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DOCUMENTO AULAS 6 A 10-PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL I

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Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Compreender as crises do modo de produção capitalista como parte da sua lógica reprodutiva; 
2. entender a base da crise dos anos 70, bem como as medidas adotadas como forma de superá-la; 
3. compreender o impacto dessas medidas na organização societária a partir do reordenamento da produção e da aplicação da doutrina neoliberal em contraposição à regulação estatal do período anterior. 
 
Nessa aula você:
· Nesta aula, iremos entender como as transformações societárias ocorridas no final do século XX estão ligadas à crise do modo de produção capitalista. Para o entendimento desta questão, buscaremos compreender o que é crise na sociedade vigente, suas implicações nos diversos setores da vida social e os seus impactos sobre o chamado mundo do trabalho.
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Entender o que é reestruturação produtiva, a partir de qual situação ela se torna uma necessidade do ponto de vista do capital, bem como verificar quais os impactos que ela provoca na esfera do trabalho. 
Considerado como uma forma de trabalhar e viver bem americana, o fordismo, na segunda metade do século XX, já havia se espalhado pelas diversas regiões do globo, mesmo sofrendo adequações nas várias partes do mundo em que se instalava.
Segundo nos conta Druck, em seu livro Terceirização: (des) fordizando a fábrica, é nos EUA, local onde este padrão havia sido gestado, que os primeiros sinais da crise dessa forma de regulação começam a se manifestar. Segundo ela, a queda de produtividade no trabalho que vai se verificar é o principal indicador da crise.
Tal fato, para a economia norte-americana, tinha como consequência uma crescente perda de competitividade junto ao mercado internacional. E isso representava uma forte ameaça à hegemonia dos EUA, pois essa perda de competitividade poderia significar uma perda de seus mercados para outros países produtores, como o Japão, que nesse período já dava sinais de um crescimento econômico vigoroso, sustentado em altos índices de produtividade do trabalho.
As causas para a queda da produtividade do trabalho estavam relacionadas a uma série de fatores. Segundo Druck, no âmbito do processo do trabalho, verificava-se um amplo movimento de resistência, expresso nos índices de absenteísmo, de turn over, nos defeitos de fabricação e na diminuição do ritmo de produção. A ação dos sindicatos mostrava a sua força ao exigir a continuação da incorporação dos ganhos de produtividade aos salários.
As práticas sindicais e as manifestações nos locais de trabalho recusavam continuar contribuindo com a gestão taylorista-fordista, que impunha um trabalho por parcelas, repetitivo, fragmentado, rotinizado, e havia desqualificado e mesmo destruído o saber daqueles trabalhadores de ofício, que tinham um determinado controle e autonomia no seu trabalho. Tratava-se, na realidade, de uma resistência, cujo conteúdo político era manifestado num certo esgotamento dessa forma de controle do capital sobre o trabalho (DRUCK, 1999, p. 68).
A autora nos diz que as manifestações não se limitariam aos locais de trabalho e logo se generalizariam para outros setores da sociedade.
Os jovens e estudantes, por exemplo, iriam questionar firmemente o modo americano de viver, bem como as formas de uso social de seu saber, de suas qualificações, etc.
“Há uma onda de protestos que não se limita à sociedade americana, mas que ali toma a forma de movimento de ‘indisciplina social’”, diz ela. Nesse sentido, o ano de 1968 foi marcante tendo em vista o fato de o mundo inteiro ter sido sacudido por greves, manifestações de rua, ocupações de fábrica, etc. (DRUCK, 1999, p. 69).
Eventos como o maio francês, a primavera de Praga, ou a luta contra a guerra do Vietnã indicavam uma recusa aos padrões dominantes de organização econômica, social e política. “Era uma luta contra formas institucionalizadas de poder e, centralmente, contra o autoritarismo presente nessas instituições, bem como as formas de controle social predominantes” (DRUCK, 1999, p. 69).
A situação vai se agravar ainda mais nos anos 70. Segundo Druck, a expansão do mercado de eurodólar e a perda da referência única do dólar nas transações internacionais iriam indicar uma nova regulação do sistema financeiro internacional. O excedente de petrodólares iria aumentar a instabilidade dos mercados financeiros mundiais.
Novas regiões competitivas são criadas nos países do Terceiro Mundo – no Sudeste Asiático e na América Latina – sobretudo através das multinacionais.
Esta crise, portanto, que vai se manifestar entre os anos 1967 e 1974, na opinião de alguns especialistas, seria uma crise de rentabilidade, diferente da crise de 1929, que teria sido de superprodução. “Esta crise de rentabilidade vem com desaceleração da produtividade, ao mesmo tempo que os salários continuam com aumentos reais (resultado das lutas sindicais)”. A reação então era aumentar as margens de lucro, que se refletiam nos preços de venda, gerando uma inflação nos custos. Segundo Druck:
“[...] mesmo que esta elevação de preços redundasse em elevação de salários, em vários momentos não aconteceu na mesma proporção (principalmente nos anos 70), resultando em perda de poder aquisitivo, diminuindo a demanda e, consequentemente, determinando situações recessivas (DRUCK, 1999, p. 70).
O que estava sendo posto em xeque era todo o “compromisso fordista”. A queda da taxa de lucro baixava e, por consequência, se diminuía o investimento que, cada vez mais, criava menos empregos – acréscimo de capital fixo em substituição ao trabalho humano. A diminuição dos aumentos de salário real para compensar as quedas das taxas de lucros implicava uma diminuição do consumo, de modo que toda essa situação provocava um aumento do desemprego.
Contudo, a “rede de segurança” típica do fordismo – auxílio--desemprego, programas de auxílio social – foi o que impediu um desmoronamento da demanda interna nos países centrais – diferença em relação aos anos 30. Essas transferências sociais, no entanto, pesavam significativamente sobre as taxas de lucro, haja vista o fato de seu financiamento ser realizado via impostos e cotizações, e isso implicava numa diminuição do lucro dos investimentos. De maneira que o que foi posto em xeque foi a própria legitimidade do Estado -providência e das transferências sociais, ou resumindo, todo o “compromisso fordista”.
Druck nos diz que nos desdobramentos da crise vão se colocando possibilidades de saída. A chamada terceira Revolução Industrial, as mudanças nas políticas de organização e gestão do trabalho, bem como as mudanças no perfil dos mercados dos produtos vão se constituindo como alternativas para o enfrentamento da crise.
A mudança na forma da concorrência intercapitalista com a qualidade e a diversificação dos produtos assumindo papel determinante vai fixar as novas bases de competitividade. “Estas mudanças tendem a questionar os sistemas rígidos de produção tipicamente fordista, procurando substituí-los por esquemas mais flexíveis de produção” (DRUCK, 1999, p. 71).
A autora afirma que, pelo fato das manifestações que haviam ocorrido no final dos anos 60 não terem sido capazes de impor uma alternativa, o capital, aproveitando o enfraquecimento do movimento dos trabalhadores, impôs sua saída ao iniciar a implementação de um processo de reestruturação produtiva. Este se apoiava justamente na crescente adoção da base tecnológica microeletrônica, nas novas políticas de gestão e organização do trabalho baseadas na “cultura da qualidade” e numa estratégia de cooptar e neutralizar as formas de organização e resistência dos trabalhadores. De acordo com Druck, são políticas que, por um lado, “incluem” uma elite no novo padrão que está sendo gestado e, por outro, “excluem” – através do desemprego e das formas precárias de contratação e subcontratação – grandes parcelas de trabalhadores assalariados (DRUCK, 1999, p. 72).
ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL
O termo “flexível” vai surgir em contraposição à rigidezdo período fordista anterior. Se antes tínhamos a produção em série, produtos padronizados e os produtores reunindo esforços para controlar as variações do mercado em relação aos produtos padronizados, o regime da especialização flexível vai na direção oposta.
A diversificação da produção e a sua realização observando as variações do mercado, sem mais visar o seu controle, vão ser a marca dessa nova forma de gerir a produção engendrada no bojo da crise dos anos 70. Segundo Sennett (2005), de forma sintética, a especialização flexível vai tentar pôr, de forma cada vez mais rápida, produtos mais variados no mercado – em contraste com o período anterior.
Segundo esse autor, a especialização flexível é a “antítese do sistema de produção incorporado no fordismo”, diz ele. “E – Continua – de uma forma muito específica; na fabricação de carros e caminhões hoje, a velha linha de montagem quilométrica observada por Daniel Bell foi substituída por ilhas de produção especializada” (SENNETT, 2005, p. 59).
Analisando as proposições dos autores Piore e Sabel, Graça nos diz que motivados pelo fato de que, diferente dos EUA, países como França, Itália e Alemanha Ocidental apresentavam índices de crescimento econômico, esses autores se lançaram na tarefa de verificar a razão desse contraste – isto é, uma economia em crise (no caso, a americana), enquanto outras cresciam e conquistavam novos mercados.
Analisando as regiões da chamada Terceira Itália, os autores verificaram que havia ocorrido um surto de crescimento industrial baseado num processo de descentralização da produção, com o aparecimento de uma rede de pequenas empresas. Os pesquisadores constataram que o tamanho médio das empresas varia, mas em cada uma destas oficinas há uma especialização muito grande, “com mão-de-obra qualificada e ágeis para atender a mudanças na demanda” (DRUCK, 1999, p. 74).
Ainda segundo a pesquisa, embora essas empresas produzam em grande parte para as grandes corporações, elas gozam de significativa autonomia (muitas delas seriam cooperativas). Muitas dessas empresas teriam sido formadas por operários qualificados e ex-militantes sindicais demitidos em greves passadas. Portanto, é a partir desse estudo que Piore e Sabel apresentam “o novo paradigma da especialização flexível” (DRUCK, 1999, p. 75).
A alternativa à produção em série (em crise) estaria na descentralização da produção, mudança que seria fundamental para o redirecionamento do crescimento. Segundo os autores, nessa alternativa “a pequena produção ocupa um papel central, como revitalizadora e como forma de romper com a rigidez típica do modelo anterior”. A flexibilização – afirma Druck– seria o elemento-chave, ou crucial, para responder às constantes variações de demanda e à diversidade do mercado.
Dessa forma, então, a autora explica o modelo apresentado pelos autores:
“[...] o modelo defendido pelos autores seria constituído por uma estratégia industrial em que as pequenas e médias empresas ocupam um papel central na reestruturação. [...] estas empresas utilizam uma tecnologia avançada, mas combinada com um trabalho de tipo artesanal que exige uma mão-de-obra qualificada e muito treinada. No âmbito da organização do trabalho, realizam a integração entre concepção e execução, estabelecendo tarefas multiespecializadas.
Ao mesmo tempo, as relações hierárquicas na empresa devem ser mudadas, superando a sua rigidez e transformando-a numa organização mais informal, que aproxime os vários níveis e cargos (DRUCK, 1999, p. 75).
Outro questionamento do autor – segundo nos narra Druck – diz respeito à ideia de mão de obra multiespecializadas e estável. Vejamos:
Outras pesquisas já demonstraram que existe muita diferenciação nos níveis de qualificação dos trabalhadores, até mesmo na Terceira Itália, onde o setor artesanal apresenta uma ampla variedade de trabalhos e de trabalhadores, mesmo no que se refere às condições de trabalho e de salários (DRUCK, 1999, p. 76).
E continua: O trabalho ocasional, por exemplo, é frequentemente utilizado, em geral realizado por mulheres, com menor nível de qualificação e mal pago. Há também as indústrias de fundo de quintal, onde impera o trabalho irregular, sem contratos formais, e que são, muitas vezes, até clandestinas (SCHMITZ, 1989, p. 164 apud DRUCK, 1999, p. 76).
PIORE E SABEL
Piore e Sabel havia assinalado para uma capacidade inovadora muito grande na rede de empresas, numa combinação de trabalho artesanal e inovação tecnológica. Segundo eles, esse processo de industrialização havia proporcionado uma diminuição no desemprego, assim como uma melhora no padrão de vida na região. A atuação dos governos locais teria sido fundamental, por meio de investimentos em infraestrutura e em políticas sociais de saúde, segurança e regulamentação dos salários (DRUCK, 1999, p. 74). Os autores completam ainda que no plano institucional, ao invés da centralização e regulamentação típicas do sistema keynesiano (de caráter nacional e multinacional), a instituição da descentralização por intermédio dos poderes locais poderia gerar um efeito mais efetivo, ao agirem estes com o intuito de fundir competição e cooperação.
“INOVAÇÃO PERMANENTE”
Sobre a questão da “inovação permanente” e o seu lugar central nas investigações de Piore e Sabel, Schmitz contesta e diz – amparado em uma pesquisa realizada sobre a produção de redes no Nordeste brasileiro – que nos países menos desenvolvidos essa questão é diferente. Neles, o excedente de mão de obra tem um papel mais decisivo, e acaba empurrando para o plano secundário a questão da inovação. Segundo o autor, em países como o Brasil, embora invistam em inovação tecnológica, indústrias como a de confecção e malharia localizadas em Petrópolis (RJ) e Juiz de Fora (MG) utilizam o recurso da subcontratação de trabalhadores sem registro, com má remuneração e submetidos a péssimas condições de trabalho.
ESTA SITUAÇÃO
Essa situação era possibilitada pela operação de microempresas, de propriedade de trabalhadores assalariados mais qualificados que, para estabelecerem seu próprio negócio, e na falta de capital para investir em maquinaria, recorriam às formas precárias de subcontratação e até mesmo ao trabalho familiar sem remuneração e sem especialização, como estratégia de sobrevivência no mercado (DRUCK, 1999, p. 78).
A diferença desse papel do excedente de mão de obra com relação aos países desenvolvidos, segundo ele, estaria no fato de que nestes existe o atenuante do seguro-desemprego – uma das políticas centrais do Estado de bem-estar.
Veja abaixo a matéria sobre greve dos trabalhadores da Prest Perfuração, empresa prestadora de serviços (terceirizada) à Petrobras.
TRABALHADORES DA PREST PERFURAÇÃO EM GREVE POR TEMPO INDETERMINADO 23/11/2007
Trabalhadores da PREST discutem estratégias do movimento.
“Desde a noite da última quarta-feira, 21, os trabalhadores da Prest Perfuração em Carmópolis decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. Cansados de serem enrolados pela direção da empresa, os companheiros agora estão decididos a só voltarem ao trabalho após o atendimento de todas as reivindicações.
Na lista de reivindicações consta reajuste real de salário de 7,42%, adicional noturno sobre o salário base, pagamento dos feriados a 100%, cesta básica, pagamento de hora-extra, lavagem do EPI (administrativo), dentre outras. A proposta de reajuste de 5,5% oferecida pela empresa já foi rejeitada.
A PREST perfuração desenvolve atividades de exploração e produção de petróleo em sondas de produção. Com a greve, 9 sondas, todas da Petrobrás, mas operadas pela PREST, estão paradas. A direção do Sindipetro AL/SE alerta a Petrobrás sobre a responsabilidade das mesmas, já que os trabalhadores não estão nelas.
A greve entra no segundo dia e a tendência do movimento é endurecer visto que, ao invés de negociar, a empresa optou por reagir pela via da truculência, cortando o alojamento, a alimentação e o transporte dos trabalhadores. Não vamos arredar o pé até que nossas reivindicações sejam plenamente atendidas.”
Fonte: (Adaptado)http://sindipetroalse.org.br/site/tercerizados/trabalhadores_da_prest_perfuracao_em_greve_por_tempo_indeterm.html.
Veja abaixo a matéria sobre greve dos trabalhadores da Georadar, empresa especializada na prestação de serviços onshore e offshore de levantamentos geofísicos, diagnósticos ambientais e geotécnicos para a indústria petrolífera e mineral.
TRABALHADORES DA GEORADAR DENUNCIAM IRREGULARIDADES
06/12/2007
“A greve na Georadar continua. Hoje pela manhã o movimento ganhou novos adeptos com a chegada de trabalhadores que vieram da Bahia. A empresa tem feito de tudo para enfraquecer a parede, mas não tem tido sucesso nas tentativas. Ontem, em visita ao campo, os trabalhadores puderam observar cenas absurdas, como a de companheiros submetidos aos olhares dos vigias da Brava, como verdadeiros pistoleiros.
Segundo um companheiro de base, a greve atinge a todo programa de Carmópolis. Mas, em Riachuelo, alguns trabalhadores, inclusive em situação irregular, continuam desenvolvendo atividades sísmicas.
O suposto representante da empresa continua desaparecido. O Sindipetro AL/SE exigiu que ele apresentasse uma procuração de preposto da Georadar, mas, até agora, o mesmo não retornou. Toda essa pressão dos trabalhadores, apesar da greve continuar, já fez a empresa promover mudanças. A empresa que fornece a alimentação, que antes era totalmente incompatível com a atividade desenvolvida, foi substituída. O regime de trabalho foi modificado para 30x15, apesar de mantida a proporção 2x1.
O movimento segue firme e o sentimento de crença na vitória é crescente. À luta, companheiros! Até a vitória!”
Fonte: SINDIPETRO - AL/SE. Disponível em: http://sindipetroalse.org.br/site/tercerizados/trabalhadores_da_georadar_denunciam_irregulari.html
Nessa aula você:
· A reestruturação produtiva, engendrada pela crise dos anos 70, e seus principais efeitos, como a precarização das relações de trabalho – via terceirização, trabalho ocasional – informalidade e desemprego;
· o regime da especialização flexível e os novos sistemas de gestão e organização da produção.
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Compreender como as transformações societárias afetam o trabalho do assistente social em níveis diferentes, mas relacionados; 
2. entender as principais alterações no seu mercado de trabalho.
Buscando entender as raízes da radicalização da “questão social” nos dias atuais, Marilda Iamamoto, no texto intitulado “O Serviço Social na cena contemporânea”, vai afirmar que o processo de financeirização indica um modo de estruturação da economia global.
Citando o trabalho de Husson, a autora nos diz que tal processo não se trata de uma mera preferência do capital por aplicações financeiras em detrimento do investimento produtivo.
O fetichismo dos mercados, segundo ela, apresenta as finanças como potências autônomas diante das sociedades nacionais, escondendo “o funcionamento e a dominação operada pelo capital transnacional e pelos investidores financeiros, que contam com o efetivo respaldo dos Estados Nacionais e das grandes potências internacionais” (IAMAMOTO, 2009, p. 17-18).
De acordo com a autora, a esfera das finanças por si mesma não cria nada. Na verdade, continua, ela se nutre da riqueza que é gerada pelo investimento capitalista produtivo junto com a ação da força de trabalho no seu interior.
Embora pareça capaz de gerar dinheiro em seu próprio circuito (na esfera das finanças), o capital-dinheiro não pode prescindir da retenção que faz do lucro e dos salários criados na produção.
Segundo Iamamoto, o fetichismo causador dessa impressão “só é operante se existe produção de riquezas, ainda que as finanças minem seus alicerces ao absorverem parte substancial do valor produzido” (IAMAMOTO, 2009, p. 18).
O capital dinheiro aparece, para Iamamoto, como “coisa auto criadora de juro”, como dinheiro que gera dinheiro (D – D’), obscurecendo as fontes de sua origem, “as cicatrizes" desta última. Segundo ela, essa forma coisificada do capital é denominada por Marx como capital fetiche. “O juro aparece como se brotasse da mera propriedade do capital, independente da produção e da apropriação do trabalho não pago”. 
A circulação do capital como mercadoria teria na forma de empréstimo a sua peculiaridade. Esta forma constitui-se na diferença específica do capital portador de juro. Assim, como o juro faz parte da mais-valia, diz ela, a mera divisão dela em lucro e juro “não pode alterar sua natureza, sua origem e suas condições de existência” (IAMAMOTO, 2009, p. 18).
No exemplo da dívida pública, Iamamoto nos diz que o Estado tem que pagar aos seus credores o juro referente ao capital emprestado. Embora os títulos da dívida pública sejam objetos de compra e venda, como a soma emprestada ao Estado já foi despendida – não como capital –, e portanto já não mais existe, tem-se então um capital ilusório e fictício.
E – diz ela – “uma vez que esses títulos se tornem invendáveis desaparece a aparência de capital” (IAMAMOTO, 2009, p.19). Só que para o capitalista credor, no entanto, a parte que lhe será destinada dos impostos representa o juro do seu capital. “O credor possui o título de dívida contra o Estado, que lhe dá direitos sobre as receitas anuais do Estado, produto anual dos impostos” (IAMAMOTO, 2009, p.18). Na esteira do que está sendo dito, a autora afirma:
A crescente elevação da taxa de juros favorece o sistema bancário e instituições financeiras, assim como a ampliação do superávit primário afeta as políticas públicas com a compressão dos gastos sociais, além do desmonte dos serviços da administração pública. Ela combina-se com a desigual distribuição de renda e a menor tributação de rendas altas, fazendo com que a carga de impostos recaia sobre a maioria dos trabalhadores (IAMAMOTO, 2009, p. 19).
Segundo Iamamoto, os principais agentes do processo de financeirização são os grupos industriais transnacionais e investidores institucionais, como bancos, companhias de seguros, sociedades financeiras de investimentos coletivos, fundos de pensão e fundos mútuos.
Estes tornam-se proprietários acionários das empresas e passam a atuar de modo independente delas. “Por meio de operações realizadas no mercado financeiro, interferem no ritmo de investimentos dessas empresas, na repartição de suas receitas e na definição das formas de emprego assalariado e gestão da força de trabalho, no perfil do mercado de trabalho” (IAMAMOTO, 2009, p. 19).
A autora assinala que a base onde estão sustentados os dois pilares das finanças, isto é, o mercado acionário das empresas e as dívidas públicas, só se mantém firme graças à decisão política dos Estados e às políticas fiscais e monetárias.
Segundo ela, esses dois braços de sustentação das finanças se encontram, na verdade, “na raiz de uma dupla via de redução do padrão de vida do conjunto dos trabalhadores, com o efetivo impulso dos Estados Nacionais”.
A respeito dela, se escreve: [...] por um lado a privatização do Estado, o desmonte das políticas públicas e a mercantilização dos serviços, a chamada flexibilização da legislação protetora do trabalho; por outro lado a imposição da redução dos custos empresariais para salvaguardar as taxas de lucratividade, e com elas a reestruturação produtiva centrada menos no avanço tecnológico e fundamentalmente na redução dos custos do chamado “fator trabalho” com elevação das taxas de exploração (IAMAMOTO, 2009, p. 20).
De acordo com a nossa autora, disso se explicaria o motivo de fechamento de empresas que não conseguiriam se manter na concorrência com a abertura comercial, a chamada desindustrialização, culminando em desemprego, diminuição dos postos de trabalho, intensificação do trabalho daqueles que continuam no mercado, ampliação das jornadas de trabalho, clandestinidade e invisibilidade do trabalho não formalizado etc.
O capital financeiro – segundo ela – avança sobre o fundo público, cujo financiamento é constituído tanto pelo lucro do empresariado como pelo trabalho necessário dos assalariados, apropriados pelo Estado sob a forma de impostos e taxas.Segundo Iamamoto, os investimentos especulativos nas ações de empresas no mercado financeiro esperam ter, baseados na extração da mais-valia presente e futuro dos trabalhadores, a garantia de lucratividade das futuras empresas.
Com isso, interferem silenciosamente nas:
[...] políticas de gestão e de enxugamento da mão de obra; na intensificação do trabalho e no aumento da jornada; no estímulo à competição entre os trabalhadores num contexto recessivo, dificultando a organização sindical; na elevação da produtividade do trabalho com tecnologias poupadoras de mão de obra; nos chamamentos à participação e consentimento dos trabalhadores às metas empresariais, além de uma ampla regressão dos direitos, o que se encontra na raiz das metamorfoses do mercado de trabalho (IAMAMOTO, 2009, p. 20-21).
O referido processo atinge a cultura ao gerar mercantilização universal e descartabilidade, além de superficialidade e banalização da vida. A sugestão da autora é que a mundialização financeira unifica no interior de um mesmo movimento diferentes processos que tendem a ser tratados pelos intelectuais de forma isolada e autônoma, como se os mesmos não fossem interligados entre si – “reforma” do Estado, reestruturação produtiva, a “questão social”, a ideologia neoliberal e concepções pós-modernas.
A “QUESTÃO SOCIAL” NESSE CONTEXTO
A hipótese que Iamamoto defende é que na raiz da “questão social” na atualidade se encontram as políticas governamentais que favorecem a esfera financeira e o grande capital produtivo. Segundo ela, há uma estreita relação entre as políticas monetárias e fiscais praticadas pelos governos e a liberdade dada aos movimentos do capital transnacional para atuar sem controle e sem regulamentação, “transferindo lucros e salários [ideia de conceber salário como juro e a força de trabalho como capital que proporciona esse juro] oriundos da produção para se valorizarem na esfera financeira”. Este processo, portanto, em sua opinião, redimensiona a “questão social”, radicalizando suas múltiplas manifestações.
Parece ser esse o malabarismo que se atualiza hoje com os ‘fundos de pensão’ que fazem com que a centralização das poupanças do trabalho assalariado atue na formação de capital fictício, como capitalização” (IAMAMOTO, p. 19).
O capital financeiro ao subordinar toda a sociedade impõe-se em sua lógica de incessante crescimento, de mercantilização universal. Ele aprofunda desigualdades de toda a natureza e torna paradoxalmente invisível o trabalho vivo que cria a riqueza e os sujeitos que o realizam. Nesse contexto, a “questão social” é mais do que pobreza e desigualdade.
Ela expressa a banalização do humano, resultante de indiferença frente à esfera das necessidades das grandes maiorias e dos direitos a elas atinentes. Indiferença ante os destinos de enormes contingentes de homens e mulheres trabalhadores submetidos a uma pobreza produzida historicamente (e, não, naturalmente produzida), universalmente subjugados, abandonados e desprezados, porquanto sobrantes para as necessidades médias do capital (IAMAMOTO, 2009, p. 22).
Iamamoto afirma que sob a órbita do capital, as múltiplas manifestações da “questão social” transformam-se em objeto de ações benemerentes e filantrópicas, bem como de “programas focalizados de combate à pobreza”. Estes acompanham a mais ampla privatização da política social pública, cuja implementação fica a cargo agora de organismos privados da sociedade civil, o chamado “terceiro setor”.
A desregulamentação das políticas públicas e dos direitos sociais tem deslocado a atenção da pobreza para a iniciativa privada ou individual, que é impulsionada por questões de solidariedade e benemerência, ambas submetidas ao arbítrio do indivíduo isolado e ao mercado, e não à responsabilidade pública do Estado – são feitos, nesse sentido, claros chamamentos à sociedade civil.
As conquistas sociais acumuladas têm sido transformadas em causa de “gastos sociais excedentes” que se encontrariam na raiz da crise fiscal dos Estados. A contrapartida tem sido a difusão da ideia liberal de que o “bem-estar social” pertence ao foro privado dos indivíduos, famílias e comunidades. A intervenção do Estado no atendimento às necessidades sociais é pouco recomendada, transferida ao mercado e à filantropia, como alternativas aos direitos sociais que só têm existência na comunidade política. Como lembra Yazbek (2001), o pensamento neoliberal estimula um vasto empreendimento de “Refilantropização do social”, e opera uma profunda despolitização da “questão social” ao desqualificá-la como questão pública, questão política e questão nacional (IAMAMOTO, 2009, p. 22-23).
A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL
A reprodução do modo de vida no interior da sociedade capitalista implica, segundo Iamamoto, duas contradições básicas: na primeira, a igualdade jurídica dos cidadãos livres é indissociável da desigualdade econômica, resultante do caráter cada vez mais social da produção e da apropriação privada do trabalho alheio. Na segunda, ao crescimento do capital corresponde a crescente pauperização relativa do trabalhador – diz a autora. “Essa é a lei geral da produção capitalista, que se encontra na gênese da ‘questão social’ nessa sociedade” (IAMAMOTO, 2009, p. 11).
Dessa forma, o processo de reprodução das relações sociais não pode ser mera reposição do instituído. Isto porque ele gera novas necessidades, novas forças produtivas sociais do trabalho são criadas “em cujo processo aprofundam-se desigualdades e são criadas novas relações sociais entre os homens na luta pelo poder e pela hegemonia entre as diferentes classes e grupos na sociedade”.
Destarte, verifica-se a dimensão contraditória das requisições sociais postas ao profissional do Serviço Social, “expressão das forças sociais que nelas incidem”. Segundo Iamamoto, estas corresponderiam tanto ao movimento do capital quanto aos direitos, valores e princípios que fazem parte das conquistas e do ideário dos trabalhadores. Seriam essas forças contraditórias inscritas na própria dinâmica do processo social que criam as bases reais para a renovação do estatuto da profissão conectadas à intencionalidade de seus agentes.
O projeto profissional beneficia-se tanto da socialização da política conquistada pelas classes trabalhadoras quanto dos avanços de ordem teórico-metodológica, ética e política acumulados no universo do Serviço Social a partir dos anos de 1980 (IAMAMOTO, 2009, p. 11).
Nesse sentido, o exercício profissional é necessariamente perpassado pela trama de suas relações e interesses sociais. Ele participa tanto dos mecanismos de exploração e dominação quanto, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência das classes trabalhadoras. “Isso significa que o exercício profissional participa de um processo que tanto permite a continuidade da sociedade de classes quanto cria as possibilidades de sua transformação”.
Nas últimas três décadas, a América Latina passou por inúmeras transformações na face do capitalismo. A mundialização do capital que vai repercutir no âmbito das políticas públicas, além de redimensionar as requisições dirigidas aos assistentes sociais, afeta as condições de vida e de trabalho de distintos segmentos de trabalhadores em função da radicalização das desigualdades. Verifica-se isso num contexto de retração das lutas sociais diante dos dilemas “do desemprego, da desregulamentação das relações de trabalho e da (re)concentração da propriedade fundiária aberta ao grande capital internacional”.
Essa investida [investida ideológica por parte do capital e do Estado] é acentuada pela “assistencialização” da pobreza contra o direito ao trabalho, transversal às políticas e programas sociais focalizados, dirigidos aos segmentos mais pauperizados dos trabalhadores, com marcantes incidências na capacidade de mobilização e organização em defesa dos direitos. Como as competências profissionais expressam a historicidade da profissão, elas também se preservam, se transformam, redimensionando-se ao se alterarem as condições históricasde sua efetivação (IAMAMOTO, 2009, p. 15).
As expressões da “questão social”, que é indissociável à sociabilidade capitalista, condensam múltiplas desigualdades que são mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais, relações com o meio ambiente e formações regionais.
Segundo Iamamoto, como dispõe de uma dimensão estrutural – isto é, está enraizada na produção social contraposta à apropriação privada do trabalho –, a “questão social” atinge diretamente a vida dos indivíduos “numa luta aberta e surda pela cidadania (IANNI, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, políticos e sociais” (IAMAMOTO, 2009, p.16). Para a autora, esse é um processo permeado por conformismo e rebeldia, e é nele que o profissional do Serviço Social irá atuar.
É na tensão entre produção da desigualdade, da rebeldia e do conformismo que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, os quais não é possível abstrair – ou deles fugir –, pois tecem a trama da vida em sociedade (IAMAMOTO, 2009, p.16). 
Iamamoto afirma que foram as lutas sociais que romperam o domínio privado na relação entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a intervenção do Estado no reconhecimento e a regulação de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos. Estes serão “consubstanciados nas políticas e serviços sociais, mediações fundamentais para o trabalho do assistente social”.
Nessa aula você:
· Nesta aula, iremos debater como as transformações ocorridas no período contemporâneo repercutem no Serviço Social, de que forma estas mudanças metamorfoseiam a chamada “questão social”, e como, consequentemente, o terreno onde atua este profissional é alterado, tendo ele, portanto, que ajustar sua atuação conforme essa nova realidade.
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Aprender um pouco sobre a história da organização capitalista do trabalho no Brasil; 
2. compreender a história e difusão do taylorismo no país; 
3. entender as primeiras leis criadas com o intuito de erradicar o trabalho do menor e limitar o trabalho dos imigrantes.
Num trabalho em que se propõe discutir a gênese e a difusão do Taylorismo no Brasil, Nilton Vargas se interpela sobre a pertinência de se discutir o referido tema diante de estudos que afirmam ser a questão do aumento da produtividade e da intensificação do trabalho. É uma questão não central entre o empresariado brasileiro, bem como um despreparo deste último em propor mudanças técnicas que se afinassem com um capitalismo eficiente, dada a sua tradição patrimonialista.
Argumentos mais antigos, como o fato de sermos um país tropical com uma mão de obra indolente, ou a ausência de um projeto burguês autêntico desde o nosso primeiro surto de industrialização nos anos vinte até então (referência ao ano em que o texto fora escrito), tentavam justificar o nosso atraso.
Explicando o sentido da utilização do termo Taylorismo, Vargas afirma que tanto ele como o fordismo estavam empenhados na criação de um novo tipo de trabalhador, que se submetesse às exigências da disciplina fabril necessária ao aumento da intensidade do ritmo de trabalho. Segundo o autor:
“ambos propunham a criação de um corpo técnico para programar o trabalho. E também a negociação de salários mais altos, já que a pura coerção não era eficaz, como fazem questão de ressaltar em suas obras, embora essa negociação fosse individual, negando originalmente a intermediação do sindicato ou do Estado” (VARGAS, 1985, p. 157).
No entanto, alguns fatos como o grau de competitividade que algumas empresas nacionais vão alcançar em relação às empresas estrangeiras dentro e fora de nosso território vão, conforme argumenta Vargas, lançar dúvidas sobre a veracidade dos argumentos supramencionados.
Citando Gramsci e um texto que se tornara clássico – Americanismo e fordismo –, Vargas lembra que o fordismo não se limitava à disciplina no interior da fábrica; ele fazia parte de um movimento que tinha em vista a “adequação da força de trabalho às novas exigências da produção”, diz ele. Para o estudo do caso brasileiro, o autor propõe que o seu entendimento na história da nossa industrialização seja contextualizado; no entanto, defende que se faz necessário entender o seu surgimento nos EUA. De acordo com Vargas, a crise política e econômica que o capitalismo atravessara no final do século XIX e a Revolução de Outubro exigiam do capital uma resposta não apenas no âmbito da gestão da força de trabalho e a nível de modo de acumulação, “mas também a nível de hegemonia sobre a sociedade”. “O Taylorismo e, posteriormente, o Fordismo foram algumas das respostas que o capitalismo americano ofereceu às sociedades industrializadas”.
AMBIENTE DE TRABALHO
A questão do saber no projeto e na produção de mercadorias assume uma nova dimensão. Seria desnecessário citar o grande número de invenções que foram realizadas a partir das descobertas científicas, principalmente nos setores químico e elétrico.
Contudo, se na Revolução Industrial essa tecnologia surgia apoiada no conhecimento técnico da classe operária, nesse novo momento ela se libertava dessa limitação, “incorporando novo tipo de transformação da natureza, com alto conteúdo de conhecimento científico”. De acordo com Vargas, no entanto, enquanto a ciência se pautava pela ampla divulgação, a tecnologia se portava de maneira diversa: “o seu conhecimento era orientado para a produção de mercadorias e para o monopólio do saber industrial” (VARGAS, 1985, p. 158).
A tecnologia passou a articular conhecimento científico com conhecimento produtivo, isto é, “a articular as leis da natureza com as leis do capital”. Esse movimento iria se esbarrar no conhecimento técnico que possuía a classe operária. “Se os engenheiros haviam transformado a natureza, sob as determinações do capital, por que não proceder da mesma forma com os trabalhadores?”, indaga. De acordo com Vargas, tratava-se de reequacionar o “fator humano” de suporte dessa nova tecnologia.
Criar normas de trabalho e coordenar o conhecimento técnico do trabalhador, para que o projeto de engenharia fosse completo, integrando materiais, máquinas e homens da forma mais econômica possível. O Taylorismo está, assim, organicamente articulado com a evolução da tecnologia em nosso século (VARGAS, 1985, p. 158).
Vargas sustenta que uma das especificidades do Taylorismo no âmbito do desenvolvimento histórico do capitalismo foi a criação da ‘gerência científica’, essa camada intermediária de “experts”, responsável por mediar a relação capital/trabalho. “Em outros termos, fica com a responsabilidade de selecionar e treinar os operários e planejar suas atividades segundo as exigências do novo método racionalizado”, diz o autor.
O ideário Taylorista propagava a eliminação da luta de classes tendo em vista o fato de fornecer aos trabalhadores maiores salários, bem como, com o barateamento da produção, novas oportunidades de consumo. A gerência, na gestão da produção, procurava estabelecer objetivamente os tempos de produção, os métodos de trabalho e os salários.
[...] o estudo de tempos, movimentos e métodos com a finalidade de estabelecer “tempo padrão” e o melhor método (“the best way”); o pagamento do salário por produção (por peça), negociando com o trabalhador um salário maior, desde que este aceite o “método racionalizado”; a programação da tarefa de cada operário isoladamente; o projeto das estações e dos meios de trabalho; e as técnicas de seleção e treinamento. Estes mecanismos, segundo Taylor, permitiriam tirar a iniciativa do operário na escolha do melhor método e, por outro lado, escolher, dentre os trabalhadores existentes, aqueles que melhor se adaptariam ao “trabalho racionalizado” (VARGAS, 1985, p. 160).
Segundo Vargas, a técnica do estudo de tempos e movimentos é que vai permitir que a gerência instaure, por meio da coerção, normas padronizadas de tempo, movimentos e métodos com o intuito de garantir a intensificação do trabalho. “Esse é oobjetivo econômico da ‘gerência científica’ e não, como supõe sua ideologia, desapropriar o operário de seu conhecimento”, diz ele, “pois deste modo estaríamos restringindo esse conhecimento à simples repetição de gestos, desprovidos de qualquer conteúdo intelectual” (VARGAS, 1985, p. 161).
O TAYLORISMO NO BRASIL
No Brasil, o Taylorismo teve sua difusão iniciada nos anos 30 por intermédio de empresários paulistas. Teve grande impacto no meio empresarial, intelectual e, posteriormente, sobre a máquina burocrática do Estado.
No entanto, com exceção de algumas poucas empresas, principalmente na área têxtil e em empresas ferroviárias, as técnicas de controle de tempos e movimentos não penetraram nas fábricas brasileiras com o mesmo impulso que havia adentrado nas americanas.
Segundo Vargas, a fase inicial do Taylorismo no Brasil se direcionou para a difusão de seus princípios no sentido de interferir na socialização da força de trabalho assalariada e na formação ideológica da tecnocracia industrial – engenheiros, psicólogos, assistentes sociais, etc. Uma outra especificidade apontada pelo autor é que, enquanto Taylor e Ford propunham abertamente como elemento principal de sua proposta o aumento salarial em razão do aumento da produtividade e da intensificação do trabalho, aqui no Brasil os empresários não vão fazer menção a esse aspecto do Taylorismo.
O nosso processo de industrialização vem se processando, principalmente nos últimos vinte anos, sem os trabalhadores participarem dos resultados econômicos de nosso desenvolvimento econômico – pelo contrário, os seus salários vêm sendo reduzidos (VARGAS, 1985, p. 163).
Os anos 20, que antecedem os primeiros esforços de se introduzir o Taylorismo no Brasil, são marcados pela discussão em torno da legislação de férias e do trabalho do menor com vistas a regular o mercado de trabalho. Segundo Vargas, a burguesia nascente já iria demonstrar uma certa preocupação em relação a estas leis: “de um lado, procurará demonstrar a ameaça que as leis do trabalho exerceriam sobre a realização da acumulação” (Viana, 1978, cap. 3 apud VARGAS, 1985, p. 163).
Segundo o autor, o ideário fordista já se encontrava presente entre os brasileiros desde quando já se tem presente uma recusa à intermediação do Estado na regulação do mercado de trabalho e com a perspectiva de “educar” o trabalhador com a “internalização das normas de disciplina da produção industrial”.
Com a Revolução de Trinta, e após a crise de 1929, os empresários brasileiros criaram o IDORT – Instituto de Organização Racional do Trabalho. Este instituto foi fundado em junho de 1931 e é inspirado na “Taylor Society”. Formado por lideranças empresariais do estado de São Paulo, a entidade vai se dedicar à difusão do Taylorismo em nosso meio. Um dos seus fundadores escreve:
“Foi em princípio de 1930 que me tornei sócio do Instituto de Genebra, que então centralizava o movimento pela Racionalização do Trabalho no mundo. Vivamente impressionado pelas suas publicações, surgiu-me a ideia de aplicar, em minhas atividades de diretor de uma fábrica de tecidos, os valiosos ensinamentos ali encontrados abundantemente [...] Nesse momento, pareceu-me que seria egoísmo restringir os conhecimentos, que ia adquirindo, apenas às minhas atividades particulares” (VARGAS, 1985, p. 165).
O IDORT havia se estruturado em duas divisões: uma organizacional e outra que desenvolvia os aspectos ligados à seleção e formação profissional, e higiene e segurança do trabalho.
As empresas ferroviárias, devido a sua importância no começo de nossa industrialização, foram as primeiras a serem objeto da aplicação dos princípios Tayloristas – o IDORT irá estruturar o Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP).
Segundo Vargas, essa orientação dos industriais para o ensino industrial se explicava em função do fato de haver escassez de operários qualificados na indústria de ponta.
"Esses postos eram normalmente ocupados por estrangeiros, e a liderança dos capitalistas nacionais estava preocupada com a criação de uma força de trabalho nacional”, diz o autor.
Segundo ele, essa preocupação já existia desde o início do governo da Revolução. A “Lei dos 2/3”, de 1931, que determinava que pelo menos 2/3 dos empregados de uma empresa tinham que ser brasileiros, bem como um decreto-lei que limitava a entrada de estrangeiros em nosso território, ilustravam bem essa preocupação.
De acordo com Vargas, a migração interna garantiria o suprimento da mão de obra para a indústria.
Lindolf Collor sobre o decreto da imigração teria dito:
“E essa gente vinha para o Brasil porque não sabia para onde ir. Quando as coisas não lhes corriam bem em outros lugares, lembravam-se de que existia no globo um país despoliciado que era, sob muitos aspectos, o paraíso dos vagabundos. Para aqui se encaminhavam, aumentando as dificuldades da vida nos centros urbanos e infectando o trabalhador brasileiro de ideias subversivas que não podem pregar livremente em nenhum país civilizado” (VARGAS, 1985, p. 167).
Não obstante essa visão em relação aos estrangeiros, o cumprimento desta lei foi bastante adiado em função da dificuldade de substituir os trabalhadores imigrantes em funções de maior qualificação. “Daí o interesse empresarial em atuar na formação da classe operária de acordo com a disciplina e a moral Taylorista”. Com o golpe de 1937, o governo do “Estado Novo” se inspira nas duas experiências levadas a cabo pelo IDORT – organização e seleção formação profissional. A primeira levou à criação do Departamento Administrativo do Serviço Público – o DASP –, responsável pela organização administrativa das repartições federais e pela formação técnica de administradores públicos. É da iniciativa do DASP que vai ser criada em 1944 a Fundação Getúlio Vargas.
Dois anos antes, com iniciativa do IDORT, é criado também para o ensino industrial, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – o SENAI (nos moldes do CFESP); mais tarde, baseado na experiência de um industrial que conseguira neutralizar os movimentos grevistas, foi criado o Serviço Nacional da Indústria – o SESI. O SENAI e o SESI foram vinculados à federação dos sindicatos patronais de cada estado.
“O sucesso do seu método foi orientado segundo a ótica do ‘revisionismo taylorista’ e resultava numa assistência social fornecida aos trabalhadores com fundos de sua própria empresa” (VARGAS, 1985, p. 167).
Após o golpe de 1937, o IDORT perdeu o apoio dos órgãos públicos. A sua estratégia agora será promover “jornadas” sobre temas ligados à ideologia da racionalização (contra o desperdício, prevenção de acidentes, alimentação, transportes, habitação, educação, etc.). Na “jornada” da educação, por exemplo, realizada em 1945, percebe-se um claro objetivo de difundir no ensino um comportamento ‘racional’.
“No ensino primário será necessário e suficiente orientar o espírito da criança para o fato de que qualquer trabalho concreto, ou mesmo uma ação singela, pode ser executado de diversas maneiras, umas mais simples, outras mais complicadas, e que entre essas formas de proceder deve ser procurada aquela que permita realizar o objetivo com menor esforço” (VARGAS, 1985, p. 168-169).
O resultado prático dos esforços do IDORT em “socializar” a Organização Racional do Trabalho – tentando moldar a sociedade segundo os ditames da produção industrial – vai ser, para Vargas, o desempenho de um importante papel na formação técnico-formal da força de trabalho e do meio acadêmico, e na conformação do aparelho burocrático do Estado. 
 Nos primórdios da nossa industrialização, os industriais nacionais lidavam com o problema da socialização do conhecimento técnico e da disciplina fabril da seguinte forma: ou praticavam uma estratégia do tipo “paternalista” (ou patrimonialista) em que interferiam privadamente na formação e reprodução do trabalhador e de sua família (como nas vilas operárias), ou faziam uso da via da coerção física e policial para submeter os trabalhadores às regras da produção. O Taylorismo, portanto, vai atuar na constituição eformação de um tipo especial de mão de obra, sendo que para tal feito terá que recorrer ao consenso, e não apenas à coerção, para alcançar o propósito de submeter os operários à disciplina fabril e aos ritmos do novo padrão industrial.
“O sucesso do seu método foi orientado segundo a ótica do ‘revisionismo taylorista’ e resultava numa assistência social fornecida aos trabalhadores com fundos de sua própria empresa” (VARGAS, 1985, p. 167).
“[...] reinterpretando a difusão do Taylorismo em nosso país, julgamos que esse movimento teve um de seus polos orientado para a mudança da “mentalidade do povo brasileiro”, para que assumisse uma nova temporalidade de acordo com os requisitos da produção moderna. E esta sempre foi uma condição necessária para que as técnicas Tayloristas tivessem eficiência na sua difusão” (VARGAS, 1985, p. 173).
Nessa aula você:
· Nesta aula, iremos aprender um pouco sobre a história da organização capitalista do trabalho no Brasil, história e difusão do taylorismo no país, bem como as primeiras leis criadas com o intuito de erradicar o trabalho do menor e limitar o trabalho dos imigrantes.
Ao Final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. tratar da proposta de revisão dogmática do Direito no âmbito das transformações advindas com a globalização; 
2. mostrar como tem se articulado, por intermédio da defesa do Direito ao Trabalho, a proposta de relaxamento da rigidez do Direito ao Trabalho; 
3. apresentar como essa dicotomia é falsa e como ela não encontra arrimo constitucional.
O advento da sociedade burguesa deu margem às condições sociais e históricas para o surgimento do Direito ao Trabalho.
A exacerbação da liberdade de contratar, conforme afirma Mauro de Azevedo, é o que vai estar na base da legislação protetora do trabalho. “De fato, o ambiente de insatisfação donde brotou o germe da resistência trabalhista foi a grande indústria”, diz o autor.
De acordo com Azevedo, o Direito do Trabalho foi surgindo na medida em que o trabalho de menores e mulheres foi se tornando um insuportável problema.
Como resposta para enfrentar tais “práticas abusivas que vitimavam menores e mulheres, submetidos a extenuantes jornadas de trabalho, em condições bastante precárias”, conforme irá escrever Américo Rodriguez (apud AZEVEDO, 2004, p. 248), ele se constitui com o escopo de garantir uma proteção mínima, “para equilibrar o poder patronal embalado pelo exercício desregrado da exploração do indivíduo-trabalhador”.
A fim de conseguir impor limites às prerrogativas de livre contratação de mão de obra, o Direito ao Trabalho teve de expressar abalos à razão individualista. Diz Azevedo:
“Somente assim, superado o dogma do individualismo, os primeiros registros de leis destinadas a coibir abusos escandalosos à saúde e à dignidade dos obreiros converteram-se numa vertente consistente e sistemática que passou a ser conhecida como Direito ao Trabalho.” (AZEVEDO, 2004, p. 248).
Para o efetivo implemento dessa normatização, houve papel importante não só a admissão de uma intervenção protetiva do Estado, como também o reconhecimento continuado da legitimidade da organização sindical.
Essa afirmação do Direito ao Trabalho, portanto, revela a aceitação histórica de uma base filosófica, fundada numa dogmática específica. Esta, por conseguinte, impôs um recuo aos valores do liberalismo, enquanto razão “justificadora das relações jurídicas e sociais”. (AZEVEDO, 2004).
De acordo com Mauro de Azevedo, não seria outra a conclusão que chega Tarso Genro num estudo publicado em 1999, antes de se tornar ministro da Justiça do governo do ex-presidente Lula. Genro é hoje governador do Estado do Rio Grande do Sul.
“o Direito do Trabalho fora a resposta normativa do Estado para uma consciência social que configurava não mais a ‘questão social’ como um problema de natureza moral, mas passava a tratá-la a partir de uma perspectiva de ‘justiça social’. Ele expressava, portanto, a hegemonia ideológica de uma razão já não mais meramente individualista, mas que passava a aceitar, não só a intervenção do Estado moderno em relações originalmente ‘privadas’ (como a compra da força de trabalho), mas também abria perspectivas para que uma cidadania ‘agrupada’ (dos trabalhadores) fizesse valer sua força política”. (AZEVEDO, 2004, p. 249).
Segundo Azevedo, a construção dogmática do Direito do Trabalho passa por uma revisão do princípio da igualdade.
“Trata-se de uma visão de igualdade material – diz ele –, e não exclusivamente formal”.
Estaria aqui, então, o cerne da legislação que protege o trabalho. Todavia, esta visão – ao longo de sua existência – fora bastante questionada pelos que buscavam defender a primazia do direito de propriedade e da liberdade para contratar.
A globalização, na visão do autor, proporcionou o resgate dessa visão, até então tida como ultrapassada e conservadora. Diz ele:
“Agora, o liberalismo aparece renovado e pronto para lançar a sua ofensiva contra o Direito do Trabalho que considera incômodo e subversivo”. (AZEVEDO, 2004).
No âmbito da globalização, a redefinição do papel do Direito do Trabalho projetada pela vertente neoliberal descarta as suas premissas filosóficas originais.
Ela perpassa pela abdicação do seu conteúdo autônomo em prol de uma pretensão organizadora do mercado de trabalho.
Tal concepção modificadora da essência do direito do trabalho é apresentada da seguinte forma por Robortella:
“O Direito do Trabalho tem a função de organizar e disciplinar a economia, podendo ser concebido como verdadeiro instrumento da política econômica. Deixou de ser apenas um direito da proteção do mais fraco para ser um direito de organização da produção. Em lugar de apenas direito de proteção do trabalhador e redistribuição da riqueza, converteu-se em direito da produção, com especial ênfase na regulação do mercado de trabalho. (...) A revisão dogmática do Direito do Trabalho é hoje uma realidade concreta. O protecionismo deixou de ser uma preocupação maior, para não dizer exclusiva. (...) Cabe-lhe agora importante papel na gestão econômica e social, contribuindo para a governabilidade nas modernas democracias.” (AZEVEDO, 2004, p. 249-250).
Seria, na visão de Giglio (apud AZEVEDO, 2004), uma contestação que considera a legislação trabalhista protetora como um entrave ao desenvolvimento econômico.
Essa inversão de perspectiva – diz Azevedo – permite falar numa contraposição entre o velho e tradicional Direito do Trabalho de um lado e o que se pretende afirmar como um novo Direito do Trabalho de outro.
Na visão de Arturo Hoyos (AZEVEDO, 2004), esse confronto seria natural, típico de um processo evolutivo, no qual “o clima de ideias voltadas à conquista da justiça social representaria uma primeira etapa”, enquanto a fase atual, causadora da superação da anterior, seria marcada pela “adaptação às exigências do mercado e à competitividade internacional no contexto da globalização”.
Indo em outra direção, Tarso Genro (apud AZEVEDO, 2004) adota uma posição crítica ao considerar dramático para o Direito do Trabalho o resultado de tal revolução conservadora.
O velho Direito do Trabalho, para ele, impunha limites humanizadores para a exploração desenfreada, “como autêntico parteiro do Estado do bem-estar social”. Já o novo Direito do Trabalho “viabiliza a informalização, a precarização, o trabalho intermitente e a exclusão social, diluindo o potencial originário do Direito do Trabalho, para dar livre trânsito aos movimentos do capital”.
Uma postura intermediária é apresentada por Lyon-Caen (       AZEVEDO, 2004) que sustenta, a partir da alegação de que o excesso de encargos é que causa o desemprego, que o Direito do Trabalho teria se voltado para a agregação de uma nova finalidade: assegurar a gestão ótima do pessoal em atendimento ao interesse do capital.
O autor afirma que este novo postulado deve funcionar em conjunto com a proposição original de consagração de direitos e garantias ao trabalhador, sem que haja prevalecimento de uma finalidade sobre a outra.
O preceito fulcral dessa nova concepção consistena tortuosa suposição de que, ao aliviar os custos da empresa, o Direito do Trabalho, indiretamente, estará assegurando a manutenção dos empregos e, portanto, protegendo o trabalhador. (AZEVEDO, 2004, p. 251).
Valdés (apud AZEVEDO, 2004) – outro autor – assevera concordar com esse ponto de vista, dizendo que não se deveria mais atribuir proteção ao trabalhador, visto que a debilidade agora não seria dele, mas sim da empresa, dado o acirramento da competitividade.
Azevedo nos diz que os aspectos fundamentais do ideário reformista do Direito do Trabalho se encontram no individualismo econômico e na concepção autônoma de livre mercado. Esses institutos gozam de regulação própria, baseados em leis econômicas. Caberia ao Direito, portanto, a simples tarefa de “legisformizá-los”.
De acordo com o autor, a dogmática trabalhista revisada segundo a inspiração neoliberal quer convencer que a ideia de organizar as relações de trabalho com base na justiça se constitui num elemento utópico, “um propósito vão e inatingível e, por isso mesmo, alheio à realidade e destinado ao fracasso”.
O Direito do Trabalho – prossegue – deveria, portanto, “despedir-se dessa missão, abraçando outra mais adequada aos novos tempos e mais realista: organizar juridicamente o trabalho na ótica do mercado que desafia os trabalhadores à mesma maneira que fustiga os empresários à competição”. (AZEVEDO, 2004, p. 253-54).
Ainda segundo ele, oferece aos vitoriosos uma (sempre provisória) inclusão condicionada, enquanto aos derrotados impinge o amargor da exclusão social.
Esse superpoder da economia que Azevedo chama de “determinismo econômico” diminui de modo arbitrário o espectro de intervenção do Direito e se assenta no que ele chama de uma falácia, isto é, no fato de que o direito em nada deve influenciar a dinâmica social, “devendo a ela se conformar pacificamente”.
Ao contrário disso, o elemento jurídico pode sim promover mudanças sociais, embora em consonância com interesses definidos, segundo afirma Eros Grau (ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal): “o direito é produzido pela estrutura econômica, mas também interagindo em relação a ela, nela produz alterações. A economia condiciona o Direito, mas o Direito condiciona a economia”. ((AZEVEDO, 2004, p. 254).
Azevedo defende que embora o modo de produção condicione os rumos do direito, esse caminhar é complexo e permite a interação dos vários agentes do processo econômico – inclusive dos explorados “que se debatem contra poderes opressores, passíveis de limitação pela instância jurídica”. (AZEVEDO, 2004).
DIREITO AO TRABALHO E DIREITO DO TRABALHO – UMA DICOTOMIA?
Um dos argumentos mais recorrentes levantados pela vertente que visa reformar o Direito do Trabalho diz que as garantias de valorização do vínculo empregatício devem ceder o lugar a modalidades de contratos menos rígidas, “dotadas de menor padrão protetivo que sejam capazes de estimular a empregabilidade”.
Segundo essa linha de raciocínio, o Direito do Trabalho estaria cada vez mais superado “pela necessidade de impulsionar o combate ao desemprego por meio da promoção do Direito do Trabalho (sic)”. (AZEVEDO, 2004, p. 255).
O Direito do Trabalho visa garantir ao indivíduo o acesso ao exercício de sua correspondente atividade laboral. Sua dimensão concreta, segundo Azevedo, seria a obtenção e a conservação do emprego, em sentido estrito ou numa dimensão mais ampliada, do trabalho remunerado.
De acordo com o art. 23, n. 01, da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, “toda pessoa tem direito ao trabalho”. Antes, portanto, de assegurar qualidade das condições de emprego (visto que consta na continuidade do artigo).
Em outras palavras, o direito de acesso ao trabalho viria, no documento da ONU, antes do direito a condições dignas de trabalho.
“O dispositivo contém mandamento de índole eminentemente prestacional, dirigido aos dinamizadores da atividade econômica, diretos (empregadores) ou indiretos (Estado promotor das condições de empregabilidade)”. (AZEVEDO, 2004, p. 255).
Dito isso, não se pode concluir que o incremento do direito ao trabalho possa estar vinculado à frustração de outro direito humano de mesmo status. “O Direito do Trabalho justo e favorável ao trabalhador não admite, assim, ser esvaziado, mesmo ao pretexto de assegurar o Direito do Trabalho” (AZEVEDO, 2004). Azevedo cita várias constituições europeias contemporâneas – França, Espanha, Portugal – nas quais o Direito do Trabalho tem o seu lugar consagrado.
AQUI NO BRASIL, O TRABALHO FOI INCLUÍDO NO ROL DOS DIREITOS SOCIAIS (ART. 6º).
Contudo, defende o autor, de modo nenhum a constitucionalização do Direito do Trabalho pode representar abalo ou “muito menos a eliminação do patrimônio jurídico que assegura a organização do trabalho em condições socialmente dignas”.
Nesses mesmos textos constitucionais, foram preservados e até melhorados “os elementos de garantia da plena aplicação do Direito do Trabalho”. (Art. 7º, CF-1988).
A ideologia neoliberal ao apropriar-se do argumento jurídico em defesa do direito ao trabalho passou a atribuir a ele a responsabilidade pelo estímulo à empregabilidade. Segundo esse ponto de vista, as normas protetivas trabalhistas seriam um dispensável empecilho aos custos da produção – diz Azevedo –, que teriam sido afetados pela alta competitividade, resultando na queda do número de admissões de empregados, pelo menos pelos meios formais.
Segundo Lyon-Caen (apud AZEVEDO, 2004), o novo discurso em favor do direito ao trabalho parte do pressuposto de que uma suposta proteção excessiva ao trabalhador funcionaria como causa da desocupação.
“Disso deriva a expectativa de que os trabalhadores e os seus sindicatos deveriam abrir mão de alguns de seus direitos históricos para não se acumpliciarem do crescimento do número de desempregados”. (AZEVEDO, 2004, p. 258).
Daí se estrutura uma severa reprovação lançada em direção à rigidez na aplicação do Direito do Trabalho que teria o efeito de impedir a empregabilidade, ao passo que regulações maleáveis permitiriam o ajustamento do conteúdo do Direito do Trabalho a patamares suportáveis pela economia (AZEVEDO, 2004, p. 258).
Um outro autor que é crítico da excessiva regulamentação trabalhista é José Pastore (apud AZEVEDO, 2004). Para ele, os dispositivos legais no âmbito trabalhista seriam fatores relevantes na geração de empregos - o que dá a entender que “quanto mais regulamentação protetiva, menos empregos disponíveis haveria”.
Cássio Mesquita Barros (apud AZEVEDO, 2004) partindo do seu entendimento de que a consideração rígida do Direito do Trabalho impede grande parte da criação de novos empregos, propõe - talvez como forma de driblar - novos modelos de ocupação como forma de impulsionar a criação de novas vagas - trabalho de duração limitada, trabalho a tempo parcial e outros.
Seguindo a linha desses questionamentos, Javillier, outro autor, indaga sobre a legitimidade de forçar a aplicação do Direito do Trabalho quando disso possa resultar a desaparição da empresa.
Sucede que a prévia negociação, conforme Lyon-Caen, sofre uma alteração de sentido. Segundo ele, não mais se negocia sobre a promoção de melhores condições de trabalho, mas sim sobre a manutenção dos empregos. (AZEVEDO, 2004, p. 259-60).
E continua: “As medidas tomadas nesse caminho buscam a tutela do empreendimento econômico, em detrimento dos empregados, com o pretexto de oferecer mecanismo de combate ao desemprego”.
Segundo Azevedo, trata-se de traçar um novo perfil ao qual se amolda o Direito do Trabalho, de acordo com essa perspectiva de prioridade da gestão econômica e social, no lugar da função elementar de proteger o trabalhador.
Assim, o Direito do Trabalho, na verdade, passa a abdicar de sua personalidade própria, de sua nota distintiva, facultando até uma frequente substituição de sua denominação original pela expressão regulamentação do mercado de trabalho. (AZEVEDO, 2004, p. 260).
De acordo com Azevedo, a finalidade dessa tendência consiste em permitir o funcionamento livre do mercado de trabalho,sem a interferência de princípios de proteção laboral. A proposta é sustentar a submissão do Direito do Trabalho à lei da oferta e da demanda por meio da qual se determinariam salários e condições de trabalho.
Enxergamos em tal abordagem a promoção de uma falsa dicotomia entre direito do trabalho e direito ao trabalho, estimulada por uma pauta ideológica de receitas neoliberais que não encontra arrimo constitucional. (AZEVEDO, 2004, p. 261).
Azevedo afirma – para concluir – que está inclinado a concordar com Plá Rodriguez para quem a desocupação é um fenômeno de origem econômica e causalidade complexa, que vai além do Direito do Trabalho. Baseado nesse entendimento, ele afirma parecer precipitado perseguir “a solução de um drama social tão intrincado em alterações que transfiguram o Direito do Trabalho”. Para ele, nessa senda, o Direito do Trabalho sucumbirá sem resolver o problema em questão.
Nessa aula você:
· Aprendeu que o Direito do Trabalho tem dogmática própria e surge com a função primordial de prover o trabalhador de certas garantias;
· compreendeu o debate entre o velho Direito do Trabalho e o novo Direito do Trabalho e isso perpassa pela garantia da proteção social de um lado e pela sujeição às exigências do mercado de outro;
· analisou que a ideologia neoliberal vai apropriar-se do argumento jurídico do Direito do Trabalho e responsabilizar as normas protetivas do Direito do Trabalho como causadoras de dispêndios excessivos à produção.

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