Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO – UNICENP GIULIANO NACARATO MORETTI SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL ISO 14001: IMPLEMENTAR OU NÃO? UMA PROPOSTA PARA A TOMADA DE DECISÃO CURITIBA 2007 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. GIULIANO NACARATO MORETTI SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL ISO 14001: IMPLEMENTAR OU NÃO? UMA PROPOSTA PARA A TOMADA DE DECISÃO CURITIBA 2007 Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão Ambiental do curso de mestrado Profissional em Gestão Ambiental, Centro Universitário Positivo (UnicenP). Orientador: Prof. Dr. Klaus Dieter Sautter Co-orientador: Prof. MSc. Jayme Augusto Azevedo Dados Internacionais de catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca do UnicenP - Curitiba – PR M845 Moretti, Giuliano Nacarato. Sistemas de gestão ambiental ISO 14001 : implementar ou não ? uma proposta para a tomada de decisão / Giuliano Nacarato Moretti. ― Curitiba : UnicenP, 2007. 222 p. : il. Dissertação (mestrado) – Centro de Estudos Superiores Positivo – UnicenP, 2007. Orientador : Klaus Dieter Sautter . 1. Gestão ambiental. I.Título. CDU 504.06 TÍTULO: “SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL ISO 14001: IMPLEMENTAR OU NÃO? UMA PROPOSTA PARA A TOMADA DE DECISÃO”. ESTA DISSERTAÇÃO FOI JULGADA ADEQUADA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM GESTÃO AMBIENTAL (área de concentração: gestão ambiental) PELO PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTÃO AMBIENTAL DO CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO – UNICENP. A DISSERTAÇÃO FOI APROVADA EM SUA FORMA FINAL EM SESSÃO PÚBLICA DE DEFESA, NO DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2007, PELA BANCA EXAMINADORA COMPOSTA PELOS SEGUINTES PROFESSORES: 1) Prof. Klaus Dieter Sautter, UnicenP (Presidente); 2) Prof. José Carlos Barbieri, examinador externo, Fundação Getúlio Vargas, SP. 3) Prof. André Virmond de Lima Bittencourt, UnicenP; 4) Prof. Jayme Augusto Azevedo, UnicenP; 5) Prof. Maurício Dziedzic, UnicenP. CURITIBA – PR, BRASIL PROF. MAURÍCIO DZIEDZIC COORDENADOR DO PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTÃO AMBIENTAL À minha família por me possibilitar mais esta conquista. À Liana, pela cumplicidade, compreensão e fundamental apoio nas dificuldades enfrentadas no caminho até aqui. AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Klaus Dieter Sautter, que me conduziu com muita sabedoria, presteza e confiança, por todas as etapas deste trabalho, compartilhando plenamente de todo o seu conhecimento em Gestão Ambiental. Ao meu co-orientador, Prof. MSc. Jayme Azevedo, que com sua simpatia e disposição, contribuiu significativamente para embasar as pesquisas desenvolvidas neste trabalho, abrindo-me, também, novos horizontes profissionais na docência. Ao coordenador do curso de mestrado Profissional em Gestão Ambiental, Prof. Dr. Maurício Dziedzic, que em suas aulas de Desenvolvimento Docente incentivou-me rumo ao desenvolvimento profissional e, acima de tudo, pessoal. Às empresas que trouxeram muito conhecimento prático a este trabalho, respondendo pacientemente às pesquisas: Arteche EDC, Preserva Ambiental Consultoria e demais participantes. Ao grande amigo Luciano Passuello, pelos seus preciosos conselhos. À Essência da Vida que iluminou ainda mais esta bela trajetória. “Dance como uma árvore e você será capaz de entrar no fluxo”. Osho RESUMO A adoção da norma ISO 14001 para se estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e a sua respectiva certificação não é compulsória, e as organizações que buscam a implementação de uma gestão ambiental sistematizada podem optar tanto pela adoção dos requisitos prescritos pela ISO 14001, como pela simples utilização de critérios e requisitos próprios. Esta última opção não é passível de certificação por um organismo de terceira parte, já que os critérios e requisitos não podem ser comparados com um padrão previamente estabelecido, tal como no caso da ISO 14001. Entre as vantagens e desvantagens oferecidas pela implementação da norma ISO 14001, o empresariado leigo, muitas vezes, não encontra subsídios suficientes para a tomada de decisão pela adoção ou não da referida norma. Este trabalho apresenta uma ferramenta de auxílio à tomada de decisão empresarial, promovendo um estudo sobre a real necessidade e viabilidade da implementação da norma ISO 14001 e a respectiva certificação que atesta a conformidade de um SGA com seus requisitos. Trata-se de uma análise multicriterial, em que se verifica a compatibilidade entre o perfil organizacional (definido pelo agente decisor) e a norma ISO 14001. Este perfil organizacional, em termos genéricos, leva em conta características culturais, ambientais, gerenciais e econômico-financeiras da organização. O algoritmo considera critérios e subcritérios (motivações das organizações que conduzem ou não à implementação da norma e respectiva certificação), tais como: mercado, legislação, controle ambiental, investimentos e recursos, funcional e imagem institucional, nos quais assume-se que a norma tenha forte influência. A ferramenta apresentada promove a priorização paritária entre tais motivações, por meio de um processo conhecido como Análise Hierárquica de Processos, além de pontuar o perfil organizacional face às peculiaridades da norma, fornecendo uma recomendação pela sua adoção ou não pelo agente decisor da organização. Busca-se facilitar a decisão das organizações em adotar ou não a ISO 14001, por meio de uma recomendação que aumente suas chances de atingir os objetivos almejados. Palavras-chave: ISO 14001, Gestão Ambiental, Tomada de Decisão, Análise Hierárquica de Processos. ABSTRACT The adoption of the ISO 14001 standard to establish a certified environmental management system (EMS) is not compulsory. Organizations seeking to implement an EMS can opt for the ISO 14001 requirements, as well as their own criteria and requirements. If this last option is chosen, it is not possible to certify such system, as those criteria and requirements cannot be compared with a standard previously established. One of the difficulties of the decision making process, is that lay entrepreneurs may find themselves incapable of finding enough subsidies for the decision of adopting or not the standard. The present work presents a tool that facilitates corporate decision making, providing a thorough analysis of the real necessity and feasibility of the implementation of the ISO 14001 standard and the respective certification. This tool consists of a multicriterial analysis, in which is possible to verify the compatibility between the organizational profile (defined by the decision maker) and the ISO 14001 standard. This organizational profile takes into account cultural, environmental, managerial and economic-financial features of the organization. The algorithm considers criteria and subcriteria (motivations of organizations which might conduct to the implementation of the standard), such as: market, legal compliance, environmental control, investments and resources, functional (staff) and institutional image, which are presumed o be influenced by the standard. The presented tool promotes parities prioritizations between such motivations, through a process known asAnalytic Hierarchy Process (AHP), and also scores the organizational profile in relation to the characteristics of the standard, providing a recommendation for its possible adoption. This recommendation of adopting or not the ISO 14001 standard seeks to facilitate the organization decision making; and, as a result, it also enhances the chances of the organization attaining its objectives. Keywords: ISO 14001, Environmental Management, Decision Making, Analytic Hierarchy Process. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Quadro da Escala Fundamental de Saaty (1991) 46 Figura 2 - Estrutura hierárquica simples do método AHP (MOISA, 2005) 47 Figura 3 - Fluxograma do processo decisório 58 Figura 4 - Distribuição da amostragem dos respondentes por Regiões do Brasil 63 Figura 5 - Distribuição de cargos dos respondentes 63 Figura 6 - Distribuição da existência de algum tipo de gestão ambiental antes da implementação e certificação ISO 14001 64 Figura 7 - Percentagem de empresas que afirmaram a ocorrência de maiores dificuldades no atendimento aos requisitos da norma ISO 14001 65 Figura 8 - Percentagem do total de empresas pesquisadas que consideraram os subcritérios de mercado para a tomada de adoção da norma ISO 14001 65 Figura 9 - Percentagem do total de empresas pesquisadas que consideraram os subcritérios de legislação, verificação e fiscalização para a adoção da norma ISO 14001 66 Figura 10 - Percentagem do total de empresas pesquisadas que consideraram os subcritérios de controle operacional ambiental para a adoção da norma ISO 14001 67 Figura 11 - Percentagem do total de empresas pesquisadas que consideraram os subcritérios de investimentos e recursos para a adoção da norma ISO 14001 68 Figura 12 - Percentagem do total de empresas pesquisadas que consideraram os subcritérios de motivação e produtividade funcional para a adoção da norma ISO 14001 68 Figura 13 - Percentagem do total de empresas pesquisadas que consideraram os subcritérios de imagem institucional para a adoção da norma ISO 14001 69 Figura 14 - Estrutura hierárquica dos critérios assumidos 81 Figura 15 - Estrutura hierárquica do critério de mercado 82 Figura 16 - Estrutura hierárquica do critério de legislação 83 Figura 17 - Estrutura hierárquica do critério controle ambiental 84 Figura 18- Estrutura hierárquica do critério investimentos e recursos 85 Figura 19 - Estrutura hierárquica do critério funcional 86 Figura 20 - Estrutura hierárquica do critério imagem institucional 87 Figura 21 - Esquema de atribuição de valores dos subcritérios no intervalo de 0 a 10 93 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Matriz de comparações adaptada de Gomes et al. (2002) 48 Tabela 2 - Matriz de importâncias relativas dos critérios (GOMES et al., 2002) 52 Tabela 3 - Matriz de importâncias relativas dos subcritérios do critério 1 54 Tabela 4 - Comparação de critérios e subcritérios utilizados na pesquisa e na composição da ferramenta 73 Tabela 5 - Matriz de importâncias relativas dos critérios adotados pela ferramenta 88 Tabela 6 - Matriz de importâncias relativas dos subcritérios de mercado 91 Tabela 7 - Interpretação do índice de recomendação final (α) 96 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 16 1.1 OBJETIVO 19 2 REVISÃO DA LITERATURA 20 2.1 A QUESTÃO AMBIENTAL 20 2.2 A GESTÃO AMBIENTAL 25 2.2.1 Normas Ambientais 28 2.2.2 A ISO 14001 30 2.2.3 A Certificação da Norma ISO 14001 34 2.3 MOTIVAÇÕES PARA A ADOÇÃO DA NORMA ISO 14001 E CERTIFICAÇÃO 36 2.4 TOMADA DE DECISÃO 40 2.4.1 Análise Multicriterial 44 3 METODOLOGIA 49 3.1 DESENVOLVIMENTO DA FERRAMENTA DE APOIO À DECISÃO 49 3.1.1 Identificação do objetivo do problema de decisão 49 3.1.2 Identificação das alternativas de decisão 49 3.1.3 Levantamento de critérios e subcritérios de apoio à decisão (questionário de pesquisa) 50 3.1.4 Priorização de critérios e subcritérios pela Análise Hierárquica de Processos 51 3.1.5 Pontuação dos subcritérios 55 3.1.6 Pontuação dos critérios (índice de recomendação parcial da ferramenta) 56 3.1.7 Cálculo do índice de recomendação final da ferramenta 56 3.1.8 Interpretação do índice de recomendação final 56 3.1.9 Síntese do processo decisório 57 3.1.10 Algoritmo da ferramenta no programa computacional Excel 57 3.1.11 Aplicação da ferramenta 58 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 61 4.1 PESQUISA APLICADA ÀS EMPRESAS CERTIFICADAS ISO 14001 61 4.2 RESULTADOS ESTATÍSTICOS 69 4.3 CRITÉRIOS ASSUMIDOS PARA A COMPOSIÇÃO DA FERRAMENTA 72 4.3.1 Critério de Mercado 74 4.3.2 Critério de Legislação 75 4.3.3 Critério de Controle Ambiental 76 4.3.4 Critério de Investimentos e Recursos 77 4.3.5 Critério Funcional 78 4.3.6 Critério de Imagem Institucional 79 4.4 ESTRUTURAÇÃO HIERÁRQUICA DO PROBLEMA DECISÓRIO 80 4.4.1 Priorização dos critérios utilizados na composição da ferramenta 88 4.4.2 Priorização dos subcritérios utilizados na composição da ferramenta 90 4.4.3 Pontuação dos subcritérios da ferramenta 92 4.4.4 Índice de recomendação final 94 4.4.5 Interpretação do índice de recomendação final (α) e do índice de recomendação parcial (βi) 94 4.5 APLICAÇÃO 1: ARTECHE EDC 97 4.6 APLICAÇÃO 2: PRESERVA AMBIENTAL CONSULTORIA 100 4.7 FERRAMENTA CONSOLIDADA 103 5 CONCLUSÕES 104 6 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 109 7 REFERÊNCIAS 110 ANEXO 1 114 ANEXO 2 122 ANEXO 3 191 ANEXO 4 204 ANEXO 5 217 ANEXO 6 220 16 1 INTRODUÇÃO A problemática ambiental planetária, ora evidente, urge por ações de controle e mitigação dos impactosambientais decorrentes das atividades antrópicas e pela premente recuperação do meio compartilhado de vida, desgastado pela negligência do desenvolvimento depredatório. Sendo assim, estabelece-se a necessidade de uma remodelagem dos meios de sobrevivência de forma a torná-los mais sustentáveis, em que a qualidade ambiental esteja na lista de prioridades dos interesses humanos. Dentre os diversos elementos com influência direta na degradação da qualidade ambiental, estão as atividades de produção e consumo, sustentadas sobre as bases do capitalismo que, até então, primou pela exploração ilimitada dos recursos naturais, em detrimento do consumo equilibrado e responsável para com as gerações vindouras. O sistema capitalista pode ser muito bem representado pela atuação das organizações empresariais que, na maioria das vezes, visam o acúmulo de riquezas materiais às custas da degradação do meio ambiente. Uma cultura exploratória que até os dias de hoje ainda é observada. A relação do ser humano com o seu meio ambiente apresenta imediatamente a questão de como ele constrói as suas condições de vida, as quais são reflexos das opções econômicas adotadas. Cabe salientar aqui que a qualidade de vida do homem é uma conseqüência direta da qualidade ambiental. Ambas são interdependentes e relacionam-se diretamente com a questão econômica (SEIFFERT, 2007). É indiscutível, portanto, a necessidade de se intervir na gestão das empresas visando processos menos impactantes ao meio ambiente e, também, em todas as 17 outras atividades humanas, sejam elas de cunho econômico, social ou cultural. Organizações que ainda se sustentam sobre as bases de produção exploratória e consumo em larga escala impostos já pela Revolução Industrial, poderão ser engolidas pela nova cultura que ora se instala: a proatividade ambiental, cristalizada por meio da gestão ambiental responsável que, por sua vez, se enquadra como um dos preceitos do chamado desenvolvimento sustentável. Com a premente necessidade da inclusão da gestão ambiental nas organizações, o desenvolvimento de ferramentas gerenciais com foco na melhoria da interface entre a organização e o meio ambiente, torna-se fundamental para que tal necessidade seja suprida. Nesta linha de desenvolvimento, uma das principais ferramentas que ora se destacam na consolidação de uma efetiva gestão ambiental é a norma internacional ISO 14001, elaborada pela Organização Internacional para Normalização (ISO), sediada em Genebra, Suíça, e composta por entidades de normalização de diversos países. A ISO é, portanto, uma instituição que visa, com suas normas, universalizar padrões para as diversas esferas das atividades humanas. Como exemplo, tem-se a normalização de sistemas de gestão empresariais, que buscam promover o atendimento de requisitos dos clientes e dos indispensáveis requisitos ambientais - a Norma da Qualidade ISO 9001 e a Norma Ambiental ISO 14001, respectivamente, facilitando o comércio internacional. A ISO 14001 surgiu em 1996 - e hoje encontra-se na versão 2004 - como resultado de uma pressão social por elementos de gestão que viabilizassem o equilíbrio entre os interesses econômicos das empresas e os interesses ambientais pregados por toda a sociedade. Desta forma, a norma prescreve determinados requisitos que as organizações devem cumprir para o estabelecimento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), que objetiva a melhoria contínua de seus 18 processos, produtos e serviços, além de permitir a diminuição sistemática de seus impactos ambientais. Para a ratificação da implementação de um SGA eficaz e melhorado continuamente nas organizações, existe a chamada “certificação ISO 14001”, um instrumento complementar que confirma ou não, por um organismo de terceira parte – alheio e imparcial às atividades daquela organização – o cumprimento dos requisitos da norma, quando implementada. Existem diversos elementos gerenciais e operacionais envolvidos com o estabelecimento, implementação, verificação e melhoria contínua de um SGA baseado na ISO 14001. Esses elementos estão intimamente ligados ao perfil ambiental, gerencial, cultural e financeiro das organizações. Sendo assim, antes de optar pela efetiva adoção da ISO 14001, as organizações devem entender suas motivações culturais, ambientais e gerenciais, além da disponibilidade de investimentos para todo o processo que, uma vez instalado, proceder-se-á de forma contínua. Considerando-se, entretanto, que muitas organizações não dispõem de subsídios elementares para escolher entre as opções “implementar a ISO 14001 e certificar” ou “não implementar a ISO 14001”, pois ainda não compreendem os aspectos principais que envolvem a norma e suas influências, percebe-se a necessidade de se desenvolver procedimentos específicos para o processo de tomada da decisão em pauta. Organizações que pretendam avaliar a necessidade e viabilidade da adoção da ISO 14001, devem se utilizar de diversas análises econômico-financeiras, técnicas e gerenciais, para que a opção escolhida entre implementar ou não esteja 19 sustentada sobre dados factuais, diminuindo a probabilidade de insucessos decorrentes da decisão adotada. O grande obstáculo neste processo de tomada de decisão é a consideração de elementos muitas vezes subjetivos, que não podem ser quantificados por uma medida específica. Eles são peculiares ao perfil empresarial em questão e dependentes da percepção do agente decisor. Identifica-se, portanto, a necessidade do desenvolvimento de ferramentas específicas, que auxiliem o corpo decisor das organizações nesse processo de tomada de decisão. 1.1 OBJETIVO O objetivo deste trabalho é desenvolver uma ferramenta que auxilie as organizações no processo de tomada de decisão quanto à viabilidade da adoção da norma ISO 14001 e respectiva certificação. A pergunta fundamental que a ferramenta, quando adotada pelos empresários, pretende responder às organizações é: “Implementar e certificar um Sistema de Gestão Ambiental baseado na ISO 14001 ou não?”. A metodologia na qual a ferramenta proposta se sustenta, busca valorar elementos objetivos e subjetivos intrínsecos à adoção da norma, com o objetivo principal de facilitar o processo de tomada de decisão na organização. Deve-se ter em mente que a ferramenta servirá como mais um suporte na tomada de decisão empresarial, devendo ser utilizada em conjunto com outras ferramentas disponíveis, similares ou não, para que se atendam a todos os aspectos elementares que correlacionam os objetivos da decisão e as respectivas opções disponíveis. 20 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A QUESTÃO AMBIENTAL O processo de desenvolvimento dos países se realiza, basicamente, às custas dos recursos naturais vitais, provocando a deterioração das condições ambientais em ritmo e escala até ontem desconhecidos. A paisagem natural da Terra está cada vez mais ameaçada pelas usinas nucleares, pelo lixo atômico, pelos dejetos orgânicos, pela ‘chuva ácida’, pelas indústrias e pelo lixo químico. Por conta disso, em todo o mundo, o freático é contaminado, a água se torna escassa, a área florestal diminui, o clima sofre grandes alterações, o ar se torna irrespirável e o patrimônio genético se degrada (MILARÉ, 2005). Citando Maurice Strong1 (1991), Milaré (2005) conclui que “do ponto de vista ambiental o planeta chegou ao ponto de quase não retorno. Se fosse uma empresa, estaria à beira da falência, pois dilapida seu capital, que são os recursos [e serviços] naturais, como se eles fossem eternos. O poder de autopurificação do meio ambiente está chegando ao limite”. Após a Revolução Industrial, a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais surgiu com a percepção de que a capacidade do ser humano de alterar o meio ambiente aumentou de forma bastanteintensa, trazendo conseqüências positivas e negativas e evidenciando uma interdependência entre a economia e o meio ambiente (SEIFFERT, 2007). Segundo Barbieri (2007): 1 Revista Veja. São Paulo: Editora Abril, 29/05/1991. p. 9. 21 É comum apontar a Revolução Industrial como um marco importante na intensificação dos problemas ambientais. A maior parcela de emissões ácidas, de gases de estufa e de substâncias tóxicas resulta das atividades industriais em todo o mundo. O lixo gerado pela população cada vez mais está composto por restos de embalagens e de produtos industriais. Milaré (2005) acerta quando observa que: De fato, a natureza morta não serve ao homem. A utilização dos recursos naturais, inteligentemente realizada, deve subordinar-se aos princípios maiores de uma vida digna, em que o interesse econômico cego não prevaleça sobre o interesse comum da sobrevivência da humanidade e do próprio Planeta. Percebe-se que a idéia do antropocentrismo é insustentável, face à sua resultante problemática ambiental. O ecocentrismo entra em cena, dando suporte às ideologias defendidas pela chamada “ecologia profunda”, termo que, segundo Capra (1986) “reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos)”. A história do ambientalismo não é nova. O filósofo grego Platão já levantava alguns dos problemas relacionados à erosão dos solos e desmatamento nas colinas da Ática (McCORMICK, 1992). Pelicioni (2004), afirma que “apesar de as denúncias sobre a degradação humana e ambiental serem feitas desde a Antigüidade, foi apenas no século XIX que essas manifestações começaram a configurar-se como um movimento”. A autora também destaca que foi nessa época que várias publicações trouxeram à tona o agravamento e a generalização da degradação socioambiental pelo mundo decorrentes da ação humana. 22 Além disso, para McCormick (1992), alguns fatores foram decisivos na construção do movimento ambientalista na década de 1960, tais como a tomada de consciência a respeito dos efeitos pós-guerra e das conseqüências dos testes nucleares; a divulgação de uma série de desastres ambientais e as denúncias de contaminação ambiental mostradas por Rachel Carson2 (2002) no periódico New Yorker e no livro Primavera Silenciosa (Silent Spring) - originalmente publicado em 1962; os avanços no conhecimento científico com relação ao meio ambiente; a publicação de estudos antropológicos a respeito dos valores e do estilo de vida dos povos tradicionais, além da influência de outros movimentos sociais (McCORMICK, 1992). Pelicioni (2004) destaca que: Por volta de 1970, a crise ambiental não mais passava despercebida. Um movimento significativo havia surgido no cenário mundial e a evolução dos estudos científicos comprovava cada vez mais a existência de vários problemas ambientais que poderiam comprometer a vida no planeta. Foi quando marcou-se a construção de uma nova fase no mundo pela disseminação, entre vários atores sociais, da responsabilidade pela sustentabilidade. Muitos acidentes ambientais de grande notoriedade, paralelamente, contribuíram e ainda hoje contribuem para o incremento das discussões sobre as conseqüências das ações antrópicas depredatórias. Como exemplos, citam-se: • Seveso (Itália, 1976), quando ocorreu a ruptura do disco de segurança de um reator, que resultou na emissão para a atmosfera de uma grande nuvem tóxica de triclorofenol, etilenoglicol e 2,3,7,8-tetraclorodibenzoparadioxina (TCDD): Toda a 2 CARSON, Rachel. Silent Spring. Anniversary Edition. Boston: Mariner Books, 2002. 23 vegetação nas proximidades da indústria morreu de imediato devido ao contato com compostos clorados. No total, 1.807 hectares foram afetados. A região denominada Zona A, com uma área de 108 hectares, possuía uma alta concentração da dioxina TCDD (240 µg/m²). Os efeitos imediatos à saúde das pessoas se limitaram ao surgimento de 193 casos de cloroacne (doença de pele atribuída ao contato com a dioxina). Os efeitos à saúde de longo prazo ainda são monitorados (CETESB, 2006a). • Bhopal (Índia, 1984): uma nuvem tóxica de isocianato de metila causou a morte de milhares de pessoas na cidade de Bhopal, a capital de Madya-Pradesh, na Índia central. A emissão foi causada por uma planta do complexo industrial da Union Carbide situada nos arredores da cidade, onde existiam vários bairros marginais. Estima-se que ocorreram por volta de 4.000 mortes e cerca de 200.000 pessoas intoxicadas, caracterizando assim a maior catástrofe da indústria química (CETESB, 2006b). • Goiânia (Brasil, 1987): a violação de uma cápsula de césio 137 por sucateiros da cidade de Goiânia (GO), resultou em quatro mortes. Cerca de 250 pessoas tiveram problemas de saúde na época - [...] cerca de mil foram consideradas afetadas pela radioatividade do césio de Goiânia, grande parte das quais são funcionários públicos que trabalharam na assistência às pessoas contaminadas. Atualmente, as seis mil toneladas de lixo radioativo resultantes do acidente estão armazenadas em contêineres de concreto, em um depósito em Abadia de Goiás, próximo a Goiânia (GREENPEACE, 2006). Como observa Freitas (2005), o homem percebeu que era imprescindível reagir a tal estado das coisas, mesmo que tarde. O autor, a partir daí, delineia o desenvolvimento sustentável como sendo a tentativa de ligar os interesses, 24 desenvolvimento e proteção ao meio ambiente, fazendo com que a utilização dos recursos naturais seja feita com critério, de modo a preservá-los. O relatório Nosso Futuro Comum, conhecido também por Brundtland, publicado em abril de 1987, propôs a seguinte lista de objetivos críticos, para as políticas de desenvolvimento sustentável: • Reviver o crescimento econômico; • Mudar a qualidade do crescimento; • Atender às necessidades de empregos, alimentos, energia, água, saneamento; • Conservar e ampliar a base de recursos; • Reorientar a tecnologia e administrar o risco; • Fundir ambiente e economia nos processos de tomada de decisão (WCED, 1987; PALMER, 2006). Por fim, o relatório contém muitas recomendações específicas de mudança institucional e legal, sendo suas principais propostas: • Chegar às fontes: organizações internacionais e regionais e governos nacionais devem começar a fazer grupos diretamente responsáveis pelos efeitos ambientais de suas ações. • Tratar os efeitos: é necessário reforçar as agências formadas para proteger e restaurar o ambiente, especialmente o Programa Ambiental das Nações Unidas. • Avaliar os Riscos Globais: a capacidade de identificar, avaliar e relatar os riscos ao meio ambiente deve ser aperfeiçoada. Isso não deve ser apenas responsabilidade de governos individuais; um novo grupo coordenador independente deve ser criado (WCED, 1987; PALMER, 2006). 25 • Tomar Decisões Informadas: o público, as Organizações Não- governamentais, cientistas e as indústrias devem todos ter a oportunidade de participar da tomada de decisões. • Fornecer os Meios Legais: o Direito Nacional e Internacional está sendo superado pelos acontecimentos. Os governos devem preencher as maiores lacunas. • Investir no Futuro: a eficácia global dos custos de cortar a poluição foi demonstrada ao longo da última década. Um compromisso com o desenvolvimento sustentável, no entanto, tem grandes implicações financeiras, e é necessário que as instituições financeiras, agências de auxílio e governos adotem uma nova prioridade e foco. Os países em desenvolvimento precisam de uma forte infusão de apoio financeiro de fontes internacionais paraa restauração ambiental, proteção e melhoramento. As principais agências financiadoras, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e os bancos regionais de desenvolvimento devem aumentar seus programas ambientais (WCED, 1987; PALMER, 2006). 2.2 A GESTÃO AMBIENTAL A preocupação com a preservação do meio ambiente tem assumido uma posição de destaque entre as questões que afligem o empresariado brasileiro. O mercado consumidor vem mudando de comportamento, buscando os chamados “produtos verdes” e o Governo, por sua vez, tem atendido à pressão crescente da sociedade, criando mecanismos de legislação mais rígidos. Isso tem levado os 26 empresários a buscarem ferramentas que possibilitem atender as exigências legais e comerciais e garantir a sobrevivência de suas empresas (CAMPOS et al. , s/d). Robinson3 (1991) segundo Chan e Wong (2004), salienta que existem atualmente um número significativo de ameaças ambientais para o futuro da humanidade, incluindo o “aquecimento global” da superfície terrestre e da baixa atmosfera, depleção da camada de ozônio estratosférica, um exacerbado consumo de recursos não-renováveis e poluição global do ar. Estes problemas ambientais foram intensificados pelo crescimento exponencial da população, gerando altas demandas por uma base de recursos cada vez menor. Neste aspecto, algumas organizações, além de cumprirem a legislação, têm adotado uma série de medidas de proteção e melhoria ambiental em suas operações. Entre essas medidas, destacam-se: mudanças em toda a linha de produção, adotando novas tecnologias (tecnologias limpas), repurificando a água através de ETA´s (Estações de Tratamento de Água) e ETE´s (Estações de Tratamento de Esgotos), substituindo matérias primas poluidoras e/ou altas produtoras de resíduos por outras mais limpas, entre outras. Atualmente, para muitas empresas, associar competitividade com o uso sustentável dos recursos naturais é adotar um novo paradigma, e talvez uma nova ética, conjugando produção e proteção ambiental (CISSÉ BA e BRITO, 2003). Chan e Wong (2004) concordam ao afirmarem que “indubitavelmente, os negócios têm um papel importante na prevenção de danos ambientais, já que são responsáveis por grande parte da degradação ambiental que ocorre em função dos processos de produção”. Além disso, continuam os autores, diversas organizações 3 ROBINSON, J. P. Criteria for scale selection and evaluation in measures of personality and social psychological attitudes. New York: Academic Press, 1991. 27 não-governamentais e grupos de pressão têm encorajado os empreendimentos a revelarem os impactos que eles oferecem ao meio ambiente. De acordo com Butzke et al. (2002), a Gestão Ambiental consiste de um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. Ainda segundo os mesmos autores, é primordial a participação de todos os indivíduos de uma determinada atividade de gestão ambiental. A gestão ambiental atual pode abarcar a idéia de desenvolvimento sustentável. Segundo Ferreira e Viola (1996), “uma sociedade sustentável é aquela que mantém o estoque de capital natural ou compensa pelo desenvolvimento do capital tecnológico uma reduzida depleção do capital natural, permitindo assim o desenvolvimento das gerações futuras”. Para Backer (1995), gestão ambiental é: Uma estratégia de negociação permanente, na qual os objetivos dos grupos e das pessoas com interesses parcialmente opostos, tanto dentro como fora da empresa, devem ser analisados, pesados e se possível relacionados a um modelo de equilíbrio do ecossistema, que deve ser forjado pelo responsável da empresa, em pessoa. Para tanto, é necessária uma ferramenta de análise e síntese que lhe permita identificar as prioridades da sua política e os objetivos ecologistas que ele pode ou quer estabelecer. Para Valle (1995), por sua vez, a “gestão ambiental consiste de um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente.” O autor ainda acrescenta que o gerenciamento ambiental deve assegurar 28 a melhoria contínua das condições de segurança, higiene e saúde ocupacional de todos os seus empregados e um relacionamento sadio com os segmentos da sociedade que interagem com o empreendimento. Andrade et al. (2000) atestam que a gestão ambiental é entendida como um processo adaptativo e contínuo, em que as organizações definem e redefinem seus objetivos e metas relacionados à proteção ambiental, à saúde de seus empregados, clientes e comunidade local, selecionando estratégias e meios para atingir estes objetivos num tempo determinado, por meio de constantes avaliações de sua interação com o meio ambiente externo. 2.2.1 Normas Ambientais Como resultado de tantos esforços despendidos pelas nações, aparentemente preocupadas em restabelecer um nível de desenvolvimento econômico compatível com o equilíbrio socioambiental, primando pela qualidade de vida das pessoas, surge uma miríade de ferramentas, metodologias e até mesmo “ciências” para tratar de forma mais pragmática, além da pura especulação ou discussões, as questões relativas à preservação da natureza. A internalização das novas regras de proteção ambiental, por meio de uma legislação mais restritiva e que objetiva a redução dos impactos ambientais promovidos pelas atividades antrópicas, consolida a ciência do Direito Ambiental, um instrumento que apóia a sociedade no sentido de proteger seus recursos naturais e impedir que o processo de degradação se estenda ainda mais. Para que problemas ambientais possam ser minimizados e para que ocorra uma melhoria na qualidade ambiental e de vida, afirma Butzke et al. (2001), 29 importante, se não fundamental, é a mudança de comportamento dos indivíduos e da sociedade como um todo, tanto em suas atividades como em todos os aspectos de suas vidas. É, essencialmente, uma questão que implica em um processo educativo e de conscientização ambiental. Como conseqüência direta da ação da sociedade, as organizações foram obrigadas a incorporar às suas atividades cuidados específicos com os aspectos ambientais envolvidos e que têm potencial para produzir impactos ambientais significativos. Observa-se aí a necessidade de prevenção impondo à gestão requisitos essenciais a serem atendidos (CERQUEIRA, 2005). Normas internacionais de caráter voluntário foram desenvolvidas para auxiliar a gestão das organizações a equilibrar seus interesses econômico-financeiros com os impactos gerados por suas atividades, sejam impactos ao meio ambiente ou conseqüências diretas para a segurança e a saúde de seus colaboradores (CERQUEIRA, 2005). Ainda segundo o mesmo autor, essas normas têm foco na gestão preventiva, buscando não só assegurar, mas também melhorar continuamente, por ações planejadas e sistematizadas, o atendimento aos requisitos legais e regulamentares aplicáveis às suas atividades, buscar o cumprimento de políticas e de seus compromissos com todas as partes interessadas, e atingir seus objetivos e metas, sejam eles relativos à qualidade, ao meio ambiente ou à segurança e à saúde ocupacional (CERQUEIRA, 2005). De acordo com Cajazeira (1998), o desenvolvimento de Sistemas de Gerenciamento Ambiental, de maneira normatizada, deve-se sobretudo a uma resposta com relação às crescentes dúvidas sobre a proteção do meio ambiente. Esta preocupação global em relação às questões ecológicas foi transferida para as 30 indústrias sob as mais diversas formas de pressão: Financeira (bancos e outras instituições financeiras evitam investimentos em negócioscom perfil ambiental conturbado), Seguros (diversas seguradoras só aceitam apólices contra danos ambientais em negócios de comprovada competência em gestão do meio ambiente), Legal (crescente aumento das restrições aos efluentes industriais pelas agências ambientais). Todavia, a pressão dos consumidores, notadamente em países mais desenvolvidos, reflete uma autêntica paranóia por produtos ambientalmente corretos e de certa forma estabeleceu uma suposta “consciência verde” ao redor do mundo. 2.2.2 A ISO 14001 A Organização Internacional para Normalização (ISO) é uma fundação mundial composta por 130 membros de entidades nacionais de normalização, tendo um membro de cada país associado. É uma organização não-governamental criada em 1947, sediada na Suíça, cuja missão é promover o desenvolvimento da normalização mundial, com o objetivo de facilitar o comércio internacional de bens e serviços e desenvolver a cooperação de atividades científicas, tecnológicas e econômicas. O trabalho da ISO resulta em consensos internacionais, os quais são publicados como normas e outros documentos internacionais (SANTOS, 2006). A existência de normas distintas para tecnologias similares em diferentes países e regiões pode contribuir para a imposição de barreiras técnicas ao comércio internacional. A origem da ISO está ligada à necessidade de derrubar tais barreiras, de modo a incrementar o intercâmbio comercial mundial. O Brasil possui uma vaga na ISO representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (SANTOS, 2006). 31 As normas ISO, ainda segundo Santos (2006), são desenvolvidas de acordo com os seguintes princípios: • Consenso: convergência de interesses de produtores, vendedores e usuários, grupos de consumidores, laboratórios de análises, entidades governamentais, profissionais de engenharia e organizações de pesquisa; • Abrangência global: soluções globais para satisfazer indústrias e consumidores no mundo inteiro; • Trabalho voluntário: a normalização internacional é dirigida pelo mercado e, portanto, baseada no envolvimento voluntário de todos os interessados que ocupam espaço no mercado. Entre as consagradas ferramentas no auxílio da consolidação de práticas produtivas mais compatíveis com o novo modelo de gestão ambiental e que vem sendo adotada em larga escala, é a Norma Ambiental ABNT NBR ISO 14001 – Sistemas da Gestão Ambiental – Requisitos com orientações para uso, já na versão 2004, subseqüente à primeira versão, de 1996. Ela é a versão brasileira da ISO 14001:2004, traduzida pela ABNT. Qualquer organização que tencione atestar à sociedade, aos seus clientes e aos órgãos de controle e fiscalização ambiental, que possui controle sobre seus aspectos e impactos ambientais, poderá se utilizar da aplicação desta norma em seus processos, consolidando um Sistema de Gestão Ambiental e, sendo esta aplicação efetivamente comprovada e verificada como conforme em relação aos requisitos prescritos pela Norma, poderá este sistema ser certificado em “conformidade com a ISO 14001”. Cissé BA e Brito (2003) expressam que “mesmo que inúmeros sistemas de gestão ambiental tenham sido desenvolvidos anteriormente, a norma ISO 14001 32 tende a servir de modelo de referência, substituindo outros sistemas, cujo reconhecimento é menos legítimo”. A Norma ISO 14001 define Sistemas de Gestão Ambiental segundo um conjunto de requisitos específicos e faz parte da série de normas internacionais ISO 14000, que buscam uma Gestão Ambiental sistemática de processos, produtos e serviços, com o objetivo de atingir melhores resultados em termos de gerenciamento das variáveis ambientais (ABNT, 2004). Cissé BA e Brito (2003) enfatiza que a norma ISO 14001 conheceu um rápido crescimento desde o seu lançamento, principalmente em empresas multinacionais. De acordo com o autor, o novo padrão nos sistemas de gestão ambiental impõe-se como um tipo de passaporte para o acesso a determinados mercados. A ISO 14001 é uma norma de gestão ambiental que busca assegurar o compromisso das organizações em reduzir os negativos efeitos ambientais (ABNT, 2004). Borges (2001) exemplifica que na Aracruz Celulose foram necessários ajustes tais como a implantação de uma nova política de meio ambiente, qualidade, saúde e segurança; diretrizes específicas para todos os departamentos no que diz respeito à adequação da legislação ambiental; avaliação dos aspectos ambientais de todas as atividades da empresa, procedimentos para uma avaliação interna da gestão ambiental e a realização de duas auditorias internas anuais. A autora ainda enfatiza que, embora a obtenção deste certificado seja opcional, ele abre perspectivas de negócios e financiamento e, muitas vezes, faz parte das exigências impostas pelo mercado. Segundo a ABNT (2004), “As normas de gestão ambiental têm por objetivo prover as organizações de elementos de um sistema de gestão ambiental (SGA) 33 eficaz que possam ser integrados a outros requisitos de gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos” . A norma especifica os requisitos para que um sistema da gestão ambiental capacite uma organização a desenvolver e implementar política e objetivos que levem em consideração requisitos legais e informações sobre aspectos ambientais significativos. Pretende-se que se aplique a todos os tipos e portes de organizações e para adequar-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais (...) O sucesso do sistema depende do comprometimento de todos os níveis e funções e especialmente da alta administração. Um sistema deste tipo permite a uma organização desenvolver uma política ambiental, estabelecer objetivos e processos para atingir os comprometimentos da política, agir, conforme necessário, para melhorar seu desempenho e demonstrar a conformidade do sistema com os requisitos da norma. A finalidade geral desta norma é equilibrar a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades socioeconômicas (ABNT, 2004). Esta norma é baseada na metodologia conhecida como Plan-Do-Check-Act (PDCA)/(Planejar-Executar-Verificar-Agir). O PDCA pode ser brevemente descrito da seguinte forma: - Planejar: Estabelecer os objetivos e processos necessários para atingir os resultados em concordância com a política ambiental da organização; - Executar: Implementar os processos; - Verificar: Monitorar e medir os processos em conformidade com a política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e relatar os resultados; - Agir: Agir para continuamente melhorar o desempenho do sistema da gestão ambiental (ABNT, 2004). 34 Em suma, a norma se aplica aos aspectos ambientais que a organização identifica como aqueles que possa controlar e aqueles que possa influenciar. Apesar disso, ela não estabelece critérios específicos de desempenho ambiental. Aplica-se, ainda, a qualquer organização que deseja: a) estabelecer, implementar, manter e aprimorar um sistema da gestão ambiental; b) assegurar-se da conformidade com sua política ambiental definida; c) demonstrar conformidade com os requisitos da norma ao a. fazer uma auto-avaliação ou autodeclaração, ou b. buscar confirmação de sua conformidade por partes que tenham interesse na organização, tais como clientes, ou c. buscar confirmação de sua autodeclaração por meio de uma organização externa, ou d. buscar certificação/registro de seu sistema da gestão ambiental por uma organização externa (ABNT, 2004). A marca de mais de duas mil empresas brasileiras certificadas até março de 2006 em conformidade com a Norma ISO 14001 (ALTINO, 2006), revela a tendência das empresas (públicas, privadas ou mistas) em administrar seus aspectos e impactos ambientais de seus processos, produtos ou serviços, incrementando a gestão organizacional com o controle sobre as variáveisque definem a interface Empresa X Meio Ambiente. 2.2.3 A Certificação da Norma ISO 14001 35 De acordo com a Organização Internacional para Normalização, o termo “certificação” se refere à emissão de um certificado escrito por um organismo independente e externo que auditou o sistema de gestão da organização e verificou sua conformidade com os requisitos especificados na norma. O termo “registro” significa que o corpo auditor (Organismo Certificador Credenciado) registrou esta certificação em seu registro de clientes (ISO, 2006a). Como uma das formas de comprovação e demonstração da validade do atendimento aos requisitos implantados em conformidade com a ISO 14001, portanto, existem as certificações de terceira parte, concedidas por Organismos Certificadores Credenciados (OCCs). A certificação é um instrumento que valida o Sistema de Gestão Ambiental implementado, atestando sua conformidade com os requisitos da Norma ISO 14001. Esta certificação é uma garantia às partes interessadas, de forma imparcial e objetiva, que a organização possui um SGA planejado, implementado, mantido e melhorado continuamente. A certificação de conformidade com a ISO 14001 não é compulsória. Isto significa que a organização que implementa a norma para estabelecer um sistema de gestão ambiental não necessariamente precisa ser certificada por um organismo de terceira parte. Isto é, a alta administração é quem define se certifica ou não o sistema de gestão implementado, de acordo com suas necessidades e perspectivas. A ISO salienta que “decidir por se submeter a uma auditoria independente do seu sistema de gestão para confirmar a conformidade com o padrão (a norma) é uma decisão a ser tomada se, por exemplo: • é um requisito contratual, regulamentar ou de mercado, • vai ao encontro dos desejos do consumidor, • é parte de um programa de gestão de riscos, ou (...) 36 • a certificação irá motivar sua equipe por estabelecer um objetivo claro para o desenvolvimento do sistema de gestão” (ISO, 2006b). Entende-se, portanto, que a tomada de decisão em relação à certificação ISO 14001 deve ser subsidiada por uma série de aspectos convergentes, que incluem critérios objetivos e subjetivos (quantitativos e qualitativos). Estes critérios, dados para a caracterização do perfil de cada empresa no que se refere às suas tomadas de decisão, deverão ser levantados e tratados estatisticamente por um modelo que possa, ao final, conduzir a uma recomendação com maior probabilidade de acerto na decisão adotada. 2.3 MOTIVAÇÕES PARA A ADOÇÃO DA NORMA ISO 14001 E CERTIFICAÇÃO O Brasil teve o mérito de ser o primeiro país da América Latina a alcançar tamanha expressividade na adoção da norma, que pode representar que a certificação ambiental foi encarada muito mais como uma oportunidade de melhoria do que, simplesmente, como uma barreira que estava sendo imposta com o intuito de dificultar práticas comerciais (ALTINO, 2006). Entretanto, para as organizações, esta nova norma levanta muitos desafios. Num primeiro momento, sua adoção parece ser muito mais motivada por uma atitude de antecipação, que por pressões internas e/ou externas. Além da grande quantidade de documentos exigidos, as proposições da norma não estão necessariamente de acordo com a filosofia de gestão das organizações, que se deparam com muitos problemas relacionados. Esse processo de certificação, além de envolver a implementação de diversos procedimentos, requer uma mudança cultural que mostra-se de difícil assimilação. Assim, a ISO provoca alteração no 37 universo simbólico criando movimentos de resistência e adesão devido à interpretação que cada membro faria dela (CISSÉ BA e BRITO, 2003). Fryxell e Szeto (2001) afirmam que as razões em virtude das quais as empresas deveriam buscar a certificação, são: melhorias nas conformidades regulatórias, melhoria no desempenho ambiental, atendimento das expectativas dos clientes, redução de custos, melhor atendimento às partes interessadas externas e a melhoria na reputação corporativa. Zeng et al. (2005), da mesma forma, enumeram algumas motivações pela certificação ISO 14001, tais como: a entrada no mercado internacional, a padronização de procedimentos de gestão ambiental para operações internas, a economia de recursos e redução de desperdícios para o gerenciamento corporativo, a melhoria na imagem corporativa para efeitos de mercado e o aumento na consciência ambiental de fornecedores. Os autores ainda relacionam os benefícios provenientes da certificação ISO 14001, pesquisados entre diversas organizações: • Benefícios para operações internas, através do aumento da eficiência, responsabilidades bem-definidas, aumento da consciência ambiental: padronização de um sistema de gestão ambiental; • Benefícios para a gestão corporativa, através de menor número de reclamações, melhoria nos resultados, economia de recursos e redução de desperdícios e aumento do reconhecimento social; • Benefícios de mercado, por meio do aumento da fatia de mercado, confiança dos consumidores e melhoria na imagem corporativa; 38 • Benefícios nas relações com fornecedores (terceirizados), através de melhores relações, controle e aumento da consciência ambiental e da promoção da certificação ISO 14001; e • Benefícios para a produção mais limpa, em que oitenta e um por cento das organizações pesquisadas afirmaram que a certificação ISO 14001 promoveu “óbvia melhoria”, ao passo que apenas dezessete por cento afirmaram que a certificação “não fez diferença” com relação à produção mais limpa (ZENG et al., 2005). De acordo com Bansal e Bogner (2002), os custos com a ISO 14001 não são triviais. Os autores concordam que gerentes precisam adotar uma análise cuidadosa da relevância da ISO 14001 para suas organizações antes de decidirem pela sua adoção. Apesar da facilidade de se estimar os custos diretos da implementação da norma e respectiva certificação com a ajuda de uma boa contabilidade interna, a valoração de custos e benefícios intangíveis e os impactos indiretos no desempenho do empreendimento é mais complexa. Ainda de acordo com os autores acima, a certificação para um SGA baseado na ISO 14001 não é nem fácil e nem barato. Além dos custos de certificação, as empresas precisam contabilizar os custos anuais de manutenção da documentação (BANSAL e BOGNER, 2002). Pergunta-se, então, quais seriam os benefícios econômicos diretos esperados em função da certificação? Devido ao aumento da eficiência das organizações, pela ajuda de um SGA, em função de uma gestão ambiental responsável, a ISO 14001 provê benefícios marginais da respectiva certificação. Um dos claros benefícios seria a possibilidade de sinalizar aos clientes que a organização exigirá a certificação ISO 14001. Xerox, IBM, Honda, Toyota, entre outras organizações, encorajaram seus 39 fornecedores a certificarem-se com a adoção da ISO 14001. A Ford e a GM deram passos mais largos nesse sentido. Em setembro de 1999, a divisão de compras da Ford anunciou que todos os seus fornecedores, no mundo inteiro, deveriam obter a certificação ISO 14001 até 2003. Após duas semanas, a GM procedeu com um anúncio semelhante. Os fornecedores destas organizações terão poucas opções se a ISO 14001 se tornar um requisito de fato para vender em qualquer cadeia de valores que desembocam nessas organizações (BANSAL e BOGNER, 2002). Morrow e Rondinelli (2002), abordando também a questão motivacional em relação a ISO 14001, enumeram possíveis motivações, tais como a economia de recursos pela melhoria da eficiência e redução de custos com a energia, materiais, multas e penalidades, aumento da confiança do investidor na organização e vantagens competitivas internacionais. Ademais, Clark4 (1999) segundo Morrow e Rondinelli (2002), afirma que muitasorganizações multinacionais estão adotando um sistema de gestão ambiental para satisfazer as pressões dos clientes e para assegurar que a cadeia de fornecedores esteja operando de maneira social e ambientalmente responsável. Também, em função do grande interesse entre as partes envolvidas internas e externas, as organizações estão adotando os sistemas de gestão ambiental. Os pesquisadores ainda salientam outras motivações, tais como: avaliação do comprometimento com a melhoria do desempenho ambiental e redução de riscos das companhias, por agências regulatórias do governo, companhias de seguro e instituições financeiras; aumento da eficiência das operações; aumento da consciência dos impactos ambientais entre funcionários e o estabelecimento de uma 4 CLARK, D. What drives companies to seek ISO 14000 certification? Pollution Engineering International, v. Summer, p. 4-17, 1999. 40 forte imagem de responsabilidade social corporativa (MORROW e RONDINELLI, 2002). Em matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo, Carlos Nomoto, superintendente de desenvolvimento sustentável do Banco Real, afirma que no setor de crédito o banco tem analistas especializados em avaliar aspectos sociais e ambientais do tomador de empréstimo. Quanto mais “sustentavelmente correto” ele for, menores serão os juros (BANCOS, 2007). Para Culey5 (1998) segundo Seiffert (2007), a maioria das empresas que vêm implementando um SGA baseado na ISO 14001, tem sido motivada, em geral, quase exclusivamente pelo eventual surgimento de futuras barreiras não tarifárias ao comércio de seus produtos. Com a adoção da norma, portanto, as empresas acreditam assegurar sua fatia do mercado, tanto nacional, como internacional. Supõe-se, portanto, que o processo de tomada de decisão com relação à certificação ISO 14001 seja executado considerando-se diversos elementos motivacionais e contextuais relativos às organizações. Para tanto, o agente decisor da organização precisa entender quais os principais elementos relacionados a um SGA ISO 14001, avaliando-os em face do seu perfil organizacional. 2.4 TOMADA DE DECISÃO Buchanan e O´Connell (s/d) afirmam que a tomada de decisão é parte de um fluxo de pensamento que teve seu início nos tempos em que o homem, diante da incerteza, buscava orientação nos astros. A partir dali, o homem nunca cessou sua busca por novas ferramentas decisórias. Os autores ainda concordam que a 5 CULEY, W. C. Environmental and quality systems integration. Washington: Lewis Publisher, 1998. 41 chegada da expressão “tomada de decisão”, inserida no século passado por um executivo aposentado chamado Chester Barnard, mudou o modo como o administrador via aquilo que fazia e gerou uma nova firmeza no agir; um desejo de conclusão. Os autores defendem a idéia de que o estudo da tomada de decisão é uma mescla de várias disciplinas do saber, como matemática, sociologia, psicologia, economia e ciências políticas (BUCHANAN e O´CONNELL, s/d). Shimitzu (2001) afirma que uma organização freqüentemente se encontra diante de problemas sérios de decisão. Uma pessoa física poderia analisar o problema e escolher a melhor alternativa de decisão de modo inteiramente informal. Em uma organização, os problemas são muito mais amplos e complexos, envolvendo riscos e incertezas. Necessitam, normalmente, da opinião e participação de muitas pessoas, em diversos níveis funcionais. Dependendo do tipo e/ou do nível da decisão, o processo de decisão em uma empresa ou organização pode ser estruturado e resolvido de modo formal, detalhado, consistente e transparente. Para Gomes et al. (2002), uma decisão precisa ser tomada sempre que se está diante de um problema que possui mais que uma alternativa para sua solução. Mesmo quando, para solucionar um problema, dispõe-se uma única ação a tomar, têm-se as alternativas de tomar ou não essa ação. Concentrar-se no problema certo possibilita direcionar corretamente todo o processo. A tomada de decisão é um esforço para tentar resolver problemas de objetivos conflitantes cuja presença impede a existência da solução ótima e conduz à procura do “melhor compromisso” (ZELENY6, 1994 apud GOMES et al., 2002). 6 ZELENY, Milan. Six concepts of optimality. TIMS/ORSA Joint Meeting. Boston, 1994. 42 Raiffa7 (1970) entende que os objetivos ajudam a determinar quais informações devem ser obtidas, permitem justificar decisões perante os outros, estabelecem a importância de uma escolha e permitem estabelecer o tempo e o esforço necessário para cumprir uma tarefa (RAIFFA8, 1970 apud GOMES et al., 2002). Gomes et al. (2002) também observa que o processo de decisão requer a existência de um conjunto de alternativas factíveis para a sua composição, em que cada decisão (escolha de uma alternativa factível) tem associados um ganho e uma perda. Para Soares (2004), a gestão ambiental pode ser entendida como um processo de tomada de decisões que devem repercutir positivamente sobre a variável ambiental de um sistema. Nesse caso, a tomada de decisão consiste na busca da opção que apresente o melhor desempenho, a melhor avaliação, ou ainda, a melhor aliança entre as expectativas daquele que tem o poder de decidir e suas disponibilidades em adotá-la. DOT8 (2001) segundo Lima e Vasconcelos (2006) sugere que a seqüência de um processo de tomada de decisão pode ser descrita por meio dos seguintes passos: 1. Identificação dos objetivos, considerada como uma fase crucial já que ela deverá condicionar todas as seguintes e, portanto, a viabilidade do projeto. Esses objetivos devem obedecer aos requisitos de i) especificidade; ii) mensurabilidade; iii) consensualidade; iv) realismo e v) estar associado a determinado período de tempo. 7 RAIFFA, H. Decision Analysis. Reading Addison: Wesley, 1970. 8 DOT. Multi Criteria Analysis: A Manual. Department for Transport, Local Government and the Regions, United Kingdon, 2001. 43 2. Após definidos os objetivos, necessário é identificar as opções que irão contribuir para a satisfação daqueles objetivos. 3. Para a comparação das opções levantadas no passo anterior, deve-se proceder então com a identificação dos critérios para a comparação das opções. De acordo com os autores, esta é a fase em que se estabelece o método de comparação das diferentes opções, no sentido de atingir aqueles objetivos definidos previamente. Para tanto, faz-se necessário o estabelecimento de critérios de medição do desempenho das diferentes opções e, além disso, esses critérios têm de permitir a mensurabilidade das diferentes opções, pelo menos em termos qualitativos. 4. O passo seguinte é executar a análise das opções, onde condiciona-se a escolha da opção final. De acordo com os autores, os métodos de análise mais comuns baseiam-se simplesmente na avaliação econômica e financeira. 5. Como penúltimo passo, tem-se a seleção entre opções analisadas e a opção selecionada não deve ser necessariamente irreversível, devendo-se salvaguardar a possibilidade de apreciar novas opções. 6. Retorno dos resultados (feedback) - por consulta às partes interessadas ou debate - é o último passo, importante para a obtenção de elementos e informações enriquecedores que contribuem para a redução de incerteza nos processos futuros. Já Oliveira (1997), define que as fases do processo decisório se dão, basicamente, da seguinte forma: • identificação do problema; • análise do problema, com base na consolidação das informações sobre ele. Para tanto é necessário tratá-lo como um sistema; • Estabelecimento de soluções alternativas; 44 • Análise e comparação das soluções alternativas, por meio delevantamento das vantagens e desvantagens de cada alternativa, bem como da avaliação de cada uma dessas alternativas em relação ao grau de eficiência, eficácia e efetividade no processo; • Seleção de alternativas mais adequadas, de acordo com critérios preestabelecidos; • Implantação de alternativa selecionada, incluindo o devido treinamento e capacitação das pessoas envolvidas; e • Avaliação da alternativa selecionada por meio de critérios devidamente aceitos pela empresa. Ainda segundo Oliveira (1997), os elementos do processo decisório que o executivo poderá lançar mão são: a) a incerteza que ocorre tanto no conhecimento da situação do ambiente que envolve a decisão, quanto na identificação e valoração das conseqüências decorrentes da opção por um curso de ação em detrimento de outras alternativas. b) Os recursos do decisor, que normalmente são limitados, prejudicando a correspondente ação. Essa é uma das razões da necessidade de estabelecer planos de ação inerentes às principais decisões da empresa. Isso porque os cursos alternativos de que a empresa dispõe competem entre si, apesar de estarem hipoteticamente voltados para o mesmo propósito, objetivo, meta ou desafio estabelecidos. 2.4.1 Análise Multicriterial Lucena (2003) afirma que tradicionalmente as decisões nos diversos setores da sociedade são baseadas em apenas um ou dois critérios, por meio de técnicas 45 monocriteriais. Nestes métodos, segundo a autora, não é fácil considerar a presença e a importância de fatores subjetivos, sejam eles quantificáveis ou não. Isto pode conduzir a escolhas não muito adequadas, por exemplo, para atender as prioridades socioeconômicas de uma comunidade. A partir de tais necessidades e exigências, o pensamento multicriterial de tomada de decisão começou a crescer e tomar forma. As decisões que envolvem ações ambientais são sustentadas sobre múltiplos critérios de decisão, em que as aplicações de análises multicriteriais, portanto, são as mais adequadas para os processos de tomada de decisão. Segundo Gomes et al. (2002), existem seis principais metodologias multicriteriais de atribuição de pesos aos critérios, a saber: SMART (Simple Multi Attribute Rating Technique), Ordinal (Ranking Methods), Atribuição Direta de Peso (ou Pontuação Direta), Swing Weighting, Trade-off Weighting e Análise Hierárquica de Processos (AHP). O método de Análise Hierárquica de Processos, criado por Saaty (1991), utiliza uma escala verbal para fazer comparações de valor entre as alternativas de decisão. Ao se comparar duas alternativas A e B (comparação paritária), pode-se dizer que a alternativa A é melhor do que a alternativa B (PESSÔA, 2005). Schmidt (1995) entende que o modelo hierárquico de Saaty (1991) reflete a maneira pela qual a mente humana conceitualiza e estrutura um problema complexo. O método natural de funcionamento da mente humana, quando se defronta com um grande número de elementos, controláveis ou não, que abrangem uma situação complexa, é agregá-los a grupos, segundo propriedades comuns, isto é, quando o ser humano identifica alguma coisa, decompõe a complexidade encontrada; quando descobre relações, sintetiza; este é o processo fundamental da percepção: decomposição e síntese. 46 No Método de Análise Hierárquica, o uso de comparações paritárias é combinado com uma estrutura hierárquica que define critérios e subcritérios. Isto torna o método bastante poderoso, tanto por facilitar a estruturação do problema em vários níveis hierárquicos, quanto por facilitar sobremaneira a valoração de alternativas sob critérios subjetivos. O resultado de todo o processo é um ordenamento de todas as alternativas (PESSÔA, 2005). A atribuição de pesos aos critérios no método AHP, é baseada na comparação paritária dos critérios considerados. Isto é feito por meio das perguntas: “qual destes critérios é mais importante? Quanto este critério é mais importante que o outro?” (GOMES et al., 2002). O decisor responderá a esta última pergunta, segundo o autor, com o número que relata a expressão verbal. Portanto, neste método, utiliza-se de uma escala de um a nove (Figura 1). Outros pesquisadores propuseram escalas alternativas, nas quais é estabelecido um valor superior a 9 como limite. O método AHP tem como origem a escala de razão (GOMES et al., 2002). Figura 1 - Quadro da Escala Fundamental de Saaty (1991). Valor Importância relativa Expressão verbal 1 Igual importância Os dois elementos contribuem igualmente para o objetivo 3 Preponderância pequena de um sobre o outro A experiência e o julgamento favorecem levemente um critério em relação ao outro 5 Preponderância grande ou essencial A experiência e o julgamento favorecem fortemente um critério em relação ao outro 7 Preponderância muito grande ou demonstrada Um critério é muito fortemente favorecido em relação ao outro, sua dominação de importância é demonstrada na prática 9 Preponderância absoluta A evidência favorece um critério em relação ao outro com mais alto grau de certeza 2, 4, 6, 8 Valores intermediários Quando se procura uma condição de compromisso entre duas definições 47 Utilizando a escala de razão, pode-se obter a seguinte metodologia: considerando os critérios c1, c2 e c3, onde c1 > c2 > c3, pergunta-se o quanto c1 é superior a c2, o quanto c1 é superior a c3 e o quanto c2 é superior a c3. Pode-se observar que o número de comparações N é definido pela equação (1): � � �� � ��� � � (1) em que n é o número de critérios (GOMES et al., 2002). Na Figura 2 apresenta-se uma ilustração de uma típica estrutura hierárquica de processo: Figura 2 - Estrutura hierárquica simples do método AHP (MOISA, 2005). Na fase de priorização dos elementos (critérios), obtém-se o vetor de prioridade local a partir da matriz de comparação, o qual permite a determinação do grau de importância dos elementos em cada nível hierárquico do sistema (LUCENA, 2003). Este vetor é obtido a partir do autovetor da matriz de comparação e pode ser calculado pelo produtório dos julgamentos de cada linha da matriz de comparação. É OBJETIVO Critério 1 Critério 2 ... Critério n Alternativa 1 Alternativa 2 ... Alternativa n 48 então calculada a n-ésima raiz de cada produtório e os resultados obtidos são normalizados (SAATY, 1991). Supondo-se que c1 = 2 x c2, c2 = 2 x c3 e, conseqüentemente, c1 = 4 x c3 (GOMES et al., 2002), compõe-se a matriz de comparações apresentada na Tabela 1. Tabela 1 - Matriz de comparações adaptada de Gomes et al. (2002). C1 C2 C3 W (autovetor) C1 1 2/1 4/1 [1x(2/1)x(4/1)]1/3 = 2,0 C2 1/2 1 2/1 [(1/2)x1x(2/1)]1/3 = 1,0 C3 1/4 1/2 1 [(1/4)x(1/2)x1]1/3 = 0,5 Efetuando a soma dos valores do autovetor W (2,0 + 1,0 + 0,5) obtém-se o valor 3,5. Após isso, efetua-se a normalização dos valores, obtendo-se: a. Wc1 = 2,0 / 3,5 = 0,5714 b. Wc2 = 1,0 / 3,5 = 0,2857 c. Wc3 = 0,5 / 3,5 = 0,1428 Conclui-se, portanto, que o elemento (critério C1), em relação aos outros elementos, tem um peso (ou importância) de 0,5714 (ou 57,14%) e assim sucessivamente para C2 (28,57%) e C3 (14,28%). 49 3 METODOLOGIA 3.1 DESENVOLVIMENTO DA FERRAMENTA DE APOIO À DECISÃO 3.1.1 Identificação do objetivo do problema de decisão Inicialmente, considerou-se a necessidade da identificação do objetivo que o agente decisor deve ter em mente com relação ao seu processo decisório. A pergunta que levou o agente decisor para este processo, e que ele deve sempre ter em mente é: “qual o objetivo que se pretende alcançar neste processo de tomada de decisão?” Portanto, nesta etapa definiu-se claramente qual o objetivo do problema de decisão. 3.1.2 Identificação das alternativas de decisão Definido o objetivo, na segunda etapaconsiderou-se que o agente decisor deve conhecer as opções (ou alternativas de decisão) disponíveis, sabendo que a ferramenta de apoio à sua decisão irá fornecer uma tendência para uma dessas opções. As alternativas de decisão derivam diretamente do objetivo do problema, esclarecido na primeira etapa. Tem-se, portanto, como opções mutuamente excludentes, as seguintes alternativas a serem recomendadas ao agente decisor: 1. Implementar a ISO 14001 e certificar o empreendimento/atividade ou 2. Não implementar a ISO 14001. 50 Logicamente, pretende-se que o referido resultado indique uma tendência para uma das alternativas de decisão. 3.1.3 Levantamento de critérios e subcritérios de apoio à decisão (questionário de pesquisa) Na terceira etapa foram levantados os critérios e subcritérios de apoio à decisão, elementos que subsidiam a comparação entre as alternativas de decisão. Esta fase se concretizou por meio de uma pesquisa com empresas já certificadas nos padrões normativos ISO 14001, em que foram sugeridos critérios e subcritérios iniciais e que, eventualmente, tenham sido considerados como elementos para a tomada de decisão. O questionário (ANEXO 1) foi publicado na Internet, em um endereço destinado especificamente para a pesquisa, com campos para preenchimento das respostas, para que os convidados pudessem responder as perguntas e enviar os resultados de forma prática e ágil. As respostas foram recebidas por um endereço de correio eletrônico também destinado exclusivamente à pesquisa. Para participar das pesquisas, as empresas foram selecionadas a partir de uma lista de empresas certificadas por Organismos Certificadores Credenciados pelo INMETRO (2007), disponibilizada no endereço eletrônico deste. No total foram enviados, por correio eletrônico, aproximadamente quinhentos convites para a participação na pesquisa, endereçados a gestores ambientais e/ou administradores, responsáveis pelo SGA certificado de suas respectivas empresas. Com base nos resultados da pesquisa e na revisão de literatura, procedeu-se ao estabelecimento definitivo dos critérios e subcritérios que efetivamente se 51 apresentaram como principais elementos para a tomada de decisão das organizações para a adoção da norma ISO 14001. Ainda nesta etapa, procedeu-se ao estudo estatístico das respostas dicotômicas com relação aos subcritérios adotados ou não pelas empresas respondentes. O objetivo deste estudo foi encontrar as significâncias (teste t, ANEXO 5) e as correlações (de Pearson, ANEXO 6) entre os subcritérios (BARBETTA, REIS e BORNIA, 2004). Para a realização deste estudo, foi utilizado o programa computacional SPSS versão 13.0. 3.1.4 Priorização de critérios e subcritérios pela Análise Hierárquica de Processos Dentre as principais metodologias multicriteriais de atribuição de pesos citadas por Gomes et al. (2002), a Análise Hierárquica de Processos (AHP), por já ter sido utilizada em trabalhos anteriores de tomada de decisão ambiental e pela sua relativa simplicidade de aplicação e entendimento, foi a metodologia escolhida para a priorização dos critérios e subcritérios, par a par, utilizados no algoritmo da ferramenta proposta. a. Priorização de critérios Para a priorização tanto dos critérios, quanto dos subcritérios paritariamente, isto é, para o cálculo da importância relativa entre estes elementos, foi utilizado o tratamento da Análise Hierárquica de Processos (AHP), em que o agente decisor deve considerar a importância que um determinado critério ou subcritério de decisão 52 tem com relação aos seus respectivos pares, utilizando-se da Escala Fundamental (Figura 1, p. 46). Como exemplo, pode-se simular a percepção do agente decisor sobre a importância dos critérios, da seguinte maneira: Tabela 2 - Matriz de importâncias relativas dos critérios (GOMES et al., 2002). CRITÉRIO 1 (C1) CRITÉRIO 2 (C2) CRITÉRIO 3 (C3) CRITÉRIO 1 (C1) 1 C1/C2 C1/C3 CRITÉRIO 2 (C2) C2/C1 1 C2/C3 CRITÉRIO 3 (C3) C3/C1 C3/C2 1 Na Tabela 2, caso o agente decisor perceba que o critério 2 tem pequena preponderância sobre o critério 1, a razão C1/C2 será igual a 1/3. Automaticamente a razão C2/C1 será igual a 3. Analogamente, se o critério 3 tiver uma importância absoluta sobre o critério 1, a razão C3/C1 será valorada em 9. Automaticamente a razão C1/C3 será igual a 1/9. Ao final da composição da matriz de importâncias relativas, pode-se obter a influência de cada critério no processo de tomada de decisão (peso relativo), adotando-se o produtório dos julgamentos de cada linha da matriz de comparação. É então calculada a n-ésima raiz de cada, da seguinte forma: O peso do critério 1 (P1) é calculado pela equação 2. P1 = (1 x C1/C2 x C1/C3) 1/3 (2) 53 e assim sucessivamente para o restante dos critérios: O peso do critério 2 (P2) é calculado pela equação 3. P2 = (C2/C1 x 1 x C2/C3) 1/3 (3) O peso do critério 3 (P3) é calculado pela equação 4. P3 = (C3/C1 x C3/C2 x 1) 1/3 (4) Com todos os pesos calculados, procede-se à normalização dos valores (pesos relativos normalizados), em que o somatório de todos eles resulta em um, conforme as equações 5 a 7. NP1 = P1 / (P1 + P2 + P3) (5) NP2 = P2 / (P1 + P2 + P3) (6) NP3 = P3 / (P1 + P2 + P3) (7) b. Priorização de subcritérios Em seguida, assumindo-se que o critério 1 possua dois subcritérios S11 e S12, deve-se proceder, assim como no caso dos critérios, à análise paritária entre eles. Sendo assim, a matriz de importâncias relativas dos subcritérios do critério 1 se configura como na Tabela 3. 54 Tabela 3 - Matriz de importâncias relativas dos subcritérios do critério 1. Subcritério 1 do critério 1 (S11) Subcritério 2 do critério 1 (S12) Subcritério 1 do critério 1 (S11) 1 S11/S12 Subcritério 2 do critério 1 (S12) S12/S11 1 Caso o agente decisor perceba que o subcritério 1 tenha grande importância sobre o subcritério 2, a razão S11/S12 deve ser valorada, de acordo com a Escala Fundamental de Saaty (Figura 1, p. 46), como 5. Automaticamente a razão inversa, S12/S11 será igualada a 1/5. Ao final da composição da matriz de importâncias relativas, pode-se obter a influência de cada subcritério no processo de tomada de decisão (peso relativo), da seguinte forma: O peso do subcritério 1 do critério 1 (PS11) é calculado pela equação 8. PS11 = (1 x S11/S12) 1/2 (8) O peso do subcritério 2 do critério 1 (PS12) é calculado pela equação 9. PS12 = (S12/S11 x 1) 1/2 (9) 55 Com todos os pesos calculados dos respectivos subcritérios, procede-se com a normalização dos valores PS11 e PS12, tal como executado para normalização dos critérios, obtendo-se os valores normalizados NPS11 e NPS12 (pesos relativos normalizados). Desta forma, o somatório dos pesos relativos normalizados dos subcritérios se igualará a 1. Os pesos dos demais subcritérios, relativos aos outros critérios (critério 2, critério 3), são calculados da mesma maneira. 3.1.5 Pontuação dos subcritérios Após concluída a hierarquização dos critérios e subcritérios, com seus respectivos pesos normalizados já definidos, o agente decisor partirá para a pontuação dos subcritérios. Esta pontuação refletirá a percepção do agente decisor em relação ao seu perfil organizacional frente às alternativas, relativas aos subcritérios, pré-definidas pela ferramenta. O valor é atribuído cognitivamente pelo agente decisor, por meio de uma escala verbal de valores; isto é, reflete o quanto um determinado subcritério influencia no processo decisório em questão (no presente estudo, na adoção ou rejeição da ISO 14001). Com esses valores determinados, o agente decisor procede à ponderação da pontuação dada para cada
Compartilhar