Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 1 Tributos e suas Espécies / Princípios Constitucionais. Definição: “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (CTN, art. 3º). Convém examinar, isoladamente, os diversos elementos que compõem a definição positivada no art. 3º do CTN, a saber: Toda prestação pecuniária. Esse primeiro segmento do referenciado conceito exalta a regra geral de que o tributo, ordinariamente, se satisfaz com a entrega de dinheiro aos cofres públicos. Ressalta, pois, o objeto de toda e qualquer obrigação tributária principal, cuja natureza é eminentemente patrimonial. Traduzido na terminologia do Direito Privado, o tributo consiste numa obrigação de dar dinheiro ao Estado, onde o verbo dar é empregado não no sentido de singela doação (liberalidade), mas no sentido de adimplemento de um dever jurídico. Quando o valor tributário estiver expresso em moeda estrangeira, a sua conversibilidade em moeda nacional será obrigatória para a autoridade administrativa que praticar o lançamento, ex vi do art. 143 do CTN. Logo, com vistas no conteúdo do art. 143 do CTN, pode-se dizer que se aplica, no campo tributário, o cânone segundo o qual debitor debit solvere in moneta praecisa in qua est obligatus, ou seja, a obrigação tributária corresponde a uma obrigação de pagamento em moeda nacional. Compulsória. Muito embora pareça despicienda a qualificação da prestação pecuniária como de caráter compulsório, a verdade é que esse traço assume uma dimensão e um significado conceitual imprescindíveis, vez que se consubstancia na marca maior do tributo, manifestada pelo dever jurídico de entregar (= dar) dinheiro aos cofres públicos nascer, não da vontade das partes (obligatio ex voluntate), mas da vontade da lei (obligatio ex lege)[1]. Ou seja, o fato que gera a obrigação tributária não nasce da vontade do indivíduo, é obrigatório e previsto em lei. Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir. Nesse ponto, parece-nos que não foi extremamente feliz o nosso legislador, porquanto, como bem vislumbrado por Carvalho, “comete dois erros grosseiros: primeiro, ao repetir o caráter pecuniário da prestação. Se já disse que se trata de uma prestação pecuniária, para que insistir com a locução ‘em moeda’? Segundo, ao agregar a cláusula ‘ou cujo valor nela se possa https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn1 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 2 exprimir’, pois com isso ampliou exageradamente o âmbito das prestações tributárias”[2]. Realmente, inicia esse segmento com uma expressão pleonástica – “em moeda” –, pois, como já se viu, uma prestação pecuniária nada mais é do que uma prestação em dinheiro, em moeda. Já com a alternativa que a oração seguinte encerra, acaba viabilizando a construção de equivocados entendimentos de que o tributo poderia ser pago das mais variadas formas, vez que quase todos os bens são suscetíveis de avaliação pecuniária, principalmente o trabalho humano. Que não constitua sanção de ato ilícito. Este preceptivo legal deixa clara a distinção entre uma penalidade pecuniária e um tributo: enquanto o primeiro tem como hipótese de incidência um ato ilícito, o segundo jamais pode contemplar uma ilicitude em sua hipótese de incidência. Tributo não pode assumir a roupagem de penalidade, de uma sanção e/ou um castigo aplicado ao contribuinte pela prática de um ato ilícito. Portanto, multa e tributo são elementos teleologicamente distintos e inconfundíveis[3]. Todavia, sempre bom lembrar que o fato gerador in concreto (fato imponível) pode ser fruto de uma circunstância ilícita, sem com isso impor comprometimento à subsistência digna do tributo no ordenamento jurídico. Para elucidar a assertiva acima, tomemos como exemplo o IPTU. O fato gerador in abstracto (hipótese de incidência tributária) desse imposto de competência privativa dos Municípios (CF, art. 156, I) é “a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município”. Sob essa ótica, qualquer pessoa, seja ela um traficante ou a dona de um prostíbulo, encontram-se obrigadas ao pagamento do IPTU, isso porque o tributo não tem cheiro (tributum non olet), pouco importando para fins da referida incidência tributária se o bem imóvel foi adquirido com dinheiro ganho mediante uma atividade ilícita. Instituída em lei. Somente a lei pode instituir tributos. Trata-se de exigência que deita raízes no cânone da estrita legalidade tributária, insculpido no art. 150, I, da Carta Magna de 1988, o qual veda a quaisquer das entidades tributantes instituir ou majorar tributos sem lei que o estabeleça. O princípio da legalidade é pedra basilar do Estado de Direito. Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Atos administrativos vinculados ou regrados, conforme já ensinava Meirelles, “são aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua realização”[4]. Contrapõe-se, pois, aos denominados atos administrativos discricionários, qualificados por meio da valoração subjetiva, dos critérios da oportunidade, conveniência, razoabilidade, proporcionalidade, boa-fé e lealdade, consoante predica o magistério de Lúcia Valle Figueiredo. Afirmar que o tributo deve ser cobrado mediante uma atividade administrativa plenamente vinculada consiste em dizer que, ocorrendo a perfeita subsunção do conceito do fato ao conceito da norma (como https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn2 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn3 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn4 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 3 precisa Karl Engisch), a autoridade administrativa tem o dever de apurá-lo, de constituir o crédito tributário correspondente através do lançamento, e de exigir o cumprimento da obrigação pelo contribuinte; inexistindo, portanto, qualquer juízo de oportunidade e conveniência a esse respeito (= ausência de discricionariedade). o CTN, em seu art. 142, parágrafo único, categoricamente preceitua que “a atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional”. Vale lembrar que é através do lançamento que a autoridade administrativa constitui todo e qualquer crédito tributário, isto é, verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária correspondente, determina a matéria tributável, calcula ou por outra forma define o quantum do tributo devido, identifica o sujeito passivo e, se for o caso, propõe a aplicação da penalidade cabível (inteligência do art. 142, caput, do CTN). Espécies Tributárias: Conforme a Constituição, revela-se incensurável a afirmação de que nossa Norma Fundamental explicitamente recepcionou cinco espécies tributárias autônomas, a saber: a) impostos (CF, art. 145, I); b) taxas (CF, art. 145, II); c) contribuições de melhoria (CF, art. 145, III); d) empréstimos compulsórios (CF, art. 148); e e) contribuições sociais, também conhecidas como contribuições especiais ou parafiscais (CF, art. 149). Impostos: A definição de imposto, no Direito Tributário brasileiro, por longo tempo sofreu marcante influência da Ciência das Finanças, a qual estuda o tributo sob aperspectiva econômica. Voltando-se as atenções ao campo puramente jurídico, imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica relativa ao contribuinte (CTN, art. 16), ou melhor, ressaltando-se o caráter que lhe confere a tônica no sistema, é o imposto, pois, a única espécie de tributo não-vinculado existente em nosso ordenamento jurídico. O imposto configura um tributo exclusivamente relacionado com a pessoa do contribuinte, ou seja, a lei instituidora dessa exação há de tomar em consideração alguma situação fática relativa a este, como o fato de o mesmo auferir um rendimento, possuir um bem, realizar um consumo, conferindo-lhe o dever de carrear dinheiro aos cofres públicos, a título de determinado imposto. O pressuposto de fato eleito como núcleo do aspecto material da hipótese de incidência de um imposto, todavia, não pode ser um fato qualquer, mas sim um fato de natureza econômica, revelador da indispensável capacidade contributiva do sujeito passivo. Com o mesmo timbre, assevera Valdés Costa que “el hecho elegido por el legislador no es un hecho cualquiera de la vida, sino que está caracterizado por su naturaleza Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 4 economica reveladora de capacidad contributiva, por lo menos, de la posibilidad material de contribuir a los gastos públicos”[5]. Dizer que o imposto é um tributo não-vinculado significa que sua hipótese de incidência não se encontra ligada a uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte (= ausência de contraprestação estatal). Por sua vez, quando se fala em atividade administrativa vinculada (CTN, art. 3º, parte final), o que se quer ressaltar é que a cobrança de um tributo é sempre vinculada à lei (= impossibilidade de discricionarismo das autoridades administrativas nessa seara). Taxa: Para mais cômoda análise dessa espécie tributária, bem como de suas subespécies consagradas pelo Sistema Tributário Nacional, convém transcrever a sua regra-matriz estampada na Lei Maior: “Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: (...) II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição”. De um modo geral, tem-se entendido que a taxa configura uma obrigação legal cuja hipótese de incidência encontra-se vinculada a uma atividade estatal imediata e diretamente vinculada ao contribuinte. Essa atuação, consoante reza a regra-matriz das taxas (CF/88, art. 145, II), pode consistir num serviço público ou num ato de polícia. Daí as duas modalidades de taxas encontradas em nosso ordenamento jurídico e passíveis de instituição: as taxas de serviço (que encontram suporte fático na realização de serviços públicos compulsoriamente fruíveis) e as denominadas taxas de polícia (cujo suporte fático reside no exercício regular de poder de polícia por parte da Administração Pública). Com efeito, a hipótese de incidência das taxas só pode residir num destes dois fatos típicos, disciplinados pelo Direito Público: I – prestação de serviço público; e II – o exercício regular do poder de polícia. Diferentemente da taxa de serviço, que comporta compulsória cobrança quando da utilização “efetiva” ou “potencial” de serviço público prestado ou posto à disposição do contribuinte, a mera potencialidade ou utilização potencial do exercício regular do poder de polícia não autoriza a pessoa política a exigir esta modalidade de taxa, como se depreende do lídimo teor do inc. II do art. 145 do Texto Magno. Ainda em relação à “taxa de polícia”, insta consignar, com apoio na arguta lição de Bernardo Ribeiro de Moraes, que o poder de polícia consubstancia um dos fatos geradores genéricos da taxa, isto é, não existe apenas uma taxa baseada no poder de polícia, mas uma invariabilidade de taxas que abstratamente podem ser instituídas com supedâneo no diferente ato de polícia que venha a ser exercido (v. g., taxa de https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn5 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 5 licença para localização e funcionamento, taxa de licença para publicidade, taxa de licença para construções, arruamentos e loteamentos, taxa de inspeção ou de vistoria, taxa para porte de armas, etc.). Eis que cumpre perquirir: o que há de ser considerado poder de polícia factível de figurar como fato gerador de uma taxa? Tomando de empréstimo as palavras utilizadas pelo CTN, em seu art. 78: “considera- se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Contribuição de melhoria: A contribuição de melhoria é uma espécie tributária que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal indiretamente referida ao contribuinte, consistente na valorização imobiliária decorrente de obra pública (inteligência do art. 145, III, da Constituição c/c art. 81 do CTN). Fácil perceber, à luz de sua regra-matriz constitucional, que a cobrança de contribuição de melhoria, embora derive de obra pública, fica à mercê de mais um elemento, genuinamente afeto à sua hipótese de incidência: valorização imobiliária como corolário dessa atuação estatal. Em outros termos, realização de obra pública que não traga valorização do imóvel do contribuinte não comporta cobrança de contribuição de melhoria, assim como qualquer valorização imobiliária que não decorra de uma obra pública (v. g., realização de benfeitorias úteis, voluptuárias ou necessárias) não serve de suporte fático de cobrança dessa espécie tributária. Eis a razão pela qual a contribuição de melhoria é considerada um tributo indireta e mediatamente vinculado a uma atuação estatal que, in casu, é a obra pública. Obra pública, como pontifica Celso Antônio Bandeira de Mello, é a “construção, reparação, edificação ou ampliação de um bem imóvel pertencente ou incorporado ao domínio público”[6]. Em tese, qualquer obra pública que implique reflexa valorização imobiliária viabiliza a tributação por meio de contribuição de melhoria. Embora a Constituição de 1988 apenas acentue sobre a outorga de competência para instituir contribuição de melhoria “decorrente de obra pública”, parece-nos certo, com vistas à manutenção da lógica do sistema, que, sem a valorização dos imóveis circunvizinhos, seus proprietários não podem ser compelidos a recolher tal exação. https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn6 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 6 Será devida a contribuição de melhoria, na hipótese de um imóvel de propriedade privada experimentar uma mais-valia, em virtude de quaisquer das seguintes obras públicas (Decreto-lei n. 195/67, art. 2º): I – abertura, alargamento, pavimentação, iluminação, arborização, esgotos pluviais e outros melhoramentos de praças e vias públicas; II – construção e ampliação de parques, campos de desportos, pontes, túneis e viadutos; III – construção ou ampliação de sistemas de trânsito rápido, inclusive todas as obras e edificações necessárias ao funcionamento do sistema; IV – serviços e obras de abastecimento de água potável, esgotos,instalações de redes elétricas, telefônicas, transportes e comunicações em geral ou de suprimento de gás, funiculares, ascensores e instalações de comodidade pública; V – proteção contra secas, inundações, erosão, ressacas, e de saneamento e drenagem em geral, diques, cais, desobstrução de barras, portos e canais, retificação e regularização de cursos d’água e irrigação; VI – construção de estradas de ferro e construção, pavimentação e melhoramento de estradas de rodagem; VII – construção de aeródromos e aeroportos e seus acessos; VIII – aterros e realizações de embelezamento em geral, inclusive desapropriações em desenvolvimento de plano de aspecto paisagístico. Não se pode, pois, confundir com o IPTU ou o ITR, crescendo de importância, sob o prisma da tipologia tributária, a mais-valia do imóvel decorrente de obra pública. Daí a razão pela qual entendemos que, data maxima venia, sem a demandada valorização imobiliária, desaparece toda e qualquer possibilidade de se instituir validamente uma contribuição de melhoria, ainda que diante de concreta realização de obra pública pela pessoa política. Tecnicamente falando, a hipótese de incidência da contribuição de melhoria não é ser proprietário de imóvel territorial urbano ou rural, mas, sim, ser proprietário de imóvel (urbano ou rural) efetivamente valorizado por conta da realização de uma obra pública. Sua base de cálculo, como consectário lógico-natural, não é e nem pode ser o valor do imóvel, mas sim o quantum da valorização (mais-valia) experimentada pelo imóvel em decorrência da obra pública realizada, ou melhor, é “o incremento valorativo que a obra pública propicia ao imóvel do contribuinte”[7] https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn7 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 7 Empréstimo Compulsório: Os exatos e bem delineados contornos jurídicos dessa espécie tributária encontram-se esculpidos no art. 148 da Constituição, que dispõe: Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I – para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II – no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. Trata-se, fácil perceber, de tributo de competência privativa da União, cujo legislador, quanto à sua instituição, obrigatoriamente há de observar um pressuposto de ordem formal (uso de lei complementar) e material (só pode atender aos casos ventilados nos incisos I e II do art. 148), cuja validade finalística lhe é inerente – toda receita deve ser aplicada à despesa que serviu de fundamento de validade de sua instituição. Se o contribuinte puder demonstrar que o produto da arrecadação do empréstimo compulsório que pagou não foi aplicado para cobrir a despesa que lhe serviu de causa determinante, como apontado na lei complementar que o instituiu, nasce ao contribuinte o direito subjetivo, observado o prazo prescricional, de propor a competente ação de repetição de indébito, ou, em caso de prestações vincendas a pagar, poderá manejar competente medida judicial, visando suspender a sua exigibilidade. Essa destinação do produto da arrecadação, analisada mais a fundo, serve de limitação ao poder de tributar, habitando o patrimônio jurídico dos contribuintes pátrios, mormente porque faz parte da natureza jurídico-constitucional dos empréstimos compulsórios. É ela que impede que o contribuinte se torne devedor ad aeternum desse tributo uma vez instituído. Com efeito, o empréstimo compulsório só é exigível enquanto perdurar o pressuposto constitucional que ensejou sua cobrança. Desaparecendo sua causa determinante, sua exigibilidade não mais encontrará qualquer fundamento de validade. Diferentemente dos impostos, o empréstimo compulsório exsurge no sistema como um tributo indispensavelmente vinculado a uma despesa específica que lhe serve de fundamento de validade, inaplicando-se, assim, a vedação do inc. IV do art. 167 da Lei Maior. Não só pode como deve, necessária e obrigatoriamente, ter tal vinculação. Contribuições sociais: Além da contribuição de melhoria, a Constituição prevê outras contribuições em seu art. 149, nos seguintes moldes: “Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo”. Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 8 Dispõe ainda o § 1º do mesmo diploma legal que “os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União”. Em sua redação originária, o art. 149 contemplava um único parágrafo. Por força da Emenda Constitucional n. 33, de 11-12-2001, contudo, foram acrescidos os §§ 2º, 3º e 4º, com a seguinte redação: § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: I – não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; II – incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; III – poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada. § 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei. § 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única vez. Como se não bastasse, em 19 de dezembro de 2003, por conta da aprovação da Emenda Constitucional n. 39, concebeu-se o acréscimo do art. 149-A aos preceitos da Lei Maior, passando-se a outorgar facultativamente aos Municípios e ao Distrito Federal o direito de instituírem “contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III”. As contribuições sociais do art. 149 e 149-A chamam logo a atenção pelo fato de não terem suas matrizes esboçadas na Constituição de 1988 (ressalvando-se as contribuições à seguridade social a que alude o art. 195), qualificando-se constitucionalmente como tributos finalisticamente vinculados, ou seja, configuram exações genuinamente voltadas a servir de instrumento à consecução de fins ou custeio de despesas/programas determinados. Assim, diante da vigente Constituição, pode-se conceituar a contribuição social como espécie de tributo com finalidade constitucionalmente definida, a saber: intervenção no domínio econômico, interesse de categorias profissionais ou econômicas, custeio da seguridade social e do serviço de iluminação pública. Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 9 As contribuições de intervenção no domínio econômico (representadas pela sigla CIDE) são tributos que só atingem, à obviedade, setores delimitados da atividade econômica (v. g., contribuição ao INCRA e ao SEBRAE, segundo entendimento do STJ e STF), visando assegurar a livre concorrência, a preservação do meio ambiente, a defesa do consumidor, etc. Quanto à especificidade da sujeição passiva, ressalta Roque Carrazza que “apenas quem explora, sob regimede direito privado, a atividade econômica objeto de regulação estatal pode ser compelido a pagar a específica ‘contribuição de intervenção no domínio econômico’”[8] Diz-se de categoria profissional ou econômica, a contribuição voltada a subsidiar a organização de classes profissionais ou econômicas, fornecendo recursos financeiros indispensáveis à manutenção da entidade associativa. Também conhecidas como contribuições corporativas, assumem, muitas das vezes, a feição de tributo de captação, ou seja, cada cabeça um tanto correspondente. Logo, somente as pessoas (físicas ou jurídicas) que estiverem diretamente relacionadas com a atividade profissional ou econômica que se pretenda disciplinar é que podem figurar no campo da sujeição passiva dessa exação. É o caso das contribuições pagas à OAB, CREA, CRM, SESC, SENAC, SESI, SENAI, SENAR, etc. Por sua vez, contribuições à seguridade social (vulgarmente chamadas de contribuições previdenciárias) são aquelas voltadas a custear o tripé da seguridade social: saúde, previdência e assistência social (CF, art. 194). Portanto, escapa-lhe, do ponto de vista formal e objetivo, o custeio de finalidades que não lhe são peculiares, tais como auxiliar o direito à educação, à habitação e outros que compõem o complexo da ordem social e que são alvo das contribuições sociais gerais. Constitui subespécie de contribuições sociais cujo regime jurídico tem suas bases mais bem definidas na vigente Constituição. As bases do particular regime jurídico que mencionamos encontram-se definidas pelos artigos 195, I, II, III, e seu § 6º, e ainda pelos arts. 165, § 5º e 194, VII. Tais contribuições caracterizam-se, portanto, pelo fato de ingressarem a um orçamento próprio (o da seguridade social), isto é, a um orçamento que não se confunde com o orçamento do Tesouro Nacional, bem como por estarem submetidas a uma regra especial de eficácia normativa, centrada exclusivamente num prazo de noventa dias a contar da data de publicação da lei que as instituir ou majorar (denominado de princípio da anterioridade nonagesimal, especial, mitigada). [1] Definição de Dino Jarach, ao conceber o tributo como “uma prestación coactiva por parte de los particulares al Estado (...)” (El hecho imponible. 3. Ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1982.p.9) [2] CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 18 ed. São Paulo. pag. 25. https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftn8 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref1 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref2 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 10 [3] O STF deixou assentado ao julgar o RExt 90.834-0/MG, STF, 2ª Turma, rel. Min. Djaci Falcão. www.stf.jus.br [4] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20. Ed. São Paulo: Malheiros, 1995. P.149. [5] COSTA, Ramón Valdés. Cusrso de derecho tributário. 3. Ed. Bogotá: Temis, 2001. Pag.. 114 [6] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, p. 609. [7] CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional, p. 373. [8] CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional. Pag. 394. https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref3 http://www.stf.jus.br/ http://www.stf.jus.br/ https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref4 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref5 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref6 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref7 https://d.docs.live.net/a67c339dd85f2b2e/P%C3%B3s_Estratego/2020.1/30_03_20_Direito_Contabilidade_Tributaria/Apostila_Direito_Contabilidade_tribut%C3%A1ria.docx#_ftnref8 Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 11 Princípios Constitucionais Tributários Serão apresentados os princípios constitucionais tributários e também a hierarquia das leis brasileiras, com a explicação sobre o que significa cada tipo de normativo. Ao final do capítulo, será possível: a. Identificar e compreender a importância dos princípios constitucionais tributários, associando-os a alguns casos aplicáveis no sistema tributário vigente. b. Entender como funciona o processo de edição de normativos e a função específica de cada um deles. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Somente será possível exigir ou aumentar tributos por meio de Lei que o estabeleça. Assim, não é possível aumentar tributo, seja pela elevação de alíquota, seja pela ampliação de base de cálculo, via fontes chamadas secundárias (instruções normativas, decretos, portarias, atos declaratórios e outras). Todavia, o § 1º do art. 153 da Constituição diz que o Poder Executivo poderá, desde que atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos seguintes impostos: II, IE, IOF e IPI. Portanto, fica de fora da aplicação do princípio da legalidade uma eventual elevação da alíquota destes impostos. Alterações na base de cálculo e no fato gerador têm que ser feitas por lei. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE TRIBUTÁRIA É proibido cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. Em resumo, uma lei que propunha o aumento da alíquota do Imposto de Importação para sucos de frutas a partir de 1º de janeiro de 2020 não poderá ser publicada em data posterior. Se for publicada, por exemplo, no dia 20 de janeiro de 2020, o aumento somente teria validade para os fatos geradores ocorridos a partir desta data. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE Não é permitido que uma lei aumente ou institua um tributo no mesmo ano de sua edição. Assim, um aumento no imposto de renda definido em lei publicada no ano de 2019 somente terá validade a partir de 1º de janeiro de 2020. Esta regra não se aplica aos impostos sobre comércio exterior, IPI e IOF. Já as contribuições sociais (PIS, COFINS, CSLL e CPMF) só podem ser criadas ou aumentadas após completar 90 dias da publicação da Lei. A Emenda Constitucional no 42/ 03 promoveu modificações nas regras referentes ao princípio da anterioridade, acrescentando o prazo de 90 dias para alguns impostos. Assim, é possível dizer que o princípio da anterioridade tem dois desdobramentos: ANUALIDADE, indicando que os tributos NÃO podem ser aumentados, seja por elevação de base ou por aumento de alíquota, no mesmo ano da publicação da lei. Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 12 Assim, aumento no dia 15/ FEV ou no dia 15/ DEZ só entrará em vigor em janeiro do ano seguinte. NOVENTENA ou NONAGESIMAL, indicando que a lei que aumentou tributo só entrará em vigor no mês seguinte após completar 90 dias de sua publicação. Assim, o aumento de alíquota da COFINS em 15/ FEV entrará em vigor a partir de junho do mesmo ano, enquanto aquele aumento de 15/ DEZ só entraria em vigor em abril do ano seguinte. Tributos com fato gerador semanal, como era o caso da CPMF, entram em vigor na semana seguinte à semana em que completar 90 dias de prazo da publicação da lei. Porexemplo, se a contribuição fosse recriada em 2017, com o normativo publicado no dia 2/ MAI/ 17, completaria 90 dias em 30/ JUL/ 17 e entraria em vigor no dia 1o/ AGO/ 17, que é a semana subsequente. As contribuições sociais não seguem as regras da ANUALIDADE, seguindo, no entanto, o princípio NONAGESIMAL. Para alguns impostos e as taxas, que seguem as duas regras, deve ser aplicado o prazo mais longo de entrada em vigor do aumento. A Lei Complementar no 116, publicada em 31/ JUL/ 03, entrou em vigor em JAN/ 04. Se tivesse sido publicada no dia 30/ NOV do mesmo ano, seria aplicada a regra nonagesimal, com o aumento na lista de serviços valendo apenas a partir do mês de MAR/ 04. Para melhor compreensão da aplicação dessas regras em relação aos principais impostos cobrados no Sistema Tributário Nacional, veja o quadro a seguir, elaborado pelos sócios da empresa de consultoria tributária Gaia, Silva, Gaede & Associados, unidade do Rio de Janeiro, e gentilmente cedido pelo amigo Gérson Stocco: Tributos em Espécie - Professor Carlos Maia. FAPAN / FAPEN 13 REGRAS PARA VALIDADE DE NORMATIVOS PROPONDO AUMENTOS EM TRIBUTOS (SEJA POR AMPLIAÇÃO DE BASE OU AUMENTO DE ALÍQUOTAS) Anuidade e Noventena Apenas Anuidade Apenas Noventena Em Vigor Imediatamente Taxas Contribuição de Melhoria ITBI e ITCMD ICMS e ISS IPTU e IPVA (exceto B. Cálculo) ITR e IGF Contribuições, exceto Seg. Social IR Base de Cálculo do IPTU e IPVA IPI CSLL COFINS CPMF INSS PIS/ PASEP II e IE IOF Empréstimo Compulsório Fonte: Gérson Stocco e Gustavo Damázio, sócios da Gaia, Silva, Gaede & Associados. Espécies Tributárias: ANUALIDADE, indicando que os tributos NÃO podem ser aumentados, seja por elevação de base ou por aumento de alíquota, no mesmo ano da publicação da lei. Assim, aumento no dia 15/ FEV ou no dia 15/ DEZ só entrará em vigor em janeiro do ano seguinte.
Compartilhar