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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba - CODEVASF Exercício 2019 28 de fevereiro de 2020 Controladoria-Geral da União - CGU Secretaria Federal de Controle Interno RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO Unidade Examinada: CODEVASF Município/UF: Monte Claros/Minas Gerais Ordem de Serviço: 201901151 Missão Promover o aperfeiçoamento e a transparência da Gestão Pública, a prevenção e o combate à corrupção, com participação social, por meio da avaliação e controle das políticas públicas e da qualidade do gasto. QUAL FOI O TRABALHO REALIZADO PELA CGU? O presente trabalho foi realizado na 1ª Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf/1ª Superintendência, para avaliação dos gastos realizados para aquisição de equipamentos e veículos com vistas à doação a beneficiários das comunidades localizadas em municípios da área de atuação da empresa. Foram avaliados seis procedimentos de compras, sendo quatro pregões eletrônicos, uma dispensa e uma adesão a Ata de Registro de Preços, os quais totalizaram montante de R$ 106.007.055,71. POR QUE A CGU REALIZOU ESSE TRABALHO? O trabalho realizado insere-se nas auditorias de avaliação constantes do plano operacional da CGU-R/MG e teve o objetivo de avaliar possíveis irregularidades relacionadas à existência de grande quantidade de máquinas e equipamentos em pátio da Codevasf, localizado em Nova Porteirinha, destinados a municípios, associações e comunidades rurais da sua área de jurisdição. QUAIS AS CONCLUSÕES ALCANÇADAS PELA CGU? QUAIS AS RECOMENDAÇÕES QUE DEVERÃO SER ADOTADAS? Verificou-se falhas de planejamento e de execução da Codevasf que têm propiciado a longa permanência em estoque de bens adquiridos por meio de emendas parlamentares, o que totalizou em junho de 2019, 1128 itens, avaliados em R$ 15.988.066,66. A Unidade tem adotado sistemáticas de contratação e de doação de bens que se mostraram inadequadas ao processo de execução de demandas parlamentares. A Codevasf deverá corrigir o fluxo dos procedimentos, utilizar-se mais da estratégia de entrega parcelada dos bens adquiridos por meio de sistema de registro de preços e deverá desempenhar papel proativo no processo de escolha de beneficiários por meio de elaboração de banco de projetos aptos a receberem recursos de emendas que sirva de subsídio para a definição dos parlamentares. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CGU – Controladoria-Geral da União CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba CNPJ - Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica TCU – Tribunal de Contas da União SRP – Sistema de Registro de Preços ARP – Ata de Registro de Preços PE – Pregão Eletrônico ME – Microempresa EPP – Empresa de Pequeno Porte GRA/UCB – Gerência regional de Administração/Unidade de Contabilidade SUMÁRIO QUAL FOI O TRABALHO REALIZADO PELA CGU? 3 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 4 SUMÁRIO 5 INTRODUÇÃO 7 RESULTADOS DOS EXAMES 8 1. Manutenção de bens em estoque por prolongados períodos gerando perdas de garantias e riscos de deterioração. 8 2. Existência em estoque de 648 reservatórios de água, avaliados em R$ 1.055.751,78 e realização de subsequentes procedimentos licitatórios para aquisição de bens idênticos antes da distribuição dos já existentes em estoque. 11 3. Inexistência de acompanhamento e fiscalização pela Codevasf dos bens após doação às entidades beneficiárias, gerando ociosidade e possibilitando a utilização em fins diversos aos aprovados pela empresa. 13 4. Participação incipiente da Codevasf no processo de escolha de ações e beneficiários para recebimento de recursos provenientes de emendas parlamentares. 14 5. Contratação em final de exercício com a consequente geração de saldo elevado em “Restos a Pagar”. 16 6. Aquisição de tratores a partir de ata do Pregão nº 31/2016 em detrimento da ata do Pregão 12/2017. 18 7. Restrições à competitividade na realização do Pregão nº 60/2018. 19 8. Irregularidades na execução do contrato de fornecimento de tratores agrícolas dentro da cota exclusiva para ME e EPP. 22 9. Atuação fraudulenta de empresas pertencentes a um mesmo grupo familiar com o intuito de burlar procedimento licitatório realizado pela Codevasf. 25 10. Indícios de utilização indevida do enquadramento como microempresa para usufruição de benefícios exclusivos previstos na Lei Complementar nº 123/2006 gerando vantagem econômica irregular na venda de equipamentos. 26 RECOMENDAÇÕES 27 6 CONCLUSÃO 29 ANEXOS 30 I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA. 30 II – PLANILHA RESUMO SOBRE OS PROCESSOS DE DOAÇÃO ANALISADOS 49 III – PLANILHA SOBRE OS PRAZOS PARA ENTREGA DOS BENS CONTRATADOS E PARA FINALIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE DOAÇÃO. 50 IV – ESPECIFICAÇÃO E VENCEDORES DOS ITENS DO PREGÃO 60/2018. 51 V – ATA DO PREGÃO 060/2018 COM OS RESPECTIVOS EVENTOS. 56 VI – INDÍCIOS E EVIDÊNCIAS DAS FRAUDES PRATICADAS PELAS EMPRESAS TRIAMA BD PEÇAS E SERVIÇOS AUTOMOTIVOS LTDA, CNPJ 11.078.678/0001-03, TRIAMA NORTE TRATORES IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS E MÁQUINAS LTDA, CNPJ 01.563.351/0001-73 E IMPLEMENTOS GUALTER LTDA, CNPJ 27.896.328/0001. 59 VII – INDÍCIOS DE ENQUADRAMENTO FRAUDULENTO COMO ME DA EMPRESA EMPORIUM CONSTRUTORA COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA - ME, CNPJ 05.163.253/0001-08. 62 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta o resultado dos exames realizados pela Controladoria- Geral da União - CGU na 1ª Superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF, situada no município de Montes Claros/MG, em virtude de possíveis irregularidades veiculadas na imprensa acerca do grande volume de máquinas e equipamentos agrícolas que estariam armazenados em terreno da unidade localizado na zona rural de Nova Porteirinha/MG, no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura do Gorutuba – 1ª/CIG. Diante das possíveis irregularidades, pretendeu-se analisar a sistemática de execução dos recursos públicos provenientes de emendas parlamentares que financiam as aquisições dos bens estocados em Nova Porteirinha para doação a associações e municípios da região, de modo a identificar problemas e gargalos e avaliar resultados do programa de governo onde as ações são executadas, o Programa Desenvolvimento Regional e Territorial. Neste contexto, o presente trabalho busca responder as seguintes questões de auditoria: a) A Codevasf mantém veículos, equipamentos e máquinas agrícolas, inclusive adquiridos por meio de emendas parlamentares, armazenados por longos períodos e em processos de deterioração no pátio da empresa localizado no município de Nova Porteirinha/MG? b) O planejamento das aquisições e a distribuição dos veículos e equipamentos adquiridos pela Codevasf são realizados com base em estudos técnicos de demanda regional de forma a atender às necessidades dos municípios? c) A Codevasf fiscaliza a utilização dos veículos e equipamentos doados aos municípios e monitora os resultados alcançados? d) Os bens doados aos municípios estão sendo utilizados dentro das finalidades propostas? e) As aquisições de veículos e equipamentos realizados pela Codevasf obedeceram aos preceitos legais? Dessa forma, o trabalho da CGU compreendeu análise documental de processos de compras realizados entre os anos de 2016 a 2018, processos de doação dos bens, processos de pagamentos, entre outros documentos, e fiscalização in loco no pátio da CODEVASF em Nova Porteirinha/MG e de bens doados nos municípios de Francisco Sá/MG e São Joaquim de Bicas/MG, bem como aos distritosde Riacho Fundo e Morro do Chapéu pertencentes ao Município de Montes Claros/MG. 8 RESULTADOS DOS EXAMES 1. Manutenção de bens em estoque por prolongados períodos gerando perdas de garantias e riscos de deterioração. A grande maioria dos procedimentos de compras realizados pela Codevasf financiados com recursos de emendas parlamentares foram executados pela modalidade Pregão Eletrônico, do tipo menor preço por item, com a consequente constituição de Atas de Registro de Preços. As Atas de Registro de Preços, na grande maioria dos casos, foram constituídas para a aquisição de tratores, implementos agrícolas, caminhões, veículos utilitários, reservatórios de água e tubos de PVC para doação a municípios ou associações da região escolhidos pelos parlamentares autores das emendas. Verificou-se, conforme planilha disponibilizada pela Codevasf, datada de 07/06/2019, que os bens adquiridos e armazenados no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura do Gorutuba – 1ª/CIG, localizado na zona rural de Nova Porteirinha, somavam o montante R$ 15.988.066,66 e correspondiam a 1.128 itens, conforme quadro a seguir. Quadro 01 - Bens em estoque no município de Nova Porteirinha/MG por ano de tombamento, situação de 07/06/2019 Ano de tombamento do bem Quantidade de itens em estoque Valores dos itens em estoque 2014 22 32.670,00 2015 24 104.799,10 2016 202 366.238,20 2017 134 625.366,81 2018 418 6.422.010,19 2019 328 8.436.982,36 Total 1128 15.988.066,66 Fonte: planilha encaminhada pela Codevasf, “Anexo I – Bens que se encontram armazenados na unidade Centro de Recursos Pesqueiros e Aquicultura localizado na cidade de Nova Porteirinha (posição de 07/06/2019). Conforme demonstrado, apurou-se bens em estoque que foram tombados ainda no ano de 2014 e uma permanência média desses bens de 481 dias, ou seja, de quase um ano e 4 meses. Verificou-se que os bens, em média, já seriam entregues aos beneficiários com os prazos de validades vencidos ou prestes a vencer, uma vez que o prazo contratual de garantia dos bens, normalmente, é de 12 ou 24 meses. Sendo assim, constata-se que a demora na finalização das doações gera prejuízo à Codevasf na medida que a exigência de garantia prevista nos editais ocasiona maiores custos de aquisição, e, também, gera um potencial prejuízo aos beneficiários das 9 doações que não poderão usufruir da garantia contratual e terão que dispender recursos próprios para conserto dos bens, se necessário for. A manutenção em estoque dos bens por excessivos períodos pode, também, gerar custos imprevistos e desnecessários à Codevasf devido ao aumento do risco de deterioração e do risco de furtos desses bens. O problema da manutenção em estoque por longos períodos e a existência de tão elevada cifra de recursos públicos em bens em estoque (R$ 15.988.066,66 em junho de 2019) evidenciam falhas e impropriedades nas sistemáticas e fluxos de contratação e de doação de bens adotados pela Codevasf. Em relação à escolha de se constituir atas de registros de preços para a aquisição dos equipamentos, essa opção poderia ser considerada a mais adequada se a Codevasf estivesse utilizando-se adequadamente da hipótese e consequente vantagem que justifica sua adoção, conforme inciso II, artigo 3º, do Decreto nº 7.892/13, qual seja, “quando for conveniente para a administração a aquisição de bens com previsão de entregas parceladas (...)”. Como a assinatura da ata de registro de preços não gera necessariamente o compromisso de contratação da Administração, a solicitação de fornecimento do bem deveria ser viabilizada quando o processo de doação dos bens já estivesse em uma etapa avançada do processo, qual seja, onde fosse possível minimizar a permanência do bens em estoque, como por exemplo, após e elaboração do Parecer Técnico e nunca antes do conhecimento pela Codevasf da indicação específica de beneficiário pelo autor da emenda. A partir da análise de uma amostra de 30 processos de doação e de seus respectivos processos de pagamentos (planilha resumo constante do Anexo II), verificou-se que a grande maioria das contratações realizadas pela Codevasf por meio de Atas de Registro de Preços, 25 contratações, foram viabilizadas antes da abertura do processo de doação que é iniciado, formalmente, com a anexação do ofício de solicitação encaminhado pelo beneficiário indicado pelo autor da emenda. Somente em cinco processos de doação analisados os bens foram contratados após o recebimento pela Codevasf do mencionado ofício. Dos 30 processos, 03 itens ainda estão sem definição da destinação final, sendo dois tratores agrícolas, adquiridos por R$ 76.600,00 e contratados em 30/12/2017, e um arado, no valor de R$ 10.744,90, contratado em 27/12/2018. A análise do fluxo dos processos de doação já finalizados, de uma amostra de 22, demonstrou um tempo médio de 184 dias para sua conclusão, ou seja, de mais de 6 meses, sendo que o tempo para fornecimento do bem pelos fornecedores, considerando a data de emissão da Nota Fiscal, após contratação ou ordem de fornecimento, foi de 62 dias, ou seja, de apenas dois meses. (Anexo III). 10 A própria Unidade ao se manifestar sobre sua sistemática de contratação de bens, confirma que a instrução dos processos de doação ocorre após a contratação e fornecimento dos bens pelas empresas, conforme reproduzido a seguir: Alocado o recurso junto à Codevasf é feita toda a programação estratégica e logística da quantidade de bens a ser adquirida, esta apurada mediante um demonstrativo da demanda e necessidade dos municípios e comunidade atendidas. Ato contínuo, são instruídos os procedimentos licitatórios para as respectivas aquisições, geralmente mediante o procedimento de Pregão Eletrônico, seja na forma de contratações específicas ou mediante constituição de Registro de Preços (economia de escala, armazenamento, etc), conforme previsão da Lei 10520/02 e Decreto 7892/2013, que inclusive determina a obrigatoriedade dessa forma de contratação para os casos em que haja contratações frequentes ou mesmo entregas parceladas e, ainda, na impossibilidade de definição do quantitativo exatos dos bens demandados, impõe-se a adoção dessa forma legal, para a qual, a Codevasf tem a possibilidade de contratação dos preços registrados por até doze meses. Após firmados os respectivos contratos, e efetivados os respectivos fornecimentos por parte das empresas contratadas, a Codevasf procede à instrução dos respectivos processos administrativos de doação. (Ofício nº 005/2019 – 1ª/SR/GRA). Apesar de o Sistema de Registro de Preços possibilitar a compra parcelada, o que poderia gerar a diminuição dos custos com manutenção de estoque e vigilância, bem como poderia diminuir os riscos de perda de objetos por prazo de validade ou deterioração, não foi isso que se verificou no pátio de Nova Porteirinha/MG, em agosto de 2019. Diante das análises realizadas, conclui-se que a Codevasf/1ª Superintendência deve revisar permanentemente os fluxos dos processos de contratação e de doação dos bens com vistas a minimizar o tempo de permanência de bens em estoque. A manutenção de tão elevado quantitativo de bens em estoque e a morosidade para se efetivar a doação dos bens aos municípios, associações e comunidades rurais da área de jurisdição da Codevasf, constituem-se em afrontas aos princípios constitucionais da razoabilidade e da eficiência que devem ser observados pela Administração Pública. Em resposta ao Relatório Preliminar enviado à Unidade em 20/12/19, a Codevasf informou que houve uma redução significativa do estoque de bens em Nova Porteirinha. Foram apresentados registros fotográficos, datados de 31/01/2020, que retrataram partes da área do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura do Gorutuba, em Nova Porteirinha, quase vazios, situação bem diferenteda identificada no momento da realização dos trabalhos de campo, ocorridos em agosto de 2019, o que demonstra um esforço realizado e prazos mais céleres para finalização dos processos de doação que os usualmente ocorridos na unidade, após as notícias veiculadas na imprensa e sua repercussão e a atuação dos órgãos de controle na apuração da questão. 11 2. Existência em estoque de 648 reservatórios de água, avaliados em R$ 1.055.751,78 e realização de subsequentes procedimentos licitatórios para aquisição de bens idênticos antes da distribuição dos já existentes em estoque. A Codevasf, em 07/06/2019, possuía armazenadas em pátio da empresa situado em Nova Porteirinha/MG, 648 unidades de reservatórios de água que totalizavam o montante de R$ 1.055.751,78. Verificou-se que a Codevasf realizou cinco pregões eletrônicos subsequentes, desde o ano de 2015 e constituiu respectivas Atas de Registro de Preços, todos para a aquisição de reservatórios de água de idênticas especificações e vem mantendo grande parte destes itens estocados no pátio da empresa sem providenciar a sua devida destinação. Quadro 02: Reservatórios de água armazenados no município de Nova Porteirinha/MG, situação de 07/06/2019 Tipo/Edital Qtde. Valor Unitário Valor Total Marca/Modelo Reservatório em polietileno para água, capacidade 5.000 litros EDITAL 11/2015 - 1ª/SR 144 1.272,80 183.283,20 Marca Bakof, modelo tanque EDITAL 14/2016 - 1ª/SR 71 1.296,34 92.040,00 Marca FORTLEV Edital 04/2017 - 1ª/SR 109 1.142,51 124.533,59 Marca Bakof, modelo tanque EDITAL 40/2018 - 1ª/SR 102 1.008,00 102.816,00 Marca Usinorte, modelo tanque Subtotal 426 502.672,79 Reservatório em polietileno para água, capacidade 10.000 litros EDITAL 11/2015 - 1ª/SR 53 2.696,00 142.888,00 Marca Bakof, modelo tanque EDITAL 14/2016 - 1ª/SR 48 2.244,25 107.723,96 Marca Bakof, modelo tanque Edital 04/2017 - 1ª/SR 102 2.367,19 241.452,95 Marca Bakof, modelo tanque Edital 12/2017 - 1ª/SR 1 2.195,00 2.195,00 Marca Fortlev, modelo tanque EDITAL 40/2018 - 1ª/SR 7 2.000,00 14.000,00 Marca Usinorte, modelo tanque Subtotal 211 508.259,91 Reservatório em polietileno para água, capacidade 15.000 litros Edital 04/2017 - 1ª/SR 11 4.074,46 44.819,08 Marca Acqualimp, modelo tanque Total 648 1.055.751,78 Fonte: planilha encaminhada pela Codevasf, “Anexo I – Bens que se encontram armazenados na unidade Centro de Recursos Pesqueiros e Aquicultura localizado na cidade de Nova Porteirinha (posição de 07/06/2019)”. Questionados sobre a existência de estudos técnicos ou de outro instrumento de planejamento que justificassem a realização de subsequentes procedimentos de compra para a aquisição de reservatórios de água, a Unidade afirmou que as compras que realiza ocorrem nos quantitativos necessários conforme demandas apresentadas pelos parlamentares e após o contato dos beneficiários escolhidos, sendo mínimo o estoque que mantém disponível para atendimentos futuros, conforme trecho reproduzido a seguir: 12 De posse dos processos encaminhados pela Gerência de Gestão Estratégica – 1ª/GRG, cada gerência da 1ª/SR responsável pelos atendimentos deverá programar, de acordo com os quantitativos demandados, a aquisição dos bens e/ou serviços. Deflagram-se processos de coleta de preços, tomada de preços, registro de preços e outras modalidades. Utilizam-se saldos em atas de registro, ou adesão às atas de outras empresas. Portanto, a Codevasf procura manter em estoque o quantitativo de bens previamente programado, cujo saldo responde pelo fluxo dos processos e pelas imposições legais, sendo mínimo o estoque disponível para atendimentos futuros. As compras ocorrem nos quantitativos necessários conforme demanda apresentada pelo parlamentar que alocou o recurso. Se bens ficam em depósito é porque alguma etapa do procedimento não foi cumprida devidamente como programado ou por impedimento técnico. (Ofício 013/2019 – 1ª/SR/GRA) Segundo a Codevasf, de forma geral, a definição dos beneficiários ocorre no início do exercício quando os parlamentares comunicam à Entidade sobre a existência de emendas ao seu orçamento, informando, em alguns casos, de forma específica os beneficiários e ações a serem realizadas, e, paralelamente comunicam aos beneficiários escolhidos sobre as ações que lhes serão destinadas e, estes, munidos da autorização, ofício e documentação legal, procuram a Codevasf. Ao se posicionar sobre o elevado tempo de permanência em estoque dos reservatórios adquiridos, a Codevasf manifestou-se no sentido de entender que algum tempo de permanência no pátio da empresa seria resultado natural da própria dinâmica dos processos e que uma demora maior poderia ocorrer devido à existência de algum impedimento técnico dos beneficiários escolhidos para a doação, como a comprovação da regularidade fiscal ou por alguma etapa do processo não ter sido executada conforme programada. Em análise dos processos de doação, foram identificadas poucas situações de atrasos na conclusão dos processos relacionados com as dificuldades de comprovação fiscal, nem, tão pouco, foram identificados problemas regulares na consecução de outros documentos que compõem os processos, como o Relatório de Visita Técnica, o Parecer Técnico e a Proposta Regional. Os motivos e causas da existência de tão elevado estoque de reservatórios de água parecem serem múltiplas e se relacionam principalmente com falhas nos processos de contratação, principalmente no que se refere à falta de utilização da sistemática de entrega parcelada dos bens possibilitada pelo sistema de registro de preços, demonstrando que as contratações não foram coerentes, compatíveis e tempestivas com o fluxo dos processos de doação e refletindo, também, possível problema da sistemática de indicação dos beneficiários pelos parlamentares. 13 3. Inexistência de acompanhamento e fiscalização pela Codevasf dos bens após doação às entidades beneficiárias, gerando ociosidade e possibilitando a utilização em fins diversos aos aprovados pela empresa. Em fiscalização in loco com objetivo de verificar a adequada destinação e utilização dos bens doados pela Codevasf, verificou-se a existência de alguns bens sem utilização ou subutilizados e, em todos os casos, verificou-se que a Codevasf não realiza fiscalização sobre a utilização dos equipamentos doados, nem monitora os resultados alcançados. Dos oito equipamentos doados pela Codevasf e fiscalizados in loco, cinco itens (três caminhões, uma motoniveladora e um trator) estavam em uso na finalidade proposta pela entidade e três se encontravam de posse das entidades beneficiárias, mas sem utilização, conforme especificado a seguir. Quadro 03 – Equipamentos doados pela Codevasf e sem utilização pelas entidades beneficiárias (fiscalização in loco em agosto e setembro/2019). Item/Descrição Data da doação Valor (em R$) Entidade beneficiária/ Município Situação Trator – agrícola, 75 CV, marca Massey Fergusson. 27/12/17 77.000,00 Assoc. de Pequenos Produt. e Trabalhadores Rurais de Riacho Fundo, Morro do Chapéu e Adjacências – MC. Sem utilização, em posse de tratorista contratado pela Associação. Trator – agrícola, 75 CV, marca LS Tractor. 29/03/19 74.950,00 Prefeitura de Francisco Sá Sem utilização, guardado em pátio da de veículos da Prefeitura de Francisco Sá. Trator – agrícola, 75 CV, marca LS Tractor. 29/03/19 74.950,00 Prefeitura de Francisco Sá Sem utilização, guardado em pátio de veículos da Prefeitura de Francisco Sá. Fonte: Fiscalização in loco ocorrida em Montes Claros e Francisco Sá na semana de 19 a 23 de agosto de 2019. Para os três tratores doados encontrados sem utilização, as justificativas apresentadas em entrevista com técnicos da prefeitura de Francisco Sá foram no sentido de que o período de plantio estava por começar no ano corrente, momento esse em que os equipamentos deveriamser mais demandados e colocados em uso. Tal justificativa pode atenuar a situação de dois tratores que foram doados em março de 2019, estando quatro meses de posse da Prefeitura de Francisco Sá, mas não para o terceiro trator doado em 27/12/2017 para a Associação de Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais de Riacho Fundo, Morro do Chapéu e Adjacências, do município de Montes Claros. O referido trator teria sido doado em 27/12/2017, há mais de um ano e 7 meses, mas não teria sido de fato utilizado, apresentando, em 20/08/2019, somente 08 horas de uso. 14 Outro problema identificado com o trator doado à Associação de Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais de Riacho Fundo, Morro do Chapéu e Adjacências foi que este estava sem a pintura da logomarca DOAÇÃO CODEVASF que teria sido apagada, conforme foto a seguir. Este fato indica uma possível intenção de se utilizar o equipamento em finalidade que não seja a prevista no processo de doação, em uma finalidade que não possua interesse público e por isso a intenção de descaracterizar o bem. Registra-se que após realização da fiscalização realizada pela equipe da CGU, que identificou a pintura da logomarca apagada no trator doado à Associação de Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais de Riacho Fundo, Morro do Chapéu e Adjacências, ocorrida em 20/08/2019 com acompanhamento de técnicos da Codevasf, esses procederam à notificação da Associação por meio da Carta nº 168/2019 – 1ª/SR/GRI, de 22/08/2019, para refazimento da pintura da logomarca no trator, o que foi providenciado e comprovado por meio de fotos encaminhas pela própria Codevasf à equipe da CGU. As duas situações relatadas, de ociosidade dos tratores e de retirada da logomarca da Codevasf, comprovam a inexistência de acompanhamento e fiscalização pela Codevasf após a entrega dos equipamentos adquiridos por meio de recursos de emendas parlamentares às entidades beneficiárias. 4. Participação incipiente da Codevasf no processo de escolha de ações e beneficiários para recebimento de recursos provenientes de emendas parlamentares. A participação crescente de recursos provenientes de emendas parlamentares no orçamento da Codevasf ao longo dos últimos anos, em contraposição à diminuição do volume dos recursos ordinários, demonstra a necessidade e relevância de a entidade Foto 1 – Trator com remoção da pintura da logomarca. Foto 2 – Trator após refazimento da pintura da logomarca. 15 participar de forma mais proativa no processo de definição de ações e beneficiários para recebimento de recursos de emendas parlamentares. Quadro 04 – Evolução orçamentária da Codevasf/1ª SR – 2014 a 2019 (em R$ milhões). Recursos 2014 2015 2016 2017 *2018 **2019 Valor % Valor % Valor % Valor Valor % Valor % Ordinários 15,41 47 19,90 59 10,01 34 4,62 12 12,11 24 5,50 9 Emendas 17,52 53 13,85 41 19,14 66 32,50 88 37,99 76 54,76 91 Total 32,93 100 33,75 100 29,15 100 37,12 100 50,10 100 60,26 100 Fonte: Relatório de execução orçamentaria conforme planilha disponibilizada pela Codevasf em 12/09/2019. *2018 – Emendas e Termos de Execução Descentralizada – TEDs recebidos. **2019 – Emendas previstas na LOA 2019 e Termos de Execução Descentralizada – TEDs recebidos. **2019 – Recursos ordinários descontigenciados até 31/08/2019. Conforme demonstrado no quadro 04, o percentual de recursos ordinários da Codevasf veio diminuindo significativamente ao longo do tempo, representando apenas 9% do total do orçamento em 2019 e, em contrapartida, os recursos de emendas parlamentares passaram a representar em 2019, 91% do total do orçamento da Entidade (recursos descentralizados e descontigenciados até 31/08/19). Diante desses dados, fica evidente que a Codevasf tem atuado e dispendido esforços preponderantemente para executar recursos de emendas parlamentares. A própria entidade reconheceu em sua justificativa que “tiveram um incremento substancial a partir de 2011, como estratégia para a continuidade das atividades da empresa em meio aos cortes orçamentários decorrentes da necessidade de contenção de gastos pelo Governo Federal nos últimos anos”. De acordo com as informações disponibilizadas pela Unidade e em análise da sistemática de execução dos recursos provenientes de emendas parlamentares, constatou-se que a Codevasf não participa, ou participa de forma muito incipiente, no processo de escolha dos beneficiários e na definição das ações a serem desenvolvidas nos municípios. Verificou-se que a atuação da Codevasf no processo ocorre, principalmente, com a realização de visitas técnicas para validação das demandas definidas pelos parlamentares, com a deflagração dos procedimentos de compras e com a consecução e formalização dos processos de doação dos bens. Em que pese a equipe da CGU ter identificado que os equipamentos adquiridos pela Codevasf possuem natureza coerente com as ações desenvolvidas pela entidade, a falta de aderência a um planejamento bem estruturado e elaborado por equipe técnica da Codevasf pode estar comprometendo a eficácia e eficiência da aplicação dos recursos públicos envolvidos. O atendimento pulverizado de demandas pelos parlamentares, desconectado de um plano de ação previamente elaborado para a região, minimiza as chances de sucesso das políticas públicas implementadas. Conforme verificado, mesmo reconhecendo a importância dos recursos de emendas parlamentares para o orçamento da Entidade, a existência de grande quantidade de equipamentos armazenados por longos períodos no pátio da Codevasf, a demora para 16 os bens chegarem aos destinatários finais e a ociosidade ou subutilização verificada em alguns equipamentos doados, evidenciam a necessidade de se reavaliar o papel da Codevasf na atual sistemática de execução dos recursos de emendas parlamentares. Faz-se necessária uma maior participação da Codevasf no processo de indicação de beneficiários com vistas a oferecer aos parlamentares opções tecnicamente viáveis para os investimentos, com levantamento prévio de necessidades e prioridades regionais, onde haja participação da comunidade e validação técnica para criação de um banco de projetos prioritários. Tal instrumento deverá estar coerente com os instrumentos de planejamento orçamentário da Unidade, afinado com os seus propósitos e objetivos e deverá ser apresentado aos parlamentares para subsidiar suas decisões e escolhas. 5. Contratação em final de exercício com a consequente geração de saldo elevado em “Restos a Pagar”. Em relação as fontes de financiamento, as emendas parlamentares ao Orçamento Geral da União são predominantes nas compras de materiais e equipamentos pela Codevasf/MG. Esses recursos oriundos de emendas parlamentares têm como característica a imprevisibilidade e a falta de regularidade na liberação, estando sujeito ao chamado contingenciamento de gastos pelo executivo federal. Tal situação leva a Codevasf/MG a concentrar os processos de empenho no final de exercício, com o objetivo de aproveitar as dotações orçamentárias disponíveis, que não puderam ser utilizadas antes. Ressalta-se que se o empenho não for feito até o fim do ano, a dotação não poderá mais ser utilizada. Para que a despesa possa então ser realizada, será necessário que haja nova previsão orçamentária no novo exercício. Desta feita, poderão ser inscritos em restos a pagar não processados, a despesa empenhada e não liquidada até 31 de dezembro, e que o respectivo empenho decorra de compromisso efetivamente assumido em virtude de homologação e adjudicação do objeto da licitação e da formalização do contrato. Nesse sentido, essa falta de regularidade e previsibilidade na liberação dos recursos de emendas, além da postergação pelo governo federal da disponibilidade orçamentária leva a Codevasf a concentrar as contratações ao final do exercício fiscal, quando realiza grande parte do empenho das despesas, levando a inscrever em restos a pagargrande volume de despesas contratadas e empenhadas cujo objeto já foi fornecido ou está em vias de o ser. O quadro a seguir demonstra a prevalência de processos de aquisição realizados ao final de cada exercício. Quadro 5 – Processos de aquisição (Pregão) realizados no final do exercício – 1º Superintendência Regional/Montes Claros/MG. Nº do Pregão (Registro de Preço) Data da Publicação no DOU Descrição do Objeto Exercício de 2016 Pregão Eletrônico nº 14/2016 12/12/2016 Materiais e equipamentos destinados às atividades de perfuração de poços tubulares Pregão Eletrônico nº 23/2016 09/12/2016 Equipamentos/processamento de frutos 17 Nº do Pregão (Registro de Preço) Data da Publicação no DOU Descrição do Objeto Pregão Eletrônico nº 24/2016 07/12/2016 07 (sete) motobombas centrífugas acopladas a motor a diesel Pregão Eletrônico nº 25/2016 30/12/2016 Hidrômetros e motobombas centrífugas, incluindo mangote, válvula de pé com crivo e conexões Pregão Eletrônico nº 28/2016 26/12/2016 Materiais e equipamentos apícolas Pregão Eletrônico nº 29/2016 07/12/2016 Transporte, carga e descarga de tubos de PVC PBA, junta elástica, rede de água, DN 75mm e DN 100mm Pregão Eletrônico nº 31/2016 23/12/2016 Máquinas e equipamentos agrícolas, veículos barcos, máquinas rodoviárias, freezers e caçambas de lixo Pregão Eletrônico nº 32/2016 23/12/2016 Veículos utilitários de cargas leves, tipo furgão Pregão Eletrônico nº 33/2016 23/12/2016 Materiais e equipamentos de corte e costura Pregão Eletrônico nº 35/2016 30/12/2016 Materiais e equipamentos de irrigação por aspersão fixa e gotejamento Pregão Eletrônico nº 36/2016 29/12/2016 Mobiliário de refeitório, panificação e aparelhagem de som Pregão Eletrônico nº 38/2016 27/12/2016 Veículo novo tipo pick-up Pregão Eletrônico nº 41/2016 28/12/2016 Veículos com carroceria aberta tipo picape Exercício de 2017 Pregão Eletrônico nº 09/2017 17/11/2017 Equipamentos de apoio à pesca artesanal Pregão Eletrônico nº 11/2017 14/11/2017 Materiais e equipamentos apícolas destinados à implantação de ações de apoio à estruturação da atividade de apicultura Pregão Eletrônico nº 12/2017 15/12/2017 Máquinas e equipamentos agrícolas, veículos e máquinas rodoviárias Pregão Eletrônico nº 17/2017 15/12/2017 veículos tipo PICK-UP e veículos LEVES Pregão Eletrônico nº 18/2017 14/12/2017 Materiais e equipamentos de irrigação Pregão Eletrônico nº 19/2017 14/12/2017 veículos utilitários de carga leve tipo FURGÃO Pregão Eletrônico nº 20/2017 14/12/2017 Equipamentos de apoio à agroindústria, Pregão Eletrônico nº 29/2017 27/12/2017 Máquina hidráulica de fabricação de blocos e pavimentos de concreto Pregão Eletrônico nº 33/2017 29/12/2017 Implementos agrícolas Exercício de 2018 Pregão Eletrônico nº 31/2018 07/12/2018 Materiais e equipamentos apícolas Pregão Eletrônico nº 39/2018 28/12/2018 Máquinas e equipamentos agrícolas Pregão Eletrônico nº 40/2018 27/12/2018 Materiais e equipamentos destinados à equipagem de poços tubulares Pregão Eletrônico nº 41/2018 28/12/2018 Móveis, equipamentos de som e de informática Pregão Eletrônico nº 42/2018 13/12/2018 Máquinas e equipamentos pesados Pregão Eletrônico nº 60/2018 26/12/2018 Veículos novos Pregão Eletrônico nº 62/2018 11/12/2018 kits de irrigação por micro aspersão Fonte: “Site” da Codevasf – Licitações da 1º Superintendência/ Montes Claros/UG: 195005. Conforme o Decreto nº 9.428/2018, se os Restos a Pagar não processados e não liquidados não forem liquidados até junho do segundo ano subsequente ao empenho, em regra, os mesmos serão bloqueados e cancelados, a não ser que estes Restos a Pagar não processados sejam decorrentes de emendas individuais impositivas, cujos empenhos tenham sido emitidos a partir do exercício financeiro de 2016 ou bloqueados e, posteriormente, desbloqueados com o compromisso de serem liquidados até 31 de 18 dezembro de 2021 (despesas executadas diretamente pelos órgãos e entidades da união ou mediante transferência ou descentralização aos estados, distrito federal e municípios, com execução iniciada até 30 de junho do segundo ano subsequente ao de sua inscrição). Considera-se como execução iniciada nos casos de aquisição de bens a despesa verificada pela quantidade parcial entregue, atestada e aferida. O quadro a seguir, demonstra a situação da Codevasf/1º/SR (UG:195005) em relação aos Restos a Pagar Processados e Não Processados nos últimos exercícios (incluindo despesas de custeio e investimentos, exceto salários e encargos), explicitando o significativo volume de recursos em Restos a Pagar da unidade nos respectivos exercícios e espelhando uma situação análoga à existência de orçamento paralelo na Codevasf, além do desvirtuamento do princípio da anualidade. Quadro 6 – Restos a Pagar – 1º Superintendência Regional/Montes Claros/MG Ano Despesas Empenhadas no exercício(R$) Restos a Pagar inscritos no exercício (R$) Saldo de Restos a Pagar no início do exercício (R$) Cancelamento de Restos a Pagar (R$) 2016 29.139.904,58 22.575.025,58 62.180.896,15 14.082.193,75 2017 37.077.702,00 32.689.444,74 42.522.542,89 3.351.374,52 2018 50.062.540,10 44.385.450,40 49.930.948,40 12.705.342,58 2019 24.885.574,93 20.901.586,44 52.239.357,17 1.809.421,26 Fonte: Tesouro Gerencial – Balanço Orçamentário – SIAFI – UG 195005. 6. Aquisição de tratores a partir de ata do Pregão nº 31/2016 em detrimento da ata do Pregão 12/2017. De forma a verificar se as aquisições de equipamentos e veículos realizadas pela Codevasf obedeceram aos preceitos legais, selecionou-se, dentre outras licitações, o Pregão Eletrônico nº 31/2016 – SRP, em função do quantitativo de bens adquiridos e do volume de recursos envolvidos. O pregão foi dividido em 61 lotes, sendo que destes, 27 tiveram cotas destinadas exclusivamente às Microempresas – ME e Empresas de Pequeno Porte – EPP. Em 07/12/2017, a Codevasf aditivou o Contrato nº 1.329.00/2017, oriundo do Pregão Eletrônico nº 31/2016 – 1º/SR, para fornecimento de mais 10 tratores agrícolas de 75 cv, pela empresa Triama Norte Tratores, Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda., CNPJ nº 01.563.351/0001-73, no valor de R$ 770.000,00. Ocorre que a Codevasf, conforme Processo Administrativo nº 59510.001168/2017-81, Pregão nº 12/2017, formalizou uma Ata de Registro de Preços, homologada em 05/12/2017, com a empresa Triama BD Peças e Serviços Automotivos Ltda., CNPJ nº 11.078.678/0001-03, contendo equipamento de especificação semelhante, por um preço inferior. Apresenta-se a seguir, os itens referentes ao equipamento “trator Agrícola 75 cv” com os respectivos preços de aquisição, adquiridos por meio do Pregões nº 31/2016 e 12/2017. 19 Quadro 7 – Preços praticados pelas licitantes vencedoras para “Trator Agrícola 75 cv “ Nº do Pregão DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS LICITANTES VENCEDORAS/ Marca QTd UNITÁRIO 31/2016 Trator Agrícola 75 Cv Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Marca: Massey Ferguson Fabricante: Agco do Brasil 60 77.000,00 31/2016 (COTA DE 25%) Trator Agrícola 75 Cv TLM COMERCIAL EIRELI – EPP Marca: Budny; Fabricante: Budny 20 82.900,00 12/2017 Trator Agrícola 75 Cv Triama BD Peças e Serviços Automotivos Ltda Marca: LS TRACTOR 60 74.950,00 12/2017 (COTA DE 25%) Trator Agrícola 75 Cv Implementos Gualter Ltda - EPP Marca: LS TRACTOR 20 76.950,00 Fonte: Tesouro Gerencial - Relatório de execução financeiro-orçamentaria conforme. Verifica-se que caso fosse utilizado o Registro de Preços do Pregão nº12/2017, ao invés do aditamento ao Contrato nº 1.329/2017 (Pregão 31/2016), efetivado pela Codevasf, haveria uma economia de R$ 500,00 no caso da cota de ME e EPP e R$ 20.500,00 no caso da cota principal. Assim, o procedimento de contratação de mais 10 tratores agrícolas de 75 cv não repercutiu na contratação de melhor preço, haja vista que a ata do Preços do Pregãonº12/2017 já havia sido homologada há dois dias e apresentava preços mais vantajosos para a administração. 7. Restrições à competitividade na realização do Pregão nº 60/2018. A Codevasf/1º Superintendência constituiu Sistema de Registro de Preços, por meio do Pregão Eletrônico nº 60/2018, para aquisição de caminhões e caminhonetes novos, com o valor máximo de R$ 23.671.576,70. A Companhia justifica a utilização de Registro de Preços em função das contratações frequentes, das demandas espontâneas apresentadas pelos municípios e pela liberação de recursos (emendas) de forma escalonada, impedindo a aquisição conjunta dos bens. Quanto aos quantitativos, a empresa informou que os mesmos foram estimados com base nas demandas previstas para 2018/2019. Elenca-se, a seguir, os licitantes vencedores do Pregão nº 60/2018. Quadro 8 – Empresas Vencedoras do Pregão nº 60/2018 – Registro de Preços Item Descrição do Item Vencedor do Item CNPJ Qtd Valor Unit. 1 CAMINHONETES FLEX Strada Veículos e Peças Ltda 01654749/0001-15 76 59.780,00 2 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): CAMINHONETES FLEX Item Cancelado 4 - 3 CAMINHONETES FLEX Amorim e Alves Com. de Veíc. Ltda 12661958/0001-02 5 116.863,00 20 Item Descrição do Item Vencedor do Item CNPJ Qtd Valor Unit. 4 (COTA - Exclusivo para ME e EPP):CAMINHONETE FLEX Item Cancelado 1 - 5 CAMINHONETES DIESEL Strada Veículos e Peças Ltda 01654749/0001-15 5 131.500,00 6 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): CAMINHONETE DIESEL Item Cancelado 1 - 7 CAMINHÕES SEMI-PESADOS, carroceria tipo pipa Someval Soc. Mercantil de Veíc. Automotores ltda 83706788/0002-64 15 241.500,00 8 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): CAMINHÃO SEMI-PESADOS Item Cancelado 1 - 9 CAMINHÕES SEMI-PESADOS, caçamba Someval Sociedade Mercantil de Veículos Automotores ltda 83706788/0002-64 10 233.000,00 10 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): CAMINHÃO SEMI-PESADO, caçamba Item Cancelado 1 - 11 CAMINHÕES SEMI-PESADOS, coletor compactador de resíduos sólidos Someval Sociedade Mercantil de Veículos Automotores ltda 83706788/0002-64 19 297.000,00 12 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): CAMINHÃO SEMI-PESADO, coletor compactador de resíduos sólidos Item Cancelado 1 - 13 CAMINHÕES LEVES, carroceria em madeira Someval Sociedade Mercantil de Veículos Automotores ltda 83706788/0002-64 10 163.200,00 14 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): CAMINHÕÃO LEVE, carroceria em madeira Item Cancelado 1 - 15 VEÍCULO UTILITÁRIO DE CARGA LEVE TIPO FURGÃO Strada Veículos e Peças Ltda 01654749/0001-15 28 72.300,00 16 (COTA - Exclusivo para ME e EPP): VEÍCULO UTILITÁRIO DE CARGA LEVE TIPO FURGÃO Item Cancelado 2 - Fonte: Demonstrativo Final do Pregão Eletrônico nº 060/2018; “site” da Codevasf. A análise sobre o Pregão nº 60/2018 identificou restrições/impedimentos a participação no certame, ocorridas em face das exigências de habilitação e da especificação dos veículos, objeto das aquisições, a saber: a) O edital prescreve na sub-alínea “b2” da alínea “b” - Certidão Negativa de Pedido de Falência ou Recuperação Judicial, do subitem 11.1.1 - Habilitação Jurídica, Regularidade Fiscal e Trabalhista, e Qualificação Econômico-Financeira, que: “b2) Para facilitar a verificação da autenticidade do documento apresentado, pede-se que seja apresentada, também, como contribuição para o processo, certidão da Corregedoria local indicando quais são os cartórios existentes na região para o fim especificado.” Salienta-se, entretanto, que na realização do procedimento licitatório, não se justifica a adoção de formalismos exagerados ou desnecessários. As exigências constantes do edital de licitação devem ser relevantes, de forma a garantir o cumprimento dos requisitos essenciais para o cumprimento do objeto, nos termos do §6º do art. 30 da Lei 21 8.666/1993. Assim, a exigência de certidão de corregedoria local mostra-se restritiva à competitividade. Destaca-se que, no caso em tela, a redação do subitem “b2” do edital mostra-se inadequada, pois não é possível aferir se é uma exigência obrigatória ou apenas uma sugestão ao licitante. Essa dubiedade pode prejudicar a participação de possíveis interessados no certame, mesmo que a apresentação do documento seja de caráter opcional. b) Em relação às restrições identificadas no processo, cujas especificações dos bens licitados e a motivação da desclassificação encontram-se nos Anexo III e IV, verificou-se que: - Os lotes 1 e 2 tiveram um licitante desclassificado, porque o veículo ofertado, Chevrolet Montana 1.4 LS, não atendia ao requisito quanto à capacidade do tanque de combustível, uma vez que a capacidade mínima exigida no instrumento convocatório foi de 50 litros e o referido veículo possuía capacidade para 49 litros. Verifica-se que a diferença de capacidade do tanque de combustível apresentada é irrisória, o que não poderia restringir a participação de um licitante, em se tratando de um bem comum. - O lote 3 e 4 tiveram um licitante desclassificado, porque os veículos ofertados não atendiam os requisitos quanto às características do motor, haja vista que a capacidade volumétrica dos cilindros do motor era de 1.8 litros e o Edital exigia que tal capacidade estivesse compreendida entre 2,0 a 4,0 litros. Ressalta-se que não consta do processo justificativas técnicas para as especificações dos bens, elaboradas pela Codevasf. A caracterização da antieconomicidade da aquisição pode ocorrer quando se verifica que os estudos supostamente realizados para especificação do objeto, os quais conduziram à escolha de características presentes em um modelo especifico de veículo, não levam em consideração a previsão de características mínimas, presentes em outros modelos, que, assim especificadas, resultariam na ampliação da competição, com o comparecimento de mais licitantes e com o efetivo oferecimento de lances, visando à contratação mais vantajosa. O TCU no Acórdão n.º 1.147/2010 - Plenário, em análise sobre exigências editalícias restritivas ao caráter competitivo da licitação e prática de ato antieconômico, considera que a contratação é antieconômica, quando a licitação poderia ter-se iniciado com características mínimas que permitiriam, além de concorrência, cotação de preços por licitantes de modelos, capazes de atender as exigências do Termo de Referência. Nesse sentido, com relação aos itens 1 e 2 licitados – Caminhonetes Flex: “novo, zero quilômetro; potência do motor: mínima de 84 CV (oitenta e quatro cavalos-vapor); combustível: gasolina / etanol; quantidade de portas: 02 (duas) portas; ano/modelo: 2018 ou superior; cor: branca; combustível: gasolina / etanol; tanque de combustível: capacidade acima de 50 (cinquenta) litros”- não ficou demonstrado tecnicamente a definição do limite fixado pela Codevasf, bem como a justificativa para o edital não permitir a oferta de veículos com tanque de 49 litros, como foi o caso do certame. Constatou-se, portanto, que o edital, ao fixar o limite de capacidade mínima do tanque de combustível em 50 litros restringiu a participação de um universo maior de possíveis 22 interessados, inclusive ocasionando a desclassificação do licitante que apresentou a menor proposta de preços. De forma semelhante, para os lotes 3 e 4 – Caminhonetes Flex “novo, zero quilômetro; potência do motor: mínima de 140 CV (cento e quarenta cavalos-vapor); cilindradas de 2.0 a 4.0 litros; combustível: gasolina / etanol; 08 (oito) a 24 (vinte e quatro) Válvulas; cabine dupla; 04 (quatro) portas; ano/modelo: 2018 ou superior; capacidade: mínima de 05 pessoas; cor: branca; tanque de combustível com capacidade mínima de 60 (sessenta) litros” e para o lote 5 e 6 – Caminhonetes Diesel, também não foi justificada tecnicamente no processo a exigência de capacidade volumétrica do motor de 2.0 a 4.0 litros. Destaca-se que a Codevasf, no próprio Pregão nº60/2018, não exigiu a capacidade volumétrica para os lotes 1 e 2, bem como para os lotes 15 e 16, limitando-se a exigir potência mínima para especificação da capacidade do motor. Assim, a exigência para os lotes 3, 4, 5 e 6, foram restritivas à competição, limitando a participação de um universo maior de interessados. Além de afastar possíveis interessados, o que pode ter impacto na formação das propostas de preços, verificou-se, no caso dos itens 1 e 3, que há diferença entre os lances desclassificados e os vencedores. Assim, caso não tivessem sido impostas as referidas exigências, somente a referida diferença geraria uma economia financeira, conforme quadro a seguir: Quadro 09: Diferença resultante das restrições do Pregão n 60/2018 Nº do Item Proposta Vencedora (R$) Proposta Desclassificada (R$) Quantitativo Diferença (R$) 1 59.780,00 59.755,00 76 1.900,00 3 116.863,00 99.900,00 5 84.815,00 Fonte: Ata de Registro de Preços do Pregão nº 60/2018; Obs: os itens 2 e 4 foram cancelados, conforme disposto no subitem 3.1 do Edital 8. Irregularidades na execução do contrato de fornecimento de tratores agrícolas dentro da cota exclusiva para ME e EPP. Com vistas a avaliar o cumprimento dos preceitos legais pela Codevasf/MG, nos processos de compras de veículos e equipamentos, foi analisado o Processo Licitatório nº 31/2016, de 22/12/2016, onde foram constatadas irregularidades, especificamente no lote nº 2 (cota reservada de 25% exclusivas à ME’s e EPP’s), que previa a aquisição de 20 tratores agrícolas com potência de motor de 75 cv, conforme relato a seguir. A empresa Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas, CNPJ nº 01.563.351/0001-73, foi vencedora do lote nº 1, com previsão de aquisição de 60 tratores agrícolas de 75 CV, com as mesmas especificações técnicas fornecidas para o lote nº 2, sendo que a marca ofertada para aquele lote foi Massey Ferguson, com preço unitário de R$ 77.000,00; 23 No que tange ao lote 2, sagrou-se vencedora a empresa de pequeno porte TLM Comercial Eireli – EPP, CNPJ 247.589.64.0001/61, com preço unitário de R$ 82.900,00 para o trator agrícola de 75 CV da Marca Budny, perfazendo um total de R$ 1.658.000,00. O Contrato nº 1.208/16 foi celebrado em 30/12/2016, com prazo de vigência de 130 dias, contados da data de emissão da Ordem de Fornecimento, posteriormente prorrogado por 90 dias, finalizando em 18/11/2017. A contratação previa a entrega de 20 tratores da Marca Budny, no entanto, no Processo nº 59510.002304/2017-51, a empresa TLM Comercial – EPP solicitou e a Codevasf autorizou, por meio da Carta nº 224/2017 – 1º/SR/GRI, de 06/10/2017, a substituição dos tratores da marca Budny por tratores agrícolas de 75 CV da marca Massey Ferguson. Destarte, a Nota Fiscal nº 288 de 09/10/2017, no valor de R$ 1.658.000,00, emitida pela empresa TLM Comercial – EPP, apresenta no campo “Descrição do Produto”, tratores da marca Massey Ferguson, com valor unitário de R$ 82.900,00. Em 30 de outubro de 2017, a empresa TLM Comercial – EPP notificou extrajudicialmente à Codevasf sobre a existência de um “Contrato de Compra e Venda com Pagamento Através de Cessão de Crédito” em face do Contrato Administrativo nº 1.208/2016 – Edital 31/2016, onde a TLM atuaria como Compradora/Cedente e a empresa Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda. Como Vendedora/Cessionária. Em consequência do instrumento, o pagamento referente ao lote nº 2 do Contrato Administrativo nº 1.208/2016 – Edital nº 31/2016, fornecimento de 20 tratores, deveria ser realizado diretamente à empresa Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda, CNPJ 015.633.52/0001-73, que seria responsável por faturar o objeto em nome da TLM e entregar os bens no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros de Gorutuba da Codevasf no município de Nova Porteirinha/MG. A Assessoria Jurídica da Codevasf, no Processo nº 59510.002595/2017-87, emitiu Despacho, datado de 27/11/2017 (folha 129), para análise do termo de Cessão de Crédito afirmando “não existirem óbices de cunho estritamente jurídico, que impeçam a Cessão de Crédito,(...)” encaminhado à GRA/UCB, que não apresentou objeção ao procedimento apresentado pela empresa TLM. Nesse sentido, efetuou o pagamento dos 20 tratores entregues pela Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda, no valor de R$ 1.658.000,00, por meio das ordens bancárias nºs 2017OB802328, 2018OB801793 e 2018OB00196. A transferência de fornecimento à empresa Triama Norte Ltda, se reveste de características de subcontratação total do lote. Considerando-se que o Contrato Administrativo é, em regra, por sua natureza, pessoal, cabe à contratada executar pessoalmente o objeto do contrato, sem transferir as responsabilidades ou subcontratar, a não ser que haja autorização da contratante no caso de cessão de parte do fornecimento (até o limite definido) e desde que previsto no instrumento convocatório, conforme o estabelecido no “caput” do art. 78 da Lei nº 13.303/16. No entanto, o Edital, em seu subitem 3.4, veda a subcontratação, a saber: 3.4 Não será permitida a subcontratação total ou parcial dos fornecimentos objeto desta licitação. 24 Aplica-se também, subsidiariamente, o disposto no art. 78 da Lei 8.666/93, o qual comanda que: Constituem motivo para rescisão do contrato: VI – a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas no edital e no contrato; Destaca-se ainda que o art. 78, §2, inciso I, veda a subcontratação da empresa que tenha participado do processo licitatório do qual se originou a contratação, fato que ocorreu no caso em tela, haja vista que a empresa cessionária Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda. Venceu o lote 1 do Pregão nº 31/2016. Além da subcontratação integral irregular do contrato, o pagamento pela Codevasf diretamente à empresa Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda. Pelos bens fornecidos no âmbito do lote 2 configura infração à Lei nº 4.320/64, haja vista que houve o pagamento dos bens a empresa alheia ao fornecedor/credor constante da nota de empenho e do documento de liquidação (nota fiscal). Soma-se às situações descritas anteriormente o fato de o lote 2 ser destinado para cota exclusiva para microempresa (ME) e empresa de pequeno porte (EPP) em atendimento ao art. 48 da Lei Complementar nº 123/2006 e a empresa cessionária (Triama Norte) não se enquadrar nos requisitos da referida lei para tratamento diferenciado. Finalmente, a Codevasf pagou à empresa Triama Norte Ltda., pelos 20 tratores Massey Ferguson, o valor de R$ 82.900,00/Unidade, sendo que os mesmos tratores adquiridos no lote de concorrência ampla (lote 1) para tratores de 75 cv junto à referida empresa, foram fornecidos pelo valor de R$77.000,00/Unidade. Destaca-se que o art. 8º do Decreto nº 8.538/2015 nos seus §§ 2º e 3º que: § 2º O instrumento convocatório deverá prever que, na hipótese de não haver vencedor para a cota reservada, esta poderá ser adjudicada ao vencedor da cota principal ou, diante de sua recusa, aos licitantes remanescentes, desde que pratiquem o preço do primeiro colocado da cota principal. § 3º Se a mesma empresa vencer a cota reservada e a cota principal, a contratação das cotas deverá ocorrer pelo menor preço. (Original sem grifo) Ante o exposto, verifica-se que houve apropriação de vantagem pela empresa Triama Norte Ltda. Quando esta recebeu valores destinados à aquisição dos tratores na cota exclusiva para ME e EPP. Tal situação indica possível artifício entre as empresas para a obtenção da vantagem irregular pela Triama, por ter fornecido tratores com os benefícios da Lei Complementar nº 123/2006, sendo que essa empresa não se enquadra na situação de ME e EPP. 25 9. Atuação fraudulentade empresas pertencentes a um mesmo grupo familiar com o intuito de burlar procedimento licitatório realizado pela Codevasf. As empresas Triama BD Peças e Serviços Automotivos Ltda, CNPJ 11.078.678/0001-03, Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda, CNPJ 01.563.351/0001- 73 e Implementos Gualter Ltda, CNPJ 27.896.328/0001-94, pertencentes a um mesmo grupo familiar, forneceram à Codevasf três itens decorrentes de Atas de Atas de Registro de Preços oriundas do PE 012/2017 realizado com recursos provenientes de emendas parlamentares. As três empresas foram consideradas vencedoras, com itens do Edital adjudicados ao grupo no montante total de R$ 6.331.700,00, sendo os itens 01 (trator agrícola de 75 cv) e 03 (trator agrícola de 95 cv) de concorrência ampla e o item 02 (trator agrícola de 75 cv) pela cota dos 25% exclusiva para micros e pequenas empresas. Constatou-se que há elementos que caracterizam que as empresas do grupo atuaram em conluio na participação do PE 012/2017, concorrendo as três entre si na disputa pelos itens 01 e 03 do Edital, simulando competição e prejudicando o alcance da proposta mais vantajosa para a Administração. O grupo atuou de forma fraudulenta, também, com a participação da empresa Implementos Gualter Ltda, no fornecimento do item 02 do Edital disputado pela cota de 25% exclusiva para ME e EPP. Constatou-se que a referida empresa foi criada formalmente como empresa de pequeno porte com a finalidade de usufruir dos benefícios previstos na Lei Complementar nº 123/2006, que inclui benefícios legais tributários e não tributários relativos às licitações públicas. A Lei Complementar nº 123, de 2006, em seu art. 3º, § 4º, proíbe a fruição de todos os benefícios da Lei, os tributários e não tributários, a pessoas jurídicas que se enquadrem nas seguintes situações destacadas: III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; Tais situações não foram constatadas quando se analisou formalmente e isoladamente as informações sobre a Implementos Gualter Ltda, mas o somatório de indícios e 26 evidências sobre o grupo familiar demonstra que, de fato, a Implementos Gualter não poderia usufruir dos benefícios da Lei Complementar nº 123/2006 e que a empresa, por intermédio do grupo familiar, fraudou o procedimento licitatório em questão. Salienta-se que a referida empresa foi aberta em 05/06/2017, com CNAE principal para “Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos para uso agropecuário” e que não possui nenhum funcionário em seu quadro, conforme demonstra análise realizada sobre a base de dados da Relação Anual de Informações Sociais. A Implementos Gualter Ltda forneceu à Codevasf, no âmbito dos Contratos nº 1.561.00/2017, de 24/01/2018, e 1.186.00/2018, de 06/09/2018, 20 tratores agrícolas da marca LS Tractor, modelo LS Plus 80 Rops. Os tratores fornecidos foram referentes ao item 02 do Edital do PE 12/2017, pela cota de 25% exclusiva para ME ou EPP, adquiridos pelo valor unitário de R$ 76.600,00 e valor total de R$ 302.700,00 para 20 unidades. A empresa Triama BD Peças e Serviços Automotivos Ltda, outra empresa do grupo familiar, também foi contratada pela Codevasf pelo mesmo pregão, por meio do Contrato nº 1.174.00/2018, de 04/09/2018, para fornecimento de tratores idênticos aos fornecidos pela Implementos Gualter Ltda, mas referentes ao item 01 do Edital, de ampla concorrência, adquiridos pelo valor unitário de R$ 74.950,00 e valor total de R$ 3.672.550,00 referente a 49 unidades contratadas (foram registradas em ARP 60 unidades, no valor total de R$ 4.497.000,00). Com a criação da empresa Implementos Gualter Ltda, com o objetivo de usufruir indevidamente dos benefícios da Lei Complementar nº 123/2006, o grupo formado pelas três empresas auferiu a vantagem econômica irregular de pelo menos R$33.000,00, considerando-se, somente, a venda de 20 tratores pela cota de 25% exclusiva de ME e EPP, pelo valor de R$ 76.600,00, haja vista que foram pagos R$ 1.650,00 a mais por item, tendo como referência o preço de R$ 74.950,00 contratado pela cota de ampla concorrência. No Anexo VI são listados indícios e evidências das fraudes praticadas pelas empresas Triama BD Peças e Serviços Automotivos Ltda, CNPJ 11.078.678/0001-03, Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda, CNPJ 01.563.351/0001-73 e Implementos Gualter Ltda, CNPJ 27.896.328/0001-94. 10. Indícios de utilização indevida do enquadramento como microempresa para usufruição de benefícios exclusivos previstos na Lei Complementar nº 123/2006 gerando vantagem econômica irregular na venda de equipamentos. Constatou-se, no âmbito do PE 12/2017, que a empresa Emporium Construtora Comércio e Serviços Ltda - ME, CNPJ 05.163.253/0001-08, participou indevidamente do certame como microempresa para usufruir dos benefícios exclusivos da categoria e previstos na Lei Complementar nº 123/2006. 27 A Emporium Construtora Comércio e Serviços Ltda - ME disputou e venceu o fornecimento dos itens 12, 14, 16 e 18 do Edital pela cota de 25% exclusiva para ME ou EPP, o que causou uma vantagem econômica irregular no valor de pelo menos R$ 716.354,00 sobre os preços de aquisição dos equipamentos, quando comparados com os preços dos itens idênticos 11, 13, 15 e 17 adquiridos pelas cotas de concorrência ampla do Edital de outros fornecedores, conforme demonstrado a seguir: Quadro 10 – Valores e quantitativos fornecidos pela Emporium por cotas dos 25% exclusivas das ME e EPP em comparação com o fornecimento de itens idênticos por cotas gerais no âmbito do Pregão 12/2017. Equipamento Preço unitário - Cota Geral (R$) Preço unitário - cota 25% ME e EPP (R$) Diferença a maior por unidade (R$) Quantidade licitada pela cota de 25% (R$) Diferença a maior pelo total licitado - cota de 25% (R$) Caminhão semi- pesado, tipo Pipa (itens 11 e 12) 202.235,00 258.809,00 56.574,00 4 226.296,00 Caminhão semi- pesado, tipo caçamba (itens 13 e 14) 204.605,00 257.330,00 52.725,00 2 105.450,00 Caminhão semi- pesado, coletor compactador de resíduos sólidos (itens 15 e 16) 244.375,00 307.997,00 63.622,00 5 318.110,00 Caminhão leve (itens 17 e 18) 142.700,00 164.866,00 22.166,00 3 66.498,00 Total 793.915,00 989.002,00 195.087,00 14 716.354,00 Fonte: Edital nº 12/2017 – Quadro Resultado Final. Os argumentos que desqualificam a Emporium Construtora Comércio e Serviços Ltda - ME Ltda como microempresa se fundamentam em indícios estão listados no Anexo VII. RECOMENDAÇÕES 1 – Adequar o fluxo de constituição dos processos de doação ao fluxo de contratação dos bens de modo que seja mitigada a perda de garantia ou deterioração dos bens em decorrência da permanência de itens em estoque por período prolongado. Achados nº 1, 2 e 4 2 – Elaborar estudo com vistas a criar um banco de projetos aptos ao recebimento de recursos de emendas parlamentares que contemple demandas recebidas espontaneamente pela Codevasf, validadas e agregadas às demais ações e projetos prioritários da Unidade, e avaliar a conveniência de se dar transparência a esse banco de demanda técnica de forma a estimular o controle e participação social no processo de escolha de beneficiários, e a apoiaros parlamentares nas alocações de recursos de emendas. 28 Achados nº 1, 2 e 4 3 – Elaborar metodologia ou plano de ação com vistas a implementar rotina de acompanhamento e fiscalização dos equipamentos doados oriundos de emendas parlamentares, com vistas a verificar a efetiva e adequada utilização dos bens às finalidades aprovadas. Achado nº 3 4 - Promover, nos termos da Lei nº 12.846/2013, do Decreto nº 8.420/2015 e da Lei nº 8.666/93, apuração de responsabilidade administrativa das empresas TLM Comercial Eireli - EPP e Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda, pela obtenção de vantagens relacionadas ao fornecimento de tratores no Pregão nº 31/2016 da Codevasf pela Triama Norte, em cota exclusiva para ME e EPP, haja vista a possível combinação entre as referidas empresas, o que configuraria ato lesivo previsto na Lei nº 12.846/13, art. 5º. Achado nº 8 5 - Promover, nos termos da Lei nº 12.846/2013, do Decreto nº 8.420/2015 e da Lei nº 8.666/93, apuração de responsabilidade administrativa das empresas pertencentes ao grupo familiar formado pela Triama BD Peças e Serviços Automotivos Ltda, CNPJ 11.078.678/0001-03, Triama Norte Tratores Implementos Agrícolas e Máquinas Ltda, CNPJ 01.563.351/0001-73 e Implementos Gualter Ltda- EPP, CNPJ 27.896.328/0001-94, pela concorrência entre si pelos itens 01 e 03 do Edital do PE 12/2017 e pela participação irregular como microempresa da Implementos Gualter Ltda- EPP, CNPJ 27.896.328/0001-94, na disputa pelo item 02 do Edital para beneficiar-se das vantagens previstas na Lei Complementar nº 123/2006, uma vez que a atuação do grupo pode vir a ser configurada como ato lesivo previsto na Lei nº 12.846/13, art. 5º. Achado nº 9 6 - Promover, nos termos da Lei nº 12.846/2013, do Decreto nº 8.420/2015 e da Lei nº 8.666/93, apuração de responsabilidade administrativa, a fim de se esclarecer a atuação da empresa Emporium Construtora Comércio e Serviços Ltda - ME, CNPJ 05.163.253/0001-08, pelo enquadramento indevido como microempresa para beneficiar-se das vantagens previstas na Lei Complementar nº 123/2006, tendo em vista que os sócios da Emporium também são responsáveis, de fato, pela empresa Ubermac Comércio e Serviços Ltda, CNPJ 10.769.884/0001-82, uma vez que a atuação pode vir a ser configurada como ato lesivo previsto na Lei nº 12846/13 no fornecimento dos itens 12, 14, 16 e 18 do Edital pela cota de 25% exclusiva de ME e EPP(Art. 13 da Lei nº 12.846/2013). Achado nº 10 29 CONCLUSÃO Relacionam-se, a seguir, as conclusões relativas às questões levantadas inicialmente neste trabalho, conforme a sequência apresentada na Introdução deste Relatório: a) Os bens adquiridos pela Codevasf provenientes de emendas parlamentares têm ficado períodos excessivos armazenados em estoque, gerando perdas de garantias e riscos de deterioração, principalmente devido a falhas e impropriedades nas sistemáticas e nos fluxos de contratação e de doação dos bens adotados pela Codevasf e devido a problemas relacionados à escolha dos beneficiários das doações pelos parlamentares autores das emendas. b) A Codevasf não possui um planejamento realizado com base em estudos técnicos de demanda que resulte em um banco de projetos que possa subsidiar as decisões parlamentares e propiciar um adequado atendimento das carências e prioridades regionais. c) A Codevasf não realiza acompanhamento e fiscalização dos bens doados, o que possibilita a ociosidade e a utilização dos bens em finalidade diversa da aprovada pela Entidade. d) Verificou-se que alguns equipamentos doados se encontravam ociosos e sem utilização. Um dos equipamentos teria sido doado há mais de dois anos e estava sem o adesivo que identifica a doação da Codevasf. e) Verificou-se irregularidades nos processos de aquisição dos bens, conforme especificado a seguir: - Aquisição de tratores a partir de ata do Pregão nº 31/2016 em detrimento da ata do Pregão 12/2017. - Restrições à competitividade na realização do Pregão Eletrônico nº 60/2018. - Irregularidades na execução do contrato de fornecimento de tratores agrícolas dentro da cota exclusiva para ME e EPP. Verificou-se, também, sérios problemas relacionados à atuação de empresas que ao contratarem com a Entidade agiram de forma irregular no intuito de usufruírem vantagens que não lhes eram devidas e obterem vantagens econômicas irregulares. Constatou-se indícios de formação de conluio e participação indevida nas licitações pela cota de 25% destinadas às microempresas e empresas de pequeno porte. 30 ANEXOS I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA. ACHADO Nº 1 Por meio do Ofício nº 002/2020, de 05.02.2020, a Codevasf apresentou a seguinte manifestação ao Relatório Preliminar: “Com relação aos Achados 1 e 2 e Recomendação 1, quanto a contratar ou emitir ordens de fornecimento somente após a definição dos beneficiários das doações, a Codevasf tem a informar que, possivelmente, não se fez clara em sua tentativa de deslindar o processo de construção da demanda de projetos a serem efetivados por meio das doações de bens aos beneficiários. Por sorte, temos a oportunidade de esclarecer melhor sobre o tema e, como consequência, esclarecer alguns dos motivos da constituição dos estoques desses bens. A Codevasf tem em seu orçamento, aprovado em lei anual, a dotação de recursos provenientes de Emendas Parlamentares Individuais (EPIs) de caráter constitucional e de execução obrigatória. As utilizações desses recursos são feitas em total respeito aos ditames legais, principalmente, aos constitucionais (artigos 166 e 166-A) e às Portarias Interministeriais (PIs), dispostas anualmente, cujos objetivos são definir os procedimentos e prazos para as operacionalizações das EPIs. Vamos nos ater às portarias interministeriais para retirarmos alguns conceitos fundamentais para a nossa exposição, como a definição de beneficiário, a saber: “...Beneficiário: órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, organização da sociedade civil ou serviço social autônomo, indicados por autores de emendas individuais para fins de recebimento de recursos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União.” (Portaria Interministerial nº 78/2019) Quanto à indicação do beneficiário, temos a seguinte definição: “...procedimento por meio do qual o autor de emenda individual determinará no módulo Orçamento Impositivo do SIOP os beneficiários de suas emendas, seus respectivos valores e ordem de prioridade para fins de execução orçamentária e financeira.” (Portaria Interministerial nº 78/2019) Oportunamente, apresentamos um último conceito, importante para nossa manifestação, que é o do impedimento técnico, a saber: “...objeção à execução orçamentária das emendas individuais, sendo classificável em: 31 a) insuperável: impedimento de ordem técnica cuja medida saneadora resulta em projeto de lei de remanejamento de programações orçamentárias de emendas, conforme art. 166, § 14, II e III, da Constituição Federal; b) superável: impedimento de ordem técnica cujas pendências técnicas ou documentais possam ser superadas com ou sem a necessidade de remanejamento de programações orçamentárias de emendas, na forma do art. 4º da Lei no 13.808, de 15 de janeiro de 2019 (Lei Orçamentária de 2019 - LOA 2019), ressalvado o disposto no art. 5º, § 3º, I e II desta Portaria” (Portaria Interministerial nº 78/2019) Posto isto, não existem possibilidades ou alternativas de escolhas para a Codevasf quanto às definições dos beneficiários. O atendimento às PI’s anuais nos obriga a observar as indicações de beneficiários estabelecidas pelos autores das emendas, bem como, aquilo a ser adquirido e, posteriormente, doado; retirando o fator de discricionariedade da Codevasf. Todavia, é mais imperativoesclarecer que no processo de doação, embora seja formalizado a partir de um ofício de solicitação do beneficiário, a definição das destinações e dos bens a serem doados ocorre antes, quando do atendimento ao cronograma imposto pelas PI’s anuais. Portanto, é mister termos o exato momento em que se define o benefício e o beneficiário, pois, provavelmente, não havíamos melhor esclarecido esse processo de construção das doações, conforme é percebido na orientação emanada no Relatório Preliminar da CGU, a saber: “...solicitação de fornecimento do bem só deveria ser viabilizada quando houvesse definição sobre a destinação a ser dada ao bem, isto é, em relação às compras da Codevasf, a contratação só deveria ocorrer após, pelo menos, o início do processo de doação com a definição da ação e do beneficiário a ser contemplado”. (Relatório Preliminar da CGU - pág.9)”. O que estamos tentando evidenciar é que existe uma definição anterior à instauração do processo de doação, que fundamenta todo o processo de licitação e contratação. Esta definição ocorre em função das indicações feitas pelos parlamentares. Para melhor entendimento encaminhamos, em anexo, ofício de um parlamentar autor de emenda individual enviado à CODEVASF no cumprimento das exigências das portarias interministeriais (ANEXO I). Também, segue anexo, como exemplo, a PI nº 78/2019 (ANEXO II). Portanto, podemos afirmar que, quando se emitem as ordens de fornecimento para os vencedores dos processos de licitação, existem sim as definições dos beneficiários e dos respectivos bens a serem doados. Por outro lado, não podemos negar que, conforme Relatório Preliminar dessa CGU, existe um hiato temporal involuntário entre os recebimentos dos bens por parte da CODEVASF e a instauração dos processos de doação, que resulta no acondicionamento dos bens em estoque. 32 Nesse diapasão, é oportuno ressaltar ainda que os processos de doação só começam a tramitar (ou seja, análise técnica e documental, relatório de visita técnica, pareceres, autorizações, etc.) a partir do recebimentos definitivos dos bens e incorporados ao estoque da CODEVASF, em função da possibilidade de frustação na entrega dos bens por parte dos fornecedores, caso contrário, poderia ocasionar desperdício de recursos públicos com tramitação de processos inviáveis, além de se causar frustações aos beneficiários, tendo em vista que, apesar de ter sido confirmada a indicação orçamentária, realizada a visita técnica e constatada a aptidão para o recebimento, o bem poderá não ser doado pelo fato de não ter sido entregue pelo fornecedor da licitação. Em síntese, a aplicação das Emendas Parlamentares Impositivas - EPIs exige o atendimento de uma complexidade de fatores, tais como: a) a discricionariedade ao parlamentar para a escolha alocativa do recurso, ou seja, para onde e em que objeto o congressista irá destinar o valor emendado, inviabilizando a Codevasf a destinação dos bens à revelia do parlamentar; b) a falta de referência nas PIs anuais quanto à inviabilidade de qualquer alteração dos beneficiários após a execução orçamentária, ou seja, após os recursos das emendas estiverem empenhados e os benefícios estiverem contratados; c) O princípio da anualidade que rege a execução orçamentária impossibilita a postergação para o exercício seguinte as emissões das notas de empenhos e as respectivas contratações dos serviços e fornecimentos dos bens em função da necessidade de anulação dos empenhos (R.Ps) sem compromissos firmados (contratos assinados). Esta imposição legal inviabiliza, por exemplo a emissão de contratos e ordens de fornecimento apenas a partir do momento em que o beneficiário esteja apto para o recebimento dos bens (nos casos que isso ocorra no ano posterior a liberação da emenda); e d) o desafio de atender a todos os dispositivos legais e normativos internos que regulamentam desde as aquisições dos serviços e bens, até as doações aos beneficiários, e ainda atender ao princípio constitucional da eficiência. Ainda que, por diversas razões, os materiais adquiridos não sejam efetivamente doados aos beneficiários iniciais pela ausência do preenchimento dos requisitos técnicos e/ou legais, a maioria dos bens adquiridos pela Codevasf - 1ª/SR através de Sistemas de Registro de Preços - SRP são materiais e equipamentos cuja demanda é comum a todos e constante na sua área de atuação, como por exemplo os materiais para abastecimento de água, podendo ser remanejados, posteriormente, a outro potencial beneficiário, após nova indicação do parlamentar.” Análise da Equipe de Auditoria A Codevasf em sua manifestação apresentou de forma mais detalhada a sua sistemática de execução de emendas parlamentares, expondo conceitos e procedimentos no intuito, segundo ela, de esclarecer ponto que não foi, anteriormente, bem apresentado, 33 qual seja, em relação ao momento e forma em que a Codevasf toma conhecimento dos beneficiários indicados pelos parlamentares autores das emendas. Segundo a Codevasf, as indicações dos parlamentares ocorrem anteriormente ao processo de doação e norteiam os processos de licitação e de contratação. Como comprovação para esse fato, a Unidade encaminhou um único ofício de parlamentar com indicação de beneficiários. Em que pese os argumentos e esclarecimentos apresentados, importa novamente destacar que não foi evidenciado nos processos de doação analisados ou em algum outro documento anteriormente apresentado que no momento de contratação do bem ou da emissão da sua ordem de fornecimento a Codevasf já teria o conhecimento da definição específica do destinatário do bem. Independente das dificuldades que, porventura, a Codevasf pode ou não enfrentar para conhecimento dos beneficiários, reforça-se a importância de reavaliar constantemente o fluxo e prazo para conclusão dos processos de doação dos bens para que estes não fiquem em estoque por prolongados períodos, gerando perda de garantias e deterioração dos bens. Em que pese as dificuldades conhecidas sobre a execução orçamentária e financeira das despesas pelos órgãos da Administração Pública Federal em relação à anualidade dos orçamentos fiscais e à frequente disponibilização de recursos no final dos exercícios fiscais, em regra, a Codevasf deve se utilizar da vantagem proporcionada pela aquisição de bens por meio de atas de registro de preços, qual seja a da entrega parcelada do bem. ACHADO Nº 2 Por meio do Ofício nº 002/2020, de 05.02.2020, a Codevasf apresentou a seguinte manifestação ao Relatório Preliminar. “Quanto ao Achado 02, referente ao quantitativo de reservatórios armazenados na 1ª/CIG, e a aquisição de novos reservatórios, importante lembrar que trata-se de um item crucial para mitigação dos efeitos da seca que assola a região semiárida norte mineira (porção maior da área de atuação da Codevasf 1ª/SR) nos últimos anos. Ademais, aproximadamente 120 (cento e vinte) desses reservatórios estão vinculados aos contratos de perfuração de poços tubulares em execução. Outro fator importante a respeito dos levantamentos da auditoria, é que os processos de doações não são autuados enquanto não se tem todos os elementos necessários para seu prosseguimento, especialmente quanto ao recebimento da documentação completa do beneficiário, portanto, provavelmente em todos os processos analisados pela auditoria estavam com a documentação completa, não sendo possível verificar ali a dinâmica na instrução dos processos, e os casos em que existem pendências de documentação (ex. inexistência de ata da diretoria da associação) ou outro impedimento técnico levantado. 34 Por todo exposto, para evidenciar os esforços da Codevasf em executar as emendas, e comprovar o que se foi dito no princípio da auditoria em questão, sobre a transitoriedade e rotatividade dos estoques anualmente, juntamos Relatório Fotográfico (ANEXO III), demonstrando a situação do pátio da 1ª/CIG no
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