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Todos os direitos reservados à Editora Grupo UNIASSELVI - Uma empresa do Grupo UNIASSELVI Fone/Fax: (47) 3281-9000/ 3281-9090 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Proibida a reprodução total ou parcial da obra de acordo com a Lei 9.610/98. Rodovia BR 470, km 71, n° 1.040, Bairro Benedito Caixa postal n° 191 - CEP: 89.130-000. lndaial-SC Fone: (0xx47) 3281-9000/3281-9090 Home-page: www.uniasselvi.com.br Curso de Tópicos em Educação II Centro Universitário Leonardo da Vinci Organização Tania Cordova Equipe Tutoria Interna de Pedagogia Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Diagramação e Capa Paulo Herique do Nascimento Revisão: Harry Wiese José Roberto Rodrigues 3 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES A PRESENTAÇÃO Alguns conceitos são indispensáveis à compreensão dos eixos que norteiam a educação contemporânea. Conceitos como: transposição didática, competências, interdisciplinaridade, contextualização e habilidades são fundamentais à formação do professor. Assim, organizamos esta última etapa a partir destes conceitos, visando proporcionar-lhe, caro(a) acadêmico(a), uma aprendizagem que seja ressignifi cada na sua prática docente. Queremos desejar a você, prezado(a) acadêmico(a), bons estudos e sucesso na sua formação acadêmica. 4 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES 1 TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA O ato de ensinar não é neutro, ele envolve uma série de situações onde a escola, o educador, os sujeitos envolvidos neste processo necessitam fazer escolhas, opções, articular intenções educativas em que serão defi nidas as competências, os conteúdos, os recursos, os meios; enfi m, os caminhos pelos quais a educação acontece precisam ser organizados. A organização destes caminhos é denominada de Proposta Pedagógica, que, efetivamente, é colocada em ação pela transposição didática. Você sabe o que é a transposição didática e como ela ocorre? Vamos explorar este conceito? Segundo estudiosos da educação, este termo foi introduzido na década de 70, do século XX, pelo sociólogo Michel Verret e teorizado por Yves Chevallard no livro La Transposition Didatique, onde mostra as transposições que um saber sofre quando passa do campo científi co para a escola. Na obra, o pesquisador alerta para a importância da compreensão deste processo por aqueles que lidam com o ensino das disciplinas científi cas. Dessa forma, “Chevallard conceitua “transposição didática” como o trabalho de 5 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES fabricar um objeto de ensino, ou seja, fazer um objeto de saber produzido pelo “sábio” ser objeto do saber escolar.” (MENEZES; SANTOS, 2011, p. 154). Neste aspecto, a transposição didática parte da transformação do conhecimento em conhecimento escolar a ser ensinado. Ou seja, confi gura-se em instrumento que transforma o conhecimento científi co em conhecimento escolar, para que possa ser ensinado pelos professores e aprendido pelos alunos. (MENEZES; SANTOS, 2011). A transposição didática ocorre quando: • o conteúdo é selecionado de acordo com o que o docente considera relevante para ocasionar a aprendizagem do discente; • o conteúdo selecionado está relacionado ao cotidiano do aluno; • são organizadas estratégias de ensino que visem ao desenvolvimento de competências no educando. É importante que a prática pedagógica supere a visão fragmentada sobre o conhecimento que, muitas vezes, acontece na estruturação do currículo escolar. A transposição didática, como sinalizado, refere-se ao analisar, selecionar e inter-relacionar o conhecimento científi co, dando-lhe sentido e signifi cado. No entanto, esta articulação necessita do auxílio de dois recursos fundamentais para a sua concretização, são eles: 6 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II a interdisciplinaridade e a contextualização. Vamos abordar estes conceitos nos próximos itens. Iniciamos pela interdisciplinaridade. 2 INTERDISCIPLINARIDADE De acordo com a Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996), a organização curricular e o trabalho pedagógico devem superar as disciplinas estanques e estruturar-se a partir da interação entre as áreas de conhecimento. Denomina-se a interação entre estas áreas ou disciplinas escolares de interdisciplinaridade. Você já ouviu falar desta abordagem? Vamos aprofundar nossos estudos sobre esta temática? Os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam que: As linguagens trabalhadas pela escola são, por natureza, interdisciplinares com as demais áreas do currículo: é pela linguagem verbal, visual, sonora, matemática, corporal ou outra que os conteúdos curriculares se constituem em conhecimentos, isto é, são signifi cados a serem formalizados por alguma linguagem, tornam-se conscientes de si mesmos e deliberados. (BRASIL, 1999, p. 90 apud CASTRO; BIELLA, 2010). As primeiras discussões sobre interdisciplinaridade chegaram ao Brasil ainda na década de 1960. Ainda hoje esse tema continua atual e vem sendo objeto de muitos questionamentos, de refl exões, de posicionamentos diversos. Para alguns estudiosos, 7 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES interdisciplinaridade é apenas mais um modismo. Para outros, uma opção didático-pedagógica, um caminho novo para se aprimorar o processo de ensino e aprendizagem, para se conseguir uma efetiva construção do conhecimento por parte dos educandos, de maneira mais global e abrangente. (CASTRO; BIELLA, 2010). Mas o que é mesmo interdisciplinaridade? O que caracteriza uma abordagem interdisciplinar? Como são organizadas as ações docentes que adotam uma abordagem interdisciplinar? De acordo com Castro e Biella (2010), a escola tem tratado o conhecimento de modo fragmentado e descontextualizado; no entanto, é importante observar que o processo de fragmentação do conhecimento não se origina no interior da escola, mas é fruto do próprio desenvolvimento das ciências, com seus sucessivos desmembramentos e especializações, sobretudo a partir da segunda metade do século XIX. Outro aspecto destacado pelos autores refere-se à relação existente entre a crescente fragmentação dos saberes, tanto na ciência quanto na escola, e o modo capitalista de divisão social do trabalho. Essa relação adquiriu novos contornos a partir das teorias taylorista e fordista, que, por sua vez, orientaram a organização do sistema produtivo do último século e infl uenciaram de modo signifi cativo a criação dos sistemas educacionais baseados nos princípios da sequencialidade e da hierarquização. Assim, em uma sociedade rigidamente estratifi cada e em meio a uma cultura dividida em nichos de domínios científi cos 8 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II específicos, a escola foi solidificando um modo de tratar o conhecimento como se ele fosse sempre estático, absoluto e acabado. Mais que uma ferramenta didática, a organização disciplinar do ensino foi se tornando um forte instrumento de manutenção da estrutura social vigente, através do reforço do individualismo e da competitividade desmedida no interior da sala de aula. (CASTRO; BIELLA, 2010). Em uma escola onde a concepção de conhecimento está fundamentada nessa visão, os processos de interação encontram- sedistanciados, isto é, não há interação entre os docentes, os estudantes competem entre si, os diretores se distanciam da comunidade escolar e as famílias fi cam permanentemente fora dos muros escolares. Cada professor é dono de uma parte da cultura científi ca, e os alunos recebem algumas fatias da realidade, que, mais tarde, eles tentarão, muitas vezes, inutilmente, reunir num todo orgânico e coerente, que oriente suas vidas e suas relações com o mundo natural e social. O afastamento contínuo de todo e qualquer sentido social da educação e as recentes mudanças no sistema produtivo são algumas das causas da atual crise dos sistemas educacionais. (CASTRO; BIEELA, 2010). No intento de contribuir na busca de soluções para os problemas presentes no contexto educacional, alguns autores defendem a adoção de um modelo interdisciplinar na prática pedagógica. Para Luck (1994, p. 64), por exemplo: interdisciplinaridade é o processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num 9 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES trabalho conjunto, de interação de disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fi m de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global do mundo e serem capazes de enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade atual. Na perspectiva desta autora, a interdisciplinaridade é mais que um recurso metodológico, portanto, deve ser entendida em suas dimensões epistemológica e pedagógica. Do ponto de vista da epistemologia, a interdisciplinaridade visa desenvolver um novo conceito de conhecimento, a partir do entendimento de que este é resultado de um processo dinâmico de interações sociais e em constante transformação. Nesse sentido, visa romper com a fragmentação dos saberes e desenvolver uma concepção unitária, global e sistêmica das diferentes explicações e descrições da realidade. (CASTRO; BIELLA, 2010). Sob o ponto de vista pedagógico, a interdisciplinaridade auxilia na construção de relações intersubjetivas nos diferentes níveis da educação e permite que os sujeitos enfrentem situações complexas, que exigem e possibilitem diferentes olhares e interpretações. Além disso, a interdisciplinaridade é um conceito complementar ao da contextualização, pois só se pode demonstrar as inter-relações entre diferentes saberes se forem considerados no interior de seus contextos de origem e de aplicabilidade, criando um novo signifi cado para o trabalho educativo. (CASTRO; BIELLA, 2010). 10 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II Os diferentes olhares propiciados pela interdisciplinaridade, sobre o processo educativo, favorecem a construção de um ensino por competências, pois ampliam as possibilidades do desenvolvimento das competências necessárias à educação para o século XXI, idealizadas por Jacques Delors (saber fazer; saber conhecer; saber conviver e saber ser). ATENÇÃO: Caro(a) acadêmico(a), o pensamento idealizado por Jacques Delors já foi estudado no Curso Tópicos em Educação 1 e o da Educação por Competências será estudada mais adiante, nesta etapa. É importante salientar que a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, mas mantém as suas especifi cidades, as suas individualidades. Integrando-as a partir da compreensão das múltiplas causas ou dos diversos fatores que intervêm sobre a realidade, trabalha todas as linguagens necessárias advindas das diferentes áreas do conhecimento, proporcionando uma abordagem mais ampla. A interdisciplinaridade, portanto, não nega o conhecimento especializado. Ao contrário, valoriza-o e o integra num conjunto que o redimensiona, que o ressignifi ca, servindo para dar consistência, amplitude e, ao mesmo tempo, profundidade aos estudos e à investigação. (CASTRO; BIELLA, 2010). Neste aspecto, a proposta da interdisciplinaridade 11 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES estabelece múltiplas ligações e conexões entre os saberes, que podem ser de complementaridade, convergência, suplementação e ampliação. Ao promover interconexões, a interdisciplinaridade serve como ponte entre os conhecimentos, gerando sinergia entre disciplinas, educadores e alunos. A proposta interdisciplinar parte de um eixo integrador, sob o comando de uma determinada disciplina. Essa disciplina vai se unindo a outras, ampliando os elos do saber com a contribuição das outras disciplinas e até mesmo de outras áreas do conhecimento. (CASTRO; BIELLA, 2010). Para além da integração das disciplinas ou das áreas do conhecimento, a interdisciplinaridade requer a compreensão do papel do educador frente a esta abordagem. Os autores Castro e Biella (2010) propõem alguns aspectos para compreender e refl etir sobre as atitudes, os modos de ser e perceber a postura de um educador que fundamenta as suas ações em uma proposta interdisciplinar. Para Castro e Biella (2010), o educador que propõe o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar deve desenvolver: a humildade diante dos limites do saber próprio e do próprio saber; a espera diante do já estabelecido para que a dúvida apareça e o novo ‘germine’; o deslumbramento diante da possibilidade de superar desafi os; a cooperação e parceria para conduzir as trocas e os encontros, sinalizando para uma ruptura com a solidão pedagógica. Essas atitudes devem possibilitar a visão, a refl exão do educador sobre suas ações, bem como a percepção de seu 12 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II papel enquanto sujeito comprometido com a busca de diferentes possibilidades de ensino e com a compreensão das diferentes formas de aprendizagem. Prezado(a) acadêmico(a)! A partir das refl exões tecidas, pode-se afi rmar que a interdisciplinaridade demonstra que são tênues as fronteiras entre os conhecimentos, pois os saberes podem e devem dialogar entre si. Uma prática pedagógica fundamentada em procedimentos interdisciplinares significa que haverá um nível de interação e de colaboração, não só entre os conteúdos, áreas de conhecimento, mas também entre educadores e educandos. A interdisciplinaridade abre as portas para a contextualização, ou seja, ao pensar um problema sob vários pontos de vista, a escola oportuniza a seleção de conteúdos que tenham relação com a vivência de professores, alunos e comunidade. Nesse aspecto, a escola possibilita a disseminação de práticas e ações pedagógicas que visam à aprendizagem signifi cativa. 3 CONTEXTUALIZAÇÃO Caro(a) acadêmico(a)! Dizem os fi lósofos que nunca se conhece uma fl oresta ao olhar para as árvores isoladamente. É preciso vê-la como um todo, observar todas as suas especifi cidades, captar o sentido que cada uma das árvores assume no conjunto. Entender a fl oresta em seu contexto é fundamental para compreender os signifi cados que dela emanam. 13 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES A educação contemporânea vem difundindo um ensino onde o tratamento contextualizado do conhecimento é um dos recursos para retirar o aluno da condição de espectador passivo e colocá-lo como sujeito da aprendizagem. O ensino contextualizado parte das associações entre o que é vivido e conhecido pelo aluno ao conhecimento formal e científi co trabalhado pela escola, com vistas a dar sentido à aprendizagem. Uma das críticas presentes no cenário da educação contemporânea é a falta de conexão entre os conteúdos trabalhados naescola e o cotidiano dos alunos fora dela. Em diferentes situações o professor pode deparar-se com questionamentos como: por que estudar esta matéria? Em que o conhecimento científi co trabalhado pelas disciplinas na escola possibilita mudanças na vida cotidiana? Defrontado com tais questionamentos, o educador vê- se diante do desafi o de repensar a sua prática pedagógica ou simplesmente responder ao aluno: “Não se preocupe com isso. Um dia você vai entender por que estuda este conteúdo”. Afi nal, se o professor selecionou, organizou determinado conteúdo, é porque se pressupõe que ele saiba que esta ação é importante para a formação do aluno. Será que sabe mesmo? 14 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II Prezado(a) acadêmico(a)! Para compreendermos a necessidade de relacionar o contexto vivido pelo aluno ao conhecimento construído nos espaços escolares, com vistas a criar situações de aprendizagens signifi cativas, é fundamental que seja realizada a leitura do texto a seguir. ATO DE FÉ OU CONQUISTA DO CONHECIMENTO: UM EPISÓDIO NA VIDA DE JOÃOZINHO DA MARÉ O Joãozinho de nossa história é um moleque muito pobre, que mora numa favela sobre palafi tas espetadas em um vasto mangue. Nosso Joãozinho só vai à escola quando sabe que vai ser distribuída merenda, uma das poucas razões que ele sente para ir à escola. Do fundo da miséria em que vive, Joãozinho pode ver bem próximo algumas das grandes conquistas de nossa civilização em vias de desenvolvimento (para alguns). Dali de sua favela ele pode ver de perto uma das grandes universidades onde se cultiva a inteligência e se conquista o conhecimento. Naturalmente, esse conhecimento e a ciência ali cultivados nada têm a ver com o Joãozinho e outros tantos milhões de Joãozinhos pelo Brasil afora. Além de perambular por toda a cidade, Joãozinho, de sua favela, pode ver o aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Isso certamente é o que mais fascina os olhos de Joãozinho. Aqueles grandes pássaros de metal sobem imponentes com um 15 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES ruído de rachar os céus. Joãozinho, com o seu olhar curioso, acompanha aqueles pássaros de metal até que, diminuindo de tamanho, eles desapareçam no céu. Talvez por frequentar pouco a escola, por gostar de observar os aviões e o mundo que o rodeia, Joãozinho seja um sobrevivente de nosso sistema educacional. Joãozinho ainda não perdeu aquela curiosidade de todas as crianças: aquela vontade de saber os "como" e os "por que", especialmente em relação às coisas da natureza; a curiosidade e o gosto de saber que em geral vão se extinguindo com a frequência à escola. Não há curiosidade que aguente aquela "decoreba" sobre o corpo humano, por exemplo. Sabendo por seus colegas que nesse dia haveria merenda, Joãozinho resolve ir à escola. Nesse dia, sua professora se dispunha a dar uma aula de Ciências, coisa de que Joãozinho ainda gostava. A professora havia dito que nesse dia iria falar sobre coisas como o Sol, a Terra e seus movimentos, verão, inverno etc. A professora começa por explicar que: - o verão é o tempo do calor, - o inverno é o tempo do frio, - a primavera é tempo das fl ores e - o outono é o tempo em que as folhas fi cam amarelas e caem. 16 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II Em sua favela do Maré, no Rio de Janeiro, Joãozinho conhece tempo de calor e o tempo de mais calor ainda; um verdadeiro sufoco, às vezes. As fl ores da primavera e as folhas amarelas que caem ficam por conta de acreditar. Num clima tropical e quente como o do Rio de Janeiro, Joãozinho não viu nenhum tempo de fl ores. As fl ores por aqui existem, ou não, quase independentemente da época do ano, em enterros e casamentos, que passam pela Avenida Brasil, próxima à sua favela. Joãozinho, observador e curioso, resolve perguntar por que acontecem ou devem acontecer coisas. A professora se dispõe a dar a explicação. — Eu já disse a vocês numa aula anterior que a Terra é uma grande bola, que essa bola está rodando sobre si mesma. É sua rotação que provoca os dias e as noites. Acontece que, enquanto a Terra está girando, ela também está fazendo uma grande volta ao redor do Sol. Essa volta se faz em um ano. O caminho é uma órbita alongada chamada elipse. Além de essa curva ser assim achatada ou alongada, o Sol não está no centro. Isso quer dizer que em seu movimento a Terra às vezes passa perto, às vezes passa longe do Sol. Quando passa mais perto do Sol é mais quente: É VERÃO. Quando passa mais longe do Sol recebe menos calor: É INVERNO. Os olhos de Joãozinho brilhavam de curiosidade diante 17 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES de um assunto novo e tão interessante. — Professora, a senhora não disse antes que a Terra é uma bola e que está girando enquanto faz a volta ao redor do Sol? — Sim, eu disse – responde a professora com segurança. — Mas, se a Terra é uma bola e está girando todo dia perto do Sol, não deve ser verão em toda a Terra? — É, Joãozinho, é isso mesmo. — Então é mesmo verão em todo lugar e inverno em todo lugar, ao mesmo tempo, professora? — Acho que é, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. A essa altura a professora já não se sentia tão segura do que havia dito. A insistência, natural para o Joãozinho, já começava a provocar certa insegurança na professora. — Mas professora, insiste o garoto, enquanto a gente está ensaiando a escola de samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo? — É mesmo, Joãozinho. — Então nesse tempo é verão aqui? — É, Joãozinho. — E o Papai Noel no meio da neve com roupas de frio e botas. A gente vê nas vitrinas até as árvores de Natal com algodão. Não é para imitar neve? (a 40ºC no Rio). — É, Joãozinho. Na terra do Papai Noel faz frio. 18 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II — Então, na Terra do Papai Noel, no Natal, faz frio? — Faz, Joãozinho. — Mas, então, tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e inverno ao mesmo tempo? — É, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você já está atrapalhando a aula e eu tenho um programa a cumprir. Mas Joãozinho ainda não havia sido “domado” pela escola. Ele ainda não havia perdido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas e querer entender as coisas. Por isso, apesar do jeito visivelmente contrariado da professora, ele insiste. — Professora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo em lugares diferentes, se a Terra, que é uma bola, deve estar perto ou longe do Sol? Uma das duas coisas não tá errada? — Como você se atreve, Joãozinho, a dizer que a professora está errada? Quem andou pondo essas ideias na sua cabeça? — Ninguém não, professora. Eu só estava pensando. Se tem verão e inverno ao mesmo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra tá perto ou tá longe do Sol. Não é mesmo, professora? A professora, já irritada com a insistência atrevida do menino, assume uma postura de autoridade científi ca e pontifi ca: — Está nos livros que a Terra descreve uma curva que se chama elipse ao redor do Sol, que este ocupa um dos 19 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES focos e, portanto, ela se aproxima e se afasta do Sol. Logo, deve ser por isso que existe verão e inverno. Sem se dar conta da irritação da professora, nosso Joãozinho lembra-se da sua experiência diária e acrescenta: — Professora,a melhor coisa que a gente tem aqui na favela é poder ver avião o dia inteiro. — E daí, Joãozinho? O que isso tem a ver com verão e o inverno? — Sabe, professora, eu achei que tem. — A gente sabe que um avião tá chegando perto quando ele vai fi cando maior. Quando ele vai fi cando pequeno é porque ele tá fi cando mais longe. — E o que isso tem a ver com a órbita da Terra, Joãozinho? — É que eu achei que se a Terra chegasse mais perto do Sol, a gente devia ver ele maior. Quando a Terra estivesse mais longe do Sol, ele deveria aparecer menor. Não é, professora? — E daí, menino? — A gente vê o Sol sempre do mesmo tamanho. Isso não quer dizer que ele tá sempre na mesma distância? Então verão e inverno não acontecem por causa da distância. — Como você se atreve a contradizer sua professora? Quem andou pondo essas “minhocas” na sua cabeça? Faz quinze anos que eu sou professora. É a primeira vez que alguém quer mostrar que a professora está errada. 20 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II A essa altura, a classe já se havia tumultuado. Um grupo de outros garotos já havia percebido a lógica arrasadora do que o Joãozinho dissera. Alguns continuaram indiferentes. A maioria achou mais prudente fi car do lado da "autoridade". Outros aproveitaram a confusão para aumentá- la. A professora havia perdido o controle da classe e já não conseguia reprimir a bagunça nem com ameaças de castigo e de dar "zero" para os mais rebeldes. Em meio àquela confusão tocou o sinal para fi m da aula, "salvando" a professora de um caos maior. Não houve aparentemente nenhuma defi nição de vencedores e vencidos nesse confronto. Indo para casa, a professora, ainda agitada e contrariada, se lembrava do Joãozinho, que lhe estragara a aula e também o dia. Além de pôr em dúvida o que ela afi rmara, Joãozinho dera um “mau exemplo”. Joãozinho, com os seus argumentos ingênuos, mas lógicos, despertara muitos para o seu lado. “Imagine se a moda pega”, pensa a professora. O pior é que não me ocorreu qualquer argumento que pudesse “enfrentar” o questionamento do garoto. Mas foi assim que me ensinaram. É assim mesmo que eu também ensino, pensa a professora. “Faz tantos anos que dou essa aula, sobre esse mesmo assunto”. À noite, já mais calma, a professora pensa com seus 21 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES botões: “Os argumentos de Joãozinho foram tão claros e ingênuos. Se o inverno e o verão fossem provocados pelo maior ou menor afastamento da Terra em relação ao Sol, deveria ser inverno ou verão em toda a Terra. Eu sempre soube que enquanto é inverno em um hemisfério, é verão no outro. Então o Joãozinho tem mesmo razão. Não pode ser essa a causa de calor ou frio na Terra. Também é absolutamente claro e lógico que se a Terra se aproxima e se afasta do Sol, este deveria mudar de tamanho aparente. Deveria ser maior quando mais próximo e menor quando mais distante. Como eu não havia pensado nisso antes? Como posso eu ter “aprendido” coisas tão evidentemente erradas? Como nunca me ocorreu sequer alguma dúvida sobre isso? Como posso eu estar durante tantos anos “ensinando” uma coisa que eu julgava Ciência, e que de repente pôde ser totalmente demolida pelo raciocínio ingênuo de um garoto, sem nenhum outro conhecimento científi co?”. Remoendo essas ideias, a professora se põe a pensar em outras tantas coisas que poderiam ser tão falsas e inconsistentes como as “causas” para o verão e o inverno. Por que tantas outras crianças aceitaram sem resistência o que eu disse? Por que apenas o Joãozinho resistiu e não “engoliu” o que eu disse? No caso do verão e do inverno a inconsistência foi facilmente verifi cada. Era só pensar. Se "engolimos" certas coisas tão evidentemente erradas, como devemos “engolir” coisas mais erradas, mais sérias e menos evidentes? Podemos estar tão 22 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II habituados a repetir as mesmas coisas, que já nem nos damos conta de que muitas dessas coisas podem ter sido simplesmente acreditadas. Muitas dessas coisas podem ser simples “atos de fé” ou crendices que nós passamos adiante como verdades científi cas ou históricas: “ATOS DE FÉ EM NOME DA CIÊNCIA”. É evidente que não pretendemos nem podemos provar tudo o que dizemos ou que nos dizem. No entanto, o episódio do Joãozinho levantara um problema sério para a professora. Que bom que houve um Joãozinho. “Haverá sempre um Joãozinho para levantar dúvidas? Talvez alguns outros também tenham percebido e tenham se calado sabendo da reprovação ou da repressão que poderiam sofrer com uma posição de contestação ao que a professora havia dito. E eu, que ia me ofendendo com a atitude lógica e ingenuamente destemida do Joãozinho”, pensa a professora. Talvez a maioria dos alunos já esteja "domada" pela escola. Sem perceber, a professora pode fazer exatamente o contrário do que ela pensa ou deseja fazer. Talvez o papel da escola tenha muito a ver com a nossa passividade e com os problemas do mundo que nos rodeia. Não terá isso a ver também com outros problemas do nosso dia a dia? Todas as crianças têm uma inata curiosidade para saber os "como" e os "porquês" das coisas, especialmente da natureza. 23 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES À medida que a escola vai “ensinando”, o gosto e a curiosidade vão se extinguindo, chegando frequentemente à aversão. Quantas vezes nossas escolas, não só a do Joãozinho, pensam tratar da Ciência por falar em coisas como átomos, órbitas, núcleos, elétrons etc. Não são palavras difíceis que conferem à nossa fala o caráter ou o status de coisa científi ca. Podemos falar das coisas mais rebuscadas e complicadas e, sem querer, estamos impondo a nossos alunos grosseiros “atos de fé” que não são mais que uma crendice, como tantas outras. Não é à-toa que se diz da escola: um lugar onde as cabecinhas entram “redondinhas” e saem quase todas “quadradinhas”. FONTE: Disponível em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/ index.asp?id_projeto=27&ID_OBJETO=29744&tipo=ob&cp= 003366&cb=&n1=&n2=Biblioteca%20Virtual&n3=Temas%20 Educacionais&n4=&b=s>. Acesso em: 10 set. 2011. (grifos nossos). Para além de apresentar elementos que possibilitam o repensar a educação no país e a prática docente, o texto apresenta um ensino desarticulado, isto é, conduzido sem a articulação entre o que é vivido pelo aluno e o conteúdo ensinado. Nesse contexto, o ensino não parte de uma contextualização e possivelmente não causará uma aprendizagem signifi cava. Contrapondo-se a este tipo de ensino, o currículo 24 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II contextualizado, ou a contextualização do conteúdo traz importância ao cotidiano do aluno, apresentando que aquilo que se aprende, em sala de aula, tem relação com a vivência. Assim, o conhecimento apreendido nos espaços escolares estará associado às situações vivenciadas no cotidiano e auxiliará na aprendizagem signifi cativa. Nesse aspecto, pode-se afi rmar que o contexto dá sentido e signifi cado ao conteúdo e deve basear-se nas experiências vividas, trazidas pelo aluno. Isto porque o aluno vive num mundo regido pela natureza, pelas relações sociais, estando exposto à informação e a vários tipos de comunicação. Portanto, o cotidiano, o ambiente físico e social devem fazer a associação entre o que se vive e o que se aprende na escola. Aproveitando-se do conhecimento prévio do aluno, o professor deverá planejar induções,intervenções, abordagens que oportunizem situações em que os conceitos a serem aprendidos partam do próprio aluno. A abordagem interdisciplinar e a relação com o contexto devem ser elementos que possibilitem ao aluno tornar-se competente nas diferentes áreas do conhecimento. Assim, no próximo item vamos estudar e compreender a educação baseada em competências. 25 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES 4 EDUCAÇÃO BASEADA EM COMPETÊNCIAS O termo competência é amplamente discutido na esfera educacional. Este termo aparece de maneira expressiva nos documentos que orientam a educação no Brasil, como: as Diretrizes Curriculares, Referenciais Curriculares, Parâmetros Curriculares, entre outros. A discussão sobre esse tema foi disseminada no espaço acadêmico e fortalecida pela iniciativa governamental de implementar no país a Educação Baseada em Competências (EBC). Estas propostas encontram-se fundamentadas nas ideias do sociólogo suíço Philippe Perrenoud, ao defender que durante muito tempo a escola se preocupou mais com o ensino dos conteúdos disciplinares e menos em colocar esses conhecimentos em sinergia com contextos vivenciados no dia a dia do aluno. Trata-se de um processo educacional que tem como centro o aluno e, por consequência, a aprendizagem. Ao abordar as signifi cações da competência no contexto escolar, na última etapa deste curso esperamos, caro(a) acadêmico(a), aproximá-lo de um tema atual que perpassa o contexto da educação brasileira, um tema que está presente, como já sinalizado, nos principais documentos que norteiam a educação. Antes de iniciar os estudos sobre competências, propomos a você um exercício para a construção deste conceito. 26 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II 1. Pense e anote alguns possíveis signifi cados do termo competência. 2. Associe esses signifi cados a uma situação vivida por você em que tenha sido necessário mobilizar habilidades, conhecimentos prévios, estabelecer relações... 3. Identifi que alguns conhecimentos que você julgue necessários para a resolução desse problema, diferenciando os conhecimentos adquiridos na escola dos adquiridos em outras situações do cotidiano. 4. Avalie em que medida cada um dos conhecimentos foi necessário para resolver o problema. 5. Procure identificar se novos conhecimentos surgiram dessa experiência. 6. E então, o que é competência? Agora que você já tem uma defi nição prévia do que é competência, vamos ampliar o conhecimento sobre este tema? O termo competências tem recebido vários signifi cados ao longo do tempo, confi gurando-se segundo diferentes lugares e contextos socioeconômicos. Usualmente, o termo está associado à qualifi cação ou às capacidades do indivíduo realizar determinados trabalhos, atividades, entre outros. Sobre o conceito de competências, a partir de uma perspectiva de qualidade profi ssional e de atividade laboral, 27 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES destaca-se que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresenta algumas defi nições, tais como: competências básicas, específi cas, gerais (genéricas), tácitas e transversais. As competências básicas são aquelas adquiridas nos dez primeiros anos de estudos escolares, como: a leitura, a escrita, as quatro operações aritméticas, entre outras. As específi cas são as adquiridas na especialização profi ssional. As competências gerais se referem às adquiridas na escola e no trabalho; são fundamentadas em bases científi cas e tecnológicas e em atributos humanos, tais como: criatividade, condições intelectuais e capacidade de transferir conhecimentos a situações novas. Esse tipo de competência é utilizado em qualquer atividade profi ssional, pois se refere aos atributos pessoais, como a capacidade de tomar decisão, iniciativa e comunicação oral. As competências profi ssionais se referem ao contexto específi co do exercício da experiência profi ssional. As competências tácitas são aquelas adquiridas e exercidas na prática do trabalho cotidiano, os chamados segredos do ofício, resultantes do sistema formal, de ensino, ou desempenhadas no espaço do exercício profi ssional, ou ainda na interação entre os dois. E, por último, as competências transversais, que são comuns às diversas atividades profissionais e permitem a transferência de um perfi l profi ssional a outro ou de um conjunto 28 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II de módulos curriculares a outros, como, por exemplo: dominar um processador de textos é útil a todas as atividades profi ssionais que se valham da escrita. Assim como a leitura da pauta musical é imprescindível a toda atividade profi ssional ligada à música. (MENEZES; SANTOS, 2010). No âmbito da educação contemporânea, a discussão sobre competência evidencia uma nova apropriação de saberes e, consequentemente, uma nova forma de ensino, haja vista a evolução do mundo, das fronteiras, das tecnologias, dos estilos de vida que requerem uma fl exibilidade e criatividade crescente dos seres humanos. Nessa perspectiva, confere-se à escola a missão prioritária de desenvolver a inteligência como capacidade multiforme de adaptação às diferenças e às mudanças. Para Perrenoud (1999), o conceito de competência está associado à faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para solucionar com efi cácia uma série de situações. Este autor afirma que o desenvolvimento da competência pressupõe a mobilização de aspectos como: Saber orientar-se em uma cidade desconhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar- se, pedir informações ou conselhos, e os seguintes saberes: ter noção de escala, elementos da topografi a ou referências geográfi cas. Saber curar uma criança doente mobiliza as capacidades de observar sinais fi siológicos, medir a temperatura, administrar um medicamento, e os seguintes saberes: identifi car patologias e sintomas, primeiros 29 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES socorros, terapias, os riscos, os remédios, os serviços médicos e farmacêuticos. Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber se informar, preencher a cédula, e os seguintes saberes: instituições políticas, processo de eleição, candidatos, partidos, programas políticos, políticas democráticas etc. (PERRENOUD, 2011). Na definição de Perrenoud, as competências não prescindem de conhecimentos, ao contrário, não há competências sem eles. No entanto, tão importante quanto dispor de conhecimentos é possuir perícia (ou competência se quisermos utilizar o sinônimo) na sua implementação. Tem-se, assim, no conceito de Perrenoud, uma perspectiva operatória à noção de competências. (MENEZES; SANTOS, 2010). A construção de competências se dá pela mobilização de conhecimentos (métodos, dados, regras) de áreas diversas, dispostos, sobretudo, nos conteúdos disciplinares. Berger (1998, p. 2 apud MENEZES; SANTOS, 2010) defi ne competências como sendo constituídas por “esquemas mentais, ou seja, ações e operações mentais de caráter cognitivo, socioafetivo ou psicomotor que, mobilizadas e associadas a saberes teóricos ou experimentais, geram habilidades”. A partir desta visão, pode-se defi nir competência como sendo a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ação conhecimentos, habilidades, valores e atitudes necessários para o desenvolvimento de atividades sociais, profi ssionais e para a 30 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitosreservados. Curso de Tópicos em Educação II convivência na sociedade de maneira responsável e consciente. Para tornar-se competente, o sujeito necessita percorrer alguns caminhos na educação por competências. Denominamos estes caminhos de habilidades. Habilidade pode ser conceituada como indicadora de capacidade adquirida por alguém, associada a uma ação física ou mental. Relaciona-se ao saber fazer algo específi co, como identifi car, relacionar, aplicar, analisar, sintetizar, avaliar, manipular, entre outros. A habilidade deve ser desenvolvida na busca da competência. Ao desenvolver uma educação baseada em competências, é preciso pensar em formas de organizar a prática docente. A ação docente deve ser reorganizada desde o planejamento das ações até a avaliação da aprendizagem. Desse modo, a adoção de uma nova postura pedagógica tem refl exos signifi cativos na condução do processo educativo, principalmente quando se entende que o educando estará diante de situações que exijam a mobilização de conhecimentos e habilidades diversifi cados, agindo segundo certos padrões de valores e de atitudes, ou seja, com base no seu modo peculiar de compreender o seu processo de aprendizagem. (SOUZA; CASTRO; BIELLA, 2010). Caro(a) acadêmico(a)! Todo o processo de ensino e aprendizagem necessita de um ponto de partida. A prática docente precisa partir de algo que desencadeie o interesse do aluno em aprender. Para isso o professor deve dispor de inúmeras 31 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES metodologias, como: projetos de trabalho, mapas conceituais, proposição de situações-problemas, organizadores prévios de aprendizagem, temas geradores, entre outros. No entanto, para além da metodologia adotada é necessário o compromisso do educador com a aprendizagem do educando. É necessário ter a clareza acerca da importância dos desafi os para a construção de competências que possam levar o aluno a aprender a aprender e, dessa forma, exercer a competência de ter autonomia intelectual diante da construção de seu próprio conhecimento, e ainda, a competência de criar e exercer sua cidadania plenamente em um mundo em permanente transformação. Prezado(a) acadêmico(a)! Chegamos ao fi nal do curso Tópicos em Educação. Esperamos que os temas abordados e refl etidos no decorrer do curso lhe possibilitem uma aprendizagem signifi cativa e permanente, uma aprendizagem que o leve ao exercício consciente de sua função enquanto educador. Sucesso em sua jornada! 32 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II A UTOATIVIDADE 1 Leia o texto a seguir: Em outra escola, num nível mais à frente, Uma quarta disciplina veio se somar Às três que estudavam o meio ambiente: A ação das disciplinas resolveu coordenar. Estabeleceu-se então hierarquia E a noção de fi nalidade. Estabeleceu-se troca, sinergia, Diálogo, conversa. (CASTRO; BIELLA, 2010) O texto diz respeito à interação disciplinar denominada: a) ( ) Multidisciplinaridade. b) ( ) Contextualização. c) ( ) Interdisciplinaridade. d) ( ) Transposição Didática. 33 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES 2 Sob o ponto de vista pedagógico, a interdisciplinaridade facilita a construção de relações intersubjetivas nos diferentes níveis da educação e permite que os sujeitos enfrentem situações complexas, que exijam e possibilitem diferentes olhares e interpretações. Sobre a interdisciplinaridade, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É uma orientação metodológica que parte do conhecimento prévio do aluno. b) ( ) É um nível de interação de saberes onde uma gama de disciplinas se unem em torno de um tema comum, no entanto não há cooperação entre os saberes. c) ( ) É um processo que envolve a interação de disciplinas do currículo escolar, onde há a cooperação e o diálogo entre as disciplinas. d) ( ) É um processo de interação entre as disciplinas, no entanto, neste nível de interação os conhecimentos fi cam desorganizados, cada um funciona de forma isolada. 3 Numa sala de aula interdisciplinar algumas atitudes e valores precisam ser trabalhados para garantir a efetivação desta abordagem. Entre os valores e atitudes destacam-se: I- A obrigação passa a ser satisfação, alegria de fazer. II- A arrogância é mantida. III- A solidão é quebrada pela cooperação. IV- O grupo heterogêneo é trocado pelo homogêneo. V- A reprodução é substituída pela produção do conhecimento. 34 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças II, IV e V estão corretas. c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças I, III e V estão corretas. 4 Complete as lacunas da sentença a seguir: Competência é a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ____________ conhecimentos, habilidades, valores e atitudes necessários para o desenvolvimento de atividades ____________ e sociais requeridas pela natureza do trabalho e para a ____________ em sociedade de maneira partícipe, comprometida e ____________. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) construção - culturais - vivência - socializadora. b) prática - físicas - vida - construtora. c) ação - profi ssionais - convivência - transformadora. d) prática - mobilizacionais - vida - modifi cada. 5 Para tornar-se competente, o sujeito necessita percorrer alguns caminhos. Na educação por competências denominamos estes caminhos de habilidades. Sobre o signifi cado de habilidade, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Habilidade pode ser conceituada como um conhecimento específi co produzido e apropriado pelo aluno no decorrer 35 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES das aulas. b) ( ) Habilidade pode ser conceituada como indicadora de capacidade adquirida por alguém, associada a uma ação física ou mental. c) ( ) Habilidade está relacionada somente ao saber fazer, sem a predisposição à aprendizagem dos conceitos. d) ( ) Habilidades são padrões de conduta que fortalecem as relações entre o saber conviver, pois possibilitam a internalização de regras de convivência. 36 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II R EFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Ofi cial da União. Brasília: Imprensa Ofi cial, 1996. CASTRO, J. de; BIELLA, J. Interdisciplinaridade: riscos, desafi os e encontros. Projeto SESI – Curso Currículo Contextualizado Natal: SESI, 2010. Disponível em: <http:// www.sesi.webensino.com.br>. Acesso em: 8 set. 2011. LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico- metodológicos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. MENEZES, E. T. de; SANTOS, T. H. dos. “Transposição didática” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=23>. Acesso em: 13 set. 2011. PERRENOUD, Philippe. Construir competências desde a 37 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados.A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. ______. Construindo competências. Disponível em: <http:// www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_main/ php_2000/2000_31.html>. Acesso em: 26 set. 2011. SOUZA, Z. R. de; CASTRO, J. de; BIELLA, J. Avaliação de Competências. Natal: SESI 2010. Disponível em: <http://www. sesi.br>. Acesso em: 8 set. 2011. SOUZA, Z. R. de. Competência: o que é isto? Projeto SESI – Curso Currículo Contextualizado Natal: SESI, 2010. Disponível em: <http:// www.sesi.webensino.com.br>. Acesso em: 8 set. 2011. 38 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. Curso de Tópicos em Educação II G ABARITO 1 Leia o texto a seguir: Em outra escola, num nível mais à frente, Uma quarta disciplina veio se somar Às três que estudavam o meio ambiente: A ação das disciplinas resolveu coordenar. Estabeleceu-se então hierarquia E a noção de fi nalidade. Estabeleceu-se troca, sinergia, Diálogo, conversa. (CASTRO; BIELLA, 2010) O texto diz respeito à interação disciplinar denominada: c) Interdisciplinaridade. 2 Sob o ponto de vista pedagógico, a interdisciplinaridade facilita a construção de relações intersubjetivas nos diferentes níveis da educação e permite que os sujeitos enfrentem situações complexas, que exijam e possibilitem diferentes olhares e interpretações. Sobre a interdisciplinaridade, assinale a alternativa CORRETA: c) É um processo que envolve a interação de disciplinas do currículo escolar, onde há a cooperação e o diálogo entre as disciplinas. 3 Numa sala de aula interdisciplinar algumas atitudes e valores precisam ser trabalhados para garantir a efetivação desta abordagem. Entre os valores e atitudes destacam-se: I- A obrigação passa a ser satisfação, alegria de fazer. 39 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Todos os direitos reservados. A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: NOVOS OLHARES II- A arrogância é mantida. III- A solidão é quebrada pela cooperação. IV- O grupo heterogêneo é trocado pelo homogêneo. V- A reprodução é substituída pela produção do conhecimento. Agora, assinale a alternativa CORRETA: d) As sentenças I, III e V estão corretas. 4 Complete as lacunas da sentença a seguir: Competência é a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ____________ conhecimentos, habilidades, valores e atitudes necessários para o desenvolvimento de atividades ____________ e sociais requeridas pela natureza do trabalho e para a ____________ em sociedade de maneira partícipe, comprometida e ____________. Agora, assinale a alternativa CORRETA: c) ação - profi ssionais - convivência - transformadora. 5 Para tornar-se competente, o sujeito necessita percorrer alguns caminhos. Na educação por competências denominamos estes caminhos de habilidades. Sobre o signifi cado de habilidade, assinale a alternativa CORRETA: c) Habilidade pode ser conceituada como indicadora de capacidade adquirida por alguém, associada a uma ação física ou mental.
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