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1 Políticas Energéticas para a Sustentabilidade 25 a 27 de agosto de 2014 Florianópolis – SC Avaliação do Potencial de Produção de Energia a partir do Biogás Gerado no Tratamento de Esgotos Domésticos Thaisa Carolina Ferreira Silva1 Gustavo Rafael Collere Possetti2 Suani Teixeira Coelho3 RESUMO O Plano Nacional de Energia – PNE 2030 estimula a inserção de novas fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira. O biogás oriundo do processo de tratamento de esgotos domésticos é uma fonte alternativa para a produção de energia limpa e sustentável, porém no Brasil ele ainda é pouco explorado. Este trabalho apresenta a avaliação de diferentes métodos de determinação das taxas de produção de biogás em reatores anaeróbios com o intuito de identificar a ferramenta mais apropriada para o planejamento de ações voltadas à geração de energia renovável em estações de tratamento de esgotos. Tal avaliação foi realizada a partir dos dados disponíveis para uma planta de grande porte localizada em Curitiba-PR. De modo geral, as quantidades médias de energia estimadas foram maiores que aquelas registradas a partir de medições. Além disso, verificou-se que as incertezas inerentes às estimativas não podem ser negligenciadas, visto que elas 1 Instituto de Energia e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo – IEE/USP/ Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar, thaisacferreira@gmail.com, (41) 3330-3510. 2 Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar / Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul – ISAE-FGV, gustavorcp@sanepar.com.br, (41) 3330-7259 3 Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBIO), suani27@hotmail.com, (11) 3091-2653. 2 representaram pelos menos 27% dos valores médios. Dessa forma, os resultados obtidos indicam que as tomadas de decisão inerentes ao tema devem ser baseadas em resultados de medições e que, se porventura tal prática não for exequível, então que seja utilizado o método que se pauta no balanço de massa da demanda química de oxigênio e que considera as perdas de metano intrínsecas ao processo anaeróbio de tratamento de esgoto. Palavras-chave: Biogás, Energia Renovável, Tratamento Anaeróbio de Esgoto. ABSTRACT The National Energy Plan - PNE 2030 encourages the inclusion of new renewable energy sources in the Brazilian energy matrix. Biogas derived from the wastewater treatment process is an alternative source for the production of clean and sustainable energy, but in Brazil it is not common yet. This paper shows an evaluation of different methods to determine the rates of biogas production in anaerobic reactors in order to identify the most appropriate tool for planning actions associated with the generation of renewable energy in sewage treatment plants. This evaluation was performed from the data available for a large plant located in Curitiba - PR. The average quantities of energy estimated were higher than those obtained from measurements. Furthermore, it was found that the uncertainties inherent to the estimates cannot be neglected because they were at least 27% of the average values. Thus, the results indicate that the decision-making associated with the biogas should be based on measurement results. However, if this practice is not feasible, then it is recommended the use of the method based on the mass balance of the chemical demand oxygen, including the methane losses intrinsic to the anaerobic wastewater treatment. Keywords: Biogas, Renewable Energy, Anaerobic Wastewater Treatment. 1. INTRODUÇÃO O Plano Nacional de Energia - PNE 2030 indica que a opção estratégica de investir em eficiência energética é importante para o planejamento de longo prazo do setor energético brasileiro. Nesse sentido, o estudo estimula a inserção de novas fontes renováveis de energia na matriz energética do país (MME, 2007). De forma mais específica, tem-se incentivado investimentos no setor de saneamento, um segmento dotado de grande potencial para produção de energia limpa e sustentável, o qual ainda é pouco explorado. 3 O aproveitamento energético do biogás oriundo do processo de tratamento de esgotos domésticos é uma das formas de atender a tais expectativas. Por isso, nos últimos anos, alguns trabalhos têm sido conduzidos com o objetivo de investigar o potencial de produção de energia a partir do biogás gerado em reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manto de lodo (UASB, upflow anaerobic sludge blanket), uma tecnologia amplamente difundida no Brasil. O potencial energético do biogás está associado com a energia química nele acumulada. Isso porque o biogás é majoritariamente composto por metano, uma substância com poder calorífico inferior da ordem de 50 MJ/kg (CONSTANT et al., 1989). Cabe destacar, no entanto, que o potencial de aquecimento global do metano é 25 vezes maior que aquele atribuído ao dióxido de carbono (IPCC, 2013). Dessa maneira, a recuperação energética do biogás influencia diretamente na redução das emissões de gases de efeito estufa e, portanto, na minimização de impactos ambientais. O Painel Intergovernamental para Mudança Climática – IPCC disponibiliza diretrizes para estimar as emissões de metano associadas com o tratamento de esgotos domésticos (IPCC, 2006), as quais normalmente são empregadas na estruturação de inventários de emissões de gases do efeito estufa. As taxas de recuperação de metano em reatores anaeróbios também podem ser calculadas por meio do método proposto pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima – UNFCCC (2013), o qual é tipicamente empregado em estudos sobre mecanismos de desenvolvimento limpo. Por sua vez, Chernicharo (1997) reporta que as taxas de produção de metano em reatores UASB podem ser obtidas a partir do balanço de massa da demanda química de oxigênio (DQO), incluindo a produção de sólidos no sistema e a conversão dos sólidos voláteis totais em DQO. Esse método foi aprimorado por Lobato (2011) que considerou as rotas de conversão de DQO e as perdas de metano intrínsecas ao reator UASB. Nesse sentido, as quantidades de metano dissolvidas no meio líquido, perdidas na forma de gases residuais e utilizadas para a redução de sulfato foram incluídas na modelagem matemática. 4 Recentemente, Possetti et al. (2013) mensuraram as taxas de produção de metano em uma estação de tratamento de esgotos domésticos (ETE) contendo reatores UASB de grande porte. As medições, realizadas em tempo real, permitiram identificar que a produção de biogás segue um comportamento temporal variável, periódico e não-estacionário, o qual é criticamente dependente das propriedades físicas e químicas do esgoto e de eventos de chuva. O governo brasileiro, por intermédio da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, e o governo alemão, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, estão conduzindo o Projeto Brasil-Alemanha de Fomento ao Aproveitamento Energético do Biogás no Brasil (PROBIOGÁS). No âmbito desse projeto será concebida uma base de dados experimental sobre a produção e as características do biogás oriundo de reatores UASB. No entanto, as campanhas de medição serão iniciadas apenas no segundo semestre de 2014. Logo, como os estudos de caracterização quali-quantitativa do biogás produzido em reatores UASB são incipientes, ainda existem dúvidas sobre quais são os métodos mais acurados e precisos para determinar a quantidade de energia química e/ou de metano disponível em ETEs. Nesse contexto, este trabalho se propõe a avaliar diferentes métodos de determinação da produção de biogás em reatores UASB com o intuito de identificar a ferramenta mais apropriada para o planejamento de ações voltadas à geração de energia renovável em ETEs.2. METODOLOGIA O estudo em questão foi desenvolvido com base em informações disponíveis, no período entre outubro de 2011 e agosto de 2012, sobre a ETE Atuba Sul, uma planta de grande porte localizada na cidade de Curitiba-PR. Essa ETE é capaz de tratar, atualmente, até 1.120 L/s de esgotos domésticos em 16 reatores UASB idênticos. Esses reatores estão igualmente distribuídos em 4 linhas, sendo que em cada linha há um conjunto de tubos coletores e condutores de biogás, além de um queimador aberto com ignição elétrica automática. Para estimar o potencial de produção de energia a partir do biogás gerado na ETE foram utilizados diferentes métodos, conforme ilustrado na Figura 1. 5 Na implementação do método proposto pelo IPCC (2006) adotaram-se os seguintes parâmetros: número de habitantes que encaminham esgoto para a ETE (Pop), taxa de contribuição per capta de DQO (QPCDQO), capacidade máxima de produção de metano (B0 = 0,25 kgCH4/kgDQOremov), fator de correção do metano (MCF = 0,8) e fator de emissão de metano (EF = 0,2 kgCH4/kgDQOremov). O componente orgânico removido como lodo (S) também foi considerado nos cálculos, sendo estimado a partir da multiplicação entre o coeficiente de produção de sólidos no sistema (Y = 0,18 kgSTV/kgDQOremov), o fator de conversão de sólidos totais voláteis em DQO (KSTV-DQO = 1,42 kg DQOlodo/kgSTV) e a eficiência de remoção de DQO (remDQO) promovida pelos reatores UASB. Além disso, assumiu-se que não há recuperação de metano (R = 0) e que a população responsável pela produção do esgoto doméstico (I = 1) ocupa um espaço urbanizado, sendo exclusivamente atendida pela ETE (U = 1 e T = 1). Figura 1: Métodos de determinação do potencial de produção de energia química associado com o biogás oriundo de reatores UASB alimentados com esgoto doméstico. Por sua vez, no desenvolvimento do método sugerido pelo UNFCCC (2013) consideraram-se os seguintes parâmetros: a vazão de esgoto tratado pelos reatores UASB (Qesgoto), a DQO do esgoto afluente aos reatores (DQOafluente), a eficiência de remoção de DQO do esgoto obtida com o tratamento nos reatores (remDQO), o fator 6 de correção do metano (MCF = 0,8), a capacidade máxima de produção de metano (B0 = 0,25 kgCH4/kgDQO) e o fator de correção de incertezas (UF = 0,89). Para estimar o potencial de produção de energia a partir do biogás de acordo com o método reportado por Chernicharo (1997), empregaram-se: a vazão média do esgoto tratado nos reatores UASB (Qesgoto), a DQO do esgoto afluente aos reatores (DQOafluente), a DQO filtrada do esgoto após o tratamento nos reatores (DQOefluente), o coeficiente de produção de sólidos no sistema (Y = 0,18 kgSTV/kgDQOremov) e o fator de conversão de sólidos totais voláteis em DQO (KSTVDQO = 1,42 kgDQOlodo/kgSTV). Por fim, para implementar o modelo proposto por Lobato (2011), utilizaram-se: a população responsável pelo esgoto que chega até a ETE (Pop), a taxa de contribuição per capta de DQO (QPCDQO), a taxa de contribuição per capta de esgoto (QPC), a eficiência de remoção de DQO do esgoto obtida com o tratamento nos reatores (remDQO), a concentração de sulfato (SO4) no esgoto que entra nos reatores (CSO4), a eficiência de remoção de SO4 atribuída aos reatores (SO4), a temperatura operacional dos reatores (Temp), a concentração volumétrica de metano (CH4) no biogás (CCH4), o coeficiente de produção de sólidos no sistema (Y = 0,15 kgSTV/kgDQOremov), o fator de conversão de sólidos totais voláteis em DQO (KSTV-DQO = 1,42 kg DQOlodo/kgSTV), o fator de DQO consumida na redução do sulfato (KDQO-SO4 = 0,667 kgDQO/kgSO4convertido), o percentual de perdas de metano na fase gasosa com o gás residual (pw = 7,5%), o percentual de outras perdas de metano na fase gasosa (pO = 7,5%) e o coeficiente de perda referente ao metano dissolvido no meio líquido (pL = 25 mg/L). Os métodos supracitados foram adaptados de forma a propiciar a utilização da maior quantidade de informações operacionais relacionadas com a ETE sob análise, bem como para fornecer os resultados em unidade de energia química disponível ao longo de um ano (MWh/ano). Por isso, nos métodos propostos pelo IPCC (2006) e por Lobato (2011), calcularam-se Pop, QPC e/ou QPCDQO a partir do histórico de dados de vazão média de esgoto tratado nos reatores UASB (Qesgoto) e de DQO do esgoto afluente aos reatores (DQOafluente). Os desvios padrão das estimativas foram calculados e considerados como incertezas. 7 Os resultados das estimativas foram comparados com aqueles encontrados a partir de medições realizadas nos reatores da ETE em tempo real e em condições de guiamento passivo, sobretudo da vazão de biogás (Qbiogás) e da concentração volumétrica de metano presente no biogás (CCH4) (Possetti et al., 2013). Como tais medições foram realizadas no final de uma linha condutora de biogás que totalizava apenas a contribuição de 4 reatores UASB e como a ETE possui 16 reatores UASB com topologia e alimentação de esgoto semelhantes, a taxa média de produção de metano reportada foi multiplicada por 4, sendo posteriormente transformada em unidade de energia química disponível ao longo de um ano. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante o período de avaliação, a vazão média do esgoto doméstico que entrou nos reatores UASB da ETE Atuba Sul (Qesgoto) foi de (991,73 86,79) L/s, sendo que a DQO média desse esgoto (DQOafluente) foi de (432,60 124,44) mg/L. Dessa maneira, considerando a contribuição per capita de DQO (QPCDQO) igual a 90 gDQO/hab.dia (VON SPERLING e CHERNICHARO, 2005), tem-se que a população média equivalente (Pop) foi de (411.862 10.368) habitantes. A DQO média filtrada do esgoto após os reatores UASB (DQOefluente) foi de (114,31 28,08) mg/L. Dessa forma, a eficiência média de remoção de DQO do esgoto nos reatores UASB (remDQO) foi de (72 8) %. As seguintes produções médias anuais de energia química disponível a partir da recuperação do biogás na ETE Atuba Sul foram estimadas: 10,13 MWh/ano, segundo a abordagem proposta por Lobato (2011); 24,35 MWh/ano, conforme método indicado pela UNFCCC (2013); 27,43 MWh/ano, se considerado o balanço de massa sugerido por Chernicharro (1997); e, 34,8 MWh/ano, mediante aplicação do método do IPCC (2006). A produção média anual de energia verificada por meio de medições foi de 4,5 MWh/ano. Esses resultados e suas respectivas incertezas, representadas na forma de barra de erros, estão sumarizados na Figura 2. 8 Figura 2 – Quantidade de energia química disponível por ano (MWh/ano) inerente ao biogás produzido nos reatores UASB da ETE Atuba Sul, de acordo com resultados de medições e de estimativas por diferentes métodos disponíveis na literatura. A produção média anual de energia estimada a partir do método proposto pelo IPCC (2006) foi aproximadamente 7 vezes maior que aquela obtida a partir de medições, mesmo com a adequação paramétrica do modelo. Essa diferença foi ainda mais significativa quando o histórico de dados de vazão e de DQO de esgoto não foi utilizado. A produção média anual de energia estimada sem as adequações do modelo, ou seja, considerando Pop = 411.862 habitantes, QPCDBO = 50 gDBO/hab.dia, B0 = 0,6 kgCH4/kgDBOremov, MCF = 0,8 e EF = 0,48 kgCH4/kgDBOremov, foi de 50,18 MWh/ano. Este valor é, pelo menos, 11 vezes maior que aquele encontrado por meio de medições. Por sua vez, a produção média anual de energia calculada por meio dos métodos sugeridos pela UNFCCC (2013) e por Chernicharo (1997) foram, respectivamente, 5,5 e 6 vezes maiores que aquela mensurada, apesar desses modelos considerarem a vazão de esgoto, a eficiência de remoção de DQO do esgoto nos reatores UASB e a conversão parcial da DQO em lodo, no caso do modelo de Chernicharo (1997) ou o fator de incerteza, no caso do método do UNFCCC (2013). Portanto, os métodos reportados pelo IPCC (2006),pelo UNFCCC (2013) e por Chernicharo (1997) superestimaram o valor médio anual de produção de energia a 9 partir do biogás na ETE Atuba Sul. Isso aconteceu porque esses métodos não consideram importantes rotas de conversão de DQO inerentes aos reatores UASB, assim como não pressupõem perdas de metano. Essas premissas, no entanto, são incorporadas no método proposto por Lobato (2011) e, consequentemente, a diferença entre a quantidade anual média de energia estimada com tal método e o valor médio obtido por meio das medições foi minimizada. Nesse sentido, calculou-se que, em média, apenas aproximadamente 47% da DQO presente no esgoto foi convertida em metano, sendo que somente cerca de 42% do metano produzido nos reatores UASB foi disponibilizado para aproveitamento energético. Mesmo assim, a produção anual de energia estimada foi, em média, 2,3 vezes maior que aquela determinada a partir de medições. É importante ressaltar que as incertezas inerentes às estimativas não podem ser negligenciadas, uma vez que elas variaram de 7,34 até 9,33 MWh/ano. Dessa maneira, o coeficiente de variação, dado pela razão entre o desvio padrão e o valor médio, foi de pelo menos 27% para os modelos implementados. Assim, considerando-se as incertezas inerentes às estimativas, pode-se afirmar que a faixa de produção de energia determinada por meio de medições está contida no intervalo estimado por meio do método proposto por Lobato (2011). Logo, este método foi o que melhor representou as quantidades de biogás e de energia que podem ser recuperadas dos reatores UASB da ETE Atuba Sul. As incertezas em pauta estão diretamente relacionadas com as eventuais mudanças nas condições operacionais da ETE e com a variação das propriedades físicas e químicas do esgoto que entra nos reatores UASB ao longo do ano, as quais possuem natureza aleatória e são criticamente dependentes de eventos de chuvas (Possetti et al., 2012). A Figura 3 apresenta as taxas diárias de produção de metano ao longo do tempo, as quais foram calculadas com o método proposto por Lobato (2011). De acordo com as estimativas, a taxa diária de produção de metano foi, em média, 7,95 tonCH4/dia. No entanto, essas taxas variaram de 0,01 até 22,96 tonCH4/dia, indicando que há dias em que a quantidade de energia disponível para uso é 2,88 vezes maior que o valor médio estimado e que há dias nos quais a energia química disponível para recuperação é quase nula. 10 Figura 3 – Taxas diárias de produção de metano (tonCH4/dia) ao longo do tempo em reatores UASB da ETE Atuba Sul. As taxas foram estimadas de acordo com o método proposto por Lobato (2011). As linhas pontilhadas que ligam os símbolos abertos são apenas guias visuais. 4. CONCLUSÕES Este trabalho demonstrou que a quantidade de energia estimada pelos métodos existentes associada com a recuperação do biogás gerado na ETE Atuba Sul é, em média, maior que aquela realmente disponível para uso. Além disso, dependendo do método utilizado tal quantidade pode ser até 11 vezes maior aquela verificada a partir de medições de campo. Isso acontece porque os métodos propostos pelo IPCC (2006), pelo UNFCCC (2013) e por Chernicharo (1997), não consideram as perdas de metano, assim como algumas importantes rotas de conversão de DQO durante o tratamento anaeróbio do esgoto. Como o modelo proposto por Lobato (2011) contempla as quantidades de metano dissolvidas no meio líquido, assim como as perdas na forma de gases residuais e as perdas relacionadas com a redução de sulfato, ele expressa de forma mais verossímil os fenômenos físicos, químicos e biológicos inerentes aos reatores UASB, 11 fazendo com que os resultados obtidos a partir de sua aplicação apresentem menor desvio em relação aos valores mensurados. Além disso, verificou-se que as incertezas inerentes às estimativas não podem ser negligenciadas, visto que elas representaram pelos menos 27% dos valores médios. Dessa forma, as mudanças das condições operacionais da ETE e as variações das propriedades físicas e químicas do esgoto que entra nos reatores UASB fazem com que as taxas de produção de metano e de recuperação de energia oscilem expressivamente, em relação aos valores médios, ao longo de um ano. Logo, os resultados apresentados neste artigo indicam que a escolha do método de estimativa da quantidade de energia química disponibilizada por reatores UASB na forma de biogás pode influenciar significativamente no dimensionamento e na viabilidade financeira e econômica de projetos que vislumbrem a geração de energia renovável em ETEs. Por isso, recomenda-se que as tomadas de decisão inerentes ao tema sejam baseadas em resultados de medições e que, se porventura tal prática não for exequível, então que o método proposto por Lobato (2011) seja utilizado. Além disso, sugere-se que a análise de incertezas também seja realizada com o intuito de quantificar as limitações e os riscos inerentes aos projetos. 5. REFERÊNCIAS CHERNICHARO, C. A. L. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias; reatores anaeróbios. 1 ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFMG, 1997. V.5. CONSTANT, M.; NAVEAU, H.; FERRERO, G. L.; NYNS, E. J. Biogás End-Use in the European Community. Elsevier Science Publisher, England, 1989. IPCC. IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories. Prepared by the National Greenhouse Gas Inventories Programme. EGGLESTON, H. S.; BUENDIA, L.; MIWA, K.; NGARA, T.; TANABE, K. (eds.). V. 5, Waste, Chapter 6, Wastewater Treatment and Discharge, IGES, Japan, 2006. IPCC. Climate Change 2013: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. STOCKER, T. F., D. QIN, G. K. PLATTNER, M. TIGNOR, S. K. 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UFMG – Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Belo Horizonte – MG, 2010. UNFCCC. Approved Methodologies for Small Scale CDM Project Activities. Type III. AMS-III-H. Methane recovery in wastewater treatment (Version 16.0), in Clean Development Mechanism - CDM Methodology - Booklet (2013). Documento digital disponível em: http://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/4ND00PCGC7WR3L0LOJTS6SVZP4NSU. Acesso em: 11 de maio de 2014. VON SPERLING, M.; CHERNICHARO, C.A.L. Biological wastewater treatment in warm climate regions. IWA Publishing, London, 2005. p. 1452. http://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/4ND00PCGC7WR3L0LOJTS6SVZP4NSU
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