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8 – Os salários do trabalho O produto do trabalho é a recompensa natural do trabalho: Salário. Antes de existir a apropriação da terra e o acúmulo de capital, o produto integral do trabalho pertencia ao trabalhador, pois não existia proprietário da terra e nem patrão para ter que dividir o fruto de seu trabalho. Se as coisas tivessem continuado desta forma: - Os salários do trabalho teriam aumentado conjuntamente com todos os aprimoramentos introduzidos nas forças produtivas do trabalho; - Todas as coisas teriam se tornado gradualmente mais baratas e teriam sido produzidas por uma quantidade menor de trabalho; Assim, as mercadorias produzidas por quantidades iguais de trabalho teriam sido trocadas umas pelas outras e também, compradas com o produto de uma quantidade menor de trabalho. Contudo, embora na realidade todas as coisas teriam se tornado mais baratas, na aparência muitas poderiam ter-se tornado mais caras do que antes ou ter sido trocadas por uma quantidade maior de outros bens. Por exemplo: Em uma ocupação a força produtiva melhorou em 10 vezes, porém em outra, a força produtiva apenas duplicou. Assim, teríamos que uma quantidade de trabalho maior do que antes, compraria apenas o duplo da quantidade de trabalho de antes. Em 1 dia eu produzia 1 chinelo, agora produzo 10. Em contrapartida, em 1 dia eu produzia 1 tênis, agora produzo 2. Logo 1 tênis = 5 chinelos; isso é mais barato, pois, embora para comprar um tênis eu precise de 5 chinelos, é necessário apenas a metade da quantidade de trabalho para comprá-lo. Assim, a aquisição é duas vezes mais fácil que antes. A partir do momento em que a apropriação de terra e a acumulação de capitais foram introduzidas, o trabalhador passou a ser impossibilitado de desfrutar do produto integral de seu trabalho. No momento em que a terra se torna propriedade privada, o dono da terra exige uma parte de quase toda a produção que o trabalhador pode cultivar ou colher da terra. Sua renda é a primeira dedução do produto do trabalho empregado na terra. O lucro é a segunda dedução do produto do trabalho empregado na terra, pois, raramente a pessoa que cultiva a terra tem recursos para se manter até o momento da colheita. Assim, o patrão/ dono da terra lhe dá um emprego e adianta ao trabalhador sua manutenção. Em todos os ofícios e manufaturas, a maior parte dos trabalhos tem necessidade de um patrão que lhes adiante o material de trabalho, salários e manutenção, até completar o trabalho. O lucro do patrão vem da partilha do produto do trabalho dos empregados. Existem, apesar de em pouca quantidade, os trabalhadores autônomos, que tem capital suficiente tanto para comprar os materiais para seu trabalho, como para manter-se até completá-lo. É ao mesmo tempo patrão e operário. Desfruta sozinho do produto integral de seu trabalho, ou seja, do valor integral que seu trabalho acrescenta aos materiais por ele processados. Esse valor inclui duas rendas distintas: O lucro do capital e os salários do trabalho. Os trabalhadores desejam ganhar o máximo possível e os patrões pagar o mínimo possível. Então, os trabalhadores e patrões se associam, cada um em suas respectivas classes sociais, para defender seus interesses. Os patrões por serem menos numerosos, podem associar-se com maior facilidade. Além disso, a lei autoriza ou pelo menos não proíbe os patrões de se associarem, ao passo que proíbe os trabalhadores. Também, não há leis do parlamento que proíbam os patrões de combinar uma redução dos salários: Muitas são, porém as leis do parlamento que proíbem associações para aumentar os salários. Parece que em comparação aos trabalhadores, os patrões se reúnem muito pouco, mas isso se deve ao fato de que as reuniões e combinações desses, sempre são conduzidas sob o máximo silêncio e sigilo, que perdura até o momento da execução. Os trabalhadores por vezes aceitam, por vezes reagem, decidindo elevar o preço de seu trabalho sob o pretexto do alto valor dos mantimentos ou dos altos lucros que os patrões auferem de seus trabalhos. Em alguns casos, para resolver os impasses com rapidez os trabalhadores utilizam da violência, e como retaliação, os patrões agem da mesma forma, contando com a intervenção e ajuda das autoridades, visando o cumprimento das leis estabelecidas com tanto rigor contra as associações dos serviçais, trabalhadores e diaristas. Existe uma determinada taxa abaixo do qual parece impossível reduzir por longo tempo os salários normais, mesmo se tratando do tipo de trabalho menos qualificado. O homem precisa viver do seu trabalho, e seu salário deve ser suficiente, no mínimo, para a sua manutenção. Sr. Cantillon supõe que os trabalhadores comuns, da mais baixa qualificação, devem em toda parte ganhar no mínimo o dobro do que é necessário para se manterem, a fim de que possam criar dois filhos (calculava-se que a metade das crianças nascidas morria antes de chegar a maioridade). Uma circunstância possibilita aos trabalhadores elevarem seus salários acima da taxa normal: Quando a demanda de pessoas que vivem de salários aumenta a cada ano, provocando uma escassez na mão de obra e uma concorrência entre os patrões que disputam entre si para conseguir operários. Para isso, os fundos destinados ao pagamento de salários têm que aumentar também. Esses fundos são de dois tipos: A renda que vai além do necessário para a manutenção ou o excedente do cabedal necessário para os respectivos patrões manterem seu negócio. (Proprietário de terras possui uma renda maior do que a necessária para manter sua família, então empregará o excedente para manter mais empregados domésticos e um trabalhador autônomo, possui mais capital do que o necessário para comprar material e para manter-se até vender seu produto: empregará diaristas, a fim de conseguir lucro com o tralho delas). Porém, isso só é possível pois, ao passo que a demanda por trabalhadores cresce, está aumentando a renda e o capital de um país, ou seja, a riqueza nacional. A demanda de assalariados naturalmente aumenta com o crescimento da riqueza nacional, sendo simplesmente impossível quando isso não ocorre. Não é a extensão efetiva da riqueza nacional, mas seu incremento contínuo que provoca uma elevação dos salários do trabalho. Não é, portanto, nos países mais ricos, mas nos países mais progressistas, ou seja, naqueles que estão se tornando mais ricos com maior rapidez, que os salários são os mais altos. A remuneração real do trabalho é diferente do salário em dinheiro; A primeira é a quantidade real de bens necessários e confortos materiais que o salário pode assegurar ao trabalhador. Cereais, batatas, nabos, entre outros dos quais o pobre obtém uma variedade razoável e saudável, se tornaram mais baratos. Isso se deve aos grandes aperfeiçoamentos em todas as áreas: Agricultura, têxtil, metais, etc. Também, a queixa comum de que o supérfluo se estende até as camadas mais baixas do povo, e de que o trabalhador pobre atualmente não se contentará mais com a mesma comida, a mesma roupa e alojamento que o satisfazia em tempos anteriores, pode convencer-nos de que o aumento não foi somente no preço da mão de obra em dinheiro, mas também na sua remuneração real. Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz, se a grande maioria de seus membros forem pobres e miseráveis. Mulher pobre procria muito mais que a mulher rica. Entretanto, embora a pobreza não evite a procriação, é extremamente desfavorável à educação dos filhos. Além disso, a mortalidade é alta e se encontra principalmente entre as crianças do povo comum, cujos pais não dispõem dos recursos para cuidar delas como as pessoas de melhor condição social. Em uma sociedade civilizada, é somente entre as camadas inferiores da população que a escassez de gêneros alimentícios pode estabelecer limites para a posterior multiplicação da espécie humana. A remuneração generosa do trabalho significaum aumento da riqueza nacional e consequentemente um aumento da demanda da mão de obra. Pagando ao trabalhador uma remuneração generosa, ele pode procriar mais e cuidar melhor de seus filhos, fazendo com que esses filhos atendam a demanda por mão de obra. Se a remuneração for inferior, há carência de mão de obra; se ela for muito alta, há excesso. Assim, o mercado acusará uma falta tão grande de mão de obra em um caso, e uma saturação tão grande em outro, que logo o preço da mão de obra será forçado a posicionar-se na taxa adequada exigida pelas circunstâncias da sociedade. É dessa forma que a necessidade de mão de obra, como a de qualquer outra mercadoria, necessariamente regula a produção, apressa-a quando é muito lenta, e a faz parar quando avança com excessiva rapidez. Por conseguinte, assim como a remuneração generosa do trabalho é o efeito da riqueza crescente, da mesma forma é a causa do aumento da população. Merece ser observado que a condição dos trabalhadores pobres parece ser a mais feliz e a mais tranquila no estado de progresso (em que a sociedade avança para maior riqueza), e não no estado em que já conseguiu sua plena riqueza. Meios de subsistência abundantes aumentam a força física do trabalhador; onde os salários são mais altos, sempre veremos os empregados trabalhando mais ativamente. Os empregados quando bem pagos por peça fazem mais horas extras e isso os prejudicam, pois esgotam-se mais rápido ao longo de sua vida. A pessoa que trabalha com moderação e constantemente, preserva sua saúde ao máximo e executa a quantidade máxima de serviço, por isso, para Smith, muitas vezes os patrões deveriam moderar o trabalho de seus empregados ao invés de estimulá-los; seria mais vantajoso. Em anos de preços baixos os operários são geralmente mais ociosos, e nos anos de preços altos, são mais laboriosos. Isso porque: Em anos de abundância (preços baixos) > empregados abandonam o patrão para se tornarem autônomos e os preços baixos dos mantimentos aumentam os fundos destinados a manutenção de empregados > patrões empregam mais > demanda por mão de obra aumenta > preço da mão de obra encarece. Em anos de escassez > todos voltam a procurar serviço > porém os preços estão altos e isso faz com que os fundos destinados á manutenção dos empregados diminuam > patrões diminuem o número de empregados > número de trabalhadores é maior do que o número de vagas > preço da mão de obra barateia. Em decorrer disso, Adam Smith diz que os patrões na maioria das vezes fazem melhor os negócios com seus empregados em anos de preços altos (pois como muita gente está procurando emprego, quem conseguir dar mais valor, ser mais humilde, fiel e trabalhar melhor). explicação do capítulo 8 em aula Quer discutir as determinações dos salários do trabalho; Smith vai jogando ideias do que determina salário, mas quando a gente olha, é difícil ver uma coerência no capítulo. Nesse capítulo, o Smith deixa claro que ele já está tratando de uma economia capitalista, ou seja, ele abandona um pouco aquela ideia de produtores independentes vendendo excedentes do seu trabalho sobre seu consumo; está falando de uma economia que tem capitalistas, máquinas, matéria prima, emprega o trabalhador, e em troca disso fica uma parte do produto do trabalho e, paga salários. Ele vai deixar bem claro que há um conflito de interesses entre capitalistas e trabalhadores. O trabalhador quer trabalhar o mínimo possível e ganhar o máximo possível, e o capitalista quer fazer com que o trabalhador trabalhe o máximo possível ganhando o mínimo possível. Essas duas categorias de pessoas se unem pra tentar valer seus interesses, porém na maior parte das vezes os capitalistas são bem sucedidos, por que são poucos, conseguem se reunir discretamente, tem acordos pra reduzir salários, etc. Já para os trabalhadores, os sindicatos eram proibidos. Smith diz que apesar das tentativas de se reduzir os salários dos trabalhadores, existia um mínimo abaixo do qual o salário não deveria cair: é o salário de subsistência. Existe um conflito na literatura, pois alguns acreditam que esse salário de subsistência seja o mesmo que o salário natural, ex: David Ricardo. Outros falam que não, até por que no capítulo 7, Smith diz que o salário natural vai depender se a economia cresce, etc, eles acham que o salário natural é aquele que fica acima ou abaixo desse nível de subsistência. Não há um consenso na literatura sobre isso. De toda forma, esse salário é um que tem que ser suficiente para o trabalhador manter sua família e criar pelo menos dois filho até a idade adulta para substituir pai e mãe; é aquele salário que vai manter a população constante a longo prazo e a força de trabalho também. Mas nem sempre isso acontece. Quando há crescimento econômico, quando você quer contratar a cada ciclo mais gente para trabalhar nas fábricas, você começa a competir pela mão de obra e, esse conluio existente entre os capitalistas se desfaz; vão competir pelos trabalhadores o que vai levar á um aumento dos salários. Então, quando a demanda por trabalha fica acima da oferta de trabalho, esse salário vai ficar acima do salário de subsistência. Importante: Quem demanda trabalho é o empregador, e quem oferta trabalho é o trabalhador. Acumulação de capital e crescimento econômico: Smith fala que renda e lucro são excedentes, e você só tem como empregar pessoas se você tem excedentes o suficiente. Quando falamos de crescimento econômico e demanda de trabalho, geralmente isso está associado á lucro. Crescimento econômico -> você produz o produto, uma parte fica com o trabalhador e outra com o capitalista. O que fica para o capitalista, uma parte irá para seu consumo e a outra será reaplicada na sua produção; quando você usa uma parte do excedente como capital, você está usando isso para contratar novos trabalhadores para aumentar a produção do período subsequente. Então, acumulação de capital é uma parte do lucro/excedente que vai ser convertido em aumento de produção e, portanto, isso vai resultar em uma demanda por trabalhadores. E mais, quando eu falo de acumulação de capital eu não estou falando de uma única vez, mas de um processo onde repetidamente, partes do excedente estão sendo reaplicados na produção. Quando isso ocorre, o nível de produção e riqueza deste país está aumentando. Se não há acumulação de capital, se toda a renda for consumida, o país fica estagnado. Agora se você consome mais que o excedente, a riqueza deste país vai declinar. Sobre a disputa pela mão de obra existente, o Smith trata o trabalho como uma mercadoria; você tem a demanda e a oferta de trabalho, e você tem impactos da demanda e oferta sobre o preço, que é o salário do trabalho. Aqui fica muito claro que o trabalho já está numa categoria de mercadoria, que vai ser influenciada pela oferta e demanda e seus preços vão subir e descer de acordo com isso.
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