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0 UNIVERSIDADE CEUMA PRÓ REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA CASSANDRA CRISTINA TAVARES LIMA A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE INSTITUCIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR São Luís 2017 1 CASSANDRA CRISTINA TAVARES LIMA A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE INSTITUCIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade CEUMA, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Psicologia. Orientador: Prof. Dr. Sandro Eduardo Rodrigues São Luís 2017 2 CASSANDRA CRISTINA TAVARES LIMA A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE INSTITUCIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Aprovado em: ____/____ /______ BANCA AVALIADORA ______________________________________ Prof. Dr. Sandro Eduardo Rodrigues Orientador _______________________________________ 1º Avaliador _______________________________________ 2° Avaliador 3 A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE INSTITUCIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Cassandra Cristina Tavares Lima 1 Sandro Eduardo Rodrigues 2 RESUMO O presente trabalho aborda a análise institucional como uma das possíveis vertentes de atuação do psicólogo, dentro do contexto escolar. Para tanto, buscamos concepções teóricas sobre instituição, instituição escolar, a atuação do psicólogo no contexto escolar e a Análise Institucional, consoantes às concepções de René Lourau, George Lapassade e Félix Guattari. A análise de implicações tornou-se o foco central da pesquisa no percurso do trabalho. A pesquisa foi uma revisão bibliográfica qualitativa, na qual utilizou-se o método cartográfico para a sua organização. Os resultados da pesquisa evidenciaram a ligação da implicação com a pesquisa-intervenção como o processo em que o pesquisador não pode evitar e em que o pesquisador ocupa um lugar privilegiado para analisar as relações de poder, inclusive as que o perpassam. Quanto à atuação do psicólogo como analista institucional, dentro do contexto escolar, faz-se necessário que pesquisas sejam produzidas com o intuito de se obter fundamentos teóricos que elucidem as dificuldades deste profissional neste contexto, quando interveem, dentro da instituição escolar, em situações-problemas que perpassam o ensino-aprendizagem. Palavras-Chave: Instituição. Instituição Escolar. Atuação do Psicólogo Escolar. Análise Institucional. Análise de Implicação. ABSTRACT The present study addresses institutional analysis as one of the possible aspects of the psychologist's performance within the school matter. For this, we pursue theoretical conceptions about institution, school institution, the psychologist's conduct 1 Graduanda do curso de Psicologia, da Universidade CEUMA. E-mail: ccristinalima@yahoo.com.br 2 Orientador, Prof. Doutor Docente do curso de Psicologia da Universidade Ceuma. E-mail: digitalamerindio@gmail.com. 4 in the school context and the Institutional Analysis according to the conceptions of René Lourau, George Lapassade and Felix Guattari. The analysis of implication has became the central focus of the research in the course of this work. The research was a qualitative bibliographical review, in which the cartographic method was used for its organization. The results inquired highlighted the association between implication and research-intervention as the process in which, the researcher may not avert and where the researcher fill an advantageous place to evaluate power relations, including those that pervade him. As for the role of the psychologist as an institutional analyst within the school context, more surveys on the subject are required in order to obtain theoretical foundations that elucidate the difficulties faced by this professionals in this context when they intercede within the school, as an institution, in situations-problems that pervade the teaching-learning. Keywords: Institution. School institution. Performance of the School Psychologist. Institutional Analysis. Analysis of Implication. 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica que teve como objetivo analisar as possíveis contribuições da Análise Institucional (A.I.) para o trabalho do psicólogo inserido no contexto escolar. A atuação dos psicólogos como Analistas Institucionais, ainda é vista como algo desconhecido e, por vezes, incompreendido pelos atores centrais das instituições em que atuam. As possibilidades de suas atuações, como um processo de melhoramento do desenvolvimento institucional, ainda constituem temas de debates, principalmente, por aqueles que, supostamente, devem zelar pelo bem estar da instituição. Quando mencionamos a Psicologia, no âmbito escolar, num primeiro momento, relacionamos o conhecimento desta ciência com os conhecimentos educativos, onde as ações do profissional devem desenvolver-se, prioritariamente, nas relações “professor-aluno” e “aluno-professor”. Desse modo, se mostra importante um estudo que ostente a atuação do psicólogo, dentro desse contexto, na posição de Analista Institucional, não significando que nessa posição não possa intervir em situações-problemas que envolvam o ensino-aprendizagem. 5 Ainda nesse encandeamento de ideias, Martinez (2010), esclarece que o psicólogo, dentro da instituição escolar, além de abranger a dimensão psicoeducativa, modalidade de intervenção em grupo com o mesmo problema, tem a função de abranger a dimensão psicossocial, que envolve o convívio social do grupo. Assim, com o intuito de fundamentar teoricamente a atuação do psicólogo quando se propõe a intervenções no coletivo, neste estudo, dá-se relevância aos princípios básicos dos conceitos da Análise Institucional de René Laurau e George Lapassade, assim como, recorre-se às articulações das concepções sobre instituição, instituição escolar e a atuação do psicólogo na escola. Desse modo, para a compreensão acerca desse tema, fez-se necessário a disseminação de instituição, não como edificações, mas como “instâncias do saber que permitem, a todo tempo, recompor as relações sociais” (PEREIRA 2007, p. 11). De esclarecimentos sobre, a instituição escolar por ser uma instância modeladora e transformadora, a atuação do psicólogo no meio escolar e a implicação, concepção da Análise Institucional, que interliga o pesquisador ao campo como sustento da pesquisa-intervenção. Desta forma, o presente trabalho propõe apresentar a atuação do psicólogo, dentro do contexto escolar, e as relações de aceitação e adversidades encontradas ao se propor a intervir nas situações-problemas, apresentadas durante sua atuação. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Quando se pensa em instituição, somos remetidos a estruturas organizacionais, construções, edifícios ou algo concreto. No entanto, a concepção que aqui será explanada se relacionará às noções deste termo envolto no ato de se instituir. De acordo com Pereira (2007), o ato de se instituir é uma condição humana que se apresenta como uma regra presente no transcurso de se tornar civilizado. E destaca, ainda, que é essa condição que nos difere dos demais animais, pois por não obedecermos integralmente aos instintos, ultrapassamos e rompemos a barreira dos instintos naturais para adquirimos cultura que, segundo a 6 contribuição da psicanálise freudiana, “é um esforço humano para lançar pontes sobre o abismo” (PEREIRA, 2007, p. 12). Ressaltando que esta “ponte sobre o abismo” é quando o ser humano produz a partir do instante que lhe falta algo essencial, por isso há uma necessidade de construir instituições com o desejo de constituir uma harmonia mínima entre os seresfalantes, como uma condição de não sentir-se abandonado, desprotegido ou inseguro com acontecimentos não esperados, satisfazendo assim o que lhes são desejados. No entanto, quando a instituição não oferta o que é ansiado pelos seres, esta se desestrutura, perde o sentido para a qual foi instituída, tornando-se um meio de destruição da liberdade democrática (PEREIRA, 2007). Para Bock, Furtado e Teixeira (2009, p. 223), instituição é um valor ou regra social, “que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas em geral. A instituição é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações sociais”. Como se pode identificar, o termo instituição abrange diversos sentidos em diferentes campos de conhecimentos. No chamado movimento institucionalista, esse termo se esclarece a partir de alguns movimentos históricos que fundamentaram e orientaram seu desenvolvimento. Esses movimentos são citados por Guizardi, Lopes e Cunha (2015) como o movimento da psicoterapia institucional que, durante a ocupação alemã na França, em 1940, alguns médicos, começaram a questionar e transformar as formas opressivas das relações que eram estabelecidas com os pacientes psiquiátricos nos asilos, ingressando novas práticas às técnicas de trabalho de psicoterapia grupal, novas atitudes nas relações “cuidados” e “cuidadores”. Baseando-se nestas experiências, nos anos de 1950, se começou a repensar o termo instituição, não apenas como um estabelecimento no sentido de construção ou organização, mas, como uma teia de relações existentes no interior de um estabelecimento, passando a ser vista como objeto de análise. Posteriormente, em 1960, o campo da Educação ratifica o conceito de instituição, quando coloca que a relação institucional não é algo estagnado e, sim, algo que engloba uma relação de ideias que contrapõem outras ideias (GUIZARDI; LOPES; CUNHA, 2015). Desta forma, estreitando as perspectivas de instituição e educação, temos que, historicamente, a educação sempre existiu. Coimbra (1989) afirma que outrora 7 não era necessário ter uma instituição específica para que a educação fosse exercida, citando como exemplo, quando os mais velhos transmitiam aos mais novos os seus saberes através de histórias, contos, tradições, que eram passados de pais para filhos, crendices e experiências vividas em seu cotidiano. Portanto, nesse sentido, todos os adultos estavam envolvidos no processo de educação, sempre tendo algo a ensinar e esta era de inteira responsabilidade destes. Porém, foi a partir da Idade Média, na Europa, a educação tornou-se um produto, pois foi nessa época que um grupo de pessoas, principalmente as religiosas, se fundamentaram na “transmissão do saber”. Vale salientar que, somente a burguesia tinha o direito de frequentar este ambiente de aprendizagem que tinha como prioridade, propagar a cultura aristocrática e conhecimentos religiosos (COIMBRA, 1989). No entanto, Bock, Furtado e Teixeira (2009) indicam que só se teve concepção de escola como instituição, no formato que conhecemos atualmente, a partir do século XII. Com o desenvolvimento industrial, houve a necessidade de uma universalização, onde saber ler, escrever e contar era uma chance de sobrevivência devido a maior possibilidade de contratação, abrindo, portanto, espaço para a classe menos favorecida dentro da instituição escolar. Por outro lado, quando a classe burguesa notou um empoderamento da classe baixa, a burguesia, incutiu na instituição as ações de “socializar” e “educar”, com o propósito de formar “bons” cidadãos e manter os trabalhadores disciplinados. Com isso, não muito diferente dos dias atuais, a instituição escolar foi concebida com funções de impor os valores, normas e hábitos da classe dominante, mostrando sutilmente o seu lugar na sociedade, conforme a sua classe social de origem. Assim, Coimbra (1989, p. 15) afirma que: a instituição escolar passa a ser a peça fundamental para o desenvolvimento e fortalecimento do capitalismo. Consideram a Escola como Aparelho Ideológico de Estado, pois é o instrumento número um da burguesia, visto difundir a sua visão de mundo e de vida. Aliados a este aparelho, temos outros que o complementam e reforçam: a família e os meios de comunicação, principalmente. Com estes respaldos, a autora reafirma que a escola sempre existiu para atender determinados objetivos. E que ao lado de informações científicas e “mesmo embutidas nelas”, estão regras a serem seguidas à risca do que é bom ou mal, do que é certo e do que é errado. São ensinados, como se sempre tivesse existido, a 8 submissão à ordem estabelecida, a hierarquia de poder, o medo da autoridade, tornando-os normais (COIMBRA, 1989). Vale mencionar que, conforme Gallo (2008), a educação tem se valido de mecanismos de controle como justificativa para a formação e informações do aluno. E que, na instituição escolar, há sempre uma ordem implícita que traz consigo a marca do exercício do poder, que devem ser atendidos, absorvidos e perpassados por todos os segmentos da instituição de forma hierárquica, ou seja, “quem tem mais poder, manda mais”. Segundo Ana Bock, Odair Furtado e Maria Teixeira (2008), a escola é uma das mais importantes instituições sociais, por fazer mediação entre o indivíduo e a sociedade, tornando-se responsável pela transmissão de modelos sociais de comportamentos, além de transmitir conhecimentos gerais. Nessa instituição, irrompe um campo profuso de demandas para a intervenção psicológica. De acordo com os autores supracitados, é no cotidiano escolar que o indivíduo adquire conhecimento para a vida e se prepara para enfrentar problemas na sociedade. São nas instituições escolares que estão mais presentes os problemas de aprendizagem, que tem proveniência de situações vivenciadas pelos membros desta, fora da instituição, ou seja, problemas vivenciados pelos indivíduos, na comunidade, estão influenciando o baixo rendimento escolar. Assim como, também, não se pode excluir situações que tem a sua eclosão dentro do próprio meio escolar (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Nessa forma institucionalizada de educação, Martínez (2010) expõe que os processos educacionais acontecem em diferentes âmbitos e de várias formas, tendo um lugar privilegiado nos principais processos educativos intencionais que, juntamente com outros, integram a educação como prática social. As contribuições da Psicologia e articulação desta com a educação expandem múltiplas demandas, tornando a escola um ambiente congruente para a inserção do psicólogo. Ao caracterizarmos a atuação do psicólogo dentro da instituição escolar, esta se diferencia dos outros profissionais que, neste contexto, são instituídos por lei. Segundo Andaló (1984), este profissional, o psicólogo, ainda é pouco valorizado e até mesmo considerado como dispensável nestas instituições. No entanto, mesmo a atuação do psicólogo na instituição escolar sendo um tema de constantes reflexões, até mesmo pelos próprios profissionais, outros profissionais do sistema educativo, em diferentes graus da instituição, como 9 gestores, pedagogos, professores e outros, estão se juntando à debates e questionamentos sobre a importância do psicólogo na escola (MARTINEZ, 2010) Assim, segundo Almeida (2001), as funções do psicólogo e sua formação, dentro do âmbito escolar, encontram-se em constante investigação. Os frequentes questionamentos levantados englobam a atuação do psicólogo no processo de ensino-aprendizagem, a delimitação do profissional a intervir na complexidade dos problemas encontrados neste contexto, e questões referentes às relações que envolvem os papéis individuais desenvolvidos pelos professores e alunos. Referindo-se a identidade do psicólogo escolar, Almeida (2001) aponta que existe uma consonância entre os relatos de diversos pesquisadores daárea em pontuar a existência de um déficit na relação teoria psicológica e prática que precisa ser aprimorado, tanto na academia, quanto na sua atuação, já como profissional dentro da instituição escolar. Almeida (2001, p 45) enfatiza que: As práticas psicológicas não atendem às necessidades e demandas da escola, dos alunos e suas famílias, inseridos em um contexto sociocultural que passa por inúmeros problemas e transformações neste fim de século e início de um novo milênio. A mesma autora ainda acrescenta que tal situação evidencia-se no contexto escolar porque no Brasil ainda predomina o modelo clínico de atuação do psicólogo, levando o profissional a oscilar entre o modelo clínico intencionado à cura de carácter terapêutico e o modelo preventivo que visa à resolução de situações- problema que interferem no processo educacional e pedagógico. Considerando o que foi citado acima, em seus estudos, Martinez (2010) classifica a forma de atuação do psicólogo no contexto escolar em dois grupos: os tradicionais, que circundam a intervenção consolidada na avaliação, diagnóstico, atendimento e encaminhamento de alunos com dificuldades escolares; e as emergentes, envolvendo uma caracterização que abrange todo funcionamento da escola como instituição, como diagnósticos, análise e intervenção em nível institucional, especialmente no que diz respeito à subjetividade social da escola, visando delinear estratégias de trabalho favorecedoras das mudanças necessárias para a otimização do processo educativo. Na perspectiva emergente, Miranda (2013) descreve que, nos últimos anos, a Psicologia Educacional/Escolar vem outorgando uma diferenciada concepção sobre a prática dos profissionais da Psicologia na instituição escolar, onde desconstrói que este só possa exercer a prática individualizante e 10 psicologizante. Proporcionando assim, uma separação da prática tradicional do atendimento clínico e almejando uma intervenção que abranja o coletivo. Miranda (2013) ainda contextualiza que esta nova perspectiva, sobre o profissional da Psicologia, na instituição escolar, atenda as demandas peculiares concedendo-nos uma amplitude de possibilidades de intervenção englobando fatores que vão além do “aluno-problema”. Portanto, para Martinez (2010), a atuação do profissional da Psicologia e sua efetivação como componente indispensável na instituição escolar estão, gradativamente, tornando-se esclarecedores dentro do sistema educacional. E, esse processo positivo, está se constituindo em decorrência da mudança do espaço de atuação tradicional e construção de um modelo mais amplo com mudanças significativas para corresponder às diversas demandas do sistema educativo. Gradativamente, o núcleo escolar, privado ou público, está solicitando a presença de psicólogos em suas instituições, com o objetivo de desempenhar sua função, tanto com os discentes, docentes e coordenadores pedagógicos, quanto com a comunidade envolvida com a escola (MARTÍNEZ, 2010). Assim, a atuação do psicólogo na instituição escolar se constitui pela junção do seu objetivo em contribuir com o aprimoramento dos processos educativos que acontecem na instituição de uma forma ampla pelos múltiplos fatores que nelas intervém e, segundo Martinez (2010), pelo locus de atuação, constituído pelas diferentes instâncias do sistema educativo. Desta forma, consoante ao que foi exposto acima, dentro deste contexto, a Análise Institucional (AI) ou Socioanálise, que, de acordo com Rossi e Passos (2014), tem influenciado muitos movimentos no Brasil, tendo seus conceitos utilizados e revisados nas atuações práticas em saúde coletiva à clínica psi. Em conformidade com Guirado (2009), Análise Institucional é o nome dado a uma forma específica de compreender as relações sociais, o conceito de instituição e a inserção do profissional da psicologia, por empenhar-se em revelar as concepções tidas como verdade com as novas formas de estar no mundo. Deste modo, Sônia Altoé (2004, p. 122) relata que: Quando surge uma crise na família ou no grupo em que você vive, no prédio, bairro ou cidade onde mora, no local em que trabalha ou ao qual vai para se divertir ou fazer esporte, onde pratica atividades religiosas ou políticas, no estabelecimento em que é professor ou aluno, na associação da qual é membro etc., pode-se dizer que estão reunidas as condições para uma análise institucional. 11 Certificamos, portanto, que uma crise coletiva, independentemente de qual instituição ela esteja inserida, é condição suficiente para a realização de uma AI. E que, esta análise, é uma das propensões do institucionalismo mais divulgadas em nosso país e que teve seu rudimento com práticas microssociais relativas à psicoterapia, à intervenção psicossociológica e à Pedagogia (LAPASSADE, 2006). Dentro dessas três linhas constitutivas da Análise Institucional, Rossi e Passos (2014) ligam a primeira à saúde mental relacionando-a às práticas da Psicoterapia Institucional que tiveram suas primeiras experiências no hospital psiquiátrico, durante a Segunda Guerra Mundial. Destaca-se nessa linha, Félix Guattari, que desenvolveu conceitos importantes como “analisador” e “transversalidade” após a década de 50. A segunda linha é atribuída à Pedagogia Institucional, que a partir de experiências com Pedagogia Libertária fomentou o exercício de questionamentos às práticas da educação, vigentes no início do século XX – nomes como René Lourau e Georges Lapassade são destacados –. A terceira é a Psicossociologia que trouxe, da França, técnicas de grupos que estavam sendo gestadas por pesquisadores dos Estados Unidos, para atuações no pós guerra. Perpassando esses dados históricos, Lapassade (2006) menciona que a Análise Institucional conjectura que a relação social sobrevém em três níveis: o do grupo, que é a sustentação da vida humana; o da organização, que determina regulamentos e regimentos; e o último nível, o do Estado, que é a instituição propriamente dita, algo instituído. Nesse sentido, a Análise Institucional trata-se de uma ação que se apropria da investigação fundamentada no coletivo, tendo como papel dentro da organização: pesquisar, questionar, averiguar histórias, observar a estrutura e funcionamento, tal como, atentar para práticas e agentes grupais (PEREIRA, 2007). O intuito da Socioanálise, que segundo Romagnoli (2014) é o nome também dado à Análise Institucional de René Lourau e George Lapassade, é ir além das discussões das relações no interior dos grupos, favorecendo análises críticas, problematizando as formas tradicionais de construção de conhecimento e propondo a noção de pesquisa-intervenção. Pensando nessa problematização, que a socioanálise propõe, consideramos as noções institucionalistas de Implicação, Transversalidade e Analisador. 12 Implicação, de acordo com Guizardi, Lopes e Cunha (2015, p. 329), “é a relação que os indivíduos desenvolvem com as instituições”. Que o fato de estarmos ingressos em uma instituição, consequentemente, estamos implicados com a mesma, pois, mesmo que não saibamos, essas implicações têm efeito sobre nós. Segundo Altoé (2004, 82), a A.I não se limita a mencionar somente implicação, ela também estabelece a análise de implicação que se estabelece nos escândalos da Análise Institucional. Esta ainda esclarece que: A implicação deseja pôr fim às ilusões e imposturas, da “neutralidade” analítica, herdadas da psicanálise e, de modo mais geral de um cientificismo ultrapassado, esquecido de que, para o “novo espírito científico”, o observador já está implicado no campo da observação, de que sua intervenção modifica o objeto de estudo, transforma-o. Mesmo quando esquece, o analista é sempre, pelo simples fato de sua presença, um elemento do campo. Por conseguinte, Rodrigues (2016) escreve que, quando estamos implicados, temos que ter o compromissode analisar a instituição, tal como nos colocarmos em análise, questionando as nossas próprias certezas, onde quer queira ou não, está-se implicado. Não se trata de uma questão de vontade de estar implicado e sim uma questão de que o simples ato de nos relacionarmos com as diversas instituições que nos envolvem, nos torna sujeitos às implicações. Nessa perspectiva, passa-se a falar de implicações para uma análise de implicações. Além do mais, Altoé (2004, p. 247) discorre que o termo implicação foi destinado a A.I para introduzir, dentro deste contexto, os “conceitos freudianos de transferência e contratransferência às situações coletivas, aumentando a sua abrangência”. E que a implicação, no que lhe concerne, deve ser observada, ponderada de forma individual e coletiva, o que supõe que esta análise seja uma atividade intensa e, por muitas vezes, penosa. Independentemente de a análise ser uma incumbência nada passiva, a implicação apresenta uma dificuldade, que segundo Altoé (2004, p.191) “se encontra camuflada pela sobreimplicação” e esta última, por sua vez, apresenta perspectivas extremamente passivas que podem ser configuradas como “submissão a ordens explícitas ou consignas implícitas da nova ordem econômica e social”. A sobreimplicação intervém na análise de implicação quando psicologizamos um campo de análise isolando-o, ou seja, sobreimplica um campo quando a relação com um objeto ocupa todo o espaço e esvazia os outros campos de implicações (ALTOÉ, 2004). 13 Em consonância com o que foi mencionado, até o presente momento, quando entramos em uma instituição escolar, como profissional da Psicologia, nos determinamos a intervenções que correspondem ao processo ensino-aprendizagem, ou nos acomodamos ao que nos é confortável por estarmos apoiados em experiências vividas. Paulon (2005) esclarece que o desafio dos institucionalistas é desmontar dicotomias “sujeito-objetos”, “teoria-prática”, opondo-se às formas rígidas de uma pesquisa. Para tanto, seja qual for o campo de inserção, a proposta institucionalista da implicação sustenta a pesquisa-intervenção, que será melhor esclarecida no percurso deste estudo. Outra concepção trazida pela A.I. é a transversalidade, que conforme Guattari (2004), é uma dimensão da ligação da análise e intervenção que ultrapassa os limites da interpessoalidade; e, para René Lourau (apud ALTOÉ, 2004), a descreve como o que vem transpassar a verticalidade do que lhes é próprio, do mesmo modo que ultrapassa a horizontalidade, não estando nem na dimensão de uma verticalidade pura ou de uma simples horizontalidade. Tem tendência a se realizar quando ocorre uma interlocução clara e igualitária entre os diferentes grupos e sentidos. O conceito de analisador, na Análise Institucional, é um acontecimento, algo que, ao irromper, de alguma forma traz à tona as questões problemas presentes dentro da instituição, podendo ser tanto um acontecimento que denuncia quanto um portador de mudanças que tem a capacidade de se explicar, de se auto resolver (GUATTARI, 2004). Ainda na A.I, para um melhor esclarecimento, faz-se necessário as concepções de instituído e instituinte, onde Altoé (2004) distingue o instituinte como a capacidade de inovação de mudança e o instituído são as ordens estabelecidas, valores enraizados, modo estabelecido de apresentação das organizações, tal como procedimentos usuais já previstos como a economia e a previsão social. Neste contexto, Pereira (2007, p.12), traz a trama dialética entre instituído, instituinte e institucionalização, apresentando-os como uma realidade inacabada, ao citar: O instituinte não deve ser pensado como força que resulta em instituído, mas como relação de forças permanentes, que comporta tanto o poder como as singularidades de resistência e produção de novos sentidos. Nas bordas do espaço instituído, debate-se o espaço instituinte, não previsível e inexato. Por isso, a instituição não pode ser compreendida somente como algo conservador, sem movimento contrário, face do instituído. O instituinte 14 sobrevive encoberto no seio de toda a instituição através de seu germe transformador, o desejo, iceberg no qual só vemos a ponta aguda, cuja parte submersa é uma potência energética. Uma das etapas em uma Análise Institucional é a análise de encomenda. Esta é um dos primeiros passos para a intervenção, pois é a partir dela que se gera a demanda. É através da análise de encomenda que se desenrola os pedidos de análise pela instituição. Altoé (2004) nos mostra que, na intervenção, ambas podem se apresentar ao mesmo tempo, no entanto a encomenda é a análise de um pedido feito pela organização e a demanda é o desdobramento problemático, no decorrer da análise da encomenda. As demandas não são apresentadas espontaneamente, geralmente as atitudes críticas as fazem parecer. Porém estas podem emergir, tanto no período da análise quanto antes destas, cabendo ao pesquisador, em sua observação, detectá- las e assim atuarem com a intervenção. Portanto, dentro desse contexto, Lapassade (2006) argumenta que a Análise Institucional, de um modo geral, é a maneira singular de entender as relações instituídas e trabalha-las ou intervir sobre elas na condição de psicólogo. 3 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA O presente estudo consistiu em uma pesquisa de revisão bibliográfica de abordagem qualitativa. Para nortear a elaboração da pesquisa foram utilizadas algumas pistas do método da cartografia, que vem ganhando espaço como prática de pesquisa intervenção. O pesquisador, nesta abordagem, não obedece a regras pré-definidas, no entanto, isso não significa que o trabalho não tenha uma direção, pois a cartografia traz, como direção metodológica, as pistas apresentadas no livro “Pistas do Método da Cartografia” (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015). Estas pistas, mais do que receitas sobre o passo a passo da pesquisa científica, servem como guia para ajudar o pesquisador a pensar os processos de produção de subjetividade, a partir de um referencial ético, estético e político, não se limitando aos compromissos com simplicidade e objetividade que permeiam a tradição hegemônica do fazer científico. A crítica ao objetivismo não deve, no entanto, conduzir o fazer científico ao subjetivismo, ao ecletismo, ou a qualquer falta de rigor metodológico. De acordo com 15 Passos e Barros (2015), a direção ético-política da pesquisa deve estar bem clara e ser seguida com bastante rigor, o que resulta de um processo de análise de implicações do pesquisador com a pesquisa, explicado mais adiante. Dentre as pistas apresentadas para utilização do cartógrafo, no presente trabalho, utilizamos a pista “a cartografia como método de pesquisa-intervenção”, na qual, Passos e Barros (2015) mencionam que todo conhecimento se produz em um campo de implicações. Ou seja, sempre estamos implicados no campo em que intervimos, o que impossibilita a realização de qualquer ideal de neutralidade do pesquisador. Produzir conhecimento é intervir na realidade e essa intervenção provoca certa desestabilização de objetos e sujeitos. Utilizamos também a pista “cartografia como dissolução do ponto de vista do observador”, onde Passos e Eirado (2015) afirmam que a direção metodológica da cartografia deve ser acompanhada de três ideias que, juntas com a ação e a pesquisa, tornam a direção mais esclarecedora. São elas, a implicação, a transversalidade e a dissolução do ponto de vista do observador. Os autores indicam a necessidade de conjurarmos o subjetivismo, afastando nossas crenças, desejos e interesses durante o percurso do processo da pesquisa, embora o pesquisador jamais se encontre neutro neste campo, pois, quer de modo voluntário ou involuntário, sempre estamos implicados no campo onde intervimos (mesmo quando abstemos de nos posicionar diante de algo, estamosinevitavelmente tomando posição, ainda que absenteísta). Podemos especificar que a dissolução é algo que liga o encontro do pesquisador com o campo da pesquisa aos planos, agenciamentos e intervenção que é a análise de implicações, onde esta análise tira-nos do senso comum ou do pessoal para alcançarmos elementos que nos sustentaram a dar continuidade à pesquisa ampliando o campo de conhecimento. Para Romagnoli (2014, p. 47) “para agir nas instituições é preciso trabalhar a partir do que nos une a elas, nossas implicações”, assim para alcançarmos a perspectiva metodológica da pesquisa-intervenção, necessitamos fazer a análise de nossas implicações. Seguindo as propostas destas pistas, obtivemos a coerência metodológica para abordar o tipo de intervenção realizada pelo psicólogo no contexto escolar, procedendo a uma análise de implicações, que se torna então um importante dispositivo metodológico para o presente trabalho. A inquietação que 16 precedeu a necessidade de uma análise de implicação partiu de uma experiência de estágio de Psicologia em intervenção institucional no contexto escolar, exigindo, assim, uma análise dos conflitos no campo com a dupla inscrição da autora do presente trabalho, que carregava consigo, à ocasião do estágio, uma identidade já constituída de profissional do campo da educação, tendo que se desconstruir em certas situações, por não atuar naquele ambiente no papel de pedagogia. Para lidar com os conflitos de identidade produzidos por essa dupla inscrição, recorreu-se a uma análise de implicações, no intuito de transcender o excesso de pessoalidade da experiência. Desta forma, a cartografia serviu para ajudar no mapeamento desta complexidade, permitindo à pesquisadora desarticular, no campo de pesquisa, as práticas, discursos instituídos e as relações que impediam a transformação das relações de trabalho e do processo ensino-aprendizagem no ambiente escolar. Assim, Romagnoli (2014), descreve que a cartografia é sempre uma pesquisa-intervenção, pois é impossível, ao entrarmos em contato com o objeto de estudo, não haver zonas de interferências e de indeterminações, que podem ou não gerar desestabilização. Deste modo, o resultado do processo nem sempre é como esperamos, pois existem inúmeros fatores do contexto institucional que influem em nossa compreensão, nossos afetos e decisões. O pesquisador precisa proceder a uma análise de suas implicações com o campo e o próprio processo de pesquisar. Vale ressaltar que, para estabelecer um embasamento teórico, fez-se necessário, a pesquisa em oito capítulos de livros, em dez artigos e um livro, subdivididos em referenciais teóricos sobre instituição, instituição escolar, atuação do psicólogo nesse contexto e Análise Institucional, produzidos no período de 2001 a 2015; esclarecendo que dois dos artigos, o de 1984 e 1989, serviram de referencial histórico. Buscamos na proposta da Análise Institucional, noções sobre análise de implicações, tendo como linha as concepções trazidas por autores como René Lourau, George Lapassade, Félix Guatari. Para tanto, fez-se buscas na biblioteca da Universidade CEUMA, Campus Renascença; consultas no Google Acadêmico; e nos bancos de dados Electronic Library Online – SciELO; e Periódicos Eletrônicos em Psicologia – PEPSIC. 17 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Este trabalho de pesquisa qualitativa, estruturada na metodologia da cartografia, voltou-se para a suma introdução às correntes institucionalistas, com o intuito de ampliar a visão da atuação do psicólogo dentro de uma instituição escolar. No decorrer do processo da pesquisa, pudemos observar que a atuação dos psicólogos, como Analistas Institucionais, é um percurso que segue o curso das análises de implicações que fluem em um determinado campo de pesquisa, onde o pesquisador precisa ver as implicações como lhes aparecem, baseado e respaldado por saberes teóricos. Para tais resultados, pudemos compreender que o termo instituição é amplamente utilizado com diferentes sentidos e em distintos campos de conhecimentos. Os argumentos de Pereira (2007), ao mencionar que o ser humano se institui por ser uma regra presente em qualquer transcurso civilizatório, o que os faz diferentes dos demais animais, é complementado pelo que é apresentado por Bock, Furtado e Teixeira (2009), ao esclarecerem que como a instituição é um corpo de regras e valores, a organização é a base concreta da sociedade. No entanto, o termo organização, ao qual mencionam, se apresenta de forma substantiva, onde nomeiam e dividem os grupos (local onde a instituição se realiza) em quadros que são reproduzidos no cotidiano pela sociedade, especificando-os em complexos organizacionais e pequenos estabelecimentos. O complexo organizacional pode ser uma igreja como a Católica, um Ministério como o Ministério da Educação, e o pequeno estabelecimento pode ser representado por uma escola pública regida pelo Ministério da Educação e mantida pelo Poder público municipal. Outro aspecto que nos levou a um aprofundamento teórico foi a compreensão de instituição escolar, onde os autores citados acima nos trazem que esta instituição, na atualidade, é uma das mais importantes da sociedade por fazer, assim como outras, uma mediação entre o indivíduo e a sociedade. Fez-se necessário buscar dados sobre o histórico e funções da instituição escolar, por esse motivo citamos Coimbra (1989) como uma das primeiras fontes mencionadas, nos dados obtidos na Scielo e mais completa sobre o assunto por nós encontrada. Assim, a mesma nos trouxe esclarecimentos de como a educação se 18 ramificou, transpondo de uma responsabilidade restrita de transmissão de conhecimentos de mulheres e mais velhos aos mais novos, para tornar-se uma instituição escolar, que segundo a mesma, passou a ser uma das peças fundamentais do capitalismo aliada à família e aos meios de comunicação que a reforçam, ratificando o que foi mencionado por Bock, Furtado e Teixeira (2009) ao citar que esta instituição serve como mediadora. O terceiro aspecto investigado refere-se à atuação do psicólogo no contexto escolar, onde obtivemos noções sobre sua atuação e as demandas que lhes eram atribuídas. Ao averiguamos textos que se direcionavam a tal assunto, percebemos que a atuação deste profissional, dentro desta instituição, está atrelada, em maior potência, a demandas referentes ao ensino-aprendizagem (ALMEIDA, 2001). No entanto, Miranda (2013) relata que a prática do psicólogo, dentro da instituição escolar, vem se ampliando, perpassando o que antes era somente atrelado à intervenção referente a processos que englobavam o ensinar e o aprender. Esta nova perspectiva leva o psicólogo a intervir em todo o âmbito dentro da instituição, envolvendo todos os setores e nas demandas provenientes de que qualquer situação que venham a interferir na boa relação dos indivíduos que compõem uma instituição. Assim, passamos para o próximo aspecto que é o psicólogo dentro de uma instituição escolar, como analista institucional. Encontramos concepções que serviram como bases fundamentais para o presente trabalho com Lourau (1993), Lapassade (2006), Felix Guattari (2004), que trabalham conceitos de analisador, transversalidade, instituído, instituinte e implicação. Os autores nos trazem a busca por eles em identificar os grupos sujeitados e grupos sujeitos, onde, respectivamente, o primeiro está relacionado com a estrutura de poder e o segundo com os processos instituintes. Dentre esses conceitos procedentes das correntes institucionalistas, nos deparamos de forma mais detalhada, em Altoé (2004), com a noção de análise de implicação que serviu de idealização e alicerce para fundamentar as inquietações sinalizadas em uma experiência, enquanto pesquisador, vivenciada por minha pessoa, em uma instituição escolar, no papelde estagiária em Psicologia. Além da autora, supramencionada, foram encontrados outros autores como Romagnoli (2014), Paulon (2005) que ratificaram o que foi citado por Altoé 19 (2004) sobre a análise de implicação e pesquisa-intervenção institucionalista, evidenciando as suas importâncias em um campo de pesquisa. Desta forma, os autores mencionados nos esclarecem a importância da implicação do pesquisador como dispositivo em um trabalho em campo, pois é a partir de sua subjetividade que as demandas irão adquirir sentindo. Este ainda ressalta que a implicação é um dispositivo de produção de conhecimento e de transformação. Para Altoé (2004), na Análise Institucional a implicação tem o propósito de, nas formas subjetiva e objetiva, instaurar uma dimensão de atravessamento transformando o campo, com a convicção de que “o observador já está implicado no campo de observação, de que sua intervenção modifica o objeto de estudo, transforma-o” (ALTOÉ, 2004, p 83). Em concordância com Altoé (2004), Romagnoli (2014), Paulon (2015), obtivemos a sintaxe do presente trabalho, ao corroborarmos a análise de implicações como estrutura metodológica principal desta pesquisa. Frisando que o fascínio da busca de aprimoramento sobre o assunto, despontou a partir de uma experiência vivenciada em um campo de estágio, onde o conceito de implicação eclodiu de forma concreta, proporcionando um deslumbramento que levou-nos a busca de uma investigação científica. Vale ressaltar que ao adentramos na essência da Análise Institucional, o conceito de implicação tornou-se uma das concepções que mais esclareceu a relação do estágio com a construção do presente trabalho. Lourau (1993 apud ALTOÉ, 2004), esquematicamente identificou cinco categorias, as quais, três nomeiam primárias e duas secundárias para os inúmeros aspectos a serem analisados no andamento de uma pesquisa. Essas implicações distinguem-se respectivamente em: 1) a implicação do pesquisador-praticante, onde o pesquisador está em contato com seu objeto de pesquisa-intervenção; 2) a implicação do pesquisador com o local ou organização onde se realiza a pesquisa e com os indivíduos de sua pertença; 3) implicações com as encomendas sociais e demandas sociais apresentadas ao pesquisador. As secundárias por sua vez englobam: 4) implicações com os modelos epistemológico, sociais, históricos; 5) e implicações com os meios nos quais a pesquisa será exposta, podendo ser escrita ou qualquer outro meio. 20 Conquanto, Paulon (2015), destaca que a análise de implicação só pode ser tomada como ferramenta fundamental da pesquisa-intervenção, precisa superar as concepções iniciais de neutralidade do pesquisador no campo, deixando de lado o sentido “positivista da ciência”. Deste modo, destaca-se o fato de que, a presente pesquisa não se trata de algo concluído, pois, enquanto pesquisador, cada vez que entramos em contato com o objeto de pesquisa, não estaremos implicados da mesma forma que estivemos a princípio, nos reconfigurando a cada intervenção. Com isso, faz-se necessário a continuação do processo de pesquisa, ampliando o conhecimento sobre o referido assunto, com o intuito de afunilarmos melhor as concepções aqui adquiridas. Referente aos materiais levantados para a produção dessa pesquisa, não encontramos artigos, na Scielo em nossa língua materna, que se referisse especificamente a atuação do psicólogo como analista institucional em uma instituição escolar, porém, é satisfatório o acervo sobre Análise Institucional, a atuação do psicólogo no contexto escolar, a instituição e instituição escolar. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer de todo o processo de elaboração deste trabalho, que despontou a partir de uma inquietação vivenciada como pesquisadora/estagiária no contexto escolar, na modalidade de estágio supervisionado, especializado em procedimentos de intervenção psicossocial, institucional e organizacional, teve-se como objetivo, analisar, através de uma pesquisa bibliográfica estruturada no método da cartografia, as possíveis contribuições da análise institucional para a atuação do psicólogo neste contexto. Com base na literatura revisada, tomamos conhecimento que a atuação do psicólogo, no contexto escolar com intervenções que transpassem o processo ensino-aprendizagem dentro da instituição, encontra-se em estágio emergente. Segundo Guirado (2009), cabe ao profissional da Psicologia, como analista institucional, averiguar as demandas de orientações, estar ciente de que seu principal método de estudo é a observação e que os primeiros contatos serão para levantamentos de hipóteses de possíveis problemas da instituição que no decorrer do processo poderão ser confirmadas ou não, cabendo a este, através do 21 embasamento científico, analisar os fenômenos humanos nas suas relações emocionais dentro da instituição. Assim, no percurso da pesquisa, assimilamos a importância da análise de implicação como um dispositivo de produção de conhecimento e transformação. A implicação proporciona o desenvolvimento da ação de intervir, pois é a partir da implicação do pesquisador, ao levá-lo a sua capacidade de dessubjetivar, que a intervenção ocorre. É notório que, no decorrer da pesquisa, o conceito de implicação tornou- se o foco central desta, pois a partir das concepções aqui adquiridas, obtivemos respostas para as inquietações conflitivas e angustiantes que surgiram no estágio. No entanto, vale ressaltar que o presente trabalho não se encontra concluso, pois quando se trata de pesquisa-intervenção, a implicação do pesquisador modifica-se cada vez que este entra em contato com o campo, proporcionando e transformando o conhecimento. Deste modo, almeja-se dar continuidade ao processo de pesquisa desse gênero, que abranja, especificamente, o contexto escolar, pois existe uma necessidade de uma precisão teórica, que proporcione ao leitor, esclarecimentos específicos sobre o assunto. Diante disso, esperamos ter contribuído com este breve estudo acadêmico, a respeito da atuação do psicólogo como Analista Institucional, no contexto escolar, para incentivar os psicólogos a pesquisas sobre o assunto, com o intuito de que os mesmos possam ter mais bagagem teórica sobre pesquisa- intervenção no contexto escolar. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Sandra Francesa Conte de. O psicólogo escolar e impasses da educação: implicações da(s) teoria(s) na atuação profissional. In: PRETTE, Zilda Aparecida Pereira Del (Org.). Psicologia escolar e educacional, saúde e qualidade de vida: Explorando fronteiras. Campinas/SP: Alínea, 2001. ALTOÉ, Sônia (Org.). René Lourau, Analista Institucional em tempo integral. São Paulo: Editora Hucitec, 2004. ANDALÓ, Carmem Silva de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicologia ciência e profissão. v. 4, n. 1. Brasília, 1984. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v4n1/09.pdf>. Acesso em: 22 set. 2016. 22 BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEXEIRA, Maria de Loudes Trassi. Psicologias: Uma introdução ao estudo de Psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. COIMBRA, Cecília Maria B..As funções da instituição escolar: Analise de reflexões. Psicologia ciência e profissão. v. 9, n. 3. Brasília, 1989. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v9n3/06.pdf>. Acesso em: 09 out. 2016. GALLO, Silvio. Deslocamento 4: Educação e Controle. In: GALLO, Silvio. Deleuze & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. GUATTARI, Félix. À transversalidade. 1964. In: GUATTARI, Félix. Psicanálise e transversalidade: ensaio de análise institucional. São Paulo: Ideias & Letras, 2004. GUIRADO, Marlene. Psicologia Institucional: O Exercício da Psicologia Como Instituição. Interação em Psicologia. Curitiba, jul./dez., 2009, v. 13, n. 2. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/psicologia/article/download/9447/11377>. Acesso em: 01set. 2016. GUIZARDI, Francini Lupe; LOPES, Márcia Raposo; CUNHA, Maria Luiza S. Contribuições do Movimento Institucionalista para o estudo de políticas públicas de saúde. In: MATTOS, R. A.; BAPTISTA, T. W. F. Caminhos para análise das políticas de saúde. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2015. LAPASSADE, Georges. IV. Análise Institucional (AI). In: LAPASSADE, Georges. As microssociologias. Brasília: Liber livro, 2006. MARTINEZ, Albertina Mitjáns. O que pode fazer um psicólogo na escola? Em aberto. Brasília, v. 23, n. 83, p. 39-56, mar. 2010. MIRANDA, Alex Barbosa Sobreira de. O trabalho do psicólogo na escola. Psicologado Artigos. Abril, 2013. Disponível em:< https://psicologado.com/atuacao/ psicologia-escolar/o-trabalho-do-psicologo-na-escola>.Acesso em: 29 set. 2016. PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana de (Orgs.). Pista do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. PASSOS, Eduardo; BARROS, Regina Benevides de. Pista 1 - A cartografia como método de pesquisa-intervenção. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana de (Orgs.). Pista do método da cartografia: pesquisa- intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. PASSOS, Eduardo; EIRADO, André. Pista 6 – Cartografar como dissolução do ponto de vista do observador. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana de (Orgs.). Pista do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. PAULON, Simone Mainieri. A análise de implicação como ferramenta na pesquisa- intervenção. Psicologia & Sociedade. v. 17, n. 3, Set./Dez., 2015, p. 18-25. 23 PEREIRA, William Cesar Castilho. Movimento institucionalista: principais abordagens. Estudos e pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro: UERJ, v. 7, n. 1, Abr./2007. RODRIGUES, Sandro. Modulações de sentidos na experiência psicodélica: saúde mental e gestão autônoma dos psicotrópicos prescritos e proscritos. Curitiba: CRV, 2016. ROMAGNOLI, Roberta Carvalho. O Conceito de implicação e a pesquisa- intervenção institucionalista. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Psicologia & Sociedade, 2014. ROSSI, André; PASSOS, Eduardo. Análise institucional: revisão conceitual e nuances da pesquisa-intervenção no Brasil. Revista Epos. Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, Jan.-Jun./2014. 24 ANEXOS 25 ANEXO I TCC - ENCAMINHAMENTO Aluna: Cassandra Cristina Tavares Lima CPD:12731 Orientador: Prof. Dr. Sandro Eduardo Rodrigues Título de Trabalho de Conclusão de Curso: A importância da Análise Institucional em uma Instituição Escolar À Coordenadoria do Curso de Psicologia, Tendo acompanhado a elaboração e examinado a versão final da monografia/TCC realizada, considero satisfatório o resultado da pesquisa e recomendo seu encaminhamento à banca examinadora. Atenciosamente, ______________________________ Assinatura do orientador Em: 24 de Maio de 2017 DIA E HORA DA DEFESA: 19 de Junho de 2017, das 8:00h às 12:00h 26 ANEXO II TCC – BANCA EXAMINADORA Aluna: Cassandra Cristina Tavares Lima CPD: 12731 Curso: Psicologia Orientador: Prof. Dr. Sandro Eduardo Rodrigues Título do Trabalho de Conclusão de Curso: A importância da Análise Institucional em uma Instituição Escolar Senhor Orientador, Ficam indicados os professores, abaixo listados, para sob a presidência de V.Sa., formarem a banca examinadora do TCC: 1. ___________________________________________________ 2. ___________________________________________________ Atenciosamente, ______________________________ Assinatura do (a) Coordenador (a) Em: 27 de Maio de 2017 DIA E HORA DA DEFESA: 19 de Junho de 2017, das 8:00h às 12:00h 27 ANEXO III ATA DE DEFESA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 1 IDENTIFICAÇÃO ALUNO: Cassandra Cristina Tavares Lima CPD: 12731 CURSO: Psicologia 2 TÍTULO DO TCC: A importância da Análise Institucional em uma instituição escolar 3 APRESENTAÇÃO DO TCC Data: 19/05/2017 Horário: de 08:00 às 12:00 horas. Tempo utilizado para apresentação: ______ minutos. Tempo utilizado para arguição: ______ minutos. 4 NOTAS ITEM NOTA MÁXIMA BANCA EXAMINADORA MÉDIA 1º 2º Conteúdo 3,0 pts Redação 2,0 pts Normalização 1,0 pt Exposição 2,0 pts Arguição 2,0 pts Total de Pontos 10,0 pts Ciência do aluno:________________________________________________ 5 JULGAMENTO FINAL APROVADO REPROVADO APROVAÇÃO CONDICIONADA DATA DA NOVA APRESENTAÇÃO: ____/______/______ RESPONSÁVEL PELA VERIFICAÇÃO: ___________________________________ 6 DATA: _____/ ______/20____. 7 ASSINATURAS BANCA EXAMINADORA: ASSINATURA Presidente: Membro: 28 ANEXO IV PARECER FINAL SOBRE O TCC COM APROVAÇÃO CONDICIONADA Aluna: Cassandra Cristina Tavares Lima CPD: 12731 Curso: Psicologia Título do Trabalho de Conclusão de Curso: A importância da Análise Institucional em uma Instituição Escolar Data da defesa: _____ / ______/ _________ Professor (a) responsável pela verificação: _________________________________ À Coordenadoria do Curso de Psicologia, Tendo examinado a versão corrigida do Trabalho de Conclusão de Curso acima, verifiquei que o (a) aluno (a) cumpriu integralmente as exigências feitas pela Banca Examinadora e que seu trabalho está apto a receber aprovação final. Atenciosamente, _________________________________________________________ Assinatura do (a) orientador (a) ou membro da banca responsável. Em ____de______________________de 20___ 29 ANEXO V FREQUÊNCIA NAS ORIENTAÇÕES DE TCC Nome do Aluno: Cassandra Cristina Tavares Lima CPD: 12731 N° Data Tarefa Apresentada pelo aluno Orientação para a semana Visto do Aluno Visto do Professor
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