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Introdução à Psicopedagogia Institucional e Clínica 02 1. Noções Básicas em Psicopedagogia 4 As Origens e Trajetória da Psicopedagogia 5 Conceituações, Influências e Contribuições 9 Seu Campo de Atuação 13 Suas Divisões – Clínica e Institucional 14 Psicopedagogia Clínica Enfocando a Hospitalar 16 Psicopedagogia Institucional Enfocando a Educacional 18 As Relações com as Demais Disciplinas 23 Os Eixos Norteadores da Psicopedagogia Institucional 25 2. Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia 29 Capítulo I - Dos Princípios 29 Capítulo II - Das Responsabilidades dos Psicopedagogos 30 Capítulo III - Das Relações com Outras Profissões 30 Capítulo IV - Do Sigilo 31 Parágrafo Único 31 Capítulo V - Das Publicações Científicas 31 Capítulo VI - Da Publicidade Profissional 32 Capítulo VII - Dos Honorários 32 Capítulo VIII - Das Relações com Saúde e Educação 32 Capítulo IX - Da Observância e Cumprimento do Código de Ética 32 Capítulo X - Das Disposições Gerais 32 3. Referências Bibliográficas 34 03 4 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA 1. Noções Básicas em Psicopedagogia á vamos entrando no campo da Psicopedagogia levantando al- guns questionamentos que perpas- sam pela ética, como por exemplo, o que o levou a cursar essa especiali- zação? Qual papel exerce na socie- dade? Quais seus objetivos? Onde quer chegar? Isto porque, queira- mos ou não, a escolha de uma pro- fissão vem sempre acompanhada de um código de ética direcionado ao exercício da atividade no meio am- biente social onde se vai atuar. Essas questões são de foro íntimo, não podemos responder por vocês, mas podemos trazer à tona al- gumas ideias que os levem a refletir e responder com toda sinceridade a que vieram. O campo da Psicopedagogia traz à tona o encontro com o prazer de trabalhar, de investigar, de aprender com os pacientes (alunos). Como diz Damasceno (s/d) é a busca criativa que nos leva a (des)apri- sionar a inteligência, a tirar a cria- tividade do casulo, a desprender-se, deixar solto o pensamento, o conhe- cer e o crescer, porque desperta a crença no ser humano. Justifica-se a necessidade do Psicopedagogo dentro da escola, le- vando em consideração que a maio- ria delas ainda não possui, em sua equipe pedagógica, um profissional J 5 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA que possa auxiliar a comunidade escolar, instrumentalizando-a teóri- ca e metodologicamente para aten- der a individualidade de cada edu- cando no processo de construção de seus conhecimentos. Pois bem, vamos analisar a im- portância da Psicopedagogia, a qual tem por objeto central de estudo o processo de aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) e especificamente, tentaremos de- monstrar que as dificuldades esco- lares não podem ser explicadas ape- nas por um fator, mas que podem si- tuar-se na criança, no meio familiar ou mesmo no meio escolar. As Origens e Trajetória da Psicopedagogia A psicopedagogia nasceu da necessidade de melhor compreen- são do processo de aprendizagem e se tornou uma área de estudo espe- cífica que busca conhecimento em outros campos e cria seu próprio ob- jeto de estudo, ocupando-se do pro- cesso de aprendizagem humana, seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio nesse processo (FERREIRA, 2006). Na literatura francesa que sempre influenciou as ideias sobre psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influenciou a prá- xis brasileira) – encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa que apre- senta algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a ori- gem dessas ideias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, funda- dor do primeiro centro médico psi- copedagógico na França, onde se percebeu as primeiras tentativas de articulação entre Medicina, Psicolo- gia, Psicanálise e Pedagogia, na solu- ção dos problemas de comporta- mento e de aprendizagem (BOSSA, 2000, p.37). Esses centros tentavam rea- daptar crianças com comportamen- tos socialmente inadequados na es- cola ou no lar e atendiam crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes. Esperava-se através desta união Psicologia – Psicanálise – Pe- dagogia, conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível com- preender o caso para determinar uma ação reeducadora, e, diferen- 6 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA ciar os que não aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial era uma das preocupações da época. Observa-se que a psicopeda- gogia teve uma trajetória significa- tiva tendo inicialmente um caráter médico-pedagógico dos quais fa- ziam parte da equipe do Centro Psi- copedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos. Ferreira (2006) nos conta que há alguns anos atrás, a falta de cla- reza a respeito dos problemas de aprendizagem, fazia com que os alu- nos com dificuldades fossem enca- minhados para profissionais de di- versas áreas de atuação, sem uma resolução eficiente dos problemas. Em primeiro momento, no pe- ríodo de Medicalização dos proble- mas de aprendizagem, estas crian- ças eram encaminhadas ao médico: pediatra e depois ao neurologista. Em segundo momento, deno- minado Psicologização dos proble- mas de aprendizagem, onde eram encaminhadas ao psicólogo, subme- tendo a criança a uma bateria de testes. Frente a estas situações, não se chegava a uma explicação clara sobre as dificuldades da criança, foi- se criando a consciência da necessi- dade de formação de um único pro- fissional apto a integrar conheci- mentos e para atuar de maneira ob- jetiva e eficaz, não só na resolução dos problemas escolares, mas tam- bém que atuasse na prevenção dos mesmos, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendiza- gem e o resgate do prazer de apren- der, melhorando assim, o desempe- nho escolar do aluno. Assim nasceu a Psicopedago- gia, cujo termo apresenta-se hoje com uma característica especial. De- vido a complexidade dos problemas de aprendizagem, a Psicopedagogia se apresenta com um caráter multi- disciplinar, que busca conhecimento em diversas outra áreas de conheci- mento, além da psicologia e da peda- gogia. É necessário ter noções de: Linguística, para explicar co- mo se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição da linguagem oral e escrita; Conhecimentos sobre o desen- volvimento neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; Conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece o entendimento sobre a visão do homem, seus relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem (Ferreira, 2006). Sobre a corrente europeia que influenciou significativamente a Ar- gentina, Bossa (2000) citando estu- 7 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA dos de Alícia Fernandez nos conta que a Psicopedagogia surgiu na Ar- gentina há mais de 40 anos e foi em Buenos Aires, sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicope- dagogia, portanto, foram nos anos 1970 que surgiram por lá, os Centros de Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Estes psicopedagogos perce- beram um ano após o tratamento, que os pacientes resolviam seus pro- blemas de aprendizagem, mas de- senvolviam distúrbios de personali- dade como deslocamento de sinto- ma. Resolveram então incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica, perfil atual do psicopedagogo argen- tino (BOSSA, 2000). Ao Brasil, a Psicopedagogiachegou na década de 1970, cujas dificuldades de aprendizagem nesta época eram associadas a uma dis- função neurológica denominada de Disfunção Cerebral Mínima (DCM) que virou moda neste período, ser- vindo para camuflar problemas só- cio-pedagógicos. Fora introduzida baseada nos modelos médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de aprendizagem que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de especialistas em Psi- copedagogia na Clínica Médico- Pedagógica de Porto Alegre, com a duração de dois anos (BOSSA, 2000, p. 48-52). De acordo com Visca apud Bo- ssa (2000, p. 21), a Psicopedagogia foi inicialmente uma ação subsidia- da da Medicina e da Psicologia, per- filando-se posteriormente como um conhecimento independente e com- plementar, possuída de um objeto de estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preven- tivos próprios. Com esta visão de uma forma- ção independente, porém comple- mentar destas duas áreas, o Brasil recebeu contribuições para o desen- volvimento da área psicopedagógi- ca, de profissionais argentinos tais como: Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge Visca, den- tre muitos outros. O professor argentino Jorge Visca, tido como um dos maiores contribuintes da difusão psicope- dagógica no Brasil, foi o criador da 8 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Epistemologia Convergente, linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da in- tegração de três linhas da Psicologia: 1. Escola de Genebra: Psicoge- nética de Piaget (já que ninguém po- de aprender além do que sua estru- tura cognitiva permite); 2. Escola Psicanalítica: Freud (já que dois sujeitos com igual nível cognitivo e distintos investimentos afetivos em relação a um objeto aprenderão de forma diferente); 3. Escola de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière: (pois se ocorresse uma paridade do cogniti- vo e afetivo em dois sujeitos de dis- tinta cultura, também suas aprendi- zagens em relação a um mesmo ob- jeto seriam diferentes, devido às in- fluências que sofreram por seus meios socioculturais). Assim, a análise do sujeito através de correntes distintas do pensamento psicológico concebeu uma proposta de diagnóstico, de processo corretor e de prevenção, dando origem ao método clínico psi- copedagógico, que influencia os pro- fissionais até o presente momento. “[...] Quando se fala de psico- pedagogia clínica, se está fazen- do referência a um método com o qual se tenta conduzir à aprendizagem e não a uma cor- rente teórica ou escola. Em con- cordância com o método clínico podem-se utilizar diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da epistemologia convergente (VISCA, 1987, p. 16 apud BOSSA, 2000).” A psicopedagogia tem sofrido influências de diversas correntes teóricas ao longo de sua existência. A partir da década de 1950/ 1960, no seu início, tinha uma visão médica, enfocando o problema que acontecia com o sujeito com relação à aprendizagem. Esta visão partia de uma abordagem neuropsicológica, uma vez que existindo um problema de aprendizagem, este deveria ser sanado investigando-se qual dificul- dade apresentada pelo sujeito, que ocasionava o fracasso escolar (SCHMID, 2006). Na década de 1960/1970, per- meou-se pela visão behaviorista, ou seja, parou de abordar as falhas e começou a trabalhar os condicio- namentos, avaliando o desempenho do sujeito. Na década de 1980, seu estudo começa a possuir uma visão social, dialética devido à influência da teo- ria de Vygotsky que considera rele- vante o meio social do sujeito para sua aprendizagem. Neste momento, surge o profissional psicopedago- go/educador interdisciplinar, que dá importância ao processo de aprendizagem. Começa-se a pensar porque este sujeito fracassa e não 9 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA mais como ele fracassa, levando-se em conta o meio social do sujeito. Já na década de 1990 até hoje, sua visão passou a ser de interdis- ciplinaridade, sofrendo influência da Psicolinguística, neurociências e sociologia. Segundo a Associação Brasi- leira de Psicopedagogia (ABPp, s/d) a Psicopedagogia no Brasil en- quanto área de atuação é sustentada por referenciais teóricos, isto é uma práxis psicopedagógica. É reconhe- cida academicamente através das produções científicas materializadas em teses, publica-ções e reuniões científicas organizadas pelo órgão de classe (ABPp) e por outros órgãos representados pelos profissionais e áreas afins. Diferentemente dos pri- mórdios do movimento educacio- nal preocupado em com-preender as razões do insucesso das crianças na escola, buscando apenas no aluno as respostas, a tendência contemporâ- nea é considerar o insucesso en- quanto sintoma social e não apenas como uma patologia do aluno. Hoje é inegável o reconheci- mento da contribuição social e cien- tífica da Psicopedagogia e dos Psico- pedagogos na realidade brasileira. Embora nossa referência seja a Psi- copedagogia, enquanto área de atua- ção preocupada com a questão da aprendizagem humana, sabemos que muitos são os estilos dos psico- pedagogos, pois cada um os constrói a partir de sua singularidade, a qual determina as diferentes opções pe- los modelos e referenciais teóricos. Entende-se que existe uma profunda relação e entrelaçamento entre os aspectos teóricos, a forma- ção e o modus operandi do profis- sional. Como não há uniformidade de modelos teóricos, não há uma única práxis psicopedagógica. O fundamental é desencadear a cons- ciência do compromisso na forma- ção profissional. É a formação con- tinuada que fundamenta a práxis psicopedagógica. Para que o tripé modelos teóricos/ formação/ modus operandi se sustente, hoje é preciso fazer uma distinção entre legitimi- dade e legalização. A legitimidade da Psicopedagogia enquanto práxis e do Psicopedagogo enquanto profis- sional, já foi alcançada. É preciso agora legalizar/oficializar através de leis o que já está legitimado (ABPP, s/d). Conceituações, Influências e Contribuições A Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe a in- tegrar, de modo coerente, conheci- mentos e princípios de diferentes ciências humanas com a meta de ad- quirir uma ampla compreensão so- bre os variados processos inerentes 10 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA ao aprender humano (BEAU- CLAIR, 2004). Enquanto área de conheci- mento multidisciplinar interessa a Psicopedagogia, compreender como ocorrem os processos de aprendi- zagem e entender as possíveis difi- culdades situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhe- cimento, tais com a Psicologia, a Psicanálise, a Filosofia, a Psicologia Transpessoal, a Pedagogia, a Neu- rologia, entre outros. A Psicopedagogia é um corpo de conhecimentos estruturada de diferentes maneiras. A seguir desta- camos algumas definições. De acordo com Alves e Bossa (2006) a Psicopedagogia é um cam- po no qual floresceu o conceito de sujeito autor, é uma área de estudo interdisciplinar que olha para o su- jeito como um todo no contexto no qual está inserido, que estuda os ca- minhos do sujeito que aprende e apreende, adquire, elabora, sabo- reia e transforma em saber o conhe- cimento. A concepção de sujeito au- tor como aquele que constrói seu pensamento se faz presente através de um “corpo” que sente, existe, ama e proclama sua liberdade de ser, de estar e viver no eterno presente, no eterno agora. Para Bossa (2000) a Psicope- dagogia é concebida com uma confi- guração clínica, ainda que sua práti- ca se dê em um enfoque preventivo e, esse caráter clínico significa levar em contaa singularidade do proces- so a ser investigado, recorrendo tan- to aos diagnósticos e intervenções que lhe são comuns no trabalho ins- titucional e clínico. Para a autora, o termo distingue-se em três conota- ções: 1. Como uma prática; 2. Como um campo de investiga- ção do ato de aprender e, 3. Como uma saber científico. A Psicopedagogia é entendida como uma área de aplicação que an- tecede o status de área de estudos, a qual tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definir o seu objeto de estudo e delimitar o seu campo de atuação. Segundo a mesma autora, a Psicopedagogia deve se ocupar do estudo da aprendizagem humana e, portanto, preocupar-se inicialmente com o processo de aprendizagem (como se aprende, como essa apren- dizagem varia evolutivamente e está condicionada por diversos fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las). Seu objeto de estudo é, por- tanto, um sujeito a ser estudado por outro sujeito. Esse estudo pode ser 11 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA através de um trabalho clínico ou preventivo. O primeiro se dá na relação entre um sujeito com sua história pessoal e sua modalidade de apren- dizagem buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implí- cita no não aprender. Nesse proces- so, investigador e objeto-sujeito interagem constantemente. No segundo, a instituição (es- paço físico e psíquico da aprendiza- gem) é objeto de estudos uma vez que são avaliados os processos didá- tico-metodológicos e a dinâmica ins- titucional que interferem no proces- so de aprendizagem. A psicopedagogia, hoje, é en- tendida num contexto de interdisci- plinaridade, sem, contudo, perder de vista que „os diferentes níveis de realidade são acessíveis ao conheci- mento humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em correspondência biunívoca com os níveis de realida- de [...] sem jamais difere-la comple- tamente (RUBINSTEIN, 1996, p.23). A mesma autora (1999) nos dá uma boa pista quando ressalta que a Psicopedagogia deve ser compreen- dida como uma práxis dinâmica, tanto em seu contexto interno, isto é, no interior da relação terapêuti- ca, no processo, nos recursos e nece- ssidades do paciente, como no con- texto externo, no sentido que as dife- rentes concepções teóricas que sus- tentam a prática estão muito relacio- nadas com o percurso acadêmico e com o contexto particular de forma- ção pessoal do profissional que exer- ce a função. Deste modo, a psicopedagogia é uma ciência que abre espaço para descobertas, investigações, que cria condições e viabiliza espaços para a troca e consequente expansão do co- nhecimento, que permite o inter- câmbio cultural das ciências que se reportam ao entendimento do su- jeito, que permite ao ser humano ser autor de seu pensamento, e que per- mite, portanto, a viagem e a intera- ção entre o velho e o novo, entre o tradicional e o moderno, entre o ideal e o real, entre o masculino e o feminino, entre o subjetivo e o ob- jetivo. É uma ciência capaz de unir, integrar, viabilizar, promover, por- tanto, é a ciência que se reporta ao ser aprendente, ao que dá ao ser humano a condição de constituir-se na aprendizagem e esse processo se dá desde o seu nascimento e per- petua até sua morte. A psicopedagogia lida com o processo de aprendizagem e traba- lha com a construção do ser cognos- cente, capaz de construir seu próprio conhecimento, isto é, a psicopeda- gogia, ao longo dos tempos, passou a objetivar a reconstrução, integração 12 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA e expansão do sujeito na construção de sua autonomia e o eu cognos- cente e sua relação com a aprendi- zagem (SCHMID, 2006). Pode auxiliar no enfrenta- mento da exclusão e na luta pela não exclusão através de pesquisas e pro- duções científicas, orientação e ação pontual sobre as situações já exis- tentes e prevenção tanto no grupo familiar, quanto escolar. Entre as possíveis ações, a Psi- copedagogia pode: Propiciar a reflexão na escola, auxiliá-la a repensar seus valo- res e crenças com relação à diver-sidade e à igualdade; Auxiliar os pais a pensarem sobre as dificuldades de seus filhos e perceberem se a insis- tência a respeito da inclusão não está atrelada à negação da dificuldade; Auxiliar a escola a encontrar saídas metodológicas e avalia- tivas não exclusivas; Divulgar uma proposta de tra- balho grupal, descentralizador do papel do professor; Divulgar o ensino pela pesqui- sa, para que todos possam par- ticipar, independente de suas dificuldades. Ela ainda possibilita uma no- va reflexão sobre o contexto socio- político e sobre a diferença na socie- dade, levando também a repensar sobre o papel do profissional da saú- de e da educação na questão da in- clusão. Junto à Educação tem como papel, instituir caminhos entre os opostos que liguam o saber e o não saber, o acesso ao conhecimento e a falta desse acesso, a facilidade e a dificuldade, a rapidez e a lentidão e outros opostos que possam se apre- sentar em um processo de apren- dizagem. Segundo Barbosa (2006) o campo que se esboça é vasto; olhar a diferença sem perder a dimensão da igualdade é um dos maiores desafios educacionais neste século. E en- quanto uma das áreas responsáveis pela aprendizagem, a psicopedago- gia tem muito a aprender e muito a contribuir. Segundo Moojen (1983), ao conceituarmos a Psicopedagogia, deveremos proceder com cautela, pois um conceito teórico deve aten- der a determinadas características, devendo ser: dinâmico, histórico, flexível e contextualizado. Diferen- temente do que ocorre na conceitua- lização apresentada pelo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Pois, segundo o dicionário, A Psicopeda- gogia é “a aplicação da psicologia ex- perimental à Pedagogia”. E, segundo a autora, esta definição é restrita pa- ra a ação Psicopedagógica, mas, que foi originada como um reflexo das 13 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA concepções iniciais da Psicopedago- gia na década de 1950 e de 1960. Esclarecendo ainda que mesmo com a falta de nitidez conceitual e de identificação do corpo teórico psico- pedagógico, encontra-se em nosso país, uma prática psicopedagógica bastante eficaz. Seu Campo de Atuação Sabendo que, na verdade, a Psicopedagogia situa-se em um campo que, ao atuar de forma pre- ventiva e terapêutica, posiciona-se para compreender os processos do desenvolvimento e das aprendiza- gens humanas, recorrendo a várias áreas e estratégias pedagógicas ob- jetivando se ocupar dos problemas que podem surgir nos processos de transmissão e apropriação dos co- nhecimentos (possíveis dificuldades e transtornos), o papel essencial do psicopedagogo vem a ser o de me- diador em todo esse movimento. Beauclair (2004) analisa que se for além da simples junção dos conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia, o psicopedagogo pode atuar em diferentes campos de ação, situando-se tanto na Saúde como na Educação, já que seu fazer visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana, que, afinal, ocorrem em todos os espaços e tempos sociais. A questão da aprendizagem é, então, uma questão central da psico- pedagogia, existindo milhões de teo- rias para diferenciá-la, mas que nun- ca será explicada totalmente, porque todos fazem parte da aprendizagem. Ela é processo, é vida, não é finito, ou melhor, só deixa-se de aprender quando morre, pois é esta a última aprendizagem (BEAUCLA-IR, 2004). Pensando assim, para Gaspa- rian (2006), nenhuma teoria de aprendizagem será abrangente para se trabalhar, então trabalha-se parte deste todo que pode representar o todo,mas não é o todo, porque o todo é muito mais do que a soma de suas partes. Uma situação é certa, o psico- pedagogo tem que trabalhar dentro das diferenças, entrar de cabeça dentro de um paradoxo que faz parte de nossa vida, por isso tem que ter muita reflexão. 14 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Suas Divisões – Clínica e Insti- tucional Partindo da premissa que a ciência Psicopedagogia apresenta um campo de atuação vasto, ao seu profissional cabe assumir com dis- cernimento e compromisso sua complexa tarefa e ainda, construí-la sob base sólida de formações teóri- co-práticas. Antes de seguirmos pa- ra os campos mais conhecidos de sua atuação, vamos discorrer um pouco sobre esse profissional: o Psi- copedagogo! Formado em cursos de pós- graduação ou especialização (curso regulamentado pelo MEC com carga horária mínima de 360 hs), esse pro- fissional reúne conhecimento de vá- rias áreas e estratégias pedagógicas e psicológicas que o possibilita vol- tar-se para o processo de desenvol- vimento e aprendizagem, atuando numa linha preventiva e/ou tera- pêutica. Sua contribuição na dinâmica escolar é muito importante. Sua ati- vidade caracteriza-se pelo aspecto interacional, ou seja, pode fazer par- te de uma equipe interdisciplinar atuando nas questões de discussão de problemática docente, discente e administrativa. Contribuirá das diversas for- mas, tendo em vista que o profissio- nal de Psicopedagogia tem bem cla- ro como se processa a evolução do pensamento (LIMA, 2003). Algumas de suas atuações pos- síveis: Assessorar e esclarecer a es- cola a respeito de diversos as- pectos do processo de ensino- aprendizagem; Esclarecer que as dificuldades de aprendizagem não têm co- mo causas apenas deficiências do aluno, mas como conse- quências de problemas escola- res advindos da organização da instituição, dos métodos de ensino; Ao trabalhar com conceitos e pré-requisitos para a aprendi- zagem, auxilia para que as si- tuações de ensino sejam orga- nizadas de acordo com o de- senvolvimento; Auxilia a determinar priorida- des com relação aos objetivos educacionais junto à equipe curricular. Ao considerar os problemas de aprendizagem do ponto de vista sis- têmico, evidencia-se a relevância pa- ra que o indivíduo possa ser traba- lhado no seu ambiente escolar, dei- xando assim que sejam encaminha- dos para serviços especiais os casos mais sérios, que necessitam de diagnóstico especializado e exames complementares. Nessa linha de pensamento atuará terapeuticamente na escola de modo a: 15 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Preparar o professor para rea- lização de atendimentos peda- gógicos individualizados, Auxiliar na compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver co- mo as demais técnicas podem intervir; Participar no diagnóstico dos distúrbios específicos da aprendizagem; Atender pequenos grupos de alunos. O Psicopedagogo preocupa-se fundamentalmente, com que as ex- periências de aprendizagem sejam prazerosas para o indivíduo e, sobre- tudo, que sejam estruturalizantes, isto é, que promovam o desenvolvi- mento das capacidades de Ego para lidar com o meio ambiente, numa linha de evolução o mais natural po- ssível (LIMA, 2003). Na sua função preventiva, ca- be ao psicopedagogo: Detectar possíveis perturba- ções no processo de aprendi- zagem; Participar da dinâmica das re- lações da comunidade educati- va afim de favorecer o proce- sso de integração e troca; Promover orientações meto- dológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; Realizar processo de orien- tação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. Segundo Macedo (1992), o psi- copedagogo no Brasil ocupa-se das seguintes atividades: Orientação de estudos: consiste em organizar a vida escolar da criança quando esta não sabe fazê-lo espontânea- mente. Procura-se promover o melhor uso do tempo, a ela- boração de uma agenda e tudo aquilo que é necessário ao “co- mo estudar” (como ler um tex- to, como escrever, como estu- dar para prova, etc.). Apropriação dos conteú- dos escolares: o psicopeda- gogo visa propiciar domínio de disciplinas escolares em que a criança não vem tendo um bom aproveitamento. Ele se diferencia do professor parti- cular, pois o conteúdo escolar é usado apenas como uma es- tratégia para ajudar e fornecer ao aluno o domínio de si pró- prio e as condições necessárias ao desenvolvimento cognitivo. 16 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Desenvolvimento do ra- ciocínio: trabalho feito com os processos de pensamento necessários ao ato de apren- der. Os jogos são muito utili- zados, pois são férteis no sen- tido de criarem um contexto de observação e diálogo sobre processos de pensar e de cons- truir o conhecimento. Este procedimento pode promover um desenvolvimento cognitivo maior do que aquele que as escolas costumar conseguir. Atendimento de crianças: A psicopedagogia se presta a atender deficientes mentais, autistas ou com comprometi- mentos orgânicos mais graves, podendo até substituir o tra- balho da escola. O campo de atuação passa ba- sicamente pela clínica que en- volve diagnóstico, avaliação e intervenção e pela prevenção. A distinção entre o trabalho clínico e o preventivo é funda- mental. O primeiro visa buscar os obstáculos e as causas para o problema de aprendizagem já instalado; e o segundo, es- tudar as condições evolutivas da aprendizagem apontando caminhos para um aprender mais eficiente. As áreas de estudo se tradu- zem na observação de dife- rentes dimensões no processo de aprendizagem: orgânico, cognitivo, emocional, social e pedagógico (posteriormente em outra apostila veremos em detalhes cada dimensão). “A interligação desses aspectos ajudará a construir uma visão gestáltica da pluricausalidade deste fenômeno, possibilitan- do uma abordagem global do sujeito em suas múltiplas fa- cetas” (WEISS, 1992, p. 22). Psicopedagogia Clínica Enfo- cando a Hospitalar A Psicopedagogia Clínica tem como missão retirar as pessoas de sua condição inadequada de apren- dizagem, dotando-as de sentimen- tos de alta auto- estima, fazendo-se perceber suas potencialidades, recu- perando desta forma, seus processos internos de apreensão de uma rea- lidade, nos aspectos: cognitivo, afe- tivo-emocional e de conteúdos aca- dêmicos. Segundo Schroeder e Macking (2006), cabe ao Psicopedagogo Clí- nico ou terapêutico as seguintes mi- ssões: Avaliar e diagnosticar as con- dições da aprendizagem, iden- tificando as áreas de compe- tência e de insucesso do apren- dente; de acordo com Bossa (2000, p.102), em geral, no diagnóstico clínico, além de entrevistas e anamnese, utili- zam-se provas psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível mental, provas peda- gógicas, provas de percepção, provas projetivas e outras, 17 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA conforme o referencial teórico adotado pelo profissional. Realizar devolutivas para os pais ou responsáveis, para a escola e para o aprendente; Atender o aprendente, estabe- lecendo um processo corretor psicopedagógico com o objeti- vo de superar as dificuldades encontradas na avaliação; Orientar os pais quanto às suas atitudes para com seus filhos, bem como professores para com seus alunos; Pesquisar e conhecer a etiolo- gia ou a patologia do apren- dente, com profundidade. O Psicopedagogo é um profis- sional que deverá ter conhecimentos multidisciplinares para usar na ava- liação diagnóstica, uma vez que é preciso estabelecer e interpretar da- dos em várias áreas, tais como: audi- tiva e visual, motora, intelectual, cognitiva, acadêmicae emocional. Este conhecimento favorecerá tam- bém a escolha da metodologia mais adequada para ajudar o aprendente a superar suas inadequações. Deve ainda pautar seu traba- lho clínico procurando escutar com sensibilidade, pois seu trabalho é de cunho investigatório, interventivo e contínuo, e assim, mobilizar ações que venham levantar hipóteses so- bre as possíveis causas que estão in- tervindo no processo de construção da aprendizagem. Os instrumentos utilizados nesta modalidade são: entrevistas com a família, entrevistas com o su- jeito, contato com a escola e com outros profissionais que venha com- plementar o diagnóstico e, por fim, a devolutiva, na qual o profissional so- licitado irá fazer uma síntese do pro- cesso que foi realizado, durante o período terapêutico, pontuando a necessidade ou não de encaminhar o aluno para um outro especialista (SANTOS et al, 2002). É preciso falar ainda que den- tro da psicopedagogia clínica, temos a modalidade hospitalar, local que também é uma instituição, pois o psicopedagogo poderá trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem, poderá também estar trabalhando com a equipe multidisciplinar dessa insti- tuição, tais como psicólogos, assis- tentes sociais, enfermeiros e mé- dicos. No ambiente hospitalar, o psi- copedagogo busca compreender o modo como se dá a construção do conhecimento e que fatores podem facilitar ou intervir nesse processo dentro do hospital. A aprendizagem irá ocorrer, embora intuitivamente, com todos que mantenham alguma ligação com a instituição hospitalar, uma vez que ela se dá a partir das relações de uns com os outros e com o ambiente em que estão inseridos, 18 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA onde as pessoas influenciam e são influenciadas ao mesmo tempo, nu- ma troca constante de experiências e saberes. Assim, o trabalho do psicope- dagogo no hospital não objetiva só o paciente, a criança ou adolescente em hospitalização, mas pode esten- der-se também às mães ou acompa- nhantes, aos funcionários, ao moto- rista da ambulância que vem do in- terior do Estado, ao vendedor ambu- lante da calçada, enfim, qualquer pessoa que faça parte, de alguma forma, do dia-a-dia do hospital. O psicopedagogo será o profis- sional que buscará compreender co- mo as pessoas constroem seu saber no ambiente hospitalar intervindo de forma a integrar o indivíduo ou o grupo a realidade da instituição e dela tirar algum proveito. Já Psicopedagogia em hospita- lização, refere-se especificamente ao paciente. No momento em que ele entra em contato com a realidade do hospital, passa a se relacionar com pessoas, objetos, vocabulários e sen- timentos novos, passando a fazer parte, interagir e se envolver com es- sa nova realidade, mesmo sem per- ceber. E se “aprender é estar com- pletamente envolvido naquilo, é es- tar presente,” como afirma Pedro Demo (2001, p. 50) em entrevista a revista NOVA ESCOLA, existe aí, sem dúvida alguma, um ambiente propício para a aprendizagem que, como sabemos, não se limita ao es- paço escolar ou a um determinado período da vida da criança e muitos menos depende da sua condição física. Psicopedagogia Institucional Enfocando a Educacional Institucionalmente, no am- biente escolar, o psicopedagogo po- de trabalhar prestando assessoria aos professores e demais educadores para que estes possam melhorar a qualidade de sua atuação, através de reflexões sobre questões pedagógi- cas e de novas alternativas de traba- lho, propiciando a análise de como acontece o processo de ensino- aprendizagem, frisando sempre a importância dos fatores orgânicos, cognitivos, afetivos/sociais e peda- gógicos, na construção do conheci- mento pelos indivíduos cognoscen- tes. Além disso, a sua função tam- bém perpassa a instalação de um cli- ma de cooperatividade entre todos os profissionais da escola, possibili- tando a participação destes, na cons- trução do Projeto Pedagógico, em discussões sobre situações e casos especiais ocorridos com os alunos. Segundo Gasparian (2006) deve ser parceiro da professora, en- trar na classe, construir junto com ela, detectar os nichos das crianças 19 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA rejeitadas, das crianças atentas, das desatentas, das que faltam, etc., en- fim, construir um perfil da classe. Ainda falando sobre a atuação do psicopedagogo na escola, esta também configura-se no atendimen- to aos alunos com problemas de aprendizagem já instalados (reali- zando atividades com grupos) bem como, na prevenção dos mesmos, buscando realizar um trabalho glo- bal junto aos alunos, através do de- senvolvimento do raciocínio e resga- te da autoestima, a fim de despertar o prazer e a vontade de aprender (SANTOS et al, 2002). Enfim, ele atua sempre no campo clínico-preventivo porque es- tá sempre interferindo no processo de ensino e aprendizagem, podendo trabalhar com formação continuada de professores, de reflexão sobre cu- rrículos e programas junto com a co- ordenação pedagógica, atuando jun- to com famílias e comunidade e com alunos com dificuldades de aprendi- zagem detectando fraturas neste processo. Caso o aluno precise de uma orientação mais específica ele de- verá diferenciá-lo para um trabalho individual (clínico), mas depois de verificar se o aluno tem ou não um comprometimento cognitivo ou se é apenas defasagem de conteúdo es- colar. É um trabalho complexo e re- quer do profissional sensibilidade para detectar essas dificuldades e as reais necessidades da escola. Já nas empresas, sua atuação é pautada em ajudar nas relações en- tre as pessoas, e destas com a empre- sa, percebendo que esta é parceira e não rival, ajudando na construção e aplicação da ética, da moral e da criatividade humana. Enfim, o psicopedagogo vai trabalhar a pessoa do professor, do gerente, o que ele tem de melhor, o aqui e agora, é um trabalho bem ges- táltico, é um trabalho de transfor- mação, que segundo Gasparian (2006) fará com que o professor não veja o seu aluno como inimigo, que o gerente não veja que o seu subor- dinado quer pegar o seu lugar, mas que se vejam como parceiros, sem- pre um trabalho de parceria. Esse profissional pode traba- lhar também com as classes de EJA. A partir da influência que exerce no âmbito da educação, o psi- copedagogo, portanto, precisa utili- zar seu papel articulador para auxi- liar no enfrentamento das dificulda- des que o processo de inclusão pode trazer. A escola regular ao oferecer o ensino fundamental tem como obje- tivo a educação da criança, esque- cendo-se que o adulto não teve aces- so à escola na idade certa e que se encontra à margem do conhecimen- to e do saber, necessitando, pois de 20 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA apoio pedagógico e psicopedagó- gico. Hoje, a inclusão dos jovens e adultos nos projetos de alfabetiza- ção tem nascido basicamente da exigência do mercado de trabalho, onde o ensino fundamental não sig- nifica somente acesso ao mesmo, mas principalmente permanência, para isto é indispensável que os di- versos setores da sociedade bus- quem inserir e possibilitar a perma- nência na escola, para que os cida- dãos possam participar ativamente da sociedade, da vida cidadã, cul- tural e política do seu país. Para Fernández (1994), quem não conhece morre para a vida, não existindo o conhecimento não há lu- gar para a sexualidade humana, para o trabalho, para a procriação de fi- lhos, de novos seres humanos que, reproduzindo os velhos, ressignifi- cam a história. No momento em que o ser hu- mano ressignifica sua aprendizagem no nível desejante, o papel da escola, do professor, do psicopedagogo e da sociedade, sãofundamentais princi- palmente por não ocultar ao apren- diz o caráter de sujeito pensante. Sobre sua metodologia de tra- balho, sabe-se que ele se torna mais completo se a família estiver inte- grada às relações do aprendiz com a psicopedagoga, mas no caso do aprendiz-adulto, se torna mais difí- cil, uma vez que pode existir um blo- queio em sua aprendizagem. Segundo Tfouni (1995), '”para que ocorra o letramento e alfabeti- zação, é necessário analisar a socie- dade letrada'”, isto é, na instituição de ensino superior e mesmo nas es- colas regulares, as práticas de leitura e escrita são práticas cotidianas, com grande estímulo visual, pois vive-se entre letras, símbolos e ima- gens, o que não ocorre, obviamente no ambiente comum das classes de EJA, assim, essas dificuldades de aprendizagem devem ser encaradas no mínimo com muita cautela e alguma desconfiança. Na mesma linha, temos Orlan- di (1987) quando diz que os conhe- cimentos não são compartilhados homogeneamente, mas sim distri- buídos socialmente, contribuindo para uma desigualdade visível. Portanto, metodologicamente, um diagnóstico bem aplicado e ana- lisado pelo psicopedagogo pode tra- zer uma situação presente, desde o real, como trampolim para investi- gar o lugar do paciente designado problema de aprendizagem, como depositário da enfermidade de todo o grupo familiar, como signo de um conjunto de vínculos alterados, co- mo porta-voz ou intérprete dos não ditos familiares, etc. (FERNÁNDEZ, 1991). 21 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Finalizando e baseando em Fernández (1994), que afirma ser a aprendizagem a apropriação, a re- construção do conhecimento do ou- tro, a partir do saber pessoal, as pa- tologias na aprendizagem, tanto in- dividual como social, correspondem a uma não coincidência entre o co- nhecimento e o saber, vindo, então o psicopedagogo tem a missão de ana- lisar os fatores inconscientes, pro- movendo uma intervenção re (cons- trutiva) sobre essas determinações inconscientes que permeiam o ensi- no-aprendizagem, abrindo espaços de liberdade humana, de pensar, de ser e de agir. O psicopedagogo atua de for- ma preventiva e terapêutica, posi- cionando-se para compreender os processos do desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorren- do a várias áreas e estratégias peda- gógicas objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir nos processos de transmissão e apro- priação dos conhecimentos (possí- veis dificuldades e transtornos) (BEAUCLAIR, 2004). De acordo com o Código Bra- sileiro de Ocupações (CBO) na ocu- pação de um Psicopedagogo são ne- cessárias algumas habilidades e competências tais como: Implantar e executar, Avaliar e coordenar a (re) con- strução do projeto pedagógico de escolas de educação infan- til, de ensino médio ou ensino profissionalizante com a equi- pe escolar. No desenvolvimento das ativi- dades, viabilizar o trabalho pe- dagógico coletivo e facilitar o processo comunicativo da co- munidade escolar e de asso- ciações a ela vinculadas. Atuar nas atividades de ensino nas esferas públicas e pri- vadas. São estatutários ou emprega- dos com carteira assinada; traba- lham tanto individualmente como em equipe interdisciplinar, com su- pervisão ocasional, em ambientes fechados e em horário diurno e no- turno. Em algumas atividades po- dem trabalhar sob pressão, levando- os à situação de estresse. O exercício dessas ocupações requer curso su- perior na área de educação ou áreas correlatas. O desempenho pleno das atividades ocorre após três ou qua- tro anos de exercício profissional (CBO, 2002). Numa instituição visa a forta- lecer-lhe a identidade, bem como buscar o resgate das raízes dessa ins- tituição, ao mesmo tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada no mo- mento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais deman- das da sociedade. 22 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Durante todo o processo edu- cativo, procura investir numa con- cepção de ensino-aprendizagem que: Fomente interações interpes- soais; Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem conside- rando integradamente as ba- gagens intelectual e moral; Estimule a postura transfor- madora de toda a comunidade educativa para, de fato, inovar a prática escolar; contextuali- zando-a; Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com significado relevante, de acordo com a demanda em questão; Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desen- volver mais o raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a estabelecer rela- ções entre os diversos conteú- dos trabalhados; Reforce a parceria entre escola e família; Lance as bases para a orienta- ção do aluno na construção de seu projeto de vida, com cla- reza de raciocínio e equilíbrio; Incentive a implementação de projetos que estimulem a au- tonomia de professores e alunos; Atue junto ao corpo docente para que se conscientize de sua posição de “eterno aprendiz”, de sua importância e envolvi- mento no processo de apren- dizagem, com ênfase na ava- liação do aluno, evitando me- canismos menores de seleção, que dirigem apenas ao vesti- bular e não à vida (BEAU- CLAIR, 2004). Nesse sentido, o material didá- tico adotado, após criteriosa análise, deve ser utilizado como orientador do trabalho do professor e nunca como o único recurso de sua atuação docente. Com certeza, se o profissional almejar contribuir para a evolução de um mundo que melhore as condi- ções de vida da maioria da huma- nidade, os alunos precisam ser capa- zes de olhar esse mundo real em que vivemos, interpretá-lo, decifrá-lo e nele ter condições de interferir com segurança e competência. Para tanto, juntamente com toda a Equipe Escolar, o Psicopeda- gogo estará mobilizado na constru- ção de um espaço concreto de ensi- no-aprendizagem, espaço este orientado pela visão de processo, através do qual todos os participan- tes se articulam e mobilizam na identificação dos pontos principais a serem intensificados e hierarquiza- dos, para que não haja ruptura da ação, e sim continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que definem e lutam por al- cançar (FERREIRA, 2006). 23 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Considerando a escola respon- sável por parcela significativa da for- mação do ser humano, o trabalho psicopedagógico na instituição esco- lar, chamada de psicopedagogia pre- ventiva, cumpre a importante fun- ção de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvi- mento cognitivo e a construção de normas de conduta inseridas num mais amplo projeto social, procu- rando afastar, contrabalançar a ne- cessidade de repressão. Assim, a escola, como media- dora no processo de socialização, vem a ser produto da sociedade em que o indivíduo vive e participa. Nela, o professor não apenas ensina, mas também aprende. Aprende con- teúdos, aprende a ensinar, a dialogar e liderar; aprende a ser cada vez mais um cidadão do mundo, coeren- te com sua época e seu papel de en- sinante, que é também aprendente. Agindo assim, a maioria das ques- tões poderão ser tratadas de forma preventiva, antes que se tornem ver- dadeiros problemas (DI SANTO, 2007). As Relações com as Demais Disciplinas A Psicopedagogia se relaciona com as mais diversas disciplinas, aqui, no entanto, falar-se-á daquelas que causam alguma confusão em termos de limites dos seus espaços de atuação e que mais interessam a esta revisão de literatura. Portanto, quando se trabalha na área das ciências humanas, é pre- ciso reconhecer que esta área é de extrema amplidão e complexidade. Em se tratando da Filosofia, ela está e sempre estevepor trás do trabalho psicopedagógico, pois não há como trabalhar o sujeito sem refletir sobre a condição humana, seja em seu âm- bito particular, seja em seu âmbito genérico. Assim, ao trabalhar na área clínica, é preciso sempre pensar so- bre quem é aquele sujeito que será atendido, quais são seus valores, quais são suas regras morais e éticas, quais são suas aspirações, para que assim o psicopedagogo possa tentar diferenciá-lo e, com isto, compre- ender seu modo de funcionamento e de absorção da realidade, da vida à sua volta. A filosofia é um campo de co- nhecimento que pode ser aplicado à psicopedagogia, desde que se tra- balhe especificamente com ele. A as- sociação da psicopedagogia com a fi- losofia enquanto forma de lidar com aspectos preventivos das dificulda- des de aprendizagem é muito relati- va; pois estão absolutamente entre- laçadas por princípio. O seu uso irá depender do Psicopedagogo que ma- nusear este tipo de relação, dando 24 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA maior ou menor ênfase aos concei- tos que deseje anunciar, analisar, usar como estímulo à reflexão. Nada impede que dentro do campo de trabalho, o psicopedagogo pesquise um determinado autor/fi- lósofo ou uma determinada linha de pensamento e associe tais pensa- mentos, conceitos e reflexões à prá- tica psicopedagógica. Em se tratando da Psicologia Escolar, existem três maneiras de diferenciá-la da Psicopedagogia: 1. Quanto à origem histórica, pois a Psicologia Escolar surgiu para explicar o fracasso escolar, enquanto a Psicopedagogia surgiu como um trabalho clínico dedicado e voltado para aqueles que apresentavam difi- culdades na aprendizagem por pro- blemas específicos; 2. Quanto à formação, uma vez que a Psicologia Escolar é uma espe- cialização do curso de graduação em Psicologia, enquanto o curso de Psi- copedagogia é um curso de especia- lização, que recebe graduados em di- versos cursos; 3. Quanto ao campo de atuação, onde encontra-se a diferença mais significativa. O trabalho da Psicolo- gia Escolar se realiza nos limites da Psicologia, enquanto o trabalho Psi- copedagógico se realiza na interface da Psicologia e da Pedagogia ou, mais recentemente, na interface da Psicanálise e da Pedagogia. Analisando sua relação com a psicanálise, esta relaciona-se à psi- copedagogia enquanto teoria que abrange a compreensão da dinâmica do aparelho psíquico e, em especial, do desenvolvimento emocional do sujeito. Deste modo, nos auxilia a compreender melhor o sujeito com o qual trabalhamos em psicopedago- gia, bem como as dificuldades que ele apresenta. A diferença existente entre Psicopedagogia e Psicanálise está em seu próprio objeto de trabalho: a Psicopedagogia trabalha com ques- tões relacionadas à aprendizagem, tanto no que diz respeito ao processo quanto ao que diz respeito às dificul- dades encontradas neste processo; tanto no que diz respeito ao sujeito quanto ao que diz respeito ao grupo ou à instituição. Para tanto, dispõe de uma série de técnicas e teorias próprias que lhe permitem analisar profundamente cada caso. A psicanálise, por sua vez, dis- põe não apenas da teoria como tam- bém de sua técnica específica, a qual é bastante peculiar e muito diferente da psicopedagógica. Além disto, a aprendizagem não é o seu foco prin- cipal de estudo ou de trabalho. Deste modo, poderia inferir que a Psicopedagogia está no lugar dos três, onde um mais um é igual a três. Portanto, ela não é uma disci- plina. Ela é interdisciplinar, ou seja, 25 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA está inter-relacionada com duas ou mais disciplinas, que transcende o espaço da subjetividade para ir ao encontro de muitas subjetividades/ disciplinas em diálogos que cami- nham na mesma direção. Os Eixos Norteadores da Psico- pedagogia Institucional Para Coll (1989) citado por Ferreira (2006) o amplo conjunto de tarefas e funções realizadas pelos profissionais que prestam assesso- ramento psicopedagógico às escolas, apesar de sua diversidade, pode ser organizado em torno de quatro eixos. 1. O primeiro relativo à natu- reza dos objetivos da intervenção, cujos polos caracterizam respectiva- mente as tarefas que se centram, prioritariamente no sujeito e aque- las que têm como finalidade incidir no contexto educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm como objetivo prioritário o atendimento a um aluno, quanto as que aparecem vinculadas a aspec- tos curriculares e organizacionais. 2. O segundo eixo afeta as mo- dalidades de intervenção, que po- dem ser consideradas como correti- vas, ou preventivas e enriquecedo- ras. Qualquer intervenção realizada na escola pode ser caracterizada, em um determinado momento, embora, em um momento posterior, sua con- sideração se modifique. 3. O terceiro eixo diferencia mo- delos de intervenção. Embora tenha como objetivo final o aluno, pode ter diferenças consideráveis: enquanto alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno, orientam- no e, inclusive, manejam tratamen- tos educacionais individualizados, outros combinam momentos de in- tervenção direta com intervenções indiretas, (por exemplo, no caso de uma avaliação psicopedagógica), centradas nos agentes educacionais que interagem com ele (no próprio processo de avaliação psicopedagó- gica, na tomada de decisões sobre o plano de trabalho mais adequado para esse aluno). São frequentes as consultas formuladas por um pro- fessor ao psicopedagogo em relação a um aluno que não vai manter ne- nhum contato direto com esse pro- fissional. 4. O quarto eixo indica o lugar preferencial de intervenção, que en- tende-se como a diversidade de ní- veis e contextos, inclusive quando circunscrita ao marco educacional escolar. Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas no nível de sala de aula, em algum subsistema den- tro da escola, na instituição em seu conjunto, ano, série, assim como aquelas que se dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, etc. 26 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA O fato que se deve considerar, concordando com Ferreira (2006) é que as tarefas que aparecem englo- badas nos eixos precedentes, objeto da intervenção psicopedagógica, não significa necessariamente que todos os psicopedagogos as executem em seu conjunto e, obviamente, não sig- nifica que as realizem da mesma forma. O amplo conjunto de tarefas, funções e possibilidades ao alcance do psicopedagogo educacional deixa no ar a vontade de ter em cada esco- la, um profissional deste calibre. In- felizmente as escolas, principalmen- te as públicas não contam em seu quadro de funcionários, nem mesmo para algumas horas na semana, com um profissional de tantas habili- dades como é o psicopedagogo. Pensamos que as escolas deve- riam se empenhar na contratação deste profissional, uma vez que res- peitando a forma e o ritmo próprio de cada educando, introduzindo propostas ricas e desafiadores, te- riam neste profissional um supor-te para transformar as dificuldades dos alunos em algo construtivo e pro- dutivo. Contudo, a Psicopedagogia não é uma terapia para as dificul- dades de aquisição dos códigos ou linguagens que permitem a produ- ção do conhecimento. Conhecimen- to esse que é um processo contínuo, de acordo com a filosofia da ciência, mas precisamos situar a psicopeda- gogia num patamar mais alto e en- tendê-la como uma área de estudos interdisciplinar, abrangendo dife- rentes outras áreas, além de perce- ber que seu campo de atuação está voltado para identificar as dificulda- des do educando no processo ensi- no-aprendizagem. Esperamos que tenham perce- bido que a formação desse profis- sional tem alguns pontos quedevem ser levantados: 1º. Precisa ter formação acadêmi- ca de nível superior, voltada para a área humana e direcionada para a educação; 2º. Seu objeto de atuação é a esco- la e a criança em processo de apren- dizagem; 3º. Deve conhecer este objeto de atuação de uma forma ampla, atra- vés das teorias de desenvolvimento e de aprendizagem e suas dificul- dades; 4º. Precisa ter conhecimento so- bre avaliação e recursos de atuação psicopedagógica, que possibilite ao profissional que trabalha na área, melhorar o desempenho acadêmico do aluno, como também, prevenir e remediar o fracasso escolar. Portanto, a regulamentação de sua profissão contribui para a per- cepção global do fato educativo, pa- 27 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA ra a compreensão satisfatória dos objetivos da Educação e da fina- lidade da escola, possibilitando uma ação transformadora (ROCHA, 2002). Ainda, é preciso salientar que a ação desse profissional jamais po- de ser isolada, mas integrada à ação da equipe escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só como espaço de aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio, de cultura, de valores, de pesquisa e experimentação, que pos- sibilitem a flexibilização de ativida- des docentes e discentes. Segundo Weiss (s/d apud Scoz et al,1987, p.76), [...] muitas vezes existem dificuldades no ler, escre- ver, calcular que não interferem na vida do sujeito, só transformando em sintoma, face a uma exigência ambiental. [...] ao se instrumenta- lizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente para o sig- nificado do sintoma a nível familiar e escolar, e não o veja apenas em um recorte artificial, como uma defi- ciência do sujeito a ser por ele trata- do. É essencial procurarmos o não dito, implícito existente no não aprender. Os profissionais da educação, precisam voltar seus olhares para a escola e ter uma visão íntegra da vi- são da aprendizagem e visão de mundo. E ao psicopedagogo insti- tucional, através de uma profunda e clara observação das dimensões que envolvem o diagnóstico de aprendi- zagem, o qual envolve presença e au- sência de saber, desenvolver seu papel. Finalmente, o diagnóstico, co- mo veremos na última apostila do curso, do ponto de vista do psico- pedagogo deve ser encarado como bússola que norteará sua interven- ção junto à escola, ao aluno, ao seu histórico familiar atual e passado, o sociocultural, o educacional, à supe- ração dos obstáculos surgidos e à construção de novos conheci- mentos. 2 8 29 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA 2. Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia eformulado pelo Conselho Na- cional e Nato do biênio 95/96. Capítulo I - Dos Princípios Artigo 1º - A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Edu- cação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus pa- drões normais e patológicos, consi- derando a influência do meio _ fa- mília, escola e sociedade _ no seu desenvolvimento, utilizando proce- dimentos próprios da psicopeda- gogia. Parágrafo único - A interven- ção psicopedagógica é sempre da or- dem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem. Artigo 2º - A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar. Utiliza re- cursos das várias áreas do conheci- mento humano para a compreensão do ato de aprender, no sentido onto- genético e filogenético, valendo-se de métodos e técnicas próprios. Artigo 3º - O trabalho psicopedagó- gico é de natureza clínica e institu- cional, de caráter preventivo e/ou remediativo. R 30 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA Artigo 4º - Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os pro- fissionais graduados em 3º grau, portadores de certificados de curso de Pós- Graduação de Psicopedago- gia, ministrado em estabelecimento de ensino oficial e/ou reconhecido, ou mediante direitos adquiridos, sendo indispensável submeter-se à supervisão e aconselhável trabalho de formação pessoal. Artigo 5º - O trabalho psicopedagó- gico tem como objetivo: (I) promo- ver a aprendizagem, garantindo o bem-estar das pessoas em atendi- mento profissional, devendo valer- se dos recursos disponíveis, incluin- do a relação interprofissional; (II) realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia. Capítulo II - Das Responsabili- dades dos Psicopedagogos Artigo 6º - São deveres fundamen- tais dos psicopedagogos: a. Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e téc- nicos que tratem o fenômeno da aprendizagem humana; b. Zelar pelo bom relacionamen- to com especialistas de outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo; c. Assumir somente as responsa- bilidades para as quais esteja prepa- rado dentro dos limites da compe- tência psicopedagógica; d. Colaborar com o progresso da Psicopedagogia; e. Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre que possível; f. Responsabilizar-se pelas ava- liações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara do seu diag- nóstico; g. Preservar a identidade, pare- cer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos; h. Responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes; i. Manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fun- damentais do psicopedagogo para a harmonia da classe e manutenção do conceito público. Capítulo III - Das Relações com Outras Profissões Artigo 7º - O psicopedagogo pro- curará manter e desenvolver boas relações com os componentes das diferentes categorias profissionais, observando, para este fim, o se- guinte: 31 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA a. Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhes são reser- vadas; b. Reconhecer os casos perten- centes aos demais campos de espe- cialização; encaminhando-os a pro- fissionais habilitados e qualificados para o atendimento. Capítulo IV - Do Sigilo Artigo 8º - O psicopedagogo está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do exercício de sua atividade. Parágrafo Único Não se entende como quebra de sigilo, informar sobre cliente a especialistas comprometidos com o atendimento. Artigo 9º - O psicopedagogo não revelará, como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exercí- cio de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor perante autorida- de competente. Artigo 10 - Os resultados de ava- liações só serão fornecidos a tercei- ros interessados, mediante concor- dância do próprio avaliado ou do seu representante legal. Artigo 11 - Os prontuários psicope- dagógicos são documentos sigilosos e a eles não será franqueado o acesso a pessoas estranhas ao caso. Capítulo V - Das Publicações Científicas Artigo 12 - Na publicação de traba- lhos científicos, deverão ser obser- vadas as seguintes normas: a. A discordância ou críticas de- verão ser dirigidas à matéria e não ao autor; b. Em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase aos autores, sendo de boa norma dar prioridade na enumera- ção dos colaboradores àquele que mais contribuir para a realização do trabalho; c. Em nenhum caso, o psicope- dagogo se prevalecerá da posição hierarquia para fazer publicar em seu nome exclusivo, trabalhos exe- cutados sob sua orientação; d. Em todo trabalho científico deve ser indicada a fonte bibliográ- 32 INTRODUÇÃOÀ PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA fica utilizada, bem como esclareci- das as ideias descobertas e ilustra- ções extraídas de cada autor. Capítulo VI - Da Publicidade Profissional Artigo 13 - O psicopedagogo ao promover publicamente a divulga- ção de seus serviços, deverá fazê-lo com exatidão e honestidade. Artigo 14 - O psicopedagogo poderá atuar como consultor científico em organizações que visem o lucro com venda de produtos, desde que bus- que sempre a qualidade dos mês- mos. Capítulo VII - Dos Honorários Artigo 15 - Os honorários deverão ser fixados com cuidado, a fim de que representem justa retribuição aos serviços prestados e devem ser contratados previamente. Capítulo VIII - Das Relações com Saúde e Educação Artigo 16 - O psicopedagogo deve participar e refletir com as autorida- des competentes sobre a organiza- ção, implantação e execução de pro- jetos de Educação e Saúde Pública relativo às questões psicopedagó- gicas. Capítulo IX - Da Observância e Cumprimento do Código de Ética Artigo 17 - Cabe ao psicopedagogo, por direito, e não por obrigação, seguir este código. Artigo 18 - Cabe ao Conselho Nacio- nal da ABPp orientar e zelar pela fiel observância dos princípios éticos da classe. Artigo 19 - O presente código só po- derá ser alterado por proposta do Conselho da ABPp e aprovado em Assembleia Geral. Capítulo X - Das Disposições Gerais Artigo 20 - O presente código de éti- ca entrou em vigor após sua aprova- ção em Assembleia Geral, realizada no V Encontro e II Congresso de Psi- copedagogia da ABPp em 12/07/ 1992, e sofreu a 1ª alteração propôs- ta pelo Congresso Nacional e Nato no biênio 95/96, sendo aprovado em 19/07/1996, na Assembleia Geral do III Congresso Brasileiro de Psico- pedagogia da ABPp, da qual resultou a presente solução. 33 INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA 34 3. Referências Bibliográficas ALVES, Maria Dolores Fortes; BOSSA, Nádia. Psicopedagogia: em busca do sujeito autor. Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/arti gos/artigo.asp?entrID=809> Acesso em: 23 jul. 2010. ARROYO, Miguel. Ofício de mestre: ima- gens e autoimagens. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICO- PEDAGOGIA. 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