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TRABALHO PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

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20
UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE PSICOLOGIA
 
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
CAMPINAS
2019
UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA 
CURSO DE PSICOLOGIA
 
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
Trabalho realizado como exigência parcial para o cumprimento da disciplina Psicologia Comunitária, ministrada pela Profª Carol Freitas para o 5º semestre do curso de Psicologia da Universidade Paulista – UNIP. 
CAMPINAS
2019
SUMÁRIO
1 – PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA............................4
1.1 HISTÓRICO....................................................................................................................... 4
1.2 PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA............................................................................6
1.3 CONCEITO DE COMUNIDADE.........................................................................................8
1.4 EXPERIENCIAS BRASILEIRAS E LATINO AMERICANAS............................................9
2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS E POLÍTICAS DA AÇÃO TRANSFORMADORA.........11
2.1 PRÁTICAS LIBERTADORAS NA AMÉRICA LATINA....................................................11
2.2 CONSCIENTIZAÇÃO.......................................................................................................12
2.3 PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.....................................................................................13
3 – METODOLOGIA............................................................................................................14
3.1 ANÁLISE DA ENTREVISTA.............................................................................................14
REFÊRENCIAS..................................................................................................................
ANEXOS
1 – PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA
1.1 – Histórico
A Psicologia Comunitária é uma aplicação da psicologia social para resolução dos problemas sociais nas comunidades. Se constitui como disciplina recente na história da psicologia. Sua origem remonta, por um lado à psiquiatria social e preventiva, à dinâmica e psicoterapia de grupos, práticas "psi" que conceituavam uma origem social a seus objetos de estudo. São comuns os termos: “Psicologia na Continuidade” (Bender, 1978); “Psicologia do Desenvolvimento Comunitário” (Escovar, 1979); “Saúde Mental Comunitária” (Berenger, 1982); “Psicologia Comunitária/na Comunidade” (Bonfim, 1992).
A Psicologia Comunitária é caracterizada por trabalhar com sujeitos sociais em condições ambientais específicas, visando as suas respectivas psiques ou individualidades. Seus objetivos se referem a melhoria das relações entre os sujeitos e entre estes e a natureza e instituições sociais ou o seu empoderamento. Nesta perspectiva está todo o esforço para a mobilização das comunidades na busca de melhores condições de vida”. O termo Psicologia Comunitária inclui os estudos e práticas que vêm se realizando no Brasil a exemplo do Movimento de Saúde Mental Comunitário e do Movimento de Ação Comunitária na América Latina, e outras aplicações da psicologia social em problemas relacionados a comunidade.
É muito importante para compreensão da Psicologia Comunitária é o conceito de comunidade, seu objeto material e campo de atuação. O termo Comunidade usado hoje em dia na Psicologia Social, é bastante elástico e capaz de incluir em seu escopo desde um pequeno grupo social, um bairro, uma vila, uma escola, um hospital, um sindicato, uma associação de moradores, uma organização não-governamental, até abarcar os indivíduos que interagem numa cidade inteira.
Podemos dizer que uma das primeiras tentativas conhecidas foi realizada por Moreno, em Viena, no começo do século. Ele começou em 1908, a fazer improvisações dramáticas com crianças instigando-as a rebelarem-se contra o mundo dos adultos e a criarem normas e regras para uma sociedade infantil respeitada pelos maiores.
A experiência e a obra de Wilhelm Reich, apesar de polêmicas, são cruciais na formação histórica da proposta da Psicologia Comunitária. Após participar como assistente de Freud em uma clínica gratuita em Viena, em 1922 e abrir uma semelhante em 1920 em Berlim, logo chegou à conclusão de que seria ilusório querer transformar a miséria sexual e mental com a multiplicação de clínicas e análises, fundando assim uma sociedade socialista de aconselhamento sexual e de sexologia. Após conferência com médicos e estudantes socialistas, e convencido de necessidade de politizar a questão sexual, liga-se ao partido comunista Alemão e funda a associação Alemã para uma política sexual proletária (SEXPOL), que teve seu primeiro congresso em Dusseldorf, em 1931. Mas a ação de Reich durou pouco. Vasconcelos 1989.
Uma outra experiência, distinta da de Reich, mas bastante significativa, é a dos Alcoólicos Anônimos (A.A) iniciada em 1935, nos Estados Unidos, e hoje amplamente difundida em quase todo mundo. Os A.A. constituem sem dúvida uma experiência sugestiva e eficaz dentro do enfoque da Psicologia Comunitária, e influenciaram enormemente a criação de experiência semelhantes mais recentes, do tipo neuróticos anônimos, grupos de autoajuda de ex-"psiquiatrizados". Vasconcelos 1989 (O.C.)
A medicina comunitária também teve um forte papel no aparecimento da Psicologia Comunitária. Outro processo fundamental que contribuiu para o aparecimento da Psicologia Comunitária foi o progressivo assalariamento, o achatamento da renda e a consequente criação de condições para politização crescente dos profissionais de saúde mental.
Não poderíamos nos esquecer de todo um movimento de questionamento crítico dentro da Psicologia como um todo, e da Psicologia Social em particular. Se fizermos uma avaliação da implementação da Psicologia Comunitária, no Brasil, acredito que poderemos identificar pelo menos três direções, tendo a primeira como vida acadêmica, universitária. A segunda, Movimento popular e por fim, a Implementação de programas que incorporam a Psicologia Comunitária, principalmente ligadas ao estado. 
1.2 – Psicologia Social Comunitária
A Psicologia Comunitária é uma aplicação da psicologia social para resolução dos problemas sociais nas comunidades, uma das coisas fundamentais para compreensão da Psicologia Comunitária é o conceito de comunidade, que é a qualidade ou estado do que é comum; comunhão: compartilhamento de ideias (senso comum) ou interesses em concordância, identidade. 
Guareschi (1999) menciona Ferdinand Tönnies, para discutir que a comunidade é uma associação que se dá na linha do ser, por uma participação profunda dos membros no grupo, onde são colocadas em comum relações primárias, como o próprio ser, a própria vida e o conhecimento mútuo.
A psicologia Comunitária vai além da psicologia social, ela tem uma visão maior com relação à sociedade; mudança social, ideologia, alienação, representação social, identidade social, sentido psicológico de comunidade, grupo social, apoio social, realidade socialmente construída, atividade, investigação-ação-participante, sujeito histórico-social, consciência crítica, conscientização etc. 
 “Fazer psicologia comunitária é estudar as condições (internas e externas) ao homem que o impedem de ser sujeito e as condições que o fazem sujeito numa comunidade, ao mesmo tempo que, no ato de compreender, trabalhar com esse homem a partir dessas condições, na construção de sua personalidade, de sua individualidade crítica, da consciência de si (identidade) e de uma nova realidade social” (Góis 1990).
Um dos propósitos e desafios da Psicologia comunitária foi o de aproximar-se mais da população e comunidades, mas com as relações de dominação, a comunidade e os profissionais possuírem modos e visões de mundo diferentes, geraram-se alguns conflitos e obstáculos para a atuação do psicólogo na comunidade.
As relações de dominação e poder sobre as comunidades tem sido um empecilho para grandes avanços e mudanças, dentre as dominações econômicasde quem rouba e expropria a capacidade de trabalho de outras pessoas, a dominação política, que são as relações entre o Estado, o governo e os cidadãos. São relações de dominação quando não são justas, democráticas, desrespeitosas e que tiram os direitos dos diversos sujeitos.
Pedrinho A. Guareschi (1999) cita em seu texto que todos que já viveram, ou tiveram contato com comunidades, sabem que cada uma delas possuem um “saber” e que a princípio não pior e nem melhor que o nosso, é apenas diferente. E que devemos ter o máximo de respeito por esse “saber” dos outros, prestar atenção não só no que nos dizem, mas também no que as pessoas fazem, como agem, como se relacionam. E que os nossos projetos incluam, além do diálogo, o compartilhamento de saberes, que demos a garantia de autonomia das próprias comunidades, já que eles são os que vivem lá e nós estamos apenas de visita. Essas questões têm que fazer parte da agenda das pessoas que querem de alguma forma entrar em contato com a psicologia social comunitária, e acima de tudo, o respeito por comunidades diferentes da sua.
1.3 – Conceito de Comunidade
Comunidade é constituída pela sua identidade ao reunir crenças, regras, valores e objetivos que são compartilhados pelos seus habitantes. Na realidade latina americana, as comunidades onde o psicólogo comunitário atua são na maioria das vezes áreas urbanas ou rurais ameaçadas pela pobreza.
Segundo Bader Sawaia (1996) a psicologia passou a problematizar o conceito de comunidade por volta dos anos 70, quando deu-se início ao trabalho envolvendo grupos sociais mais amplos e levando em consideração fenômenos psicológicos. A comunidade para psicologia comunitária se coloca como uma construção coletiva e consciente da realidade, onde os indivíduos têm seu espaço de participação e expressão.
No artigo sobre “Desigualdade, pobreza e políticas: notas para debate” (SCALON), fala sobre os direitos sociais iguais para todas as classes, tratando a desigualdade não somente como uma distribuição de renda, mas também como uma privação de direitos.
As comunidades são estudadas como partes organizadas funcionalmente mutáveis, enfatizando a divisão de trabalho, a especialização de atividades e a construção dos indivíduos em instituições.
O conceito de comunidade dentro da psicologia social ela é caracterizada por aspectos como, ser formado por um grupo de pessoas, residir em um território especifica repartir interesses, sentimentos, atitudes e possuir um grau de organização.
1.4 – Experiencias brasileiras e latino-americanas.
A construção da Psicologia Comunitária, no Brasil, se baseou em modelos teóricos e práticos da Psicologia Social integrados, principalmente, à Sociologia, à Educação Popular e à Ecologia. Começou como Psicologia na Comunidade, através de trabalhos realizados em vários Estados brasileiros (GÓIS, 2005). Na década de 50 ouve o chamado êxodo rural, onde pessoas migraram do campo para cidades, desencadeados pelo desenvolvimento da economia das grandes cidades naquela época, nascendo assim, uma nova necessidade, uma nova organização, com o objetivo de se desenvolver projetos que tinham a intenção de adaptação dessas pessoas na cidade. Nesse período, houve um crescimento dos trabalhos comunitários, de forma assistencialista e paternalista.
Na década de 60 tinha muitas manifestações populares com confrontos políticos. Nesse período se inaugura a inserção dos cursos de Psicologia no Brasil.
Em meio ao contexto da década anterior, e não melhor, na década de 70, vários psicólogos e professores da área se encontravam insatisfeitos com o distanciamento da psicologia para com a vida concreta. Mas foi nesse período, que a psicologia teve um avanço e começou a ser inserida na comunidade, onde ela vivencia a realidade junto à sociedade, confrontando as formas tradicionais de atuação da psicologia.
Na década de 80, época em que a psicologia em comunidade passa a se efetivar, saindo da clandestinidade no âmbito acadêmico e social, havendo um desenvolvimento significativo das práticas de psicologia em comunidade. Firmando assim uma nova perspectiva com compromisso com a classe popular deixando para trás teorias psicologizantes (FREITAS, 1998).
Fazer parte do contexto social na construção de projetos de intervenção e pesquisa nas perspectivas psicossociais é uma atuação da Psicologia Social Comunitária que vem sendo construída nos países da América latina, em vista podemos falar em um avanço, um ganho da atuação do psicólogo um contato com a população mais pobre.
Nos anos 90 foram marcados por uma diversidade teórica e metodológica no desenvolvimento desses trabalhos em comunidades basicamente aos postos de saúde, órgãos ligados às questões familiares, instituições penais. Em se tratando de instituições, sabe-se que a atuação do psicólogo se desenvolve a partir da demanda solicita da pela própria instituição (CARDOSO, 2012).
Por último, surge a expressão Psicologia Social Comunitária que carrega sua prática de maneira não paternalista, presente nos modelos trazidos dos Estados Unidos. O seu arcabouço teórico é oriundo da Psicologia Social, tendo como foco o trabalho grupal, como o objetivo de desenvolver uma consciência crítica na população e “uma construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos” (FREITAS, 1996).
Nos dias de hoje ainda é frequente a oposição entre comunitário ou comunidade, por serem práticas realizadas em campos profissionais diferentes. Com essas atuações frequentes, vêm crescendo especificamente, os profissionais de psicologia que se denominam psicólogos comunitários. Entre essas práticas profissionais há realizações de intervenção na comunidade, e investigações em diferentes localidades da sociedade, enquanto maneira de como se vive esses sujeitos na comunidade, identificando assim, o que pode ser melhorado.
2 - FUNDAMENTOS TEORICOS E POLÍTICOS DA ACÃO TRANSFORMADORA
2.1 – Práticas libertadoras na América Latina
A Psicologia Comunitária na América Latina teve influência nos finais dos anos 1950 dos trabalhos de investigação na Colômbia de Fals Borda e dos processos de educação popular no Brasil de Paulo Freire, e a relação entre a Psicologia Comunitária e a Educação Libertadora. Onde o Autor cita: “Estas teorias possuem em comum uma pratica transformadora, e seus aplicadores se definem como agentes da mudança social ao invés de uma posição absolutista, de detentores do poder e saber.” (PIZZINATO, 2014). A partir de suas reflexões sobre a importância dos afetos e sentimentos do desenvolvimento do ser humano, problematiza os processos de conscientização e educação popular. Propomos a substituição dos dois conceitos centrais a prática psicossocial clássica, “conscientização” e “educação popular”, pelo conceito “potência de ação”, por causa do excesso de racionalidade, instrumentalização e normatização a que aqueles foram aprisionados. Potencializar, como citado anteriormente, significa atuar, ao mesmo tempo, na configuração da ação, do significado e da emoção, coletivos e individuais. Para Martín-Baró (1986/2011) as teorias psicológicas hegemônicas na América Latina possuíam diversos problemas: a apropriação de teorias importadas sem uma análise crítica de sua adequação teórica para o contexto latino-americano; adoção de uma epistemologia construída a partir da perspectiva do dominador; foco em falsos dilemas e polêmicas que não respondem às questões da realidade latino-americana (Martín-Baró, 1986/2011).
2.2 – Conscientização
A Psicologia Comunitária é um campo onde tem como objetivo conseguir despertar uma consciência crítica do sujeito, assim contribuindo em sua formação social e individual. A conscientização é um dos fatores principais e mais importantes nesse caminho para o psicólogo comunitário, e assim como nos mostra o texto “conscientização: em que interessa este conceito à psicologia” de Emanuel Vieira e Veronica Ximenes, a linguagem é fundamental para o ser humano, e é onosso maior instrumento. Porém, nossa linguagem precisa aprender a ser ativa, ou seja, crítica e consciente. É imprescindível que o indivíduo se comunique com outros, de realidades diferentes da sua, e o caminho para a comunicação começa com o trabalho. De acordo com Leotiev (1978), o trabalho não traz somente a produção, como também nos leva a comunicação e socialização, assim podendo trazer junto de si uma “transformação e harmonização do cérebro”, pois um único homem isolado jamais poderia ser conscientizado sem se comunicar com outras pessoas. Góis (1994) também desenvolveu um conceito em que a atividade comunitária traz a sociedade uma transformação objetiva tanto de sua realidade como também ao desenvolvimento pessoal e social em um só processo, “essenciais a ação-discurso, o diálogo-problematizador, a conscientização, o conhecimento crítico e a transformação solidária da realidade” (Góis, 2005). Ele também complementa que, o crescimento critico acontece tanto com a comunidade quanto com o psicólogo comunitário, pois eles devem atuar em conjunto, melhorando a vida psíquica de ambos. Como diz Freire (1981), “o diálogo é uma exigência existencial”, pois só assim é possível conhecer e enxergar realidades diferentes das quais vivemos, além de que a conscientização jamais é individual, pois acontece apenas quando trabalhamos em grupo e nos comunicamos. Fica claro então que a conscientização é, ao todo, algo propulsor ao sujeito e á comunidade, é algo motivador para que a mesma, primeiramente, cresça psiquicamente, e só assim podendo começar a ter novos olhos, para essa realidade que muda constantemente, e assim caminhar em direção a uma sociedade menos discriminatória, mais humana e mais justa. Como diz Freire (1979), “ninguém se conscientiza a si mesmo, as pessoas se conscientizam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.
2.3 – Psicologia da Libertação
O conceito de Martín-Baró para a Psicologia da Libertação parte para uma abordagem que no início tem o intuito de criticar a realidade pelos povos latino-americanos e depois, para construir uma base de conhecimento, “A Crítica ao universalismo fica muito clara em sua oposição tanto à importação irrefletida de teorias geradas em outros contextos quanto à sua rejeição acrítica...” (PIZZINATO, 2014). O objetivo da Psicologia da Libertação é com não deixar com o que o ser humano seja dominado por uma minoria que comanda os grupos sociais, onde através de um Psicólogo seja possível a mediação à essa Psicologia da Libertação. Esta Psicologia da Libertação foi de extrema importância para o Brasil, e principalmente para a Psicologia Comunitária que surge com essa busca de atingir não somente a alta classe e sim uma classe mais baixa através de movimentos sociais, sendo assim se propõe a se colocar no lugar deste sujeito de classe social mais baixa assim enxergando como o mesmo pode ser alienado pelas classes sociais mais altas. Frente a nosso cenário onde existe uma minoria dominadora frente as classes sociais, é de extrema importância uma mudança social a partir da libertação da Psicologia Comunitária, fazendo assim com o que o psicólogo consiga ajudar através de projetos sociais estas pessoas com classes mais baixas a se libertar desta dominação social.
3 – MÉTODO
3.1 ANÁLISE DA ENTREVISTA
Durante a nossa entrevista, a psicóloga Juliana mencionou algumas dificuldades relacionadas aos aspectos negativos do trabalhador comunitário do CREAS, ela diz que como o trabalho do assistente social e do psicólogo acabam se misturando isso pode trazer uma perca de identidade se você não tem autoconhecimento do seu fazer técnico e o trabalho do assistente social. Ela complementa dizendo que isso não seria uma perca da sua identidade e sim parte do seu trabalho em um todo, cada um contribuindo com a visão daquilo que se formou, Maria Quintal de Freitas, no livro Psicologia e sociedade cita elementos que têm afetado as dinâmicas psicossociais em comunidade e relata sobre o processo de construção da identidade, ela diz 
E, por se tratar de um processo, faz-se necessário, então, entender a sua identidade – antes e durante o trabalho comunitário – uma vez que isso contribui para compreender os movimentos de transformação ou de manutenção dos projetos de comunidade que são considerados como relevantes por este profissional. (FREITAS, 2010).
A psicóloga complementa dizendo que ela tinha esse olhar no começo de seu trabalho, que em um certo momento da sua vida ela enxergava assim, com base em (FREITAS, 2010), compreendemos que a psicóloga teve essa evolução durante o decorrer dos anos com o seu trabalho, a proximidade fez seu entendimento pessoal crescer e assim entender a sua identidade.
Sobre o serviço do CREAS, a psicóloga deixou claro o ponto principal das atividades desenvolvidas no local, que é diferente da base em si (OSC’S) onde ainda há mais tempo de buscar uma prevenção para a demanda trazida no local, podendo acontecer palestras e rodas de conversa sobre como pode-se evitar tal acontecimento ou situação, como por exemplo a prevenção da gravidez na adolescência. Já no CREAS, eles recebem a demanda específica e, por diversas vezes, imediata para aquela família, ou seja, é depois de receber a demanda que eles vão trabalhar em cima e assim podendo começar com as visitas, porém os dois serviços são feitos de forma que eles consigam trabalhar em conjunto. De acordo com Góis (2003), em um de seus textos, ele nos fala que “é necessária a ida da psicologia às ruas”, assim podendo-se aproximar melhor da classe vulnerável, para assim poder conscientizar e transformar, processo que tem como objetivo reduzir a desigualdade e pré-conceitos. É importante frisar o trabalho terapêutico naquelas famílias desestruturadas que chegam no CREAS por motivos da desorganização em função da dificuldade de dialogo e, além disso, os trabalhos em grupo, que oferecem um espaço de superação de resistências com o objetivo de elaborar (PACHECO, 2011 apud DESLANDES, 2004; OLIVEIRA, 2004; PEDERSEN, 2010). Podemos também relacionar a entrevista com alguns conceitos de Martín-Baró, como por exemplo, em uma das perguntas a entrevistada responde: “Dentro do CREAS nós temos diversas demandas já de acompanhamento no CREAS que atende mulheres e vítimas de violência, criança e adolescente...”, Baró fala sobre esse tema abordado pela psicóloga e serviço dentro do CREAS, assim como no seguinte trecho: “A manifestação da violência na vida cotidiana é explícita, multifacetada e, muitas vezes, é naturalizada como uma resposta normal das pessoas aos seus problemas. Ainda que a violência não necessariamente produza apenas desumanização, em geral ela é parte de processos que empobrecem a vida e a qualidade das relações humanas. A violência física, psicológica, simbólica ou a violência estatal e a violência revolucionária são diferentes manifestações de processos de grande relevância para a Psicologia.” (Martín-Baró, 1988/2013) assim como Baró cita no trecho acima, estes processos são de grande relevância para a psicologia e um serviço necessários aos psicólogos, levando a essas vítimas o tratamento necessário.
As situações psíquicas vivenciadas naquele local embasam no contexto de que “A violência é um fenômeno social e individual. Assim, ainda que diversos indivíduos vivenciem a mesma situação violenta, as respostas e consequências psíquicas não são idênticas, pois dependem de processos subjetivos e objetivos. Daí a necessidade de uma análise psicossocial dos efeitos da violência” (Martín-Baró, 1984). Em certo ponto da entrevista, a psicóloga entrevistada relata a seguinte fala: ”então é um acompanhamento sistemático fazendo as visitas domiciliares sempre que necessário, articula os serviços da rede, até que a gente avalia se a família superou ou minimizou”, sendo assim podemos notar a preocupação com a vitima e como ela vai levar seu tratamento e seu pós tratamento pois “a violência é um fenômeno social e individual. Assim, ainda que diversos indivíduos vivenciem a mesma situação violenta,as respostas e consequências psíquicas não são idênticas, pois dependem de processos subjetivos e objetivos. Daí a necessidade de uma análise psicossocial dos efeitos da violência” (Martín-Baró, 1984). Finalmente, o trabalho do grupo multiprofissional (psicólogos, assistentes sociais e outros) que integra o CREAS deve realizar os procedimentos especializados com o intuito de potencializar o emocional de cada membro da família que vivenciaram situações de violência, proporcionando apoio e proteção, destacando a construção da própria vida com o objetivo de recompor os laços familiares e comunitários.
4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BOMFIM, E. M. (1992) Psicologia Comunitária no Brasil.Reflexões históricas, teóricas e práticas. Anais do III Simpósio Brasileiro de Pesquisa e Intercâmbio Científico. Águas de São Pedro, São Paulo: ANPEPP.
BENDER, M.P. (1978) Psicologia na Comunidade. Rio de Janeiro: Zahar.
BERENGER, M. E. (1982) A Psicologia Em Instituições de Assistência Social. Relato de uma experiência. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PUC.
Campos, R. H. F. (1983). A função social do psicólogo. Educação e Sociedade, 5(16), 74-84.
CAMPOS, Regina Helena de. Psicologia Social Comunitária: da Solidariedade à Autonomia, 10 ed. Petrópolis: Vozes, 1996
CARDOSO, Géssica da Silva. A Práxis do Psicólogo Comunitário: Desafios e Possibilidades. Trabalho de Conclusão de Curso. PSICOLOGADO | Publicado em: 13 de Fevereiro de 2012. Disponível em: https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-comunitaria/a-praxis-do-psicologo-comunitario-desafios-e-possibilidades. Acesso em: 25/05/2019.
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Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal de Serviço Social. (2007). Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogos (as) na Política de Assistência Social. Acesso em 22 de setembro, 2007, em http://www.cfess.org. br/arquivos/CartilhaFinalCFESSCFPset2007.pdf
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Contemporânea - Revista de Sociologia da UFScar. Público alvo e dados sobre autora, disponível em: http://agencia.fapesp.br/ufscar-publica-revista-de-sociologia-na-internet/15053/
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ANEXOS
ENTREVISTA NO CREAS
Dados pessoais:
Nome Completo: J. X.
Idade: 35 anos
Dados educacionais:
Formação profissional: Psicóloga. Especialização em psicoterapia psicanalítica. 
Experiência profissional:Tempo de trabalho:
“Estou a 11 anos na área da assistência social, atuo desde a minha formação nesta área e na parte clínica, mas a assistência social nunca deixou de fazer parte”.
Funções já desempenhadas:
“Sempre atuei como psicóloga, meu primeiro emprego assim que me formei foi no acolhimento estatucional de crianças e adolescentes, que na época chamávamos de abrigo.
Então em 2008 eu iniciei nesse abrigo de crianças e adolescentes como psicóloga da instituição e posteriormente fui trabalhar no CREAS PAEFI em Campinas, que é um serviço de atendimento especializado de proteção de crianças e adolescentes. Trabalhei em Campinas na rede, no CREAS e depois posteriormente entrei em um concurso aqui em Sumaré e desde então estou no CREAS.”
Funções desempenhadas na área de assistência social:
“Sempre como psicóloga, seja de instituição de acolhimento que é a alta complexidade ou eu perpassei todas, então desde a alta e média complexidade da proteção social básica, então a minha trajetória por exemplo em CRAS foi bem curta, foram ao total de onze meses apenas, nove meses em trabalho em CRAS e o restante foi em CREAS na proteção social de média complexidade, e em alta complexidade eu atuei dois anos e meio. Então sempre como psicóloga nesses níveis dos serviços.”
Seu tempo de trabalho nesta instituição:
“7 anos nesta instituição.”
Funções desempenhadas nessa instituição:
“Aqui foi sempre como psicóloga, exceto por um ano que eu fiquei como coordenadora desse serviço. Mas nesses sete anos, teve uma pequena parte desse tempo que o CREAS em outra gestão era dividido em projetos, tinha um braço que chamava o projeto Bem Querer, que era um projeto de adoção. Então por um ano e meio eu atuei como psicóloga e coordenadora desse projeto, trabalhando com a preparação de crianças em uma instituição de acolhimento para adoção, para a preparação dos pretendentes da adoção, preparação da família conjuntamente quando acontecia o processo de adoção e os pós adoção. Então eu só ficava na parte de adoção, esse projeto era específico, foi um ano e meio que eu fiquei voltada a esse projeto e depois como não era um projeto certificado dentro dos serviços da assistência, a nova gestão encerrou e aí então eu voltei para o CREAS para atuar em PAEFI e fiquei na coordenação por um ano e o restante do período todo eu fiquei como psicóloga atuando com uma dupla.”
Descreva o seu trabalho na instituição? Como funciona? O que você faz?
“Dentro do CREAS nós temos diversas demandas de acompanhamento. O CREAS atende mulheres e vítimas de violência, crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, idosos e pessoas com deficiência. Nós atuamos sempre por duplas, atualmente temos de cinco a seis duplas que fazem acompanhamento em PAEFI que é o serviço de proteção e atendimento especializado a indivíduos e famílias, então assim que a gente faz.”
O que é esse acompanhamento? Objetivo da Instituição?
“Então, sempre quando vem uma pessoa vitimada tendo uma situação de violação de direitos, eu sou uma específica do público criança adolescente, não que eu não atendo as outras demandas, mas é mais voltado para criança e adolescente, a gente faz acompanhamento familiar. Então chega o encaminhamento, por exemplo, pode ser do conselho tutelar, pode ser da vara da infância e juventude ou demanda espontânea que a gente considera como chegar na porta e alguém vem e diz “olha minha filha foi abusada”, uma demanda que ela trouxe, aí vamos notificar os órgãos competentes e vamos dar andamento para o acompanhamento desta criança que teve seus direitos violados, e daí a gente faz o acompanhamento através de atendimento sistemático aqui na instituição, fazemos as visitas domiciliares e toda articulação de rede. O CREAS funciona como um órgão de articulação do serviço da rede, então ele vai fazer a ponte com a educação, com a saúde, sempre fazendo de forma que a criança tenha seus direitos preservados e garantidos, então é nesse sentido a gente pensa, com a família sempre junto, com os responsáveis na média complexidade, a gente atua para o fortalecimento dessa família e para que ela perceba qual é seu papel e sua função protetiva, então esse é o objetivo dos nossos atendimentos aqui no CREAS, a gente vai atender os pais, ou quem faz a função de pai, às vezes são os avôs, enfim, para que ele entenda que aquela criança está com os seus direitos violados. Então é um acompanhamento sistemático fazendo as visitas domiciliares sempre que necessário, articula os serviços da rede, até que a gente avalia se a família superou ou minimizou.
Tem famílias que culturalmente a gente entende que algumas posturas dificilmente nós vamos ter grandes mudanças, mas só para compreensão daquela função protetiva a gente consegue encaminhar um pouco para que esta criança tenha seus direitos garantidos e aí a gente encerra o acompanhamento por aqui. Assim, existem muitos casos de abandono de famílias que não aceitam acompanhamento por entender que eles não violam os Direitos da Criança e do Adolescente, a gente tenta então por um bom tempo e depois que não dá mais a gente entende que a família não vai aderir mesmo, que aquilo está sendo muito maléfico ao invés de benéfico pro núcleo familiar, porque gera conflitos, gera discussões, gera desgaste de vir no serviço, então nós encerramos por não adesão, ao abandono mas a gente evita por que a gente sabe que tem uma criança vitimada nesse núcleo familiar. Então a nossa função enquanto técnico dentro do CREAS é essa, é olhar para aquele sujeito, para aquele individuo, para aquela família dentro de seus contextos sócio culturais e entender a forma de funcionamento dela que chega nesse ponto da violação dos direitos.
É um trabalho intenso, mas prazeroso pois tem um efeito, é muito interessante essa sua articulação, você vê a família refletindo e pensando algumas possibilidades que as vezes ela não conhecia, então ela olha para aquilo com alguma outra possibilidade então é sempre interessante a gente trabalhar as possibilidades que está família tem.”
Quem e como se financia a instituição?
“O CREAS é municipal, mas recebe recursos municipais, estaduais, federais. Os funcionários que trabalham no CREAS, o coordenador e a maior parte dos técnicos são concursados, então são profissionais efetivos, isso diminui a rotatividade, porque nesse trabalho do CREAS deve-se priorizar a questão do vínculo, se você não trabalha ele, ele fica muito fragmentado e é rompido de forma muito brusca e a família não se vincula e não se vinculando a gente não consegue trabalhar o que tem que ser trabalhado.”
Psicóloga (o)
Função do psicólogo nesta instituição e a importância dele
“Olha, na assistência social existem muitas discussões sobre o papel do psicólogo, então há muito material para a gente se embasar, o CRP já publicou alguns documentos nesse sentido, fica tudo muito mesclado. Então, o papel do psicólogo na assistência social, ambos desempenham praticamente a mesma função, o que diferencia é o olhar, então eu também faço coisas, eu também faço avaliação sócio econômica que em tese, eu não faria, porém fica todo mundo muito misturado, interligado por que se você olhar para aquela família como um todo você entende que o papel da dupla também é como um todo, então a assistente social vai entrar de férias ou ela vai ter um afastamento médico e você precisa de alguma forma também entender aquela complexidade sócio econômica, inclusão e benefícios, programas sociais, para você saber articular, se você focar só na questão da psicologia você não desenvolve um trabalho psicossocial, então, assim o psicólogo tem outro olhar, inclusive a noção técnica, um olhar para como aquela família funciona. Com esse diferencial do psicólogo, ele vai poder entender aquela pessoa no seu modo de funcionamento interno, as suas características psicológicas as vezes são patológicas, às vezes ali tem um transtorno de algum dos genitores que você vai ter que fazer articulações mais voltadas nesta linha da psicologia, articulado com a psicoterapia para que possa tratar. Trazendode forma mais clara o que está acontecendo ali. Mas tem famílias que não adianta ou a gente resgata primeiro as condições básicas de dignidade e sobrevivência que é a alimentação, moradia ou a gente não caminha.”
Relação com outros profissionais:
“A psicologia tem muito a contribuir na área da assistência pensando naquele sujeito como um indivíduo dentro de uma comunidade, dentro de uma cultura, dentro de toda uma subjetividade mesmo que o assistente social vai olhar mais concretamente essas coisas, aí que um olhar compõe o outro para poder ter um trabalho mais efetivo.”
Aspectos positivos e negativos:
“Um aspecto negativo é isso que os trabalhos ficam um pouco misturados, então se você não conhece, não tem autoconhecimento do seu fazer técnico, da sua identidade profissional, acho que isso fica um pouco perdido e misturado. Então você fica um pouco dissimulado do trabalho, por isso você precisa entender mesmo a assistência social em toda sua complexidade para você poder atuar e saber que aquilo que você está fazendo não é uma perda da sua identidade, mas que aquilo faz parte do trabalho, e você com seu olhar vai poder contribuir dentro daquilo que você foi formado. Então isso é um dos aspectos negativos, eu entendo que cada um pode enxergar de uma forma, hoje depois de 11 anos eu não enxergo mais dessa forma, mas em algum momento da minha vida eu já estive me questionando sobre essas coisas. E dentro do papel do psicólogo eu não consigo ver outros aspectos negativos, eu vejo da política pública da assistência social como um todo.
E os pontos positivos, eu acho que, diferente de outros países temos condições de ter serviços muito bem articulados que podem trabalhar minimamente esses aspectos de violação de direitos com a família mais de perto, então sem ser menos taxativo, eu acho que a política da assistência social traz esse novo ver para você dar um novo sentido para aquilo, e aí esse ponto positivo do CREAS e da atuação de profissionais que aqui trabalham, dar esse novo sentido para essas famílias, para essas violações de rede, por exemplo, a pessoa em situação de rua que as vezes escolheu essa condição, por conflitos familiares, talvez recebeu nosso atendimento aqui e atribuiu um novo significado para esses conflitos, inclusive no resgate de vínculos familiares que foram perdidos a anos, são poucos, mas alguns resgatam, alguns fazem algum sentido, então pelo pouco que você atinja eu acho que este já é um bom resultado ainda que não sejam todos. Nós somos apenas instrumentos para mudança, se a família não quiser aquela mudança infelizmente os nossos atendimentos não vão ser efetivos como deveriam ser.”
Características física e simbólica da instituição:
“No espaço físico a gente tem uma sala de atendimento infantil, nós temos uma sala da coordenação, uma sala onde fica a equipe técnica. Hoje nós estamos com seis duplas psicossociais, e uma técnica na acolhida, todos os dias tem uma pessoa que fica na acolhida, que é a pessoa que chega no CREAS para pedir alguma intervenção, alguma orientação, então tem uma profissional disponível para fazer essa escuta da pessoa que chega, das 8h às 17h, fora as duplas que acompanham os casos. Então por exemplo, cada dupla de acordo tem um documento da assistência social que chama Nob RH, então essa Nob Rh determina quantos profissionais tem que ter no CREAS por habitantes, aí ela vai dar as diretrizes inclusive de espaço físico. 
Então ela também diz que no máximo as duplas têm que atender quarenta famílias cada, só que não é a realidade, atendemos muito mais. Assim como o espaço físico, que por exemplo no nosso espaço físico a gente não tem um lugar adequado para fazer grupos, então por enquanto a gente não consegue fazer grupos, temos essa sala aqui que funciona como local de reunião, mas grupos com família é uma área que a gente ainda não tem. 
Temos três banheiros, dois com acessibilidade, três salas de atendimento adulto, uma infantil, uma cozinha que a gente chama de copa, uma recepção e uma sala do administrativo onde guardamos os prontuários, todos os instrumentais utilizados aqui.”
Caracterização dos Indivíduos:
“Nossos funcionários não são todos efetivos, nós temos alguns contratados pelas OSC’s do município que são as organizações sociedade civil, que prestam esse auxilio, então de todos funcionários nós temos uns três técnicos contratados e os demais são efetivos e nós temos outros auxiliares administrativos, recepção e limpeza que são funcionários de um programa Municipal, programa Para Frente que é frente de trabalho e nós temos um condicionado, então essa é a equipe total do CREAS. Mas de importância nós temos um coordenador também que é efetivo, isso dá uma força maior.”
Caracterização da clientela:
“A gente chama de demanda, são pessoas em situação de rua, pessoa com deficiência, idoso, mulher vítima de violência, criança e adolescente, é esse público que a gente atende.”
Caracterização das atividades desenvolvidas:
“São os atendimentos sistemáticos psicossociais, visitas domiciliares sempre que necessário. Esses são os trabalhos diretamente com a família, fora isso tem os encaminhamentos pra rede que encaminha para o CRAS, proteção social básica, para saúde, encaminha-se para adaptação, então aí a gente vai articulando junto com as necessidades apontadas pela família para as outras políticas públicas, então é esse o trabalho, mas diretamente são os atendimentos e as visitas, é um trabalho muito focado é diferente de um outro serviço, a pessoa já chega com uma demanda específica, na básica você pode trabalhar a prevenção, você faz outras palestras, se envolve nas comunidade em que você está, no território, e no CREAS não, nele você tem que trabalhar aquela questão específica pela qual chegou aqui no serviço, e o CREAS atende territorialmente, então o município inteiro de Sumaré é atendido por esse CREAS, então não dá para fazer ações muito grandes porque as famílias precisam se deslocar até aqui, para os atendimentos ou para essas ações. Então a gente articula geralmente com os territórios para incluir essa família mais próximo da residência dela, ficando mais fácil. Trabalhamos então em conjunto, uma coisa não exclui a outra, mas o foco é o CREAS, a família vem para o CREAS, o foco é esse, não ficar trabalhando atendimento, mas proporcionar atividades para essa família que compõe o nosso trabalho aqui.”

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