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PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA PROVA

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PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA PROVA 
Aula 01 em: 10/05/2020 
 
Noções de investigação criminal 
Quando falamos em investigação criminal, vêm à nossa mente, de forma intuitiva, os filmes e 
seriados policiais a que assistimos na TV ou no cinema. 
Esses filmes e seriados, no entanto, em geral estrangeiros, retratam uma realidade jurídica e 
sociocultural bem diferente da nossa. 
Sabemos que, na realidade, diferentemente do que ocorre na ficção, o sucesso da investigação 
não é garantido. 
A incolumidade e até a vida daqueles que protagonizam a investigação das vítimas e dos 
suspeitos podem estar expostas a muitos riscos. 
Na vida real, o sucesso e a segurança dependem, entre outros fatores, da técnica e do 
planejamento da equipe de investigação. 
A prática da investigação criminal corresponde muito mais a uma pesquisa, em que o 
investigador-pesquisador busca, por meio da prova, estabelecer a verdade real. Assim como o 
pesquisador, o investigador deve observar procedimentos, métodos e técnicas, devendo evitar 
o empirismo, ou seja, o método da tentativa e erro. 
 
Afinal, o que é investigação criminal? 
No dicionário, podemos encontrar as seguintes definições para o verbo “investigar”: 
1. Seguir os vestígios de; 2. (...) pesquisar (...); 3. Examinar com atenção (...) (FERREIRA, Aurélio 
Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Edição eletrônica. Versão 
5.0. Curitiba: Positivo, 2005). 
Percebemos que a primeira definição, “seguir os vestígios de”, remete-nos ao caráter 
operacional da investigação. Ao mesmo tempo, as definições seguintes, “pesquisar” e 
“examinar com atenção”, denotam o caráter metódico e científico que se espera de uma 
investigação. 
Em se tratando de uma investigação de natureza criminal, o objeto dessa pesquisa será, 
naturalmente, um crime que foi praticado. Então, podemos definir investigação criminal, de 
forma preliminar, como uma pesquisa acerca de uma infração penal. 
Dito isso, voltemos à versão eletrônica do dicionário Aurélio para ver o que nos diz sobre 
“pesquisa”: 1. Ato ou efeito de pesquisar; (...); 3. Investigação e estudo, minudentes e 
sistemáticos, com o fim de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a um campo 
qualquer do conhecimento. 
Agora, refinada nossa definição preliminar, podemos dizer que: 
Investigação criminal é a pesquisa minuciosa e sistematizada de uma infração penal. 
Mas para que seguir vestígios, pesquisar, examinar? Qual é o objetivo de se proceder a uma 
investigação criminal? 
Investigação criminal, inquérito policial e ação penal 
Investigação criminal 
A investigação criminal é uma atividade atribuída constitucionalmente às polícias judiciárias 
(Polícia Federal e polícias civis). O art. 144, §1º, I (Polícia Federal), e §4º de nossa Constituição 
(polícias civis) estabelece para esses órgãos, entre outras atribuições, “apurar infrações 
penais” dentro de suas respectivas competências. 
Pesquisa minuciosa e sistematizada de uma infração penal, realizada por policiais ― agentes, 
peritos e delegados ―, com o intuito de determinar a autoria, comprovar a materialidade e 
esclarecer as circunstâncias, produzindo provas para instruir o inquérito policial ou o termo 
circunstanciado. 
Inquérito policial 
O resultado da investigação criminal é formalizado, por escrito, no inquérito policial. 
Ação penal 
O inquérito policial servirá de subsídio para que o Ministério Público promova a ação penal 
com vistas à punição do autor do fato, pronuncie-se pelo arquivamento ou ainda retorne os 
autos à unidade de Polícia Judiciária requisitando novas diligências 
 
Objetivos da investigação criminal 
objetivo imediato 
Objetivo operacional: apurar, por meio da produção de provas, as circunstâncias, a autoria e a 
materialidade de um delito. 
E se ampliarmos nossa visão? E se vislumbrarmos além das instituições policiais que 
efetivamente desenvolvem a investigação criminal? 
 
Se levarmos em consideração que a Polícia interage com outras instituições, como o Ministério 
Público e a Justiça, podemos concluir então que o objetivo mediato da investigação criminal 
seria: 
Objetivo processual: o fornecimento de subsídios ao Ministério Público para a propositura da 
ação penal. 
Será que essa definição nos satisfaz? Será que a Polícia existe tão somente para fornecer ao 
Ministério Público elementos que tornem possível a propositura de uma ação penal? Será que 
a Polícia e o Ministério Público são o tipo de instituição que representa um fim em si mesmo? 
Naturalmente que não. 
O que chamaríamos de “sistema de justiça criminal” entre nós seria representado pela Justiça 
Penal, pelo Ministério Público e pelas polícias (federal e estaduais). 
O objetivo comum dessas instituições não é punir por punir, cercear direitos e liberdades. 
Na verdade, quando um crime é cometido, alguém desobedeceu a uma regra convencionada 
pela sociedade por meio de seus mandatários. Em virtude dessa desobediência, dessa 
transgressão, alguém ou alguma instituição teve seus direitos violados. 
Então, de forma ainda mais ampla, mais abrangente, podemos definir o objetivo da 
investigação criminal como: 
Objetivo social: a defesa dos direitos e das garantias do cidadão por meio da aplicação da lei 
penal. 
 
As etapas de uma investigação criminal 
Podemos classificar a investigação criminal de acordo com: 
A natureza profissional do(s) investigador(es) ou O momento em que a investigação ocorre 
natureza profissional dos investigadores 
1- Cartorária- A investigação criminal é classificada como cartorária quando realizada por 
profissionais diretamente subordinados à autoridade policial (delegado de Polícia) ― 
inspetores, detetives, escrivães, entre outros. 
2- técnico-científica- Recebe o nome de técnico-científica quando os profissionais envolvidos 
são mais ligados à atividade pericial e laboratorial; por exemplo, os peritos e técnicos que não 
têm subordinação direta à autoridade policial. 
O momento em que a investigação ocorre 
1- Preliminar- A investigação preliminar é aquela realizada logo após a infração penal, no local 
do fato e adjacências. Consiste sobretudo na coleta de vestígios, feita pela polícia técnico-
científica, e na coleta de informações (entrevistas informais), que deve ser feita pela 
autoridade policial ou por seus agentes. 
2- De seguimento- A investigação de seguimento ocorre em um momento posterior, com a 
oitiva formal de testemunhas e envolvidos, e a realização de diligências como busca e 
apreensão, interceptações telefônicas, entre outras. 
 
Princípios gerais da administração pública 
A investigação criminal é, antes de tudo, um conjunto de atos administrativos. Sendo assim, 
está sujeita ao art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, que dispõe: 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...). 
Princípio da legalidade 
Esse é o primeiro princípio da administração pública e, talvez, o que mais expresse o 
paradigma do estado de direito. O princípio da legalidade é a expressão da supremacia da lei. 
Observe que esse princípio tem duas faces: uma em relação à administração pública e outra 
em relação ao cidadão. Para o investigador ― que representa a administração pública ―, esse 
princípio expressa uma relação de submissão, restritiva, em que ele só pode fazer o que a lei 
determina, tendo muito pouca discricionariedade. 
Em sentido diverso, o cidadão, nesse princípio, tem a garantia de liberdade, uma vez que pode 
fazer tudo o que a lei não proíbe e não pode ser obrigado a fazer o que não estiver 
previamente expresso em lei. 
 
Princípio da impessoalidade 
Em atendimento ao princípio da impessoalidade, as ações do investigador, além de serem 
limitadaspela lei, devem ser norteadas pelo interesse público a fim de buscar a verdade real 
dos fatos. 
O investigador deve abster-se de ações que, embora legais, busquem, na verdade, o 
atendimento de interesses pessoais, promoção pessoal, benefícios ou prejuízos de quem quer 
que seja. 
 
Princípio da moralidade 
O princípio da moralidade é a expressão da ética no serviço público. 
Não é suficiente que os atos do investigador sejam pautados pela legalidade e visem tão 
somente ao interesse público. 
Devem também adaptar-se aos valores morais e sociais vigentes, como honestidade, equidade 
e justiça. 
 
Princípio da publicidade 
O princípio da publicidade é o corolário da transparência na administração pública. 
Esse princípio busca atender aos princípios democráticos, permitindo que os atos 
administrativos possam ser controlados pelos diversos órgãos da administração pública 
(Ministério Público, Justiça) e pela sociedade civil (imprensa e cidadão). 
Observe que nenhum princípio ou direito é absoluto: o princípio da publicidade, que é a regra, 
também está sujeito a exceções, como nos casos de investigação sigilosa, devendo essas 
exceções serem previstas em lei. 
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou 
exigido pelo interesse da sociedade. 
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade 
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito 
contra os requerentes. (Redação dada pela Lei 12.681, de 2012) (BRASIL. Decreto-Lei 3.689/41 
― Código de Processo Penal. Rio de Janeiro: 1941). 
 
Princípio da eficiência 
Finalmente temos o princípio da eficiência, acrescentado ao texto constitucional pela Emenda 
Constitucional 19/1998, que impõe ao administrador zelar pelos recursos de que dispõe. 
Semelhante ao administrador da iniciativa privada, ele deve vislumbrar a relação 
custo/benefício de seus atos para a administração pública buscando sempre alcançar o melhor 
resultado com o menor gasto de recursos públicos, sendo esses recursos humanos ou 
materiais. 
ATENÇÃO! 
Esses princípios não devem ser analisados isoladamente, mas sim em conjunto, 
vislumbrando-se a interação harmônica entre eles. É assim que, ao mesmo tempo, um 
complementa e limita o outro. Vejamos um exemplo: o princípio da publicidade visa garantir 
a transparência dos atos da administração pública para que possam ser fiscalizados. Essa 
fiscalização e cobrança implicarão mais eficiência. Por outro lado, se concebêssemos uma 
publicidade absoluta, ilimitada, a Polícia deveria, por exemplo, divulgar de antemão suas 
ações e estratégias, o que permitiria a adoção, por parte dos criminosos, de contramedidas 
que frustrariam a investigação criminal e comprometeriam sua eficiência. 
 
Princípios específicos da investigação criminal 
Estudamos, anteriormente, os princípios gerais da administração pública. São também 
chamados de “princípios constitucionais da administração pública”, uma vez que têm seu 
fundamento em nossa carta magna. Por serem de ordem constitucional, são aplicáveis a todos 
os atos administrativos, em todos os setores da administração pública. 
 
No entanto, além desses princípios constitucionais, cada setor da administração pública tem 
seus princípios específicos, que naturalmente não devem se sobrepor aos constitucionais. No 
caso da investigação criminal, temos os seguintes princípios específicos, também 
denominados: 
1- Princípio da compartimentação sigilosa 
Dependendo do caso e da complexidade, a investigação pode exigir a atuação de diversos 
investigadores nos mais variados ambientes. Nessa condição, o risco de vazamento de 
informações aumenta consideravelmente. 
Um investigador pode, por exemplo, ter suas informações devassadas por acidente ou ato 
criminoso ou ainda ser capturado por criminosos que, mediante emprego de técnicas de 
dissuasão e tortura, poderiam extrair informações do investigador capturado. 
Outra possibilidade seria o vazamento fraudulento e intencional por parte do próprio 
investigador. Em todos esses casos, quanto maior o conhecimento acerca da investigação, 
maior o prejuízo. 
A compartimentação consiste então em dividir a investigação ― e as informações inerentes a 
esta ― entre grupos de investigadores sob a coordenação da autoridade policial. 
 
2- Princípio do imediatismo 
Está diretamente relacionado ao princípio constitucional da eficiência. Diante da notícia de 
uma infração penal, a investigação criminal deve ser desencadeada o mais brevemente 
possível, levando-se em conta a volatilidade e a precariedade de muitos vestígios que, como 
veremos mais adiante, perdem-se caso não sejam recolhidos logo após a infração. 
Observe que esse princípio demanda agilidade, e não imprudência. Exatamente por isso é 
complementado e, ao mesmo tempo, limitado pelo princípio da oportunidade. 
 
3- Princípio da oportunidade 
Equilibra-se com o princípio do imediatismo por conferir eficiência à investigação criminal. 
Dentro da brevidade que se exige para o início das investigações, o investigador deve escolher 
o momento mais oportuno, que lhe permitirá, de forma ágil e, ao mesmo tempo, segura, 
iniciar os procedimentos investigativos. 
 
A transversalidade da ética e dos direitos humanos na investigação criminal 
A investigação criminal é uma ação invasiva por natureza. O investigador altera a rotina e 
constrange o investigado, as testemunhas e a própria vítima, repercutindo, muitas vezes, na 
família e nos amigos dos envolvidos. 
Conforme vimos ao longo desta aula, em última análise, o objeto maior da investigação 
criminal é a defesa dos direitos e das garantias do cidadão por meio da aplicação da lei penal. 
Assim, não seria razoável que a defesa desses direitos e garantias passasse pelo desrespeito a 
eles. 
Por outro lado, também observamos que investigar significa pesquisar, examinar, buscar 
vestígios. 
Isso nos traz um paradoxo: 
respeitar a individualidade, a privacidade e a intimidade das pessoas ou violar essas 
garantias em favor do interesse coletivo da aplicação da lei penal? 
Se examinarmos com atenção o texto constitucional e os tratados internacionais sobre o tema 
dos quais o Brasil é signatário, conseguiremos equacionar o problema e chegaremos à 
conclusão de que a liberdade é a regra, e o cerceamento a exceção. 
É notório que interceptações telefônicas, quebra de sigilo bancário, busca domiciliar e 
condução coercitiva são medidas invasivas e constrangedoras, mas, ao mesmo tempo, 
indispensáveis em alguns casos. 
É para esses casos que a lei prevê exceções, não podendo, obviamente, o investigador valer-se 
dessas medidas no intuito de prejudicar ou constranger o investigado. 
Considerando o princípio da impessoalidade, conforme estudamos, as ações do investigador 
devem ser norteadas sempre pelo interesse público, nunca pelo interesse pessoal. 
Fundamentação legal e limites da investigação criminal 
A investigação criminal é, como vimos, um conjunto de atos administrativos. Estudamos ainda 
que os atos da administração pública são restritos à previsão legal, Princípio da legalidade. 
Pois bem: as ações do investigador são previstas, majoritariamente, no Código de Processo 
Penal a partir do art. 6º e ainda pela legislação especial; por exemplo, as leis 9.034/95 (lei de 
repressão às organizações criminosas) e 9.296/96 (lei das interceptações telefônicas). 
Por outro lado, essas ações encontram limites na Constituição da República, nos tratados 
internacionais em que o Brasil seja parte e na legislação infraconstitucional (leis ordinárias e 
especiais). Por tratar especificamente dos direitos e das garantias individuais, é o art. 5º de 
nossa Constituição o principal limite às ações do investigador: 
Além da Constituição, a investigação criminal é limitada por normas como a Lei 4.898/65, que 
trata do abuso de autoridade, tipificandoem seus arts. 3º e 4º as condutas que representam 
crime de abuso de autoridade e, no art. 6o, as sanções administrativas, cíveis e penais a que o 
investigador estará sujeito nesses casos. 
A investigação criminal é ainda limitada por normas internacionais que foram recepcionadas 
pelo direito pátrio (veja art. 5o, §§ 2o e 3o, da Constituição da República). 
O Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL) foi adotado pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas por meio da Resolução 34/169 de 17/12/1979. 
 
Aula 02 em: 10/05/2020 
A prova na investigação criminal 
prova 
Etimologicamente, o vocábulo “prova” tem origem na palavra latina probatio, derivada do 
verbo probare, que significa persuadir pela demonstração. 
O dicionário Michaelis define prova como: 1. Aquilo que serve para esclarecer uma verdade 
por verificação ou demonstração. 2. Indício, mostra, sinal. (...) 
Então, podemos dizer que a prova, no processo penal, pode ser definida como: Um elemento 
que o juiz ou qualquer uma das partes traz ao processo no intuito de comprovar a veracidade 
de um fato ou alegação ou ainda a existência de algo. 
 
Finalidade da prova no processo penal 
Você deve ter percebido que o conceito de prova criminal está diretamente ligado à sua 
finalidade; grosso modo, demonstrar um fato ou afirmação. O desembargador Camargo 
Aranha nos traz uma definição importante dessa finalidade quando destaca a natureza 
reconstrutiva da prova: 
“A função da prova é essencialmente demonstrar que um fato existiu e de que forma existiu 
ou como existe e de que forma existe. É, portanto, uma tarefa reconstrutiva.” (Aranha, 2004) 
É fácil compreender a importância vital que representa a prova para toda a persecução penal. 
É com base nas provas que, ao final, o juiz proferirá sua sentença. Assim dispõe o Código de 
Processo Penal (decreto-lei 3.689/41): 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em 
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos 
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e 
antecipadas. (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) 
Após analisar as definições doutrinárias e o próprio texto legal, podemos concluir que: 
A finalidade da prova é formar o convencimento do julgador por meio da demonstração de um 
fato, alegação ou circunstância. 
Já sabemos o que é prova e para que ela serve. 
Mas a responsabilidade de produzi-la ou apresentá-la cabe a quem? 
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de 
ofício: (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) 
I ― ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas 
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e 
proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008) 
II ― determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de 
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008) 
Com base no texto legal, podemos chegar à conclusão de que a responsabilidade de 
demonstrar a veracidade dos fatos alegados é de quem os alega. 
Essa regra é o chamado “ônus da prova”; quem alega deve provar. 
Finalmente, do mesmo dispositivo legal, podemos extrair ainda outras duas conclusões: 
1. É o juiz o destinatário da prova. 
2. Caso vislumbre necessidade, o juiz pode determinar a produção antecipada de provas. 
Como a primeira alegação, aquela que dá início à investigação, é acusatória, normalmente 
cabe a quem está acusando a maior parte ou até a totalidade da responsabilidade probatória. 
Quem está se defendendo, a rigor, não precisa provar nada, exceto se fizer alguma alegação. 
Consideremos o seguinte: 
E se quem estiver sendo acusado provar não apenas que é inocente, mas ainda que quem o 
acusou sabia de sua inocência? 
Veja o que dispõe o art. 339 de nosso Código Penal: 
Denunciação caluniosa 
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de 
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra 
alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei n. 10.028, de 
2000) 
Pena ― reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
§ 1 ― A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome 
suposto. 
§ 2 ― A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. 
 
O que pode ser objeto de prova? 
Agora, vamos deixar um pouco a fase da investigação criminal e visitar a fase processual, em 
que o juiz aceita ou não as provas e as avalia. 
Em uma ação penal, podem ser objeto de prova coisas ou circunstâncias alegadas por uma das 
partes. 
Os fatos axiomáticos não precisam ser provados. 
Não é necessário documento para provar que o feriado da independência do Brasil é 
comemorado no dia 7 de setembro, tampouco testemunha para afirmar que nossa seleção foi 
campeã da Copa do Mundo de 1970. 
O direito também não precisa ser provado: presume-se que o juiz tem conhecimento das leis, 
mas essa presunção é relativa: o juiz deve conhecer o direito de sua jurisdição, portanto, 
quando a alegação recai acerca de direito estrangeiro, este deve ser provado pela parte que o 
alegou 
O mesmo se aplica às esferas administrativas, não podendo, por exemplo, exigir-se de um juiz 
de uma vara federal que conheça uma determinada norma municipal. 
Veja o que dispõe o Código de Processo Civil nesse sentido: 
“Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, 
provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.” 
As presunções legais também não precisam ser provadas, podendo se dividir em absolutas ou 
relativas. As primeiras não admitem prova em contrário; é o caso da inimputabilidade do 
menor de 18 anos. Os fatos irrelevantes também não podem ser objeto de prova (Para ser 
objeto de prova, o fato deve ser relevante e ter relação com o processo, sendo, por isso, capaz 
de influenciar a decisão do juiz.) 
 
A questão do contraditório e da ampla defesa na investigação criminal 
Essa é uma questão extremamente polêmica, com sólidos argumentos favoráveis e contrários 
à obrigatoriedade do contraditório e da ampla defesa ainda na fase da investigação criminal. 
Vamos começar analisando nossa Lei Maior, em seu art. 5° 
Pelo princípio da ampla defesa, o réu tem o direito de apresentar, no processo, todos os 
elementos de defesa de que dispõe, no intuito de opor-se à alegação da acusação. 
O réu pode, se assim entender conveniente, ficar em silêncio, mas, se for comprovado que ele 
foi inibido de exercer o direito de contestação, o processo pode ser anulado. 
 
A questão da prova emprestada 
Em um determinado processo, podemos utilizar a prova que foi produzida em outro processo, 
a chamada prova emprestada? 
Essa questão é desdobramento da discussão sobre o princípio do contraditório que acabamos 
de estudar. 
Isso porque, como qualquer outra prova, a emprestada também deve obedecer aos princípios 
constitucionais que regem sua produção e utilização, como os princípios da ampla defesa e do 
contraditório. 
Nesse sentido, o primeiro requisito de admissibilidade da prova emprestada é ter sido 
produzida, no primeiro processo, contra quem será utilizada no segundo processo para que a 
parte, tendo tido contato com a prova no primeiro processo, tenha plenas condições de 
contrariá-la no segundo (Grinover, Fernandes e Gomes Filho, 1998). 
 
Sistemas de valoração da prova 
A valoração e a apreciação das provas pelo julgador passaram, ao longo de nossa história, por 
três fases distintas: 
1- Sistema da livre apreciação ou convicção íntima 
O juiz decide livremente, baseado em sua íntima convicção, ainda que essa decisão esteja 
completamente desvinculada da prova dos autose sem necessidade de justificar a decisão. 
Nesse sistema, ainda que não haja prova correspondente nos autos, o juiz pode, por exemplo, 
decidir com base em algum conhecimento particular que tenha sobre o caso. Por outro lado, 
ficam comprometidos a segurança jurídica e o devido processo legal, sendo impossível o 
controle das decisões judiciais. 
2- Sistema das provas legais 
É precisamente o oposto do sistema da convicção íntima. 
Aqui, cada prova tem seu valor predeterminado, e a decisão do juiz deve seguir rigorosamente 
esses valores. 
3- Sistema do livre convencimento motivado 
Esse sistema é o que prevalece atualmente. 
Consiste em um misto dos dois sistemas anteriores. 
Aqui é o juiz que atribui o valor de cada prova, mas sua decisão deve ser fundamentada e estar 
em consonância com o conjunto probatório. 
Em nosso sistema, o juiz tem o poder de determinar a produção ou a complementação de 
provas apresentadas. 
A prova ilícita 
Nos itens anteriores, estudamos o direito à prova, mas nenhum direito tem caráter absoluto e, 
com a prova, não seria diferente. 
Além dos fatos e circunstâncias que não podem ser objeto de prova e que estudamos nesta 
aula, existe ainda a questão da prova ilícita, inadmissível em nosso direito. 
São provas ilícitas aquelas obtidas em desrespeito a normas ou princípios legais. 
veja o que diz o CPP 
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim 
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei 
n. 11.690, de 2008) 
§ 1 ― São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não 
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser 
obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
§ 2 ― Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de 
praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da 
prova. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008) 
§ 3 ― Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será 
inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. 
 
Aula 03 em: 10/05/2020 
Coleta de provas: cuidados e procedimentos 
Provas periciais 
As provas periciais se enquadram na classe das provas materiais, também chamadas de provas 
reais, e são colhidas pela Polícia Técnico-Científica. A perícia pode ser realizada em qualquer 
fase do processo, do inquérito à execução. Na fase policial, é realizada por determinação da 
autoridade policial. Com o oferecimento da denúncia, a perícia é realizada por determinação 
da autoridade judicial. 
A exceção se dá com a perícia de insanidade, que, mesmo na fase policial, é realizada somente 
por determinação da autoridade judicial. 
O resultado do trabalho do perito é o laudo pericial. 
 
Provas periciais: Tipos de perícia 
Pessoas: no caso de pessoas podemos ter um auto de exame cadavérico ou um auto de corpo 
de delito ( lesão corporal, conjunção carnal, ...) 
Objeto: quando o objeto da perícia é uma coisa e não uma pessoa a gama de opções é ainda 
maior 
 
Provas periciais: coleta de material humano 
Impressões digitais 
As impressões digitais são marcas deixadas por nossos dedos quando tocamos em alguma 
coisa. Observe as partes internas da ponta de seus dedos: você verá que elas apresentam 
desenhos; por meio destes, podemos identificar uma pessoa. Esse processo é denominado 
datiloscopia. A datiloscopia é uma parte da papiloscopia, que conta ainda com a quiroscopia e 
com a podoscopia. 
Em nosso estudo, vamos nos limitar à datiloscopia, que se baseia em alguns princípios ligados 
às propriedades dos desenhos datiloscópicos: 
Perenidade: os desenhos datiloscópicos são definidos ainda na gestação e são permanentes. 
Imutabilidade: os desenhos datiloscópicos não se alteram, salvo em caso de doenças como 
hanseníase ou em acidentes como queimaduras. 
Variabilidade: os desenhos datiloscópicos são diferentes entre os indivíduos e ainda entre os 
dedos de um mesmo indivíduo. 
 
Sangue e sêmen 
O sangue em estado líquido deve ser coletado com o auxílio de uma seringa, uma pipeta 
automática ou um conta-gotas, devendo ser armazenado em um tubo de ensaio. 
Se o sangue a ser coletado tiver de ser extraído da vítima, o procedimento deve ser feito pelo 
médico-legista, um perito que é também um profissional da área da saúde. 
Os materiais devem estar estéreis. 
Se o sangue estiver coagulado, deve ser coletado com o auxílio de uma espátula e armazenado 
preferencialmente em um recipiente de vidro. Espátula e recipiente devem estar estéreis. 
Em relação ao sêmen, os procedimentos são idênticos aos adotados na coleta do sangue, 
observando as diferenças relativas ao estado líquido, impregnado em tecidos, em objetos ou 
ainda caso o material tenha de ser coletado da própria vítima. 
 
Urina e saliva 
Se estiverem em estado líquido, a urina e a saliva devem ser armazenadas em garrafas 
plásticas ou de vidro estéreis, de preferência em vidro. 
Se estiverem sob a forma de manchas ou impregnadas, devem ser coletadas utilizando-se os 
mesmos procedimentos e cuidados referidos para o sangue e para o sêmen. 
Um cuidado a ser observado: sempre que possível, as amostras devem ser isoladas de fontes 
de luz e calor, que podem deteriorá-las rapidamente. 
 
Fios de cabelo, ossos e outros tecidos 
Fios de cabelo devem ser coletados com o auxílio de pinças, devendo-se utilizar amostras que 
contenham a raiz do fio. Devem ser armazenados em papel com a identificação do local do 
corpo de onde foram retirados. 
Fios de cabelo devem ser coletados com o auxílio de pinças, devendo-se utilizar amostras que 
contenham a raiz do fio. Devem ser armazenados em papel com a identificação do local do 
corpo de onde foram retirados. 
No caso de ossos (de cadáver), deve-se procurar tecido compacto e que ainda não esteja 
deteriorado em virtude da ação de bactérias ou fungos, devendo-se evitar tecido ósseo negro 
ou esverdeado. 
Quanto à amostra, deve-se dar preferência a tecidos ósseos das costelas, do fêmur ou da 
mandíbula. 
 
Provas periciais: coleta de objetos 
Armas de fogo e munições 
O primeiro cuidado a ser tomado quando coletamos ou manuseamos esse tipo de prova é que 
a arma de fogo deve ser recolhida pelo cano, e não pela coronha, pois é nela que, graças à 
empunhadura, normalmente ficam as impressões digitais de quem manuseou a arma. 
Se o perito tocar na coronha, pode inutilizar essas impressões. É recomendável ainda a 
utilização de luvas. 
Os estojos deflagrados, se houver, devem ser recolhidos com pinças. 
O manuseio desses estojos tem de ser feito com extremo cuidado para que eventuais 
fragmentos de impressões digitais não sejam destruídos. 
Quanto aos projéteis, se estiverem destacados, devem ser recolhidos com pinças, da mesma 
forma que os estojos. 
No entanto, se o projétil estiver incrustado em paredes, portas ou outros objetos, o perito 
deve retirar o pedaço da parede, do madeiramento ou do objeto em que o projétil se 
encontrar. 
Caso seja destacado da superfície em que estiver incrustado, o projétil pode ser danificado, o 
que inviabilizaria o exame pericial. 
O projétil tem diâmetro ligeiramente superior ao do cano da arma, de forma que ele sai 
“prensado”. Esse atrito gera marcas tanto na arma quanto no projétil. A maioria das armas 
tem o cano raiado, o que imprime um movimento de rotação ao projétil quando este passa 
pelo cano. A ação dessas raias também deixa marcas características. 
 
Resíduos de substâncias 
Diversas substâncias ― como venenos, remédios e outras ― podem ter interesse pericial. 
Devem ser recolhidas com material adequado e armazenadas de acordo com sua natureza 
para que mantenham suas propriedades. 
Esses resíduos podem ser encontrados na própria vítima, no autor ou ainda no ambiente. 
 
Provas testemunhaisA prova testemunhal também recebe o nome de subjetiva. Diferentemente da prova pericial, 
ou real, esse tipo de prova não é incontestável. 
A declaração prestada pela testemunha pode se revelar falsa ou incompleta, ocasião em que a 
testemunha responderá pelo crime de falso testemunho. 
Veja o que diz o Código Penal: 
Falso testemunho ou falsa perícia 
 
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, 
contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou 
em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001). 
Pena ― reclusão, de um a três anos, e multa. 
 
O informante 
Em uma “zona nebulosa” entre profissionais e testemunhas, encontramos o informante. 
O informante é uma fonte não oficial da investigação criminal. Ele não tem nenhum vínculo 
com as instituições de Segurança Pública, tampouco presta algum compromisso legal. Suas 
informações nem sequer podem ser utilizadas para instruir o inquérito policial. A 
confiabilidade de suas informações também é duvidosa e, ainda assim, são elementos 
preciosos na investigação criminal. 
O informante não é uma testemunha ― a não ser que tenha presenciado o fato, ocasião em 
que deverá ser convocado formalmente a prestar declarações ―, mas tem informações 
complementares a respeito do autor, da vítima, das circunstâncias e da motivação que podem 
nortear a investigação preliminar e formular as hipóteses iniciais. 
As informações prestadas podem ser de grande relevância, mas o investigador deve sempre se 
questionar sobre qual seria a real motivação do informante: Interesse financeiro? Consciência? 
Dever cívico? Vingança? Paixão? 
O informante pode, na verdade, estar tentando prestar uma contrainformação, desviando o 
foco da investigação, no intuito de proteger o verdadeiro autor ― por amizade ou interesse 
em relação a este último ― ou incriminar algum desafeto. 
Por exemplo, o informante pode indicar como pedófilo ou estuprador um vizinho, colega de 
trabalho ou síndico do prédio com o objetivo de criar-lhe um constrangimento perante 
vizinhos, familiares ou colegas de trabalho. 
Algumas vezes, porém, ainda que o informante não esteja motivado por um sentimento nobre, 
as informações prestadas podem ser verdadeiras. Por exemplo, a amante que, desprezada 
pelo criminoso, se vinga fornecendo detalhes acerca de sua localização, estocagem de armas, 
drogas etc. 
 
A testemunha 
A entrevista de uma testemunha fornece ao investigador uma prova subjetiva. 
O investigador deve ter em mente que, diferentemente das provas reais, a veracidade do 
conteúdo das declarações de uma testemunha pode não se confirmar. Por outro lado, ao 
prestar o compromisso legal, a testemunha sujeita-se às penas do crime de falso testemunho 
ou falsa perícia caso preste falsa informação ou omita a verdade, enquanto o informante, pelo 
próprio caráter informal de suas informações, não está sujeito a penalidades em caso de falsas 
declarações. 
É muito importante que o investigador esteja previamente preparado para a entrevista, 
inteirando-se dos fatos e determinando o que deseja que seja esclarecido pelo entrevistado. 
Infelizmente, em virtude da carga de procedimentos sob a responsabilidade de nossos 
investigadores, esse cuidado raramente é adotado e, quando o é, normalmente se dá em casos 
de mais repercussão. 
 
Provas documentais 
No contexto da investigação criminal, documento não deve ser entendido apenas de forma 
stricto sensu, como identidade, CPF, certidão de nascimento ou de casamento etc. 
Devem ser considerados, por exemplo: contratos, fotografias e até e-mails. 
Moacyr Amaral Santos (2011) define documento como: “coisa representativa de um fato e 
destinada a fixá-lo de modo permanente e idôneo, reproduzindo-o em juízo”. 
Essa definição torna extremamente abrangente o conceito de documento para o processo civil 
e, por tabela, para o processo penal, objeto de nosso estudo 
Na esteira desse raciocínio, podemos concluir que o documento de que tratamos pode ser 
público ou particular. 
Os documentos públicos podem ser de origem judicial, notarial ou administrativa. 
Os documentos particulares representam uma gama bem maior, podendo ser representados 
por contratos, cartas, fotografias etc. 
 
Gravações de circuito interno de TV 
A gravação de um vídeo pode servir de prova documental de duas formas: 
A primeira, quando é utilizada para documentar o local, identificar vestígios e evidências sem 
necessidade de manuseá-los. 
Outra forma de se utilizar um vídeo como prova documental é quando imagens de circuitos de 
TV registram a prática de uma ação criminosa. 
 
Aula 04 em: 11/05/2020 
Cena do crime: delimitação, isolamento e preservação 
 
Cena do crime 
Veja o que nos diz o Código de Processo Penal a esse respeito: 
 
“Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial 
deverá: I ― dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação 
das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei n. 8.862, de 28.3.1994) 
(Vide Lei n. 5.970, de 1973)” 
Aqui esbarramos em um ponto polêmico: quem é a “autoridade policial”? Analisemos os 
dispositivos a seguir: 
Código de Processo Penal 
“Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas 
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.” 
“Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender 
quem quer que seja encontrado em flagrante delito.” 
Código de Processo Penal 
“Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas 
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.” 
“Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender 
quem quer que seja encontrado em flagrante delito.” 
Constituição da República Federativa do Brasil 
“Art. 144, § 4º ― às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, 
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações 
penais, exceto as militares.” 
 
A autoridade policial, para os cidadãos 
Dos dispositivos legais listados, extraímos a ideia de que autoridade policial é sinônimo de 
delegado de Polícia. 
A população vê, em cada agente policial, a figura representativa do Estado. Portanto, se, em 
sentido estrito, para fins processuais, o conceito de autoridade policial é limitado aos 
delegados de Polícia, em sentido amplo, todo e qualquer agente policial carrega a 
representação dessa autoridade. 
Indo mais além, apesar de, na maioria das vezes, o primeiro agente a chegar ao local ser um 
policial militar ou civil, algumas vezes, agentes das guardas municipais presenciam ou mesmo 
são acionados por populares para se dirigirem a um local de crime. 
 
Definição de “cena” ou “local” de crime 
Para efeitos de isolamento e preservação, local de crime é muito mais do que apenas aquele 
lugar pontual onde o crime ocorreu. É o perímetro em que a totalidade dos vestígios pode ser 
encontrada; por isso, preferimos denominar de cena do crime. 
Em outra definição, Eraldo Rabello define local do crime como: 
“(...) a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é 
constatado o fato, se entenda de modo a abranger todos os lugares em que, aparente, 
necessária ou presumidamente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos 
materiais, preliminares ou posteriores à consumação do delito, e com este diretamente 
relacionado” 
(apud Dias, 2010). 
Definir cena ou local de crime é importante na medida em que é nessa área que será 
delimitado o perímetro no qual os peritos forenses realizarão o trabalho de identificação e 
coleta de vestígios. 
 
Comodelimitar o perímetro da cena do crime? 
De fato, não é uma tarefa fácil. Além de conhecimento técnico, é preciso uma boa dose de 
experiência policial. 
Esse trabalho deve ser feito imediatamente, tem de ser rápido, costuma ser realizado sob 
pressão e, com frequência, envolve risco físico. Deve contar ainda com um número reduzido 
de agentes. 
A cena do crime pode ter qualquer forma. Além disso, pode ser uma área externa, interna ou 
ambas. Um crime pode começar, por exemplo, dentro de uma residência e se estender até a 
rua ou vice-versa. 
Partindo do ponto em que o crime foi praticado, o perito deve traçar um raio que contemple 
todos os locais onde atos diretamente relacionados ao crime tenham sido cometidos e onde 
vestígios possam ser encontrados. É conveniente expandir esse perímetro um pouco além do 
último vestígio, pois, nesse primeiro momento, alguns vestígios provavelmente não foram 
visualizados. 
Na dúvida, sempre delimite o maior perímetro: havendo necessidade, é muito mais fácil 
reduzi-lo que ampliá-lo posteriormente. 
 
No caso de um crime de homicídio, por onde começar? 
Pelo cadáver, obviamente. 
Afinal, não é ele o principal objeto do crime? Só não é o único. Quantas pessoas praticaram o 
crime? Que instrumento(s) foi (foram) utilizado(s)? Quais foram os atos preparatórios e onde 
foram praticados? Quais foram os atos posteriores e onde ocorreram? 
Essa área pode ser limitada a um automóvel ou abranger várias residências e ruas. 
 
Isolando a cena do crime: importância e dificuldade 
Por que a preservação desses vestígios é tão importante? 
O trabalho dos peritos depende da preservação. 
Futuramente, o sucesso do processo judicial dependerá da correta instrução criminal. Esse 
sucesso não representa, necessariamente, a condenação do culpado; pode consistir na 
absolvição do inocente que injusta ou equivocadamente foi apontado como autor do fato. 
Então, em última análise, da preservação dos vestígios pode depender a aplicação da justiça. 
No entanto, preservar os vestígios não é uma 
tarefa simples. 
A delimitação e a preservação do local da cena do crime são o primeiro passo e um dos mais 
importantes ― se não o mais importante ― na investigação criminal. 
É com base no estudo desse local que serão iniciadas as investigações. Vejamos outras 
considerações do perito Eraldo Rabello sobre o local de crime: “(...) constitui um livro 
extremamente frágil e delicado, cujas páginas, por terem a consistência de poeira, desfazem-
se, não raro, ao simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se 
desse modo para sempre os dados preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos” 
(apud ESPINDULA, 2009). 
As fases do isolamento 
A delimitação do local de crime é feita de acordo com a natureza da ocorrência. 
O isolamento e a preservação da cena de crime abrangem três fases principais. 
1ª FASE- A primeira é aquela compreendida entre a ocorrência do crime e a chegada do 
primeiro agente policial, que será responsável pela delimitação preliminar e pela preservação 
do local. Esse momento é extremamente crítico em virtude de eventuais riscos à segurança, da 
curiosidade natural das pessoas, das eventuais tentativas de socorro e da ação deliberada 
do(s) próprio(s) autor(es), que pode(m) forjar ou ocultar evidências e, assim, inviabilizar a 
determinação da autoria e comprometer o sucesso da investigação criminal. 
O primeiro profissional que chegar ao local deve identificar e controlar qualquer situação que 
represente risco à segurança e à integridade de si mesmo, de vítimas e de civis que estejam na 
cena do crime. 
2ª FASE- A segunda fase é representada pelo período entre a chegada do primeiro agente 
policial e a chegada da autoridade policial. A principal dificuldade, nesse período, é a falta de 
conhecimento, por parte do agente, dos procedimentos corretos para a delimitação e a 
preservação do local. Conforme já mencionado, raramente os agentes policiais possuem 
formação sólida nesse campo. 
3ª- FASE- A terceira fase compreende o período entre a chegada da autoridade policial e a 
chegada dos peritos. Aqui o conhecimento e a experiência da autoridade policial são 
extremamente importantes para confirmar a delimitação do local ou estabelecer um novo 
perímetro, bem como identificar os aspectos mais importantes a serem preservados. 
 
Dificuldades normalmente encontradas 
O primeiro profissional a chegar ao local provavelmente não é a primeira pessoa. Quase 
sempre o lugar já está repleto de curiosos, jornalistas, familiares, amigos etc., que devem ser 
retirados do perímetro. É comum haver grande resistência e, por vezes, até agressividade das 
pessoas durante esse processo, o que, além de tomar tempo, pode distrair o agente enquanto 
pessoas mal-intencionadas deliberadamente adulteram a cena do crime. 
O primeiro profissional a chegar ao local dificilmente será um perito. Normalmente é um 
policial ou bombeiro militar. Algumas instituições não se preocupam com a formação dos 
profissionais de ponta, e o aspecto de isolamento e de preservação de local vem se revelando 
um dos mais críticos dessa formação deficiente. 
Quando a vítima, o próprio autor ou terceiros estiverem feridos, o socorro tem absoluta 
prioridade. O socorro a eventuais vítimas vivas sobrepõe, naturalmente, a necessidade de 
preservação do local. Efetuado o socorro, o local deve ser isolado e preservado. Nesse caso, é 
muito importante que o policial informe o trajeto feito por ele e pelos socorristas aos peritos 
para que estes não percam tempo analisando vestígios ilusórios, deixados por ocasião do 
socorro à(s) vítima(s). 
 
A presença da imprensa 
Você já deve ter observado: onde há crime há notícia, e onde há notícia há profissionais da 
imprensa. A presença da imprensa no local de crime é um importante fator a ser considerado. 
 
Documentando a cena: a volatilidade dos vestígios 
A cena do crime é extremamente instável. Muda a todo instante e não há nada que se possa 
fazer para impedir essa volatilidade. Intempéries e decurso de tempo modificam vestígios. 
Qual seria o primeiro passo do perito? 
Antes de iniciar a perícia propriamente, antes de tocar ou mover objetos e vítimas fatais, o 
perito deve documentar por meio de esquemas, fotografias e filmagens tudo o que encontrar 
no local. Esse procedimento visa preservar a prova para que ela possa ser repetida em juízo. 
Além disso, após a coleta dos vestígios, a cena do crime será totalmente desfeita e não será 
mais possível reproduzi-la com precisão sem os devidos registros. Assim, a documentação 
preserva a cena do crime, “imortalizando-a”. 
 
Tipos de registro da cena 
Registro de apontamento 
O perito deve fazer um registro de apontamento contendo informações sobre o local, a 
qualificação das pessoas presentes, a própria perícia, além de outros dados que considerar 
relevantes. 
Registro fotográfico 
Outro tipo de registro que o perito deve fazer no local, antes de iniciar a perícia propriamente, 
é o fotográfico. Esse registro deve conter o máximo de detalhes da cena do crime. 
Itens que devem ser registrados nas fotografias 
1- O local em si, contextualizado: por exemplo, uma casa, um veículo ou um cadáver na rua e 
em suas imediações, de forma que a foto permita contextualizar a cena em sua vizinhança. 
2- Fotos de diferentes ângulos: no caso de um cadáver, é importante registrar as lesões 
(ferimentos, fraturas, hematomas, concussões, orifícios de entrada e saída de projéteis etc.) e 
sua posição; no caso de uma residência, o cômodo onde ocorreu o fato, as entradas e saídas 
do cômodo e da residência etc. 
3- Fotos de pessoas presentes no local que podem, futuramente, ser indicadas como 
testemunhas ou reconhecidas como suspeita(s). 
4- Objetos e vestígios devem ser fotografados de média e curta distância para que possam ser 
visualizados no contexto da cena (média distância) e detalhadamente(curta distância). Nas 
fotos de curta distância (close-up), o objeto deve ser fotografado ao lado de uma régua para 
que se possa ter ideia de suas dimensões. Objetos danificados ou que pareçam estar fora do 
lugar devem receber atenção especial. 
5- Rastros, pegadas, marcas de pneu e afins devem ser fotografados. Nesses casos, também é 
indicado o uso de escalas. 
Documentação no croqui 
Por fim, o perito deve desenhar um croqui da cena do crime.´ 
 
No esboço abaixo, as pessoas, os objetos, suas dimensões e posições são representados 
graficamente. 
 
 
Pode ser deteriorada naturalmente ou por ação humana. 
Com o rápido e correto isolamento do local, é possível evitar ou pelo menos reduzir 
sensivelmente a parcela de deterioração determinada pela ação humana. 
Os próprios peritos, ao examinarem e recolherem vestígios, necessariamente modificarão a 
cena do crime, deixando vestígios próprios e levando outros consigo. A ação de socorristas 
também costuma alterar drasticamente a cena do crime, mas sua presença não pode ser 
evitada ― cabe repetir: o socorro às vítimas é prioridade absoluta. 
Em relação à ação humana, o que os peritos podem fazer é o correto isolamento, que deve ser 
providenciado pelo primeiro profissional de segurança pública a chegar ao local, e o 
planejamento minucioso, bem como o devido registro de toda e qualquer movimentação na 
cena do crime; por exemplo, a ação dos socorristas e dos próprios peritos. 
 
A cena do crime ainda pode sofrer alterações em decorrência de intempéries ou do simples 
decurso de tempo. 
Chuva, sol, calor e umidade são capazes de produzir mudanças e até destruir boa parte dos 
vestígios. Sangue, saliva, sêmen, restos de alimento etc. são vestígios que se deterioram 
naturalmente com o passar do tempo. 
Em relação à ação do tempo, tudo o que se pode fazer é buscar o menor intervalo possível 
entre as fases do isolamento, como visto nesta aula, planejar a movimentação de agentes e 
socorristas no local para que seja feito o menor trajeto possível e, sobretudo, fazer a 
documentação completa e minuciosa da cena do crime antes de tocar ou movimentar 
qualquer objeto ou vestígio. 
 
A questão da segurança na cena do crime 
Quando falamos em segurança na cena do crime, 
devemos pensar em dois aspectos: 
1- Segurança pessoal 
2- Segurança da cena do crime para evitar sua adulteração 
Um ponto que deve ser observado e que abrange esses dois aspectos é o comportamento 
relativamente comum do criminoso de retornar ao local do crime. Ele pode retornar para 
assegurar-se do sucesso de sua ação criminosa, para adulterar a cena do crime ou ainda para 
coagir eventuais testemunhas, ameaçando-as. 
 
Resumindo... 
1- O grande objetivo da preservação da cena do crime é evitar a contaminação e a adulteração 
das evidências no local até que todo o trabalho de perícia seja realizado. Esse trabalho de 
preservação deve ser iniciado com a maior brevidade possível logo que o primeiro agente da 
autoridade policial tiver conhecimento do fato. 
2- O primeiro agente da autoridade policial que chegar ao local deve providenciar o socorro 
à(s) vítima(s) (se houver) e impedir o acesso de pessoas não autorizadas. Nessa tarefa, ele 
pode encontrar dificuldades, como pessoas hostis (suspeitos e seus colaboradores) e/ou 
vítimas e parentes exaltados. 
3- Outra tarefa, talvez ainda mais complexa, consiste em fazer uma delimitação preliminar do 
perímetro onde, presume-se, possam ser encontrados vestígios do crime. Por segurança, é 
interessante fazer a delimitação sempre um pouco além de onde o último vestígio foi 
encontrado. 
4- Quando da chegada dos peritos forenses, esse perímetro pode ser mantido, reduzido ou 
ampliado. O que parece evidente no início pode se modificar no decorrer do trabalho pericial. 
Após a delimitação final, a área deve ser isolada com uma barreira física (cordões de 
isolamento, por exemplo). 
 
Aula 05 em: 11/05/2020 
Vestígios, evidências e indícios 
 
Vestígios 
Quando uma pessoa pratica um crime, ela o faz em algum lugar. Ao sair, mesmo 
inconscientemente, carrega substâncias desse lugar, como poeira e outros elementos. 
Também deixa, no local, suas próprias substâncias: suor, cabelo etc. 
Se, na prática criminosa, houver contato corporal com alguma pessoa (vítima, testemunha, 
entre outras), também haverá uma troca de substâncias entre o suspeito e essa pessoa. Essas 
substâncias, que podem ser orgânicas (suor, sangue, cabelo, sêmen etc.) ou inorgânicas 
(cigarros, fósforos, objetos diversos), são denominadas vestígios materiais e constituem a base 
dos exames periciais. 
O VESTÍGIO MATERIAL É O ELO ENTRE A VÍTIMA, O CRIMINOSO E O LOCAL ONDE O CRIME 
FOI PRATICADO 
Na cena do crime, a equipe de perícia vai procurar objetos, marcas e sinais que, de alguma 
forma, possam estar relacionados ao crime. Esses elementos, ainda em estado “bruto”, são 
denominados vestígios e podem ou não estar efetivamente relacionados ao crime a ser 
investigado. 
O vestígio é composto de: 
Agente provocador: que ou quem contribuiu para a produção do vestígio. 
Suporte: local onde o vestígio foi produzido. 
Vestígio: produto da ação do agente provocador. Vestígio é então tudo que, encontrado no 
local do crime e após uma avaliação preliminar dos peritos, pode vir a se transformar em 
prova, seja individualmente, seja associado a outros vestígios. 
Em um primeiro momento, todos os vestígios encontrados no local do crime são importantes 
para esclarecer as circunstâncias do fato a ser investigado. Todavia, não é possível aos peritos 
determinarem, no local do crime, a importância individual de cada vestígio para a investigação 
criminal, o que só será possível no instituto de criminalística, onde as análises e os exames 
complementares serão feitos. 
O vestígio é então tudo aquilo que, encontrado no local do crime e após uma avaliação 
preliminar dos peritos, pode vir a se transformar em prova, seja individualmente, seja 
associado a outros vestígios. 
 
Evidências 
Como vimos, os vestígios podem ou não estar relacionados com o crime. São coletados 
porque, segundo um juízo de valor preliminar do perito, podem conter informações 
importantes, a ponto de constituírem uma prova, e podem ajudar a esclarecer os fatos. Nesse 
caso, é melhor coletá-los e, mais tarde, decidir por seu descarte do que ignorá-los e perder 
uma informação importante ou mesmo vital para a investigação. 
É no instituto de criminalística que, após análises e exames complementares, será possível 
determinar se o vestígio tem ou não relação com o fato investigado e, caso tenha, qual é essa 
relação. 
Caso o vestígio venha a apresentar relação com o fato averiguado, então será considerado 
uma evidência. 
Quando se chega à conclusão de que determinado vestígio está de fato relacionado com o 
fato investigado, esse vestígio passa então a ser tratado como evidência... 
 
Indícios 
 
O trabalho da perícia transforma um vestígio em evidência. O trabalho da investigação, ao 
agregar outras informações, transforma essa evidência em indício. 
Indício, portanto, é uma expressão jurídica, de natureza subjetiva, que representa uma 
circunstância conhecida e provada que, como tal, permite concluir pela existência de outra(s) 
circunstância(s). 
código de processo penal 
"art. 239: a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por 
indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias". 
 
Contextualizando os vestígios na cena do crime 
Até aqui vimos que os vestígios sofrem “refinamentos” até se tornarem evidências; em 
seguida, quando são efetivamente utilizados como provas no processo penal, tornam-se 
indícios. Cada uma dessas etapas (coleta dos vestígios, análise criminalística e análise 
processual) tem uma importância ímpar, e todas estão entrelaçadas. 
Portanto, quando falamos em preservar e em valorizar as provas, mais uma vez, estamospensando na técnica e na legalidade de cada uma das etapas de sua produção e manipulação. 
Mas o que pode ser considerado vestígio? Deve o perito coletar indiscriminadamente todo e 
qualquer objeto encontrado na cena do crime? 
se coletar todos (ou quase todos) os objetos presentes na cena do crime, sobrecarregará o 
serviço de perícia laboratorial com uma grande carga de exames, a maioria sem valor algum 
para a investigação. 
Por outro lado, se deixar um objeto relevante para trás, uma prova fundamental pode ter sido 
perdida, impossibilitando assim a condenação do criminoso ou, pior, fazendo a culpa recair 
sobre um inocente. 
o perito deve ser capaz de avaliar, em pouco tempo, os vestígios potencialmente relevantes 
para a investigação, que devem ser recolhidos e levados para exames laboratoriais, e aqueles 
supérfluos, que não apresentam nenhum interesse para a investigação e que devem ser 
descartados sumariamente. 
Naturalmente, a experiência do perito vai ajudá-lo a fazer essa classificação de forma mais 
rápida e precisa, mas a mesma experiência haverá de ensiná-lo que cada caso tem suas 
peculiaridades, suas características próprias, e que a generalização pode levar ao erro e ao 
fracasso da investigação criminal. 
 
A teoria da ligação de quatro caminhos 
A teoria da ligação de quatro caminhos busca entender as relações existentes entre a cena do 
crime, determinada vítima, determinado suspeito e determinado vestígio. Essa conexão 
poderá orientar o perito especificando onde as evidências podem ser localizadas. 
Ainda segundo essa teoria, havendo associações entre dois ou mais desses componentes (cena 
do crime, vítima, suspeito e evidência), o caso poderá ser resolvido, e as chances de sucesso 
serão tão maiores quanto maior for o número de associações estabelecidas. 
 
Cuidados a serem observados na coleta de vestígios 
Acionamento da perícia 
O primeiro cuidado diz respeito à legalidade e está no acionamento da perícia, se esse 
procedimento está de acordo com as normas. A perícia deve ser requisitada pela autoridade 
policial, com os objetivos periciais (questões) claramente especificados e a indicação precisa 
do local. 
Adequação técnica 
No local, um cuidado de natureza técnica: a equipe de perícia escalada deve ter 
conhecimentos adequados ao trabalho realizado. Não se deve escalar, por exemplo, um perito 
contabilista para um local de homicídio por envenenamento. 
Delimitação e isolamento 
Outro cuidado abrange os aspectos técnico e legal, a delimitação e o isolamento do perímetro 
até a chegada da autoridade policial e dos peritos. Essa responsabilidade é do(s) primeiro(s) 
agente(s) que chegar(em) ao local do fato. Trata-se de uma providência imediata, cuja 
prioridade só é suplantada pela necessidade de prestar socorro às pessoas feridas. 
 
Ao chegar ao local, a equipe de perícia pode manter o perímetro isolado, ampliá-lo ou reduzi-
lo. Isso pode ocorrer porque, durante a perícia no local, novos fatos podem redesenhar a cena 
do crime e indicar essa necessidade. 
Socorro às vítimas feridas 
Se houver vítima no local, verificar se ela ainda está viva. Se houver vítima viva, 
evidentemente, o socorro precede à preservação, o que não significa que, para socorrer a 
vítima, destruiremos toda a cena do crime. Devem ser usados o trajeto e o número de pessoas 
que se fizer necessário para um atendimento mais rápido e eficaz. 
Observe que aqui podemos encontrar um conflito entre dois bens jurídicos relevantes: a vida e 
o jus puniendi , ou seja, o dever-poder do Estado de punir quem pratica uma infração penal. 
Embora ambos sejam relevantes, a vida, naturalmente, sobrepõe qualquer outro direito. Nesse 
aspecto, cabe ressaltar que, quando falamos em direito à vida e à prioridade no socorro, não 
estamos discutindo a qualidade dessas pessoas: vítimas, autores e terceiros têm assegurado 
seu direito à vida e a prevalência do socorro sobre qualquer outra atividade. 
Registros e anotações 
Os peritos devem fazer anotações sobre o cenário geral: número de pessoas, disposição dos 
objetos, horários, condições atmosféricas etc. 
Outro cuidado importante e que, muitas vezes, é ignorado é a anotação sobre os 
procedimentos adotados por cada perito. Essa informação será importante para efeitos de 
registro da cadeia de custódia 
 
Vestígios verdadeiros, ilusórios e forjados 
Uma circunstância óbvia, mas que alguns se esquecem de considerar é que, no local do crime, 
encontramos elementos, vestígios deixados pelo(s) autor(es) e pela(s) vítima(s) e que são 
extremamente importantes para a investigação criminal. Encontramos também muitos 
elementos que já estavam no local e que não possuem nenhuma relação com o evento, com 
o(s) autor(es) ou com a(s) vítima(s). 
Vestígios verdadeiros 
 Após uma verificação preliminar, os peritos fazem uma depuração completa dos elementos 
encontrados no local do crime, determinando aqueles que foram produzidos diretamente 
pelo(s) autor(es) da infração ou ainda os que foram produzidos em virtude do cometimento da 
ação criminosa. Esses são os vestígios verdadeiros. Em princípio, são vestígios verdadeiros: 
• o sangue, o sêmen, as pegadas e as impressões digitais do(s) autor(es) e da(s) vítima(s); 
• os estojos deflagrados da(s) arma(s) utilizada(s) pelo(s) autor(es) e pela(s) vítima(s). 
porquê em principio? 
Porque nem sempre os vestígios encontrados no local de crime estão de fato relacionados com 
o fato criminoso que se quer apurar. Eles podem estar presentes no local em virtude de outras 
circunstâncias alheias ao fato criminoso. Essas circunstâncias podem ser anteriores ou 
posteriores a esse fato. 
 
Vestígios ilusórios 
O vestígio ilusório é o elemento que, encontrado na cena do crime, não tem ligação com a 
ação do(s) autor(es) ou da(s) vítima(s), ainda que não tenha sido produzido intencionalmente. 
Nessa última situação, estaremos diante de um vestígio forjado. 
Os vestígios ilusórios podem ser produzidos por intempéries e, sobretudo, pelo isolamento e 
pela preservação inadequados do local ― por exemplo, permitindo a circulação de populares 
(familiares e curiosos) na cena do crime. Outro fator a ser considerado é a circulação 
inadequada e/ou desnecessária dos próprios agentes policiais. 
São vestígios ilusórios: 
• Pegadas e impressões digitais de curiosos, familiares e policiais que circularam no local; 
• Objetos deixados por curiosos, familiares e policiais que circularam no local. 
 
Vestígios forjados 
O vestígio forjado é o elemento encontrado na cena do crime e que, assim como o vestígio 
ilusório, não tem ligação direta de causa e efeito com a ação do(s) autor(es) ou da(s) vítima(s) 
ou com a ação criminosa. Diferentemente dos vestígios ilusórios, foram produzidos de forma 
intencional pelo(s) autor(es) no intuito de dissimular sua ação e induzir os investigadores ao 
erro. 
Muitas vezes, os vestígios forjados constituem, por si só, uma ação criminosa autônoma. Por 
esse e por outros motivos, também diferentemente dos vestígios ilusórios, os vestígios 
forjados não devem ser ignorados, mas arrecadados e identificados como tais, pois serão 
muito importantes para esclarecer determinadas circunstâncias do crime. 
Exemplo de Vestígios forjados 
• A arma ou o frasco de veneno deixado pelo autor na mão da vítima ou em suas 
proximidades; 
• Um ferimento provocado na vítima após sua morte na tentativa de simular um acidente ou 
homicídio. 
 
Autenticidade e validade do vestígio 
A autenticidade, a validade ou a idoneidade do vestígio depende, como vimos, de muitos 
fatores: de aspectos técnicos (procedimentos adotados pelos peritos, isolamento do local) e de 
aspectos legais (requisição de exame pela autoridade competente, quesitação pertinente ao 
fato a ser investigado, perito legalmente investido etc.). 
De tudo o que é considerado relevante para a autenticidade de um vestígio, o conjunto de 
procedimentos e deprotocolos adotados pelos peritos é, certamente, o mais importante. Uma 
falha ou nulidade nos procedimentos de constatação, registro, identificação, exames ou 
análises pode prejudicar ou mesmo comprometer a investigação criminal e a ação penal. 
Em cada uma dessas fases, alguns procedimentos são determinantes para se preservar a 
validade do vestígio. 
1- Constatação 
O trabalho pericial no local de crime exige a observância, pelos peritos, de metodologias, 
rotinas e normatizações a fim de identificar e/ou visualizar com precisão e validade o vestígio 
no local e as circunstâncias em que foi encontrado. 
2- Registro 
Encontrado o vestígio, o perito deve proceder o registro desse vestígio, detalhando o local e as 
condições em que foi encontrado. Essa fase é delicada e exige um trabalho meticuloso, 
devendo o perito fazer o registro por escrito e por fotografia, determinando com precisão a 
localização do vestígio na cena do crime, relacionando-o geograficamente a objetos e 
obstáculos fixos no local e ainda em relação aos demais vestígios. É o registro que dá a certeza 
da identificação, da localização e até da existência de determinado vestígio, ou seja, o registro 
corrobora a constatação. 
3- Identificação 
 Na cena do crime, podemos distinguir dois grupos de vestígio: o primeiro, representado por 
aqueles que são constatados, registrados e identificados, mas que não são recolhidos para 
exames complementares, ou seja, não são encaminhados para o instituto de criminalística; o 
segundo, representado pelos vestígios que, apesar de examinados no local, são também 
encaminhados ao instituto de criminalística. 
No primeiro caso (vestígios que não serão encaminhados), o cuidado na constatação, no 
registro e na identificação deve ser redobrado, uma vez que não haverá possibilidade de se 
completar ou refazer tais procedimentos. É o caso de locais de arrombamento, crimes de 
trânsito, entre outros. 
No segundo caso (vestígios encaminhados), a identificação deve também ser cuidadosa porque 
os vestígios serão encaminhados para os diferentes setores do instituto de criminalística ou do 
Instituto Médico-Legal e serão recebidos e manipulados por peritos desses institutos. É o caso 
de manchas de sangue, sêmen ou outros fluidos corporais, armas, munições e seus 
fragmentos, resíduos e substâncias tóxicas, entre outros. 
Esse cuidado em relação à precisão da identificação visa garantir a idoneidade do vestígio para 
fins periciais e a própria validade do laudo por ocasião de sua utilização no inquérito policial ou 
na ação penal. 
4- Encaminhamentos (exames e análises) 
Vimos anteriormente que alguns vestígios não são passíveis de ser encaminhados ao instituto 
de criminalística ou de medicina legal. Outros, entretanto, devem ser encaminhados para 
exames e análises complementares. Aqui já começa a primeira questão: determinado vestígio 
deve ser encaminhado para exame pericial ou médico-legal? 
Essa questão é extremamente relevante porque, quando os exames são encaminhados, os 
vestígios passam pelas mãos de muitos funcionários, e essa jornada deve ser minuciosamente 
documentada para que não se perca a cadeia de custódia. 
Outro cuidado imprescindível é no encaminhamento ao exame pericial correto: um recipiente 
contendo determinado líquido, se encaminhado a exame de constatação, por exemplo, poderá 
perder sua validade para exame de material biológico, se for o caso. 
O perito que realizar o exame complementar deverá ter ainda extremo cuidado para não 
contaminar a amostra (e também para não ser contaminado por ela). 
 
Aula 06 em: 12/05/2020 
O INQUÉRITO POLICIAL 
 
Conceitos e princípios do inquérito policial 
Conceito 
O inquérito policial é um procedimento administrativo. Seu principal objetivo é apurar uma 
infração penal e reunir elementos (provas) para que o Ministério Público (nos casos de ação 
penal pública) ou o ofendido (nos casos de ação penal privada) tenha condições de propor a 
ação penal em juízo, visando à punição do autor do fato. 
Além da base legal do Código de Processo Penal, o inquérito policial é norteado por princípios 
próprios e apresenta também suas próprias características. A seguir, vejamos alguns deles. 
Princípio da obrigatoriedade 
É de interesse de toda a sociedade que os crimes não fiquem impunes. Se assim ocorresse, 
toda a ordem social estaria comprometida e o próprio Estado se esfacelaria. 
Por isso, existe a justiça criminal. É por isso também que o Estado tem o jus puniendi, que, se 
pode ser traduzido literalmente como “direito de punir”, na prática trata-se de um direito-
dever. Uma vez verificada a prática do fato criminoso, o Estado pode ― e deve ― dar início à 
persecução penal. 
Assim é que a autoridade policial é obrigada a instaurar inquérito policial, e o Ministério 
Público é obrigado a promover a competente ação penal quando se tratar de crime de ação 
penal pública incondicionada, que representa a maioria dos casos. 
O princípio da obrigatoriedade está disposto no Código de Processo Penal nos artigos a seguir: 
Art. 5º ― Dispõe sobre as partes legítimas para iniciar o inquérito policial nos crimes de ação 
penal pública. 
Art. 6º ― Dispõe as diligências que a autoridade policial deve adotar assim que tiver 
conhecimento da prática de infração penal. 
Art. 20 ― Trata da natureza sigilosa do inquérito policial. 
Princípio da oficialidade 
Sendo a repressão à criminalidade uma das funções essenciais do Estado, deve ser 
desempenhada por instituições próprias e qualificadas. Essas instituições estão enumeradas 
taxativamente no art. 144 da Constituição da República. 
Uma observação sobre o princípio da oficialidade é que ele somente se aplica nos casos de 
crime de ação penal pública incondicionada e, mesmo nesse caso, pode ser mitigado se houver 
inatividade por parte do Ministério Público. 
Nesse caso, a parte interessada (vítima) pode, por intermédio de um advogado, apresentar 
uma queixa e dar início à ação penal. 
Princípio da indisponibilidade 
Esse princípio está diretamente relacionado ao da oficialidade. Indisponibilidade significa dizer 
que autoridade nenhuma pode, de forma discricionária, decidir se instaura ou não o inquérito 
policial (no caso da autoridade policial) ou se arquiva ou não (no caso do Ministério Público). 
Presentes os requisitos de instauração do inquérito policial, a autoridade policial não pode 
deixar de instaurá-lo, sob pena de responder pelo crime de prevaricação (art. 319 do Código 
Penal). Do mesmo modo, ausentes esses requisitos, a autoridade policial não deve instaurá-lo. 
Uma vez instaurado, o inquérito não pode ser paralisado indefinidamente ou arquivado na 
delegacia. 
O delegado, se entender por bem, pode representar ao Ministério Público pelo arquivamento, 
e esse pode ou não requerer o arquivamento ao juiz, mas é esse último (o juiz) que decide se o 
inquérito será ou não arquivado. 
O inquérito, aliás, é sujeito a prazos de permanência precisamente para que não fique 
paralisado indefinidamente, ou seja, “esquecido” em uma gaveta ou prateleira. 
 
 
Características do inquérito policial 
O inquérito policial possui características próprias, tornando-o um procedimento bem peculiar 
em relação aos demais atos da administração pública. São elas: 
IQUISITÓRIEDADE: 
Embora, no processo penal, vigore o sistema acusatório, que garante, entre outros, o direito 
ao contraditório e à ampla defesa, 
o inquérito policial, por não ser um processo, mas sim um procedimento, em princípio não é 
alcançado por esses preceitos. 
A questão, no entanto, é polêmica: há os que defendem o direito ao contraditório e à ampla 
defesa pelo fato de o inquérito policial já representar, por si só, uma série de 
constrangimentos ao investigado. A doutrina majoritária, porém, defende que não cabem 
ampla defesa e contraditório em sede de inquérito policial por não ser esse um processo e, 
portanto por não haver“partes”. O suspeito não chega a ser “parte”, mas apenas objeto de 
investigação. 
Vejamos o que diz o Código de Processo Penal a respeito: 
 “Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer 
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.” 
“Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas 
deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.” 
DISCRICIONARIEDADE 
Essa característica, também presente em boa parte dos atos da administração pública, 
consiste na faculdade de, observados os limites impostos pela legislação, optar por uma ou 
outra ação ou ainda escolher o momento em que deve ser executada. 
Você pode pensar que, em princípio, essa característica destoa do princípio da 
indisponibilidade, mas observe que essa discricionariedade está vinculada aos limites legais, e 
não à mera arbitrariedade da autoridade policial ou de seus agentes. 
É o caso, por exemplo, de a autoridade policial decidir se pede ao juiz um mandado de prisão 
ou um mandado de busca e apreensão, conforme a conveniência da instrução criminal. É o 
caso de, concedido o mandado, decidir pela ocasião mais oportuna para cumprir a diligência. 
Na maioria das diligências, como o mandado de busca e apreensão, deve ser evitado o período 
noturno. 
OFICIOSIDADE 
Nos casos de crime de ação penal pública incondicionada, ao tomar conhecimento do fato, a 
autoridade policial deve, de ofício, instaurar o inquérito policial. 
 
PROCEDIMENTO SIGILOSO 
O art. 20 do Código de Processo Penal estabelece que: “A autoridade assegurará, no inquérito, 
o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.” Esse sigilo, 
naturalmente, não é absoluto. Visa apenas evitar que a eficiência das investigações seja 
mitigada pela divulgação indiscriminada de informações contidas no inquérito policial. 
Mesmo quando decretado o sigilo, o advogado tem direito a examinar os autos. Assim já 
decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF) no 
HC 82.354-8/PR. 
PROCEDIMENTO ESCRITO 
Dispõe o art. 9o do Código de Processo Penal: “Todas as peças do inquérito policial serão, num 
só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, nesse caso, rubricadas pela 
autoridade.” 
AUTOEXECUTABILIDADE 
Essa característica consiste na faculdade de a autoridade policial e seus agentes não 
dependerem da autorização judicial para a maioria das diligências. A autoridade policial pode, 
por si só, expedir um mandado de intimação ou de condução, requisitar determinada perícia 
que entender necessária, enfim, presidir o inquérito policial e determinar as diligências a 
serem realizadas. 
Essa “liberdade”, porém, não é absoluta. Algumas diligências, como o mandado de prisão ou 
de busca e apreensão, a quebra de sigilo telefônico ou bancário, necessitam de autorização 
judicial. São diligências muitas vezes imprescindíveis para a produção de provas que instruirão 
o inquérito policial e permitirão ao Ministério Público (ou ao ofendido, representado por seu 
advogado) propor a ação penal, mas, por atingirem direitos garantidos em sede constitucional 
(liberdade, intimidade etc.), estão sujeitas ao crivo da apreciação e da autorização do órgão 
jurisdicional. 
INDISPONIBILIDADE 
Uma vez instaurado o inquérito policial, a autoridade policial não poderá arquivá-lo. Se assim 
entender, poderá representar pelo arquivamento junto ao Ministério Público, que poderá ou 
não requerer ao juiz esse arquivamento. 
 
Como tem início o inquérito policial? 
O inquérito policial pode ser iniciado de diferentes formas. As circunstâncias e, sobretudo, o 
tipo de crime que se visa apurar definirão como terá início o inquérito policial. 
Nos casos de crime de ação penal privada 
 
Nos crimes de ação penal privada, assim definidos na própria lei que os tipificou (Código Penal 
ou Legislação Penal Especial), a autoridade policial somente poderá dar início ao inquérito por 
requerimento da vítima ou de seu representante legal. 
Quanto ao requerimento, segundo entendimento que predomina atualmente em nossa 
doutrina, não se exigem formalidades, exceto, obviamente, a comunicação do fato em uma 
delegacia de Polícia com um pedido de providências. 
Outra observação diz respeito ao prazo decadencial, que é de seis meses após o fato. Exemplos 
de crimes de ação penal privada são aqueles contra os costumes (calúnia, injúria e difamação). 
Nos casos de crime de ação penal pública condicionada à representação 
Aqui a ação penal é pública, e não privada. A principal diferença é que aquela é proposta por 
um advogado, por meio da queixa, enquanto nesta a peça inicial é a denúncia, oferecida pelo 
Ministério Público. 
Apesar de o crime ser de ação penal pública, por ser condicionado à representação, é 
necessário que a vítima manifeste expressamente essa vontade, o que é feito por um termo de 
representação. Esse termo é como uma autorização da vítima para que o Ministério Público 
promova a ação penal. Alguns crimes têm essa característica porque, dependendo das 
circunstâncias, as consequências da ação penal podem ser mais danosas para a vítima do que 
o próprio crime que foi cometido. 
Nos casos de crime de ação penal pública incondicionada 
A maioria dos crimes é de ação penal pública incondicionada, ou seja, o Ministério Público não 
depende da autorização da vítima ou de seu representante legal para propor a ação penal, e a 
autoridade policial, ao tomar conhecimento do fato, deve instaurar o inquérito policial por 
portaria. 
O inquérito também pode ser iniciado pelo auto de prisão em flagrante ou por requisição do 
juiz ou do Ministério Público, quando a autoridade policial, por meio de um despacho na 
própria requisição, ordena a instauração do inquérito policial. 
 
Produzindo provas no inquérito policial ― parte 1 
É no inquérito policial que a maioria das provas é produzida. Algumas dessas provas não 
podem ser repetidas em juízo, daí a importância crítica dos cuidados na hora de sua produção 
e de sua manipulação, se for o caso, para que não sejam contaminadas física ou juridicamente. 
Estudaremos a seguir as diligências internas, ou seja, aquelas realizadas nas dependências da 
unidade policial, capazes de produzir provas para o inquérito policial. 
Diligências internas 
As principais diligências são a oitiva de pessoas e a acareação. Vejamos: 
Oitiva de pessoas 
Essa é, provavelmente, a diligência mais comum no inquérito policial. Suspeitos, vítimas e 
testemunhas são convocados para apresentar suas versões para esclarecer os fatos. 
Nessa ocasião, podem ainda apresentar documentos ou indicar outras testemunhas. 
O investigador entrevista suspeitos, testemunhas e vítimas a fim de esclarecer os fatos e 
confrontar seus depoimentos com outros depoimentos e com outras provas (periciais, por 
exemplo). 
O investigador deve observar, sobretudo no caso dos suspeitos, o respeito às garantias 
constitucionais das pessoas que estão sendo ouvidas. 
Ninguém pode ser induzido mediante violência ou ameaça a falar ou a deixar de falar alguma 
coisa. 
O investigador não deve ainda sugerir ou induzir nenhuma resposta do entrevistado. Ele pode, 
no entanto, confrontar a versão do entrevistado com outras versões ou com fatos já 
conhecidos para desmascarar uma falsa declaração. 
Se a pessoa entrevistada for menor de idade, deve ser assistida por um representante legal 
(pai, mãe, tio, tia, entre outros) ou por um curador. 
Representante legal ou curador deve acompanhar o depoimento sem se manifestar. Isso 
também se aplica ao advogado: ele tem a prerrogativa de examinar o inquérito e orientar seu 
cliente, mas, durante a oitiva, deve permanecer em silêncio. 
Sendo o entrevistado maior e capaz, não se deve permitir a presença de outras pessoas 
durante a entrevista. É comum que a pessoa a ser entrevistada venha acompanhada pelo 
cônjuge, irmãos, amigos.

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