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EA D Fisiologia Respiratória 6 1. OBJETIVOS • Compreender a anatomia do sistema respiratório. • Interpretar as ventilação e pressões internas. • Analisar as pressões intra-alveolar e intrapleural. • Conhecer como ocorre o transporte de gases entre os al- véolos e as células. 2. CONTEÚDOS • Anatomia do sistema respiratório. • Ventilação e pressões internas. • Pressões intra-alveolar e intrapleural. • Transporte de gases entre os alvéolos e as células. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada200 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Os exercícios aeróbios são os que mais aumentam a ventilação, pois utilizam a via oxidativa do ciclo de Kre- bs para fornecer ATP ao exercício. Para conhecer mais sobre essas vias que produzem ATP, leia ao capítulo um do livro de fisiologia do exercício de bibliografias com- plementares. E no capítulo 2 deste livro aprenda como ocorre a transferência de energia durante o exercício. Boa leitura! 2) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli- citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 3) Ao estudar esta unidade, conforme for avançando nos conhecimentos, tente construir um mapa conceitual. 4) Conforme for estudando cada tópico, feche os olhos, promova uma inspiração e tente imaginar o ar entrando pelas narinas. Pense nos músculos solicitados durante uma inspiração e também durante a expiração. E se essa respiração for forçada? 5) Quais são os reflexos ativados durante um exercício in- tenso? E qual é o volume corrente? 6) Depois de sofrer hematose, esquematize o transporte do O2 e CO2. De onde até onde ocorre esse transporte? 7) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am- plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre com o material didático em mãos e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. 8) Pesquise na literatura se um fumante crônico tem mais dificuldade de praticar atividade física. Por quê? 201 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na unidade anterior, aprofundamos nosso estudo sobre o sistema urinário, bem como a fisiologia renal, suas funções bási- cas e sua importância para que o equilíbrio interno seja mantido. Agora, na Unidade 6, você será convidado a estudar a fisio- logia respiratória. Vamos lá? 5. ANATOMIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Respiramos primordialmente para fornecer oxigênio e remo- ver o dióxido de carbono de células dos diversos tecidos do nosso corpo. Esse processo contribui para o equilíbrio ácido-base, como sistema de defesa contra infecções, reserva de sangue, produção de componentes vasoativos, entre outros. A respiração pode ser dividida em quatro eventos princi- pais: 1) ventilação pulmonar, que se refere à entrada e à saída de ar entre a atmosfera e os alvéolos pulmonares; 2) difusão de oxigênio e de dióxido de carbono entre os al- véolos e o sangue; 3) transporte de oxigênio e de dióxido de carbono no san- gue e nos líquidos corporais para e das células; 4) regulação da ventilação e de outros aspectos da respi- ração. Nesta unidade, explicaremos a ventilação e a circulação pul- monar, assim como a captação, difusão, transporte e eliminação de O2 e CO2, além da regulação da respiração e de suas ligações com o sistema cardiovascular. O sistema respiratório humano é composto por um par de pulmões e por vários órgãos que conduzem o ar para dentro e para fora das cavidades pulmonares. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada202 Esses órgãos são: a) fossas nasais, que possuem a função de filtrar, aquecer e umedecer o ar; b) boca; c) faringe; d) laringe; e) traqueia; f) brônquios; g) bronquíolos; h) alvéolos. Os brônquios, bronquíolos e alvéolos estão localizados nos pulmões, como você pode observar na Figura 1. Os pulmões humanos são dois sacos róseos esponjosos, in- fláveis, com aproximadamente 25 cm de comprimento, envolvidos por duas membranas serosas denominadas pleura. Entre elas, exis- te uma fina camada de líquido viscoso, que permite o deslizamen- to de uma sobre a outra durante os movimentos respiratórios. Nos pulmões, os brônquios ramificam-se, dando origem a tubos cada vez mais finos, os bronquíolos. O conjunto altamente ramificado de bronquíolos é denominado de árvore brônquica ou árvore respiratória. Como você pode notar na figura a seguir, cada bronquíolo termina em pequenas bolsas formadas por células epiteliais acha- tadas (tecido epitelial pavimentoso) recobertas por capilares san- guíneos, denominadas alvéolos pulmonares. 203 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória Figura 1 À esquerda, podemos observar o sistema respiratório, e, à direita, detalhes dos pulmões. Em humanos há cerca de 300 milhões de alvéolos, com diâ- metros de 75 a 300 μm, com espessura máxima de 0,1 μm e uma área de troca gasosa de 70 m2, o que corresponde a 40 vezes a superfície corpórea. A base de cada pulmão está apoiada sobre o diafragma, ór- gão musculomembranoso que separa o tórax do abdômen. Os dois pulmões ocupam a cavidade torácica, limitada pelos ossos da caixa torácica, e, em sua base, por um músculo membra- noso, separa o tórax do abdômen, o diafragma. 6. VENTILAÇÃO E PRESSÕES INTERNAS Excursões ventilatórias Podemos dizer que existem dois tipos de respiração: • respiração externa, que se refere às trocas gasosas na su- perfície alveolar; • respiração interna, que se refere às trocas gasosas na su- perfície mitocondrial. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada204 Um método simples de estudo da ventilação pulmonar é re- gistrar o volume do ar em movimento para dentro e para fora dos pulmões, um processo denominado espirometria. Os vários termos utilizados para descrever a excursão pul- monar você poderá observar na Figura 2. A cada ciclo respiratório que executamos, determinado vo- lume de ar entra e sai de nossas vias respiratórias durante uma ins- piração e uma expiração, respectivamente. Em uma situação de repouso, em um homem adulto jovem saudável, aproximadamen- te 500 ml de ar entram e saem a cada ciclo. Esse volume de ar, que inspiramos ou expiramos normalmente a cada ciclo, corresponde ao que chamamos de Volume Corrente (VC). Além do volume corrente, inspirado em uma respiração nor- mal, numa situação de necessidade podemos inspirar um volume muitas vezes maior, numa inspiração forçada e profunda. Esse vo- lume é chamado de volume de reserva inspiratório e corresponde a, aproximadamente, 3.000 ml de ar num adulto jovem e saudá- vel. Da mesma forma, podemos expirar profundamente, além do volume que normalmente expiramos em repouso, um maior volume de ar que é denominado volume de reserva expiratório e corresponde a, aproximadamente, 1.500 ml. Mesmo após uma expiração profunda, um considerável vo- lume de ar ainda permanece no interior de nossas vias aéreas e de nossos alvéolos. Trata-se do volume residual, de aproximadamen- te 1.000 ml. O volume de reserva inspiratório somado ao volume cor- rente corresponde ao que chamamos de capacidade inspiratória (aproximadamente 3.500 ml). O volume de reserva expiratório somado ao volume residual corresponde ao que chamamos de capacidade residual funcional (aproximadamente 2.500 ml). 205 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória A capacidade inspiratória mais o volume de reserva expira- tório correspondem à capacidade vital (aproximadamente 5.500 ml). Finalmente, a soma dos volumes corrente, de reserva inspi- ratório, de reserva expiratório, mais o volume residual, correspon- de à nossa capacidade pulmonar total (aproximadamente 6.000 ml). Figura 2 Gráfico dos volumes pulmonares.A ventilação (Ve) refere-se à entrada e saída de ar entre a atmosfera e os alvéolos pulmonares, ou seja, o volume de ar mo- bilizado pelos pulmões (volume corrente) multiplicado pela fre- quência respiratória (FR) (número de ciclos respiratórios a cada minuto), expresso em L/min. Por exemplo, se o VC for 500mL e a FR 12, teremos a Ve de 6 L/min: Ve = VC. FR. A importância fundamental do sistema de ventilação pulmo- nar é a renovação contínua do ar nas áreas pulmonares de trocas © Fisiologia Humana Geral e Aplicada206 gasosas, onde o ar está em estreito contato com o sangue pulmo- nar. Essas áreas incluem os alvéolos, os sacos alveolares, os ductos alveolares e os bronquíolos respiratórios. A intensidade com que o ar alcança essas áreas é chamada de ventilação alveolar (Va). Porém, parte do ar que uma pessoa respira nunca alcança as áreas de trocas gasosas, mas preenche as vias respiratórias onde não ocorrem as trocas gasosas. Esse espaço é chamado espaço morto anatômico, e o ar que ocupa esse espaço em cada respiração corresponde a um volume de ar em torno de 150 ml (VEMA). Portanto, esse valor deve ser descontado do valor da ventilação para que seja possível chegar a um valor real do vo- lume de ar inspirado que sofre troca gasosa no interior do pulmão, ou seja, o valor da ventilação alveolar (Va): Va = Ve – Vema. Exercício Durante o exercício, o consumo de O2 pode subir dos habi- tuais 250 ml/min para até 3000 ml/min. O organismo responde a esse aumento da demanda da seguinte forma: • Aumentando o débito cardíaco. • Aumentando a ventilação. • Aumentando a extração de O2 a partir do sangue. Contudo, mesmo com todas essas alterações, acima de um determinado nível, não é possível atender às necessidades tecidu- ais, ocorrendo, então, a predominância do metabolismo anaeró- bio, com consequente produção de ácido lático. 7. PRESSÕES INTRA-ALVEOLAR E INTRAPLEURAL Os pulmões podem ser expandidos e contraídos pelo movi- mento de subida e descida do diafragma e, também, pela elevação e pelo abaixamento das costelas, movimento que resulta da ação dos músculos intercostais. 207 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória Durante a respiração normal, a inspiração ocorre basicamen- te pela contração do diafragma, que traciona as superfícies inferio- res dos pulmões para baixo. A expiração ocorre pelo relaxamento passivo do diafragma, o que ocasiona a retração elástica dos pul- mões, da parede torácica e das estruturas abdominais, comprimin- do os pulmões, como mostra a Figura 3. Figura 3 Expansão e retração da caixa torácica durante a expiração e a inspiração, ilustrando especialmente a contração diafragmática e a elevação da caixa torácica resultantes da ação dos músculos intercostais. Na respiração forçada, é necessário haver a ação de diversos músculos para que ocorra a inspiração. Os mais importantes são os músculo que elevam a caixa torácica, os intercostais externos; entretanto, há outros músculos que também participam do pro- cesso: os músculos esternodeidomastoides, que elevam o esterno; os serráteis anteriores, que elevam muitas das costelas; e os esca- lenos, que elevam as duas primeiras costelas. Durante a expiração forçada, os músculos que participam desse processo são: os retos abdominais, que têm o poderoso efeito de tracionar as costelas in- feriores para baixo, ao mesmo tempo em que, juntamente com os outros músculos abdominais, comprimem o conteúdo abdominal para cima, contra o diafragma, além dos intercostais internos. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada208 Figura 4 Ilustração demonstrando o local anatômico da cavidade pleural. A caixa toráxica possui uma tendência a se expandir, enquan- to os pulmões, que possuem estrutura elástica, têm a tendência a se colabarem como um balão. Como você pode notar na Figura 4, não existem pontos de fixação entre o pulmão e as paredes da cai- xa torácica, exceto onde ele está preso por seu hilo ao mediastino. O pulmão flutua dentro da caixa torácica circundado pelo líquido pleural. A pressão do líquido pleural é negativa, o que é necessário para manter os pulmões distendidos e não se colabarem, sendo pouco negativa durante a expiração, mas muito negativa durante a inspiração. É essa variação de pressão provocada pelo aumento ou redução do volume da caixa toráxica que faz os pulmões se enche- rem ou se esvaziarem de ar, como denota a Figura 5. 209 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória Figura 5 Ilustração da ação da pressão intrapleural. Na Figura 5, considere que a pleura interna seja o contorno dos pulmões, e a pleura externa, a garrafa de vidro que está veda- da com uma rolha. No interior da garrafa suponha que está o líqui- do pleural. À esquerda, durante a inspiração, como a pressão se torna muito negativa devido ao aumento do espaço intrapleural, os pulmões expandem-se e, com isso, o ar entra. À direita, pode- mos observar que o relaxamento do diafragma promove redução do espaço intrapleural e, com isso, os pulmões são comprimidos e expelem o ar de seu interior. A pressão no interior dos alvéolos pulmonares é denomina- da de pressão alveolar. Quando a glote está aberta e não há en- trada ou saída de ar dos pulmões, a pressão alveolar é exatamente igual à pressão atmosférica. Para que haja entrada de ar durante a inspiração, a pressão alveolar deve descer para um valor abaixo da pressão atmosférica, e, para que ocorra a expiração, a pressão alveolar deve ser positiva. Além do espaço morto anatômico, onde não ocorrem trocas gasosas, existe um local no interior dos pulmões conhecido como espaço morto fisiológico. Esse espaço é uma região do pulmão (ápice, estando o indivíduo na posição ortostática) onde, apesar de existirem alvéolos e capilares, não ocorre hematose (trocas ga- sosas), uma vez que os alvéolos desse local não ventilam devido © Fisiologia Humana Geral e Aplicada210 à pressão intrapleural muito negativa; portanto, não há perfusão, pois os alvéolos muito dilatados colabam os capilares, impedindo o fluxo sanguíneo nesses locais. No repouso, o espaço morto fisio- lógico representa cerca de 25 % da área pulmonar, enquanto no exercício intenso, na presença da respiração forçada, esse espaço é reduzido para 5 a 15 % do tamanho total dos pulmões. Os alvéolos pulmonares possuem uma substância conhecida como surfactante, que é um agente tensoativo (produz tensão) superficial que reduz sensivelmente a tensão superficial dos alvé- olos, diminuindo, assim, a tendência de se colabarem, o que pro- vocaria expulsão do ar pela traqueia e colabamento irreversível do alvéolo. 8. TRANSPORTE DE GASES ENTRE OS ALVÉOLOS E AS CÉLULAS A solubilidade e o transporte dos gases Os gases respiratórios, O2 e CO2, apresentam solubilidade di- ferente no sangue. O CO2 é cerca de vinte vezes mais solúvel que o oxigênio. Isso faz com que o transporte do oxigênio exija um me- canismo diferente, por meio da ligação reversível (frouxa) com a hemoglobina. Assim, apenas uma pequena parte do O2 que penetra na cor- rente sanguínea se dissolve no plasma, cerca de 5%. Porém cerca de 95% do oxigênio é transportado pela hemoglobina presente nas hemácias. Cada molécula de hemoglobina combina-se com 4 moléculas de oxigênio, formando a oxi-hemoglobina (Hb). Dessa forma , 1 g. de hemoglobina transporta 1,34 ml de oxigênio. Se 100 ml de sangue contém 15 g de hemoglobina (14 a 16 g %), 100 ml de sangue transporta cerca de 20,1 ml de oxigênio: Hb + O2 ↔ HBO2 211 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória Já o CO2 pode ser transportado de três formas diferentes, sendo que 7% é transportado como CO2 dissolvido no plasma, 23% combina-se com a hemoglobina no interior das hemácias, forman- do a carboemoglobina, composto instável e com proteínas do plas- ma. Devido à presença da enzima anidrase carbônica presente nas hemácias, a maior parte, 70% do CO2, reage com aágua, produzin- do ácido carbônico (H2CO3), que rapidamente se dissocia em H + e HCO-3 (bicarbonato). Os cátions H+ combinam-se com a hemoglobina e o bicarbo- nato é transportado no plasma. O ácido carbônico formado quando o dióxido de carbono entra no sangue dos tecidos diminui o pH sanguíneo. Contudo, a reação desse ácido com os tampões do sangue impede que a con- centração de íons hidrogênio aumente muito (e que o pH abaixe). Normalmente, o sangue arterial tem um pH de aproximadamente 7,41 e, à medida que o sangue adquire dióxido de carbono nos capilares teciduais, o pH desce para um valor de aproximadamen- te 7,37. Ocorre o reverso quando o dióxido de carbono é liberado do sangue para os pulmões, com o pH elevando-se para o valor arterial: Hb + CO2 ↔ HBCO2 (menor parte do CO2 no sangue) Hb + CO2 ↔ H2BCO3 ↔ H + + HCO3 (menor parte do CO2 no sangue) O sangue também transporta monóxido de carbono (CO). O monóxido de carbono (CO) tem uma afinidade com o grupo heme da hemoglobina (mesmo ponto onde o oxigênio se associa) e de 200 a 300 vezes maior que o próprio oxigênio, formando uma liga- ção estável que pode deslocar o oxigênio da hemoglobina. O com- posto formado é chamado de carboxi-hemoglobina. Devido a essa forte afinidade do CO com a hemoglobina, permanecer em locais com alta concentração de CO pode preju- dicar o transporte de oxigênio aos tecidos, podendo causar gra- ve envenenamento por monóxido de carbono. Esse quadro pode ser adequadamente tratado administrando-se oxigênio puro, pois © Fisiologia Humana Geral e Aplicada212 o oxigênio em altas pressões alveolares desloca o monóxido de carbono mais rapidamente do que o oxigênio sob baixa pressão atmosférica. As trocas gasosas Quando inalamos o ar, conforme o ele vai passando por nos- sas vias respiratórias, durante a inspiração, ele sofre algumas mo- dificações quanto às proporções de seus elementos básicos, pois ocorre uma significativa umidificação do ar. Esse ar mistura-se com um outro ar muito mais rico em dióxido de carbono, que se di- funde constantemente do sangue dos capilares pulmonares para o interior dos alvéolos. Como você estudou anteriormente, é nos alvéolos que ocor- rem as trocas gasosas, porque envolto aos alvéolos está uma den- sa rede de pequenos vasos sanguíneos, os capilares. Esse processo de trocas gasosas é denominado hematose. A difusão ocorre por meio de duas camadas celulares que separam o ar alveolar do plasma sanguíneo: • epitélio pavimentoso dos próprios alvéolos; • endotélio dos capilares que envolvem esses alvéolos. O O2 passa através do epitélio do alvéolo e do endotélio ca- pilar, indo parar na corrente sanguínea. O CO2 passa pelo endotélio capilar e pelo epitélio do alvéolo, sendo, então, possível eliminá- lo do organismo. A hematose ocorre nesse sentido, pois os gases difundem-se no sentido da maior para a menor concentração. Ob- serve a Figura 6: 213 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória Figura 6 As trocas gasosas nos alvéolos. À esquerda, uma ilustração da vasta vascularização que os alvéolos recebem. À direita, a representação da troca gasosa que ocorre nos alvéolos. Durante cada minuto em repouso, cerca de 250 ml de O2 dei- xa os alvéolos e penetra no sangue, e aproximadamente 200 ml de CO2 saem dos capilares e entram nos alvéolos. O sangue venoso bombeado pelo ventrículo direito chega aos pulmões e flui pelos capilares pulmonares com pressões par- ciais de oxigênio e gás carbônico, respectivamente, de 40 mmHg e 46 mmHg, como você pode observar na Figura 7. Na medida em que esse sangue venoso flui pelos capilares pulmonares, o oxigênio, em maior pressão no interior dos alvé- olos (100 mmHg) do que no sangue (40 mmHg.), difunde-se do ar alveolar para o sangue. Já o gás carbônico, em maior pressão no sangue venoso (46 mmHg) do que no ar alveolar (40 mmHg), difunde-se em sentido contrário, como demonstra a Figura 7. Dessa forma, o sangue, depois de circular pelos capilares pul- monares, retorna ao coração (átrio esquerdo) por meio das veias pulmonares, com pressões parciais de oxigênio e gás carbônico de, respectivamente, 100 mmHg e 40 mmHg. Por meio do ventrículo esquerdo, o coração ejeta esse san- gue para a circulação sistêmica. Esse sangue flui por uma riquíssi- ma rede de capilares teciduais. Ao passar pelos tecidos, o oxigênio © Fisiologia Humana Geral e Aplicada214 difunde-se do sangue para os tecidos e, depois, para as células, que consomem constantemente oxigênio. Essas mesmas células que recebem do sangue o oxigênio de que necessitam fornecem o gás carbônico que precisam eliminar. Como o gás carbônico está em maior concentração no interior desdas células teciduais do que no sangue, o CO2 difunde-se em sentido contrário, isto é, das célu- las para os tecidos e destes para o sangue. Sob condições normais, a velocidade de utilização de oxigê- nio pelas células é controlada, em última análise, pela velocidade de consumo energético dentro das células, isto é, pela velocidade com que o ADP é produzido a partir do ATP. Figura 7 O transporte dos gases O2 e CO2 e suas pressões parciais. Após a hematose, até a rede de capilares dos tecidos, o sangue circula em pressões parciais de O2 de 100 mmHg e de CO2 de 40 mmHg. Depois de fazer a troca com os tecidos, o sangue retorna aos pulmões com pressões parciais de O2 de 40 mmHg e de CO2 de 46 mmHg. O sangue retorna para o coração (átrio direito), que, nova- mente, o ejeta à circulação pulmonar, com as pressões parciais de oxigênio de 40 mmHg e de gás carbônico de 46 mmHg – e, então, tudo é repetido. 215 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória A quantidade de sangue que circula pelos pulmões é essen- cialmente igual àquela da circulação sistêmica. A artéria pulmonar estende-se por apenas 5 cm além do ápice do ventrículo direito e, em seguida, divide-se em dois ramos principais, um direito e um esquerdo, que suprem os dois pulmões respectivamente. Durante a sístole, a pressão na artéria pulmonar é essencialmente igual à pressão do ventrículo direito. O fluxo sanguíneo pelos pulmões é essencialmente igual ao débito cardíaco. Quando a concentração de oxigênio nos alvéolos diminui abaixo do normal, os vasos sanguíneos adjacentes entram lentamente em constrição; isto é, oposto ao efeito normalmente observado nos vasos sistêmicos, que se dilatam, em vez de entrar em constrição devido ao oxigênio baixo. Esse efeito dos níveis bai- xos de oxigênio na resistência vascular pulmonar tem a importante função de distribuir o fluxo sanguíneo para onde ele é mais útil. Regulação da Respiração A função básica da respiração é manter os níveis sanguíneos de oxigênio por meio de alterações da caixa torácica que culminam em alterações no volume do pulmão. Isso permite que a inspiração e a expiração ocorram. Quem altera a posição da caixa torácica são as ações dos músculos da respiração. O resultado dessa alteração é a variação das pressões pulmonares, que, por sua vez, permitem a inspiração e a expiração. Os músculos da respiração são comandados pelo centro respiratório, que fica localizado no sistema nervoso central (SNC) (tronco cerebral), principalmente pelos centros bulbares (Figura 8), mas também pela ponte. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada216 Figura 8 Diagrama ilustrando os centros respiratórios localizados no bulbo e na ponte. Na ponte, está localizado o centro pneumotáxico, responsá- vel por controlar a frequência e o padrão dos movimentos respira- tórios. No bulbo, estão localizados os centros respiratórios. O cen- tro respiratório dorsal é responsável pela inspiração e pelos ciclos respiratórios, e o ventral pode provocar inspiração ou expiração conforme o grupo de neurônios estimulados. O centro ventral está inativo durante a respiração normal, mas é ativado, por exemplo, durante o exercício. Ritmo respiratórioOcorrem dois eventos durante a respiração: a inspiração e a expiração. Eles acontecem de forma rítmica, o que proporciona uma frequência respiratória (FR). A quantidade de ar que entra e sai do pulmão (VC) está relacio- nada à amplitude da inspiração e/ou da expiração. Essa quantidade de ar é regulada por motoneurônios (neurônios que saem da medula para inervar fibras extrafusais (ver detalhe na unidade de fisiologia muscular). Eles atuam basicamente na musculatura do diafragma. 217 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória A frequência respiratória em indivíduos normais varia entre 10 e 15 ciclos expiratórios por minuto. Quando ela está aumen- tada, dizemos que há hiperventilação e, quando está diminuída, hipoventilação. O sinal inspiratório ocorre "em rampa", iniciando-se muito fraco e aumentando progressivamente por cerca de dois segun- dos. Em seguida, cessa abruptamente por cerca de três segundos e permite a retração elástica da caixa torácica e dos pulmões, cau- sando a expiração. O centro pneumotáxico limita a duração da ins- piração e aumenta a frequência respiratória Como um dos objetivos da respiração é manter as concen- trações adequadas de oxigênio, dióxido de carbono e íons hidrogê- nio nos tecidos, sua atividade é altamente responsiva às variações de cada um desses elementos. Além do controle voluntário que podemos exercer sobre a respiração, existem receptores periféricos e centrais que enviam sinais aos centros respiratórios (bulbo e ponte) que modulam o ritmo respiratório, como se pode observar na Figura 9. Os quimiorreceptores periféricos estão presentes tanto no seio carotídeo quanto no arco aórtico (Figura 9) e são sensíveis à baixa pressão parcial de oxigênio, alta pressão parcial de gás car- bônico e baixo PH. Os quimiorreceptores centrais estão localizados no bulbo. Como o bulbo está na porção interna da barreira hematoencefá- lica, esses receptores são sensíveis apenas à elevação da pressão parcial de gás carbônico, já que os outros gases envolvidos no con- trole da respiração não conseguem ultrapassar a barreira hemato- cefálica, como você pode observar na Figura 9. Os quimioreceptores enviam sinais aferentes ao bulbo, que, por sua vez, envia estímulos aos músculos respiratórios, para ace- lerar o ritmo dos movimentos respiratórios, o que promove a con- tração desses músculos e a realização involuntária dos movimen- © Fisiologia Humana Geral e Aplicada218 tos respiratórios, melhorando o suprimento de O2 nos tecidos caso tenha sido detectado excesso de dióxido de carbono ou de íons hidrogênio ou falta de O2. Existem outros tipos de receptores que se localizam nas pa- redes dos pulmões. São receptores de estiramento que são ati- vados quando os pulmões se distendem muito. Esses receptores ativam um mecanismo chamado de reflexo de insuflação de He- ring-Breuer. Esse reflexo age desligando a "rampa" inspiratória, evitando, assim, lesões por distensão nos pulmões. Figura 9 Localização dos quimiorreceptores central e periférico e dos receptores de estiramento localizados no pulmão. 219 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória 9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, ou seja, compreender a anatomia do sistema respirató- rio. A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda- dos para sanar as suas dúvidas. Este é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu- cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco- bertas com os seus colegas. Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Quais são os eventos da respiração? 2) O que é ventilação? Ela é regulada com o exercício? 3) O que mais é alterado no sistema respiratório no exer- cício? 4) O que acontece com um bebê prematuro que nasce sem surfactante? 5) O que é hematose? 6) Como ocorre o transporte de gases entre os pulmões e as células? 7) O controle da respiração é voluntário ou involuntário? Como ele ocorre? 10. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você pôde compreender o sistema respira- tório, bem como interpretar a ventilação e as pressões internas e conhecer como ocorre o transporte de gases entre os alvéolos e as células. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada220 O sistema respiratório é outro importante sistema duran- te a prática de atividade física, já que o exercício aumenta muito a demanda metabólica do músculo, que precisa de mais oxigênio para produzir ATP e suprir essa demanda aumentada. Esperamos que você agora tenha conhecimentos básicos sobre esse sistema e que já seja capaz de se aprofundar em cada tema conforme sua necessidade individual, para poder relacionar, assim, as necessida- des metabólicas da cada tipo de atividade física, sabendo adequar essa prática às necessidades de cada aluno. Na próxima unidade, você será convidado a compreender o funcionamento do sistema digestório. Até lá! 11. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 1 – Sistema respiratório. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_ yXzgl1uusgE/ShMsZ4SgtI/AAAAAAAAACU/GCvkhvhamD0/s400/untitled.bmp e https:// www.naregisto.org/images/pulmoes.png>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 2 – Gráfico dos volumes pulmonares. Disponível em: <http://4.bp.blogspot. com/_7H9r_7bo6nc/S4 iZcmQDYBI/AAAAAAAABh0/YgfmkAYzwYA/s400/ volumes+pulmonares.JPG>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 3 – Expansão e retração da caixa. Disponível em: <http://www.derramepleural. com/sistema-respiratorio-anatomia_clip_image002.jpg>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 4 – Ilustração demonstrando o local anatômico da cavidade pleural. Disponível em:<http://mmspf.msdonline.com.br/pacientes/manual_merck/secao_04/images/ cap44_fig1.gif>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 5 – Ilustração da ação da pressão intrapleural. Disponível em: <http://www. aleixoassociados.com.br/fisio/respiratorio/RESPIRATORIO_Vilmar_2.pdf>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 6 – As trocas gasosas nos alvéolos. Disponível em: <www.escolaunileiser.hpg. ig.com.br/Ciencia_e_Educacao/1/sistema.htm>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 7 – Transporte dos gases O2 e CO2. Disponível em: <http://aleixoassociados.com. br/fisio/respiratorio/RESPIRATORIO_Vilmar_3.pdf>. Acesso em: 18 maio 2010. Figura 8 – Diagrama ilustrando. Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_b10Z- emYYHo/Su4Y9ceIPMI/AAAAAAAABL4/wjqW7Ioq8oE/s320/cerebrao8.jpg>. Acesso em: 18 maio 2010. 221 Claretiano - Centro Universitário © U6 - Fisiologia Respiratória Figura 9 – Localização dos quimiorreceptores central e periférico. Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/figuras/Fisiologiaanimal/respiracao12.jpg>. Acesso em: 18 maio 2010. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FOX, S. I. Fisiologia Humana. 7. ed. São Paulo: Manole, 2007. GAYTON, A. C.; J. E. HALL. Tratado de Fisiologia Médica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Human Anatomy & Physiology. San Francisco: Pearson, 2007. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 6. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2008. POWERS, S. K., HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5. ed. São Paulo: Manole, 2005. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. Claretiano - Centro Universitário
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