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UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA ESTHER XAVIER DE BARROS MARIA LUÍZA BUENO DOS REIS PEDRO AMÉRICO FRANÇA MARTINS TRATAMENTO DE EFLUENTES DA SUINOCULTURA INDUSTRIAL COM O USO DE BIODIGESTORES Orientador: Prof. DANIEL DORNELLAS ATHAYDE BELO HORIZONTE 2020 ESTHER XAVIER DE BARROS MARIA LUÍZA BUENO DOS REIS PEDRO AMÉRICO FRANÇA MARTINS TRATAMENTO DE EFLUENTES DA SUINOCULTURA INDUSTRIAL COM O USO DE BIODIGESTORES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade FUMEC, como requisito parcial para a conclusão do curso de Engenharia Química. Orientador: Prof. DANIEL DORNELLAS ATHAYDE Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2020. ESTHER XAVIER DE BARROS MARIA LUÍZA BUENO DOS REIS PEDRO AMÉRICO FRANÇA MARTINS TRATAMENTO DE EFLUENTES DA SUINOCULTURA INDUSTRIAL COM O USO DE BIODIGESTORES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade FUMEC, como requisito parcial para a conclusão do curso de Engenharia Química. . ___________________________________________________________ Orientadora: Daniel Dornellas Athayde – FEA/FUMEC ___________________________________________________________ Participante da banca: Janaina Kizzi de Morais Silva – FEA/FUMEC ____________________________________________________________ Participante da banca: Tania Mara Grígolli Almeida – FCH/FUMEC _______________________________________________________________ Professor(a) da disciplina: Kétnes Ermelinda de G. Lopes Costa – FEA/FUMEC Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2020. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradecemos a Deus por ter nos dado sabedoria, persistência e tranquilidade durante nossa trajetória universitária e, principalmente, durante nosso Trabalho de Conclusão de Curso. Agradecemos o nosso orientador Professor Daniel Dornellas, por toda persistência, carinho, dedicação, disponibilidade e conhecimentos compartilhados desde o primeiro momento que o escolhemos para ser nosso orientador. Sempre nos lembraremos de todo o suporte que ele nos deu. Agradecemos todos os professores da Universidade FUMEC que de alguma forma contribuíram com nossa formação acadêmica e nos deu capacidade para o desenvolvimento desse projeto. Agradecemos aos nossos amigos e colegas de classe pelo apoio e suporte durante a concretização dessa etapa. Finalmente, agradecemos às nossas famílias por estarem ao nosso lado em todos os momentos importantes das nossas vidas, esse trabalho é dedicado a vocês. RESUMO A carne suína é um dos alimentos mais consumidos no mundo e o Brasil é o quarto maior produtor dessa proteína animal. Para atender essa demanda, as suinoculturas industriais investem na criação dos suínos em confinamento, em que o efluente dessa atividade se encontra em forma líquida. Por ser um efluente com alta capacidade poluidora, o mesmo necessita de um tratamento para poder ser descartado no ambiente. O presente trabalho propõe a utilização do biodigestor do tipo canadense para o tratamento do efluente de uma granja hipotética. Para isso, foi determinada a quantidade de efluente diária de 240.985,5 L, e, a partir desse dado, foi dimensionado o biodigestor que atendesse essa demanda. A partir do dimensionamento, foram determinadas que as quantidades de biogás, que possui a composição de 65% de metano e 35% de dióxido de carbono, e biofertilizante produzidos durante o processo foram de 5.562 m3/dia e 84,35 m3/dia, respectivamente. Com isso, foi estudado as possíveis aplicações desses produtos como a geração de energia elétrica,7.680 kWh/dia, e adubo, 168.689,85 L/dia. Também foi feito uma análise econômica do projeto, mostrando seu custo inicial e custo de manutenção, análise do crédito de carbono e o payback que foi de 14,67 meses. Esse trabalho pode vir a ser embasamento teórico para a viabilidade de implantação de biodigestores em suinoculturas reais. Palavras-chave: suinocultura, biodigestor, biogás, biofertilizante. ABSTRACT Pork meat is one of the most consumed foods in the world and Brazil is the fourth largest producer of this animal protein. To meet the demand, industrial swine producers invest in the creation of these animals in confinement, where the effluent from this activity is in liquid form. As it is an effluent with a high polluting capacity, it requires treatment to be discharged into the environment. The present work proposes the use of the Canadian-type biodigester for the treatment of effluent from a hypothetical farm. The daily effluent of 240,985.5 liters was estimated, and based on this data, the biodigester that met this demand was designed. From the desing, the quantities of biogas, which has the composition of 65% methane and 35% carbon dioxide, and biofertilizer obtained during the process were determined to be 5,562 m3/day and 84.35 m3/day, respectively. Moreover, both produtcs were studied as possible applications of these products as the generation of electric energy and fertilizer. An economic analysis of the project was also carried out, showing its initial cost and maintenance cost, carbon credit analysis and the payback, which was 14.67 months. This work may prove to be a theoretical basis for the feasibility of implementing biodigesters in real swine farms. Keywords: swine farm, biodigester, biogas, biofertilizer. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 01 – Produção de suínos em milhares de toneladas no Brasil em maio de 2020................................................................................. 20 Gráfico 02 – Quantidade média anual de suínos abatidos pelas maiores empresas produtoras de suínos do Brasil..................................... 22 Quadro 01 – Legislação da Suinocultura Industrial............................................ 25 Figura 01 – Esquema de um biodigestor do modelo canadense..................... 28 Figura 02 – Biodigestor construído em uma suinocultura................................ 28 Quadro 02 – Tipos de tratamentos de efluentes mostrando suas vantagens e desvantagens................................................................................ 29 Figura 03 – Esquema da decomposição anaeróbia......................................... 30 Figura 04 – Evolução da composição ideal do gás gerado no processo de digestão anaeróbica de resíduos.................................................. 33 Figura 05 – Representação do biodigestor do modelo indiano........................ 39 Figura 06 – Representação do biodigestor do modelo chinês......................... 40 Figura 07 – Representação do biodigestor do modelo canadense.................. 41 Figura 08 – Representação do biodigestor do modelo batelada...................... 42 Figura 09 – Croqui da fossa do Biodigestor A.................................................. 50 Figura 10 – Representação do ângulo do talude do Biodigestor A.................. 51 Figura 11 – Croqui do Biodigestor B................................................................. 55 Gráfico 03 – Produção de biogás....................................................................... 59 Figura 12 – Vista isométrica do grupo de energia............................................ 63 Figura 13 – Geração distribuída....................................................................... 63 Figura 14 – Fluxograma do tratamento e pós-tratamento do efluente............. 68 Quadro 03 – Legenda do Fluxograma.......................... ..................................... 69 Gráfico 04 – Comparativoentre a linha de base (lagoa de estabilização) e o projeto implementando o uso de biodigestores............................. 73 Gráfico 05 – Emissões de CH4 no projeto, em tCO2, e as suas porcentagens.... 74 Gráfico 06 – Comparação entre emissões com o passar dos anos................... 75 LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Ranking das 20 maiores indústrias de carne suína do mundo...... 15 Tabela 02 – Proporção entre quantidade de resíduos e quantidade de água para diferentes tipos de resíduos animais..................................... 37 Tabela 03 – Composição do biofertilizante....................................................... 43 Tabela 04 – Composição média do biogás....................................................... 43 Tabela 05 – Quantidade de dejetos líquidos produzidos por suínos de acordo com sua fase no sistema de produção.............................. 45 Tabela 06 – Apresentação dos suínos em suas distintas fases da granja em questão.......................................................................................... 47 Tabela 07 – Quantidade de dejeto gerados por dia na granja.......................... 48 Tabela 08 – Tamanhos utilizados para a construção do Biodigestor A............ 54 Tabela 09 – Tamanhos utilizados para a construção do Biodigestor B............ 56 Tabela 10 – Valores tabelados da metodologia Chen para sólidos voláteis e pela capacidade de produção de metano pelo dejeto................... 57 Tabela 11 – Poder Calorífico do biogás em função da sua composição.......... 58 Tabela 12 – Equivalência energética de 1 m3 de biogás composto por 65% de metano em comparação com outras fontes energéticas.......... 61 Tabela 13 – Equivalência energética do biogás produzido na granja por dia... 61 Tabela 14 – Redução de GEE do projeto.......................................................... 74 Tabela 15 Orçamento dos materiais utilizados para implantação dos biodigestores e dos equipamentos auxiliares................................ 77 LISTA DE SIGLAS EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 14 pH – Potencial de Hidrogênio 15 CO2 – Dióxido de Carbono 18 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 20 PIB– Produto Interno Bruto 20 CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada 21 H2NCOONH4 – Carbamato de Amônio 23 NH3 – Amônia 23 NH4+ – Amônio 23 N2O – Óxido Nitroso 23 N2 – Gás Nitrogênio 23 CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente 24 ATSDR – Agency for Toxic Substances and Disease Registry 33 H2S Ácido Sulfídrico 33 C – Carbono 35 N – Nitrogênio 35 P – Fósforo 35 S – Enxofre 35 TRH – Tempo de Retenção Hidráulica 35 DBO– Demanda Bioquímica de Oxigênio 36 DQO– Demanda Química de Oxigênio 35 VBA Volume do Biodigestor A 49 VDL Volume de Dejetos Líquidos 49 ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica 63 CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais 63 MDL– Mecanismo de Desenvolvimento Limpo 70 GEE– Gases do Efeito Estufa 70 CH4– Metano 73 GWP– Global Warming Factor 74 RCE Reduções Certificadas de Emissões 76 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 14 1.1 Objetivos Geral e Específico...................................................... 18 1.1.1 Objetivo Geral.............................................................................. 19 1.1.2 Objetivos Específicos................................................................. 19 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................ 20 2.1 Suinocultura Industrial............................................................... 20 2.1.1 Contexto da Suinocultura Industrial no Brasil......................... 20 2.1.2 Impactos Ambientais da Suinocultura Industrial..................... 22 2.1.3 Legislação.................................................................................... 24 2.1.4 Tratamento dos Efluentes Gerados........................................... 26 2.2 Decomposição Anaeróbica........................................................ 30 2.2.1 Etapas da Digestão..................................................................... 31 2.2.1.1 Hidrólise....................................................................................... 31 2.2.1.2 Acidogênese................................................................................ 31 2.2.1.3 Acetogênese................................................................................ 31 2.2.1.4 Metanogênese.............................................................................. 32 2.2.2 Cinética da Digestão Anaeróbica............................................... 32 2.3 Biodigestores............................................................................... 33 2.3.1 Condições para Operações com Biodigestores....................... 33 2.3.1.1 Oxigênio....................................................................................... 34 2.3.1.2 Temperatura................................................................................. 34 2.3.1.3 Faixa de pH.................................................................................. 35 2.3.1.4 Disponibilidade de Nutrientes.................................................... 35 2.3.1.5 Tempo de Retenção Hidráulica.................................................. 35 2.3.1.6 DBO e DQO.................................................................................. 36 2.3.1.7 Sólidos Voláteis........................................................................... 37 2.3.1.8 Quantidade de água.................................................................... 37 2.3.2 Modelos de Biodigestores.......................................................... 38 2.3.2.1 Modelos Contínuos..................................................................... 38 2.3.2.1.1 Modelo Indiano............................................................................ 38 2.3.2.1.2 Modelo Chinês............................................................................. 39 2.3.2.1.3 Modelo Canadense...................................................................... 40 2.3.2.2 Modelos Descontínuos............................................................... 41 2.3.2.2.1 Modelo Batelada.......................................................................... 42 2.3.2.2.2 Modelo Naval............................................................................... 42 2.4 Biogás e Biofertilizante............................................................... 42 2.4.1 Biofertilizante............................................................................... 42 2.4.2 Biogás........................................................................................... 43 3 METODOLOGIA........................................................................... 45 4 ESTUDO DE CASO...................................................................... 48 4.1 Determinação da Quantidade de Efluente Gerado................... 47 4.2 Escolha do Biodigestor.............................................................. 49 4.2.1 Biodigestor A............................................................................... 49 4.2.2 Biodigestor B............................................................................... 54 5 POTENCIAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA DO BIOGÁS........... 57 5.1 Análise Gráfica da Produção de Biogás................................... 59 5.2 Equivalência Energética do Biogás........................................... 60 5.3 Energia Elétrica a partir do Biogás............................................ 61 5.3.1 Geração Distribuída....................................................................63 5.4 Sistema de Queima Flare............................................................ 65 6 ESTIMATIVA TEÓRICA DA PRODUÇÃO DO BIOFERTILIZANTE 66 6.1 Utilização do Biofertilizante........................................................ 67 7 FLUXOGRAMA DO PROCESSO................................................. 68 8 REDUÇÃO DOS GASES DO EFEITO ESTUFA.......................... 70 8.1 Obtenção de Reduções Certificadas de Emissões.................. 76 8.2 Comercialização de Reduções Certificadas de Emissões...... 76 9 VIABILIDADE ECONÔMICA........................................................ 77 9.1 Orçamento para a implantação dos biodigestores.................. 77 9.2 Manutenção.................................................................................. 78 9.3 Payback........................................................................................ 78 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................... 80 REFERÊNCIAS............................................................................. 84 ANEXO I........................................................................................ 93 ANEXO II....................................................................................... 94 ANEXO III...................................................................................... 95 14 1. INTRODUÇÃO De acordo a com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), umas das principais fontes de proteína animal mais consumida no mundo é a carne suína. Neste segmento do mercado, são produzidas mais de 100 milhões de toneladas da carne por ano, sendo que os maiores produtores são a China, a União Europeia e os Estados Unidos da América, respectivamente (EMBRAPA, 2019). Em um levantamento realizado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em 2019, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de maiores produtores de carne suína com a produção de 4.098 milhares de toneladas de carne. A suinocultura industrial, que é uma granja de grande porte que faz a criação de suínos voltados para o mercado nacional e internacional, é uma atividade agroindustrial considerada altamente poluidora já que a mesma é feita em confinamento. Nesse tipo de produção é adotado o manejo de dejetos na forma líquida, o que se torna um agravante para os problemas de captação, armazenamento, tratamento, transporte e distribuição de dejetos (ITO et al., 2016). Caso o manejo dos dejetos não seja feito de forma adequada, ocorre o aumento da capacidade poluidora dessa atividade gerando impactos no ar, solo e recursos hídricos. Para reduzir a poluição gerada existem regulamentações de controle para o manejo dos dejetos. Essas regulamentações têm como objetivo delimitar o processo de licenciamento ambiental realizado pelos órgãos ambientais, que analisam o potencial poluidor do empreendimento, autorizando ou não a sua implementação (ITO et al, 2016). Pode-se citar como exemplo a Lei Federal 9.433, outorgada em 8 de janeiro de 1997, que tem como uma das finalidades o cadastramento técnico federal de atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos ambientais (PALHARES, 2008). O tratamento dos dejetos provenientes da suinocultura industrial pode ser feito utilizando lagoas de decantação, esterqueiras, bioesterqueiras, biodigestores, compostagem e cama sobreposta ou biológica. Dentre essas, o tratamento que mais se destaca é o que faz o uso de biodigestores por ter baixo custo operacional, operacionalidade mais simples, facilidade de controle, elevada vida útil e pode ser 15 construído para diferentes escalas (SAMILAK et al., 2010 apud FRIGO et al. 2015). O funcionamento dos biodigestores consiste na contenção da biomassa residual em contato com microrganismos anaeróbicos que farão a decomposição dos dejetos (FERNANDES et al., 2014). O processo irá adequar os efluentes para que possam ser descartados no ambiente de acordo com a legislação, permitindo um aumento do valor do sistema produtivo da suinocultura ao produzir o biofertilizante e o biogás, que é utilizado como fonte de energia renovável. (DONG et al., 2010). Os tipos de biodigestores mais utilizados são os modelos indiano, chinês e canadense. A escolha de qual modelo a ser utilizado depende da finalidade, aplicação e nível tecnológico disponível (CORTEZ, LORA, GOMÉZ, 2008). Para maior eficiência do processo de decomposição, deve haver o controle de alguns parâmetros, sendo os principais: controle de oxigênio, temperatura, faixa de pH (potencial de hidrogênio), disponibilidade de nutrientes, tempo de retenção hidráulica, agitação e quantidade de água (FRIEHE J. et al., 2010). O biofertilizante gerado durante a decomposição anaeróbia é um tipo de adubo proveniente da matéria orgânica que não possui agentes patogênicos que poderiam causar danos para a saúde humana e para as plantas. O mesmo atuará no restabelecimento do húmus no solo trazendo benefícios para as propriedades químicas, físicas e biológicas (OLIVER et al., 2008). Para fins agrícolas, o uso de biofertilizante é considerado uma estratégia benéfica, pois o material consegue corrigir a acidez do solo, fornecer nutrientes para nutrição das plantas, reduzir a possibilidade do risco de erosão do solo, aumentar a porosidade do solo, favorecer a proliferação de bactérias, aumentar a produtividade das lavouras e reduzir o poder germinativo de sementes de plantas daninhas (OLIVER et al., 2008). O biofertilizante pode se apresentar na forma líquida ou sólida. Visto isso, o material proveniente da digestão anaeróbia com o uso de biodigestores se apresenta na forma líquida. Além de ser absorvido mais rapidamente pelo solo quando comparado com o biofertilizante sólido, reduz o uso de, principalmente, fertilizantes nitrogenados, o que diminui os impactos ambientais, e pode ser considerada uma fonte de renda complementar da suinocultura (OLIVER et al., 2008). 16 O biogás gerado nos biodigestores é uma mistura de gases proveniente de decomposição da biomassa residual pela ação de bactérias anaeróbias (CCE, 2000 apud FERNANDES, 2012). A composição do biogás dependerá de algumas variáveis, sendo elas, da fonte da biomassa, do modelo do biodigestor e das condições de operação (SILVA, 1996 apud FERNANDES, 2012). Ela será definida, principalmente, pela quantidade de lipídios existentes no dejeto (CCE, 2000 apud FERNANDES, 2012). O biogás é considerado um produto que agrega valor a suinocultura industrial devido ao fato do mesmo poder ser utilizado como fonte de energia renovável. Suas aplicações podem ser em motores de combustão interna, por exemplo, em geradores de energia elétrica, e em combustão direta, por exemplo, no aquecimento de caldeiras para a produção de vapor. A sua conversão em energia permite o reaproveitamento da energia na suinocultura ou até disponibilizar o excesso de energia elétrica para a empresa de distribuição de energia. Portanto, a suinocultura tem o potencial de se tornar um processo mais sustentável a partir da geração do biofertilizante e do biogás, assim como o tratamento apropriado dos resíduos gerados. Com isso, este trabalho está estruturado em 10 capítulos que possuem a seguinte divisão: • Capítulo 01- Introdução: expõe um resumo geral sobre a suinocultura industrial e o uso de biodigestores e também apresenta uma breve descrição do que será abordado em cada capítulo. Nesse capítulo também apresenta os objetivos a serem alcançados a partir do desenvolvimento do trabalho. • Capítulo 02- Revisão Bibliográfica: apresenta toda a revisão bibliográfica utilizada para o desenvolvimento do trabalho. O capítulo se divide nos seguintes tópicos: -Suinocultura Industrial: apresenta o contexto da suinocultura industrial no Brasil, mostrando seu valor econômico e seus impactos ambientais; esclarececomo deve ser feito o descarte dos efluentes de acordo com a legislação, como também mostra as opções de tratamento dos dejetos. 17 -Decomposição Anaeróbia: detalha o processo de decomposição anaeróbia descrevendo as etapas do processo e também apresenta a cinética desse tipo de decomposição. -Biodigestores: mostra as condições de operações ideais para esse tipo de reator e apresenta o estado da arte de biodigestores disponíveis no mercado. -Biogás e Biofertilizante: apresentam-se os dois produtos obtidos do processo, com o detalhamento da composição dos mesmos e suas principais utilidades. • Capítulo 03- Metodologia: detalha a metodologia utilizada para a realização do trabalho. • Capítulo 04- Estudo de caso: expõe o dimensionamento de um biodigestor para uma granja teórica de ciclo completo e que possui 20.573 animais. Nesse capítulo será mostrado como é determinada a quantidade total de efluente a ser tratado por dia, além de mostrar as etapas do dimensionamento do biodigestor do tipo canadense. • Capítulo 05- Potencial de Geração Energética de Biogás: determina a quantidade teórica de biogás produzido a partir do tratamento do efluente da granja em questão utilizando o Método Chen; apresenta uma análise gráfica da produção de biogás; mostra a equivalência energética do biogás em comparação com outras fontes de energia; apresenta a quantidade de energia elétrica produzida a partir do biogás e determina a funcionalidade do sistema flare. • Capítulo 06- Estimativa Teórica da Produção do Biofertilizante: estima a quantidade de biofertilizante produzido, sua utilização, como também a economia gerada ao produtor que dê preferência para a utilização do biofertilizante. • Capítulo 07- Fluxograma do Processo: apresenta um fluxograma esquemático do processo, mostrando os principais produtos e subprodutos gerados. 18 • Capítulo 08- Redução de Gases do Efeito Estufa: apresenta a redução na emissão anual de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) a partir da implementação do biodigestor, assim como o crédito de carbono obtido a partir do tratamento do efluente da granja. • Capítulo 09: Viabilidade Econômica: mostra o orçamento para a instalação do biodigestor dimensionado, incluindo os principais equipamentos necessários que complementam o projeto, e mostra o payback do retorno do investimento que será feito. • Capítulo 10- Considerações finais: apresenta uma síntese dos resultados obtidos neste trabalho e apresenta recomendações para estudos e atividades futuras. 1.1 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS 1.1.1 Objetivo Geral O objetivo desse trabalho é projetar um sistema de biodigestores em uma suinocultura industrial hipotética e avaliar os benefícios da utilização desse sistema para tratamento de dejetos a partir de duas abordagens principais: econômica e ambiental. 1.1.2 Objetivos Específicos O presente trabalho possui como objetivos específicos: • Fazer um levantamento do contexto da suinocultura industrial no Brasil. • Apresentar os impactos econômicos e ambientais gerados pela suinocultura. • Expor as razões dos biodigestores serem a forma mais adequada e benéfica de tratamento. • Mostrar as etapas da decomposição anaeróbia. • Apresentar o funcionamento dos biodigestores para essa finalidade. • Projetar sistema de biodigestores para a suinocultura industrial hipotética proposta. 19 • Descrever os produtos provenientes desse processo, como também mostrando as suas utilidades. • Mostrar a viabilidade econômica e ambiental para a implantação do biodigestor em propriedades agroindustriais, que é o caso da suinocultura industrial. 20 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1SUINOCULTURA INDUSTRIAL 2.1.1 Contexto da Suinocultura Industrial no Brasil Ocupando o 4º lugar no ranking mundial de produção de suínos para corte, os levantamentos feitos pela EMBRAPA, em 2019, mostraram que 81% da produção de suínos do Brasil foram destinados para o mercado interno e os outros 19% foram destinados para exportação (EMBRAPA, 2019). Dentre os estados brasileiros, os que mais produziram carne suína foram Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Conforme apresentado no Gráfico 01, estes três estados juntos produziram cerca de 2.700 milhares de toneladas de carne suína no mês de maio de 2020, representando 66% da produção nacional. Gráfico 01- Produção de suínos em milhares de toneladas no Brasil em maio de 2020 Fonte: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2020. A importância do mercado de carne suína é notável no contexto nacional. Em 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o Brasil possuía um rebanho próximo de 41,4 milhões de suínos, sendo que, a cidade de Toledo, no Paraná, concentrava a maior parte desses. Em 2019, o Brasil, faturou cerca de 6,2 bilhões de reais com a exportação de carne suína. Esse valor impulsionou o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio nacional, 1.119 841 760 502 247 214 179 178 26 12 46 Santa Catarina Paraná Rio Grande do Sul Minas Gerais Mato Grosso São Paulo Mato Grosso do… Goiás Espírito Santo Bahia Outros QUANTIDADE DE SUÍNOS 21 que fechou o ano de 2019 em 21,4% do PIB brasileiro total, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA, 2019). Os maiores provedores desse crescimento são as empresas multinacionais JBS e BRF, que atendem o mercado interno e externo, e a empresa Aurora Alimentos, que atende apenas o mercado nacional. As empresas citadas estão entre as maiores produtoras de carne suína no mundo e, em 2016, as três faziam parte do ranking mundial das 40 maiores indústrias do ramo (PIG INTERNATIONAL, 2016). A Tabela 01 mostra as 20 primeiras posições desse ranking, no qual a JBS ocupou a 2ª colocação, a BRF a 9ª colocação e a Aurora Alimentos a 17ª posição. Tabela 01- Ranking das 20 maiores indústrias de carne suína do mundo de acordo com a Pig International COLOCAÇÃO EMPRESA PAÍS 1° WH Group China 2° JBS Brasil 3° Danish Crown Dinamarca 4° Tonnies Alemanha 5° Yurun Group China 6° Vion Food Alemanha 7° Hormel Food EUA 8° Coren Espanha 9° BRF Brasil 10° Zhongpin China 11° Jinlou Group China 12° New Hope China 13° Westfleisch Alemanha 14° La Coop Federee Canadá 15° Wen's Food China 16° Truein Group China 17° Aurora Alimentos Brasil 18° Cooperl França 19° Group Bigard França 20° Belgian Pork Bélgica Fonte: Adaptado de Pig International, 2016. 22 Para suprir esse mercado, o número de suínos abatidos anualmente nas empresas de grande porte chega aos milhões. O Gráfico 02 apresenta a quantidade média de suínos abatidos por essas empresas no período de um ano. Gráfico 02- Quantidade média anual de suínos abatidos pelas maiores empresas produtoras de suínos do Brasil de acordo com a Pig International Fonte: O Valor Econômico, 2016. 2.1.2 Impactos Ambientais da Suinocultura Industrial O crescimento da suinocultura industrial brasileira ocorreu a partir da década de 70 com a modernização do sistema produtivo (ITO et al.,2016). Para alcançar essa modernização, e consequentemente, ter uma maior produtividade, a produção suinícola passou a ser feita de forma intensiva e confinada, com isso o volume de dejetos aumentou de maneira significativa nas granjas produtoras. Os efluentes da suinocultura são compostos, principalmente, por resíduos de ração, esterco, urina e água. Algumas variáveis definem a quantidade de dejetos produzida, sendo elas: o tamanho da suinocultura, o peso médio e a raça dos animais, fatores ambientais e a dieta dos porcos (ITO et al.,2016). Os principais componentes dos dejetos que aumentam a sua capacidade poluidora são o nitrogênio, o fósforo e alguns metais pesadoscomo o zinco e o cobre. 5 9,6 28 Aurora Alimentos BRF JBS SU ÍN O S A B A TI D O S (m lh õ es ) EMPRESAS 23 Microrganismos fecais patogênicos também podem estar presentes (FERNANDES, 2012). O sistema de confinamento contribuiu para a utilização do manejo de dejetos na forma líquida, o que intensifica a capacidade poluidora da suinocultura caso não haja um manejo eficiente dos efluentes gerados por essa atividade (ITO et al., 2016). De acordo com Perdomo (1999), em média, pode-se considerar que um suíno produz uma quantidade de dejetos igual à mesma quantidade de esgoto de cinco pessoas diariamente. Portanto, o grande potencial poluidor dessa atividade torna-se um alerta para os impactos ambientais que podem ser causados na água, na terra e no ar. Os dejetos lançados em recursos hídricos sem passar por alguma forma de tratamento além de promover a eutrofização dos corpos d’água podem modificar o bioma aquático e também aumentar a disseminação de organismos que podem causar doenças nos animais e nos seres humanos que consumirem dessa água (ITO et al., 2016). Exemplos de doenças tipicamente disseminadas dessa forma são: febre aftosa, leptospirose e peste suína. Já a poluição no solo é ocasionada quando dejetos de suínos são utilizados como fertilizante agrícola sem que esses tenham passado por alguma forma de tratamento. O impacto ambiental está diretamente relacionado com o aumento da concentração de nitrogênio e fósforo, que ocorrem a partir da infiltração e do escorrimento superficial respectivamente (OLIVEIRA, 2016). Em relação à poluição atmosférica, essa é gerada a partir da emissão de gases voláteis pela urina e pelas fezes de suínos (ITO et al., 2016). Os principais gases emitidos são o carbamato de amônio (H2NCOONH4), que se dissocia em amônia (NH3) e dióxido de carbono (CO2), o amônio (NH4+), óxido nitroso (N2O), e o gás nitrogênio (N2). Além desses, é gerado o gás metano a partir da decomposição anaeróbia do dejeto. A preocupação relacionada a esses é que os mesmos podem intensificar o efeito estufa. 24 2.1.3 Legislação Devido ao alto potencial poluidor e os impactos que podem ser causados pela suinocultura industrial, a legislação brasileira possui normas específicas para regulamentar o manejo dos dejetos e resíduos gerados. As leis podem atender em âmbito estadual e também em âmbito federal, porém as mesmas se baseiam principalmente nas normatizações feitas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) nas resoluções 237/97 e 357/05. De acordo com o CONAMA, a resolução 237/97 enquadra a suinocultura como uma atividade que pode causar grande impacto ambiental, devido a isso, a mesma exige licenciamento para ser colocada em atividade. Outra resolução do órgão, a de número 357/05, tem como uma de suas finalidades dispor acerca dos padrões para o lançamento de efluentes. Esta norma define a espécie de água entre doce, salina e salobra, além de qualificar em qual ambiente se situa o recurso hídrico. A partir disso existe um tratamento específico para cada condição, incluindo uma opção de despejo e uma medida a se tomar caso a água esteja em condições indevidas. Com isso, para ser feito o descarte de qualquer efluente derivado da suinocultura industrial, o mesmo deve atender às especificações exigidas pela resolução. Algumas questões normatizadas pela resolução 357/02, podem mudar de acordo com cada estado. A granja deve seguir as normas estabelecidas pelo estado que o mesmo se situa. Em Minas Gerais deve ser seguida a Lei Nº 21.972, de 21 de janeiro de 2016, que tem como objetivo dispor sobre o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos além de outras providências. Existem outras leis que irão ser aplicadas no licenciamento ambiental da suinocultura como também estabelecerão as sanções penais para os produtores que não seguirem as regras. No Quadro 01 essas leis são apresentadas (PALHARES, 2008 apud ITO et al., 2016). 25 Quadro 01- Legislação da Suinocultura Industrial LEGISLAÇÃO DESCRIÇÃO Decreto 24.643, de 10 de junho de 1934 Código das Águas. Lei 4.771, de 15 setembro de 1965 Código Florestal. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981 Estabelece a finalidade e mecanismos de formulação e aplicação da Política de Meio Ambiente, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente e institui o Cadastro de Defesa Ambiental e o Conselho Nacional do Meio Ambiente. Lei 7.347, de 24 de julho de 1985 Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente e ao consumidor e dá outras providências. Resolução Conama 1, de 23 de janeiro de 1986 Estabelece diretrizes gerais para o uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental e Estudo de Impacto Ambiental. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 Dispões sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997 Institui o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais. Lei 9.984, de 17 de julho 2000 Cria a Agência Nacional das Águas (ANA), para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e Coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Fonte: PALHARES (2008) apud ITO et al. (2016). 26 2.1.4 Tratamento dos Efluentes Gerados A fim de reduzir os impactos gerados pela suinocultura industrial, os efluentes dessa atividade podem passar por diversos tipos de tratamentos. Esses tratamentos, além de adequar os efluentes a serem descartados de acordo com a legislação brasileira, podem criar uma oportunidade de negócio se tornando uma segunda fonte de renda ao produtor com a venda de subprodutos gerados pelo manejo dos dejetos. Um dos principais sistemas de tratamento dos dejetos são as chamadas lagoas de decantação. Esse sistema consiste no recolhimento e armazenamento dos dejetos em lagoas construídas para essa finalidade. O efluente fica retido nessa lagoa onde ocorrerá a sedimentação da matéria orgânica e a degradação biológica por microrganismos (SOUZA et al., 2016). Esse tipo de tratamento é amplamente utilizado por ser de baixo custo, porém apresenta desvantagens por necessitar de grande área para a sua implementação, de modo a garantir grandes tempos de retenção. Além disso, os dejetos precisam de um pós-tratamento para atenderem às normas de emissões de efluentes líquidos (BELLI FILHO et al., 2001). Outro sistema utilizado é a estabilização de dejetos em esterqueiras e bioesterqueiras. Nesse tipo de tratamento os efluentes são armazenados em estruturas de alvenaria que podem ou não serem divididas em duas câmaras: uma para digestão anaeróbia e outra para o armazenamento dos dejetos. O princípio de funcionamento do sistema é o mesmo das lagoas de decantação em que o dejeto fica retido enquanto sofre degradação biológica. Apesar de fácil operação e baixo custo de implantação, esse tipo de sistema apresenta desvantagens no custo do transporte, armazenamento e distribuição do dejeto para ser tratado e também do biofertilizante gerado no final do tratamento. A compostagem também pode ser utilizada para o tratamento dos dejetos de suínos. Nesse sistema, o dejeto líquido é misturado à serragem, palha ou marvalha, dentro de câmaras de compostagem, até que se obtenha uma proporção ideal de 1 Kg de substrato para 10 litros (L) de dejetos líquidos (OLIVEIRA, 2016). Após a obtenção da mistura, ocorre a fermentação da matéria orgânica e a evaporação da água presente no meio, o que gera um aumento significativo da temperatura, característica da primeira parte do processo. A segunda etapa, também chamada de 27 maturação, tem como objetivo a eliminação de patogênicos e a estabilização da matéria orgânica,através do revolvimento do composto, que promove a sua oxigenação e mantém a temperatura do meio elevada. Por tratar de uma forma de fermentação aeróbia, esse tipo de tratamento não permite odores desagradáveis quando comparada aos sistemas de fermentação anaeróbicos. Além disso, pelo composto obtido se encontrar na forma sólida ele se torna mais fácil de ser estocado e transportado. Porém, algumas desvantagens são apontadas no sistema como a necessidade de mão de obra constante para o reviramento do composto, o monitoramento do processo de compostagem e o alto custo do substrato que será misturado ao dejeto líquido. A cama sobreposta possui o mesmo princípio de funcionamento da compostagem, porém ocorre dentro das baias de confinamento dos suínos que contém uma camada de substrato previamente colocada. Os dejetos dos animais são depositados diretamente no substrato dando início ao processo de compostagem aeróbica (OLIVEIRA, 2016). As vantagens desse sistema estão relacionadas ao baixo custo de instalação e de manejo dos dejetos, porém, há um alto custo na obtenção do substrato, um maior cuidado com a saúde dos animais e as baias devem possuir uma ventilação adequada. Os biodigestores se apresentam como uma das melhores tecnologias para o tratamento dos efluentes. Além de promover o tratamento adequado à legislação e a produção do biofertilizante, produz o biogás que será coletado e usado como fonte de energia. O processo consiste na contenção dos dejetos nos reatores biológicos, em contato com microrganismos anaeróbios, que promoverão a decomposição da matéria orgânica (FERNANDES, 2012). Os biodigestores são constituídos pelo tanque de retenção da biomassa e do gasômetro, que é uma câmara hermética que armazenará o biogás (FIGURA 01). 28 Figura 01- Esquema de um biodigestor do modelo canadense Fonte: EBAH, 2010. Apesar do alto investimento para a implantação do processo, o uso de biodigestores é a opção mais viável para a produção de energia a partir dos dejetos que passam pelo tratamento (CALZA et al., 2015). Caso haja um excedente de energia produzida à mesma pode ser vendida para a distribuidora de energia local. Na Figura 02, é apresentada uma ilustração de um biodigestor do modelo canadense construído para o tratamento de dejetos de uma granja de suínos. Figura 02- Biodigestor construído em uma suinocultura Fonte: Próprios Autores, 2020. O Quadro 02 apresenta um quadro comparativo dos principais métodos de tratamento de resíduos utilizados na suinocultura, focando nas suas vantagens e desvantagens. 29 Quadro 02- Tipos de tratamentos de efluentes mostrando suas vantagens e desvantagens FORMA DE TRATAMENTO VANTAGENS DESVANTAGENS Lagoa de decantação - Baixo custo de instalação. - Baixo custo de manutenção e operação; - Simples operacionalidade. - Necessidade de grande área para implementação; - Necessidade de pós tratamento dos dejetos. Esterqueiras/Bioesterqueiras - Baixo custo de instalação. - Baixo custo de manutenção e operação; - Simples operacionalidade. - Alto custo de transporte, armazenamento e distribuição dos dejetos a serem tratados e do biofertilizante produzido por estar na forma líquida. Compostagem - Baixo custo de instalação. - Não há a produção de odres desagradáveis; - Baixo custo de manutenção. - Facilidade de transporte, armazenamento e distribuição do biofertilizante produzido por estar na forma sólida. - Necessidade de mão de obra constante para o reviramento do composto; - Monitoramento constante do processo; - Alto custo do substrato utilizado. Cama sobreposta - Baixo custo de instalação; - Baixo custo de manejo dos dejetos; - Baixo custo de manutenção e operação; - Simples operacionalidade. - Alto custo do substrato utilizado. - Risco à saúde dos animais; - Infraestrutura adequada para eficiência do processo. Biodigestores - Baixo custo de operação; - Simples operacionalidade. - Fácil controle do sistema de tratamento; - Produção de subproduto de alto valor econômico; - Alto custo de instalação; - Investimento inicial para a utilização do biogás. Fonte: Próprios Autores, 2020. 30 2.2 DECOMPOSIÇÃO ANAERÓBIA A decomposição anaeróbia é o processo de degradação da matéria orgânica por microrganismos anaeróbios, formando como produto o biogás. De acordo com Araújo (2017), o processo de decomposição anaeróbia possui, necessariamente, 4 etapas a nível bacteriano, sendo elas: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese como mostrado na Figura 03. Figura 03- Esquema da decomposição anaeróbia Fonte: Adaptado de FRIEHE J. et al. (2010). 31 A equação geral para o processo de decomposição anaeróbia pode ser representada de acordo com a seguinte equação (KELLEHER et al., 2002): Matéria Orgânica + H2 CH4 + CO2 + Biomassa + NH3 + H2S + Calor Eq.1 2.2.1 Etapas da Digestão 2.2.1.1 Hidrólise A hidrólise é a primeira etapa no processo de decomposição anaeróbia. Nessa etapa, os compostos orgânicos complexos são decompostos em compostos orgânicos simples. A hidrólise é feita a partir da quebra dos compostos orgânicos complexos após a adição de água e também pelas enzimas que as bactérias excretam no meio fazendo com que esse fenômeno seja caracterizado como extracelular. A hidrólise dos compostos é descrita de acordo com a seguinte equação: Equação 2. RCOOR + yH2O RCOOH + ROH Eq.2 A partir da quebra dos compostos complexos em monômeros inicia-se o processo de biodigestão. Dessa forma, carboidratos são transformados em monossacarídeos, lipídeos são transformados em ácidos graxos e glicerol, e proteínas são transformadas em aminoácidos. 2.2.1.2 Acidogênese Na segunda etapa do processo de decomposição anaeróbia, chamada de acidogênese, os monômeros resultantes da hidrólise são metabolizados por bactérias acidogênicas em ácidos graxos de cadeia curta, dióxido de carbono, hidrogênio e outros compostos. A quantidade de hidrogênio intermediário irá interferir diretamente na formação dos produtos dessa etapa. Caso a concentração de hidrogênio intermediário seja alta, a etapa será afetada negativamente, pois irá causar o acúmulo de ácido graxo, em consequência disso, o pH do meio diminui (ARAÚJO, 2017). 2.2.1.3 Acetogênese 32 Na acetogênese, os compostos provenientes da acidogênese são convertidos em precursores de biogás, por intermédio da ação de bactérias acetogênicas. A acetogênese é uma das fases que necessita de maior controle no processo, já que é importante haver o equilíbrio da quantidade de hidrogênio gerado para que o mesmo seja consumido pelas bactérias metanogênicas na próxima etapa do processo (ARAÚJO, 2017). 2.2.1.4 Metanogênese A metanogênese é a 4ª e última etapa do processo. Ela é feita pelas bactérias metanogênicas, estritamente anaeróbias. Nessa fase, o ácido acético, o hidrogênio e o dióxido de carbono são convertidos em metano. Os microrganismos responsáveis por essa etapa do processo são divididos em dois grupos. O primeiro grupo é composto pelas bactérias metanogênicas hidrogenotróficas, essas produzem o metano a partir da metabolização do hidrogênio e do dióxido de carbono. Já o segundo grupo é composto pelas bactérias metanogênicas acetoclásticas, que produzem o metano a partir da redução do ácido acético e, de acordo com Friehe et al., essas são responsáveis por 70% do metano produzido no processo. As Equações 3 e 4 apresentam respectivamente a ação dessas bactérias. CO2 + 4H2 CH4 + 2H2O Eq.3 CH3COOH CH4 + CO2 Eq.4 2.2.2 Cinética da Digestão AnaeróbiaA Figura 04 apresenta a evolução da composição do gás gerado no processo de digestão anaeróbica de resíduos. Inicialmente, nitrogênio e oxigênio presentes são consumidos, ao mesmo tempo em que hidrogênio e dióxido de carbono são produzidos pela decomposição da matéria orgânica. Já nas etapas de acetogênese e metanogênese, o hidrogênio e o dióxido de carbono são convertidos para metano. Apesar dessa representação esquemática com uma descrição separada de cada estágio, os microrganismos atuam de forma simultânea e dependente entre si. 33 Figura 04- Evolução da composição ideal do gás gerado no processo de digestão anaeróbica de resíduos. Fonte: Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR), 2001. O processo anaeróbico de conversão da matéria orgânica em metano é lento se comparado com processos aeróbicos de conversão de resíduos. As condições do processo, portanto, devem ser selecionadas de modo a garantir crescimento adequado das bactérias metanogênicas. Além disso, ocorre a produção de alguns gases contaminantes que prejudicam a utilização do biogás gerado no biodigestor, como o ácido sulfídrico, que é um gás altamente corrosivo. Apesar de não ser apresentado Figura 4, por ser um produto minoritário do processo, o projeto e operação do biodigestor deve levar em conta os parâmetros para minimizar a produção do H2S (ácido sulfídrico). 2.3 BIODIGESTORES Os biodigestores são equipamentos utilizados para o processo de tratamento da matéria orgânica de origem animal ou vegetal. Este equipamento tem se destacado pela possibilidade de utilização de forma rentável dos subprodutos 34 provenientes do tratamento. Para maior eficiência no processo de tratamento, estes equipamentos possuem condições de operações ideais. As mesmas devem ser seguidas independente do modelo de biodigestor utilizado. 2.3.1 Condições para Operações com Biodigestores A operação com biodigestores deve seguir uma série de condições a fim de garantir o parâmetro ideal para que as bactérias responsáveis por cada etapa da decomposição anaeróbia atinjam sua máxima eficiência de conversão. De acordo com Friehe et al., as condições para operações com os biodigestores são feitas a partir do controle de oxigênio, temperatura, faixa de pH, disponibilidade de nutrientes, tempo de retenção hidráulica, agitação e quantidade de água. 2.3.1.1 Oxigênio A decomposição da matéria orgânica nos biodigestores é feita por microrganismos anaeróbios e facultativos (na presença de oxigênio, realizam respiração aeróbia e, na ausência desse gás, realizam os processos anaeróbios). Devido a isso, para maior eficiência do processo, o ambiente deve ser isento de oxigênio. O controle de entrada de oxigênio dentro do biodigestor é praticamente impossível de ser feito, mas o que garante a sobrevivência dos microrganismos anaeróbios é a coexistência dos mesmos com os microrganismos facultativos. Os últimos serão essenciais para consumir a pequena concentração de oxigênio que possa vir a entrar no biodigestor. 2.3.1.2 Temperatura O controle da temperatura dos biodigestores deve ser feito, principalmente, por se tratar de um processo biológico. Os microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica possuem uma faixa de temperatura ideal. Temperaturas menores ou maiores que essa faixa ideal podem ocasionar na inibição ou morte dos microrganismos envolvidos no processo (FRIEHE et al., 2010). De acordo com Montilha (2005), durante o processo de biodigestão a temperatura pode variar de 10°C até 65° C, mas a faixa ideal para que o processo ocorra é de 30°C a 35 °C. Caso essa faixa de temperatura ideal não seja alcançada naturalmente um sistema de aquecimento externo pode ser acoplado ao biodigestor. 35 Como o Brasil possui um clima tropical, não é comum utilizar sistemas de aquecimento em biodigestores. 2.3.1.3 Faixa de pH O valor de pH também segue uma faixa ideal como a temperatura. Com isso, o pH possui uma faixa ideal de acordo com a etapa da decomposição anaeróbia. Na hidrólise e na acidogênese o pH ideal é entre 5,2 a 6,3; já na acetogênese e metanogênese a faixa ideal é entre 6,5 a 8 (ARAÚJO, 2017). 2.3.1.4 Disponibilidade de nutrientes Para Friehe (2010), existe uma concentração adequada de macro e micronutrientes que devem estar presentes no meio para que o processo de decomposição seja estável, ou seja, para que ocorra a degradação completa da matéria orgânica ou evitar que ocorra a inibição do crescimento das bactérias responsáveis pelo processo de degradação. Pode-se citar o carbono (C), nitrogênio (N), fósforo (P) e enxofre (S) como sendo os macronutrientes mais importantes para a formação de enzimas responsáveis pela atividade metabólica e a relação entre eles dentro do reator deve ser: C:N:P:S → 600:15:5:3. Já os minerais, vitaminas e aminoácidos são os principais micronutrientes e apesar de não possuírem uma relação fixa como os macronutrientes são essenciais para a sobrevivência dos microrganismos do meio e, os mesmos, são fornecidos nos dejetos dos animais. O controle da disponibilidade de nutrientes é feito por análise laboratorial do efluente a ser tratado. Caso a concentração esteja abaixo do ideal, é recomendado a adição desses no efluente antes que ele entre no biodigestor. A superdosagem pode estar relacionada com a dieta dos suínos, e deve ser controlada a fim de evitar a alta concentração de metais pesados nos animais e, principalmente, no biofertilizante produzido, evitando que o mesmo possa ser utilizado como adubo orgânico na agricultura (FRIEHE et al., 2010). 2.3.1.5 Tempo de Retenção Hidráulica Friehe conceitua tempo de retenção hidráulica (TRH) como o tempo médio calculado para que um substrato permaneça em um biodigestor até a sua saída, a Equação 5 mostra como definir o tempo de retenção hidráulica matematicamente. 36 𝑇𝑅𝐻 = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑏𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟 𝑉𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 𝑖𝑛𝑡𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜 𝑑𝑖𝑎𝑟𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 Eq. 5 O tempo de retenção hidráulica deve ser ideal para manter o processo fermentativo. Caso o tempo de retenção seja curto, os microrganismos não irão decompor a matéria orgânica por completo e, consequentemente, resultará em um rendimento insuficiente do biogás. Oliveira (2006) afirma que no Brasil o tempo de retenção hidráulica adotado para a produção de biogás e do biofertilizante varia de 22 a 30 dias, sendo que a empresa responsável pelo projeto do biodigestor faz a escolha do número de dias que o efluente irá permanecer dentro do biodigestor. Esse controle é feito a partir do ajuste do volume do equipamento a ser instalado. 2.3.1.6 DBO e DQO De acordo com Cortez, Lora e Gómez (2008), a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é a quantidade de oxigênio necessária para a estabilização bioquímica de um composto orgânico a partir da decomposição feita por microrganismos em condições aeeróbias. Já a demanda química de oxigênio (DQO) é definida como a quantidade de oxigênio necessária para a oxidação da matéria orgânica através de algum agente químico (MEES, 2006). Para Macedo (2001), a relação DBO/DQO é utilizada para definir o processo de tratamento a ser utilizado em determinado efluente, já que essa relação define a biodegradabilidade do rejeito, sendo elas: • DBO/DQO>0,6: tratamento feito por processo biológico. • 0,2<DBO/DQO<0,6: tratamento biológico possível. • DBO/DQO<0,2: tratamento biológico muito difícil. • DBO/DQO=1: não há material inerte a ação dos microrganismos. De acordo com Cortez, Lora e Gómez (2008), é estimado que o DBO e o DQO para os dejetos de suínos são 181 mg/g de sólidos totais e 1409 mg/g de sólidos totais, respectivamente. Já Silva (1973) apud Fernandes (2012), mostrou que a relação média DBO/DQO de efluentes provenientes da criação de suínos em37 confinamento é 0,43, o que caracteriza esse dejeto como tratamento biológico possível. Nos resultados das análises físico-químicas feitas por Fernandes (2012) em uma suinocultura de ciclo completo que utiliza biodigestores para o tratamento do seu efluente mostrou que nos biodigestores á uma eficiência global de 67,38% de remoção do DBO e uma eficiência global de 52,61% de remoção do DQO, valores condizentes com a referência que a autora utilizou como base. 2.3.1.7 Sólidos Voláteis De acordo com Cortez, Lora e Gómez (2008) apud Fernandes (2012), o parâmetro físico mais importante para a caracterização de resíduos provenientes de atividades rurais é o conteúdo de sólidos Esse parâmetro será importante para a determinação da necessidade ou não de diluição do resíduo além de indicar a quantidade de sólidos presentes na matéria orgânica. Os sólidos voláteis estão diretamente relacionados com a produção de biogás dentro de um biodigestor, já que eles são os principais substratos das bactérias metanogênicas. De acordo com Oliveira (2006), a quantidade de sólidos voláteis representa entre 70 a 75% dos sólidos totais presentes na matéria orgânica proveniente dos dejetos de suínos. O autor também afirma que quanto maior for a concentração, maior será a capacidade do biodigestor em gerar o biogás. 2.3.1.8 Quantidade de água A quantidade de água adicionada à matéria orgânica antes que a mistura entre no biodigestor deve seguir uma proporção adequada, a fim de garantir uma maior eficiência do processo, principalmente, na etapa de hidrólise. Essa proporção é diferente para cada tipo de resíduo animal, como mostrado na Tabela 02. Tabela 02- Proporção entre quantidade de resíduos e quantidade de água para diferentes tipos de resíduos animais. TIPO DE RESÍDUO QUANTIDADE DE RESÍDUOS QUANTIDADE DE ÁGUA Bovinos 4 partes 5 partes Suínos 1 parte 2 partes Aves 1 parte 3 partes Fonte: Magalhães, 1986, adaptada. 38 2.3.2 Modelos de Biodigestores Existem diferentes modelos de biodigestores que podem ser usados para realizar o tratamento de efluentes da suinocultura industrial, sendo que o biodigestor escolhido pode variar de acordo com o porte da suinocultura, o volume de efluentes a ser tratado, tecnologia disponível, entre outros fatores. A principal diferença entre os biodigestores disponíveis no mercado é o método em que se realiza a alimentação, podendo ser biodigestores contínuos ou descontínuos (batelada). Segundo Machado: O processo de biodigestão com biodigestor em batelada é feito por meio de carregamentos únicos e mantidos fechados por um período adequado, descarregando a matéria orgânica posteriormente. Já os biodigestores contínuos são carregados, frequentemente, com auxílio de uma caixa de carga e outra de descarga. (MACHADO; THEODORO, 2018, p. 6) 2.3.2.1 Modelos Contínuos 2.3.2.1.1 Modelo Indiano O modelo indiano é um modelo vertical que possui duas câmaras divididas por uma parede central, nas quais o material se desloca. Este modelo se diferencia por possuir uma campânula, uma espécie de tampa, podendo essa estar mergulhada sobre a biomassa, ou em um selo d'água externa. Possui pressão constante, o que faz com que o volume de gás produzido não seja consumido imediatamente. Esse biodigestor opera com a temperatura do solo, esta que passa por poucas variações, resultando num processo de fermentação mais rápido. Segundo Deganutti, et al (2002) apud FRIGO et al (2015), “Este modelo apresenta ser de fácil construção, porém alguns fatores podem encarecer o custo final como por exemplo o fato de o gasômetro ser de metal...”. A Figura 05 mostra a representação do biodigestor do modelo indiano. 39 Figura 05 – Representação do biodigestor do modelo indiano Fonte: Nishimura, 2009. 2.3.2.1.2 Modelo Chinês O modelo chinês, segundo Frigo et al (2015) “Este tipo de biodigestor é formado por uma câmara cilíndrica em alvenaria onde ocorre a fermentação...”. O funcionamento utiliza os mesmos princípios de uma prensa hidráulica, o que, consequentemente aumenta a pressão interna nesta parte (FRIGO et al, 2015). Esse modelo apresenta menor custo, já que é quase totalmente constituído de alvenaria, tornando o uso de gasômetro de chapa de aço dispensável. Este modelo necessita de um grande cuidado com sua estrutura, uma vez que, se não for bem impermeabilizado e vedado, haverá fuga do biogás, o que resulta em desperdício. A Figura 06 mostra a representação do biodigestor do modelo chinês. 40 Figura 06 – Representação do biodigestor do modelo chinês Fonte: Nishimura, 2009. 2.3.2.1.3 Modelo Canadense O modelo canadense se diferencia pelo fato de ser do tipo horizontal, apresentando uma caixa de carga feita em alvenaria e com largura maior que a profundidade (FRIGO et al., 2015). Constituído por uma câmara de fermentação subterrânea, uma caixa de saída e por uma lona de revestimento plástica maleável, o gasômetro, feita de PVC, esta última que torna o preço final mais elevado (CASTANHO & HARRUDA, 2008, apud FRIGO et al, 2015). A construção desse biodigestor é simples, porém o mesmo pode sofrer manutenções periódicas já que ele não é feito de alvenaria, como os outros modelos. O biodigestor canadense é mais aplicado em regiões e subtropicais tropicais, devido à alta temperatura auxiliar a manter a temperatura do equipamento estabilizada (NISHIMURA, 2009). O gasômetro não pode conter nenhum tipo de furos ou rasgos para evitar a fuga de biogás produzido. A Figura 07 mostra a representação do biodigestor do modelo canadense. 41 Figura 07 – Representação do biodigestor do modelo canadense Fonte: Haack, 2009. 2.3.2.2 Modelos Descontínuos 2.3.2.2.1 Modelo Batelada O modelo batelada é “simples e de pequena exigência operacional” (Frigo et al, 2015). Composto apenas por um tanque de fermentação e um gasômetro móvel. Esse modelo é mais recomendado para locais em que o intervalo de disponibilidade do resíduo é maior, uma vez que a biomassa permanece nesse reservatório fechado até que o ciclo da digestão anaeróbio esteja completo (FRIGO et al, 2015). Iniciado o processo é necessário que o ciclo de produção do biogás esteja completo para então ser permitido abrir a câmara para retirar o material fermentado e o biodigestor receba uma nova carga de matéria orgânica. O biogás é retirado durante o processo por canalizações ligadas ao biodigestor. A Figura 08 mostra a representação do biodigestor do modelo batelada. 42 Figura 08 – Representação do biodigestor do modelo batelada Fonte: DEGANUTTI et al. (2002). 2.3.2.2.2 Modelo Naval O modelo naval possui as mesmas características que o modelo contínuo canadense, porém o que os diferencia é que neste modelo o processo é descontínuo. De acordo com Thiago Filho e Ferreira (2002), apud Ana Flavia e Tamires Cristina (2018): “Esse biodigestor pode ser acoplado em série, tendo como desvantagem apenas o valor da cúpula, que dependendo do tamanho, pode inviabilizar o projeto.”. 2.4 Biogás e Biofertilizante 2.4.1 Biofertilizante O biofertilizante é um adubo orgânico proveniente do tratamento dos efluentes da suinocultura em biodigestores capaz de restabelecer o teor de húmus, nitrogênio, fósforo e potássio, a fim de se obter maior produtividade em plantações agrícolas (OLIVER et al., 2008). De acordo com a EMBRAPA, o biofertilizante proveniente desse processo é constituído pela composição necessária dos nutrientes citados para a recuperação da fertilidade desejada do solo. Na Tabela 03 está apresentada a composição típica do biofertilizante. 43 Tabela 03- Composição do biofertilizante COMPOSIÇÃO QUANTIDADE (%) Umidade 80,5 Nitrogênio Orgânico 0,60 Nitrogênio Amoniacal 0,15 Fósforo 0,35 Potássio 0,70 Matéria Orgânica 15,80 Outros 1,9 Fonte: Adaptado de Nogueira,1992 apud RIZZONI et al. (2012). 2.4.2 Biogás O biogás é uma mistura gasosa obtida como produto da decomposição anaeróbia da matéria orgânica. De acordo com Deublein e Steinnhauser (2008) apud Araújo (2017), o biogás é composto de 55 a 70% de metano (CH4) e de 30 a 45% de dióxido de carbono (CO2), ácido sulfídrico, amônia, traços de hidrogênio, nitrogênio, monóxido de carbono, carboidratos e oxigênio também compõe o biogás em pequenas quantidades. A Tabela 04 apresenta a composição típica do biogás. Tabela 04- Composição média do biogás COMPONENTE CONCENTRAÇÃO Metano 55-75% em volume Dióxido de carbono 30-45% em volume Água 2-7% em volume Ácido sulfídrico 20-20000 ppm Nitrogênio < 2% em volume Oxigênio < 2% em volume Hidrogênio < 1% em volume Fonte: Kaltschmitt; Hartmann, 2001, apud Friehe, 2010. O biogás é um gás combustível que pode ser utilizado como fonte de energia renovável. A cada m3 de biogás queimado são produzidos cerca de 5.000 a 7.000 44 Kcal (ARAÚJO, 2017). A energia produzida a partir da queima do biogás pode ser utilizada para a produção de energia elétrica, energia térmica e também energia mecânica. O biogás produzido no biodigestor também apresenta forte potencial para ser aplicado como combustível de veículos a combustão. No entanto, a presença do CO2, que é um gás inerte em termos de combustão, pode ser um desafio. Isso ocorre, pois, a sua presença diminui o conteúdo energético do biogás e, portanto, diminui a sua qualidade. Dentre as diversas tecnologias para remoção do CO2, a mais barata e mais simples é a remoção por lavagem com água. O CO2 é dissolvido na água ao passar em contracorrente em uma torre de absorção, sendo a eficiência deste processo altamente dependente da pressão e temperatura do sistema. Portanto, deve-se avaliar a necessidade e a viabilidade para a remoção desta impureza, levando em conta a aplicação do biogás produzido. 45 3 METODOLOGIA Para o estudo de caso deste estudo, foi feita uma proposta para a utilização de biodigestores para o tratamento dos efluentes de uma suinocultura industrial hipotética que possui 20.573 suínos. A quantidade de suínos para essa granja, considerada de grande porte e localizada na região central do estado de Minas Gerais, foi estimada a partir de pesquisas da quantidade de suínos médios de granjas existentes, além de dados obtidos durante visita a um local com produção de suínos. Para determinar a quantidade de efluente gerado deve-se levar em conta o número de animais em cada fase do sistema de produção, pois, de acordo com Konzen (1986) apud Fernandes (2012), o suíno produz uma quantidade variada de dejetos em diferentes fases do sistema de criação, como mostrado na Tabela 05. A divisão dos suínos em cada etapa do crescimento foi feita a partir de estimativas médias de suinoculturas industriais. Tabela 05- Quantidade de dejetos líquidos produzidos por suínos de acordo com sua fase no sistema de produção FASES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DEJETOS (esterco + urina) (Kg/dia) Suínos (25 a 100Kg) 4,9 Gestação 11,0 Lactação 18,0 Cachaço (macho) 6,0 Creche 0,95 Fonte: Adaptada de Konzen, 1980 apud Fernandes, 2012. Como foi mostrado no item 3.3.2.1 dentre os biodigestores contínuos apresentados, o do tipo canadense é o que possui maior viabilidade econômica, e, além disso, é o modelo mais utilizado para o tratamento de efluentes da suinocultura no Brasil, já que esse modelo apresenta grande capacidade volumétrica. Com isso, esse modelo será escolhido para o tratamento dos efluentes gerados na granja em questão. Além do biodigestor, será acoplada ao sistema uma lagoa de estabilização como pós-tratamento. O intuito desse sistema é garantir que o efluente tratado atenda aos padrões de descartes em cursos d’água ao remover matéria orgânica, 46 nutrientes e patógenos (TONELLI, 2019). De acordo com Von Sperling (2005) apud TONELLI (2019), o tempo de retenção hidráulica nas lagoas de estabilização é de no mínimo 20 dias. Com o intuito de determinar o potencial de geração de biogás nesta granja, foi utilizada a metodologia desenvolvida por Chen (1983). A escolha dessa metodologia foi feita devido ao fato da mesma ser utilizada mundialmente (BROETTO, 2019), e, também, pelo fato da mesma possuir validação no meio científico. Além disso, é comprovado cientificamente que os resultados obtidos para validar essa metodologia foram satisfatórios (EMBRAPA, 2018). Para a determinação da estimativa teórica da quantidade de biofertilizante, foi referenciado que 70% do efluente que entra no biodigestor é reaproveitado como biofertilizante (PRATI, 2010). Além disso, para fazer uma análise econômica da utilização desse adubo, foi feito uma pesquisa em comércios que vendem fertilizantes minerais para então apresentar a economia mensal que o produtor teria na utilização do adubo obtido pelo tratamento. Sobre a redução de gases de efeito estufa, foi utilizada a metodologia ACM0010 que é proposta pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que é um mecanismo de flexibilização proposto pelo protocolo de Kyoto. E para a obtenção do lucro faturado com a venda do crédito de carbono obtida a partir da utilização do MDL, foi usado como base um leilão realizado pelo BM&FBovespa. E para finalizar, a análise da viabilidade econômica do projeto, foi utilizado os valores obtidos feito em pesquisas de mercado para a implantação e manutenção do projeto. Além disso para determinar se o projeto era considerado viável, foi feito uma análise do payback com o gasto inicial de implantação do projeto e o faturamento obtido com a utilização da energia elétrica produzida na granja e com a venda do crédito de carbono. 47 4 ESTUDO DE CASO 4.1 Determinação da Quantidade de Efluente Gerado A granja tratada em questão é uma granja que possui 20.573 suínos em unidade de ciclo completo, ou seja, possui todas as fases de produção em local geográfico único. A divisão desses suínos nas distintas fases está apresentada na Tabela 06. Tabela 06- Apresentação dos suínos em suas distintas fases da granja em questão CATEGORIA DOS SUÍNOS QUANTIDADE DE SUÍNOS Matrizes em gestação 793 Matrizes amamentando 209 Cachaço 13 Creche 7.106 Crescimento + terminação 12.452 Total 20.573 Fonte: Próprios Autores, 2020. A partir dos dados apresentados nas Tabelas 05 e 06, pode-se determinar a quantidade de dejetos gerados a partir dos seguintes cálculos, utilizando a Equação 6: • Matrizes em gestação: 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 = 793 𝑥 11 = 8.723 𝐾𝑔 𝑑𝑖𝑎 Eq.6 • Matrizes amamentando: 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 = 209 × 18 = 3.762 𝐾𝑔 𝑑𝑖𝑎 Eq. 6a • Cachaços: 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 = 13 × 6 = 78 𝐾𝑔 𝑑𝑖𝑎 Eq. 6b 48 • Creche: 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 = 7.106 × 0,95 = 6750,7 𝐾𝑔 𝑑𝑖𝑎 Eq. 6c • Crescimento e terminação: 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 = 12.452 × 4,9 = 61.014,8 𝐾𝑔 𝑑𝑖𝑎 Eq. 6d A Tabela 07 apresenta a quantidade de dejetos produzidos por dia por cada fase de sistema de produção do suíno na granja. Tabela 07 - Quantidade de dejeto gerado por dia na granja FASES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DEJETOS (Kg/dia) Suínos (25 a 100Kg) 61.014,8 Gestação 8.723 Lactação 3.762 Cachaço (macho) 78 Creche 6.750,7 Total 80.328,5 Fonte: Próprios Autores, 2020. Como mostrado na Tabela 02, a proporção de água que deve estar contida nos dejetos de suínos para que ocorra uma digestão anaeróbica com máxima eficiência é de 1 parte de dejetos para 2 partes de água. Com isso para o cálculo do volume de água que deve ser acrescentado à massa de dejeto foifeito: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 = 80.328,5 𝑥 2 = 160.657 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 Eq. 7 Por ser uma granja que faz a criação dos suínos em confinamento, essa quantidade de água pode ser acrescentada aos dejetos durante a limpeza dos galpões de contenção dos suínos. A partir do volume de água determinado, foi calculado o volume de efluente gerado por dia da seguinte forma: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝑒𝑓𝑙𝑢𝑒𝑛𝑡𝑒 = 160.657 + 80.328,5 = 240.985,5 𝐿 𝑑𝑖𝑎 Eq. 8 49 4.2 Escolha do Biodigestor Pela grande quantidade de dejetos gerados, será proposto a construção de dois biodigestores do tipo canadense que possuirão a mesma capacidade volumétrica que atenderá a demanda da granja em questão. Para a divisão do efluente para os dois biodigestores serão utilizados encanamentos próprios para cada um dos biodigestores. Essas tubulações sairão de galpões específicos e guiarão o efluente até um dos biodigestores. Antes das construções das mesmas, deve-se realizar um estudo para determinar de quais galpões as tubulações terão origem levando-se em consideração a vazão do efluente de cada galpão. 4.2.1 Biodigestor A O Biodigestor A será construído para realizar o tratamento da primeira metade dos efluentes gerados pelos suínos. Como mostrado nos cálculos da seção anterior, o volume de efluente gerado por dia é de 240.985,5 L/dia, para determinar do volume de efluente a ser tratado, foi feito: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑒𝑓𝑙𝑢𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜 𝑏𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟 𝐴: 240.985,5 2 1.000 = 120,49 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 Eq.10 Para determinar o volume do Biodigestor A (VBA) foi feito: VBA= VDL x TRH Eq.11 VBA= 120,49 x 22= 2.650,8 m3 Eq. 12 em que VBA, é o volume do Biodigestor A, VDL, é volume de dejetos líquidos e TRH, é o tempo de retenção hidráulica. Portanto, para o cálculo do Biodigestor A, será considerada a capacidade mínima de 2.700 m3. Para atender essa demanda, foi proposto o Biodigestor A composto pela fossa de formato trapezoide com um volume geométrico que atendesse a demanda de no mínimo 2.700 m3. Para o cálculo do volume geométrico foi utilizada a seguinte equação: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝐺𝑒𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑜 = ( 𝐴 + 𝐵) 2 × 𝐻 × 𝐿 Eq. 13 50 Em que A é a medida da base superior, B medida da base inferior do trapézio que forma a seção transversal da fossa do biodigestor A, H é a profundidade da fossa, L é o seu comprimento longitudinal e D é o lado do trapézio da seção transversal. A Figura 09 mostra o croqui da fossa do Biodigestor A. Figura 09- Croqui da fossa do Biodigestor A Fonte: ALVES, 2017, adaptada. Para determinar as dimensões do Biodigestor A, deve-se considerar a inclinação ideal do talude (inclinação na superfície lateral de um aterro, de um muro ou de qualquer obra) (GERSCOVICH, 2009 apud ALVES, 2017) como também uma proporção correta entre a largura e o comprimento da fossa (FEIDEN et al., 2004 apud ALVES, 2017) e a profundidade da fossa. A fim de determinar a inclinação ideal do talude foi considerado que o solo tivesse natureza de terra compactada, pois é a forma predominante de terreno da região central de Minas Gerais, local onde se encontra a granja em questão. De acordo com L’Institut de L’Élevage, 1996 apud EMBRAPA, 2004, a inclinação ideal do talude de natureza de terra compactada é de 30° a 50°, com isso foi escolhido uma inclinação de 40°. A Figura 10 representa o ângulo do talude do Biodigestor A. 51 Figura 10- Representação do ângulo do talude do Biodigestor A Fonte: ALVES, 2017, adaptada. Para determinar as dimensões da superfície superior da fossa, ou seja, o comprimento (L) e a largura da base superior (A) é considerada uma relação largura/comprimento entre 1:3 a 1:5 (FEIDEN et al., 2004 apud ALVES,2017). Tais características garantirão o fluxo hidráulico ideal, tipo pistão, necessário para o funcionamento contínuo desse sistema de tratamento. De acordo com Silva apud Alves (2017), para biodigestores de capacidade volumétrica acima de 2.000 m3, a profundidade ideal a ser utilizada é de 4,5 m , com isso a profundidade (H) do Biodigestor A sendo igual a 4,5 m, fez-se os seguintes cálculos para determinar as outras dimensões e escolhendo a relação largura/ comprimento 1:3, fizeram-se os seguintes cálculos: 𝑇𝑎𝑛𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒 40° = (𝐴−𝐵) 2 4,5 Eq. 14 𝐴 = 7,56 + 𝐵 Eq. 14a 𝐿 = 3 × 𝐴 Eq.15 𝐿 = 3 × ( 7,56 + 𝐵 ) = 22,68 + 3𝐵 Eq.15a 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟 𝐴 = ( 𝐴 + 𝐵) 2 × 𝐻 × 𝐿 Eq.16 52 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟 𝐴 = (7,56+𝐵+𝐵) 2 × 4,5 × (22,68 + 3𝐵) Eq. 16a 2.700 = 385,79 + 51,03 𝐵 + 102,06 𝐵 + 13,5𝐵2 Eq. 16b 13,5 𝐵2 + 153,09 𝐵 − 2.314,21 = 0 Eq. 16c 𝐵′ = 8,6 𝑚 Eq. 16d 𝐴 = 7,56 + 8,6 = 16,16 𝑚 Eq. 14b 𝐿 = 22,68 + 3(8,62) = 48,54 𝑚 Eq. 15b A partir dos cálculos foi definido que a largura superior (A) igual a 16 m, a largura inferior (B) igual a 9 metros, o comprimento (L) igual a 48 metros e a profundidade (H) igual a 4,5 m. A partir dos valores foi definido que a fossa teria capacidade máxima da seguinte maneira: 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟 𝐴 = ( 16 + 9) 2 × 4,5 × 48 = 2.700 𝑚3 Eq. 17 O gasômetro utilizado para o recobrimento de biodigestores deve possuir uma espessura de 1,0 mm, e para o cálculo do seu dimensionamento deve ser feito considerando um tamanho 10% superior do que a área ocupada pela fossa (LUCAS JÚNIOR, 2012 apud MACHADO; THEODORO, 2018). Com isso, o dimensionamento da manta superior foi feito da seguinte maneira: 𝑀𝑎𝑛𝑡𝑎 𝑆𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 = 𝐴 × 𝐿 × 1,1 Eq. 18 𝑀𝑎𝑛𝑡𝑎 𝑆𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 = 16 × 48 × 1,1 = 844,8 𝑚2 Eq. 18a A manta que reveste o fundo e as paredes laterais internas do biodigestor deve possuir espessuras de 0,8 mm (LUCAS JÚNIOR, 2012 apud MACHADO; THEODORO, 2018) e foi calculada dessa forma: Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 𝐵 × 𝐿 Eq. 19 Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝐹𝑢𝑛𝑑𝑜 = 9 × 48 = 432 𝑚2 Eq. 19a Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝑃𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝐹𝑎𝑐𝑒𝑠 = [ (𝐴+𝐵)×𝐻 2 ] × 2 𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 Eq. 20 53 Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝑃𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝐹𝑎𝑐𝑒𝑠 = [ (16+9)×4,5 2 ] × 2 𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 112,5𝑚2 Eq. 20a Á𝑟𝑒𝑎 𝐿𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 = 𝐿 × 𝐷 × 2 𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 Eq. 21 Para determinar D, foi feito: cosseno 40° = 4,5 𝐷 = 5,9 Eq. 21 Á𝑟𝑒𝑎 𝐿𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 = 48 × 5,9 × 2 𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 = 566,4 𝑚2 Eq. 22 Á𝑟𝑒𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑀𝑎𝑛𝑡𝑎 𝑖𝑚𝑝𝑒𝑟𝑚𝑒𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜𝑟𝑎 Eq. 23 Á𝑟𝑒𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 432 + 112,5 + 566,4 = 1.110,9 𝑚2 Eq. 23a De acordo com a empresa AVESUY (2013) apud JUNQUEIRA (2013), como o Biodigestor A terá funcionamento contínuo, não há necessidade da utilização de caixas de entrada e saída para o estoque do efluente. Nesse caso, são utilizadas caixas de passagens que contem gradil para a retirada de algum material grosseiro que não deve entrar no biodigestor, o gradil será colocado a cada um metro da caixa de passagem. Já na saída, essa caixa de passagem será usada para a inspeção do material tratado. A partir disso foi proposto duas caixas
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