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Neuroeducação: Fundamentos e Práticas

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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Neuroeducação
Elaboração
Claudia Menezes Nunes
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
NEUROCIÊNCIA ................................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS BÁSICOS DA NEUROCIÊNCIA ......................................................................... 12
CAPÍTULO 2
BASES ANATÔMICAS DA APRENDIZAGEM ................................................................................ 25
CAPÍTULO 3
BASES FISIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM............................................................................... 42
UNIDADE II
NEUROEDUCAÇÃO ............................................................................................................................. 58
CAPÍTULO 1
RELAÇÃO DA NEUROCIÊNCIA COM A EDUCAÇÃO ................................................................ 62
CAPÍTULO 2
COMO O CÉREBRO FUNCIONA PARA APRENDER ................................................................... 71
CAPÍTULO 3
APRENDIZADO E MEMÓRIA .................................................................................................... 82
UNIDADE III
NEUROBIOLOGIA DOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM ................................................................... 96
CAPÍTULO 1
GÊNERO VERSUS CÉREBRO VERSUS APRENDIZAGEM ............................................................ 111
CAPÍTULO 2
EDUCAÇÃO EMOCIONAL E AS ‘DIFERENÇAS SUSPEITAS’ ENTRE MENINOS E MENINAS NO 
RENDIMENTO ESCOLAR ........................................................................................................ 124
PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 137
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 141
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a � m de que o aluno faça uma pausa e re� ita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele veri� que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
re� exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, � lmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
6
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de � xação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e � xação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam veri� car a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certi� cação.
Para (não) � nalizar
Texto integrador, ao � nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
Sejam bem-vindos à disciplina Neuroeducação. E sem delongas vamos iniciar 
apresentando as primeiras ideias desta que será uma disciplina de transformação 
de certezas, de apresentação de novidades e de oportunidade de (re)olhar nossos 
aprendentes em sala de aula de outra forma. Afinal: o cérebro é a principal tecnologia 
com a qual lidamos todos os dias. Então, vamos lá!
A Neurociência é uma ciência nova, que trata do desenvolvimento químico, estrutural, 
funcional e patológico do sistema nervoso. Dentro das várias áreas das Neurociências, 
temos a Neurociência Cognitiva, que atua nos estudos do pensamento, da aprendizagem, 
da memória, do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre memória 
para eventos específicos e para execução de habilidades motoras. Contudo, a Educação, 
a Neurociência e a Aprendizagem estão intimamente ligadas ao desenvolvimento do 
cérebro, o qual se molda de acordo com os estímulos do ambiente. 
Segundo o neurocientista Bear (2006), a memória é a base de todo o saber, ou seja, da 
nossa individualidade, da nossa história, das nossas experiências captadas pelo corpo 
por meio de movimentos e sentidos e, a capacidade de julgamento, planejamento, 
abstração e atenção. Diferentes partes do encéfalo envolvidas no armazenamento de 
determinados tipos de informações formam a memória. Assim sendo, a Neuroeducação 
se tornou uma ferramenta moderna e eficiente para o entendimento do funcionamento 
das bases neuropsicológicas da aprendizagem na construção e transformação do 
conhecimento. 
A neuroeducação vem sendo utilizada, tanto para reconhecer incapacidades de 
aprendizagem, quanto para expandir conhecimentos específicos. E entre suas variadas 
contribuições, instrumentalizar o educador a tornar o ato de aprender e estudar do 
seu estudante mais prazeroso e interessante, pois o cérebro só assimila as informações 
pelos recursos metodológicos atraentes, instigantes, contextualizados e aplicados no dia 
a dia. Logo, é durante a aprendizagem que o cérebro se modifica aos poucos fisiológica e 
estruturalmente comoresultado da experiência, reage aos estímulos do ambiente, onde, 
a cada repetição, cada estímulo, as informações são guardadas em diversas regiões 
do cérebro, solidificando as memórias de longo e curto prazo, que serão futuramente 
resgatadas para novos aprendizados.
Nessa perspectiva, para que ocorra a aprendizagem, o aluno depende de alguns fatores, 
como interesse, estímulo e principalmente atenção. Muitos estudos, com diferentes 
pontos de conversão com a neurociência, têm estabelecidos esquemas importantes 
8
para que os profissionais da educação possam, por exemplo, desenvolver práticas 
pedagógicas significativas e bem atuais. Ainda assim se sabe pouco sobre a relação da 
Neurociência com o aprendizado, mas se pode afirmar que a pedagogia neurocientífica 
está surgindo para responder e sugerir caminhos para a educação do futuro, trazendo 
uma melhor compreensão de como o cérebro aprende. 
E tudo depende do método oferecido aos aprendentes do século XXI cujos processos 
de aprendizagem estão em franco processo de adaptação. Importante se ter então 
capacidade de provocar desafios aos seus aprendentes, de avaliar de forma mais 
interdisciplinar e complexa, de criar momentos de pertencimento e confiabilidade, de 
projetar escutas sensíveis sobre as inteligências em sala de aula, entendendo cada um 
individualmente. É saber avaliar e identificar tudo que ocorre, em um contexto geral, 
com cada aluno, em sala de aula. 
Com a neuroeducação sabe-se, com certeza, que os alunos aprendem de formas diferentes 
e, por isso, um único método não é o ideal para todos e se faz indispensável, adotar 
diversas estratégias de aprendizagem a serem usadas de acordo com a necessidade de 
cada um deles.
Essa é a ideia total desta apostila: romper com a perspectiva do aprendente ideal e 
estabelecer vínculos reais, com aprendentes reais, cujas necessidades de aprendizagem 
são diversas e singulares, porque se coadunam com suas vivências emocionais e 
experiências reais.
Espero que gostem. Espero que tenham uma viagem muito intrigante pelos cérebros 
daqueles que, em formação, precisam de mais atenção, carinho e limites em nossas 
posturas e atitudes profissionais, em geral, todos os dias.
Objetivos
 » Compreender e desenvolver aprofundamentos às questões relacionadas 
ao funcionamento do cérebro e à dinâmica e aos papéis do sistema nervoso 
na recepção de informações, suas interpretações e formas de elaboração 
de respostas em função do acontecimento do processo de aprendizagem, 
ainda que diante dos transtornos de aprendizagem e de desenvolvimento, 
e levando em consideração os diferentes gêneros.
 » Apresentar as bases anatômicas e fisiológicas do cérebro em sua sinergia 
com o mundo de maneira compreender como o aprendente aprender.
9
 » Discutir formas de incentivar a aprendizagem diante dos transtornos, 
principalmente os de desenvolvimento.
 » Ressaltar a importância do conhecimento neurocientífico na proposta de 
estabelecer novos comportamentos no processo de ensinar.
 » Construir um panorama biopsicossocial em que se perceba como o 
aprendente aprende, afinal todos são influenciados e modificados pelas 
experiências no/com o mundo.
 » Adquirir noções da fisiologia do encéfalo e estabelecer relações com os 
fatores biopsicossociais intrínsecos e extrínsecos do desenvolvimento 
humano tais como: o cognitivo, afetivo, emocional e relacional.
 » Facilitar a (re)organização e o (re)equilíbrio do sujeito ao ambiente em 
seu processo de seleção e adaptação ao meio. 
11
UNIDADE INEUROCIÊNCIA
Aprender é uma questão de entendimento neurocientífico dos comportamentos. Desse 
ponto em diante é possível discutir memória, atenção, emoção e cognição, em termos 
psicológicos, sociais e educacionais.
A questão neurocientífica advém da crescente importância da neurociência, dos avanços 
dos estudos neurocientíficos relacionados, por exemplo, às funções mentais superiores, 
suas tensões e retenções, e influências nos processos humanos de ver, ouvir, sentir, 
fazer, ser, conhecer, perceber entre outros.
É cada vez maior e impactante a compreensão do desenvolvimento biopsicossocial 
humano em sua organização neural, atividades das funções executivas e formas de 
sentir, perceber, afetar e/ou aprender.
Como se interconectam os circuitos neurais? Que processos biológicos entram em 
convergência à evocação da memória? Como ocorrem as representações simbólicas 
da realidade? Qual é a importância dos sentidos na aprendizagem? Essas e outras 
tantas questões têm influência dos cientistas, acadêmicos e até mesmo curiosos do 
ser humano e seu funcionamento cerebral, além de sua necessidade de conexão com 
o mundo extragenético, mediante e baseado em três características fundamentais ao 
cérebro humano: sobrevivência, seleção e adaptação.
O cérebro funciona de forma orquestrada, integrando os componentes 
de um comportamento ou uma função mental. A grande dificuldade 
está em identificar os componentes destes processos cerebrais que se 
apresentam em bloco. (BRANDÃO, 2004, p.07).
Vamos pensar em uma orquestra? Cada instrumento tem sua especificidade, 
sonoridade e independência harmônica. Em sua organização, o fluxo de informações 
se traduz em uma dança sonora cuja comunhão instrumental gera emoções variadas, 
ou seja, equilíbrio, harmonia e música só acontecerão se cada componente se articular 
como um grande conjunto e a partir de ajustes em função da obra. Assim ocorre o 
funcionamento cerebral em processo constante de aprendizagem: há evoluções, danças 
químicas sensórias, ajustes (adaptação), inclusão de estímulos aos sistemas, de acordo 
12
com as necessidades e as experiências. Não há isolamentos, já que todos devem estar 
integrados, ser interagentes e funcionar de forma a que todo o cérebro cresça e aprenda 
de maneira saudável, ainda que em respeito aos seus ritmos projetivos. 
Ao investigá-lo é possível apresentá-lo por partes dando forma didática à compreensão de 
cada um dos componentes. Esse será um grande desafio: é um esforço de sistematização 
das informações visando favorecer aos que iniciam seus estudos neurocientíficos. 
Porém, de antemão, é preciso também afirmar. 
Mas lembre-se de que: ainda assim e apesar de tudo isso, há uma hierarquia implícita 
em que cada informação ou sensação ou percepção agenciará um sistema-protagonista 
para liderar as adaptações neuronais e a plasticidade cerebral. O ser humano é particular, 
singular, diferente em suas formas de aprender a SER, FAZER, CONHECER e CONVIVER 
em consequência das maneiras como acessa/usa seu sistema cerebral.
CAPÍTULO 1
Fundamentos básicos da neurociência
Vamos partir de um fundamento: os paradigmas educacionais tradicionais estão 
em transformação acelerada. E a chamada “engenhoca” cerebral está em acelerada 
plasticidade (processo de adaptação). Há a necessidade de dinamização dos processos 
mentais de construção do conhecimento. Nessa perspectiva, a neurociência se apresenta 
como outra possibilidade de entendimento dos mecanismos de aprendizagem, 
situando um olhar mais focado sobre o funcionamento do sistema nervoso central, 
um organizador dos mais variados comportamentos, ou seja, “[...] há áreas habilitadas 
a interpretar estímulos que levam à percepção visual e auditiva, à compreensão e à 
capacidade linguística, à cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive de 
movimento, e assim por diante.” (RELVAS, 2009, p.14). Há espaços funcionais em um 
ambiente cerebral neuroquímico sempre em sinergia.
Pensar neurociência pedagógica ou neuroeducação é pensar a possibilidade de 
reinventar a ação de ensinar e de aprender no século XXI. Segundo Ramal (2002, p. 
190), o docente do século XXI deve ter “um perfil de professor que atue como arquiteto 
cognitivo e como dinamizador da inteligência coletiva”. O primeiro se refere à rede do 
hipertexto mental que procura ser potencializado em cada aprendente (e aqui a excitação 
do sistema nervoso é primordial); e o segundo pode ajudar a responder aos desafiosdas redes criadas pelos aprendentes, entre grupos, escolas e sistemas educacionais à 
aprendizagem significativa.
13
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
Em neuroeducação, o “arquiteto cognitivo” é transgressor, em sua prática, dos limites 
de uma sala de aula monológica e, além de não prescindir de uma articulação (e estudos) 
mais séria e profunda das teorias neurocientíficas, incluídas no entendimento das 
diferenças comportamentais do sujeito singular (ou em grupo) em que os hormônios 
ganham grande importância, também, no contexto das avaliações, em geral; também 
não prescinde do entendimento de que algumas ações educativas são importantes 
para se reconhecer as diferenças dos cérebros e dos gêneros em sala de aula; de que 
as diferenças de gêneros vão muito além dos órgãos sexuais; de que é importante estar 
por dentro dos estilos de comportamento cognitivo e emocional; e, principalmente de 
que se tornar um estudioso dos processos neuronais (mentais) favorece a elaboração de 
práticas de ensino reais e sinceramente focadas no educando.
Todavia, antes de reconhecer a experiência neurocientífica como potencialmente 
adequada para o entendimento e transformação da sala de aula e dos comportamentos 
em torno da busca e do encontro com o conhecimento, é necessário se entender a 
trajetória da neurociência e, para além, entender sua importância na área educacional 
sem torná-la uma “receita de bolo” ou uma teoria “engessante” à ação educativa.
Origem da neurociência
Hoje, dentro de uma escola do século XIX, com professores do século XX e alunos 
do século XXI, há claros estranhamentos relacionais; crises geracionais; incertezas 
pessoais; velocidade social e emocional, ou seja, o mundo está em transformação 
acelerada e complexa e, cada vez mais, torna-se importante experiências inovadoras e, 
no caso deste módulo, uma revisão/reconfiguração séria das práticas de ensino, a partir 
da comunhão de outras teorias e conceitos científicos que se proponham a entender 
tipos e tipos de desenvolvimento humano em suas dimensões cognitiva, emocional e 
motora. Nessa perspectiva, uma fonte teórica vem se tornando importante à Educação, 
ao pensar a Educação, o ensino e a aprendizagem. Estamos diante da Neurociência.
A palavra “neurociência” foi criada em 1970. É um campo novo, porém possui influências 
antiquíssimas. Suas bases (cientificas e, às vezes, nem tanto) são encontradas desde a 
filosofia grega até os modernos exames de imagens dos séculos XX e XXI. Como afirma 
Relvas (2007, p.22), “[...] é uma ciência nova, que trata do desenvolvimento químico, 
estrutural e funcional, patológico do sistema nervoso”. Ou seja, “[...] a raiz dos nossos 
processos mentais está na organização dos mecanismos neurais a ele subjacentes, na 
forma que eles se imbricam para determinar o que chamamos de funções mentais 
superiores” (BRANDÃO, 2004, p.07), a saber: atenção, linguagem, memória, sensação, 
percepção, emoção e pensamento. 
14
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Basicamente, a neurociência é um ramo da biologia que estuda cientificamente o 
sistema nervoso. E como afirma Relvas (2007), “o cérebro é o instrumento da 
aprendizagem”. Atualmente, a neurociência “ganhou” um caráter interdisciplinar, 
pois vem colaborando com outras áreas de saber como educação, filosofia, 
antropologia, química, linguística, engenharia, matemática e outras áreas afins. 
Como ciência aplicada à sala de aula, pode ajudar aos docentes na construção de 
seus planejamentos, estratégias de ensino e avaliações tendo em vista a crescente 
percepção das diferenças entre os comportamentos cognitivos e emocionais. Além 
disso, vem favorecendo tanto à apreciação mais focada das chamadas “dificuldades 
de aprendizagem” em geral; quanto ao entendimento da importância do exercício 
(movimento do corpo), da alimentação e do sono à aprendizagem nos processos de 
aprender.
Mas a que se ter um cuidado fundamental: a neurociência não é uma “receita de bolo” 
(algo pronto para montar e usar) ou panaceia teórica que surge para reestruturar 
definitivamente a educação ou resolver todos os problemas da sala de aula. Ela 
vem se oferecendo ao docente como uma oportunidade de estudos científicos ao 
conhecimento sobre a dinâmica do sistema biológico humano em relação ao seu 
comportamento em âmbito psicossocial e emocional e diante diferentes situações e 
desafios da vida cotidiana. Como diz Ramal (2002, p.193), como arquiteto cognitivo, 
estrategista do conhecimento, hoje cabe ao educador identificar “as inúmeras 
possibilidades do mapa de recursos (de ensino), indicar caminhos, propor desafios 
e metas, desenhar mapas de navegação da mente”, sempre interagindo e mediando 
a “navegação” dos aprendentes entre as informações e os desafios apresentados no 
curso da aprendizagem. E no conjunto dessas percepções e ações, o cérebro humano 
em franca ação e reação.
E se para isso, junto aos estudos neurocientíficos, o educador começa (e precisa) 
entender que o jogo emocional interno (sistema límbico + córtex pré-frontal) estará 
“alimentando e retroalimentando” todo o processo de aprender. Porém, esta é apenas 
a ponta do iceberg!
Lent (2001, p.4) apresenta a neurociência no plural, ou seja, enfatiza a ideia de que está 
é um conjunto teórico de diferentes áreas do saber que se complementam na busca do 
entendimento do cérebro humano. Mas “[...] os limites entre essas (áreas do saber) não 
são nítidos, o que nos obriga a saltar de um nível a outro, ou seja, de uma (área do saber) 
a outra, sempre que tentamos compreender o funcionamento do sistema nervoso”. 
Então, para simplificar, observe o quadro explicativo resumido abaixo apresentado por 
Lent (2001).
15
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
Quadro 1.
Área do Saber Objeto de estudo
Neurociência Molecular
Diversas moléculas funcionais no sistema nervoso. Também chamada neuroquímica ou 
neurobiologia molecular.
Neurociência Celular
Células que formam o sistema nervoso, sua estrutura e sua função. Também chamada 
neurocitologia ou neurobiologia celular.
Neurociência Sistêmica
Populações de células situadas em diversas regiões do sistema nervoso. Sistemas 
funcionais (visão, auditivo, motor etc.). Se mais morfológica chama-se neuro-histologia 
ou neuroanatomia. Se lida com aspectos funcionais chama-se neurofisiologia
Neurociência Comportamental
Estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos 
como sono, sexo, emoção etc. Às vezes conhecida como psicofisiologia ou 
psicobiologia.
Neurociência Cognitiva
Capacidades mentais mais complexas típicas do homem como linguagem, 
autoconsciência, memória etc. Também chamada de neuropsicologia.
Já Relvas (2012, p. 27) escreve o seguinte: “Neurociência é um conjunto de disciplinas 
que permeiam os estudos do sistema nervoso e originou-se do entendimento das bases 
cerebrais da mente humana”. Como conjunto, é correto o uso da palavra no singular, 
fato que justifica a leitura conceitual mais ampla do cérebro e sua plasticidade neuronal 
quando em processo de aprendizagem ou assimilação das informações em geral. E esta 
forma de apresentar a neurociência será utilizada neste módulo.
História da neurociência
“A neurociência é a área multidisciplinar do conhecimento que analisa o 
sistema nervoso para entender as bases biológicas do comportamento”. 
(FLOYD E. BLOOM)
Há muitas décadas o cérebro é um centro de observações e ações. Em suma, as discussões 
giram em torno das razões pelas quais os humanos agem como agem, sentem como 
sentem, apesar dos ambientes, influências, culturas e aprendizados; ou a partir de 
bloqueios, traumas ou diferenças orgânicas (genéticas). 
Em seu processo de maturação, o cérebro (biológico) e a mente (psicológico e social) 
se enfrentam, se alterando, transformando, desequilibrando, readaptando, ratificando 
a ideia de que o mistério da complexidade dos processos mentais, sensórios e motores 
permanece incompreendido e, por isso, fonte de diferentes abordagens nos campos 
acadêmicos e científicos.
Tudo sempre começacom nossa ancestralidade
Nós a carregamos em nosso cérebro reptiliano (primitivo) e o percebemos/sentimos 
por meio de nossos impulsos/reações, normalmente adjetivadas como “intempestivas”. 
Então, partamos da trepanação, “técnica de perfuração à mão de um buraco de 2,5cm a 
3,5cm de diâmetro no crânio de um homem vivo, sem anestesia ou assepsia, por 30 a 60 
16
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
minutos”1. Presente desde o tempo mesolítico2, seu objetivo principal era eliminar os 
maus espíritos e demônios. Apenas 70% dos pacientes sobreviviam à essa intervenção; 
porém tal porcentagem de sobrevivência diminuiu muito nos séculos XIV a XVIII, 
principalmente por causa da falta de assepsia e de perfurações errôneas das meninges 
(hemorragia incontrolável). Além disso, com a trepanação, ocorriam vários danos aos 
cérebros e outras formas de intervenção cerebral.
Figura 1.
Fonte: <http://1989morais.blogspot.com.br/2012/10/o-que-e-trepanacao.html>
Nesse período e por muito tempo, acreditava-se que o coração, e não o cérebro, era a 
sede da alma/da consciência e repositório das memórias. O corpo era preservado para 
a pós-vida; e o cérebro era completamente descartado. Essa visão sobre o coração segue 
até os tempos de Hipócrates (460-379 a.C.)3.
Na Grécia Antiga surgem as perguntas mais sistematizadas sobre onde está a mente 
e, como ela, interage com o corpo. Há o entendimento de que o cérebro é o órgão das 
sensações e também ambiente em que se estabelece a inteligência. 
O homem deve saber que, de nenhum outro lugar, se não do cérebro 
vem a alegria, o prazer, o riso e a recreação, e a tristeza, melancolia, 
pessimismo e as lamentações. E então, de uma maneira especial, 
adquirimos sabedoria e conhecimento, e vemos e ouvimos para saber 
o que é justo e o que não é, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o 
que é sem sabor... E pelo mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, 
1 ARAÚJO, Leonardo Carneiro de. Fundamentos da neurociência e do comportamento. <http://www.faculdadearapoti.
com.br/blogadm/wp-content/uploads/2012/08/neurociencia.pdf>. Acessado em 20 de outubro de 2013.
2 Período da pré-história que, segundo historiadores, serve de transição entre o período paleolítico e o neolítico. Tem duração 
curta e signifi ca ‘idade média da pedra’; enquanto o paleolítico é ‘idade antiga da pedra’ e o neolítico é ‘idade nova da pedra’. 
Hábitos básicos: nômadas.
3 Em Atenas, Hipócrates (pai da medicina ocidental) era médico e ensinava retórica, fi losofi a e ginástica. Sua atuação marca o 
fi m da medicina místico-teúrgica e início da observação científi ca dos fatos clínicos. Vários dos seus textos foram compilados e 
organizados num Corpus Hippocraticum. Algumas de suas ideias: “o conhecimento do corpo é impossível sem o conhecimento 
do homem como um todo”; “O corpo não é só um conjunto de órgãos, mas uma unidade viva, que a ‘natureza’ de cada um 
regula e harmoniza”; “a vida é breve, mas a arte é extensa”; “as doenças provêm do desequilíbrio dos ‘humores’ (sangue, 
fl eugma, bile e atrabile); e “todo o corpo tem, em si mesmo, os elementos para recuperar-se”. Hipócrates deu importância ao 
ambiente e à hereditariedade; e priorizava o prognóstico em detrimento do diagnóstico.
17
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
e sentimos medo e o terror nos assola... Todas essas coisas provêm do 
cérebro quando este não está sadio... Dessa maneira, sou da opinião de 
que o cérebro exerce um grande poder sobre o homem. (Hipócrates, Da 
Doença Sacra, IV a.C.)
Nessa perspectiva, segundo O’Shea (2010, p.22), “[...] Hipócrates foi ainda mais longe 
e desenvolveu uma teoria dos quatro humores que, juntos, eram responsáveis pelo 
temperamento [...] a saber: a bílis negra (melancolia), a bílis amarela (irritabilidade), a 
fleuma (tranquilidade e preguiça) e o sangue (paixão e alegria)”. Hoje, esta perspectiva 
é analisada como implausível, excessivamente enigmática e bem arbitrária; já que “sua 
inspiração advém da necessidade de se adequar aos improváveis postulados da lei 
natural grega, segundo a qual há quatro elementos: terra, ar, água e fogo” (p.22). Porém, 
em ciência ou em experimentação científica, ou ainda em estudos neurocientíficos, 
nenhuma teoria/leitura deve ser descartada.
Demócrito e Hipócrates sugerem que a mente está no cérebro e que os nervos são ocos. 
Essas intuições filosóficas foram baseadas na instrumentação clínica, pois, à época, não 
se dissecavam os cadáveres. Hipócrates localizava a mente no cérebro, o que se mostrou 
importante às releituras sobre cérebro nos tempos atuais.
O filósofo Aristóteles (384 – 322 A.C), tempos depois, coloca em xeque essa ideia e sugere 
que a mente está no coração, e não no cérebro. Nesse sentido, seria o coração o centro 
da inteligência. Devemos entender que suas ideias se fundamentavam em observações 
de comportamentos. O cérebro torna-se o órgão, então, um “resfriador” do sangue 
quando as emoções estão elevadas, afinal um indivíduo com emoções fortes acelera os 
batimentos cardíacos, por exemplo. A cognição (e consequente aprendizagem) se baseia 
justamente na capacidade de resfriamento do cérebro. É uma constatação que chega 
até aos nossos dias, por exemplo, quando optamos por decorar um texto: “decorar”, de 
coração, logo a memória relacionada à qualificação do coração, e não do cérebro.
No século do Cristianismo, cerca de 400 anos depois da morte de Hipócrates, Cláudio 
Galeno de Pérgamo (131-201), médico mais influente do seu tempo, pela primeira vez, 
refuta o que diz Aristóteles, a partir da dissecação de animais, e constrói sua própria 
teoria sobre as conjecturas de Hipócrates. Era especialista em anatomia humana a partir 
de sua atuação médica na escola de gladiadores. Mas segundo O’Shea (2010, p.22), 
[...] embora possamos ser gratos a ele por perpetuar a ideia de que o 
cérebro é a sede da mente, Galeno continuou a tradição hipocrática 
de desconsiderar a importância dos tecidos sólidos do cérebro para as 
funções mentais. Em vez disso, associou a presença de três cavidades 
no cérebro que contêm fluidos também chamados de ventrículos, com 
18
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
a divisão das faculdades mentais – a alma racional – em três partes: 
imaginação, razão e memória. 
E, segundo Relvas (2012, p.29), nessa época “predominava a teoria de que os ventrículos 
cerebrais eram órgãos, sede dos humanos, e nos quais estava localizada também a 
capacidade intelectual do homem”. Ou seja, Galeno e os pensadores da época tentavam 
correlacionar a relação ventricular com a mente, pois são as primeiras coisas vistas em 
uma dissecação.
A ciência nos proveu de visões ideológicas sobre o cérebro. O cérebro tornou-se o lugar 
das representações conceituais e sensoriais que, praticamente, ditam todas as ações do 
homem na Terra. Não há o sentido de subjulgamento, há o entendimento de que, como 
organismo vivo, a construção do conhecimento tem o seu esboço inicial no cérebro. Mas 
nem sempre foi bem assim. O cérebro, ainda não sendo visto como centro da psique, 
era visto apenas como massa homogênea e amorfa, um reservatório cujos fluidos e 
humores atravessavam corpo e nervos, elaborando temperamentos e comportamentos 
instintivos.
Dessa visão medieval, entra-se na emergência da visão racionalista (Renascimento). 
Na renascença, o conhecimento da anatomia começa a se desenvolver. Vesálius, 
no começo do século XVII, por meio de dissecação em seres humanos, realizou um 
completo e detalhado estudo, principalmente, no cérebro. Nesse período, a partir da 
comparação do cérebro de homens com os animais, ele propõe que a sede da mente 
não está nos ventrículos cerebrais, mas em algum outro lugar, pois tanto homem como 
animais possuem ventrículos muito iguais, ao contrário do resto do cérebro que possuía 
grandes diferenças.
As ideias sobre a função e os mecanismos cerebrais continuaram a serem influenciadas 
por teorias que envolvem o fluxo e a destilação de fluidos vitais, as energias e os 
humores até meados do século XVII. A influênciade Hipócrates e Galeno chega até 
René descartes4 e seu modelo hidráulico de cérebro, também baseada em humores do 
funcionamento cerebral. Houve comparação com o trabalho de máquinas complexas 
de seu tempo, como relógios, e seus movimentos controlados por sistemas hidráulicos. 
Ou seja, dentro do ser humano, o sistema nervoso funcionava a partir da água. Segundo 
Relvas (2012, p.30), “para Descartes, a maioria das atividades do corpo, como sensação, 
movimento, digestão, respiração e sono, é explicada pelos princípios mecânicos, onde o 
corpo físico e o cérebro funcionam”.
4 Em 1637, René Descartes publica o Discurso do Método e cria um dualismo na natureza humana, onde haveria uma parte 
relacionada com o corpo e uma parte relacionada com a mente.
19
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
Figura 2.
Fonte: <http://www.cerebromente.org.br/n06/historia/bioelectr.htm>
Os processos cognitivos não estariam localizados apenas nos ventrículos cerebrais 
com fl uidos, ainda que fi zesse referência ao fl uxo de energias por meio dos nervos. 
Segundo Descartes, o cérebro (máquina e mecanismo), em sua glândula pineal, 
abrigaria a sede da alma, o fantasma na máquina. A glândula pineal, “por ser uma 
estrutura central e unitária, deveria ser a ligação com a alma singular, mas também 
foi atribuído a ela controle exclusivo, direcionando o fl uxo de energias animais pelo 
cérebro.” (O’SHEA, 2010, p.25). 
Descartes é um dos primeiros pensadores a estudar a relação entre o cérebro e o corpo 
elegendo a glândula pineal como o centro de ligação entre essas estruturas e abre novos 
caminhos às leituras sobre o cérebro: ele localizou a mente (intelecto) no cérebro. Há 
a refl exão e tradução do mundo mecanicista e isto determina o homem ocidental, de 
forma sincronizada. Àqueles temperamentos e comportamentos instintivos, agora, 
estão racionalizados.
Em fi ns do século XVII, a teoria humoral perde força. Há uma nova geração de 
anatomistas redescrevendo a estrutura do cérebro com mais precisão. Destaque para 
Thomas Willis (1621-1675). É o criador do termo “neurologia” e afi rma que o tecido 
sólido cerebral tinha funções importantes; demonstra que o sistema nervoso depende do 
fl uxo de sangue para esses tecidos; além disso, reconhece que os nervos não são canais 
ocos. Porém, e ainda assim, permaneceu um teórico dos fl uidos para o entendimento 
da função cerebral. 
A renovação do olhar científi co e a perspectiva da importância real do cérebro nos 
comportamentos, funções executivas, emoções e movimentos, torna infrutífera a teoria 
dos fl uidos e tantas outras a ela relacionadas ou baseadas. Ascende, então, o período 
iluminista, em que há uma grande revolução da ciência: Física por meio de Galileu; 
20
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Medicina por meio do anatomista Luigi Galvani (e seu contemporâneo Alessandro Volta, 
com a associação essencial entre a eletricidade e as funções dos sistemas nervosos) 
entre outros.
Importante entender, nesse momento da leitura, que, nem Galvani e nem Volta 
supunham que os estímulos elétricos aplicados externamente estavam ativando 
processos biológicos, fazendo com que impulsos elétricos de alta velocidade se 
propagassem dos nervos aos músculos, resultando em sua contração (O’SHEA, 2010, 
p.27). Tal entendimento ocorre em meados do século XIX com o fisiologista Du 
Bois-Reymond (1818-1896), segundo o qual os nervos e músculos têm capacidade de 
gerar impulsos elétricos de propagação rápida. 
Assim também começa o estudo experimental do sistema nervoso onde se descobre que 
ele funciona a partir de relações elétricas. O terreno estava preparado para a ciência 
moderna e o reconhecimento, no século XX, de que o sistema nervoso possui áreas 
específicas para determinadas funções e que existem células específicas (unidades 
funcionais minúsculas), responsáveis pela comunicação de informações no cérebro: os 
neurônios.
A verdadeira natureza celular do cérebro e de suas funções mentais foi reconhecida pela 
primeira vez pelo pai da neurociência moderna, o neuroanatomista espanhol Santiago 
Ramon y Cajal (1852-1934). (O’SHEA, 2010). À época, Cajal afirmou que o cérebro 
é uma máquina celular, em detrimento das leituras anatomistas de que o cérebro 
não era composto por células. As células cerebrais eram muito diferentes das outras 
células5. Surge, então, a “teoria reticular”6 da anatomia cerebral – uma interpretação 
incrivelmente perdurável que persistiu até boa parte do século XX. Diferentes 
neurocientistas veem como um obstáculo ao progresso científico: como pensar uma 
máquina sem a ação efetiva de componentes “inferiores” (discretos)? Por fim, tornou-se 
evidente que, para entender a ciência cerebral, era preciso identificar os componentes 
funcionais da estrutura microscópica do cérebro.
Em fins do século XIX, o anatomista italiano Camillo Golgi desenvolve um método 
de coloração adequado: uma forma de destacar a morfologia de alguns neurônios em 
qualquer região do cérebro. Esse método permitia que neurônios individuais fossem 
vistos sem obstrução por meio da massa emaranhada de processos ramificados de 
células vizinhas. Mas havia um problema: um em cerca de mil neurônios era revelado. 
Mas de pronto, ficou claro que há células diferentes no cérebro. 
5 Segundo O’Shea (2010, p.28), [...] O próprio termo ‘célula’ implica uniformidade: estruturas simples determinadas por 
limites definidos. Daí a dificuldade de reconhecimento de ver sua composição celular no microscópio. [...] Os neurônios são 
diversificados em termos de morfologia. Eles têm processos bastante delicados que se ramificam do corpo das células e se 
misturam com as ramificações de outros neurônios. A complexidade e a diversidade de sua aparência física excedem facilmente 
a de outros tipos de células encontrados em qualquer outra parte do corpo.
6 Quando visto por meio de um microscópio, o cérebro parecia consistir de um lamaçal irremediavelmente intrincado (um 
retículo), sem os diferentes limites que definem as células, tão evidentes em outros tecidos.
21
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
De acordo com O’Shea (2010), o método Golgi foi a chave para um novo conjunto de 
ideais passíveis de comprovação científica sobre como o cérebro funciona. Decresce a 
teoria reticular, ascende a doutrina do neurônio atribuída a Ramon y Cajal com suas 
duas proposições:
1. o neurônio é uma célula;
2. os neurônios são estruturalmente polarizados em relação à sua função.
O cérebro é observado como tendo funcionamento eletroquímico. Suas operações 
estavam diretamente relacionadas às funções das estruturas físicas em nível 
microscópico. Cajal concluiu que a função do neurônio deveria estar relacionada com 
o movimento e o processamento de informações no cérebro (O’SHEA, 2010). Daí em 
diante, muitas suposições quanto às articulações, aos processamentos e às decodificações 
das informações. E nessa um insight importante:
[...] ele postulou que seria lógico que os componentes da função 
impusessem direcionalidade sobre o fluxo de informações (ou 
streaming, como ele chamou). Então propôs que as informações fluem 
em uma direção: de uma região de entrada para uma região de saída. 
O corpo celular do neurônio e seus processos mais curtos, conhecidos 
como dendritos, desempenham funções de entrada. A informação 
percorre a extensão mais longa do corpo celular, chamada de axônio, 
para a região de saída – os terminais do axônio e suas ramificações que 
entram em contato com os dendritos de entrada e o corpo celular de 
outro neurônio. (O’SHEA, 2010, 31)
Ramon Y Cajal é fundamental para a ciência cerebral moderna. Seu reconhecimento 
dos neurônios como unidades polarizadas de transmissão de informação foi um marco 
na neurociência.
Neste concentrado de informações sobre a neurociência, em paralelo, se articular uma 
ciência, hoje desacreditada: a frenologia desenvolvida pelo médico vienense Franz 
Joseph Gall que acreditava que o cérebro é o órgão da mente.
A frenologia, metáfora do século XIX, investe na compartimentalizaçãodo cérebro, 
em várias áreas, abrigando desde as diferentes funções psíquicas aos comportamentos 
humanos mais sutis. Gall postula que diferentes faculdades distintas da mente, atributos 
inatos da personalidade e capacidade intelectual, estão localizados em diferentes 
lugares do cérebro. Tudo teria uma localização específica, razão pela qual nossa massa 
encefálica tem vários sulcos. Gall pensava que o crânio assumiria a forma do relevo 
22
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
do cérebro e, portanto, que as protuberâncias na superfície cranial poderiam ser lidas 
como um índice de várias aptidões psicológicas (O’SHEA, 2010, p.34).
Europa e Estados Unidos foram assolados por essa prática a partir de 1820. Os 
frenologistas se diziam “ledores de mente” com base em protuberâncias na cabeça. E 
a Revolução Industrial acentuou essa visão tecnicista sobre o pensamento científi co, 
premiando a razão como a mantenedora do equilíbrio de humor do homem. Para tudo 
há uma funcionalidade, há uma razão técnica de existência.
Figura 3.
Fonte: <http://escoladecriacao.espm.br/2013/frenologia-a-ciencia-que-lia-cabecas/>
O cérebro, então, torna-se refl exo dos modelos da sociedade industrial mecanizada, 
hierárquica e frenológica do início do século XX. O advento dos computadores ampliou 
a metáfora mecanicista do cérebro como grande e potente gerenciador cibernético. A 
comparação entre cérebro e computador era plenamente aceita e ampliada nas mais 
diferentes pesquisas científi cas. Segundo Doidge (2011, p. 26), 
[...] a ideia do cérebro-máquina inspirou e norteou a neurociência 
desde que foi proposta no século XVII substituindo concepções mais 
místicas sobre a alma e o corpo. Os cientistas impressionados com as 
descobertas de Galileu [...] passaram a acreditar que toda a natureza 
funcionava como um grande relógico cósmico, sujeito às leis da física, 
e começaram a explicar cada ser vivo do ponto de vista mecanicista, 
inclusive nossos órgãos corporais, já que pensavam que também eram 
máquinas.
A frenologia entra em decadência no início do século XX coincidindo, de acordo com 
O’Shea (2010), com o rápido acúmulo de evidências reais que sustentavam o princípio 
de que muitas funções mentais discretas estão concentradas de modo específi co em 
determinadas partes do cérebro. Importante a Primeira Guerra Mundial e a observação 
23
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
das vítimas de estilhaços de armas de fogo em regiões específicas do cérebro com 
produção de distúrbios reproduzíveis. 
Daí em diante Darwin e sua Teoria da Evolução coloca ser humano e animal em uma 
escala evolucionária natural, e Pierre Broca publica um artigo sobre a afasia de emissão 
em 1861, mostrando que existe estreita relação entre uma localização cerebral e uma 
função psicológica, por exemplo.
Em 1895, o físico Wilhelm Rontgen descobriu uma tecnologia que serve para exames 
como a Angiografia cerebral: o raio X. Em 1972, a primeira máquina de tomografia 
computadorizada é criada. É um método de imagem que utiliza raios-x para captação 
de imagens de estruturas crânio-encefálicas. Em vários congressos, a palavra 
“Neurociência” surge. Ou seja, o campo de estudo dos objetos tradicionais à luz do 
Sistema Nervoso Central é batizado. E em 1973, surge o primeiro PET (tomografia 
computadorizada por emissão de pósitrons), porém, devido o alto preço, seu uso ficou 
limitado até 1990. E, em 1990, George Bush declara que estamos, oficialmente, na 
década do cérebro.
Atualmente, depois de intenso desenvolvimento das neurociências e da ciência 
cognitiva, o cérebro passou a ser mais visto como um ecossistema do que uma máquina, 
já que os neurônios vivem em situação de competição e organização pelo estímulo e 
direcionamento do ambiente. O cérebro não mais dicotomiza o que está fora daquilo 
que se auto-organiza. O cérebro, agora, é autopoético, orgânico, fluido e modular. 
Essa “autopoesis”, comentada por Maturana e Varela, em seu livro “A árvore do 
conhecimento”, recompõe a dinâmica da cognição humana no retorno de sua melhor 
dupla psíquica: razão e emoção.
Na década de 1990, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das técnicas de visualização 
do funcionamento cerebral causaram um novo “boom” na conjuntura metodológica 
do entendimento da ação neuronal, agora, relacionando-a a atividade mental e ao 
metabolismo cerebral, ou seja, no aumento do consumo de oxigênio e de glicose pelos 
neurônios requisitados a cada momento.
Na história do cérebro, o mundo precisou se transformar fortemente para possibilitar 
olhares mais específicos a este órgão por milhares de anos. Entender seu funcionamento, 
adaptabilidade, neuroplasticidade, a partir de estímulos eletroquímicos em que 
neurônios disparam gerando reflexão, interação, pensamento, sinergia e outras 
conexões, atravessou o tempo histórico com idas e vindas, às vezes positivas, às vezes 
negativas.
24
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Galáxia biológica da aprendizagem
Fala-se muito em CEOs, hoje em dia: os chamados “diretores executivos” (chief excutive 
officer), o cérebro de uma empresa, o elemento de maior autoridade na hierarquia 
operacional de uma empresa (organização). E aprender é uma ação que precisa de 
um CEO estratégico formatado e que inspire (estimule) possibilidades de mudanças 
comportamentais importantes à sobrevivência de todo um sistema aprendente. 
Pensamento, criatividade, consciência, linguagem, memória, raciocínio lógico, 
emoções são itens de um sistema organizacional biológico que necessita de adaptações 
às ações sensórias e às reações motoras visando o output de informações e o input de 
conhecimento (aprendizagens) no conjunto de habilidades e competências humanas.
O CEO biológico humano é o cérebro. É, segundo Goldberg (2002), um “cérebro executivo” 
com funções complexas, principalmente, dos lobos frontais (parte do cérebro mais 
recentemente evoluída e especialmente humana) e seus diferentes estilos em indivíduos 
“normais” ou alterados por percalços neurológicos (doenças ou danos ou bloqueios). 
Porém, o cérebro humano se desenvolve e funciona em rede, em comunhão, basicamente, 
entre o mundo interno e externo por meio dos sentidos, e cujo alcance atravessa todo o 
corpo humano e seus sistemas internos. Logo aprender exige interligações semelhantes 
ou originais em todo o repertório de informações assimiladas no processo de maturação 
psicobiológica do ser humano e acontece por meio de desafios/estímulos ao sistema 
sensório-motor humano. Falamos aqui das emoções: Aprender é um movimento 
emocional ininterrupto à biologia cerebral.
Internamente, há uma galáxia de milhões de pequenas células nervosas que formam 
o cérebro e o sistema nervoso que se comunicam umas com as outras por meio de 
pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito especiais, como pensamentos, 
sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais e 
físicas, sem as quais não seria possível toda a riqueza interna e nem perceber o mundo 
externo como som, cheiro, sabor, luz e brilho, entre outros (RELVAS, 2005, p.21). E 
essas células nervosas são chamadas de neurônios.
Se no princípio bíblico era o Verbo; no princípio do que se procura entender como 
aprendizagem, há os neurônios. Milhões de células (incluindo as células gliais) 
interligadas de modo intrincado por prolongamentos (dendritos e axônios). Quando 
se quer estudar e entender os percalços da aprendizagem, a galáxia neuronal é 
imprescindível, afinal reconhecemos que há diferentes tipos e estilos de aprendizagem 
e muitas dificuldades de aprendizagem com as quais lidamos todos os dias.
Falaremos sobre isso com mais detalhes mais a frente. 
Agora: como se organiza a estrutura mais importante à aprendizagem humana? 
25
CAPÍTULO 2
Bases anatômicas da aprendizagem
Entender as bases do aprendizado é entender como o cérebro forma conexões novas e 
as memórias; é entender a importância do estímulo à futura motivação de aprender; 
o desenvolvimento de habilidades e fortalecimento das competências;as sensações e 
ações mais emocionais dos comportamentos etc. Esse entendimento pode favorecer o 
lidar com os comportamentos aprendentes no cotidiano escolar.
Entender as bases anatômicas da aprendizagem é entender a composição estruturas 
do sistema biológico humano em termos de organização relacional de cada órgão 
por dentro do corpo humano. Vamos montar um mapa das posições e relações das 
várias estruturas cerebrais influenciadas pelos estímulos sensórios-motores à ação de 
aprender. E o fundamento são os neurônios.
Inicialmente, para fins didáticos, segundo Herculano-Houzel (2005), o cérebro pode 
ser distribuído em três grandes porções:
 » A porção sensorial (parte detrás do cérebro): representa todo um 
conjunto de estruturas que se prestam a receber informações do ambiente 
e processá-las de uma maneira coordenada permitindo ao cérebro a 
criação, por exemplo, de uma imagem (representação sensorial). Aqui 
se constroem o sentido da realidade e, por conseguinte, se desenvolve e 
organiza os comportamentos em relação aos outros; os tipos de reação às 
situações; as sensações às emoções variadas etc.
 » A porção motora (parte mediana do cérebro): a partir dos sentidos, 
outras regiões do corpo são atingidas e encarregadas de gerar movimentos, 
comportamentos do corpo às sensações. É uma parte, não apenas reativa, 
mas se representa de forma apropriada, adequada às intenções humanas.
 » A porção associativa (parte da frente do cérebro – córtex pré-frontal): 
o acontecimento dos movimentos, a partir da influência dos sentidos, 
instaura no sistema nervoso central (cérebro, corpo e mente) interligações 
de forma a processar informações, criar representações mentais unificadas 
do mundo (realidade) e usar essas representações para dar movimento ao 
corpo, para criar comportamentos, interagir com as outras pessoas e com 
diferentes ambientes.
26
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Ainda, segundo Herculano-Houzel (2005), esta última porção, por definição, não é 
sensorial e nem motor, é o chamado “córtex associativo” já que é capaz de acrescentar 
complexidade aos comportamentos, por meio de suas associações, com as memórias do 
passado, com a elaboração de projeções para o futuro, os objetivos, estratégias, metas, 
e permite que os aprendentes saiam do tempo presente com ferramentas cognitivas e 
pedagógicas importantes à sua integração social e profissional.
Mas ao mencionar todo esse sistema em funcionamento no cérebro, é importante 
entender um ponto nevrálgico de todo esse processamento: o sistema nervoso.
Segundo Damásio (2011, p.46), “a neuroanatomia é fundamental em neurociência, 
desde o nível microscópico dos neurônios individuais (células nervosas) até o nível 
macroscópico dos sistemas que se estendem por todo o cérebro.” Logo, no estudo da 
neurociência, entender a geografia cerebral em escalas diversas é muito importante, 
principalmente, quando, na posição de docente, há o empreendimento de potencializar 
novos comportamentos diante dos diferentes procedimentos de aprendizagem.
Em nossa evolução (animais multicelulares), necessitamos de um sistema que 
transmitisse informações rápidas e efetivas em longas distâncias. Para isso, células 
se especializaram e se organizaram para agir como canais de comunicação entre os 
receptores sensoriais, de um lado, e os efetores, de outro. De acordo com Brandão (2004, 
p.11), o conjunto dessas células ou neurônios compreende o sistema nervoso. Logo, 
para conhecermos o funcionamento do sistema nervoso central (SNC) é necessário 
identificar as relações entre as estruturas que o compõem, sua organização espacial.
Em uma visão neurobiológica da aprendizagem, pode-se dizer que, 
quando ocorre a ativação de uma área cortical, determinada por um 
estímulo, provoca alterações também em outras áreas, pois o cérebro 
não funciona como regiões isoladas. E isso ocorre em virtude da 
existência de um grande número de vias de associação, precisamente 
organizadas, atuando em duas direções. (RELVAS, 2009, p.26)
O sistema nervoso
Relembrando, anatomicamente, o sistema nervoso central (SNC) é o conjunto do 
encéfalo, medula espinhal dos vertebrados. É também chamado de neuroeixo. E forma 
com o sistema nervoso periférico7 e o sistema nervoso8, uma importante estrutura ao 
7 Sistema que se encontra fora do sistema nervoso central e é constituído de fibras (nervos) gânglios nervosos e órgãos terminais. 
Diferente do sistema nervoso central, o sistema nervoso periférico não se encontra protegido pela barreira hematoencefálica. 
É o grande receptor sensorial.
8 Sistema nervoso: conjunto de nervos que enervam todo o corpo humano. Ele monitora e coordena o movimento dos músculos, 
a movimentação dos órgãos e constrói e finaliza estímulos dos sentidos e inicia as ações humanas (ou outro animal) no mundo.
27
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
controle dos movimentos, pensamentos e memória. É fundamental ao controle do 
corpo e da mente como um todo. Indiretamente controla também fl uxos menores de 
substâncias químicas do sangue. É no SNC que chegam as informações relacionadas aos 
sentidos (audição, visão, olfato, paladar e tato) e é dele que partem ordens destinadas 
aos músculos e glândulas.
Figura 4. 1 – cérebro; 2 – sistema nervoso central; 3 – espinha dorsal.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_nervoso>
Em processo de aprendizagem, a anatomia do cérebro humano funciona como uma 
rede pulsante de ajustes constantes ao meio ambiente, de forma mutável, e propícia à 
sobrevivência do aprendente e como espécie.
O sistema nervoso central, segundo Damásio (1996): 
[...] está “neuralmente” ligado a praticamente todos os recantos 
e recessos do resto do corpo por nervos, que no seu conjunto 
constituem o sistema nervoso periférico. Os nervos transportam 
impulsos do cérebro para o corpo e do corpo para o cérebro. Em 
torno dessa geografia, percebe-se que cérebro e corpo estão também 
quimicamente interligados por substâncias, como hormônios e os 
peptídeos, que são liberadas no segundo e conduzidas ao primeiro 
pela corrente sanguínea (p.47).
Como o SNC é um ambiente altamente enervado, os estímulos a que se submete reagem 
dentro do corpo em três aspectos, segundo Relvas (2005, pp.10):
28
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
 » A irritabilidade: quando as células detectam modificações do meio 
ambiente.
 » A condutibilidade: quando a sensibilidade celular, causada pelos 
estímulos, é conduzida à outra parte da célula. 
 » A contratilidade: quando a célula responde (reage) ao estímulo, por 
exemplo, causando o encurtamento da célula (sentido negativo) ou 
alongamento da célula (estímulo agradável), como um mecanismo de 
defesa.
Humanos são seres complexificados em sua evolução biológica. Essa complexidade se 
retroalimenta, por meio dos sentidos e por meio das células sensórias responsáveis 
pela identificação dos estímulos. Houve necessidade de especialização das células 
o que permitiu a condutibilidade das informações colhidas na superfície orgânica. E 
dependendo do teor dos estímulos, há movimentos de repulsão ou de aproximação 
neuronal. Falamos aqui das responsabilidades das células nervosas (neurônios) à 
motricidade e à sensibilidade do corpo, da mente e do cérebro humano, em constante 
adaptação e aprendizagem.
O SNC, constituído pelo encéfalo e medula espinhal, está coberto por três meninges: 
dura-máter, aracnoide e pia-máter. Anatomicamente, ele está organizado ao longo dos 
eixos rostrocaudal (“rostro” = em direção ao nariz; e “causal” = em direção à causa) 
e dorsoventral (“dorso” = em direção ao dorso; e “ventral” = em direção ao abdome). 
No ser humano (animal de complexidade ímpar), há uma flexão do SNC na junção 
do tronco encefálico e diencéfalo (na altura da base do crânio), daí se determinada 
estrutura estiver acima da junção, rostral quer dizer em direção ao nariz e caudal, em 
direção à nuca; dorsal em direção ao topo da cabeça e ventral, em direção à mandíbula. 
Caso a flexão estiver abaixo de determinada estrutura,as associações feitas são: rostral/
pescoço, caudal/cóccix, dorsal/costas e ventral/abdome.
A forma como o sistema nervoso se apresenta deve-se a uma organização particular de 
suas células. Segundo Brandão (2004, p.11),
[...] a disposição dos corpos celulares (soma) e dos prolongamentos 
(axônios) dos neurônios surgem as diversas estruturas neurais 
características do sistema nervoso central. Os corpos celulares podem 
constituir núcleos quando formam aglomerados mais ou menos esféricos, 
como o núcleo rubro, ou alongados, como o núcleo caudado; córtices ou 
pálios quando se reúnem em forma de lâminas, casca (do latim córtex) 
ou manto (do latim pallius); substâncias, aglomerados maiores que os 
29
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
núcleos, mas ainda bem delimitados em uma determinada região, como 
a substância cinzenta periaquedutal e a substância negra ou complexos, 
um conjunto de núcleos, como o complexo amigdaloide.
Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso é constituído por dois sistemas:
 » Sistema nervoso central (SNO): está localizado dentro da cavidade 
craniana (encéfalo) e do canal vertebral (medula espinhal). O encéfalo é 
ainda subdividido em cérebro, tronco encefálico e cerebelo.
 » Sistema nervoso periférico (SNP): constituído por nervos, gânglios 
e terminais nervosos. Os gânglios são aglomerados de corpos celulares de 
neurônios. Os nervos são cordões esbranquiçados que ligam o SNC aos 
órgãos periféricos. Quando a sua origem se dá no encéfalo, ele é chamado 
de nervo craniano. Se sua origem ocorre na medula espinal, ele é chamado 
de nervo espinal. Na extremidade das fi bras dos nervos situam-se as 
terminações nervosas que fazem contato com as células efetoras (célula 
muscular ou glandular) ou com outra célula nervosa. (BRANDÃO, 2004).
Figura 5.
Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.13: divisão do sistema nervoso, segundo critérios anatômicos.
Figura 6.
Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.13: superfície medial da metade direita do encéfalo humano.
30
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Do ponto de vista embriológico, o sistema nervoso divide-se em:
 » Prosencéfalo: corresponde ao cérebro na divisão anatômica e ainda é 
subdividido em telencéfalo e diencéfalo.
 » Mesencéfalo: não sofre divisão.
 » Rombencéfalo: subdivide-se em metencéfalo (ponte e cerebelo, na 
divisão anatômica) e mielencéfalo (bulbo, na divisão anatômica). 
 » Medula espinal: estrutura mais caudal do SNC, recebendo informações 
da pele, articulações, músculos e vísceras, constitui a estação fi nal para o 
envio de comandos motores. E a região medial da parte central é chamada 
de “coluna” ou corno intermédio-lateral. Há terminações nervosas de 
axônios que trazem informações motoras dos centros superiores e fazem 
sinapses com os corpos celulares dos chamados “neurônios motores ou 
motoneurônios”.
Figura 7.
Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.13: divisão do sistema nervoso, segundo critérios 
embriológicos e as principais estruturas que originam no indivíduo adulto.
Importante reconhecer que os receptores de todo o corpo possuem representação 
somatotópica na medula espinal. Nossas emoções acessam os sentidos e causam 
excitação (movimentos eletrizantes) em todo o corpo e produz, no cérebro, ações 
neuronais de acordo com as associações feitas. Em função disso, fazemos escolhas, 
tomamos decisões, temos sentimentos diferentes, agimos (falamos e escrevemos, por 
exemplo) e movimentamos o corpo.
31
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
Estruturas importantes neste processo de aprender/sentir/agir/pensar:
Dentro da filogenética, o cérebro é analisado como triuno9 e o tronco encefálico é a 
parte mais primitiva do nosso sistema nervoso central. Herdamos essa estrutura dos 
répteis, e por isso ela também é conhecida como cérebro reptiliano. É parte integrante 
do encéfalo, tem o formato de uma haste, sob a qual estão o tálamo e o domo dos 
hemisférios cerebrais.
Resumindo Brandão (2007), na constituição do rombencéfalo, temos:
 » O bulbo: contém células que levam a informação sensorial para os 
centros superiores do cérebro e recebem informações dos comandos 
motores para a medula espinhal. É uma importante estrutura de 
transporte de informações sensoriais do tronco encefálico e membros 
para o tálamo. Nele localizam-se o núcleo da rafe, os núcleos reticulares 
paragigantocelular e gigantocelular, cujas fibras projetam-se à medula 
espinhal onde atuam no controle descendente da informação dolorosa 
que chega à medula.
 » A ponte: é a porção do tronco encefálico situada ventralmente ao 
cerebelo, entre o bulbo e o mesencéfalo. Visto de frente, o tronco encefálico 
tem na ponte sua estrutura mais proeminente. A ponte funciona como 
estação para as informações provenientes dos hemisférios cerebrais e 
que se dirigem para o cerebelo. Na transição entre o bulbo e a ponte está 
localizado o locus coeruleus, principal fonte de inervação noradrenérgica 
do SNC, que possui importante papel no controle do comportamento 
emocional e no ciclo sono-vigília.
 » O cerebelo: não é parte do tronco encefálico, mas em função de sua 
posição anatômica, para efeito de classificação, ele é normalmente 
agrupado com a ponte, integrando o metencéfalo. Está conectado à ponte. 
É constituído pelo vermis e dois hemisférios cerebelares e desempenha 
um importante papel na regulação dos movimentos finos e complexos, 
bem como na determinação temporal e espacial de ativação dos músculos 
durante o movimento ou no ajuste postural. Projeta-se reciprocamente 
para o córtex cerebral, sistema límbico, tronco encefálico e medula 
espinal.
9 De acordo com Relvas (2007, p.26), filogeneticamente o cérebro pode ser dividido em três unidades: 1 - cérebro 
primitivo (autopreservação, agressão = constituído pelo tronco cerebral e corresponde ao cérebro dos répteis; 2 - cérebro 
intermediário (emoções = formado por estruturas do sistema límbico e corresponde ao cérebro dos mamíferos inferiores; 
3 - cérebro racional/ superior (tarefas intelectuais = compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais; é formado por 
um tipo de córtex mais recente – neocórtex – e por grupos neuronais subcorticais.
32
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Figura 8.
Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.16: representação esquemática da organização do sistema 
nervoso central de um gato. Uma visão de conjunto destas estruturas na sua relação com outras do SNC.
O mesencéfalo é a porção mais cranial do tronco encefálico. É atravessado pelo 
aqueduto cerebral. Na parte ventrolateral de cada lado sobressai-se a substância 
negra, responsável pela integração de comportamentos defensivos, está envolvida 
no controle da atividade dos músculos esqueléticos e, por meio de sua parte ventral, 
participa dos mecanismos de controle da dor. Destacam-se também os núcleos da rafe, 
origem da inervação serotoninérgica do SNC e que participam de inúmeros processos 
comportamentais importantes. E as vias ascendentes atuam na regulação do sono, 
comportamento emocional e alimentar e as vias descendentes estão envolvidas na 
regulação da dor.
Além de neurônios organizados em núcleos bem defi nidos que inervam músculos, 
glândulas e vísceras, o tronco encefálico também contém neurônios organizados 
funcionalmente, mas sem formar núcleos bem defi nidos entremeados por fi bras de 
passagem. Esses neurônios constituem a formação reticular (do latim reticulum). Eles 
têm uma função única no SNC que é a regulação da atividade cerebral envolvida com 
os níveis de alerta e atenção.
O tronco encefálico também contém os núcleos dos 12 pares de nervos cranianos, 
com a exceção do I (nervo olfatório) e do II (nervo óptico). Os nervos cranianos estão 
relacionados a três funções principais:
 » inervação sensorial e motora da cabeça e pescoço;
 » inervação dos órgãos dos sentidos;
 » inervação parassimpática dos gânglios autonômicos que controlam 
importantes funções viscerais, tais como a respiração,pressão arterial, 
frequência cardíaca e deglutição. 
33
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
O diencéfalo é parte do telencéfalo; está localizado no interior e anterior ao corpo 
caloso, e superior ao mesencéfalo; e é constituído pelo tálamo, subtálamo, hipotálamo 
e hipófise. Observações sobre estas estruturas:
 » Tálamo (em grego significa “antecâmera”): processa e funciona 
como relê das informações sensoriais provenientes das regiões mais 
caudais do sistema nervoso e que se dirigem para o córtex cerebral. Há 
conexões com o córtex cerebral por meio dos hemisférios cerebrais. Há 
núcleos talâmicos de projeção e regulação da emoção por transportarem 
informação do tálamo para o giro do cíngulo (uma estrutura do sistema 
límbico). Também há projeções para outras estruturas do cérebro ligadas 
às aferências sensoriais (dor, temperatura, pressão e tato); à sensibilidade 
da cabeça; às informações auditivas e visuais (retina). Importante 
saber que a glândula pineal situa-se no epitálamo e secreta o hormônio 
melatonina. 
 » Subtálamo: situa-se caudalmente ao tálamo e lateralmente ao 
hipotálamo. Como se localiza na transição com o diencéfalo, algumas 
estruturas mesencefálicas, como o núcleo rubro, a substância negra e a 
formação reticular, se estendem até o subtálamo. A formação reticular 
vai constituir a zona incerta do subtálamo. O principal componente do 
subtálamo é o núcleo subtalâmico de Luys, envolvido na regulação da 
postura e do movimento. Segundo Brandão (2004, p. 19), “lesões desse 
núcleo resultam em uma síndrome típica denominada hemibalismo, 
caracterizada por movimentos anormais involuntários das extremidades 
e do tronco”. 
 » Hipotálamo: situado ventralmente ao tálamo; constitui menos de 
1% do volume total do encéfalo; contém inúmeros circuitos neuronais 
relacionados às funções vitais e estes regulam a temperatura corporal, 
frequência cardíaca, pressão arterial, osmolaridade sanguínea, ingestão 
de alimento e água. De acordo com Brandão (2004), “seus mecanismos 
agem em conjunto no sentido de preservar as condições constantes do 
meio interno, um processo denominado de homeostasia por Cannon, 
assegurando as condições necessárias para uma vida livre e independente”. 
Sua influência atinge três sistemas, ainda de acordo com Brandão (2004): 
 › o sistema endócrino (controlando as funções da hipófise); 
 › o sistema nervoso autônomo (originando o sistema simpático e 
parassimpático); 
34
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
 › o sistema motivacional (por meio de suas conexões com outras 
estruturas que constituem o sistema límbico).
 » Hipófise: há uma conexão entre o hipotálamo e a hipófise. É também 
chamada de glândula pituitária ou glândula “mestra” do organismo, ou 
ainda “casa da inteligência”. É do tamanho de uma noz. Situa-se no interior 
da caixa craniana. Ela coordena o funcionamento das demais glândulas, 
mas não é independente: ela obedece aos estímulos do hipotálamo. O 
conjunto de neurônios dessa estrutura favorece ou inibe a liberação de 
hormônios aí produzidos e estes atuam na regulação do funcionamento 
das glândulas sexuais, da tireoide, do córtex adrenal, do crescimento 
ósseo, entre outros. Há liberação também de vasopressina e occitocina em 
sua drenagem venosa. Em resumo, “hipotálamo e a hipófise funcionam 
como um sistema de integração e saída para todo o SNC. A relação entre 
as funções hipotalâmicas e hipofisárias fica evidente quando observamos 
que certos distúrbios endócrinos cursam com sintomas psiquiátricos e 
que alguns distúrbios psiquiátricos são acompanhados de perturbações 
endócrinas.” (BRANDÃO, 2004, p.19).
 » Telencéfalo: esse é o nome dado aos hemisférios cerebrais. É 
predominante nos vertebrados superiores e apresenta-se sob a forma de 
dois grandes hemisférios cerebrais separados pela fissura longitudinal 
superior (corpo caloso). Cada hemisfério possui três polos: frontal, 
temporal e occipital e três faces: inferior, súpero-lateral e medial. 
Abaixo do córtex cerebral existem diversos agrupamentos organizados 
de neurônios e feixes de fibras constituindo as estruturas subcorticais. 
As principais são o corpo caloso, o fórnix, a área septal, o hipocampo, a 
amígdala e os núcleos da base.
Ao falarmos do telencéfalo, devemos falar também do córtex cerebral.
Em seu livro “As bases biológicas do comportamento”, Brandão (2004), refere-se ao 
córtex cerebral como uma estrutura pertencente aos homens e animais superiores. 
Importante observar as complexas circunvoluções do cérebro em que há camadas 
múltiplas de neurônios interconectados. É a estrutura mais nova do cérebro em termos 
evolucionários (neocórtex) e é bem desenvolvida somente em mamíferos. O neocórtex 
representa a maior parte do cérebro humano, contém, aproximadamente, 86 bilhões de 
neurônios e está subdividido em lobos frontal, parietal, temporal e occipital, em função 
dos sulcos cerebrais e da topografia óssea.
35
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
O cérebro não funciona como regiões isoladas, de acordo com Relvas (2007). Como 
observamos até aqui, há diferentes formas de ativações e associações por dentro das vias 
neuronais e a partir delas. De um lobo a outro; da esquerda para a direita; perpassando 
pelo corpo caloso acontecem múltiplas associações de ações recíprocas em diversas 
áreas corticais que asseguram a chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e 
associação, e a atividade motora de resposta. Essas são as funções venosas superiores 
desempenhadas pelo córtex cerebral.
Quadro 2.
LOBOS CARACTERÍSTICAS
LOBO FRONTAL
Córtex pré-frontal e motor (testa): relacionado às funções superiores; recebe impulsos nervosos dos 
lobos parietal e temporal por meio de ligações do giro cíngulo. Aqui acontece: o planejamento de 
ações e movimento; a fluência do pensamento e da linguagem; as respostas afetivas; o julgamento 
social; a vontade e determinação; e o pensamento abstrato e criativo. Lesões aqui determinam 
fraqueza muscular ou paralisia; insistência em estratégias que não funcionam; dificuldade em 
desenvolver uma sequencia de ações corretas; perda da concentração; diminuição da habilidade 
intelectual; há perturbação da velocidade de movimentos automáticos como fala e gestos; e déficit 
de memória e julgamento.
LOBO TEMPORAL
Localizada acima das orelhas. Função principal de processar os estímulos auditivos. Tal e qual 
os lobos occipitais, as informações são processadas por associação. Possui funções situadas 
em porções diferentes. Parte posterior relacionada à recepção e à decodificação de estímulos 
auditivos. Parte anterior relacionada à atividade motora visceral (olfação e gustação) e a alguns 
comportamentos instintivos.
LOBO PARIETAL
Localiza-se na região superior do cérebro. Está relacionada à interpretação, à integração de 
informações visuais (provenientes do córtex occipital), e permite ao indivíduo se localizar no 
espaço, reconhecer objetos por meio do tato etc.; e às somatossensitivas primárias (possibilita a 
percepção das sensações), principalmente, o tato, a dor e o calor; também é responsável, pela 
interpretação de dados captados pelos lábios, língua e garganta. Lesão do lobo parietal causa 
perda do conhecimento geral, inadequação do reconhecimento dos impulsos sensoriais e falta de 
interpretação das relações espaciais (visual, espacial e motora).
LOBO OCCIPTAL
Localiza-se na parte inferior do cérebro e cobertos pelo córtex cerebral. Esta região realiza a 
integração visual a partir da recepção dos estímulos que ocorre em áreas primárias, a partir do 
tálamo. Por comparação permite ao aprendente identificar um gato, uma moto ou uma maçã. Leva 
em consideração experiências passadas e expectativas futuras. Seus centros visuais são conectados 
por fibras intra-hemisféricas ao lobo parietal. Lesão nessa área impossibilita o reconhecimento de 
objetos; palavras; às vezes, rostos de pessoas conhecidas ou de familiares: é a chamada agnosia.
Resumo ampliado e fonte
RELVAS, Marta. Neurociência e Transtornos da Aprendizagem. WAK. 2007, 
pp. 36/37.Margeando as áreas sensoriais ou motoras primárias estão as áreas corticais de associação 
que, como o nome indica, servem para conectar as funções sensoriais e motoras. Essas 
áreas processam aspectos mais complexos da modalidade sensorial ou motora que as 
áreas primárias de projeção. Elas são divididas em três áreas denominadas:
 » córtex de associação pré-frontal: relacionado ao controle motor;
 » córtex de associação parieto-têmporo-occipital: relacionado às funções 
sensoriais superiores e linguagem;
36
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
 » córtex de associação límbico: relacionado à motivação e aspectos 
emocionais do comportamento.
Figura 9.
Fonte: <http://www.infoescola.com/anatomia-humana/lobos-cerebrais/>
De todas as estruturas do cérebro, apenas o córtex pré-frontal está embutido em 
uma rede tão rica de caminhos neurais. Essa conectividade única torna os lobos 
frontais especialmente adequados para a coordenação e para a integração do 
trabalho de todas as outras estruturas cerebrais – o regente da orquestra. Essa 
extrema conectividade também coloca os lobos frontais em um risco particular 
para doenças. Como a� rma Goldberg (p.58), “como em organizações políticas, 
econômicas e militares, o líder é, em última instância, responsável pelos erros 
dos subordinados”.
De novo, há o estabelecimento do cérebro triuno cujo funcionamento e articulação dos 
hemisférios cerebrais é de fundamental importância.
A partir da excitação dos sentidos, corpo calosos e hemisférios cerebrais criam uma onda 
sucessiva de atividades no córtex cerebral. As áreas sensoriais primárias projetam-se 
para as secundárias, e estas para as terciárias. Como ilustração, Brandão (2004) escreve:
[...] após a chegada de impulsos sensoriais nas suas áreas somestésicas 
primárias, eles são processados, em sequência, pelas áreas de 
associação secundárias e terciárias. No córtex pré-frontal ocorre 
uma síntese cognitiva e a formulação de planos e programas de ação 
voluntária. O resultado destes programas é comunicado às zonas 
motoras primárias, que se encarregam de sua execução em resposta 
aos estímulos sensoriais (p.21). 
37
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
Quadro 3. Relação das funções desempenhadas por diferentes regiões corticais10
ÁREAS CORTICAIS FUNÇÕES
CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO (giro pré-central). Inicia o comportamento motor voluntário.
CÓRTEX SENSITIVO PRIMÁRIO (giro pós-central). Recebe informações sensitivas do corpo.
CÓRTEX VISUAL PRIMÁRIO. Detecta estímulos visuais.
CÓRTEX AUDITIVO PRIMÁRIO. Detecta estímulos auditivos.
CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO MOTORA (área pré-motora). Coordena movimentos complexos.
CENTRO DA FALA (área de Broca). Produção da fala articulada.
CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO SOMESTÉSICA. Base do esquema corporal.
ÁREA DE ASSOCIAÇÃO VISUAL. Processa a visão complexa.
ÁREA DE ASSOCIAÇÃO AUDITIVA. Processa a audição complexa.
ÁREA DE WERNICKE. Compreensão da fala.
ÁREA PRÉ-FRONTAL. Planejamento, emoção,julgamento.
ÁREA TEMPORAL E PARIETAL. Percepção espacial.
E segue Brandão (2004),
Existem, aproximadamente, dois milhões de módulos corticais e 
cada módulo contém cerca de 10.000 neurônios. O nível de atividade 
nos módulos varia de uma descarga de alta frequência sinalizando 
ativação cortical até descargas de baixa frequência, características do 
córtex cerebral em repouso. O funcionamento de um módulo pode ser 
equiparado ao de um complexo de circuitos em paralelo, nos quais 
os impulsos excitatórios são continuamente transmitidos aos outros 
módulos corticais (p.22).
Figura 10.
Fonte: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=57>
10 Tabela retirada do livro: RELVAS. Marta. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as múltiplas efi ciências para 
uma educação inclusiva. Rio de janeiro: WAK editora, 2007, pp. 37-38.
38
UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
Mas para que toda essa arquitetura se dê em harmonia e de acordo com o que estabelece 
a natureza da biologia humana, é de fundamental importância a ação do corpo caloso. 
Constituído de cerca de 200 milhões de fi bras, é o mais poderoso sistema de ligação entre 
os dois hemisférios. Situado na base da fi ssura longitudinal do cérebro, apresenta-se como 
uma larga lâmina branca, arqueada e organizada em fi bras mielínicas e amielínicas. 
Está no interior dos hemisférios e gerencia os impulsos de um a outro hemisfério de 
acordo com a constituição e funcionalidade de cada um. Em conexão ao corpo caloso 
estão a fôrnix (feixe de fi bras que se projeta do hipocampo para o hipotálamo) e o septo 
pelúcido (duas lâminas delgadas, de substância nervosa, uma de cada lado, favorecendo 
e ampliando a ação do corpo caloso).
Figura 11.
Fonte: <http://www.psicoactiva.com/atlas/hipocamp.htm>
Em cada hemisfério há duas massas neuronais. Ambas encurvadas e mergulhadas no 
córtex temporal: é o hipocampo e a área septal. Este conjunto de estruturas tem grande 
importância para as funções cognitivas, particularmente na análise de informação 
espacial, na consolidação da memória e integração do comportamento emocional.
O hipocampo está localizado nos lobos temporais; é considerado a sede da memória 
(junto com o córtex frontal), está relacionado à sensação espacial e, em interação 
com a amígdala, é importante componente do sistema límbico. Em muitos estudos 
neurológicos, o hipocampo tem suas funções também relacionadas ao comportamento 
e às decisões. Está em conexão direta com o a área septal, por meio do giro supra-caloso. 
Vistos de frente, ambos parecem uma ave no momento de alçar voo. Cientistas da 
Oxford University afi rmam que ambas as estruturas constituem-se no substrato neural 
do sistema de inibição comportamental ativado por situações de estresse emocional ou 
ansiedade. Na escala fi logenética, o hipocampo surge nos mamíferos mais primitivos, 
sendo, por isso, chamado de arquicórtex.
39
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I
Figura 12.
Fonte: <http://www.auladeanatomia.com/neurologia/telencefalo.htm>
Uma das grandes diferenças entre os comportamentos dos mamíferos e dos répteis, 
por exemplo, está na participação das emoções no processo de aprendizagem. Esse 
processo, além da qualidade das emoções, tem origem nas estruturas mais primitivas do 
cérebro (tronco encefálico, cerebelo, mesencéfalo e bulbos olfatórios) e tem, no cérebro 
intermediário, a ponta da lança do que podemos chamar de raciocínio, equilíbrio 
ou pensamento lógico, ainda que se mantenham comportamentos básicos de nossa 
primitividade como autopreservação, agressão. Segundo Relvas (2007) mantemos 
nossa herança evolutiva dos répteis em cuja estrutura abrigam-se “mecanismos 
neuronais básicos da reprodução e da autoconservação, o que inclui o ritmo cardíaco, a 
circulação sanguínea e a respiração.”
Nessa perspectiva, reconhece-se também o envolvimento do cérebro emocional nas 
condutas “reptilianas” de forma rudimentar. Na superfície medial do cérebro dos 
mamíferos, há uma região constituída de células cinzentas (neurônios) e que forma o 
lobo límbico ou sistema límbico. E uma das estruturas principais desse sistema são as 
amígdalas cerebrais ou cerebelosas.
As amígdals cerebrais ou cerebelosas (do grego – amêndoas) são grupos de neurônios 
que, juntos, formam uma massa esferoide de substância cinzenta com cerca de dois 
centímetros de diâmetro, situada no polo temporal do hemisfério cerebral de grande 
parte dos vertebrados, incluindo o ser humano. Especifi camente, no ser humano, 
a amígdala é um complexo de vários núcleos chamados, em conjunto, de complexo 
amigdaloide. Em cada núcleo, há uma estrutura interna, conexões e neurotransmissores 
distintos. Está conectada basicamente com o hipotálamo e o tronco encefálico, de um 
lado; e de outro, liga-se ao tálamo e partes do córtex cerebral. 
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UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA
De acordo com Brandão (2004, p.23), a amígdala dá origem a duas importantes vias:
 » A stria terminalis: inerva o núcleo do leito da stria terminallis, a área 
septal, o núcleo acumbens e termina no hipotálamo ventromedial.

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