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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2018.0000025378 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309, da Comarca de Jundiaí, em que é apelante MARCELO ORRU (JUSTIÇA GRATUITA), são apelados ESPOLIO DE JOSE ANTONIO ORSINI (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA), SORAYA SAVINI ORSINI (INVENTARIANTE) e SIMONE ORSINI MOREIRA. ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RUI CASCALDI (Presidente) e FRANCISCO LOUREIRO. São Paulo, 30 de janeiro de 2018. ENÉAS COSTA GARCIA RELATOR Assinatura Eletrônica TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 2 Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 Apelante: Marcelo Orru Apelados: Espolio de Jose Antonio Orsini, Soraya Savini Orsini e Simone Orsini Moreira Comarca: Jundiaí Juiz: Henrique Nader Voto nº 1.307 Apelação - Embargos de terceiro - Ação proposta por adquirente de imóvel objeto de arresto em ação de dissolução de sociedade com apuração de haveres - Bem comercializado pela sociedade, havendo reconhecimento judicial de que os atos de alienação seriam válidos, a despeito das questões societárias, preservando a boa-fé de terceiros adquirentes - Autor que se enquadra nesta categoria de terceiros que adquiriram bem da sociedade - Elementos de prova, tais como Declaração de Imposto de Renda e notas fiscais de material de construção, que corroboram a data em que celebrado o compromisso de compra e venda - Negócio realizado antes da averbação do arresto ou registro da citação da empresa vendedora na mencionada ação - Empresa que, à época do negócio, estava excluída do pólo passivo da ação em que ocorreu o arresto, somente mais tarde sendo reintroduzida como ré - Presunção de boa-fé do adquirente - Embargos procedentes. Recurso provido. Trata-se de embargos de terceiro interpostos em relação ao arresto de bens determinado nos autos de ação de dissolução de sociedade, alegando o autor que adquiriu o imóvel antes da efetivação do arresto, sendo adquirente de boa-fé, inexistindo fraude ou irregularidade quando da aquisição do bem. Adotado o relatório da r. sentença (fls. 343/347), acrescento que a ação foi julgada improcedente. Recorre o autor (fls. 354/364) alegando que: a) não houve má-fé do apelante; b) os documentos comprovam que o apelante está na posse do imóvel desde 12 de junho de 2007 (fls. 352) e o arresto foi averbado na matrícula do imóvel em 16/03/2009, após 22 meses da aquisição do bem pelo apelante; c) a TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 3 sentença proferida na ação de dissolução, que é posterior à venda (31/08/2008), não declarou nulidade das alienações dos imóveis, pois houve continuidade das atividades do objeto social, o que não torna nula a alienação do lote feita pela sociedade ao embargante; d) a autora do arresto apresentou declaração reconhecendo a aquisição do imóvel pelo embargante. Contrarrazões desentranhadas por determinação judicial (fls. 419). É o relatório. Respeitado o entendimento do MM. Juiz a quo, o inconformismo da parte procede, devendo ser acolhido o recurso. O embargado José Antonio Orsini ingressou com ação de dissolução de sociedade e apuração de haveres contra seus sócios e a empresa TODIBO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS (fls. 17), justamente a empresa proprietária do lote que foi alienado ao embargante (fls. 10/12). No curso desta ação faleceu o autor, passando a figurar no processo o Espólio, tendo como inventariante Soraya e a embargada Simone requereu e obteve seu ingresso no processo como assistente. No curso desta ação foi reconhecido em favor do Espólio direito a haveres na sociedade e, como medida acautelatória, foi determinado arresto de variados lotes que seriam da propriedade da empresa. O caso sub judice envolve um dos lotes pertencentes à pessoa jurídica, que segundo o autor lhe teria sido prometido à venda antes mesmo da efetivação do arresto, razão pela qual pretende o cancelamento da constrição. Figuram no pólo passivo dos embargos o Espólio, que é representado pela inventariante Soraya, e a assistente Simone, pois teria sido a requerente do arresto e seu nome consta do mandado de averbação do arresto na TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 4 matrícula do imóvel. Somente o Espólio contestou os embargos, afirmando que o embargante teria celebrado o contrato após a propositura da ação de dissolução da sociedade, tendo omitido cautelas básicas para aquisição do bem litigioso. O argumento, contudo, não é definitivo. Apesar de a ação de dissolução ter sido proposta em 19/09/2000 (fls. 17) e o contrato de aquisição ser datado de 12/06/2007 (fls. 10/12), cabe considerar que nos autos da dissolução houve decisão judicial que julgou o processo extinto em relação à ré TODIBO, datada de 31/01/2002 (fls. 52/53). A referida pessoa jurídica somente foi reintroduzida no pólo passivo da lide em 31/10/2008 (fls. 78/87), por decisão que considerou equivocada a anterior exclusão da empresa da ação. Portanto, no período de 31/01/2002 a 31/10/2008, a empresa TODIBO sequer constava como ré no processo. Logo, ad argumentandum, se o autor houvesse solicitado certidões do distribuidor a respeito da empresa na época do negócio (2007) sequer constaria a ação de dissolução, na qual posteriormente ocorreu o arresto. Não haveria, portanto, a omissão de cautela mencionada pelo contestante. Conforme a matrícula do imóvel (fls. 13 verso), somente em 21/01/2009 foi realizado o registro da citação da empresa TODIBO e somente em 16/03/2009 foi averbado o arresto, por conta de mandado judicial expedido em 7/11/2008. Como se vê, tanto a ordem de arresto quanto sua TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 5 averbação e mesmo o registro da citação da empresa alienante ocorreram depois da celebração do negócio, o que afasta a alegação de fraude de execução ou ineficácia a alienação de bem arrestado, não constando à época registro sequer da citação da alienante. A r. sentença rejeitou os embargos por considerar que o contrato por si não faria prova da data de sua celebração, não havendo o autor demonstrado efetiva posse do bem. Data venia, há um conjunto de elementos probatórios que permitem concluir que o negócio antecedeu a constrição do bem. Inicialmente cabe considerar a postura da embargada Simone, que não apresentou objeção ao pedido e, pelo contrário, forneceu declaração reconhecendo que o embargante havia adquirido o imóvel na data mencionada na inicial, sendo seu vizinho no mesmo condomínio (fls. 352). A embargada Simone não é a representante legal do Espólio, contudo, é herdeira, figura como assistente, requereu o arresto, o qual foi averbado em seu nome como assistente do de cujus (fls. 13 verso). Figurou na presente ação como embargada e até foi intimada para comparecer à audiência e prestar depoimento, contudo justificou posteriormente sua ausência em razão de problema de saúde com o filho. Sua declaração é elemento a ser considerado, tendo em vista que é diretamente interessada no recebimento do crédito que se procura garantir com o arresto. Por determinação do anterior Relator (fls. 424) o embargante juntou Declarações de Imposto de Renda dos anos de 2007 e 2008 (fls. 428/440). Tanto na Declaração do Ano-Calendário 2007 (fls. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 6 432) quanto do ano 2008 (fls. 438/439) consta na relação de bens o terrenoe, posteriormente, a construção. Não houve objeção do apelado quanto aos documentos juntados. O embargante, para demonstrar a posse e realização de acessão no imóvel, juntou variadas notas fiscais de material de construção, inclusive alguns dos anos de 2007 e 2008 (fls. 245/251), além de outras mais recentes, comprovando realização da obra, que inclusive é mencionada na Declaração de Imposto de Renda. A r. sentença citou documentos relativos ao pagamento de imposto e declaração da Associação de condôminos, segundo os quais somente muito tempo depois o embargante passou a figurar como condômino. O fato pode ser explicado considerando que o autor adquiriu um lote e depois foi realizada a construção do imóvel, o que pode ter levado a parte a somente mais tarde, quando o imóvel estava em condições de habitabilidade, ter requerido providências perante o condomínio. O próprio embargante mencionou que a princípio havia compromisso, com pagamento em parcelas e só mais tarde foi outorgada escritura, o que pode justificar os documentos apresentados. Por fim, constata-se no processo principal, especialmente do v. acórdão que analisou o recurso interposto em relação à decisão que determinou o arresto, que a empresa TODIBO, a despeito do conflito existente entre os sócios, continuou a alienar os lotes do empreendimento, como aliás era seu objeto social. O acórdão reconheceu as variadas alienações, identificando momentos em que estas ocorreram validamente, no período de interdição do sócio, após o ato de retirada, etc, reconhecendo que os terceiros de boa- TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 7 fé não poderiam sofrer prejuízo em razão das questões internas existentes entre os sócios, inclusive sendo invocada a teoria da aparência quanto a atos praticados por sócios que, formalmente, não teriam poder de representação. É natural que uma empresa de empreendimentos imobiliários, até para garantir sua sobrevivência econômica, continue a realizar negócios e dar cumprimento à vendas já realizadas, a despeito do questionamento que posteriormente surgiu quanto a condição dos sócios. As circunstâncias apresentadas indicam que o embargante seria um destes vários adquirentes, cuja boa-fé tem sido reconhecida, validando-se os negócios. Enfim: a) o compromisso teria sido celebrado em cumprimento à atividade comercial da empresa objeto da ação principal; b) apesar de não autenticado, o contrato ostenta data anterior ao arresto; b) outros elementos de prova confirmam a data do compromisso, como Declarações de Imposto de Renda e notas fiscais de material de construção relativas à obra realizada no lote; c) na época em que realizado o negócio estava em vigor a decisão judicial que havia excluído a empresa vendedora Todibo do processo, a qual somente mais tarde foi reintroduzida no pólo passivo; d) uma das herdeiras, responsável pelo arresto, reconhece o direito do embargante quanto ao imóvel sub judice; e) decisão proferida na ação principal reconheceu a validade das alienações realizadas pela empresa, inclusive com recurso à teoria da aparência, protegendo os adquirentes de boa-fé. Por todos estes elementos, alguns trazidos após a sentença, inviabilizando a análise do MM. Juiz, entendo que o recurso deve ser provido, com cancelamento da constrição quanto ao imóvel indicado na inicial, acolhendo-se os embargos, afastada a litigância de má-fé. Considerando que somente o Espólio apresentou objeção ao pedido, deverá responder exclusivamente pelas custas, despesas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em R$ 5.000,00, observada a TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0000541-62.2012.8.26.0309 -Voto nº 1.307 8 assistência judiciária. Tratando-se de sentença proferida antes da vigência do CPC/15, não há lugar para incidência de honorários sucumbenciais recursais, nos termos do Enunciado Administrativo nº 7 do STJ (“Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, §11, do novo CPC”), bem como a fixação de honorários é regida pelas regras do CPC/73, considerando a natureza processual material da verba e o direito adquirido, tal como decidido pelo STJ (REsp 1.465.535/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2016, DJe 22/08/2016). Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao recurso para acolher os embargos e determinar o cancelamento da constrição sobre o imóvel indicado na inicial. Enéas Costa Garcia Relator 2018-01-30T19:20:38+0000 Not specified
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