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CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA LUDICIDADE E RECREAÇÃO PROF. ROMILSON MARIANO Fortaleza -Ce 2019 Sumário 1. Teoria do desenvolvimento segundo Freud ............................................ 4 2. A epistemologia genética de Jean Piaget ............................................... 5 3. Conceitos globais para entender o brincar a ludicidade e recrear ........... 5 4. Conceitos e definições ............................................................................ 7 5. Jogos e brincadeiras quais a diferenças ................................................. 7 6. Exemplos de jogos ................................................................................. 8 7. Exemplos de brincadeiras....................................................................... 8 8. Conceitos históricos sobre os jogos ........................................................ 8 9. O movimento na educação infantil – Jean Piaget ................................... 9 10. O movimento na educação infantil – L. S, Vygotsky ............................. 10 11. O movimento na educação infantil – Wallon ......................................... 11 12. O movimento na educação infantil – Kishimoto .................................... 11 13. O movimento na educação infantil – Oliveira ........................................ 12 14. O movimento na educação infantil – Antunes ....................................... 13 15. O movimento na educação – Huzinga .................................................. 14 16. O movimento na educação -FriedMann ................................................ 15 17. Referencial curricular nacional da educação infantil RCNEI ................. 15 18. Diretrizes curriculares nacional da educação infantil -DCNEI ............... 17 19. Os jogos no desenvolvimento e na formação da criança ...................... 18 20. Jogos e brincadeiras com intencionalidade- Resistência dos de alguns professores à utilização de jogos e brincadeiras em salas de aula. ......................... 19 21. O uso indiscriminado dos jogos e brincadeiras em sala de aula ........... 19 22. Estratégias para uso de jogos e brincadeiras tradicionais .................... 20 23. Estratégia para utiliza os jogos e brincadeiras de construção ............... 20 24. Jogos e brincadeiras tecnológicas ........................................................ 21 25. Jogos e brincadeiras corporais ............................................................. 21 26. Jogos de regras .................................................................................... 22 27. Jogos cooperativos ............................................................................... 22 28. Desenvolvimento da criança ................................................................. 23 29. Educar pelo movimento ........................................................................ 27 30. Jogos e brincadeiras na promoção da aprendizagem. .......................... 30 31. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil ( BNCC) 31 32. Referencias consultadas e/ou recomendadas ...................................... 33 4 1. Teoria do desenvolvimento segundo Freud Sigmund Freud nasceu em 1856, em Freiberg (atual Tchecoslováquia) e morreu em 1939. Viveu grande parte de sua vida na Áustria, em uma época marcada por conflitos constantes na transição do feudalismo ao capitalismo; por rupturas de concepções filosóficas e ideológicas e pelo florescimento das universidades, das pesquisas científicas e das artes. Nesse cenário, formado em medicina e atuando na área da neurologia, Freud desenvolveu a psicanálise a partir de seus trabalhos clínicos, com pacientes histéricas, realizados em colaboração com os renomados médicos Joseph Breuer e Jean Martin Charcot. Rompendo com o racionalismo preponderante na ciência da época e com a ideia do homem capaz de controlar a si e ao mundo, Freud construiu os conceitos que vieram a embasar a primeira tópica ou esquema proposto por ele para a estrutura do psiquismo: consciente, pré-consciente e inconsciente. Ao postular que a maior parte da nossa atividade psíquica é de natureza inconsciente, Freud nos fez enxergar que não conhecemos nossos desejos, motivos, atitudes, sentimentos, pensamentos tão bem como acreditávamos. Assim, colocou em dúvida a tão festejada preponderância da razão no desenvolvimento humano. Com isto, Freud resgata para o campo do fenômeno psicológico a importância dos aspectos afetivos. Para Figueiredo (2004), nenhum sistema teórico expressou melhor e mais profundamente a falência do sujeito da modernidade com suas pretensões de auto- centramento, autonomia, transparência da consciência e força de vontade. A sexualidade rompe com a genialidade e o biológico, está no campo da fantasia e dos desejos. O id compreende as representações psíquicas dos impulsos ou pulsões (FREUD, 2002). Estes são uma força impulsora de um movimento constante, que coloca o sujeito para agir. Trata-se de uma força intrapsíquica voltada para a busca de satisfação que pode ser de dois tipos: sexual/erótico ou agressivo/destrutivo. A energia da pulsão sexual, presente no ser humano desde o nascimento é a libido. Desse modo, o id, representante do inconsciente, funciona como o grande 5 reservatório da libido, não sendo socializado e não respeitando qualquer convenção. Busca satisfação incondicional do organismo. O ego consiste naquelas funções psíquicas ligadas às relações do indivíduo com seu meio, objetivando alcançar o máximo de gratificação ou descarga para o id. É a parte visível de cada um de nós, que sofre as pressões do meio e equilibra a relação do sujeito com os outros. O superego é o depositário das normas, regras e princípios morais dos grupos sociais. Funciona como controlador das pulsões do id e das intenções do ego, colocando-o em uma posição menos onipotente frente à realidade na qual o sujeito está inserido. Emerge do próprio “eu” e visa proteger o indivíduo das repressões inconscientes, ligadas às fantasias e desejos que não são aceitáveis pela consciência. 2. A epistemologia genética de Jean Piaget Jean Piaget, biólogo e epistemólogo suíço, nasceu em 1896 e morreu em 1980. O objetivo central de sua obra foi investigar como o ser humano constrói o conhecimento, isto é, como o sujeito passa de um estado de menos conhecimento para um estado de maior conhecimento. Por isso, sua teoria é denominada epistemologia genética, quer dizer, estudo da gênese do conhecimento. Por conseguinte, preocupou-se em explicar como, ao longo da vida, o homem vai construindo suas estruturas de pensamento, partindo de níveis de pequena complexidade, típicos de um bebê, para níveis tão complexos como a capacidade de pensar abstratamente, inclusive, produzindo grandes avanços científicos. 3. Conceitos globais para entender o brincar a ludicidade e recrear Da idade Média aos tempos atuais, a significação de corpo sofreu muitas transformações, de negligenciado em função do espírito nos tempos de Aristóteles e Descartes, a um objeto e fragmento do espaço residual, separado do sujeito conhecedor. Foi através do “primado científico” que o estudo do corpo adquiriu importância e, a partir do século XIX, a necessidade de compreensão das estruturas cerebrais fez com que a neurologia e a psiquiatria adquirissem a liderança das pesquisas (FRANCO, 1997). 6 Deve-se a Dupré (1909) a criação do termo “psicomotricidade”, quando introduziu os primeiros estudos sobre debilidade motora. Henri Wallon, ao publicar em 1925 sua obra L'enfant Turbulent, traduzido literalmente como criança turbulenta e em 1934, Les Origines du Caratér Chez L'enfant (As origens do caráter na criança) iniciou uma das pesquisas mais relevantes no campo do desenvolvimentoda criança. Sua obra impulsionou as primeiras tentativas de estudo das funções psicomotoras, estudo no qual se sobressai Guilmain (s.d apud Fonseca, 1996), que publicou uma obra clássica de grande impacto: Fonctions Psychomotrices et Troubles du Comportement (Funções Psicomotoras e Transtornos do Comportamento). O papel da função tônica – sobre a qual repousam as atitudes, os alicerces da vida mental – e da emoção – como meio de ação sobre e pelo outro – nos progressos da atividade de relação, de acordo com Wallon, são encarados como processos básicos da intervenção psicomotora (FRANCO, 1997). A obra de Wallon influenciou, durante décadas, a investigação sobre o desenvolvimento psicomotor das crianças, e essa influência alastrou-se a vários campos de formação, seja psiquiátrica, seja psicológica e pedagógica. Para Wallon (1925) o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo. O alcance dessa dimensão do movimento e do corpo da criança permite a esse autor apresentar uma concepção original da evolução mental. Wallon disse, em 1929, que o desenvolvimento psicológico da criança é o resultado da oposição e substituição de atividades que precedem umas às outras. Wallon advoga a ação recíproca entre funções mentais e funções motoras, tentando argumentar que a vida mental não resulta de relações unívocas ou de determinismos mecanicistas. Para Wallon, a vida mental está sujeita ao determinismo dialético de ambas as funções. Wallon, por meio do conceito de esquema corporal, introduz dados neurológicos nas suas concepções psicológicas, motivo que o distingue de outro grande vulto da psicologia, Piaget, que muito influencia, também, a teoria e a prática da Psicomotricidade (FRANCO, 1997). 7 4. Conceitos e definições O objetivo da Psicomotricidade em linhas gerais é estudar o homem através de seu corpo, na relação com o mundo interno e externo. É a relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção. O termo psicomotricidade se divide em duas partes: a motriz e o psiquismo, que constituem o processo de desenvolvimento integral da pessoa. A palavra motriz se refere ao movimento, enquanto o psico, determina a atividade psíquica em duas fases: a sócio-afetiva e cognitiva. Em outras palavras, o que se quer dizer é que na ação da criança se articula toda sua afetividade, todos seus desejos, mas também todas suas possibilidades de comunicação e conceituação (ZEVALLOS, 2010). A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade define a Psicomotricidade como a ciência que tem por objeto de estudo o homem por meio de seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo. 5. Jogos e brincadeiras quais a diferenças A primeira diferença se não a mais tocante é que o jogo precisa ter um ter um vencedor. É a principal e fundamental diferença. Se uma atividade recreativa permite alcançar vitórias, ou seja, pode haver um vencedor. O jogo busca um vencedor. Todo jogo apresenta uma evolução regular; ele tem começo, meio e fim. O jogo sempre terá regras. Não existe jogo sem pelo menos uma regra que seja. Sempre tem seu final previsto, quer seja por pontos, por tempo. O jogo sempre terá um ponto alto a ser atingido, como por exemplo: marcar o ponto ou cumprir uma tarefa. Se pretendermos fazer uma modificação em um jogo, devemos interrompê-lo, inserir a modificação como nova regra e depois reiniciá-lo. Podemos prever algumas consequências de jogo. Exemplo: Cabo de guerra, estafetas, caça ao tesouro, passa ou repassa. Já as brincadeiras não hão como se vencer uma brincadeira. Ela simplesmente acontece e segue se desenvolvendo enquanto houver motivação e interesse por ela. As brincadeiras sem sempre apresentam evolução regular. Nem sempre há maneiras formais de proceder a seu desenvolvimento. As brincadeiras são mais livres, podem ter regras, mas podem também não ter. As brincadeiras sem regras são individuais. 8 O grupo, só por existir, já sugere regras. A brincadeira não tem final. Predeterminado, ela prossegue enquanto tiver motivação e interesse por parte dos participantes. * Também pode terminar por fatores externos: Termino do tempo livre, chuva, etc... A Brincadeira tem pontos altos durante todo o tempo, mas ela pode ser adaptada. As brincadeiras podem sofrer modificações durante se desenrolar, de acordo com os interesses do momento e com a vontade dos participantes. São desvinculadas de padrões, tem como consequências imprevisíveis. Exemplos: Telefone sem fio, família silva, batata quente Lenço atrás. 6. Exemplos de jogos Amarelinha, Caça ao tesouro , Cabo de guerra, Jogo da memória Flash Cards Pega-pega, Dança das cadeiras, Palitinho, Boliche, Dados, Dominó de cores. Obs. Em alguns casos um jogo também é considerado brincadeira e vice-versa. Cada jogo pode ser modificado e adaptado, isso é importante, pois a criança pode participar destas adaptações como sujeito do processo. 7. Exemplos de brincadeiras Faz de conta (á partir de 2 anos), Festa da cores (á partir de 3 anos),Pinguim Maluco, Seguir sombras, Andar sobre a linha, Agacha-agacha, Corre cotia ,Estátua, Arca de Noé, Argolas coloridas, Boneco de botões, Caracol no chão, parecido com amarelinha. Corre cotia 8. Conceitos históricos sobre os jogos Quando os portugueses chegaram no Brasil, encontraram os índios brincando com uma trouxinha de folhas cheia de pequenas pedras, amarrada a uma espiga de milho, que chamavam de Peteca, que em tupi significa "bater". A brincadeira foi passando de geração em geração e, no século 20, o jogo de peteca tornou-se um esporte, com regras e torneios oficiais. Por todos os séculos XVI, XVII, XVIII, os negros africanos entraram no Brasil para substituir o trabalho indígena, as crianças africanas aqui chegadas no século XVI encontraram no Brasil as condições necessárias para reproduzirem seus jogos e brincadeiras (apud MOURA, 2011). 9 As diferenças entre jogos, brinquedos e brincadeiras: Jogos é jogo de futebol, jogo olímpico, jogo de dama e jogo do azar; Brinquedos: Objeto destinado a divertir uma criança; Brincadeira: ação de brincar, divertimento, festinha entre amigos. Quanto aos jogos, brincadeiras e brinquedos na visão de Benjamin, Didonet, Froebel (apud, BERTOLDO, RUSCHEL, 2011). Os jogos e brincadeiras presentes na cultura portuguesa, indígena e africana acabaram por fundirem-se na cultura lúdica brasileira. O brinquedo é um mudo diálogo da criança com seu povo, não se pode escrever a história dos povos sem uma história do jogo (apud MOURA 2011). 9. O movimento na educação infantil – Jean Piaget Para Piaget (1978) as origens das manifestações lúdicas acompanham o desenvolvimento da inteligência vinculando-se aos estágios do desenvolvimento cognitivo. Cada etapa do desenvolvimento está relacionada a um tipo de atividade lúdica que se sucede da mesma maneira para todos os indivíduos. Piaget identifica três grandes tipos de estruturas mentais que surgem sucessivamente na evolução do brincar infantil: o exercício, o símbolo e a regra. a) jogos de exercício, b) jogos simbólicos e c) jogos de regras. a) O jogo de exercício Representa a forma inicial do jogo na criança e caracteriza o período sensório- motor do desenvolvimento cognitivo. Manifesta-se na faixa etária de zero a dois anos e acompanha o ser humano durante toda a sua existência — da infância à idade adulta. O jogo de regras A característica principal do jogo de exercício é a repetição de movimentos e ações que exercitam as funções tais como andar, correr, saltar e outras pelo simples prazer funcional. O jogo simbólico Tem início com o aparecimento da função simbólica, no final do segundo ano de vida, quando a criança entra na etapa pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. 10 Um dos marcos da funçãosimbólica é a habilidade de estabelecer a diferença entre alguma coisa usada como símbolo e o que ela representa seu significado. 10. O movimento na educação infantil – L. S, Vygotsky A partir de suas investigações sobre o desenvolvimento dos processos superiores do ser humano, Vygotski apresenta estudos sobre o papel psicológico do jogo para o desenvolvimento da criança. O autor enfatiza a importância de se investigar as necessidades, motivações e tendências que as crianças manifestam e como se satisfazem nos jogos, a fim de compreendermos os avanços nos diferentes estágios de seu desenvolvimento. Caracterizando o brincar da criança como imaginação em ação, Vygotsky elege a situação imaginária como um dos elementos fundamentais das brincadeiras e jogos. Segundo Vygotsky, o brinquedo que comporta uma situação imaginária também comporta uma regra relacionada com o que está sendo representado. Assim, quando a criança brinca de médico, busca agir de modo muito próximo daquele que ela observou nos médicos do contexto real. A criança cria e se submete às regras do jogo ao representar diferentes papéis. Para Vygotski, a brincadeira se configura como uma situação privilegiada de aprendizagem infantil, à medida que fornece uma estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência. Outro aspecto evidenciado pelo estudioso é o papel essencial da imitação na brincadeira, na medida em que, inicialmente, a criança faz aquilo que ela viu o outro fazer, mesmo sem ter clareza do significado da ação. À proporção que deixa de repetir por imitação, passa a realizar a atividade conscientemente, criando novas possibilidades e combinações. Dessa forma, a imitação não é considerada uma atividade mecânica ou de simples cópia de modelo, uma vez que ao realizá-la, a criança está construindo, em nível individual, o que nos observaram outros. É, portanto, na situação de brincar que as crianças se colocam questões e desafios além de seu comportamento diário, levantando hipóteses, na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pela realidade na qual interagem. Assim, ao brincarem, constroem a consciência da realidade e, ao mesmo tempo, vivenciam a possibilidade de transformá-la.Fazendo referência à característica de 11 prazer, presente nas brincadeiras, Vygotsky afirma que nem sempre há satisfação nos jogos, e que quando estes têm resultado desfavorável, ocorre desprazer e frustração. 11. O movimento na educação infantil – Wallon Para Wallon, o fator mais importante para a formação da personalidade não é o meio físico, mas sim o social. O autor chama a atenção para o aspecto emocional, afetivo e sensível do ser humano e elege a afetividade, intimamente fundida com a motricidade, como desencadeadora da ação e do desenvolvimento da ação e do desenvolvimento psicológico da criança. Para o autor, a personalidade humana é um processo de construção progressiva, onde se realiza a integração de duas funções principais: A afetividade, vinculada à sensibilidade interna e orientada pelo social; A inteligência, vinculada às sensibilidades externas, orientada para o mundo físico, para a construção do objeto. Wallon enfoca a motricidade no desenvolvimento da criança, ressaltando o papel que as aquisições motoras desempenham progressivamente para o desenvolvimento individual. Segundo ele, é pelo corpo e pela sua projeção motora que a criança estabelece a primeira comunicação (diálogo tônico) com o meio, apoio fundamental do desenvolvimento da linguagem. É a incessante ligação da motricidade com as emoções, que prepara a gênese das representações que, simultaneamente, precede a construção da ação, na medida em que significa um investimento, em relação ao mundo exterior. Na concepção de Wallon, infantil é sinônimo de lúdico. Toda atividade da criança é lúdica, no sentido que se exerce por si mesma antes de poder integrar-se em um projeto de ação mais extensivo que a subordine e transforme em meio. Deste modo, ao postular a natureza livre do jogo, Wallon o define como uma atividade voluntária da criança. Se imposta, deixa de ser jogo; é trabalho ou ensino. 12. O movimento na educação infantil – Kishimoto Para Kishimoto (2002) o brinquedo é diferente do jogo. Brinquedo é uma ligação intima com a criança, na ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. Ainda segundo o dicionário Ferreira (2003) brinquedo é “objeto destinado a divertir uma criança, suporte da brincadeira”, sendo assim ele estimula a representação e a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. 12 “Brincar é diferente de aprender”, uma vez que aprendizado demanda da mediação e intencionalidade do professor. Vygotsky (1998) relata sobre o papel do brinquedo, sendo um suporte da brincadeira e ainda o brinquedo tendo uma grande influência no desenvolvimento da criança, pois o brinquedo promove uma situação de transição entre a ação da criança com objeto concreto e suas ações com significados, assim veremos ao longo do artigo. Ainda segundo Kishimoto (2002, p. 21) relata que “O vocábulo brinquedo não pode ser reduzido a pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem dimensão material, cultural e técnica.” O objeto brinquedo é um suporte da brincadeira, é a ação que a criança desempenha ao brincar. Assim podemos concluir que brinquedo e brincadeira esta relacionada diretamente com a criança/sujeito e não se confundem com o jogo em si. A existência de um vínculo entre a criança, o brinquedo e o brincar parte da ideia de que a criança sempre brincou na história da humanidade. Nossa vida é, desde a infância, permeada por atuações. Não nos comportamos da mesma maneira no trabalho como em nossa casa, por exemplo, pois assumimos papéis sociais diferentes ao mesmo tempo em nossas vidas. Ao nos tornarmos adultos somos resultado do que passamos também nos tempos de infância, portanto podemos afirmar que “o brinquedo e a brincadeira relacionam-se diretamente com a criança” (KISHIMOTO, 1997, p.21). 13. O movimento na educação infantil – Oliveira Do ponto de vista de Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, mas sim desenvolver-se integralmente. Caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Todavia, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade. 13 Para Oliveira (1990), as atividades lúdicas são a essência da infância. Por isso, ao abordar este tema não podemos deixar de nos referir também à criança. Ao retornar a história e a evolução do homem na sociedade, vamos perceber que a criança nem sempre foi considerada como é hoje. Antigamente, ela não tinha existência social, era considerada miniatura do adulto, ou quase adulto, ou adulto em miniatura. Seu valor era relativo, nas classes altas era educada para o futuro e nas classes baixas o valor da criança iniciava quando ela podia ser útil ao trabalho, colaborando na geração da renda familiar. Os jogos e brinquedos, embora sendo um elemento sempre presente na humanidade desde seu início, também não tinham a conotação que têm hoje, eram vistos como fúteis e tinham como objetivo a distração e o recreio. Nos tempos atuais, as propostas de educação infantil dividem-se entre as que reproduzem a escola elementar com ênfase na alfabetização e números (escolarização) e as que introduzem a brincadeira valorizando a socialização e a recriação de experiências. No Brasil, grande parte dos sistemas pré-escolares tende para o ensino de letras e números excluindoelementos folclóricos da cultura brasileira como conteúdo de seu projeto pedagógico. As raras propostas de socialização que surgem desde a implantação dos primeiros jardins de infância acabam incorporando ideologias hegemônicas presentes no contexto histórico-cultural. (OLIVEIRA, 2000) 14. O movimento na educação infantil – Antunes O jogo pelo ponto de vista educacional, segundo Antunes (2003) significa divertimento, brincadeira, passatempo, pois em nossa cultura o termo jogo é confundido com competição. Ainda o autor relata que os jogos infantis pode até incluir uma ou outra competição, mas visando sempre a estimular o crescimento e aprendizagem com relação interpessoal, entre duas ou mais pessoas realizada através de determinadas regras, ainda que jogo seja uma brincadeira que envolve regras. Conforme Antunes (2005, p.33) “as implicações da necessidade lúdica extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo”. Dessa forma, o lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. 14 Além disso, Antunes (2005, p.34) retrata que a concepção da cultura lúdica é uma noção historicamente construída ao longo do tempo e, consequentemente, foi mudando conforme as sociedades, não se mantendo da mesma forma dentro das sociedades e épocas Portanto, o lúdico se expressa desde os primitivos nas atividades de dança, caça, pesca, lutas. Segundo Antunes (2005, p.56) na Grécia antiga, Platão afirmava que os primeiros anos de vida da criança deveriam ser ocupados por jogos. Com o cristianismo, os jogos vão sendo deixados de lado, considerados profanos, sem significação. Percebe-se então que a concepção de jogos e brincadeiras nesse período, partiu de uma valorização na Grécia Antiga para algo insignificante com o cristianismo. Isso nos remete a afirmar as palavras de Antunes (2005, p.57) que “a cultura lúdica é historicamente construída’.” Além disso, Antunes (2005, p.58) expõe que “foi a partir do século XVI, o humanistas começam a valorizar novamente o jogo educativo, percebendo a importância do processo lúdico na formação da criança”. Outros teóricos, ainda no século XVI também ressaltaram a importância do lúdico na educação das crianças. ”Ensina-lhes por meio de jogos”, proclamava Rabelais (apud ANTUNES, 2005, p.22). Jean Piaget (apud ANTUNES, 2005, p.25) “retrata que os jogos não são apenas uma forma de entretenimento para gastar a energia das crianças, mas meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual.” Segundo Antunes (2005, p. 11) “A palavra jogo provém de jocu, substantivo masculino de origem latina que significa gracejo. Em seu sentido etimológico, portanto, expressa um divertimento, uma brincadeira, um passatempo, sujeito a regras que devem ser observadas quando se joga. Significa também balanço, oscilação, astúcia, ardil, manobra. Não parece ser difícil concluir que todo jogo verdadeiro é uma metáfora da vida“. “Assim, brincar significa extrair da vida nenhuma outra finalidade que não seja ela mesma. Em síntese, o jogo é o melhor caminho de iniciação ao prazer estético, à descoberta da individualidade e à meditação individual”. (ANTUNES, 2005, p. 36) 15. O movimento na educação – Huzinga Johan Huizinga, em 1872 a 1945 foi professor e historiador da Holanda, conhecido por seus trabalhos sobre a baixa idade média, a reforma e o renascimento. 15 Definia o jogo como uma brincadeira voluntária desenvolvida denta de determinados limites de tempo e espaço, com regras aceitas, mas ao mesmo tempo ser tornava obrigatória, dotada de sentimento, dando ao entende conscientemente diferente do dia a dia. De acordo com Huizinga os jogos fazem parte de todas as fases do individuo não tendo um determinado tempo, seja criança ou adulto ambas tem alguns ponto iguais no funcionamento dos jogos como, por exemplo: espaço definidos para os jogadores é como se fosse um campo de batalha, onde os competidores agem de acordo com as regras. 16. O movimento na educação -FriedMann Adriana Friedmannn é doutorada em antropologia pela PUC/SP, mestre em metodologia do ensino pela Unicamp e pedagoga pela USP. Autora de vários livros relacionados com o universo da criança e do brincar. Para Friedmann: Quando se afirma que este tem a ver com as tradições popular não se pode cair na ideia de que este seja “sobrevivência intocada”, que somente foi criativo e dinâmico no lugar e no grupo onde originou: em qualquer cultura, tudo é movimento. O ser humano faz, refaz, inova, recupera, retomo o antigo e a tradição inova novamente, incorporando o velho no novo e transforma um como poder do outro. (1996. P. 40). A autora fala sobre os jogos tradicional popular que não são intocáveis mais que podem ir sendo modificados pelo homem, através da sua criatividade buscando inovar os jogos sem perder a sua essência, incorporando o velho no novo. Esse processo de modificação se tem através das transformações dos indivíduo que está relacionado com o ambiente em que se vive. 17. Referencial curricular nacional da educação infantil RCNEI Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural 16 O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano. As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal1 . Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade. Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado. É grande o volume de jogos e brincadeiras encontradas nas diversas culturas que envolvem complexas sequências motoras para serem reproduzidas, propiciando conquistas no plano da coordenação e precisão do movimento. Ampliar as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação. Os conteúdos deverão priorizar o desenvolvimento das capacidades expressivas e instrumentais do movimento, possibilitando a apropriação corporal pelas crianças de forma que possam agir com cada vez mais intencionalidade. Devem ser organizados num processo contínuo e integrado que envolve múltiplas experiências corporais, possíveis de serem realizadas pela criança sozinha ou em situações de interação. Os diferentes espaços e materiais, os diversos repertórios de cultura corporal expressos em brincadeiras, jogos, danças, atividades esportivas e outras práticas sociais são algumas das condições necessárias para que esse processo ocorra. 17 Os jogos e brincadeiras que envolvem as modulações de voz, as melodias e a percepçãorítmica — tão características das canções de ninar, associadas ao ato de embalar, e aos brincos6 , brincadeiras ritmadas que combinam gestos e música — podem fazer parte de sequências de atividades. As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio das crianças. Os jogos motores de regras trazem também a oportunidade de aprendizagens sociais, pois ao jogar, as crianças aprendem a competir, a colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras. 18. Diretrizes curriculares nacional da educação infantil -DCNEI Princípios básicos – éticos, políticos, estéticos Criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (art.4º). Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que: I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos; IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais; V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de 18 referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade; VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras; XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos. 19. Os jogos no desenvolvimento e na formação da criança Friedmann (1996, p. 56), afirma que é necessário dar atenção especial ao jogo, pois as crianças têm o prazer de Jogos de Exercício Sensório motor - Caracterizam a etapa que vai do nascimento até o aparecimento da linguagem, apesar de reaparecerem durante toda a infância O jogo surge primeiro, sob a forma de exercícios simples cuja finalidade é o próprio prazer do funcionamento. Esses exercícios caracterizam-se pela repetição de gestos e de movimentos simples e têm valor exploratório. Dentro desta categoria podemos destacar os seguintes jogos: sonoro, visual, tátil, olfativo, gustativo, motor e de manipulação. (1995, p. 56) Jogo Simbólico - Entre os dois e os seis anos a tendência lúdica predominante se manifesta sob a forma de jogo simbólico. Nesta categoria o jogo pode ser de ficção ou de imitação, tanta no que diz respeito à transformação de objetos quanto ao desempenho de papéis. A função do jogo simbólico consiste em assimilar a realidade. É através do faz-de-conta que a criança realiza sonhos e fantasias, revela conflitos interiores, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações. O jogo simbólico é também um meio de auto-expressão: ao reproduzir os diferentes papéis (de pai, mãe, professor, aluno etc.), a criança imita situações da vida real. Nele, aquele que brinca dá novos significados aos objetos, às pessoas, às ações, aos fatos etc., inspirando- se em semelhanças mais ou menos fiéis às representadas. Dentro dessa categoria destacam-se os jogos de faz-de-conta, de papéis e de representação (estas denominações variam de um autor para outro). 19 Jogos de Regras - Começam a se manifestar entre os quatro e sete anos e se desenvolvem entre os sete e os doze anos. Aos sete anos a criança deixa o jogo egocêntrico, substituindo-o por uma atividade mais socializada onde as regras têm uma aplicação efetiva e na qual as relações de cooperação entre os jogadores são fundamentais. No adulto, o jogo de regras subsiste e se desenvolve durante toda a vida por ser a atividade lúdica do ser socializado. Há dois casos de regras: - regras transmitidas - nos jogos que se tomam institucionais, diferentes realidades sociais, se impõem por pressão de sucessivas gerações (jogo de bolinha de gude, por exemplo); - regras espontâneas - vêm da socialização dos jogos de exercício simples ou dos jogos simbólicos. São jogos de regras de natureza contratual e momentânea. Os jogos de regras são combinações sensorimotoras (corridas, jogos de bola) ou intelectuais (cartas, xadrez) com competição dos indivíduos e regulamentados por um código transmitido de geração a geração, ou por acordos momentâneos. (1995, p. 56) 20. Jogos e brincadeiras com intencionalidade- Resistência dos de alguns professores à utilização de jogos e brincadeiras em salas de aula. Falta de conhecimento de causa. Falta de recursos e espaços adequados. Falta de interesse por mudanças. Falta de competência técnica para o exercício da profissão neste quesito. Falta de resultados pedagógicos satisfatórios por falta de intencionalidade. Falta saber identificar as possíveis intencionalidades de cada tipo de jogo e/ou brincadeira. Falta de amor pela profissão e pelos educandos. Falta de orientação e coordenação pedagógica adequada. Falta conhecer seus alunos para além do óbvio. 21. O uso indiscriminado dos jogos e brincadeiras em sala de aula “brincar é diferente de aprender” Para que um jogo tenha sentido e resultado pedagógico, ele precisa ter intencionalidade, através de uma metodologia clara. Cada jogo tem um aspecto diferente e traz consigo um conceito pedagógico ou mais. Cabe ao professor, antes de utilizar determinado jogo ou brincadeira fazer um levantamento dos possíveis conceitos pedagógicos contidos naquele jogo, e assim, depois de identificar quais disciplinas o jogo pode abranger, criar um sistema de avaliação para seus alunos, com antes, durante e depois. 20 Exemplo: Jogo da Memória. Aprendizagens: Matemática, linguagem, raciocínio lógico, sociabilidade, etc. Andar sobre a linha. Aprendizagens: Equilíbrio, coordenação, respeito as regras, linguagem, sociabilidade, concentração, agilidade, benefícios fisiológicos etc. Tango morena. Aprendizagens: Observação, memorização, orientação espaço temporal, Ritmo, trabalho em grupo, respeito as diferenças etc. Um jogo ou uma brincadeira não podem ser apenas um instrumento para passar o tempo. Se não for mediado e com intencionalidade, não tem função pedagógica. 22. Estratégias para uso de jogos e brincadeiras tradicionais Jogos Tradicionais ou populares são jogos ou brincadeiras dedomínio público, caracterizados pela transmissão oral registrada por diferentes gerações. Esses jogos vão sendo reconstruídos e recriados pelas crianças, ao longo do tempo, apresentando variações de regras. Podem ser jogos de tabuleiro, como dominó, damas, ludo, ou brincadeiras como amarelinha, bola de gude, cabra-cega, cinco marias e tantas outras. Os jogos populares fazem parte da cultura popular, do folclore de um povo. Os jogos tradicionais recebem forte influência do folclore, nesse sentido, os contos lendas e histórias dos portugueses se fizeram presentes em brinquedos e brincadeiras brasileiras (apud BERTOLDO E RUSCHEL, 2011). Concluímos que os jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais são hoje ainda jogados por crianças, mesmo sendo antigo de varias gerações ainda é lembrados e jogados por elas, onde passa de avós para pais, e por fim aos seus filhos. Os jogos e as brincadeiras infantis populares propiciam o desenvolvimento da imaginação, o espírito de colaboração, a socialização e ajudam a criança a compreender melhor o mundo. 23. Estratégia para utiliza os jogos e brincadeiras de construção Jogos de construção acontecem quando as crianças usam, transformam objetos e materiais variados (blocos ou sucatas, por exemplo) e criam novos produtos (parque de diversões, fazenda, engenhocas...) Nestes jogos as crianças começam a entrar em contato com o mundo social e a desenvolver níveis mais complexos de inteligência através do desenvolvimento de suas capacidades de antecipar situações, 21 movimentos e elaborar propostas e possibilidades que podem ou não se concretizar. Estes jogos também possibilitam maiores oportunidades de cooperação entre as crianças. Para estes jogos devemos considerar a faixa etária aproximada da criança e observar se ela consegue, a seu modo, participar da brincadeira. É necessário que haja uma relação saudável entre o erro e o acerto, sem que a criança se sinta desestimulada a brincar. Não devemos esperar que ela brinque por horas a fio com estes materiais. Ela determina seu tempo. Fique atento para auxiliá-la com a solução de problemas, mas não tenha expectativas pautadas no modelo adulto. 24. Jogos e brincadeiras tecnológicas São jogos de computadores. Aplicativos de celular. Vídeo games. Em alguns casos com carinhos movidos a controle remoto. Fliperamas. Muitos destes jogos são gratuitos e hoje existem milhares deles na internet. Se bem utilizado e com mediação, é uma excelente ferramenta. 25. Jogos e brincadeiras corporais Os jogos corporais são todos aqueles que trabalham o equilíbrio, a coordenação motora e os movimentos. Exemplos: Dança, Bambolê, Andar sobre a linha etc. Para Stokoe e Harf “a expressão corporal é uma conduta espontânea pré- existente, tanto no sentido ontogenético como filogenético” (1987, p. 15), de modo que esta é entendida como sendo uma linguagem, onde através da mesma os seres humanos se expressam a partir de seu corpo, logo esta faz parte das linguagens expressivas, juntamente com a fala, o desenho e a escrita. (STOKOE; HARF. 1987). A importância que damos à expressão esta baseada na seguinte ideia: quanto mais meios de expressão o ser humano puder desenvolver, tanto maior será sua riqueza existencial. O indivíduo que só pode expressar sua vida através de uma única via (seja esta escrever, pintar, falar etc.), não realiza todas as suas potencialidades. Não queremos dizer com isso que o corpo seja o meio mais importante de expressão, mas sim que é uma via a mais, que tem a vantagem de ser o único instrumento de expressão utilizado pelo homem desde que nasce. (STOKOE; HARF. 1987, p. 20). 22 Para Brasil (1998), o movimento faz parte da vida da criança logo após sua chegada ao mundo, aonde ela vai se desenvolvendo. Vai adquirindo a capacidade de controlar o seu corpo, assim possibilitando uma interação com o meio em que se encontra. Logo, enquanto esta criança se movimenta, ela expõe seus sentimentos e emoções, de modo que esta interação vai com o tempo expandindo as suas possibilidades de gestos e posturas corporais. 26. Jogos de regras São aquelas brincadeiras que combinam aspectos motores-exploratórios (movimento corporal e sensações) e/ou aspectos intelectuais, com competição dos jogadores e regras pré-estabelecidas. Os jogos de regras começam a ser explorados pelas crianças, geralmente, entre os 4 e 7 anos. Pega-pega, futebol, jogo do lenço-atrás são alguns exemplos. O xadrez, dama, dominó e jogos de percurso são exemplos da outra forma de combinação. Esses jogos também auxiliam no desenvolvimento das regras sociais. Quando as crianças são submetidas às regras do jogo, elas vivenciam tais regras transpondo-as para outras situações e brincadeiras. É importante que as regras sejam apresentadas aos participantes antes do início do jogo de forma clara. Elas devem ser mantidas, tornando-se um desafio aos jogadores. Observar se todos entenderam as regras, se sugerem variações deste mesmo jogo com novas regras e se desejam batizar este novo jogo com nomes escolhidos pelo grupo. 27. Jogos cooperativos O individualismo e a riqueza material tornaram-se mais importantes para o homem pós-moderno que valores como a união, a cooperação, a paz, a responsabilidade e a organização. A cultura da sociedade ocidental é baseada no consumo e orientada para a produtividade, portanto dentro deste contexto, muitas vezes o único caminho que vemos é o da competição. Se acreditarmos que a competição é o único e natural caminho, caímos numa grande armadilha, afinal aquilo em que acreditamos é aquilo o que construiremos. Com relação ao desempenho acadêmico, uma série de estudos demonstra que crianças de várias classes socioeconômicas têm maior sucesso em áreas como 23 matemática, desenvolvimento vocacional e leitura quando estão trabalhando junto com seus colegas sob uma estrutura de objetivos cooperativos em vez de individualistas ou competitivos. A competição muito presente promove a comparação entre as pessoas e acaba por favorecer a exclusão baseada em critérios não discutidos, mas apropriados por todos. Um ambiente competitivo aumenta a tensão e a frustração e pode desencadear comportamentos agressivos. 28. Desenvolvimento da criança O ser humano necessita do contato com outras pessoas, pois é através da interação social que se desenvolve a linguagem, reconhecem-se as habilidades e ampliam-se os conhecimentos. Para a criança, o contato físico, social e a comunicação são fundamentais no seu desenvolvimento e uma das maneiras mais eficazes dela estabelecer estes contatos é pelo brincar (FANTIN, 2000). Ao entrar na escola a criança traz consigo uma gama de atitudes e aprendizados que vão sendo aprimorados mediante a interação com colegas e professores. O brincar é uma de suas prioridades e as crianças encontram as mais diversas razões para essa atividade, sendo uma delas, o prazer proporcionado enquanto brincam, podendo exprimir sua agressividade, dominar sua angústia, aumentar suas experiências e estabelecer contatos sociais (FRIEDMANN, 1996; MALUF, 2003). Entretanto, como dizem Cordazzo e Vieira (2008) o brincar não visa somente a busca do prazer, ele está ligado também aos aspectos do desenvolvimento físico e da atividade simbólica. O aspecto físico abrange as habilidades motoras e sensoriais que a criança necessita desenvolver para sobreviver e adaptar-se. Uma das características da criança nos primeiros anos do ensino fundamental é a necessidade que ela tem de testar as suas habilidades, principalmente as motoras. Elas tornam-se mais fortes, ágeis e passam a ter um maior controle sobre seus corpos. As crianças têm prazer em testar os seus corpos e em aprender novas habilidades (Bomtempo, 1997). 24 Humphreys e Smith (1984 apud Cordazzo e Vieira, 2008) afirmam que 10% das brincadeiras dos escolares consistemem brincar impetuoso, ou seja, em atividades vigorosas que envolvem lutas, golpes e perseguições. A atividade física no brincar exige da criança um relativo consumo de tempo e de energia. Apesar disso, os benefícios que estas atividades trazem superam os gastos, transformando-se assim em um investimento (Bjorklund & Pellegrini, 2000; Pellegrini & Smith, 1998 apud Cordazzo e Vieira, 2008). Estes benefícios nem sempre se apresentam de forma imediata, mas em longo prazo, se manifestando no decorrer do desenvolvimento do indivíduo (McHale, Crouter, & Tucker, 1999 apud Cordazzo e Vieira, 2008), como por exemplo, o brincar de carrinho, que pode treinar a criança na habilidade para dirigir um carro quando for adulto. Ainda de acordo com Pellegrini e Smith (1998 apud Cordazzo e Vieira, 2008), crianças que são privadas de brincar com atividades físicas podem apresentar problemas de saúde, como as aptidões físicas e cardiovasculares comprometidas. Estes mesmos autores hipotetizam que as atividades físicas no brincar trazem para a criança a oportunidade de treinar força e resistência, e ainda oferecem condições para a redução de peso e a termorregulação. O desenvolvimento das habilidades linguísticas, cognitivas e sociais pode ser observado pelo brincar simbólico. Logo que a criança começa a falar aparecem as brincadeiras simbólicas. Para Vygotsky (1991), através do simbolismo as crianças podem satisfazer desejos impossíveis para a realidade, tal como ser mãe, pai, bombeiro, etc. Desta forma, pelo faz-de-conta, as crianças testam e experimentam os diferentes papéis existentes na sociedade e, com isso, desenvolvem suas habilidades. Com o avançar da idade o faz-de-conta declina e começam a aparecer brincadeiras que imitam cada vez mais o real e os jogos de regras. (CORDAZZO; VIEIRA, 2008). Quando a criança ingressa no ensino fundamental, geralmente a preocupação dos familiares e professores concentra-se nos estudos e as motivações para o brincar, apresentadas pelas crianças desta idade, são desprezadas (Green, 1986 apud Bomtempo, 1997). O brincar é de fundamental importância para a criança, mesmo que ela se encontre em idade escolar (FRIEDMANN, 1996). Entretanto, constata-se que muitas vezes pode estar ocorrendo uma negação de sua relevância como um meio 25 para a construção social do sujeito e seu desenvolvimento, passando a ser mais valorizado o estudo e a aquisição de conhecimentos escolares em si. O Ministério da Educação através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), provê que a educação brasileira, nos níveis fundamental e médio, deve proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento das suas potencialidades como elemento de auto realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania (BRASIL, 1997, p. 13). O brincar é um recurso que pode auxiliar os profissionais da educação e da saúde a desenvolverem as potencialidades e habilidades das crianças. Desta forma, a utilização do brincar nas escolas é de suma relevância, uma vez que o objetivo das escolas, como visto nos PCNs, não é apenas a transmissão de conteúdos escolares, mas também a formação e o desenvolvimento de um cidadão de forma integral. Além do brincar proporcionar-lhe prazer e as mais diversas interações e tomando novamente por base as orientações dos PCNs, observamos que novas vertentes surgiram em oposição à ala mais tecnicista, esportivista e biologicista da Educação Física, entre elas a abordagem psicomotora. Nela o envolvimento da Educação Física é com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, buscando garantir a formação integral do aluno (BRASIL, 1997). Desse modo, a prática da Educação Física sob a influência da Psicomotricidade lança o profissional da disciplina a possuir responsabilidades pedagógicas, valorizar o processo de aprendizagem e não apenas o ato motor (BRASIL, 1997). Vários autores justificam a Educação Psicomotora como parte integrante da Educação Física, embora se oponha à Educação e Reeducação Física tradicional. Entretanto, nos PCNs para Educação Física, a área dessa disciplina deve contemplar nos dias atuais, múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. 26 Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física Escolar (BRASIL, 1997). É perceptível que a noção de desenvolvimento está atrelada a um contínuo de evolução, nem sempre linear e que se dá em diversos campos da existência, tais como afetivo, cognitivo, social e motor. Para Rabelo e Passos (2008) este caminhar contínuo não é determinado apenas por processos de maturação biológicos ou genéticos. O meio (e por meio entenda-se algo muito amplo, que envolve cultura, sociedade, práticas e interações) é fator de máxima importância no desenvolvimento humano. Todos nós, seres humanos nascemos mergulhados em cultura, e é claro que esta será uma das principais influências no desenvolvimento. Pela interação social, aprendemos e nos desenvolvemos, criamos novas formas de agir no mundo, ampliando nossas ferramentas de atuação neste contexto cultural complexo que nos recebeu, durante todo o ciclo vital (RABELLO; PASSOS, 2008). Para Piaget, dentro da reflexão construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem, tais conceitos se inter-relacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. A perspectiva piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza o desenvolvimento das funções biológicas – que é o desenvolvimento - como base para os avanços na aprendizagem. Já na chamada perspectiva sociointeracionista, sociocultural ou sócio histórica, abordada por Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo. Infelizmente não podemos desviar nosso caminho, embora muito se tenha a discutir sobre as teorias da aprendizagem, mas fica a dica: vale a pena aprofundar os estudos dentro das concepções de Piaget e Vigotsky. Eles nos possibilitam entender 27 todo o desenvolvimento da criança, as fases, as etapas, enfim, como acontece todo o processo de desenvolvimento que leva a aprendizagem. 29. Educar pelo movimento A Escola é sem dúvida a instituição social mais importante no que se refere à implementação de mudanças de comportamento dos indivíduos. Se essa Educação Escolar se dá de maneira diferenciada, ou seja, buscando revelar as contradições do sistema social sobre o qual o sistema escolar está implantado, provavelmente, surgirão daí sujeitos dotados de consciência crítica, além de emancipados culturalmente e intelectualmente. Porém para que ocorra esse tipo de Educação, é necessário primeiramente, que os educadores tenham como objetivo um ensino crítico superador ou transformador e de qualidade (Resende, 1994 apud Galvão, 2004), ou seja, esses objetivos devem girar em torno do desenvolvimento de um homem comprometido com a história, crítico do contexto que o cerca, que reflete e age sobre essa realidade a partir dos elementos que ela mesma fornece (Ferreira, 1984 apud Galvão, 1995). Quando falamos em educação pelo movimento podemos nos reportar a uma infinidade de situações e objetivos. Ela pode ser vistapela ótica da transformação do ser humano como um ser em unidade, numa atividade de interação consciente com o ambiente, portanto, a partir da referência social de personalidade, podemos inferir que essa Educação Física lida com a formação da personalidade do indivíduo. Podemos entender também que ela proporciona através do movimento, conhecimento em várias outras áreas como matemática, educação artística, conhecimentos do meio natural, social e cultural. Segundo Gonçalves (1994 apud Galvão, 1995), a Educação Física como práxis educativa - que leva em consideração o desenvolvimento pessoal e a questão social - possui como objetivo a formação da personalidade do aluno, através da atividade física, lidando com o corpo e o movimento integrado na totalidade do ser humano, essa (a Educação Física) atuaria nas camadas mais profundas da personalidade, onde se formam os interesses, as inclinações, as aspirações e pensamentos. Outros aspectos importantes destacados dessa relação (Educação Física Transformadora - personalidade), seriam as oportunidades de autoconhecimento, 28 auto avaliação, autoestima, interação social e desempenho de papéis que a Educação Física proporciona e que tem importância ímpar no desenvolvimento da personalidade. Para Thomas (1983 apud Galvão, 1995), o conhecimento dos problemas que envolve a motivação é importante, principalmente, para o professor de Educação Física Escolar já que ele, diferente do técnico desportivo, não lida com alunos altamente motivados para a performance, e sim com alunos obrigados a participar das aulas. O professor não pode usar da premissa de que todos os seus alunos encontrem prazer e estejam interessados nas atividades oferecidas através de seu modo de transmissão didático-metodológico. A Educação Física Transformadora, que tem por objetivo a conscientização, deve estar relacionada com a motivação intrínseca, ou seja, os motivos que levam o indivíduo a realizar as atividades devem ser liberados de dentro para fora. Não existe uma prática consciente imposta por motivos extrínsecos. A conscientização surge da necessidade pessoal, interna de interferência da realidade (GALVÃO, 1995). Na opinião de Galvão (1005) não existe uma única abordagem, uma concepção ideal, que dê conta das necessidades da Educação Física, deve existir sim, a intenção, o objetivo de avançar nos caminhos para a valorização do ser humano. A Educação Física enquanto transformadora não pode ser encarada como um discurso ideológico, ela é possível, desde que o educador tenha consciência do seu papel na sociedade e reconheça que também está se transformando, se educando na medida em que educa. Os discursos não bastam na Educação Física, o pensamento crítico deve fazer parte da prática do professor em suas aulas. Quando falamos aqui em educação física transformadora, estamos nos reportando, mesmo que indiretamente à educação pelo movimento, não uma simples aula de educação física, obrigatória, mas sem objetivos reais e qualitativos. Segundo Hildebrandt-Stramann (2001) a reflexão científica natural do movimento define movimento como o deslocamento de um corpo físico no espaço e no tempo. Movimento é visto no aspecto externo de sua execução visível e passível de descrição analítica. O aspecto interno do movimento não é considerado, justamente porque esse aspecto não poder ser pesquisado de forma empírico- 29 analítica, mas existem modelos que analisam o movimento de maneira morfológica e biomecânica. Do ponto de vista de Meinel e Schnabel (1984 apud Hildebrandt-Stramann(, 2001), a análise morfológica tem um status pré-científico por causa da falta de objetividade das pesquisas sobre movimento. Na perspectiva biomecânica resolve-se o problema da falta de objetividade. Dentro dessa mesma perspectiva fazem-se esforços para conseguir pesquisar movimentos esportivos de forma empírico- analítica, assim como para adquirir sua descrição objetiva. Assim os cientistas seguem pesquisando, com a ajuda das teorias mecânicas da física e dos conhecimentos sobre o sistema biológico do homem, as particularidades do movimento e questões relacionadas com a sua otimização, conforme as predeterminações do sistema esportivo. Essa visão contém algumas implicações normativas: A primeira implicação é que essa visão de movimento tem um pré- conhecimento do que é o movimento correto, encontrado nos movimentos dos esportistas de alto nível. A segunda implicação normativa é a seguinte: a ajuda para cada pessoa no processo de aprendizagem motora prende-se ao objetivo de capacitá- las a chegar bem perto daqueles modelos de movimento legitimados biomecanicamente (HILDEBRANDT-STRAMANN, 2001). Nessa segunda implicação o movimento é reduzido à sua perspectiva científico natural apreensível. A individualidade de cada um como pessoa não existe. O homem aparece na perspectiva biomecânica como corpo físico, com articulações ideais. Ele aparece como sistema biológico, cujas condições e funções são determinadas através de regras fisiológicas (Trebels, 1992, p. 339, Kunz, 1991 apud Hildebrandt-Stramann, 2001). Também o mundo de movimento se reduz ao mundo do espaço e dos aparelhos que são objetivados fisicamente. Dentro desse paradigma, o sentido de movimento, conforme o significado configurado pelos homens, não é discutido. Queremos com essa teoria toda, levar um questionamento aos professores de educação física: que relevância pedagógica tem essa maneira de observação para a promoção da vida de movimento das crianças? Teoricamente pouca relevância, mas sabemos que esse paradigma tem consequências concretas para a configuração do 30 ensino do movimento. Quem entende o movimento como um comportamento predeterminado e imposto, tem de construir situações como estímulos, que trazem seus alunos do estado de repouso para o movimento. Nessa posição, monólogos são preferidos por causa de seu possível controle. Um diálogo não é necessário, pois o professor baseado no seu conhecimento biomecânico dá aos seus alunos o movimento ideal como um objetivo. Baseado na comparação da situação atual do movimento com a situação em que deveria estar, o professor dá informações verbais definidas ou oferece uma programação de aprendizagem a seus alunos. A aprendizagem do movimento não é mais uma coisa do aluno, mas, sim, uma coisa do professor. O aluno está alheio ao seu movimento e, consequentemente, ao seu corpo. Ele é um objeto no qual deve ser implantada uma forma estranha de movimento. Enfim, por esta perspectiva, a educação pelo movimento é uma grande responsabilidade dada ao professor, principalmente se entendermos que movimento é um meio de conhecimento. 30. Jogos e brincadeiras na promoção da aprendizagem. “É somente no brincar que a criança ou o adulto criam e deixam fluir sua capacidade de criação.” (BUENO, 1988 p. 95) É por meio das brincadeiras que a criança deixa transpassar suas capacidades para o mundo exterior; amplia seus sentidos, seu campo de atuação e expressão, organizando, junto à afetividade, os gestos. Ao entrar em harmonia tônica com o outro, a criança descobre o prazer e sua autonomia e autoafirmação são reforçadas. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil, 1998, v.3 p. 58) destaca a importância das brincadeiras lúdicas na Educação Infantil ressaltando que “as crianças podem incorporar em suas brincadeiras conhecimentos que foram construídos.” Orienta a realizar atividades em grupo na qual a criança deve desempenhar um papel ou tarefa buscando um objetivo comum que é de desenvolver a cooperação e o sentimento de pertencer ao grupo. Por meio das ações do fazer, pensar e brincar que o ser humano desenvolve suas estruturas psíquicas, levando assim, a criança a atividades físicas e mentais fundamentais promovendo o pensar, o criar, o conhecer novas situações, adquirir 31novas habilidades. Portanto, os jogos e brincadeiras bem orientados e elaborados ajudam a desenvolver os conteúdos trabalhados além de abordar conteúdos mais amplos como por exemplo, a socialização. O fato de morar em grandes centros urbanos, em apartamentos e áreas de recreação insuficientes limitam as experiências motoras das crianças, sendo que a manipulação dos objetos, brinquedos e brincadeiras são de grande significado para o desenvolvimento da criança. Para Le Boulch (1987, p.301), “o jogo, atividade própria à criança, que toma diferentes formas de acordo com a idade, está centrado no prazer proporcionado por sua prática, ao mesmo tempo em que se constitui no motor essencial ao seu desenvolvimento.” Ao se referir a jogos com regras, Le Boulch (1987) acredita que é preciso entender a sobrepujar o espírito competitivo, cultivando o espírito de cooperação uma vez que os jogos com regras tendem a provocar situações de liderança e de rivalidade no grupo é interessante que também estes jogos possam assumir no plano da socialização. Os jogos cooperativos promovem a ética de cooperação, unem a pessoas, faz superar desafios sem a preocupação do fracasso melhorando a qualidade de vida. 31. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil ( BNCC) A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural 32 Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Ainda, é preciso acompanhar tanto essas práticas quanto as aprendizagens das crianças, realizando a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo – suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens. Por meio de diversos registros, feitos em diferentes momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), é possível evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” 33 ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os direitos de aprendizagem de todas as crianças. 32. Referencias consultadas e/ou recomendadas ANTUNES, Celso. O jogo infantil: falar e dizer, olhar e ver, escutar e ouvir. Petropolis, RJ: Vozes 2003 fascículo 15. BERTOLDO, Janice Vidal e RUSCHEL, Maria Andrea de Moura, Jogos, Brinquedo e Brincadeira – Uma Revisão Conceitual (2011). ELKONNIN, D. Psicologia do Jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Gil. A.C. Como elaborar projeto de pesquisa 3 ed SP Atlas 1996. BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Trad. Ernani F. da Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil.Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2. CARVALHO, A. M. C. et al. (Org.). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. CRAIDY, Carmem Maria, KAERCHER, Gladis E. (Org.). Educação infantil: pra que te quero?. Porto Alegre: Artmed, 2001. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio Escolar Século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003. KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2002. OLIVEIRA, Marta Kohl de. 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