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Ética, Bioética e Legislação Farmacêutica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Luciana Nogueira Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Ética e Bioética • Introdução; • Ética; • Desenvolvimento da Moral; • Ética Empresarial; • Hierarquia das Normas; • Bioética; • Código de Ética Farmacêutica. • Compreender a importância da Ética e da Legislação para o farmacêutico nas suas relações profi ssionais e com a Sociedade (do ponto de vista regulamentar e de compor- tamento ético esperado) e proporcionar a base de conhecimento indispensável para o exercício da profi ssão. OBJETIVO DE APRENDIZADO Ética e Bioética Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Ética e Bioética Introdução Ética, Moral e Bioética... quem nunca ouviu alguma vez essas palavras? Mesmo que nunca tenha estudado sobre o assunto, certamente já participou de alguma conversa ou ouviu em algum noticiário uma discussão sobre se um compor- tamento foi ético ou não. Nesta Unidade, vamos falar um pouco sobre os conceitos de Ética e Moral, e vamos direcioná-los para o campo da Bioética, finalizando o tema com a Ética apli- cada à profissão ao apresentar os principais pontos do Código de Ética da Profissão Farmacêutica. Não é nosso objetivo tentar transformar você, estudante, em um filósofo dos há- bitos humanos, mas sim, transmitir os conceitos básicos sobre o tema e apresentar o que se espera do comportamento de um profissional Farmacêutico. Organize seu tempo e seja proativo! Bom estudo! Importante! É importante lembrar que as regulamentações de todos os países são dinâmicas, ade- quando-se às populações e épocas; portanto, ao estudar o material, consulte os sites ofi- ciais, como o site da Anvisa, e verifique se a versão da regulamentação citada nos textos está atualizada. Caso a Legislação sofra atualizações antes da Revisão do Material, você deve sempre considerar a norma mais atual sobre o tema. Importante! Ética Em uma entrevista no programa do Jô Soares, o filósofo Mário Sérgio Cortella define Ética como um conjunto de valores e princípios que utilizamos para decidir sobre três grandes questões da vida: o “quero”, o “devo” e o “posso”. Na entrevista, Cortella assim explica esses itens: “Tem coisas que eu quero, mas não devo; tem coisas que eu devo, mas não posso e tem coisas que eu posso, mas não quero” (CORTELLA, PROGRAMA DO JÔ), e conclui que temos paz quando aquilo que você quer, é o que você pode e também o que você deve. Veja essa entrevista em: http://bit.ly/2LoObBi Ex pl or Já entendeu tudo sobre Ética? 8 9 Imagino que não. Vamos pensar, então, em uma segunda situação: pense em seu time de Futebol do coração, jogando uma partida com seu principal rival, e o seu jogador de defesa fazendo um pênalti. Quando todo o time vai contestar a marcação com o juiz, o jogador afirma que foi pênalti sim, e entrega a bola ao adversário. É uma situação que não consegui- mos imaginar acontecendo, pois o que se espera do comportamento do jogador é que ele “negue” a falha e tente evitar o pênalti; afinal, vale tudo para ganhar o jogo, ou seja, não vemos essa “mentirinha” como uma falha ética. São situações como essa que tornam a definição de Ética uma tarefa compli- cada. Geralmente, nosso julgamento é influenciado por interesses pessoais, adi- cionados à busca por resultados e por sucesso, que influenciam a forma como as pessoas agem para alcançar seus anseios, muitas vezes, sem se importar com o meio utilizado. Do grego ethos, Ética significa costume, maneira habitual de agir, índole. Seu conceito é intimamente relacionado à Moral, do latim mos e moris, que significa o comportamento esperado em uma Sociedade, ou seja, as “normas” de com- portamento que uma Sociedade espera, sem necessariamente que sejam Normas Escritas, Leis. Tentando traduzir esses conceitos de forma muito simplória, a Ética seria a Teo- ria ou o princípio, e a Moral seria sua prática (a Ética é a filosofia da Moral). Por exemplo: eu sigo o preceito ético de que comissionar prescritores em troca de indicação de receituário não é ético. Meu comportamen- to moral é aceitar ou não essa prática no meu ambiente de trabalho. A Moral é relativa a uma Ética que, por sua vez, depende da Sociedade, do tempo, das crenças e de outras situações. O estudo da Moral e da Ética tem como ob- jetivo compreender os comportamentos espera- dos em diferentes Sociedades e ambientes cultu- rais, ou seja, estuda os princípios que guiam os costumes e os hábitos e não tem como objetivo mudar o comportamento humano, embora esse conhecimento possa auxiliar a alinhar as atitu- des no que as Sociedades entendem como certo, bom e justo, modificando, assim, o comporta- mento humano, para uma melhor convivência. Figura 1 – Perguntas centrais dos estudiosos da Ética Fonte: Adaptado de Getty Images 9 UNIDADE Ética e Bioética O estudo da Ética inclui, ainda, a definição de regras socialmente desejáveis de conduta, direcionando o indivíduo para ações corretas (ANTUNES, 2012). Importante! Apesar de a Ética poder ser considerada uma Ciência Normativa, pois direciona o homem a uma conduta correta, possibilitando conhecer o que as Sociedades julgam como espe- rado em certo momento, nem todas as condutas éticas se tornam Leis, e nem toda Lei é considerada ética para a Sociedade. Vale ressaltar que a Ética não tem como objetivo direcionar o comportamento, como acontece no Direito, em que as Leis influenciam o comportamento por imposição. Na Ética temos, o estudo de como as regras e os costumes, inclusive as Leis, interferem no comportamento, em determinado período da Sociedade. Importante! E de onde surgem essas regras de conduta? Dos valores e das virtudes humanas (são em sua maioria universais), como o caráter, a integridade e a bondade, o autoconhecimento das consequências das próprias atitudes, as religiões e as Legislações, entre outros, ou seja, podem ter diferentes origens, sem desconsiderar os pequenos grupos, que acabam adotando comportamentos considerados éticos e diferentes do que o restante da Sociedade segue, como os Amish. Leia e saiba quem são os Amish. Disponível em: http://bit.ly/2ZqV12S Ex plor Quando ocorre uma violação nas regras de conduta, ou seja, uma falta de Ética, a Sociedade e os indivíduos sofrem as consequências. Quando alguém sonega impostos, o Governo tem menos recursos para rever- ter para a população; quando um funcionário de hospital dá uma ‘‘fugidinha’’ no horário do plantão, aumentam as filas de atendimento hospitalar e o sofrimento da população envolvida; quando um farmacêutico vende um antibiótico sem receita, pensando no lucro da venda, está colaborando com o desenvolvimento de resistên- cia bacteriana e a formação das chamadas superbactérias; quando alguém não faz um atividade proposta ou “cola” em uma prova, está se lançando no Mercado de Trabalho sem condições, podendo ser um Engenheiro que não saberá inspecionar uma obra ou um Médico que fará um diagnóstico errado. Independentemente de onde ocorra essa “quebra de Ética”, muitos poderão so- frer as consequências. Para evitar esse tipo de situação, a Sociedade organiza regras de convivência, podendo ser regulamentações legais, Códigos de Ética empresariais, Regimentos condominiais ou Códigos de Ética profissionais. 10 11 Independente qual seja a origem da regra, o objetivo é o mesmo: estabelecer normas de conduta. De modo resumido, chamamos de Eticidade o conjunto de regras, condutas e princípios fun- damentados na Moral, seguidos tanto no âmbito pessoal como no profissional do indivíduo, e de Moralidade a forma de agir com o outro.. Ex pl or Desenvolvimento da Moral O indivíduo não tem valores morais ao nascer. Eles vão se desenvolvendo com a convivência em grupo, adaptando-se à Sociedade e acumulando ao longo da vida as experiências e as habilidades que auxiliam na construção do comporta- mento moral. O desenvolvimento da Moral, seja na infância, na maturidade ou em outras si- tuações, como no desenvolvimento da Moral no ambiente empresarial, passa por várias etapas: • Desenvolvimento: nesta fase, o indivíduo desconhece as regras e segue as orientações do líder (mãe, chefe, líder religioso); • Oportunismo: nesta fase, o indivíduo conhece as regras, mas os interesses pessoais prevalecem e, quando a oportunidade aparecer, ele vai arrumar des- culpas para quebrar as regras; • Conformidade com o grupo: aqui, o indivíduo desenvolve uma preocupação com o grupo ao qual pertence e suas decisões passam a ser direcionadas e influenciadas pelos interesses do grupo; • Conformidade com as Instituições: o reconhecimento de que a Moral é uma escolha do indivíduo ou do grupo acontece quando o indivíduo alcança esta fase. Ocorre o reconhecimento da necessidade de agir conforme a Cultura, as Leis etc. Aqui, o indivíduo obedece às regras, mesmo quando não é conveniente; • Autonomia e universalidade: nesta fase, o indivíduo possui moral própria e acredita nos direitos universais e como suas atitudes interferem no todo. Ética Empresarial Uma das abordagens da Ética refere-se às normas morais que ditam o compor- tamento no ambiente empresarial. É uma discussão importante, pois a visão ética de uma Empresa interfere, inclusive, em como ela se posiciona no Mercado, mas, infelizmente, sabemos que a honestidade e a transparência não são os guias de grande parte das Empresas. 11 UNIDADE Ética e Bioética Quando abordamos a Ética Empresarial, ela pode ser discutida em um nível micro, ou seja, com base nas atitudes individuais. Em nível meso, com base nas Or- ganizações, ou em nível macro, avaliando como as ações empresariais influenciam no contexto social e econômico. É muito comum a abordagem da Ética Empresarial ser direcionada na questão do indivíduo. Para isso, muitas Empresas divulgam Manuais ou Estatutos de Ética Empresarial, contendo informações que parecem muito lógica para muitos como: não se deve divulgar dados de clientes ou dados confidenciais, não é permitido o uso de recurso materiais para finalidades pessoais, não é permitido aceitar propinas ou benefícios para realização de serviços etc. Imagine que você trabalha no Setor de Compras de um grande Hospital. Lá, você tem con- tato com diversos fornecedores. No final do ano, é prática comum a distribuição de brindes por essas Empresas. Você considera esse brinde seu ou da Empresa? Qual conduta você imagina que seria etica- mente aceitável dentro da Empresa com relação ao brinde recebido? Outra situação: imagine que uma Farmácia, para continuar tendo a média de receituários, precisa manter parceria com 10% de seus prescritores, na forma de benefícios, como “pagar” um Congresso ou comprar uma impressora para um prescritor ou, muitas vezes, transferindo parte dos lucros para esse profissional. Você considera ética essa relação comercial? Ex pl or Hierarquia das Normas Imagine a seguinte situação: um determinado município, localizado no interior do estado da Bahia, por meio de uma Legislação Municipal, autorizou a venda de diversos produtos considerados alheios ao ramo da Saúde nos Estabelecimentos Farmacêuticos, como pilhas, carnes e outros perecíveis (congelados, legumes e saladas) e produtos de limpeza. Sabe-se que, pela Instrução Normativa IN 09/2009 e pela Lei Federal 13.021/2014, os produtos vendidos na Farmácia que não são medicamentos de- vem possuir registro e ter finalidade terapêutica ou sanitária, visando à terapêutica integral, promoção, proteção e recuperação da saúde. Um fiscal, para fiscalizar esse estabelecimento, deve seguir as Instruções Norma- tivas e a Lei Federal, e pedir para que os produtos que são alheios sejam retirados, ou deve seguir a Lei Municipal que autoriza a venda? Antes de responder a essa pergunta, vamos entender a organização das Normas que regulamentam nosso país. 12 13 A Legislação é uma ferramenta formal para a organização de Comunidades e Setores. Em nossa Constituição Federal (CF) de 1988, estão descritas as Emendas à Constituição, as Leis complementares, as Leis Ordinárias, as Leis Delegadas, as Medidas Provisórias, os Decretos Legislativos e as Resoluções. Veja um resumo das Regulamentações na Figura 2, a seguir. CF: é a Lei Fundamental, base para as demais Leis. Nenhuma Norma pode ser contratidória à Constituição. EC: É a forma existente no país para modi�car a Constituição, sem ter a necessidade de criar uma nova CF. Lei: regra escrita. LC: adiciona, complementa ou explica algo da Constituição. LO: trata de assuntos não determinados na Constituição. MP: com validade de 60 dias, é editada pelo Presidente da República, em caso de relevância e urgência. Decreto: tem como objetivo a regulamentação ou a execução de uma Lei. É emitido pelo Presidente, pelo Governador ou pelo Prefeito. Resoluções e Portarias: atos administrativos que detalham Leis e Decretos. São emitidas por órgões inferiores ao Poder Executivo ou por instâncias colegiadas. Figura 2 – Hierarquia das Normas CF: Constituição Federal; EM: Emenda Constitucional, LC: Lei Comple- mentar, LO: Lei Ordinária e MP: Medida Provisória. Nota Existe a possibilidade de alteração da Constituição, visto que as Sociedades não são estáticas, mas não é tão simples, e as cláusulas chamadas pétreas não podem ser alteradas. As Emendas à Constituição devem ser propostas por pelo menos 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados e Senadores, por mais da metade da Assem- bleia Legislativa ou pelo Presidente da República. A votação da Emenda ocorre em dois turnos e se considera aprovada quando 3/5 dos membros votam a favor. 13 UNIDADE Ética e Bioética Quadro 1 – Exemplos de diferentes Legislações em Saúde Constituição Federal de 1988 – Artigo 196: Definição de Saúde. “Saúde é um direito de todos e dever do estado [...]” Lei Ordinária 8080/90: Conhecida também como Lei Orgânica do SUS, regulamenta os serviços e ações em saúde no país. Lei 9782/99: criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que tinha sido previa- mente definida pela Medida Provisória 1791/98. Decreto 74.170/74: regulamenta a Lei 5991/73, que trata do controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumosfarmacêuticos e correlatos. Portaria 344/98: regulamentos técnicos sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial, foi editada pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, instância de Administração Direta (por isso era uma Portaria). Já a RDC 20/2011, que dispõe sobre os antimicrobianos, é uma resolução, editada pela Anvisa, uma au- tarquia, ou seja, Entidade Pública de Administração Indireta (por isso uma Resolução). Bioética Conceitos de Bioética já são citados desde o Juramento de Hipócrates, no qual a beneficência e a não maleficência podem ver percebidas no trecho: “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém”, sendo que esses preceitos conduziram a conduta médica até metade do século XX (BONAMIGO, 2012). Dois documentos foram importantes para ampliar as discussões sobre Bioética: o Código de Nuremberg, em 1948, e a Declaração de Helsinque, em 1964, com o objetivo de restringir as pesquisas inadequadas em seres humanos que, até a Se- gunda Guerra Mundial, haviam feito diversas vítimas, sendo um dos marcos mais chocantes a declaração feita na Alemanha nazista de que “algumas vidas eram indignas de serem vividas”. 14 15 Van Rensselaer Potter, professor e pesquisador norte-americano e autor da frase “Nem tudo que é cientificamente possível é eticamente aceitável”, propôs, na década de 1970, por suas publicações, um novo pensamento da Ética, afirmando que era necessário pensar nas impli- cações, tanto positivas como negativas, das Ciências sobre a vida. Figura 3 Fonte: Harvard Square Library Ex pl or Com o avanço das Tecnologias em Saúde, foi necessário ampliar as discussões Éticas, levando ao surgimento da Bioética, no início da década de 1970, como a Ci- ência que tem o objetivo de determinar a finalidade e os limites da ação do homem sobre a vida, de forma multidisciplinar, desde pesquisas cientificas até ações gover- namentais, como cortes de orçamento, que podem afetar populações e devem ser avaliados do ponto de vista bioético. História da Ética em pesquisa com seres humanos, artigo de Miguel Kottow. Disponível em: http://bit.ly/2LnEEKHE xp lo r 15 UNIDADE Ética e Bioética Princípios da Bioética Diversos princípios são abordados, dependendo do autor. Vamos estudar aqui alguns adotados na Declaração sobre Bioética de Direitos Humanos, emitida pela UNESCO, em 2005: • Princípio da autonomia e do consentimento: corresponde à vontade pura do indivíduo, consentimento voluntário, livre e esclarecido. Só é permitido agir sem o consentimento do paciente em emergências (quando o paciente está incapaz e na falta do responsável legal) ou quando o paciente se negar a expressar sua vontade. O tema autonomia tem diversas abordagens, desde o respeito à vontade do indivíduo a fazer greve de fome até assuntos mais polê- micos, como a escolha do sexo do filho em reprodução assistida, o que não é permitido no Brasil; • Dignidade humana e diretos humanos: deve ser respeitada a dignidade e os direitos humanos, sendo que o bem-estar e os interesses do indivíduo têm prioridade sobre o interesse da Ciência; • Respeito pela vulnerabilidade e pela integridade: considera-se vulnerabilida- de uma condição adversa, que favorece a exploração e o desrespeito à autono- mia, como pobreza, desemprego, minorias étnicas e raciais, hierarquia, residen- tes em asilos, prisioneiros, desinformados, sem-teto e refugiados, entre outros; • Confidencialidade: deve-se respeitar a confidencialidade e a privacidade do in- divíduo, incluindo suas informações pessoais, imagens, dados de diagnóstico, e sua autonomia e consentimento em manter ou não em sigilo essas informações; • Igualdade, justiça e equidade: todos os seres humanos devem ter seus direi- tos respeitados, de forma justa e equitativa. Diversos outros princípios, como compartilhamento de benefícios, responsabili- dade social e saúde, solidariedade e cooperação, respeito pela diversidade cultural e pluralismo, não discriminação e não estigmatização, proteção de geração futuras, do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade se incluem nessa lista, todos embasados na beneficência e na não maleficência. Consulte a Declaração Universal Sobre Ética e Bioética em: http://bit.ly/2ZvSBQx Ex pl or Ética em pesquisa O modo como vivemos, as Tecnologias que utilizamos e como lidamos com a saúde são resultado de muita pesquisa científica. As pesquisas em saúde trouxeram diversas conquistas para a saúde coletiva, com a descoberta de novos tratamentos, vacinas ou, ainda, avanços em diagnósticos, proporcionando um aumento na qua- lidade e na expectativa de vida da população. 16 17 Mas, nem sempre, as pesquisas trouxeram benefícios à população. No desenvol- vimento tecnológico, casos como o desastre ambiental que ocorreu na Usina Nu- clear de Chernobyl, decorrente de uma pesquisa em um dos reatores, ou do abuso com pesquisas em humanos durante a Segunda Guerra levantaram a questão da Ética nas pesquisas, para evitar resultados negativos ligados ao desenvolvimento das Ciências. Para isso, Comitês de Ética são estabelecidos para regular as pesquisas envolvendo seres humanos e animais, com o objetivo de reduzir possíveis danos à vida e ao meio ambiente. Acidente de Chernobyl: causas, como ocorreu e consequências. Disponível em: http://bit.ly/2Zz3LEn E xp lo r No Brasil, a Plataforma Brasil é utilizada como base nacional unificada para re- gistrar as pesquisas em humanos, que podem ser acompanhadas desde o cadastro dos documentos e as fases de pesquisa até os relatórios e as conclusões, gerando transparência e agilidade. O Sistema é integrado com o Comitê de Ética em Pesquisa que acompanha o Projeto e agiliza a tramitação da documentação e o acompanhamento do Projeto. Conheça o folder explicativo da Plataforma Brasil, em: http://bit.ly/2Zy0i8O Ex pl or Código de Ética Farmacêutica Importante! Não é nosso objetivo transcrever aqui o Código de Ética Farmacêutica, e sim, estruturar um roteiro para que você consiga compreender sua organização e finalidade. Vamos apontar, no texto, os pontos principais, mas é imprescindível que você faça a leitura completa da Resolução, disponível na íntegra nos sites do Conselho Federal de Farmácia ou dos Conselhos Regionais. Importante! A Resolução do Conselho Federal de Farmácia, Res. CFF n° 596, de 21 de feve- reiro de 2014, dispõe sobre o Código de Ética Farmacêutica, o Código do Processo Ético, e estabelece as infrações e as regras de aplicação das sanções disciplinares. Nela, estão descritos os direitos e os deveres dos Farmacêuticos e o não cumprimento das Normas descritas nessa Resolução é considerado infração ético- -profissional, sendo que o farmacêutico poderá responder a um Processo Disciplinar. 17 UNIDADE Ética e Bioética A Resolução foi criada considerando que a conduta do farmacêutico, como pro- fissional, pode impactar a saúde dos indivíduos e da coletividade e, portanto, deve ser exercida com responsabilidade e Ética. Os Códigos de Conduta ou Códigos de Éticas Profissionais estipulam as regras e os princípios para o bom exercício profissional, mas vale lembrar que não isentam o trabalhador de outras regras previstas nos âmbitos civil e penal. Anexo III Infrações e regras de aplicação das sanções disciplinares Capítulo I Do Recebimento da Denúncia Capítulo II Da Instauração ou Arquivamento Capítulo III Da Montagem do Processo Ético-Disciplinar Capítulo IV Da Instalação dos Trabalhos Capítulo V Da Conclusão da Comissão de Ética Capítulo VI Do Julgamento Capítulo VII Dos Recursos e Revisões Capítulo VIII Da Execução Capítulo IX Dos Prazos Título II Dos Procedimentos Título I Das Disposições Gerais Capítulo I Do Processo Anexo II Código do Processo Ético Capítulo I Dos Princípios Fundamentais Capítulo II Dos Direitos Capítulo III Dos Deveres Capítulo IV Das Proibições Capítulo V Da Publicidade e dos Trabalhos Cientí�cosTítulo I Do Exercicio Pro�ssional Título II Das Relações Pro�ssionais Título III Das Relações com os Conselhos Federal e Regionais de Farmácia Título IV Das Infrações e Sanções Disciplinares Título V Das Disposições Gerais Anexo I Código de Ética Farmacêutica Có di go de Ét ica Fa rm ac êu tic a Figura 4 – Organização da Res. CFF n° 596, de 21 de fevereiro de 2014 18 19 O Código de Ética Farmacêutica – Anexo I Do Exercício Profissional O Código de Ética Farmacêutica contém as normas que devem ser seguidas pe- los profissionais inscritos nos Conselhos Regionais de Farmácia, nas diversas Áreas de atuação do farmacêutico, podendo o profissional receber sansões disciplinares pelo CRF, no caso de infrações. O Farmacêutico é um profissional da saúde, cumprindo-lhe executar to- das as atividades inerentes ao âmbito profissional farmacêutico, de modo a contribuir para a salvaguarda da saúde e, ainda, todas as ações de edu- cação dirigidas à coletividade na promoção da saúde (CFF, 2014 p. 40). Logo no início do Código de Ética estão descritos os “Princípios Fundamentais”, ou seja, as normas gerais que regem a conduta do farmacêutico. Nos artigos que descrevem essas Normas Gerais, encontramos os seguintes princípios: • Princípio da eticidade, moralidade, devido processo legal, contraditório e am- pla defesa; • Princípio de respeito à vida, ao meio ambiente e à liberdade de consciência; • Princípio de isonomia e benefício ao ser humano, ambiente e responsabilidade social, ou seja, beneficência e não maledicência; • Princípio da responsabilidade, individual ou solidária; • Princípio da honra e dignidade; • Princípio da valorização profissional; • Princípio da atualização e aprimoramento profissional; • Princípio da promoção, prevenção e recuperação da saúde; • Princípio da autonomia profissional; • Princípio da legalidade e da tipicidade. Importante! O Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa é um princípio jurídico que significa que todo acusado pode ter direito de resposta contra a acusação feita, podendo utilizar as formas jurídicas admitidas em Direito para isso. Importante! Um cidadão é um indivíduo que se identifica culturalmente com certa região ou território, desfruta dos direitos e cumpre os deveres estabelecidos na Legislação local. Quando falamos de grupos profissionais, podemos aplicar essa mesma lógica. Os farmacêuticos pertencem a um grupo que se identifica por interesses comuns e, 19 UNIDADE Ética e Bioética assim como um cidadão, também tem direitos e obrigações (deveres), descritos no Código de Ética Farmacêutica. Os direitos dos Farmacêuticos garantem que ele possa desenvolver adequada- mente sua atividade profissional, e são eles: • Direito de exercer sua profissão sem discriminação; • Direito de interagir com o prescritor para garantir o uso racional de medica- mentos; • Direito de exigir das equipes multidisciplinares o cumprimento da Legislação no que diz respeito à Área farmacêutica (por exemplo, exigir que o receituário esteja legível); • Direito de se recusar a trabalhar em locais sem condições dignas de trabalho ou que represente risco à saúde individual ou coletiva; • Direito de se opor a exercer a profissão sem remuneração (salvo em casos de emergências e calamidades); • Direito de se negar a realizar atos contrários à Ética e à Ciência; • Direito a ser fiscalizado por farmacêutico (no âmbito profissional e sanitário); • Direito de autonomia no exercício da profissão; • Direito de ser valorizado e respeitado, independentemente de sua função; • Direito de acesso às informações técnicas para pleno exercício da profissão; • Direito de decidir pelo aviamento ou não de qualquer prescrição; • Direito de escolher os meios científicos para o exercício da profissão, sem im- pedimento de regras ou estatutos regimentais. Importante! Para saber quais são e assegurar seus direitos, é importante que o farmacêutico se man- tenha atualizado cientificamente e quanto à Legislação vigente. Sempre se recomenda um diálogo positivo em casos contrários, com a busca de acordos, propondo soluções para sanar irregularidades, sempre com embasamento legal e de forma documentada. Se, mesmo assim, os direitos não forem preservados ou forem violados, o farmacêutico pode recorrer à denúncia ou, ainda, requerer legalmente ressarcimento por danos sofridos. Importante! 20 21 Continuando sobre os diretos e deveres, vamos agora abordar os deveres do farmacêutico inscrito no Conselho Regional de Farmácia. O farmacêutico deve respeitar as Normas Éticas nacionais vigentes, exercendo ou não sua atividade profissional, e deve se manter atualizado, para garantir as me- lhores técnicas e suporte ao usuário, além de selecionar, treinar e supervisionar os colaboradores, respeitando a regulamentação vigente no país. O respeito à Legislação inclui comunicar/denunciar às autoridades competentes (Vigilância Sanitária e Conselho Regional de Farmácia, entre outros) condutas éticas ou sanitárias irregulares, inclusive contra o meio ambiente e saúde do trabalhador. Também é dever do farmacêutico supervisionar todo o ciclo do medicamento, desde as compras e recebimento até fornecedores regulares, verificando e manten- do todos os registros de rastreabilidade. Deve, ainda: • Colocar-se à disposição de autoridades, em casos de situações de emergências públicas, como epidemias ou catástrofes (mesmo sem remuneração); • Respeitar o direito do paciente de decidir sobre sua própria saúde (exceto nos casos em que o paciente não possa decidir por si próprio); • Seguir as normas de Ética em pesquisa; • Guardar sigilo profissional, exceto nos casos amparados por Lei (por exemplo, informações sobre a saúde do paciente são confidenciais, exceto nos casos de notificação compulsória, como peste. Mesmo nesses casos, as autoridades sanitárias garantem o sigilo das informações). A Portaria n. 204, de 17 de fevereiro de 2016, apresenta a lista nacional de notificação com- pulsória e os procedimentos relacionados. Disponível em: http://bit.ly/2ZwtxcgEx pl or Prazos importantes determinados no Código de Ética Farmacêutica: • Encerramento do vínculo profissional: comunicar baixa em até 5 dias; • Afastamentos imprevisíveis (doença, acidente, óbito familiar): comunicar até 5 dias úteis após o fato (documentar o afastamento); • Afastamentos previstos (Férias, Congressos, Cursos etc.): comunicar 48 horas antes (comunicado de ausência). 21 UNIDADE Ética e Bioética Quadro 2 – Proibições ao Farmacêutico Descritas no Código de Ética Farmacêutica Proibições ao Farmacêutico Descritas no Código de Ética: · Participar de pesquisas não aprovadas por um Comitê de Ética, ou de pesquisas com armas, raciais ou de “melhoria genética de raças”; · Exercer simultaneamente a Medicina; · Realizar procedimentos não reconhecidos como área de atuação farmacêutica (por exemplo, fazer diagnóstico); · Causar danos por imperícia, negligência ou imprudência1; · Deixar de prestar assistência técnica ao estabelecimento ou permitir a utilização de seu nome sem exercer a atividade, como, por exemplo, não comparecer ao estabelecimento sem justificativa, disponibilizar senhas exclusivas como do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; · Realizar ou participar de Fraudes, como desviar medicamentos do SUS; · Participar de torturas, eutanásia, aborto, toxicomania ou outro procedimento degradante, fornecendo ou orientando como fazer, inclusive em relação aos animais; · Dispensar produtos sem a devida identificação adequada; · Impedir ou dificultar a ação de fiscalizações (profissional ou sanitária); · Aceitar remuneração menor que o piso salarial; · Declarar títulos que não possui (Especialização, Mestrado, Doutorado); · Participar de atividades em que há conflito de interesses, como auditorias ou perícias ou fiscalização sanitária em seu âmbito de trabalho; · Permitir a interferência de terceiros em relatórios, auditorias ou inspeções; · Exercera profissão caso esteja cumprindo alguma punição disciplinar; · Participar de qualquer etapa, da extração à dispensação, de produtos proibidos ou contraindo a Legislação vigente. Por exemplo, dispensar um produto vencido, produzir/vender produtos proscritos (drogas ilícitas), fracionar ou manipular em áreas não aprovadas e com procedimentos incorretos ou utilizar seu conhecimento para praticar atos ilegais; · Trabalhar em locais sem autorização de funcionamento; · Aceitar interferência de leigos em seu trabalho, por exemplo, aceitar imposição de metas de vendas em drogarias; · Delegar atribuições exclusivas, como a verificação de pressão arterial ou dispensação de produtos controlados, inclusive permitindo que eles tenham acesso às senhas pessoais; · Omitir-se ou aceitar que pessoas ou empresas exerçam atividades ilegais; · Assinar trabalho realizado por outra pessoa, como assinar um receituário dispensado por outra pessoa ou sem conferência, ou assinar laudos e documentos em branco; · Abusar da autoridade de um cargo de liderança ou concorrer por um cargo de forma desleal; · Dispensar ou divulgar o uso de medicamento ou substâncias para finalidade diferente da aprovada ou sem evidências cientificas (cuidado com o uso off label); · Conceder vantagens ou fazer acordos para conseguir benefícios comerciais (por exemplo, conceder gratificação ao prescritor pela indicação ou intermediar receitas com outro estabelecimento); · Receber por um serviço que não foi realizado ou atuar visando somente ao lucro; · Utilizar documentos falsos (Atestados, Declarações, Certificados etc.); · Assumir ser Responsável Técnico antes da emissão da Certidão de Regularidade; · Divulgar informações falsas. Nesse caso, considera-se falso, inclusive, o uso de produtos sem a devida comprovação científica; · Utilizar os meios de comunicação para calúnia, difamação ou para incentivar atos ilícitos, inclusive sobre a profissão ou entidades farmacêuticas; · Dar aulas ou trabalhar em áreas cujo conteúdo que não tenha habilitação (por exemplo, realizar procedimentos estéticos sem especialização ou ministrar aulas de homeopatia sem habilitação); · Realizar qualquer atividade (dispensação, manipulação, compra, armazenamento) em desacordo com as Técnicas e Legislação vigentes (Boas Práticas). Fonte: Resolução CFF n° 596 de 21 de fevereiro de 2014 Você também encontrará no texto situações especiais, para os farmacêuticos que atuam no Serviço Público e o que não é permitido na publicidade de traba- lhos científicos. 1 Imperícia: realizar uma atividade que não sabe, como, por exemplo, aplicar um injetável sem ter o devido treina- mento. Negligência: agir com descuido ou indiferença, como, por exemplo, ver um produto vencido e não retirar da prateleira, levando ao uso indevido. Imprudência: realizar determinada ação com pressa ou sem o cuidado devido, como, por exemplo, ultrapassar em local proibido por pressa, causando um acidente. 22 23 Importante! Tenha acesso ao conteúdo completo, com comentários e exemplos de cada caso no Códi- go de Ética Comentado disponibilizado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. Disponível em: http://bit.ly/2LrQ8gp Importante! Das Relações Profissionais Como um membro da Equipe Multidisciplinar de Saúde, o farmacêutico deve manter relações cordiais, éticas e justas., ter uma atitude colaborativa com os cole- gas de trabalho e uma postura que reflita positivamente na categoria. Lembre-se de que o prestígio é decorrente de muito trabalho e dedicação, e não imposição. É necessário que suas atitudes e seu conhecimento transmitam confian- ça aos membros da equipe e aos que se relacionam com seu trabalho. Sempre que precisar argumentar a postura ou a decisão de outro profissional, faça de modo respeitoso, evitando disputas por razão ou melindres, embasando seus argumentos em dados técnico-científicos. Seja solícito e respeitoso também com fiscais. Eles não estão lá para “achar” problemas, e sim para constatar que seu trabalho é bem feito. Eventualmente, problemas podem aparecer, e os fiscais, geralmente, têm uma postura inicial de orientação e esclarecimento, pois trabalham continuamente pela melhoria dos Estabelecimentos de Saúde. Das Relações com os Conselhos Federal e Regionais de Farmácia Observar as normas e as determinações dos Conselhos Federal e Regional de Farmácia, fornecer as informações solicitadas sobre sua atuação profissional, co- municar condutas contrárias à Ética e à legalidade e atender às convocações e soli- citações de esclarecimento nos prazos solicitados são obrigações dos farmacêuticos inscritos, com respeito e cordialidade com todos os funcionários dos Conselhos. O Farmacêutico também deve informar ao Conselho todos os seus vínculos pro- fissionais e manter seus dados cadastrais sempre atualizados. Das Infrações e Sanções Disciplinares As sanções disciplinares estão previstas em Lei (Lei Federal n° 3820/60) e são elas: • Advertência, podendo conter a palavra “censura”; • Multa de 1 a 3 salários mínimos regionais; • Suspensão de 3 meses a 1 ano; • Eliminação. 23 UNIDADE Ética e Bioética Quadro 3 – Disposições Gerais do Código de Ética • As normas do Código de ética são para os farmacêuticos inscritos; • Verificação do cumprimento das normas éticas é responsabilidade dos Con- selhos Federal e Regionais, que podem atuar em parceria com outros órgãos, como a Vigilância Sanitária; • A apuração de infrações éticas é responsabilidade da Regional em que o farma- cêutico estiver inscrito; • O farmacêutico poderá ter seu registro profissional suspenso no período que estiver portador de uma doença incapacitante; • Caso um farmacêutico seja julgado criminalmente, por crime decorrente do exercício profissional, ficará suspenso enquanto durar a pena; • As constatações de ausência prescrevem em 24 meses, contatos a partir da data do termo de visita. Fonte: Adaptado de Resolução CFF n° 596 de 21 de fevereiro de 2014 O video a seguir, disponibilizado pelo Conselho Regional do Estado de São Paulo, aborda o Anexo I do Código de Ética Farmacêutica e é a explicação dos tópicos abordados até agora: https://youtu.be/AVj7hlfzGb0 Ex pl or Código do Processo Ético Do Processo Ético O Processo Ético se inicia quando o Presidente do Conselho Regional em qual o farmacêutico faltoso está inscrito recebe a descrição da infração ética. Esse conhecimento se dá pelos termos de visitas, denúncias ou comunicado de outras autoridades, como a Vigilância Sanitária. As Comissões de Ética são responsáveis por avaliar a necessidade de abrir ou não o Processo Ético-disciplinar, após a análise da infração e do histórico discipli- nar do farmacêutico. Alguns casos podem ser encaminhados, inicialmente, para orientação e esclare- cimento. Essa decisão é submetida ao Presidente da Regional. Quadro 4 – Formação da Comissão de Ética A Comissão de Ética é formada por no mínimo 3 farmacêuticos, nomeados pelo Pre- sidente do Conselho Regional de Farmácia e homologados pelo Plenário, que atuam de forma não remunerada nas Regionais e Seccionais, apurando e relatando os casos de infração. Não podem participar das Comissões os Diretores, os Conselheiros e os funcionários do Conselho Regional de Farmácia. 24 25 1. Recebimento da Denúncia 2. Instauração ou Arquivamento 3. Montagem do Processo Ético-disciplinar 4. Instalação dos Trabalhos 5. Conclusão da Comissão de Ética 6. Julgamento 7. Recursos e Revisões 8. Execução Figura 5 – Cronologia (etapas) da apuração ético-disciplinar Ao final, um Processo Ético pode:- Ser arquivado por não se constatar infração; • Gerar aplicação de penalidades (Advertência, Advertência com emprego da palavra Censura, Multa – de 1 a 3 salários mínimos, Suspensão – de 3 a 12 meses, ou de Eliminação). A redação do Processo Ético deve ser embasada nas regulamentações, com citação dos artigos infringidos; deve ser objetiva, ter foco no problema relatado e ter uma conclusãona qual constará a decisão pela instauração do Processo Ético- -disciplinar ou pelo Arquivamento. Prazos: • O Presidente da Regional tem 20 dias para encaminhar o fato ao Presidente da Comissão de Ética, que irá avaliar a viabilidade de abertura de Processo Ético- -disciplinar (a partir da análise de indícios apresentados na denúncia); • O Presidente da Comissão de Ética tem 30 dias a partir do recebimento para entregar a análise (que pode ser feito por um dos membros ou em conjunto); • O Presidente do Conselho Regional tem 30 dias para analisar o parecer en- viado pela Comissão de Ética, e pode decidir por “Instauração ou Arquiva- mento” do Processo. Quando a decisão do Presidente do Conselho Regional é pela Instauração do Processo Ético-disciplinar, a etapa seguinte é a montagem do Processo Ético- -disciplinar, que recebe um número da Secretaria, que o encaminha de volta à Comissão de Ética. 25 UNIDADE Ética e Bioética Os autos (partes que constituem o processo, como as evidências, petições, certi- dões, atestados, etc.) são anexados ao processo em folhas numeradas, de preferên- cia, em ordem cronológica. Quando a Comissão de Ética recebe de volta o processo, deve realizar os seguin- tes procedimentos: Lavrar (dar andamento/redigir) o termo de instalação dos trabalhos (revisar a tipi�cação e outros itens do processo). Designar o relator do processo (que tem como abribuições no processo: instruir o julgamento, intimar as pessoas, requerer perícias, provas ou outros documentos necessários, emitir relatório e requerer novos depoimentos, se necessário). Designar um colaborador do Conselho como secretário. Determinar dia, local e horário para a sessão de depoimento de indiciado e oitiva de testemunhas. Emitir uma comunicação para o farmacêutico prestrar os esclarecimentos sobre a infração (correspondência com Aviso de Recebimento). Figura 6 – Etapas da Instauração do Processo Ético-disciplinar Oitiva: termo jurídico que significa “ouvir as testemunhas ou as partes de um processo”. Ex pl or Quadro 5 – Itens que devem constar no comunicado ao indiciado O indiciado deve ser informado de que: • Um Processo Ético está sendo aberto; • Que ele tem direito a 3 testemunhas de defesa (apresentar dados das testemu- nhas até 10 dias antes da audiência); • É obrigatória a presença das testemunhas selecionadas, independente de inti- mação, sendo responsabilidade do indiciado a comunicação; • O indiciado ou seu procurador podem ter acesso ao processo dentro do horário de expediente da Regional ou sua Seccional (não é permitida a retirada de do- cumentos; somente cópia). Observação O não comparecimento sem justificativa da testemunha pode levar a novo agenda- mento, sob pena de preclusão (perda do direito de se manifesta no processo). Fonte: Adaptado de Resolução CFF n° 596 de 21 de fevereiro de 2014 26 27 Após a sessão de depoimento, o indiciado tem 15 dias para apresentar as razões finais do Processo. Quando o indiciado não comparece ou não é encontrado nos endereços de cadastro, um Defensor Dativo é nomeado no prazo de 15 dias, pelo Presidente do Conselho Regional de Farmácia, e terá 30 dias para apresentar uma defesa do indiciado por escrito. Ao final, a Comissão de Ética emite um relatório que será encaminhado ao Pre- sidente do Conselho Regional para as providências. O julgamento é realizado no prazo de 180 dias nas reuniões plenárias. Após o término do julgamento, o indiciado tem 30 dias para apresentar os recursos. A execução das penalidades é de competência do Conselho Regional de Farmácia. O Processo Ético mais comum nos conselhos é o de “não prestação de assistência”, ou seja, o farmacêutico não está no estabelecimento no horário que ele declara para o Conselho que presta assistência. Um processo ético por ausência é aberto quando o fiscal não encontra o farmacêutico no estabelecimento durante três inspeções, no período de 24 meses. Ex pl or Infrações e Regras de Aplicação das Sanções Disciplinares As infrações podem ser classificadas como leve, medianas ou graves. É possível verificar, no Anexo III do Código de Ética, as listas de infrações e suas classificações. A reincidência das infrações pode alterar a penalidade, conforme o Quadro seguir: Quadro 6 – Regras de aplicação das Sanções Disciplinares Graduação 1ª Falta 2ª Falta 3ª Falta Reincidências subsequentes LEVE Advertência Advertência com emprego da palavra “censura”. Multa de 1 a 3 salários mínimos regionais Multa em dobro MEDIANA Multa de 1 a 3 salários mínimos regionais Multa em dobroou suspensão GRAVE Suspensão de 3 meses Suspensão de 6 meses Suspensão de12 meses ELIMINAÇÃO Fonte: CRF-SP, 2016, p. 32 Nota: Considera-se reincidência quando se comente novamente a infração ética durante o prazo de 5 anos após o julgamento anterior. 27 UNIDADE Ética e Bioética Tabela 1 – Exemplos de infrações* Infrações Leves Infrações Medianas Infrações Graves · Exercer a profissão em locais sem condições adequadas. · Não comunicar afastamentos temporários ao Conselho. · Aceitar interferência de leigos. · Deixar de informar ao Conselho seus vínculos profissionais. · Não atualizar seus dados pessoais. · Abusar do cargo de chefia. · Não respeitar a regras de Ética em pesquisa. · Passar senhas de pessoais para terceiros. · Plágio de material publicado por outros. · Exercer simultaneamente a medicina. · Dispensar produtos sem a identificação clara e completa. · Atuar sem cumprir a legislação vigente. · Impedir ou dificultar fiscalização sanitária ou profissional. · Aceitar remuneração abaixo do piso salarial. · Delegar atribuições exclusivas do farmacêutico. · Deixar de prestar assistência técnica ou deixar usar seu nome sem exercer a função. · Não comunicar o encerramento do vínculo profissional. · Declarar possuir títulos que não possui. · Assinar trabalhos realizados por outra pessoa. · Incentivar o uso indevido de medicamentos. · Divulgar informações sigilosas que teve contato na atividade profissional. · Participar de pesquisas não aprovadas pelo Comitê de Ética em pesquisa. · Dispensar produtos abortivos, para eutanásia ou outros produtos tóxicos. · Assinar documentos em branco. · Fazer declarações que depreciem a profissão. Fonte: Adaptado de Resolução CFF n° 596 de 21 de fevereiro de 2014 * Para lista completa, consulte o Anexo III do Código de Ética Farmacêutica. Casos não citados são resolvidas em Plenário. O Plenário é a instância máxima de decisões do Conselho Regional, e é formado pela Dire- toria e pelos Conselheiros Regionais, com direito de voto. Porém, as sessões plenárias são geralmente abertas e outros profissionais interessados podem participar para acompanha- mento, sem direito à voto. Nas plenárias, diversas decisões são tomadas; entre elas, qual será a penalidade aplicada em infrações éticas. Ex pl or 28 29 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Ética do Cotidiano | Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho O documentário Ética no cotidiano, do Programa Café Filosófico, traz o tema de forma bem-humorada, em uma abordagem atual e contextualizada, que vale a pena assistir. É uma produção da TV Cultura em parceria com o instituto CPFL. https://youtu.be/9_YnlPXKlLU Ética e medicalização: diferentes perspectivas em Bioética, hoje, no Brasil Apresenta uma entrevista com a professora Marta Verdi, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina, abordando diversas perspectivas em Bioética. http://bit.ly/2lY2Uu1 http://bit.ly/2kry38t Seminário de Ética Seminário de Ética, realizado pelo Conselho Regional de Farmácia do estado de São Paulo, sobre cuidado ao paciente: autonomia, direito, responsabilidade e Ética. https://youtu.be/FhK9i8yRNVQ https://youtu.be/9iwqHskKKLE Filmes Tempos modernos Este filme mostra a forma como o trabalhador era tratado no início da utilização da Linha de ProduçãoIndustrial. É uma interessante reflexão sobre a mudança na forma de relacionamento Empresa-funcionário. http://bit.ly/2Zwqocr Leitura Bioética A Universidade aberta do SUS oferece apostila sobre o tema Bioética, como parte da Especialização na Saúde da Família. Atenção, o Material vem no formato zip. Abra o arquivo, selecione a pasta PDF e abra o conteúdo. http://bit.ly/2lBop3e 29 UNIDADE Ética e Bioética Referências ANTUNES, M. T. Ética. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. BONAMIGO, E. L. Manual de Bioética: Teoria e Prática. 2.ed. São Paulo: All Print, 2012. BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Instrução Normativa IN n°9 de 17 de agosto de 2009: Dispõe sobre a relação de produtos permitidos para dispensação e comercialização em farmácias e drogarias. Acesso em: <http://www.cff.org.br/userfiles/file/noticias/in9_170809.pdf>. Acesso em set. 2019. ________, CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução n° 596 de 21 de fevereiro de 2014: Dispõe sobre o Código de Ética Farmacêutica, o Código de Processo Ético e estabelece as infrações e as regras de aplicação das sanções disciplinares. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/ Resolucao-cff-596-2014.htm>. Acesso em set. 2019. ________, ________. Código de Ética Farmacêutica. São Paulo, 2018. Disponível em: <http://www.crfsp.org.br/component/phocadownload/category/13-etica. html?download=226:codigo-de-etica-farmaceutica-3-edicao>. Acesso em set. 2019. ________, ________. Código de Ética Farmacêutica versão comentada. São Paulo, 2016. Disponível em: <http://portal.crfsp.org.br/images/arquivos/ codigodedticacomentado_digital.pdf>. Acesso em set. 2019. ________. Lei n° 3.820 de 11 de novembro de 1960: Cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3820.htm>. Acesso em set. 2019. ________. Lei n° 13.021 de 08 de agosto de 2014: Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13021.htm>. Acesso em set. 2019. ________, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n° 204 de 17 de fevereiro de 2016: Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016. html>. Acesso em set. 2019. CÓDIGO DE NUREMBERG, disponível em: <http://www.fiocruz.br/ biosseguranca/Bis/manuais/qualidade/Nurembg.pdf>. Acesso em set. 2019. DECLARAÇÃO DE HELSINQUE, disponível em: <https://www. w ma.ne t /w p - conten t /up load s/2016/11/491535001395167888 _ DoHBrazilianPortugueseVersionRev.pdf>. Acesso em set. 2019. 30 31 GLOBO PLAY. Programa do Jô: Professor Mário Sérgio Cortella lança Livro. Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/844221/>. Acesso em: Set. 2019. NOVAES, A. (org.). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. SROUR, R. H. Ética empresarial. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. UNESCO. Declaração Universal Sobre Bioética e Direitos Humanos. Paris, França, 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ declaracao_univ_bioetica_dir_hum.pdf>. Acesso em set. 2019. 31
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