pelo modelo de desenvolvimento e trazendo a formação de movimentos de oposição que lutam pela ampliação dos programas de assistência social oferecidos pelo Estado. O sexto capítulo traz um resgate histórico das políticas sociais, dos anos 30 à contemporaneidade, desde a década de 1930 conhecida como a Era Vargas até a atualidade com o Governo de Luís Inácio Lula da Silva e que vem dando continuidade com a atual presidenta Dilma Roussef sem grandes alterações. No sétimo capítulo apresentamos a relação entre as políticas sociais e os movimentos sociais e a importância da mobilização destes movimentos para a implementação de políticas sociais eficazes. Destacamos também a relação entre movimentos sociais e serviço social. O oitavo capítulo vem debater a temática da gestão das políticas sociais, destacando o papel da participação da sociedade civil e do Controle Social através dos Conselhos. O nono e último capítulo traz à bailaas dimensões do trabalho do Assistente Social no âmbito das políticas sociais, demonstrando a diversidade de formas de intervenção deste profissional neste campo. A partir dessa contextualização, é fácil perceber que a política capitalista não é uma atividade neutra, de atenção à pobreza ou à desigualdade social, formulada consensualmente no âmbito do Estado para ser aplicado à sociedade. Ao contrário, ela é um processo tenso, com muitas complexidades, contradições e conflitos de interesse. As profundas alterações nas relações históricas entre o Estado e a sociedade civil, quanto as formas de organização e gestão da força de trabalho vêm atingindo o conjunto das especializações do trabalho, entre as quais o Serviço Social, inaugurando novos marcos da divisão social é técnica do trabalho, que interpelam o assistente social em suas respostas profissionais. Assim, esta disciplina propõe-se a debater temas da maior importância para a orientação crítica do trabalho do assistente social, considerando a amplitude de suas funções e atribuições no cotidiano profissional. Na expectativa de que esta disciplina inspire atitude e práticas profissionais questionadoras no âmbito das políticas sociais, desejamos às (aos) alunas (os) um proveitoso e estimulante estudo. Professora Paula Carolina Caetano de Moraes SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9 2 POLÍTICA SOCIAL – ORIGEM HISTÓRICA ................................................... 10 2.1 Conceituando Política Social ........................................................................ 12 2.2 Características das Políticas Sociais ........................................................... 12 2.3 Alternativas de Política Social ...................................................................... 14 3 A QUESTÃO DO ESTADO E AS POLÍTICAS SOCIAIS................................. 15 4 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL: concepção e crise ............................. 18 5 NEOLIBERALISMO – AJUSTES E DESAJUSTES ........................................ 21 6 POLÍTICAS SOCIAIS: dos anos 30 à contemporaneidade ............................. 22 7 POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS SOCIAIS .......................................... 28 8 GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS .............................................................. 31 9 DIMENSÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS POLÍTICAS SOCIAIS .......................................................................................................... 32 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 38 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 41 ANEXOS .......................................................................................................... 42 9 1 INTRODUÇÃO No Dicionário Aurélio, a palavra “política” se refere ao processo de disputa por cargos e negociação de interesses na sociedade, quanto à implementação de ações governamentais específicas, na área de educação, saúde, meio ambiente, redução da pobreza e outras. Porém, segundo Schwartzman (2004), não existe unanimidade entre as diversas áreas do conhecimento acerca do conceito de política. Os cientistas políticos de língua inglesa usam palavras diferentes para estes dois processos: “politics” no primeiro caso, e “policy” no segundo, expressão que costuma ser traduzida para o português como “política pública”. Dentro desta ótica, procure refletir sobre o fato que políticas públicas são estabelecidos, em suas linhas mais gerais, pela política. Mas só a política não é capaz de transformá-las em ações governamentais específicas. Elas dependem, além disto, dos fatos e da maneira pela qual os fatos são vistos e interpretados. O que é uma política social? Para Machado; Kiosen (1998, p. 01), A política social é uma política, própria das formações econômico-sociais capitalistas contemporâneas, de ação e controle sobre as necessidades sociais básicas das pessoas não satisfeitas pelo modo capitalista de produção. É uma política de mediação entre as necessidades de valorização e acumulação do capital e as necessidades de manutenção da força de trabalho disponível para o mesmo. Nesta perspectiva, a política social é uma gestão estatal da força de trabalho. (...) como o capital e o trabalho se constituem nas duas categorias fundamentais do modo capitalista de produção, a política social transita entre ambos. Ou seja, ainda que, prioritariamente, respondendo às necessidades do capital, esta resposta deve produzir algum grau de satisfação às necessidades do trabalho. (...) portanto, há uma problematicidade na política social, dado que ela se insere no âmbito da tentativa de buscar um certo grau de compatibilidade entre capital e trabalho. Os autores citados chamam a atenção para o fato de que a política social, de qualquer forma manifestada, é garantida e efetivada apenas com o custeio dos próprios beneficiários, ou seja, dos trabalhadores assalariados. 10 Dentro desta ótica, tais políticas apresentam um inegável conteúdo de classe social e respondem, em ultima instância, aos interesses das classes dominantes. Isto não significa, segundo os autores, que se deve, neste momento histórico, negar uma ou outra – ou ambas. O que se mostra fundamental é o fortalecimento daqueles que se encontram fora dos processos decisórios que acontecem no âmbito político. Os espaços políticos já existentes – sindicatos, associações, conselhos – e a busca incessante de criação de novos espaços de participação podem se constituir em um caminho possível de fortalecimento dos indivíduos para que reconheçam enquanto sujeito coletivo e imponham mudanças importantes em ambas as políticas. Mudanças estas que podem vir a favorecer a maioria da população. 2 POLÍTICA SOCIAL – ORIGEM HISTÓRICA A palavra Política origina-se de Polis, sinônimo de cidade. Política tem relação com poder, com força e violência; com autoridade, coerção, persuasão, ao mesmo tempo. É o estabelecimento de um jogo de forças e poder na escolha e nas metas de ação a serem cumpridas. (ARANHA e MARTINS, 1986). A Política Social tem a conotação de poder e força por ser de âmbito oficial, ou seja, consiste em estratégia governamental, composta de planos, projetos, programas e documentos variados, para mediar os reflexos negativos da relação capital-trabalho. Foi fruto das mobilizações e lutas dos trabalhadores, desde os primórdios da Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX. Existe um consenso em relação à origem das Políticas Sociais por volta do final do século XIX, em que se criaram as primeiras leis e medidas de proteção social, com destaque para a Alemanha e Inglaterra, fruto de intensos debates entre liberais e reformadores sociais humanistas, segundo Behring (2000). Entretanto, somente houve a disseminação dessas medidas de seguridade social após a Segunda Guerra Mundial, com a implantação do Welfare State ou Estado de Bem Estar Social, em alguns países da Europa. 11 Política Social, na atualidade, é considerada “palavra em moda” e se associa aos conceitos de “Estado de Bem Estar” ou “Welfare State”, “políticas públicas” e “cidadania social”. Entretanto, o termo política social é genérico, provocando uma noção um tanto vaga. Mas é preciso esclarecer que política social tem uma identidade própria. Refere-se segundo Pereira (1994): Programa de ação que visa, mediante esforço organizado, a atender necessidades sociais e cuja resolução ultrapassa a iniciativa privada, individual e espontânea e requer decisão coletiva, regida e amparada por leis impessoais e objetivas, garantidoras de direitos. Explicando melhor o significado de política social, pode-se afirmar que é um tipo depolítica pública, ou seja, política pública e política social, são programas de ação, mas política social é específica, dentre outras, como: política econômica, agrária, ambiental etc. operando no interior da política pública, que é mais ampla. Não se pode entender política pública apenas como política de Estado, mas associada à coisa pública, ou seja, de todos, submetida a uma mesma lei e com respaldo de uma comunidade de interesse. Dessa forma, embora as políticas públicas sejam regulamentadas e, na sua maioria, financiadas pelo Estado, elas podem ser controladas pelos cidadãos, através de entidades privadas ou ONGs. Política social, Estado de Bem Estar e Welfare State não são sinônimos, como geralmente são tratados. Política social é um conceito mais amplo do que Welfare State, que tem um significado histórico, será estudado com mais detalhes no próximo capítulo desta apostila. Na sua práxis, o assistente social se depara com as teorias que norteiam o olhar e a ação destes profissionais. Estas teorias são um conjunto organizado de idéias e pressupostos sobre o mundo no qual estamos inseridos e que transitam por diferentes áreas de conhecimento: filosofia, psicologia, economia, direito, antropologia etc. cada uma destas áreas tem seu quadro teórico, sobre o qual podemos observar diferentes possibilidades: nos deparamos com modelos, perspectivas e teorias diversas que conversam interdisciplinarmente com o Serviço Social. 12 2.1 Conceituando Política Social Como se constrói a estrutura social de um país? De uma forma geral, para Schwartzman (2004), a estrutura social de um país é dada pela sua estrutura demográfica, sua ocupação, a distribuição da riqueza entre seus habitantes, sua distribuição espacial e geográfica. Entram neste grande mosaico a existência de divisões de natureza étnica e cultural, e o que se pode denominar de “capital humano”, a educação. A sociedade brasileira vem se transformando rapidamente ao longo das últimas décadas, a tal ponto que a agenda social, muitas vezes, é superada pelos fatos. O estabelecimento de uma agenda de políticas públicas depende de vários fatores, que incluem as emergências de curto prazo, que precisam ser enfrentadas com realismo; as preferências e prioridades dos partidos, movimentos sociais e instituições com poder e capacidade de influência no governo e na opinião pública; e a realidade econômica e social, que tem suas limitações e condicionantes, que não podem ser ignoradas impunemente. A médio e longo prazo, as políticas bem sucedidas serão aquelas que consigam ir além do “apagar de incêndios” do dia a dia, assim como das preferências de momento dos movimentos sociais e da mobilização da opinião pública através dos meios de comunicação de massas, e portam de um diagnóstico correto a respeito dos problemas existentes, e as possibilidades efetivas de enfrentá-los. (SCHWARTZMAN, 2004, p. 01) 2.2 Características das Políticas Sociais Segundo Schwartzman (2004), é possível pensar em políticas sociais em termos de quatro grandes tipos ou gerações: A definição das políticas sociais do país não depende somente das condições gerais da estrutura social, caracterizada anteriormente em linhas gerais; depende também do contexto econômico mais amplo, da força política dos diferentes grupos na sociedade e das idéias e preocupações que predominam na sociedade. Ela depende, em boa parte, também, do clima da opinião pública nacional e internacional, moldado em grande medida pelos meios de comunicação de massas. 13 1- A primeira geração é formada pelas políticas de ampliação e extensão dos benefícios e direitos sociais. No caso do Brasil, elas se iniciam na década de 30, com a criação das primeiras leis de proteção ao trabalhador e as primeiras instituições de previdência social, e culminam, pode-se argumentar, com a Constituição de 1988, que consagra um amplo conjunto de direitos sociais na área da educação, saúde, proteção ao trabalhador e outras. 2- As reformas da segunda geração, que entram na agenda de preocupações do Governo Fernando Henrique Cardoso e continuam com o governo Lula, procuram racionalizar e redistribuir os recursos gastos na área social. Elas respondem a uma dupla motivação: a de colocar os gastos em situação de equilíbrio financeiro, e a de corrigir os aspectos mais regressivos dos gastos sociais, que beneficiam as classes médias e altas, em detrimento das mais pobres. 3- As reformas de terceira geração seriam aquelas que buscam alterar não somente a distribuição dos gastos sociais, mas também a qualidade dos serviços prestados, assim como do marco institucional e legal dentro da qual as atividades econômicas e a vida social passam a se desenvolver. As propostas de reforma de terceira geração incluem ainda uma nova política para a área de segurança pública, com temas como a unificação das polícias civil e militar, a criação de uma polícia judiciária, e a aproximação entre órgãos de segurança e as comunidades de baixa renda, e a reforma do Judiciário, com propostas para tornar a mais acessível e mais eficiente, através de medidas com a introdução da “súmula vinculada”, para fortalecer a autoridade das cortes superiores e o controle da indústria de recursos e liminares, e formas adequadas de controle externo do Poder Judiciário. 4 – A quarta fase, finalmente, teria por objetivo não mais a simples distribuição de benefícios, mas esforços no sentido de aumentar o capital humano e os recursos das populações mais necessitadas, para que elas não dependam tanto de subsídios governamentais. 14 2.3 Alternativas de Política Social No campo das políticas sociais, onde se busca realizar e cumprir as promessas contidas nas declarações de valores e direitos, o problema que surge com mais evidência é que, na prática, diferentes direitos podem levar a ações distintas e contraditórias, e dependem, além disto, de condições econômicas, sociais e institucionais que estão fora do alcance dos agentes. Segundo Simon Schwartzman (2004), a maneira correta de resolver estes dilemas e conflitos começa por reconhecer sua existência, e tratá-los com dilemas reais, e não como conflitos entre o bem e o mal, no mundo das políticas públicas, estes dilemas devem ser necessariamente reconhecidos e administrados; no mundo da disputa política, no entanto, a complexidade das questões tende a desaparecer, sob as luzes dos comícios e da grande imprensa. Não é de estranhar, portanto, que governos busquem, muitas vezes, devolver para a arena política dilemas e questões de política pública que não conseguem resolver na ação administrativa do dia a dia. Uma maneira de fazer isto é substituir os técnicos e especialistas das diversas agências governamentais políticos militantes; a outra é manter todos os temas controversos sob o farol dos pronunciamentos e manifestações políticas, não dando tempo nem espaço para que o conhecimento técnico e a elaboração de soluções mais complexas venham a ocorrer. Observe que o autor dá ênfase ao fato de que não há solução em curto prazo para os problemas concernentes à pobreza no Brasil. Para que o quadro de pobreza seja revertido, é necessário vontade política e compromisso com os valores da igualdade social e dos direitos humanos, uma política econômica adequada, que gere recursos; um setor público comprometido com as questões sociais, competente e responsável no uso dos recursos que recebe da sociedade; e políticas específicas na área de educação, da saúde, do trabalho, da proteção à infância, e do combate à discriminação social, entre outras. Entretanto, o autor enfatiza que tudo isto é fácil de verbalizar e dificílimo de realizar. A construção de uma sociedade democrática, responsável, comprometida com os valores de equidade, de justiça social, e que nãocaia na tentação fácil da política do populismo do messianismo político, é uma tarefa de longo prazo, e que pode não chegar a bom termo. Mas não há outro caminho a seguir, a não ser este. 15 3 A QUESTÃO DO ESTADO E AS POLÍTICAS SOCIAIS Com a ascensão da burguesia na política, cria-se o Estado como sistema diverso da sociedade civil. Como se sabe, na Idade Média o poder político pertencia ao senhor feudal, proprietário das terras, e seu poder era vitalício, passava de pai para filho e vinha junto com as terras. Com a revolução burguesa, separa-se o privado do público. Assim, ocorre a institucionalização do poder, não mais visto sob a ótica de quem o detém, o senhor feudal ou o monarca, mas daquele que o representa de direito, e sua legitimidade repousa no mandato popular e não no uso da violência ou do privilégio. A Política Social é um fenômeno a partir da constituição da sociedade burguesa, que é o modo capitalista de produzir e reproduzir-se, portanto, tem relação direta com capitalismo e está vinculada às acumulações do capital. Apresenta nefasta submissão à lógica da economia capitalista, remetendo suas causas exclusivamente à regulação dos conflitos. No início do capitalismo e da Revolução Industrial, o primeiro caracterizava-se como concorrencial, no qual na produção desordenada prevalecem as leis de mercado, sem interferência do Estado. Entretanto, com os problemas surgidos da livre concorrência, o que fazer? Eliminar o mercantilismo? E a liberação da iniciativa capitalista? Suscitou a necessidade de intervenção do Estado. Como se deu essa intervenção? Através de medidas legais para intervir na organização da economia. Que é chamada de fase monopolista, na qual a produção é planejada e organizada, e ocorre a supremacia dos trustes e dos cartéis. O Estado, mediador civilizador, tem grande parcela de valor socialmente criado e controle do processo produtivo e reprodutivo. Contraditoriamente, tem a direção de classe, hegemonia do capital, pressão de supercapitalização e precisa aumentar a taxa de lucros. E o Estado é o gestor das relações entre o conjunto da produção e o conjunto da reprodução da força de trabalho e essa variação ocorre de acordo com a conjuntura que se dá na correlação de forças nos momentos históricos determinados. 16 O Estado e empresas privadas, através de convênios e contratos, executam Políticas Sociais que são políticas públicas e executam medidas de política social. Em que consistem essas medidas? Implantação de assistência social, de previdência social, de prestação de serviços, de proteção jurídica, de construção de equipamentos sociais e de subsídios. Mas não se pode esquecer que política social é resultado de pressão do movimento operário em torno da insegurança (desemprego, invalidez, doença, velhice). O movimento impõe o princípio dos seguros sociais. Os seguros sociais inicialmente eram caixas de voluntários, que se tornaram obrigatórias, para cobrir perdas visando à segurança social do trabalhador, cuja cobertura dá-se contra toda perda de salário. A Política Social, através do Estado, desempenha papel fundamental de reduzir a crise do capitalismo, realizando intervenções e estimulando a demanda por bens e serviços e investindo em equipamentos e tecnologias mais avançadas, com serviços caros. A Política Social caracteriza-se como mecanismo de reprodução da força de trabalho, constituindo-se em um processo complexo que se relaciona com a produção, com o consumo e o capital financeiro. A Política Social ocupou espaço maior no período fordista, do pleno emprego e do exército industrial de reserva e restringiu-se na atualidade com o desemprego estrutural. A revolução tecnológica na produção provocou diminuição de lucros, além da concorrência, especulação, estagnação do emprego e produtividade. A Política Social enfoca a manutenção do trabalho com a inclusão de benefícios permanentes, quando se perde a capacidade de trabalho ou dos excluídos do trabalho, crianças e idosos (BEHRING, 2000). A reflexão sobre Política Social requer um conhecimento prévio sobre Estado, visto que a constituição e o desenvolvimento da Política Social ocorrem no interior do Estado. Os modos de produção: escravista, feudal, capitalista, socialista, são determinados por mudanças na estrutura da sociedade e nas relações sociais e refletem na forma de Estado que determinada sociedade histórica irá produzir, sendo fruto daquele modo de produção vigente. Assim, vamos tentar compreender o significado do conceito de Estado e sua importância no interior da Política Social. 17 Na Antiguidade As primeiras formas do Estado surgiram quando se tornou possível centralizar o poder em uma forma duradoura. A agricultura e a escrita estão associadas a este processo. O processo agrícola permitiu a produção e o armazenamento de um excedente. Este, por sua vez, permitiu e incentivou o surgimento de uma classe de pessoas que controlava e protegia os armazéns agrícolas e, portanto, não tinham que gastar parte do seu tempo na própria subsistência. A escrita possibilitou a centralização de informações vitais. O Estado tem uma variedade de formas, nenhuma delas parece muito com o modelo atual. Houve monarquias cujo poder foi baseado na função religiosa do rei e do seu controle de um exército centralizado, como por exemplo, o governo dos Faraós. Houve também impérios, como o Império Romano, que dependiam menos da função religiosa e eram mais centralizados sobre militares e organizações da nobreza. A ideia de dominação presente no conceito de Estado vem desde os gregos, para os quais Estado e lei eram recursos políticos que sempre andavam de mãos dadas. As ideias de Platão e Aristóteles estavam ligadas a uma concepção de direito natural restrito, pois as necessidades da polis é que eram reconhecidas. Na filosofia aristotélica o ponto de partida de suas reflexões era a desigualdade da natureza humana, que influenciou o campo do direito na Grécia. Esta visão de direito sofreu alterações. Na Roma antiga, o sistema jurídico e político expressava a realidade complexa e multinacional do Império Romano. Na Grécia, a escravidão estava relacionada à desigualdade natural dos homens e era justificável por isso; e em Roma, a igualdade de todos os homens era a condição fundamental. O Estado romano passou a ser pensado como comunidade, res publica, ou coisas do povo, e associado à justiça, fosse ele monárquico, aristocrático ou democrático. Roma desenvolveu, logo após o fim da monarquia, uma república, que era regida por um Senado e dominada pela aristocracia romana. O sistema político romano contribuiu para o desenvolvimento das leis e para a distinção entre a esfera privada e a pública. 18 O pensamento político medieval Já na Idade Média, segundo Bravo; Pereira (2007, p. 28): A idéia medieval de que o soberano exercia o poder em nome de Deus teve suas raízes na Antiguidade, mas foi acrescida de um elemento novo: o de que o rei deveria ser aceito por seus súditos para que a sua soberania fosse legítima. Dessa exigência de legitimação como um instrumento de controle nasceu a doutrina do pacto entre o soberano e os súditos, mediante o qual se estabeleciam as condições do exercício do poder e das obrigações mútuas. Apresentavam-se dois poderes: um material, também chamado temporal porque pertence ao tempo, e outro espiritual referentes aos valores eternos da religião, e mesmo separado, muitas vezes o papa interferia nos assuntos de Estado. No final do século XIV, o Grande Cisma acentua a divergência e a tentativa do Estado de firmar sua soberania. 4 O ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL: concepção e crise O Welfare State ocorreu no século XX, após a Segunda Guerra Mundial e tem caráter institucional, em que o Estado capitalista, inspirado na filosofia do economistainglês John Maynard Keynes (1883-1946), regula e provém com benefícios e serviços sociais. Enquanto a política social originou-se muito antes do século XX, desenvolveu-se em diferentes tipos de relação entre Estado e sociedade civil. As políticas sociais do Welfare State são identificadas com o conceito de cidadania, enquanto as políticas sociais da Lei dos Pobres, patrocinadas inicialmente por regimes monárquicos, temiam principalmente a desordem social, devido ao aumento da pobreza. Assim, o objetivo desta ultima consistia na repressão à “vagabundagem” e, se necessário, as pessoas desta forma definidas eram abrigadas em casas de correção e de trabalho forçado. Mais tarde, mesmo reconhecendo a existência de pobres incapazes para o trabalho, os governos persistiram a tratá-los sem qualquer diferenciação em relação aos desempregados e àqueles que não desejavam trabalhar ou “indolentes”. Ou seja, a Lei dos Pobres não via a política social como um dever social com um dever do Estado e estas pessoas eram discriminadas e vistas como inúteis. 19 Observa-se que os princípios e critérios que fundamentaram as políticas sociais, seis séculos antes do Welfare State apesar de estarem ainda em voga, não se identificam com a concepção de bem estar social do século XX. Fraser apud Pereira (1994), afirma que: O Welfare State é um sistema de organização social que procura restringir as livres forças do mercado em três principais direções: a) garantindo direitos e segurança social a grupos específicos da sociedade, como crianças, idosos e trabalhadores; b) distribuindo, de forma universal, serviços sociais como saúde e educação; e c) transferindo recursos monetários para garantir a renda dos mais pobres em certas contingências, como a maternidade, ou em situações de interrupção de ganhos devido a fatores como doença e desemprego. Essas três áreas de proteção nem sempre foram consideradas de responsabilidade exclusiva do Estado, o que somente ocorreu a partir dos anos 1940 devido aos seguintes eventos: a Segunda Guerra Mundial; a prosperidade econômica do pós-guerra; o surgimento do fasciscmo; a ameaça do comunismo; o fortalecimento da classe trabalhadora, dentre outros. Behring (2000) analisa, por sua vez, que o Welfare State possui uma incompatibilidade estrutural entre acumulação e equidade, pois não ofereceu igualdade de condições, mesmo o Estado se apropriando do valor socialmente criado e realizando regulação econômica e social, não eliminou as condições de produção e reprodução da desigualdade. Fica a pergunta: O que move o capital? A busca do lucro, a extração da mais valia. E a democracia nesse contexto? A palavra é originada do grego demos, que significa “povo”, e kratia, de krátis, que é sinônimo de governo, poder, autoridade. Entretanto, segundo Aranha & Arruda (1986), o conceito é abstrato, nunca realizou-se de fato. 20 A Revolução francesa trouxe o conceito de democracia à baila, cujo lema “igualdade, liberdade, fraternidade” foi proclamado, mas os interesses eram burgueses e não populares. Apesar das exigências democráticas não serem apenas da nova classe dos burgueses, mas também dos operários, que aumentara sensivelmente devido à Revolução Industrial e ao aumento da concentração urbana. Regime democrático é um método de governo que consiste em um conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões coletivas, no qual está prevista e facilitada a ampla participação dos interessados, que estabelece quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais procedimentos. Estabelece quais indivíduos estão autorizados a tomar decisões pelo grupo. O Estado democrático se coloca do ponto de vista do direito, mas como aponta Vieira (1992, p.12): Tal Estado de Direito não se realiza apenas com a garantia jurídico-formal desses direitos e liberdades, expressa em documento solene. Quanto a eles, o Estado de Direito determina sua proteção formalizada e institucionalizada na ordem jurídica e, principalmente, reclama a presença de mecanismos socioeconômicos dirigidos e planificados com a finalidade de atingir a concretização desses direitos. Muitas razões de Estado têm conduzido a contradições entre a simples declaração de direitos e liberdades e a sua real efetivação. O que sustenta o Estado de Direito é a sociedade democrática. Porém, nem toda sociedade é sociedade democrática. Sociedade democrática, de acordo com Vieira (1992, p. 13): É aquela na qual ocorre real participação de todos os indivíduos nos mecanismos de controle das decisões, havendo, portanto, real participação deles nos rendimentos da produção. Ou seja, deverá haver, de forma equitativa, distribuição de renda e as decisões serem tomadas no coletivo, no que se refere às diversas formas de produção. Assim, a criação de uma sociedade industrial de consumidores e a criação de um Estado de Bem Estar Social, onde não é permitida a todos a decisão e o usufruto de bens e serviços consistem apenas em transformar essas pessoas em consumidores felizes, mas não cidadãos plenos. 21 5 NEOLIBERALISMO: ajustes e desajustes A partir da década de 1970, a supremacia do modelo capitalista marcou uma nova fase da política internacional. Com o passar do tempo, o novo ritmo das empresas e mercados forçou uma repaginação dos moldes de orientação política do Estado para com sua economia. A necessidade de crescimento constante passou a conviver com a elaboração de formas de se conter um possível colapso da economia mundial. A política neoliberal também atingia diretamente a relação de gastos que o Estado mantinha com as necessidades essenciais da sociedade civil. De acordo com o pensamento neoliberal, os gastos públicos do governo com educação, previdência social e outras ações de cunho assistencial deveriam ser reduzidas ao máximo. Era necessário manter um Estado forte em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro e parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com bem estar, e a restauração de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Nos países subdesenvolvidos, a implantação do modelo neoliberal tem como maior manifestação a onda de privatizações que atingiram as empresas estatais, colocando a situação de muitos trabalhadores sob ameaça de redução do quadro de funcionários. A necessidade de constante modernização e mecanização de serviços também fechou várias portas do mercado de trabalho. Essas contradições impostas pelo modelo de desenvolvimento neoliberal, percebemos a formação de movimentos de oposição que lutam pela ampliação dos programas de assistência social oferecidos pelo Estado. 22 6 POLÍTICAS SOCIAIS: dos anos 30 à contemporaneidade As políticas sociais no período anterior à Revolução de 1930 eram fragmentadas e emergencialistas, apesar de haver indícios da disposição de uma atuação mais global por parte do Estado, como a instituição por lei dos Departamentos Nacionais do Trabalho e da Saúde e a promulgação, em 1923, do Código Sanitário e da Lei Eloy Chaves, essa última sobre assuntos previdenciários. Questões de saúde pública eram tratadas pelas autoridades locais, não havendo por parte do governo central um programa de ação no sentido de atendê-las. A atuação do Estado restringia-se a situações emergenciais, como a epidemias em centros urbanos. A educação era atendida por uma rede escolar muito reduzida, de caráter elitista e acadêmico, que visava preparar alunos para a formação superior. As reformas da ocorriam regionalmente e de forma parcial, ou seja, não faziam parte de uma política global de educação. A previdência era predominantementeprivada, organizada por empresas e categorias profissionais, e a questão habitacional não era considerada objeto de política pública. 23 As políticas surgidas no Brasil, no início dos anos 1920, já constituíam um esboço da formação do Welfare State brasileiro, cuja função era atuar como instrumento de controle dos movimentos de trabalhadores no país. Sua estratégia era antecipar algumas demandas, o que favorecia os grupos profissionais de maior influência política para, com isso, restringir a legitimidade das lideranças trabalhadoras nas reivindicações sociais e limitar a capacidade de mobilização dos trabalhadores no país. Sua estratégia era antecipar algumas demandas, o que favorecia os grupos profissionais de maior influência política para, com isso, restringir a legitimidade das lideranças trabalhadoras mas reivindicações sociais e limitar a capacidade de mobilização dos trabalhadores em geral. As políticas de seguridade social da época tinham caráter reformista e buscavam satisfazer às demandas das alas defensivas do movimento trabalhador a fim de enfraquecer as organizações de cunho mais radical. É a partir de 1930 que se torna nítida a constituição de um Welfare State no Brasil, com políticas sociais de profundo caráter conservador. De acordo com a perspectiva corporativista dos grupos no poder, nesse período predominava um ideal de sociedade harmônica em que os antagonismos entre classes eram encarados como nocivos ao bem comum representado pelo Estado. Uma marca do surgimento do Welfare State brasileiro é o autoritarismo, evidente na repressão aos movimentos de trabalhadores. SAIBA MAIS Lei Eloy Chaves: publicada em 24 de janeiro de 1923, consolidou a base do sistema previdenciário brasileiro, com a criação da Caixa de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias. Após a promulgação desta lei, outras empresas foram beneficiadas e seus empregados também passaram a ser segurados da Previdência Social. Hoje, a Previdência Social brasileira é considerada uma das maiores distribuidoras de renda do país. Mensalmente, são desembolsados cerca de R$ 16 bilhões no pagamento de 27 milhões de benefícios, como aposentadorias, pensões e auxílio- doença. Fonte: www.pelegrino.com.br 24 Até 1937, embora vigorasse no Brasil o Estado de Direito, já começavam a se delinear os traços autoritários que estariam presentes, com uma intensidade variável, no decorrer do período que se estende até 1964. Nesse primeiro momento, o autoritarismo expressava-se fundamentalmente na estrutura corporativista da organização sindical, que começou a ser montada em 1930. O corporativismo, deslocando os conflitos entre capital e trabalho para a esfera do Estado, descaracterizou e obstaculizou a livre manifestação das reivindicações dos trabalhadores. (BARCELLOS, 1983, p.11). A ausência de organizações de trabalhadores politicamente fortes ao longo de um processo de industrialização relativamente lento. Assim, diferentemente de uma história na qual o Welfare State surge como resultado das barganhas políticas dos trabalhadores, o Brasil tem, na generalização e coordenação de suas políticas, um mecanismo de constituição da força de trabalho assalariada por intermédio do Estado. Esse papel foi extremamente importante para o processo de modernização. Como a maior parte dos bens de capital e tecnologia era importada e a mão de obra encontrava-se no setor agroexportador da economia, criou-se um descompasso entre meios de produção e força de trabalho. O Welfare State brasileiro atuou sobre esse descompasso, o que facilitou a migração dos trabalhadores dos setores tradicionais para os setores modernos e a constituição de uma força de trabalho industrial urbana no país. Toda essa década e o início da seguinte correspondem um movimento de criação da base institucional-legal para as políticas sociais: A produção legislativa a que se refere o período 1930/43 é fundamentalmente a que diz respeito à criação dos institutos de aposentadorias e pensões, de um lado, e de outro, a relativa à legislação trabalhista, consolidada em 1943. Se essa é, de fato, a inovação mais importante, o período é também fértil em alterações nas áreas de política de saúde e de educação, onde se manifestam elevados graus de “nacionalização” das políticas sob a forma de centralização no Executivo Federal, de recursos e de instrumentos institucionais e administrativos e resguardos de algumas competências típicas da organização federativa do país. (DRAIBE, 1989, p. 8). Nesse período, o Brasil definiu e implementou as bases modernas de seu sistema de seguridade social, as quais permaneceram intactas até 1966. Diversas reformas no aparelho de Estado consolidaram um Welfare State baseado em políticas predominantemente voltadas para trabalhadores urbanos, a fim de não ferir os interesses das oligarquias rurais que detinham forte poder político à época. 25 Sob o governo Vargas, a década de 1930 é caracterizada pela estratégia deliberada de aumentar o papel do Estado na regulação da economia e da política nacionais como estratégia de desenvolvimento. Do ponto de vista das relações de trabalho, o regime populista do período perseguiu três objetivos básicos: a) Evitar que os movimentos de trabalhadores se tornassem base de apoio para grupos de oposição que reivindicavam mudanças mais profundas na organização da sociedade; b) Despolitizar as relações de trabalho, impedindo que as organizações de trabalhadores se legitimassem como instrumento de reivindicação; e c) Fazer dos trabalhadores um ponto de apoio, ainda que passivo, do regime. Tais objetivos foram alcançados por meio de uma combinação de repressão à oposição e concessão aos movimentos de trabalhadores que apoiavam o regime. Em vez de mobilizar, o regime populista buscou cooptar seletivamente segmentos de trabalhadores em um processo de “inclusão controlada”. Trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos não organizados foram sistematicamente ignorados nesse processo. Na relação estruturada entre o Estado e a classe trabalhadora, convergem os fenômenos do patrimonialismo, cooptação e corporativismo. Um dos elementos fundamentais para essa implantação foi o esquema de proteção social criado para atender aos setores organizados da classe trabalhadora urbana, fundamentado no sistema de previdência social promoveu a rápida expansão do estamento burocrático, tornando-se, logo, uma das fontes mais importantes de emprego público no país. A previdência social contribuiu para a criação de divisões na classe trabalhadora e incentivou entre os trabalhadores de uma mentalidade particularista e essencialmente depende do clientelismo do Estado. O sistema contribuiu para a incorporação de importantes segmentos da classe trabalhadora no conjunto de estruturas corporativistas, o que aumento, em princípio, o poder regulatório do Estado patrimonialista. 26 O período do Estado Novo (1937/1945) representa a passagem definitiva de uma sociedade de base agrária para uma sociedade urbano-industrial. O caráter fortemente autoritário do Estado, exemplificado pela promulgação da Lei de Segurança Nacional em 1935, reprimiu a ascensão de movimentos tanto de esquerda quanto de direita e diminuiu a autonomia das unidades estaduais ao concentrar no governo federal praticamente todo o poder decisório e administrativo referente às políticas sociais, enquanto os movimentos de trabalhadores tinham sua organização limitada. No período compreendido entre 1945 e 1964, o Brasil viveu a fase de democracia populista de sua política. Embora o Brasil tenha adotado um regime democrático após 1945, muitas das estruturas corporativas construídas nos anos precedentes permaneceram intactas, especialmente no campo das relações de trabalho, como foio caso da Previdência Social. O período 1946/1964 é marcado pela criação de instrumentos legais voltados para o funcionamento de um governo democrático. Nele, o autoritarismo perde espaço, porém o populismo continua sendo o traço fundamental da relação Estado-Sociedade. As mudanças na economia e na política nesse período exigiram do Estado a ampliação e a rearticulação de suas funções para suprir as necessidades advindas do aprofundamento da concentração urbana e da modernização do país. SAIBA MAIS Lei de Segurança Nacional (1935): Promulgada em 4 de abril de 1935, definia crimes contra a ordem política e social. Sua principal finalidade era transferir para uma legislação especial os crimes contra a segurança do Estado, submetendo- os a um regime mais rigoroso, com o abandono das garantias processuais. A LSN foi aprovada, após tramitar por longo período no Congresso e ser objeto de acirrados debates, num contexto de crescente radicalização política, pouco depois de os setores de esquerda terem fundado a Aliança Nacional Libertadora. Foi aperfeiçoada pelo governo Vargas, tornando-se cada vez mais rigorosa e detalhada. Após a queda da ditadura do Estado Novo em 1945, a Lei de Segurança Nacional foi mantida nas Constituições brasileiras que se sucederam. 27 O incentivo dos governos populistas à mobilização das massas urbanas em torno dos projetos da burguesia industrial permitiu uma organização e participação política do movimento sindical sem precedentes na história brasileira. Como consequência foi introduzida diversas modificações na legislação trabalhista que envolvia questões de organização sindical, direito a greve e tutela do trabalho, além de buscarem atender a algumas reivindicações sociais. Os governos militares iniciados em 1964 inauguraram a fase de consolidação do sistema, acompanhada por profundas alterações na estrutura institucional e financeira das políticas sociais, que vai de meados da década de 1960 a meados da década seguinte. Nesse período, são implementadas políticas de massa de cobertura relativamente ampla, mediante a organização de sistemas nacionais públicos ou estatalmente regulados de provisão de serviços sociais básicos. O modelo de Welfare State dos governos militares perdeu o caráter populista que mantinha desde o período getulista e assumiu duas linhas definidas. A primeira, de caráter compensatório, era constituída de políticas assistencialistas que buscavam minorar os impactos das desigualdades crescentes provocadas pela aceleração do desenvolvimento capitalista. A segunda, de caráter produtivista, formulava políticas sociais visando contribuir com o processo de crescimento econômico. Nesse sentido, foram elaboradas as políticas de educação, que buscavam atender às demandas por trabalhadores qualificados e aumentar a produtividade da mão de obra semiqualificada. Outros tipos de política, que tinham a função de “modernizar” a vida social dos trabalhadores do nível dinâmico da economia (funcionários do Estado, do setor financeiro, trabalhadores da indústria e de setores a ela relacionados), tomando como referência o Welfare State de países desenvolvidos, também foram implementadas conforme uma ótica produtivista: deveriam ser autofinanciadas e, se possível, capazes de gerar excedentes aplicáveis no setor produtivo ou em outras políticas sociais. Segundo Martine (1989, p. 100), 28 Os recursos que circulavam pela área social passaram a ser estreitamente articulados com a política econômica, sendo subordinados, em várias áreas, ao critério de racionalidade econômica. A iniciativa privada foi, assim, estimulada a assumir importantes fatias dos setores de habitação, educação, saúde, previdência e alimentação. Com essas inovações, a política social passou, inclusive, a ser um dinamizador importante da iniciativa privada. A privatização da política social criou uma tensão entre os objetivos redistributivistas e as necessidades do processo de acumulação. Se, por um lado, favoreceu sua expansão, por outro, tornou-a regressiva, transferindo recursos para estratos de maior renda. 7 POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS SOCIAIS No final da década de 1970 e início da década de 1980, as cidades brasileiras foram tomadas por diversos movimentos sociais que expressavam a luta política dos cidadãos. As lutas sociais desse período transformaram a cidade em palco das mais diversas reivindicações. Moradores das periferias das grandes cidades, favelados e sem tetos lutavam por melhores condições de moradia e infraestrutura para seus bairros como creches, escolas, hospitais, transportes. Entre os trabalhadores urbanos surgiam lutas por estabilidade no emprego, salários melhores e mais justos, direito à greve e à organização sindical autônoma, segurança no trabalho etc. Os trabalhadores rurais também levavam até as cidades suas lutas e reivindicações por melhores e salários e por alguns direitos trabalhistas já conquistados pelos trabalhadores da cidade como férias remuneradas e obrigatoriedade de registro em carteira. Alguns trabalhadores rurais foram ainda mais longe, lutando pelo direito a terra para plantar e viver. 29 Como afirma Souza e Machado (1997): Essas lutas que aparentemente estavam ligados a problemas de sobrevivência desses trabalhadores acabaram por transformar o país, contestaram a ditadura militar, atuando sobre a organização política do Brasil. Os movimentos sociais têm esse poder. Eles transformam, modificam, alteram as conjunturas, os locais, os costumes, enfim, a História. SAIBA MAIS Movimentos Grevistas: Em fins dos anos 70 e começo dos anos 80 aconteceram fatos importantes para o fortalecimento das lutas sociais promovidas pelos trabalhadores do campo e da cidade. Ocorreram greves de várias categorias profissionais a partir de 1978 e 1979, em 1980, os trabalhadores do campo, após várias ocupações de terra, fundam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST; em 1983, é fundada a Central Única dos Trabalhadores – CUT. 30 Você já deve ter se deparado em algum momento com este aviso de “ESTAMOS EM GREVE” em alguns locais como escolas, postos de saúde, bancos e hospitais próximos à sua casa. Esses movimentos influenciam nosso cotidiano, o cotidiano dos trabalhadores envolvidos, o ritmo da cidade e da sociedade. Os movimentos grevistas e outras manifestações de trabalhadores não são espontâneos nem acontecem ocasionalmente. Trata-se de lutas sociais que se desenvolvem quando pessoas comuns se organizam para reivindicar direitos muitas vezes garantidos por leis que regem a sociedade. Os sindicatos, as associações e federações de trabalhadores, por exemplo, são organismos nascidos dessas lutas e atuam como seus organizadores. Em 1990, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e as ONGs (Organizações Não Governamentais) tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos como os movimentos sindicais de professores. As passeatas, manifestações em praça pública, difusão de mensagem via internet, ocupação de prédios públicos, greves, marchas entre outros, são características da ação de um movimento social. Os movimentos sociais são sinais de maturidade social que podem provocar impactos conjunturais e estruturais, em maior ou menor grau, dependendo de sua organização e das relações de forças estabelecidas com o Estado e com os demais atores coletivos de uma sociedade. Há uma forte relação entre movimentos sociais e serviço social. O movimento de mulheres, por exemplo, contribuiu decisivamente no final do século XIX e início do século XX para o estabelecimento da formação profissional do Assistente Social. O movimento operário, por sua vez, contribuiu pelo menos indiretamente para a criação de um sistema diferenciado de política social. Também osnovos movimentos sociais deram impulsos importantes para o serviço social. 31 8 GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS Nas últimas duas décadas muito se têm debatido o tema da gestão das políticas sociais. Esta importância se deve, em parte, às profundas transformações que se processam velozmente na sociedade capitalista contemporânea. A Constituição Federal de 1988 veio consolidar a ideia de um processo de gestão descentralizada e participativa das políticas sociais, reivindicada pelos movimentos sociais de longa data. Sua efetivação significou um avanço importante para a compreensão e para a gestão das políticas sociais. Nossa atual Carta Magna pode ser considerada um marco na reformulação da perspectiva da ação institucional no âmbito das políticas sociais. Estimulou-se a construção de mecanismos de transferência de parcelas de poder do Estado para a sociedade civil organizada e os Conselhos foram uma estratégia privilegiada. Os Conselhos significam o desenho de uma nova institucionalidade nas ações públicas, que envolvem distintos sujeitos nos âmbitos estatal e societal. A constituição de tais espaços tornou-se possível, também, em virtude das mudanças que se processavam nos movimentos populares que, de “costas para o Estado” no contexto da ditadura, redefiniram estratégias e práticas, passando a considerar a participação institucional como espaço a ser ocupado pela representação popular. Os Conselhos são canais importantes de participação coletiva e de criação de novas relações políticas entre governos e cidadãos e, principalmente, de construção de um processo continuado de interlocução pública. Estes espaços estão sendo construídas pela ação coletiva de inúmeros sujeitos sociais, especialmente no âmbito dos municípios, que buscam a ampliação e o fortalecimento do poder local. Os Conselhos representam, dessa forma, uma conquista da sociedade civil. De forma sintética, os conselhos são instâncias públicas, localizadas junto à administração federal. Com competências definidas e podendo influenciar ou deliberar sobre a agenda setorial, sendo também capazes, em muitos casos de estabelecer a normatividade pública e a alocação de recursos dos seus programas e ações. Podem ainda mobilizar atores, defender direitos, ou estabelecer concertações e consensos sobre as políticas públicas. Em qualquer dos casos, ou seja, em acordo com as linhas de ação do Estado ou em conflito com elas, contribuem para a legitimação das decisões públicas. 32 9 DIMENSÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS POLÍTICAS SOCIAIS Trabalhar as dimensões do trabalho do assistente social nas políticas sociais demonstra a diversidade de formas de intervenção do assistente social no campo das políticas sociais e analisa a dimensão econômica e política e também os procedimentos técnico-operativos das políticas sociais cuja atuação profissional exige dois campos: o de formulação e implantação destas mesmas políticas sociais. Por fim, apresenta um elenco de espaços emergentes de possibilidades concretas de atuação do Assistente Social. Para iniciar essa questão é necessário o entendimento de que o Serviço Social é hoje totalmente articulado à ordem social capitalista brasileira. Coube ao Estado viabilizar salários indiretos por meio das políticas sociais públicas, operando uma rede de serviços sociais, que permitisse liberar parte da renda monetária da população para o consumo de massa e consequente dinamização da produção. Devido a complexidade da questão social, o Estado fragmenta e as recorta em questões sociais a serem atendidas pelas políticas sociais. Quais os vínculos entre as políticas sociais e o Serviço Social? O referencial teórico e metodológico é extraído das ciências humanas e sociais através de conhecimentos nas áreas de: Administração, Ciência Política, Sociologia, Psicologia, Economia etc. E a profissão tem produzido também, através de pesquisa e de sua intervenção, conhecimentos sobre o que constituem as questões sociais e estratégias capazes de orientar e instrumentalizar a ação profissional. A partir desse entendimento, Pontes (2000), demonstra alguns aspectos que possibilitarão a compreensão metodológica da intervenção do assistente social no campo das políticas sociais: O profissional de Serviço Social precisa estar equipado político-teórico e tecnicamente para enfrentar a complexidade que sua intervenção exige: Além de conhecer a realidade em toda a sua complexidade, criar meios para transformá-la em direção a um projeto sócio profissional. O que desafia o profissional a, cotidianamente, enfrentar a realidade complexa das organizações sociais em que atuam. 33 O melhor conhecimento da realidade, reorientando a intervenção profissional, é uma efetiva forma de resistência e de luta contra a barbárie, que também fortalece a emancipação humana. O assistente social possui ampla diversidade de formas de inserção sócio institucional que vai desde a ponta da rede de serviços sociais, execução, até o gerenciamento de políticas sociais, organizações sociais (OG, ONG s e Empresariais). Atualmente exige-se um perfil profissional qualificado no âmbito da execução e também na formulação e gestão de políticas sociais, públicas e empresariais que apresente propostas inovadoras, com sólida formação ética, que acesse os direitos sociais dos usuários e dos meios de exercê-lo e com conhecimentos suficientes para transmitir informações, permanentemente atualizadas (IAMAMOTO, 2000). A pesquisa e o conhecimento da realidade são premissas para a organização e o desenvolvimento do processo de intervenção do Serviço Social. Assim, pressupondo a investigação detalhada sobre a realidade social para a construção de diagnóstico e indicadores sociais para a caracterização da população alvo, com a clara definição dos recursos e prioridades, dentre outros aspectos. Para a formulação de Políticas Sociais é necessário estabelecer negociação e participação popular buscando acatar as soberanas deliberações da sociedade civil. Assim, os usuários da política social em questão devem participar de todas as etapas: Eleição de prioridades; critérios de atendimento; dinâmica do serviço; gestão e administração dos programas. O termo, gestão, envolve detalhadas recomendações técnicas, pois vem da área da Administração. Além das noções de eficiência, eficácia e efetividade; as funções gerenciais: planejamento, organização, direção e controle; os níveis organizacionais: estratégico, tático e operacional (PAIVA, 2000). Segundo GUERRA as políticas sociais além da dimensão econômico política constituem-se também num conjunto de procedimentos técnico - operativos, em que os profissionais devem atuar em dois campos: o de sua formulação e de sua implantação, sendo assim, nesse mercado de trabalho, o assistente social passa a desempenhar determinados papéis. Dessa forma, a lógica da intencionalidade é mediada pela lógica da institucionalização, a qual o profissional está submetido. 34 As políticas produzem e obedecem a uma dinâmica que reflete no trabalho do assistente social: Visão de totalidade das políticas sociais, expressão de articulação econômica, cultural, social, política, psicológica na sua estrutura cognitiva, submetendo-os a uma intervenção microscópica, nas singularidades. Exige-se do profissional a adoção de procedimentos instrumentais, de manipulação de variáveis. Qual o significado sócio histórico da instrumentalidade como condição de possibilidade do Serviço Social resgatar a natureza e a configuração das políticas sociais que, como espaço de intervenção profissional, atribuem determinadas formas, conteúdos e dinâmicas ao exercício profissional. Instrumentalidade não significa apenas o conjunto de instrumentos e técnicas com respostas manipulatórias, fragmentadas, imediatistas,isoladas, individuais tratadas na aparência. Implicam em intervenções que emanem de escolhas, que passem pela razão crítica e vontade dos sujeitos no campo de valores universais (éticos, morais e políticos), ações conectadas a projetos profissionais com referenciais teóricos e princípios ético-políticos. Entretanto, nos anos 90, vimos antigos mecanismos de proteção social serem colocados em prática contraditoriamente: Políticas residuais casuais e seletivas em pobreza extrema para amenizar os impactos das novas condições sociais (desemprego estrutural, aumento da pobreza e da exclusão social, precarização do trabalho etc...) colocando em xeque os próprios direitos sociais (requer um profissional não mais executor terminal de políticas sociais, mas um profissional qualificado na execução, gestão e formulação de políticas sociais públicas, crítico e propositivo. Atualmente com algumas mudanças no cenário brasileiro cujo contexto social, econômico e político na busca da democratização da sociedade, descentralização do poder do Estado e da participação social de novos sujeitos e movimentos sociais em direção à construção de políticas públicas provocaram a universalização dos serviços sociais, a descentralização participativa, redirecionamento das funções sócio institucionais, colocando para o Serviço Social não apenas a execução de políticas sociais, mas uma base organizacional situada na função gerencial, seja das próprias políticas, seja de seus serviços ou de pessoas nas organizações públicas, privadas e não-governamentais. 35 As Políticas Sociais são formas de intervenção na realidade social, condicionadas por recursos para darem respostas institucionalizadas à situações problemáticas, materializadas por programas, projetos e serviços. Para formular e implementar políticas sociais é preciso dominar múltiplos saberes; legislações sociais vigentes e atualizações permanentes; compreensão da conjuntura e das relações de poder e conhecimento das estratégias de planejamento e administração; construção de diagnósticos sociais e de indicadores para subsidiar as ações e monitoramento, avaliação e prestação de contas regulares (PAIVA, 2000). Assim, constituem funções profissionais: • Execução e avaliação das políticas e programas sociais. • Processos de formulação e gestão de pesquisas De acordo com Silva (2000) são quatro, os momentos de intervenção: • Constituição do problema ou da agenda governamental; • Formulação de alternativas de políticas e diagnóstico; • Adoção da política; • Implementação ou exercício de Programas Sociais. Avaliação é uma etapa fundamental e exigência para financiamento e para realimentar programas, apesar de que no Brasil a avaliação é utilizada mais para controle de gastos. Ainda, segundo Silva (2000), os modelos de avaliação são vários, dentre os quais se destacam: • Monitoramento que é o segmento ou acompanhamento continuado, gerencial para aferir controle da entrega de insumos, conforme as metas para garantir eficiência dos programas; • Avaliação política que significa juízo de valor a partir de critérios e princípios políticos fundamentais; • Avaliação do processo que é centrada no desenvolvimento do programa para aferir sua eficácia e correções no processo; 36 • Avaliação de impactos que é centrada nas mudanças quantitativas e qualitativas. É necessário considerar que a gestão pública passa por diversos princípios, quais sejam: • Caráter público e de interesses de todos, transparência nas decisões/informações/recursos. • Caráter democrático e de fortalecimento das Organizações Populares. • Caráter ético e de responsabilidade com critérios e eqüidade. • Caráter de eficiência com competência e avaliações periódicas. • Compromisso com o desenvolvimento econômico, político e cultural. O processo das políticas sociais é identificado por um conjunto de momentos, assim expressos: • Constituição do problema ou da agenda governamental, dependendo do problema e da força de mobilização da sociedade, assumir visibilidade e transformar-se em questão social que mereça a atenção por parte do poder público pode vir a se transformar em política. • Formulação de alternativas de política é o diagnóstico sobre o problema e alternativas para seu enfrentamento. • Adoção da política com o apoio do Poder Legislativo • Implementação e execução de programas sociais, fase de execução de serviços pra o cumprimento de objetivos e metas pré-estabelecidas com vistas a obter resultados. Espaços emergentes no Serviço Social A atualidade aponta para espaços emergentes no Serviço Social, como: • Orçamento participativo • Conselhos de políticas e de direitos • Reestruturação produtiva e novas demandas organizacionais do serviço social • Desenvolvimento sustentável e meio ambiente 37 • Filantropia empresarial e entidades da sociedade civil • Cuidados dirigidos à família e segmentos vulneráveis. O orçamento participativo caracteriza-se pelo estabelecimento de critérios de aplicação de recursos que implica definição de prioridades. Conselhos de políticas e de direitos são considerados espaços formais de participação social, institucionalmente reconhecidos com competências definidas em estatuto legal, com o objetivo de realizar o controle social das políticas publicas setoriais ou de defesa de direitos de segmentos específicos. Nesse espaço, o assistente social compõe os conselhos de políticas e de defesa de direitos, como gestor, trabalhador, prestador de serviço, pesquisador/assessor e também como usuário. No processo de reestruturação produtiva e das novas demandas organizacionais do serviço social, existem várias áreas: implantação de programas de qualidade total, treinamento e desenvolvimento pessoal ,balanço social como indicador de responsabilidade social. O desenvolvimento sustentável e meio ambiente que depois do surgimento das tecnologias limpas e desenvolvimento e meio ambiente deixaram de ser consideradas antagônicas podendo ser complementares. A filantropia empresarial e entidades da sociedade civil que demonstra que a responsabilidade social é fundamental quando a empresa participa diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e tenta minorar possíveis danos ambientas decorrentes do tipo de atividade que exerce. A preservação do meio ambiente deve ser uma ação obrigatória para todas as empresas. No espaço de família e segmentos sociais vulneráveis, em que o Assistente Social, segundo Mioto (2000) não deverá atuar com de forma fragmentada e isolada. Perceber que o modo de organização das famílias é diverso e modifica-se continuadamente, para atender as exigências que lhe são impostas pela sociedade. Esta situação é condicionada pela organização econômica e social mas também pela existência de valores culturais e de normas contraditórias (MIOTO, 2000). 38 O fato do Assistente Social não atuar com famílias, de forma fragmentada, não exclui, entretanto, cuidados dirigidos a seus membros, enquanto indivíduos, principalmente quando se trata de crianças, adolescentes, mulheres, idosos, porque quanto mais uma família é vulnerabilizada mais seus membros estarão expostos a situações d exclusão e desproteção. O trabalho do Assistente Social nessa área, portanto deverá ser integrado em três níveis: da proposição, articulação e avaliação de políticas sociais; da organização e articulação de serviços e da intervenção em situações familiares. Para concluir a temática que envolve a prática profissional do Assistente Social em sua relação com as políticas sociais enfatiza-se que sua postura sempre deverá ser de uma prática voltada para a viabilização dos direitos da população usuária, na perspectiva da consolidação das conquistas sociais e dos termos legais constitucionais (PAIVA, 2000). CONSIDERAÇÕESFINAIS Ao finalizar esta disciplina, deve-se remeter às palavras de Faleiros (2000), o qual diz que a política social não pode ser vista de forma rígida, como se a realidade se apresentasse dentro de um modelo teórico ideal. É preciso considerar sempre o movimento real e concreto das forças sociais e da conjuntura. Para o estudo da Política Social se faz necessário levar em conta, em primeiro lugar, o movimento do capital e também os movimentos sociais. Estes se desenvolvem a partir da luta em prol dos cuidados com a saúde e da sua reprodução de curto e longo prazo. Deve-se levar em conta, também, as conjunturas econômicas e a política, em que o Estado poderá apresentar alternativas de ação. Vimos que a definição das políticas sociais de um país não depende somente das condições gerais da estrutura social, mas depende também do contexto econômico mais amplo, da força política dos diferentes grupos e das idéias e preocupações que predominam na sociedade. Ela depende, em boa parte, também, do clima da opinião pública nacional e internacional, moldado, em grande medida, pelos meios de comunicação de massas. 39 A questão da Política Social envolve mediações intrincadas, são multifatoriais: socioeconômicas, políticas, culturais e atores, forças sociais e classes sociais que disputam hegemonia nas esferas estatal, pública e privada (FALEIROS, 1986). Para realizar uma análise desses multifatores, o método dialético é o mais apropriado pelas ferramentas que possui, com leitura abrangente e totalizadora, focalizando a dinâmica da sociedade burguesa, e da desigualdade social inerente a essas relações de produção e reprodução. Oferece ainda, o estudo das transformações ocorridas no século XX para analisar a Política Social até a contemporaneidade. No SUAS, a unidade gestora do financiamento são os Fundos de Assistência Social nas três esferas de governo e o financiamento tem como base as informações socioterritoriais. O cofinanciamento pelo Governo Federal leva em consideração as demandas e prioridades específicas, a capacidade de gestão, de atendimento e de arrecadação de cada município e de complexidade dos serviços. Os critérios de partilha são pactuados nas comissões intergestoras e deliberados nos conselhos de Assistência Social. Os municípios tem autonomia para organizar sua rede de proteção social e são fiscalizados, principalmente, pelos respectivos Conselhos. Como afirma Tavares (2005), isso tudo tem o propósito de que o novo modelo de gestão instituído pelo SUAS, se configure no estabelecimento de um modelo democrático, descentralizado que tem a missão de enfrentar as situações de vulnerabilidade e risco a que as famílias e os cidadãos brasileiros estão sujeitos, ampliando a rede de assistência social em nosso país, na perspectiva de consolidação da assistência social como Política de Estado. MEMORIAL REFLEXIVO Avaliar o processo de aprendizagem é um ato reflexivo que permite resgatar momentos significativos, descrevendo acertos, avanços, angústias e dificuldades. Por isso, aproveite este espaço e registre suas potencialidades e dificuldades conceituais e técnicas, bem como as estratégias utilizadas para superá-las nesta disciplina. 40 ATIVIDADES 1. Apesar do consenso que existe entre estudiosos da Política Social, cujas origens estão profundamente vinculadas à Revolução Industrial e ao sistema capitalista, na verdade, as origens da Política Social remontam a seis séculos antes; por quê? 2. Por que o Welfare State possui uma incompatibilidade estrutural entre acumulação e equidade na visão de Behring (1986)? 3. Analise a ampliação do espaço da Política Social no período fordista, do pleno emprego e do exército industrial de reserva, que restringiu-se na atualidade com o desemprego estrutural. 4. as contradições do Estado democrático aparecem fortemente entre a simples declaração dos direitos e liberdades e a sua real efetivação. Por quê? 5. Qual a importância do entendimento do conceito e das características das políticas sociais de um país para o exercício profissional do assistente social? 6. Em seu município, como está a gestão financeira da política de assistência social? E a implementação do SUAS? Está contribuindo para que a gestão dos recursos próprios do seu município se efetive no Fundo? 7. Para entender melhor a organização político administrativa do Estado, leia no Título III da Constituição Federal os artigos de 18 a 31. Comente. FILMOGRAFIA Cidadão Kane. Estados Unidos. 1941. Direção: Orson Welles. Duração: 119 min. Eternamente Pagu. Brasil. 1987. Direção: Norma Bengell. Duração 100 min. Germinal. França/Itália/Bélgica. 1993. Direção: Claude Berri. Duração: 158 min. Mauá, o Imperador e o Rei. Brasil. 1999. Direção: Sérgio Resende. Duração: 132 min. Tempos Modernos. Estados Unidos. 1936. Direção: Charles Chaplin. Duração: 87 min. Assim caminha a Humanidade. Estados Unidos. 1956. Direção: George Stevens. Duração: 201 min. Jango. Brasil. 1984. Direção: Silvio Tendler. Duração: 117 min. Memórias do cárcere. Brasil. 1984. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Duração: 187 min. 41 REFERÊNCIAS BOSCHETTI, Ivanete. Capitalismo em Crise: Política Social e Direitos. São Paulo: Cortez, 2010. COUTO, Berenice Rojas et al. O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: Uma realidade em movimento. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. FALEIROS, Vicente de Paula. A política social do estado capitalista: as funções da previdência e da assistência sociais. São Paulo: Cortez, 1980. MARX, Karl. Manuscritos econômicos e filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. SCHWARTZMAN, S. As causas da pobreza. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004.. SUPLICY, E.M. Renda de Cidadania: a saída é pela porta. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; Cortez Editora, 2002. 42 ANEXOS 43 POLÍTICA SOCIAL: alguns aspectos relevantes para discussão Jorge Abrahão Política social de 1930 até 1964 No âmbito das políticas sociais é a partir de trinta, que se assiste ao surgimento de um conjunto de leis referentes à criação de órgãos gestores de políticas sociais e à garantia de direitos trabalhistas. Por exemplo, na saúde e educação registraram-se alguns avanços significativos, com progressiva expansão do potencial de atendimento da rede pública e com uma significativa centralização dos comandos ao nível do executivo federal. Uma das características centrais deste período é que a ação governamental vai assumir o objetivo de conciliar uma política de acumulação que não exacerbasse as iniquidades sociais, com uma política voltada para a equidade, que longe de comprometer até vai ajudar a acumulação. O ingresso das classes trabalhadoras no cenário político se fez viável a partir, principalmente, das práticas de cooptação, que foram estabelecidas através da incorporação controlada dos setores populares a um sistema econômico que se moderniza, sob o signo da excludência social e do elitismo político. As políticas sociais daí resultantes ocorrem em uma rede burocrática clientelista que instrumentaliza a cooptação e potencializa a corrupção. O sistema de proteção social nesse período, como mostra Draibe (1989),permaneceu seletivo (no plano dos beneficiários), heterogêneo (no plano dos benefícios) e fragmentado (nos planos institucionais e financeiros). Para Santos(1987), do ponto de vista da constituição da cidadania, antes que ater-se a um padrão universalista, a inserção da população moldou-se segundo critérios de inclusão/exclusão seletiva. Além do mais, a política social foi utilizada como recurso de poder. As consequências deste tipo de utilização da política social vão se refletir na ampliação do espaço da burocracia estatal e na obstaculização da formação de
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