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Direito Administrativo Para Concursos Bens Públicos SUMÁRIO Sumário ........................................................................................................................................................................................ 1 1 - BREVES APONTAMENTOS INICIAIS................................................................................................................................... 3 2 - CONCEITO ............................................................................................................................................................................... 4 3 - CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS .............................................................................................................................. 9 3.1 - QUANTO À TITULARIDADE........................................................................................................................................ 9 3.2 - QUANTO À DESTINAÇÃO ..........................................................................................................................................11 3.3 - QUANTO À NATUREZA PATRIMONIAL ..................................................................................................................13 3.4 - QUANTO À NATUREZA FÍSICA .................................................................................................................................14 4 - REGIME JURÍDICO DOS BENS PÚBLICOS (CARACTERÍSTICAS)................................................................................17 4.1 - INALIENABILIDADE (ALIENABILIDADE CONDICIONADA) ...............................................................................17 4.2 - IMPENHORABILIDADE ..............................................................................................................................................18 4.3 - IMPRESCRITIBILIDADE (IMPOSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO) ........................................................................22 4.4 - NÃO ONERABILIDADE ...............................................................................................................................................23 5 - AFETAÇÃO X DESAFETAÇÃO ...........................................................................................................................................31 6 - ALIENAÇÃO ...........................................................................................................................................................................34 7 - AQUISIÇÃO ............................................................................................................................................................................38 8 - FORMAS DE USO ..................................................................................................................................................................40 9 - INSTITUTOS DE DIREITO PÚBLICO QUE POSSIBILITAM AO PODER PÚBLICO CONFERIR O USO PRIVATIVO DE BENS PÚBLICOS .....................................................................................................................................................................................41 9.1 - A AUTORIZAÇÃO DE USO ..........................................................................................................................................41 9.2 - PERMISSÃO DE USO ...................................................................................................................................................43 9.3 - CONCESSÃO DE USO ...................................................................................................................................................46 9.4 - CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO.................................................................................................................48 9.5 - CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA .................................................................................50 9.6 - AUTORIZAÇÃO DE USO NA MP Nº 2.220/2001 .............................................................................................55 9.7 - CESSÃO DE USO ...........................................................................................................................................................57 10 - INSTITUTOS DE DIREITO PRIVADO QUE POSSIBILITAM AO PODER PÚBLICO CONFERIR O USO PRIVATIVO DE BENS PÚBLICOS ..........................................................................................................................................................................63 10.1 - ENFITEUSE ................................................................................................................................................................63 10.2 - DIREITO DE SUPERFÍCIE .......................................................................................................................................64 10.3 - LOCAÇÃO ...................................................................................................................................................................64 10.4 - COMODATO ..............................................................................................................................................................64 11 - PRINCIPAIS BENS PÚBLICOS EM ESPÉCIE .................................................................................................................65 11.1 - TERRAS DEVOLUTAS INDISPENSÁVEIS À DEFESA DAS FRONTEIRAS ........................................................66 11.2 - TERRENOS DE MARINHA ......................................................................................................................................66 11.3 - TERRENOS RESERVADOS (TERRENOS MARGINAIS) ....................................................................................66 11.4 - MAR TERRITORIAL ................................................................................................................................................67 11.5 - ZONA CONTÍGUA .....................................................................................................................................................67 11.6 - ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA ...........................................................................................................................68 11.7 - PLATAFORMA CONTINENTAL .............................................................................................................................68 11.8 - ILHAS ..........................................................................................................................................................................69 11.9 - FAIXA DE FRONTEIRA............................................................................................................................................69 11.10 - CEMITÉRIOS ..........................................................................................................................................................70 11.11 - BENS PERTENCENTES AOS ESTADOS ..............................................................................................................70 12 - BENFEITORIAS EM BEM PÚBLICO IRREGULARMENTE OCUPADO .......................................................................75 13 - RESUMÃO DA AULA ........................................................................................................................................................77 14 - JURISPRUDÊNCIA CORRELATA .....................................................................................................................................82 15 – MAIS QUESTÕES DE PROVA .........................................................................................................................................85 16 - QUESTÕES COMENTADAS NA AULA ..........................................................................................................................117 17 - GABARITOS ..................................................................................................................................................................... 143 18 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................................. 144 19 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................ 145 1 - BREVES APONTAMENTOS INICIAIS Para a perfeita conceituação de “bens públicos”, devemos partir inicialmente da noção de “domínio público”, expressão mais abrangente e que envolve não só o “domínio patrimonial”, relativo ao direito de propriedade que o Estado exerce sobre os bens que compõem o seu patrimônio, como também o “domínio eminente”, de natureza política, que o Estado tem sobre todos os bens existentes no seu território, com o poder de regulamentar ou restringir o seu uso ou até de transferi-los compulsoriamente para o patrimônio estatal (passando a exercer, também, o “domínio patrimonial”) mediante a desapropriação. Em termos mais simples, tudo o que se encontra no território do ente político está, de certa forma, sujeito a sua disciplina, respeitadas as competências dos demais entes políticos. Assim, o Estado da Paraíba detém o poder político de estabelecer regras referentes a tudo o que se encontre sobre o seu território, respeitadas as competências federais e municipais (domínio eminente), porém alguns desses bens pertencem ao próprio Estado. No tocante a estes, a Paraíba também exerce o “domínio patrimonial”. Em certas hipóteses, utilizando o domínio eminente, o Estado pode desapropriar um bem que se encontre no seu território e, como legítimo proprietário, passar a exercer sobre tal bem o domínio patrimonial. Focaremos precipuamente os bens que fazem parte do patrimônio do Estado e de determinadas entidades estatais (a abrangência será detalhada logo a seguir), de forma a atentarmos mais ao domínio patrimonial. (PGR, Procurador da República, 2005 - Adaptada) Julgue o item que segue: ( ) O conceito de domínio público é mais extenso que o de propriedade, desde que se consideram bens públicos aqueles que, embora não pertencentes às pessoas jurídicas de direito público, estejam afetados à prestação de um serviço público. Comentários: A expressão domínio público ora designa o poder que o Estado exerce sobre todas as coisas de interesse público (domínio eminente), ora o poder de propriedade que exerce sobre o seu patrimônio (domínio patrimonial). São bens públicos todas as coisas, corpóreas ou incorpóreas, móveis ou imóveis, semoventes, créditos, etc., que pertençam às entidades estatais, autárquicas ou paraestatais. Gabarito: correto. 2 - CONCEITO O conceito de bem público tem causado certa controvérsia na doutrina, existindo basicamente três posições distintas. A primeira corrente entende que são bens públicos somente aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de direito público (José dos Santos Carvalho Filho)1. A segunda corrente defende que bens públicos são todos aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de Direito Público Interno e às pessoas jurídicas de Direito Privado da Administração Indireta (Hely Lopes Meirelles)2, o que incluiria na categoria de bens públicos todos os que fossem de propriedade das empresas públicas e sociedades de economia mista, independentemente de estas prestarem serviço público ou explorarem atividade econômica. A terceira corrente sustenta que bens públicos são todos aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de Direito Público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, respectivas autarquias e fundações de direito público), bem como aqueles que, embora não pertençam a tais pessoas, estejam afetados à prestação de um serviço público (posição de Celso Antônio Bandeira de Mello)3. O Novo Código Civil tentando resolver a discussão sobre a definição de bem público estipulou em seu artigo 98: Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Pela redação desse artigo apenas podem ser formalmente considerados como bens públicos os bens de propriedade das pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, Municípios e respectivas autarquias e fundações. Assim, os bens das sociedades de economia mista não podem ser considerados bens públicos, em que pese sujeitas à tomada de contas especial pelo TCU. Também não são considerados bens públicos os bens das demais pessoas jurídicas de direito privado integrantes da administração pública. A par da clareza da redação do art. 98 do Código Civil, ainda persiste na doutrina e na jurisprudência a controvérsia quanto ao conceito de bem público, tanto que o Conselho de 1 José dos Santos Carvalho Filho, Manual de direito administrativo, p. 1157. 2 Hely Lopes Meirelles, Direito administrativo brasileiro, p. 549. 3 Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de direito administrativo, p. 913. Justiça Federal, por meio do Enunciado nº 287 (aprovado na IV Jornada de Direito Civil), deu interpretação diferente ao referido dispositivo, afirmando que: “O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente à pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos”. Como podemos observar, o CJF adotou a mesma posição manifestada pelo Professor Celso Antônio Bandeira de Mello. A doutrina entende que os bens de pessoas administrativas de direito privado que estejam sendo diretamente empregados na prestação de um serviço público passam a revestir características próprias do regime de bens públicos – especialmente a impenhorabilidade e a proibição de que sejam onerados (gravados) – enquanto permanecerem com essa utilização. Essa sujeição das regras do regime público, entretanto, decorre do princípio da continuidade dos serviços público e não de alguma característica formal ou da natureza do bem em si considerado, eis que não se pode transmudar o bem da pessoa jurídica de direito privado em bem público. Neste sentido: 4. No que tange à questão da impenhorabilidade dos bens afetados ao serviço público, o julgado recorrido não diverge da orientação do STJ, segundo a qual são impenhoráveis os bens de sociedade de economia mista prestadora de serviço público, desde que destinados à prestação do serviço ou que o ato constritivo possa comprometer a execução da atividade de interesse público (AgRg no REsp 1.070.735, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques; AgRg no REsp 1.075.160, Rel. Ministro Benedito Gonçalves; REsp 521.047, Rel. Ministro Luiz Fux). Por outro lado, o STF, apesar de ainda não ter se manifestado especificamente quanto ao entendimento que deva ser dado ao conceito de bens públicos, tem reconhecido expressamente a aplicação de prerrogativas próprias dos bens públicos a bens que, adotada a classificação do Código Civil, seriam classificados como privados. A título de exemplo, o Tribunal já reconheceu que os bens pertencentes aos Correios (empresa pública), quando utilizados nas atividades essenciais da instituição, gozam de impenhorabilidade e de imunidade a impostos (RExt 220.906; RExt 407.099). (FCC - Juiz Estadual/TJ SC/2015) Pela perspectiva tão somente das definições constantes do direito positivo brasileiro, consideram-se “bens públicos” os pertencentes a: a) um estado, mas não os pertencentes a um território. b) um município, mas não os pertencentes a uma autarquia. c) uma sociedade de economia mista, mas não os pertencentes ao distritofederal. d) uma fundação pública, mas não os pertencentes a uma autarquia. e) uma associação pública, mas não os pertencentes a uma empresa pública. Comentários: A questão exigia que o aluno dominasse a identificação das pessoas jurídicas de direito público, dado que a elas pertencem os bens públicos. São pessoas jurídicas de direito público: Pessoa Jurídica de Direito Público Incluem-se no Conceito União Estados Municípios Distrito Federal e Territórios Autarquia Fundação Pública Não se incluem no Conceito Empresas Públicas Sociedades de Economia Mista Qualquer que seja sua utilização, os bens destas entidades – corpóreos, incorpóreos, móveis, imóveis, - estão sujeitos ao regime jurídico dos bens públicos. a) INCORRETA. Imprescritibilidade - Os bens públicos são insuscetíveis de aquisição mediante usucapião (prescrição aquisitiva de direito). Trata-se de interpretação literal do disposto no artigo 102 do Código Civil: Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. b) INCORRETA. Impenhorabilidade – Os bens públicos não se sujeitam ao regime de penhora, eis que a satisfação de créditos da Fazenda Pública deve ser feita através do regime de precatórios. c) INCORRETA. Não Onerabilidade – Os bens públicos não podem ser gravados como garantia de créditos em favor de terceiros. São espécies de direitos reais de garantia sobre coisa alheia: o penhor, a anticrese e a hipoteca. d) INCORRETA. Inalienabilidade (relativa) – Os bens públicos que se encontram destinados a uma finalidade pública específica (afetados) não podem ser objeto de alienação, consoante será visto adiante. Gabarito: alternativa “E”. (FCC - Procurador do Ministério Público de Contas/MPC-GO/2015) Durante o curso de uma ação de execução de título extrajudicial ajuizada por uma empresa particular em face de uma sociedade de economia mista, foi identificado um terreno localizado às margens de uma rodovia, pertencente à estatal e desocupado de pessoas, construções e coisas. A empresa credora requereu a penhora do bem para garantia do crédito, com intenção de levar o bem à hasta pública caso perdurasse a inadimplência da estatal. O requerimento: a) não pode ser deferido, tendo em vista que os bens imóveis que compõem o patrimônio das empresas estatais são protegidos pelo regime jurídico de direito público, sendo, portanto, impenhoráveis. b) pode ser deferido apenas para fins de garantia do crédito, decidindo-se pela penhora e bloqueio do bem, vedada, no entanto, a alienação judicial do imóvel. c) não pode ser deferido porque todos os bens das estatais são tacitamente afetados à prestação de serviço público, cuja essencialidade impede a disposição judicial do imóvel. d) pode ser deferido, porque se trata de bem de natureza privada e presume-se desafetado, porque desocupado, facultado à empresa estatal a comprovação de eventual afetação do bem à prestação de serviço público para pleitear a suposta impenhorabilidade. e) não pode ser penhorado, em razão do domínio pertencer à empresa estatal, mas pode ser adjudicado pelo credor, mantida eventual afetação à prestação de serviço público. Comentários: As sociedades de economia mista não são pessoas jurídicas de direito público, mas de direito privado. Logo, seus bens não estão submetidos ao regime jurídico de bens públicos. Gabarito: letra D. (FCC - Assessor Jurídico/TCE-PI/2014) Determinada empresa estatal que desempenha serviços na área de informática e processamento de dados é proprietária de alguns terrenos públicos desocupados, localizados em diversos municípios do Estado, que lhe foram destinados por força da extinção de outra empresa estatal que atuava no mesmo segmento. Essa empresa, deficitária, está sendo acionada judicialmente por diversos credores, em especial por dívidas trabalhistas. Em um desses processos, foi requerida a penhora de dois terrenos vagos. O pedido: a) não pode ser deferido, tendo em vista que os bens públicos são impenhoráveis e inalienáveis. b) não pode ser deferido, porque a execução dos débitos das empresas estatais deve ser feita por meio de expedição de precatórios. c) pode ser deferido, tendo em vista que os terrenos pertencem a pessoa jurídica submetida a regime jurídico típico das empresas privadas, e sequer estão afetados a prestação de serviço público. d) pode ser deferido em grau de subsidiariedade, ou seja, uma vez demonstrado que já se tentou atingir os bens públicos não afetados da empresa. e) pode ser deferido, mas não pode ser determinada a hasta pública para venda dos bens, tendo em vista que as empresas estatais se submetem à lei de licitações para alienação de seus bens. Comentários: Vide comentário da questão anterior. Atenção, pois tem sido recorrente encontrarmos no STF decisões que aplicam a determinados prestadores de serviço público a impenhorabilidade de seus bens enquanto afetados à prestação destes. Gabarito: letra C. 3 - CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS É possível classificar os bens públicos sob quatro aspectos: 1) quanto à titularidade; 2) quanto à destinação; 3) quanto à natureza patrimonial; e 4) quanto à natureza física. 3.1 - QUANTO À TITULARIDADE Quanto à pessoa jurídica que possui a titularidade, os bens se classificam em: a) Bens federais (art. 20, CRFB); b) Bens estaduais (art. 26, CRFB); c) Bens distritais (não foram previstos expressamente na Constituição Federal); e d) Bens municipais (não foram previstos expressamente na Constituição Federal). Os bens federais são aqueles pertencentes à União, e a Constituição Federal relaciona, no art. 20, alguns deles. É importante esclarecer que, além desses, existem muitos outros bens que podem ser enquadrados no inciso I do dispositivo, em que genericamente são citados como bens da União “os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos”. Exemplos desses diversos bens são veículos, edifícios, computadores etc. Atentos à amplitude do inciso I do dispositivo, vejamos quais são os bens que, nos termos do art. 20 da Constituição Federal, pertencem à União: I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; II – as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; IV – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005); V – os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; VI – o mar territorial; VII – os terrenos de marinha e seus acrescidos; VIII – os potenciais de energia hidráulica; IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo; X – as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; XI – as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Tomemos como exemplo a ilha de São Luís, em que está situada a sede da capital do Maranhão. Tendo em vista a redação anterior, a União considerava-se proprietária de diversos terrenos na cidade, submetendo a população a encargos como foros e taxas de ocupação. A situação também impedia que os particulares obtivessem créditos junto a instituições financeiras mediante o oferecimento do terreno como garantia. Com a nova redação, tais áreas saíram do domínio patrimonial da União, ressalvadas, por disposição constitucionalexpressa, as áreas afetadas ao serviço público e à unidade ambiental federal, bem como as áreas previstas no art. 26, II. Deve-se ter presente, também, que a circunstância de a Floresta Amazônica ser considerada “patrimônio nacional”, por força do art. 225, § 4º, da Constituição Federal, não lhe confere o caráter de bem público. A Floresta Amazônica é considerada, apenas, espaço territorial especialmente protegido, legitimando a imposição de restrições especiais sobre o uso da propriedade, em função de interesses ambientais. Quanto aos Estados, de acordo com o disposto no art. 26, da CRFB, incluem-se entre os seus bens: I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; II – as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; III – as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; IV – as terras devolutas não compreendidas entre as da União. Ressalte-se que essa lista é meramente exemplificativa, havendo outros bens pertencentes aos Estados que não foram mencionados na CRFB, tais como prédios públicos, veículos, móveis, etc. Quanto aos bens pertencentes aos Municípios, a Constituição Federal não faz qualquer referência. Dessa forma, pertencem aos Municípios apenas os bens que adquiriram (por desapropriação, compra, doação) ou que passaram a integrar seu patrimônio por força de lei (a exemplo das vias públicas decorrentes de loteamentos imobiliários, em razão da previsão contida na Lei nº 6.766/1979). Em relação aos bens pertencentes ao Distrito Federal, a Constituição Federal silencia, mas devemos entender que o art. 26 (bens dos Estados) também se aplica ao Distrito Federal. 3.2 - QUANTO À DESTINAÇÃO A classificação dos bens públicos quanto à destinação segue a previsão do artigo 99, do Código Civil: Art. 99. São bens públicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado. São os bens públicos classificados, portanto, quanto à sua destinação em: a) Bens de uso comum do povo – São aqueles destinados à utilização geral pelos indivíduos, que podem ser utilizados por todos em igualdade de condições. Exemplo: ruas, praças, mares e rios. b) Bens de uso especial – São aqueles destinados à execução de serviços administrativos e dos serviços públicos em geral. São os bens das pessoas jurídicas de direito público utilizados para a prestação de serviços públicos (em sentido amplo). Exemplo: escolas públicas, hospitais públicos, prédios de repartições públicas. c) Bens Dominicais – São os bens públicos que não possuem uma destinação pública definida, que podem ser utilizados pelo Estado para fazer renda. Exemplo: terras devolutas, prédios públicos desativados e móveis inservíveis. Os bens públicos dominicais que são exatamente aqueles que não se encontram destinados a uma finalidade pública específica (portanto desafetados), podem ser objeto de alienação, obedecidos os requisitos legais. De acordo com o parágrafo único do art. 99 do Novo Código Civil, também são considerados dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado, desde que a lei não disponha em contrário. A norma é de difícil compreensão, pois ser pessoa jurídica “de direito público” significa justamente submeter-se à disciplina normativa desse ramo de direito, observando o regramento do regime jurídico administrativo. Ora, como se pode dar estrutura de direito privado a uma pessoa de direito público? Acreditamos que o legislador quis se referir às pessoas jurídicas que foram formalmente designadas como de direito público, mas na prática atuam submetidas a regime jurídico de direito privado, o que significaria que, na essência, tais pessoas seriam efetivamente de direito privado, não obstante a designação formal equivocada. Assim, imagine-se uma lei que institui uma autarquia – formalmente uma pessoa jurídica de direito público – deixando claro que a área de atuação do novo ente é a comercialização de mercadorias em concorrência com a iniciativa privada. À obviedade, o caso não deveria ensejar a criação de autarquia, pois esta deve restringir sua atuação às atividades típicas de Estado, mas o equívoco legislativo teria criado uma formal “pessoa jurídica de direito público”, organizando-a segundo os ditames do direito privado. Assim, os bens pertencentes à dita autarquia (na realidade uma empresa pública disfarçada de autarquia) seriam considerados, nos termos legais, como bens dominicais. Os bens dominicais podem ser utilizados pela Administração para obtenção de receitas. Por exemplo: um imóvel desocupado pertencente a qualquer ente público (considerado um bem dominical) pode ser alugado a terceiros. Questão interessante é a das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, constitucionalmente enquadradas como bens públicos federais (CRFB, art. 20, inciso XI) na classificação ora estudada. Apesar de não estarem diretamente vinculadas à prestação de serviços públicos, José Santos de Carvalho afirma que “nessas áreas existe a afetação a uma finalidade pública, qual seja, a de proteção a essa categoria social. Não é estritamente um serviço administrativo, mas há objetivo social perseguido pelo poder público. Sendo assim, trata-se de bens públicos enquadrados na categoria de bens de uso especial”4. 3.3 - QUANTO À NATUREZA PATRIMONIAL Quanto à natureza patrimonial, os bens públicos podem ser: a) bens indisponíveis por natureza; b) bens patrimoniais indisponíveis; e c) bens patrimoniais disponíveis. Os bens indisponíveis por natureza são aqueles de natureza não patrimonial, por serem insuscetíveis de avaliação econômica. Em razão de sua natureza, tais bens são inalienáveis. Nessa categoria enquadram-se os bens de uso comum do povo de natureza não patrimonial como mares, rios, praias etc. Os bens patrimoniais indisponíveis são aqueles de natureza patrimonial (possibilidade de avaliação econômica), mas que não podem ser alienados em virtude de estarem afetados a alguma destinação pública específica. Nessa categoria estão os bens de uso comum do povo de natureza patrimonial, por exemplo, uma praça, e os bens de uso especial, a exemplo do imóvel público onde funcione uma repartição governamental. Se, 4 José dos Santos Carvalho Filho, Manual de direito administrativo, p. 1229. por acaso, algum bem patrimonial indisponível perder a sua destinação pública específica, passará a ser considerado bem patrimonial disponível. Os bens patrimoniais disponíveis são aqueles que possuem natureza patrimonial e podem ser alienados pela Administração, observadas as condições estabelecidas em lei, visto que não estão afetados a uma finalidade pública específica. Nessa categoria estão os bens dominicais, como um imóvel público desocupado. 3.4 - QUANTO À NATUREZA FÍSICA Há, ainda, que se fazer alusão à classificação do professor Celso Antônio Bandeira de Mello5, para quem os bens públicos imóveis quanto à sua natureza física se dividem em: 1) bens de domínio hídrico: a) águas correntes (mar, rios, riachos); b) águas dormentes (lagos, lagoas, açudes);e c) potenciais de energia hidráulica; 2) bens do domínio terrestre: a) do solo; e b) do subsolo. (CEBRASPE, DPE-ES, Defensor Público, 2009 - Adaptada) Julgue o item que segue: ( ) Na tradicional classificação dos bens públicos, as terras indígenas são consideradas bens de uso especial. Comentários: BENS DE USO ESPECIAL (BENS DE DOMÍNIO PÚBLICO DO ESTADO) São todos aqueles que visam à execução dos serviços administrativos e dos serviços públicos em geral. Exemplos: os edifícios públicos onde se situam repartições públicas, as escolas públicas, os hospitais públicos, os veículos oficiais e as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Gabarito: correta. 5 Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de direito administrativo, p. 917. (FCC, DPE-RS, Analista, 2013) Considere os seguintes exemplos de bens públicos: I. prédio no qual se encontra instalado um hospital. II. rios e mares. III. galpão adquirido pelo poder público em processo de execução judicial, cujo uso foi autorizado, onerosamente, a particular. Indique, respectivamente, a categoria na qual se incluem: a) de uso comum do povo; dominical e de uso especial. b) de uso especial; de uso comum do povo e dominical. c) de uso especial; reservado e de uso especial. d) dominical; reservado e de uso restrito. e) de uso comum do provo; de uso restrito; e dominical. Comentários: Questões que abordam o art. 99, do Código Civil são bastante frequentes. Diz a lei: “Art. 99. São bens públicos: I – os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II – os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquia; III – os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado”. Definição da inalienabilidade dos bens de uso comum e de uso especial (art. 100, do CC) - o dispositivo tem o seguinte conteúdo: “Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.” Gabarito: letra B. (CEBRASPE, Prefeitura de Belo Horizonte-MG, Procurador Municipal, 2017) Com relação aos bens públicos, assinale a opção correta. a) Bens dominicais são os de domínio privado do Estado, não afetados a finalidade pública e passíveis de alienação ou de conversão em bens de uso comum ou especial, mediante observância de procedimento previsto em lei. b) Consideram-se bens de domínio público os bens localizados no município de Belo Horizonte afetados para destinação específica precedida de concessão mediante contrato de direito público, remunerada ou gratuita, ou a título e direito resolúvel. c) O uso especial de bem público, por se tratar de ato precário, unilateral e discricionário, será remunerado e dependerá sempre de licitação, qualquer que seja sua finalidade econômica. d) As áreas indígenas são bens pertencentes à comunidade indígena, à qual cabem o uso, o gozo e a fruição das terras que tradicionalmente ocupa para manter e preservar suas tradições, tornando-se insubsistentes pretensões possessórias ou dominiais de particulares relacionados à sua ocupação. Comentários: Letra A – CORRETA. Art. 99, III do Código Civil - apesar da legislação não tratar de forma clara, a doutrina explica que bens dominicais são todos aqueles que não possuem uma destinação pública definida e que, por isso, constituem o patrimônio disponível do Estado (podem ser alienados para fazer renda). Sendo assim, o beneficiário direto dos bens dominicais o próprio Estado, pois inexiste utilização imediata pelo cidadão. Segundo ensinamentos da professora Maria Sylvia Di Pietro, os bens comuns do povo e os bens de uso especial possuem como característica comum a destinação pública, o que os dominicais não têm. Sendo dessa forma classificado em duas modalidades: Domínio Público - bens especiais e de uso especial, e Domínio Privado do Estado: Bens dominicais. Letra B – INCORRETA. Não existe necessidade de um bem público ser precedido de contrato para que seja caracterizado como tal. A sua natureza jurídica é dada por lei (art. 98 do Código Civil) e não por contrato. A questão induziu o candidato ao erro ao embaralhar as possibilidades da utilização do bem público: concessão de uso, permissão e autorização, com o próprio conceito de bem público. Letra C – INCORRETA. A assertiva mistura os conceitos e tenta confundir o candidato. O conceito descrito na questão discorre da possibilidade de uso do bem público por meio do instituto da permissão. Sendo que o bem público de uso especial é conceituado nos termos do artigo 99, II do Código Civil. Letra D – INCORRETA. As terras indígenas são bens da União, conforme disposição do artigo 20, inciso XI, da CRFB. Gabarito: letra “A”. 4 - REGIME JURÍDICO DOS BENS PÚBLICOS (CARACTERÍSTICAS) As principais características dos bens públicos são: a) inalienabilidade (ou alienabilidade condicionada); b) impenhorabilidade; c) imprescritibilidade; e d) não onerabilidade. A seguir serão detalhados esses aspectos. 4.1 - INALIENABILIDADE (ALIENABILIDADE CONDICIONADA) A alienação é fato jurídico que consiste na transferência da propriedade de um bem móvel ou imóvel de uma pessoa para outra. Uma das características dos bens públicos é a sua inalienabilidade (impossibilidade de alienação). Contudo, essa regra só vale para os bens de uso comum do povo e os de uso especial enquanto conservarem essa qualificação. Os bens dominicais, que são aqueles que não se encontram destinados a uma finalidade pública específica (desafetados), podem ser alienados, observados os requisitos legais. Essas regras estão previstas nos arts. 100 e 101 do Código Civil. Assim, podemos afirmar que em regra a inalienabilidade dos bens públicos não é absoluta. Trata-se de inalienabilidade relativa ou, como preferem alguns autores, alienabilidade condicionada. Portanto, é possível à Administração alienar quaisquer bens, mesmo aqueles de uso comum do povo e os de uso especial, sendo suficiente para tanto que desafete os referidos bens, transformando-os em bens dominicais e, em seguida, obedeça aos requisitos legais previstos na Lei nº 8.666/1993: demonstração de interesse público, prévia avaliação, licitação e, no caso de bem imóvel, autorização legislativa. Embora a regra seja a inalienabilidade relativa dos bens públicos, em alguns casos excepcionais essa inalienabilidade é absoluta, ou seja, a Administração não poderá em qualquer hipótese alienar os seguintes bens: a) Alguns bens de uso comum do povo, que, pela sua natureza não patrimonial (insuscetíveis de valoração patrimonial), como mares, rios e lagos, são absolutamente insuscetíveis de alienação (bens indisponíveis por natureza); b) As terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais, em razão de serem consideradas indisponíveis por força da previsão contida no art. 225, § 5º, da CRFB; c) As terras ocupadas tradicionalmente pelos índios, visto que são inalienáveis e indisponíveis, conforme expresso no art. 231, § 4º, da CRFB. 4.2 - IMPENHORABILIDADE A penhora é medida judicial, de natureza constritiva, que recai sobre o patrimônio do devedor, cujo objetivo é possibilitar a satisfação do credor quando a obrigação não for honrada pelo devedor. O procedimento judicial de penhora não se aplica aos bens públicos de qualquer espécie, pois na execução por quantiacerta contra a Fazenda Pública o pagamento dos credores deve ser feito por meio do regime de precatórios, conforme previsto no art. 100, da CRFB. O regime dos precatórios foi criado com o objetivo de conciliar, à luz do sistema orçamentário brasileiro, a impenhorabilidade dos bens públicos com a necessidade de fazer valer as decisões judiciais definitivas que determinem aos entes públicos o pagamento de valores a particulares. Nesse contexto, o legislador constituinte estipulou uma solução bastante lógica. Ora, se as despesas públicas somente podem ser realizadas se houver autorização na lei orçamentária, o pagamento de débitos da Fazenda Pública decorrentes de decisão judicial transitada em julgado deve considerar tal peculiaridade, sob pena de serem comprometidos os recursos orçamentariamente destinados a atender despesas específicas. Nessa linha, estabeleceu-se que, passada em julgado a decisão, o juiz comunicará o fato ao Tribunal que consolidará em ordem cronológica os casos recebidos até o dia 1º de julho de cada ano e, por meio do seu Presidente, requisitará ao Chefe do Poder Executivo do ente federado devedor a inclusão na respectiva lei orçamentária da dotação destinada ao pagamento, que deverá ser realizado até o final do ano subsequente. A comunicação é feita ao Chefe do Executivo porque ele detém a iniciativa exclusiva das leis orçamentárias (CRFB, art. 165). Já o limite temporal para apresentação do precatório de forma a garantir o pagamento no exercício seguinte (1º de julho) decorre da necessidade de tempo para a inclusão da dotação no projeto de lei orçamentária, cuja propositura é sujeita a prazo (na esfera federal, por exemplo, deve ocorrer até o fim de agosto, por conta do disposto no art. 35, § 2º, III, do ADCT). Para garantir que a aplicação da sistemática ocorra sem perseguições ou privilégios, o art. 100, da CRFB estipula que os pagamentos serão feitos “exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim”. A única exceção à regra de pagamento por precatório se restringe aos débitos de pequeno valor, conforme definido em lei, que devem ser liquidados por meio da “Requisição de Pequeno Valor – RPV (art. 100, § 3º, da CRFB). Não obstante, há casos em que, apesar de os pagamentos serem submetidos à regra geral dos precatórios, os credores terão preferência sobre os demais. Não se trata de agressão ao princípio da isonomia, mas, pelo contrário, de sua aplicação no sentido material, de forma a privilegiar o recebimento de créditos presumivelmente utilizados para a subsistência das pessoas. Foi na esteira desse raciocínio que o legislador constituinte estabeleceu a necessidade de pagamento, com preferência sobre todos os demais créditos, daqueles que possuam natureza alimentícia. Para afastar a subjetividade que poderia existir na conceituação, o mesmo dispositivo estabeleceu que têm natureza alimentícia os créditos “decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado” (art. 100, § 1º, da CRFB). Além disso, presumindo uma urgência ainda maior no recebimento, o § 2º do mesmo dispositivo constitucional estabeleceu que, dentre os precatórios de natureza alimentícia, terão preferência aqueles cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, sejam pessoas com doença grave ou deficiência (conforme definido em lei), bem como os que tenham idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Registramos que no texto expresso do dispositivo, com a redação dada pela EC nº 62/2009, foi previsto que, para gozar da preferência em virtude da idade, o credor deveria ter 60 anos ou mais “na data de expedição do precatório”. Entretanto, o STF considerou que a restrição é inconstitucional porque “ultraja a isonomia (CRFB, art. 5º, caput) entre os cidadãos credores da Fazenda Pública, na medida em que discrimina, sem qualquer fundamento, aqueles que venham a alcançar a idade de sessenta anos não na data da expedição do precatório, mas sim posteriormente, enquanto pendente este e ainda não ocorrido o pagamento”. Assim, todos os que tenham idade superior ou igual a 60 anos, independentemente da data em que completaram o requisito, podem ser beneficiários da regra (ADI 4.425). A aplicação dessas regras de preferência entre os próprios precatórios de natureza alimentícia (em virtude de idade, deficiência ou doença grave) somente ocorrerá para débitos cujo montante seja de no máximo o triplo do que a lei define como pequeno valor, permitindo-se o fracionamento do montante devido para que o credor receba o limite com preferência e o restante na ordem de apresentação do precatório. Em suma, existem quatro situações diversas quanto ao pagamento de valores devidos pelas Fazendas Públicas em virtude de decisão judicial transitada em julgado. Se o crédito é de pequeno valor, o pagamento não dependerá de expedição de precatório, realizando-se diretamente a Requisição de Pequeno Valor (RPV). Quanto aos demais créditos, o pagamento será feito mediante precatório, com três ordens (filas) distintas. Em primeiro lugar, serão pagos os créditos de natureza alimentícia cujos titulares sejam pessoas com idade igual ou superior a 60 anos ou portadoras de doenças graves; posteriormente, será a vez dos demais créditos de natureza alimentícia; por fim, serão pagos os créditos que não possuem essa natureza. Repisamos que nas três ordens os precatórios devem ser pagos na ordem cronológica da apresentação. Por outro lado, nos casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária. Por outro lado, nos casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o credor pode requerer ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda que autorize o sequestro da quantia necessária à satisfação do débito (CRFB, art. 100, § 6º). Registramos que essas são as únicas hipóteses de sequestro de valores públicos previstas na Constituição Federal. No entanto, tendo em vista o caráter inadiável que deve ter a proteção constitucional dos direitos em jogo, o STJ vem admitindo em seus julgados que, em situações excepcionais, seja feito o bloqueio de contas públicas (medida equivalente ao sequestro) para garantir o custeio de tratamento médico ou fornecimento de medicamentos indispensáveis à manutenção da vida ou da saúde (AgRg no REsp 865.089, Rel. Min. Francisco Falcão). Com o advento da EC nº 62/2009, dentre outras mudanças realizadas na sistemática de precatórios (já consideradas na explanação feita neste item), foi estabelecido que, no momento da expedição do precatório, deveria ser abatido, “a título de compensação”, o valor correspondente aos débitos do credor perante a Fazenda Pública devedora. A amplitude da compensação abrangeria até as parcelas não vencidas de parcelamento, somente sendo ressalvados os débitos cuja execução estivesse suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. Para garantir o cumprimento da regra, o Tribunal responsável pela expedição do precatório solicitaria à Fazenda Pública devedora informação sobre os débitos que preenchessem as citadas condições (CRFB, art. 100, §§ 9º e 10). O Supremo Tribunal Federal percebeu que a novidade equivaleria a, no interesse exclusivo da Fazenda Pública, deixar de cumprir o que foi determinado pelo Judiciário em decisão transitada em julgado, sendo, por conseguinte, inconstitucional. Nas palavras da própria Suprema Corte, a previsão “embaraça a efetividade da jurisdição (CRFB, art. 5º, XXXV), desrespeitaa coisa julgada material (CRFB, art. 5º, XXXVI), vulnera a Separação dos Poderes (CRFB, art. 2º) e ofende a isonomia entre o Poder Público e o particular (CRFB, art. 5º, caput), cânone essencial do Estado Democrático de Direito” (ADI 4.425). No julgamento da mesma ADI, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional o “regime especial de pagamento de precatórios” pelos Estados e Municípios previsto pela EC nº 62/2009 mediante inclusão do art. 97 ao ADCT. O novo regime criava a possibilidade de os entes federados optarem por pagar os valores de precatórios vencidos na data da promulgação da Emenda num período de tempo que poderia durar até 15 anos, limitando a um percentual da receita corrente líquida os montantes que poderiam ser gastos para o pagamento. Para a Corte Suprema, a previsão, “ao veicular nova moratória na quitação dos débitos judiciais da Fazenda Pública e ao impor o contingenciamento de recursos para esse fim, viola a cláusula constitucional do Estado de Direito (CRFB, art. 1º, caput), o princípio da Separação de Poderes (CRFB, art. 2º), o postulado da isonomia (CRFB, art. 5º), a garantia do acesso à justiça e a efetividade da tutela jurisdicional (CRFB, art. 5º, XXXV), o direito adquirido e à coisa julgada (CRFB, art. 5º, XXXVI)”. 4.3 - IMPRESCRITIBILIDADE (IMPOSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO) Outra característica de todo e qualquer bem público é a sua imprescritibilidade, ou seja, a impossibilidade de ser adquirido por meio de usucapião (prescrição aquisitiva). A usucapião é instituto jurídico que permite àquele que possua determinado bem, sob certas condições e durante certo tempo, a aquisição da propriedade. A regra constitucional da imprescritibilidade dos bens públicos não possui exceção, e a qualquer tempo o ente público pode reivindicar algum bem de sua propriedade que esteja na posse de terceiros. Trata-se de disposição expressa tanto no Código Civil como em alguns trechos da Constituição Federal. Vejamos: Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (...) § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Já o Código Civil, conforme já visto, estabelece que: Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Os bens públicos não podem ser adquiridos por usucapião. Não há exceções! A Constituição Federal previu, nos arts. 183, § 3º, e 191, parágrafo único, que os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião, não fazendo referência aos bens públicos móveis. Contudo, não há dúvidas na doutrina e na jurisprudência de que todos os bens públicos são imprescritíveis, conforme disposto no art. 102 do Código Civil de 2002 que, sem prever qualquer exceção, assevera que “os bens públicos não estão sujeitos a usucapião”. Tal entendimento é aplicável, inclusive, para os bens dominicais, tendo o Supremo Tribunal Federal cristalizado a tese mesmo durante a vigência do Código Civil de 1916, mediante a edição da Súmula nº 340, nos termos a seguir transcritos: Súmula nº 340/STF – “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”. 4.4 - NÃO ONERABILIDADE Onerar um bem é dá-lo em garantia ao credor para o caso de inadimplemento da obrigação. Os bens públicos não podem ser dados em garantia para o caso de inadimplemento de obrigação. Assim, os bens públicos não podem ser objeto de penhor, hipoteca ou anticrese, que são espécies de direito real de garantia. Justamente por isso é que se fala que uma das suas características é a não onerabilidade. O fundamento constitucional para a não onerabilidade dos bens públicos é que, se esta fosse admissível, com o ajuizamento da ação judicial, as garantias reais se transformariam em penhora, o que não é possível tendo em vista a já estudada impenhorabilidade dos bens públicos. (FCC - Juiz do Trabalho/TRT 1ª Região/2012) Considerando o regime jurídico ao qual se submetem os bens públicos, os bens imóveis sem destinação de propriedade de sociedade de economia mista controlada pela União são: a) impenhoráveis e inalienáveis. b) inalienáveis, porém passíveis de penhora. c) imprescritíveis e impenhoráveis, porém alienáveis, observadas as exigências legais. d) inalienáveis e impenhoráveis, salvo em função de dívidas trabalhistas. e) alienáveis e passíveis de penhora, observadas as exigências legais. Comentários: As sociedades de economia mistas são pessoas jurídicas de direito privado. A regra é que seus bens não afetados à uma finalidade pública, em virtude de não serem bens públicos, não são impenhoráveis e muito menos inalienáveis. É possível que sobre um bem de uma sociedade de economia seja feita penhora e alienação. Aprofundaremos este ponto adiante. Gabarito: alternativa “E”. (FCC - Juiz do Trabalho/TRT 18ª Região/2014 - ADAPTADA) No tocante ao regime legal dos bens das entidades pertencentes à Administração pública, é correto afirmar: a) Os bens pertencentes a autarquia são impenhoráveis, mesmo para satisfação de obrigações decorrentes de contrato de trabalho regido pela Consolidação da Legislação Trabalhista. b) Os bens pertencentes às entidades da Administração indireta são bens privados e, portanto, passíveis de penhora. c) A imprescritibilidade é característica que se aplica tão somente aos bens públicos de uso comum e especial, não atingindo os bens dominicais. d) A regra da imprescritibilidade dos bens públicos, por ter origem legal, não se aplica ao instituto da usucapião especial urbana, de status constitucional. Comentários: Pode-se dizer que os bens públicos compreendem os bens de propriedade das pessoas jurídicas de direito público, logo os bens de autarquias municipais, estaduais, da União e do Distrito Federal são bens públicos e como tais, dotados de impenhorabilidade. Gabarito: letra “A”. (FCC - Procurador do Banco Central do Brasil/BACEN/2006) Exceções constitucionais à regra da imprescritibilidade dos imóveis públicos a) são os terrenos de marinha. b) não há. c) são as terras devolutas. d) são os prédios declarados inservíveis. e) são os bens adquiridos por execução judicial ou dação em pagamento. Comentários: Simples, direto e objetivo - os bens públicos não podem ser adquiridos por usucapião. Não há exceções! Gabarito: letra “B”. (FCC – JT - TRT 6ª REGIÃO/TRT 6/2013) Paulo, proprietário de terreno lindeiro a uma área abandonada de titularidade da União, passou a ocupar e exercer a vigilância da referida área, sem sofrer qualquer oposição da União. Considerando o regime jurídico dos bens públicos, Paulo a) não poderá usucapir a área, haja vista a impossibilidade de oneração dos bens públicos, que só pode ser afastada por lei específica. b) poderá usucapir a área, observados os prazos e requisitos legais, desde que a mesma não esteja afetada a finalidade pública específica. c) poderá usucapir a área, mediante o instituto da investidura, se comprovado que o terreno é inaproveitável. d) não poderá usucapir a área, haja vista a imprescritibilidade dos bens públicos, seja qual for a sua natureza. e) somente poderá usucapir a área se a mesma for remanescente de desapropriação ou de obra pública e não comportar, isoladamente, aproveitamento para edificação urbana. Comentários:Como já explanado em nossa aula, os bens públicos são dotados de imprescritibilidade e, exatamente por isto, não podem ser adquiridos por usucapião. Assim, as alternativas B, C e E são falsas. A letra A está falsa, eis que os bens públicos também não podem ser onerados (dados como garantia real). Gabarito: letra “D”. (FCC – Juiz Estadual TJAL/TJ AL/2015) No ano de 1963, o Supremo Tribunal Federal adotou, em sua Súmula, o seguinte enunciado, sob o no 340: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião. Independentemente de eventual opinião doutrinária minoritária em sentido contrário, tal conclusão, atualmente, a) mostra-se superada, eis que a Constituição Federal prevê a não sujeição à usucapião dos bens públicos imóveis, mas o Código Civil admite tal sujeição em relação aos bens públicos dominicais móveis ou semoventes. b) mostra-se superada, eis que vigora novo Código Civil. c) resta compatível com o direito vigente, eis que a Constituição Federal prevê a não sujeição à usucapião dos bens públicos imóveis, e o Código Civil prevê a mesma não sujeição quanto aos bens públicos em geral, sem excepcionar os dominicais. d) mostra-se superada, eis que a Constituição Federal excepciona os bens dominicais da não sujeição à usucapião. e) resta compatível com o direito vigente, eis que a Constituição Federal prevê a não sujeição à usucapião dos bens públicos em geral, superando, nesse ponto, disposição do Código Civil em sentido contrário. Comentários: Questão simples, mas com necessidade de domínio do conteúdo. A imprescritibilidade é uma das principais características dos bens públicos e não há exceção sobre tal característica. O STF editou a Súmula nº 340 que possui o entendimento segundo o qual até mesmo os bens dominicais, que são desafetados, sem finalidade pública alguma a eles atrelada (consoante será explicado adiante) são imprescritíveis. Vejamos o enunciado da súmula: Súmula nº 340 - Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião. Referida súmula encontra-se perfeitamente válida em nosso ordenamento jurídico tento em vista os artigos da Constituição Federal e o artigo do Código Civil já acima elencados. Gabarito: letra “C”. (FCC - Juiz Estadual/TJ CE/2014) Acerca dos bens públicos, é correto afirmar: a) A imprescritibilidade é característica dos bens públicos de uso comum e de uso especial, sendo usucapíveis os bens pertencentes ao patrimônio disponível das entidades de direito público. b) As terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental constituem, nos termos do art. 225, caput, da Constituição Federal, bem de uso comum do povo. c) Os bens pertencentes aos Conselhos Federais e Regionais de Fiscalização são bens públicos, insuscetíveis de constrição judicial para pagamentos de dívidas dessas entidades. d) Os bens das representações diplomáticas dos Estados estrangeiros e de Organismos Internacionais são considerados bens públicos, para fins de proteção legal. e) Os imóveis pertencentes à Petrobrás, sociedade de economia mista federal, são considerados bens públicos, desde que situados no Território Nacional. Comentários: Os conselhos profissionais possuem personalidade jurídica de direito público que exercem poder disciplinar sobre os integrantes da categoria profissional, além de possuírem autonomia administrativa e financeira. A Administração Pública descentralizou seu poder de fiscalização para estes entes que, por terem personalidade jurídica de direito público, seus bens são formalmente considerados bens públicos. Neste sentido, registramos: “ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSELHO DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL. EXIGÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. ART. 37, II, DA CRFB. NATUREZA JURÍDICA. AUTARQUIA. FISCALIZAÇÃO. ATIVIDADE TÍPICA DE ESTADO. 1. Os conselhos de fiscalização profissional, posto autarquias criadas por lei e ostentando personalidade jurídica de direito público, exercendo atividade tipicamente pública, qual seja, a fiscalização do exercício profissional, submetem-se às regras encartadas no artigo 37, inciso II, da CF/88, quando da contratação de servidores. 2. Os conselhos de fiscalização profissional têm natureza jurídica de autarquias, consoante decidido no MS 22.643, ocasião na qual restou consignado que: (i) estas entidades são criadas por lei, tendo personalidade jurídica de direito público com autonomia administrativa e financeira; (ii) exercem a atividade de fiscalização de exercício profissional que, como decorre do disposto nos artigos 5º, XIII, 21, XXIV, é atividade tipicamente pública; (iii) têm o dever de prestar contas ao Tribunal de Contas da União. (...)” (RExt 539.224, Rel. Min. LUIZ FUX) (sem grifos no original) Gabarito: letra “C”. (FCC - Procurador do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro/2015) Uma concessionária de serviço de distribuição de energia elétrica estava, em razão de atraso na recomposição de equilíbrio econômico-financeiro já reconhecido pelo poder concedente, com fluxo de caixa negativo, o que ocasionou inadimplência de muitos compromissos, especialmente trabalhistas. Para garantia de alguns débitos, foram penhorados bens imóveis afetados ao serviço concedido. Esses bens a) têm natureza de bens públicos sujeitos ao regime jurídico de direito privado, porque penhoráveis, cabendo ao poder concedente zelar e providenciar o necessário para que a prestação do serviço público não seja interrompida. b) podem receber proteção do regime jurídico de direito público em razão de sua afetação à prestação de serviço público e, portanto, à concessão, mesmo pertencendo a pessoa jurídica de direito privado na condição de bens reversíveis. c) dependem de autorização legislativa para serem penhorados, porque consistem em bens públicos de uso especial, de modo que dependem de prévia desafetação. d) têm natureza de bens privados dominicais, porque apesar de estarem afetados a prestação de um serviço público, pertencem a pessoa jurídica de direito privado. e) pertencem, obrigatoriamente, por expressa disposição legal, ao poder concedente durante toda a vigência do contrato de concessão de serviço público, ficando registrados em nome do titular do serviço público, que deverá impugnar as penhoras como terceiro. Comentários: A sociedade empresarial objeto da questão é uma concessionária de serviço de distribuição de energia elétrica, uma pessoa jurídica de direito privado, seus bens não são públicos. Contudo, os bens penhorados são afetados à realização do serviço e, embora bem particulares, gozam das regras próprias do regime jurídico de bens públicos. Neste sentido, anotamos: “O recorrente foi denunciado perante a Justiça comum estadual pela prática de receptação dolosa de uma balança de precisão furtada da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). (...) Primeiro, note-se que as empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista) são dotadas de personalidade jurídica de direito privado, mas possuem regime híbrido, a depender da finalidade da estatal: se presta serviço público ou explora a atividade econômica, predominará o regime público ou o privado. É certo que a ECT é empresa pública, pessoa jurídica de direito privado, prestadora de serviço postal, que, conforme o art. 21, X, da CRFB, é de natureza pública e essencial, encontrando-se aquela empresa, por isso, sob o domínio do regime público. Ela é mantida pela União e seus bens pertencem a essa mantenedora, consubstanciam propriedade pública e estão integrados à prestação de serviço público. Daí que eles são insusceptíveis de qualquer constrição que afete a continuidade, regularidade e qualidade da prestação do serviço. Nesse contexto, vê-se que é plenamente justificada a tutela a bens, serviços e interesses da União diante do furto de bem pertencente à ECT, razãopela qual se atraiu a competência da Justiça Federal (art. 109, IV, da CRFB), vista a conexão entre o furto (principal) e a receptação em questão (acessório). Também se acha albergada nessa tutela a incidência da referida majorante, não se podendo falar que foi dada, no caso, uma interpretação extensiva desfavorável ao conceito de bens da União. (...) Precedentes citados do STF: AgRg no RE 393.032-MG, DJe 18/12/2009; RE 398.630-SP, DJ 17/9/2004, e QO na ACO 765-RJ, DJe 4/9/2009.” (REsp 894.730 Rel. originária Min. Laurita Vaz, Rel. para acórdão Min. Arnaldo Esteves Lima) Além disso, encontramos na jurisprudência do STF uma tendência a se aplicar algumas prerrogativas de direito público às empresas estatais que prestam serviços públicos em regime não concorrencial. Apenas para se ter uma ideia, tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto o Supremo Tribunal Federal entenderam que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em que pese ser constituída sob a forma de empresa pública, está abrangida dentro do conceito de Fazenda Pública. É que, por prestar de forma exclusiva serviço público de competência da União (art. 21, inciso X, da CRFB), não desempenha a ECT atividade econômica, segundo entenderam os julgadores. Assim, os Correios estariam incluídos no conceito de Fazenda Pública, gozando de todos os benefícios e prerrogativas processuais inerentes, conforme sedimentou o STF: “(...) 2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal declarou, quando do julgamento do RE 220.906, Relator o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ 14.11.2002, à vista do disposto no artigo 6o do decreto-lei nº 509/69, que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é "pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, que explora serviço de competência da União" (CRFB, artigo 21, X)”. (STF, ACO 765, Rel. Min. MARCO AURÉLIO) Ainda é cedo para se afirmar que toda e qualquer empresa estatal que preste serviço público em regime não concorrencial deve ser considerada como ente integrante da Fazenda Pública e, portanto, ter seus bens submetidos a tal regime jurídico. Contudo, é cada vez mais comum o deferimento de benefícios aplicáveis apenas às pessoas jurídicas de direito público também a empresas estatais. A título de exemplo, analisando o caso concreto referente à Companhia de Águas do Estado de Alagoas, o STF entendeu ser possível a sujeição das execuções desta ao regime de precatórios. Em decisão divulgada no Info nº 812, o STF entendeu que às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial devem ser aplicadas o regime de precatórios. Neste sentido: “Agravo regimental no recurso extraordinário. Constitucional. Sociedade de economia mista. Regime de precatório. Possibilidade. Prestação de serviço público próprio do Estado. Natureza não concorrencial. Precedentes. 1. A jurisprudência da Suprema Corte é no sentido da aplicabilidade do regime de precatório às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. 2. A CASAL, sociedade de economia mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento no Estado do Alagoas, presta serviço público primário e em regime de exclusividade, o qual corresponde à própria atuação do estado, haja vista não visar à obtenção de lucro e deter capital social majoritariamente estatal. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido.” (RExt 852.302, Rel. Min. DIAS TOFFOLI) Gabarito: letra “B”. (FCC - Juiz Estadual/TJ PI/2015) Nos termos do Código Civil, é consequência do caráter de “uso comum do povo” de um bem público, por contraste com os bens dominicais, a: a) possibilidade de integrar o patrimônio de pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado. b) necessária gratuidade do uso. c) impossibilidade de alienação. d) insuscetibilidade à usucapião. e) possibilidade de integrar o patrimônio de pessoas jurídicas da Administração Direta. Comentários: Para que um bem de uso comum do povo possa ser alienado, necessária a sua desafetação de uma finalidade pública. Por outro lado, os bens dominicais já estão desafetados e, portanto, passíveis de alienação, observados os requisitos legais. Gabarito: letra “C”. (FCC - Procurador do Tribunal de Contas de Rondônia/TCE RO/2010) Dentre as características inerentes ao regime jurídico aplicável aos bens públicos pode-se afirmar que: a) a inalienabilidade aplica-se aos bens de uso comum do povo e aos bens de uso especial enquanto conservarem essa qualificação, passando a condição de alienáveis com a desafetação. b) a inalienabilidade é absoluta, na medida em que a alienação de todo e qualquer bem público pressupõe sua prévia desafetação e ingresso no regime jurídico de direito privado. c) a impenhorabilidade é absoluta, aplicando-se indistintamente a todos os bens de titularidade da Administração Direta e Indireta. d) a imprescritibilidade é relativa, na medida em que os bens dominicais da Administração Direta podem ser objeto de usucapião. e) tanto a impenhorabilidade quanto a imprescritibilidade são relativas em relação a Administração Direta, uma vez que aplicáveis apenas e tão somente aos bens de uso comum do povo e bens de uso especial. Comentários: Como característica dos bens públicos, temos a inalienabilidade. Os bens públicos, em geral, não podem ter a sua propriedade transmitida. Entretanto, essa característica, diferentemente da imprescritibilidade, não é absoluta. Há a possibilidade de um bem público ser alienado, nos termos dos artigos 100 e 101 do Código Civil: Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Gabarito: letra “A”. (FCC - Procurador do Estado do Mato Grosso/PGE MT/2011) Os bens imóveis pertencentes à Administração Pública: a) são inalienáveis, quando de uso comum do povo e de uso especial, enquanto mantida a afetação ao serviço público. b) podem ser alienados mediante autorização legal prévia, exceto os bens dominicais. c) são impenhoráveis, exceto os de titularidade de autarquias e fundações. d) não podem ser objeto de subsequente afetação a serviço público, quando anteriormente de uso privativo da Administração. e) podem ser objeto de utilização por particular, total ou parcial, desde que em caráter precário e a título oneroso. Comentários: A alternativa correta pode ser verificada a partir do artigo 100 do Código Civil: Art. 100 - Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Gabarito: letra “A”. 5 - AFETAÇÃO X DESAFETAÇÃO A afetação e a desafetação são fatos administrativos dinâmicos que indicam a alteração das finalidades do bem público. Também podem ser denominados de consagração ou desconsagração. Importante se estudar o instituto da afetação eis que possui consequência direta na inalienabilidade do bem público. Os bens públicos afetados (que possuem uma destinação específica) não podem, enquanto permanecerem nesta situação ser alienados. Assim, os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial não são suscetíveis de alienação enquanto assim estiverem destinados. Por outro lado, acaso ocorra a sua desafetação, tais bens serão considerados bens dominicais e poderão ser alienados, por não estarem afetados a um fim público. Apesar da afetação ser possível pela simples destinação do bem, pelo uso, a desafetação não é admitida pela doutrina pelo simples fato do não uso. Para o professor Celso Antônio Bandeira de Melo em virtude do instituto da desafetação retirar a proteção do bem público quanto a indisponibilidade e inalienabilidade, tornando-o mais vulnerável às ingerênciasadministrativas, seria necessária uma maior cautela para que esse bem fosse desafetado. Para o Autor em caso de desafetação de um: a) Bem de uso comum do povo – seria necessária uma lei ou um ato do Executivo previamente autorizado por lei; b) Bem de uso especial – trata-se de situação mais amena, sendo necessária uma lei ou um ato do Poder Executivo. Ressalte-se que o fato de os bens públicos estarem desafetados não interfere nas características de impenhorabilidade e imprescritibilidade. Tais bens continuam sendo impenhoráveis e não passíveis de usucapião. A afetação ou desafetação expressa é veiculada por lei ou ato administrativo, enquanto a tácita é realizada por atuação direta da Administração, sem manifestação expressa de sua vontade, ou em razão de fenômeno natural. A título de exemplo, o Poder Público, pretendendo instalar escola pública, pode editar um decreto destinando determinado imóvel para tal finalidade (afetação expressa) ou, simplesmente, instalar de fato a escola no imóvel de sua propriedade sem qualquer manifestação prévia de vontade (afetação tácita). Por outro lado, pode ocorrer a afetação ou desafetação em razão de fenômenos naturais, como um terremoto que destruiu uma repartição pública (desafetação tácita) ou uma ilha que se formou naturalmente, em razão de depósito de sedimentos em área pertencente a ente público, passando a ser de uso comum do povo (afetação tácita). Já em alguns casos os bens públicos podem ser afetados ao uso comum em razão da sua própria natureza ou do seu destino natural (ex.: mares e rios). Por fim, conforme afirmou a FCC (MPE-PB 2015): Na desafetação, o bem é subtraído à dominialidade pública para ser incorporado ao domínio privado, do Estado ou do administrado. Em muitas questões de concursos, as bancas procuram confundir o candidato quanto ao tema bens públicos. Basicamente se discute a natureza jurídica dos bens das sociedades de economia mista e das empresas públicas. Estas, a princípio devem ser consideradas entes privados nos termos do artigo 173 da Constituição Federal: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; Assim, se privados os bens das empresas estatais, a eles não se aplica o regime jurídico relativo aos bens públicos. Encontramos, inclusive, julgados no Supremo Tribunal Federal neste sentido: CONSTITUCIONAL. ATO DO TCU QUE DETERMINA TOMADA DE CONTAS ESPECIAL DE EMPREGADO DO BANCO DO BRASIL - DISTRIBUIDORA DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS S.A., SUBSIDIÁRIA DO BANCO DO BRASIL, PARA APURAÇÃO DE "PREJUÍZO CAUSADO EM DECORRÊNCIA DE OPERAÇÕES REALIZADAS NO MERCADO FUTURO DE ÍNDICES BOVESPA". ALEGADA INCOMPATIBILIDADE DESSE PROCEDIMENTO COM O REGIME JURÍDICO DA CLT, REGIME AO QUAL ESTÃO SUBMETIDOS OS EMPREGADOS DO BANCO. O PREJUÍZO AO ERÁRIO SERIA INDIRETO, ATINGINDO PRIMEIRO OS ACIONISTAS. O TCU NÃO TEM COMPETÊNCIA PARA JULGAR AS CONTAS DOS ADMINISTRADORES DE ENTIDADES DE DIREITO PRIVADO. A PARTICIPAÇÃO MAJORITÁRIA DO ESTADO NA COMPOSIÇÃO DO CAPITAL NÃO TRANSMUDA SEUS BENS EM PÚBLICOS. OS BENS E VALORES QUESTIONADOS NÃO SÃO OS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, MAS OS GERIDOS CONSIDERANDO-SE A ATIVIDADE BANCÁRIA POR DEPÓSITOS http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art22 DE TERCEIROS E ADMINISTRADOS PELO BANCO COMERCIALMENTE. ATIVIDADE TIPICAMENTE PRIVADA, DESENVOLVIDA POR ENTIDADE CUJO CONTROLE ACIONÁRIO É DA UNIÃO. AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE AO IMPETRADO PARA EXIGIR INSTAURAÇÃO DE TOMADA DE CONTAS ESPECIAL AO IMPETRANTE. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO. (MS 23.875, Rel. Min. CARLOS VELLOSO) (sem grifos no original) (PGT, Procurador, 2006 - adaptada) Julgue o item que segue: ( ) os bens dominicais não são passíveis de afetação. Comentários: Os bens dominicais são bens que, embora constituam patrimônio público, não possuem uma destinação pública determinada mas podem vir a ter. Exemplos: terras devolutas, prédios públicos desativados e móveis inservíveis. Gabarito: Incorreta. (PGT, Procurador, 2006 - adaptada) Julgue o item que segue: ( ) afetação é a destinação do bem público à satisfação das necessidades coletivas e estatais, do que deriva sua inalienabilidade, decorrendo da própria natureza do bem ou de um ato estatal unilateral. Comentários: O item expõe o significado doutrinário de afetação. Gabarito: Correto. 6 - ALIENAÇÃO A alienação de bens públicos é a transferência de sua propriedade a terceiros. Como já visto, os bens públicos são sujeitos à alienabilidade condicionada (podem ser alienados desde que desafetados e observados os requisitos legais), salvo os casos em que isto é materialmente impossível (ex.: não é possível alienar o mar). As regras básicas sobre alienação de bens públicos estão dispostas nos arts. 17 a 19 da Lei de Licitações e Contratos (Lei nº 8.666/1993). De acordo com o artigo 100, do Código Civil: Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Assim, os bens de uso comum do povo e de uso especial seriam inalienáveis, salvo se perderem tal condição transmudando-se para bens dominicais. Estes, nos termos do artigo 101, do Código Civil, podem ser alienados, observadas as exigências da lei: Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Os bens dominicais, como já comentado, são aqueles bens do Estado que são desafetados, não possuem uma destinação pública específica e que podem ser utilizados pela Administração Pública para fazer renda. É possível inferir, portanto, que tais bens são bens patrimoniais disponíveis, diante da sua natureza patrimonial e da não afetação a determinada finalidade pública. Tais bens podem sim ser alienados, respeitando as condições legais. No caso de bens públicos imóveis, a alienação dependerá da existência dos seguintes requisitos: a) interesse público devidamente justificado; b) avaliação prévia; c) autorização legislativa; e d) licitação na modalidade concorrência (que é dispensada nas hipóteses previstas no art. 17, I, da Lei nº 8.666/1993 e no caso de retrocessão). Se o imóvel tiver sido adquirido por meio de procedimentos judiciais ou dação em pagamento, não haverá necessidade de autorização legislativa, e o poder público, além da concorrência, também poderá aliená-lo por meio de leilão, nos termos do art. 19 da Lei nº 8.666/1993. Quando se tratar da alienação de bens públicos móveis, a autorização legislativa não é necessária. Os requisitos exigidos são: a) interesse público; b) avaliação prévia; e c) licitação, que será dispensada nas hipóteses contempladas no art. 17, II, da Lei nº 8.666/1993. No caso de alienação de bens móveis, a Lei alude apenas a licitação, o que poderia levar à interpretação de que a modalidade licitatória dependeria do valor de avaliação do bem. Não obstante, pensamos que o melhor entendimento é o de Marçal Justen Filho6, segundo o qual a alienação de bens móveis só pode ser feita por meio das modalidades licitatórias do leilão ou da concorrência, uma vez que o convite e a tomada de preços são modalidades que restringem a livre participação de interessados.
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