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Brasília-DF. Neuroeducação Elaboração Claudia Menezes Nunes Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I NEUROCIÊNCIA ................................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS BÁSICOS DA NEUROCIÊNCIA ......................................................................... 12 CAPÍTULO 2 BASES ANATÔMICAS DA APRENDIZAGEM ................................................................................ 25 CAPÍTULO 3 BASES FISIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM............................................................................... 42 UNIDADE II NEUROEDUCAÇÃO ............................................................................................................................. 58 CAPÍTULO 1 RELAÇÃO DA NEUROCIÊNCIA COM A EDUCAÇÃO ................................................................ 62 CAPÍTULO 2 COMO O CÉREBRO FUNCIONA PARA APRENDER ................................................................... 71 CAPÍTULO 3 APRENDIZADO E MEMÓRIA .................................................................................................... 82 UNIDADE III NEUROBIOLOGIA DOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM ................................................................... 96 CAPÍTULO 1 GÊNERO VERSUS CÉREBRO VERSUS APRENDIZAGEM ............................................................ 111 CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO EMOCIONAL E AS ‘DIFERENÇAS SUSPEITAS’ ENTRE MENINOS E MENINAS NO RENDIMENTO ESCOLAR ........................................................................................................ 124 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 137 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 141 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a � m de que o aluno faça uma pausa e re� ita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele veri� que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As re� exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, � lmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de � xação Atividades que buscam reforçar a assimilação e � xação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam veri� car a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certi� cação. Para (não) � nalizar Texto integrador, ao � nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Sejam bem-vindos à disciplina Neuroeducação. E sem delongas vamos iniciar apresentando as primeiras ideias desta que será uma disciplina de transformação de certezas, de apresentação de novidades e de oportunidade de (re)olhar nossos aprendentes em sala de aula de outra forma. Afinal: o cérebro é a principal tecnologia com a qual lidamos todos os dias. Então, vamos lá! A Neurociência é uma ciência nova, que trata do desenvolvimento químico, estrutural, funcional e patológico do sistema nervoso. Dentro das várias áreas das Neurociências, temos a Neurociência Cognitiva, que atua nos estudos do pensamento, da aprendizagem, da memória, do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre memória para eventos específicos e para execução de habilidades motoras. Contudo, a Educação, a Neurociência e a Aprendizagem estão intimamente ligadas ao desenvolvimento do cérebro, o qual se molda de acordo com os estímulos do ambiente. Segundo o neurocientista Bear (2006), a memória é a base de todo o saber, ou seja, da nossa individualidade, da nossa história, das nossas experiências captadas pelo corpo por meio de movimentos e sentidos e, a capacidade de julgamento, planejamento, abstração e atenção. Diferentes partes do encéfalo envolvidas no armazenamento de determinados tipos de informações formam a memória. Assim sendo, a Neuroeducação se tornou uma ferramenta moderna e eficiente para o entendimento do funcionamento das bases neuropsicológicas da aprendizagem na construção e transformação do conhecimento. A neuroeducação vem sendo utilizada, tanto para reconhecer incapacidades de aprendizagem, quanto para expandir conhecimentos específicos. E entre suas variadas contribuições, instrumentalizar o educador a tornar o ato de aprender e estudar do seu estudante mais prazeroso e interessante, pois o cérebro só assimila as informações pelos recursos metodológicos atraentes, instigantes, contextualizados e aplicados no dia a dia. Logo, é durante a aprendizagem que o cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente comoresultado da experiência, reage aos estímulos do ambiente, onde, a cada repetição, cada estímulo, as informações são guardadas em diversas regiões do cérebro, solidificando as memórias de longo e curto prazo, que serão futuramente resgatadas para novos aprendizados. Nessa perspectiva, para que ocorra a aprendizagem, o aluno depende de alguns fatores, como interesse, estímulo e principalmente atenção. Muitos estudos, com diferentes pontos de conversão com a neurociência, têm estabelecidos esquemas importantes 8 para que os profissionais da educação possam, por exemplo, desenvolver práticas pedagógicas significativas e bem atuais. Ainda assim se sabe pouco sobre a relação da Neurociência com o aprendizado, mas se pode afirmar que a pedagogia neurocientífica está surgindo para responder e sugerir caminhos para a educação do futuro, trazendo uma melhor compreensão de como o cérebro aprende. E tudo depende do método oferecido aos aprendentes do século XXI cujos processos de aprendizagem estão em franco processo de adaptação. Importante se ter então capacidade de provocar desafios aos seus aprendentes, de avaliar de forma mais interdisciplinar e complexa, de criar momentos de pertencimento e confiabilidade, de projetar escutas sensíveis sobre as inteligências em sala de aula, entendendo cada um individualmente. É saber avaliar e identificar tudo que ocorre, em um contexto geral, com cada aluno, em sala de aula. Com a neuroeducação sabe-se, com certeza, que os alunos aprendem de formas diferentes e, por isso, um único método não é o ideal para todos e se faz indispensável, adotar diversas estratégias de aprendizagem a serem usadas de acordo com a necessidade de cada um deles. Essa é a ideia total desta apostila: romper com a perspectiva do aprendente ideal e estabelecer vínculos reais, com aprendentes reais, cujas necessidades de aprendizagem são diversas e singulares, porque se coadunam com suas vivências emocionais e experiências reais. Espero que gostem. Espero que tenham uma viagem muito intrigante pelos cérebros daqueles que, em formação, precisam de mais atenção, carinho e limites em nossas posturas e atitudes profissionais, em geral, todos os dias. Objetivos » Compreender e desenvolver aprofundamentos às questões relacionadas ao funcionamento do cérebro e à dinâmica e aos papéis do sistema nervoso na recepção de informações, suas interpretações e formas de elaboração de respostas em função do acontecimento do processo de aprendizagem, ainda que diante dos transtornos de aprendizagem e de desenvolvimento, e levando em consideração os diferentes gêneros. » Apresentar as bases anatômicas e fisiológicas do cérebro em sua sinergia com o mundo de maneira compreender como o aprendente aprender. 9 » Discutir formas de incentivar a aprendizagem diante dos transtornos, principalmente os de desenvolvimento. » Ressaltar a importância do conhecimento neurocientífico na proposta de estabelecer novos comportamentos no processo de ensinar. » Construir um panorama biopsicossocial em que se perceba como o aprendente aprende, afinal todos são influenciados e modificados pelas experiências no/com o mundo. » Adquirir noções da fisiologia do encéfalo e estabelecer relações com os fatores biopsicossociais intrínsecos e extrínsecos do desenvolvimento humano tais como: o cognitivo, afetivo, emocional e relacional. » Facilitar a (re)organização e o (re)equilíbrio do sujeito ao ambiente em seu processo de seleção e adaptação ao meio. 11 UNIDADE INEUROCIÊNCIA Aprender é uma questão de entendimento neurocientífico dos comportamentos. Desse ponto em diante é possível discutir memória, atenção, emoção e cognição, em termos psicológicos, sociais e educacionais. A questão neurocientífica advém da crescente importância da neurociência, dos avanços dos estudos neurocientíficos relacionados, por exemplo, às funções mentais superiores, suas tensões e retenções, e influências nos processos humanos de ver, ouvir, sentir, fazer, ser, conhecer, perceber entre outros. É cada vez maior e impactante a compreensão do desenvolvimento biopsicossocial humano em sua organização neural, atividades das funções executivas e formas de sentir, perceber, afetar e/ou aprender. Como se interconectam os circuitos neurais? Que processos biológicos entram em convergência à evocação da memória? Como ocorrem as representações simbólicas da realidade? Qual é a importância dos sentidos na aprendizagem? Essas e outras tantas questões têm influência dos cientistas, acadêmicos e até mesmo curiosos do ser humano e seu funcionamento cerebral, além de sua necessidade de conexão com o mundo extragenético, mediante e baseado em três características fundamentais ao cérebro humano: sobrevivência, seleção e adaptação. O cérebro funciona de forma orquestrada, integrando os componentes de um comportamento ou uma função mental. A grande dificuldade está em identificar os componentes destes processos cerebrais que se apresentam em bloco. (BRANDÃO, 2004, p.07). Vamos pensar em uma orquestra? Cada instrumento tem sua especificidade, sonoridade e independência harmônica. Em sua organização, o fluxo de informações se traduz em uma dança sonora cuja comunhão instrumental gera emoções variadas, ou seja, equilíbrio, harmonia e música só acontecerão se cada componente se articular como um grande conjunto e a partir de ajustes em função da obra. Assim ocorre o funcionamento cerebral em processo constante de aprendizagem: há evoluções, danças químicas sensórias, ajustes (adaptação), inclusão de estímulos aos sistemas, de acordo 12 com as necessidades e as experiências. Não há isolamentos, já que todos devem estar integrados, ser interagentes e funcionar de forma a que todo o cérebro cresça e aprenda de maneira saudável, ainda que em respeito aos seus ritmos projetivos. Ao investigá-lo é possível apresentá-lo por partes dando forma didática à compreensão de cada um dos componentes. Esse será um grande desafio: é um esforço de sistematização das informações visando favorecer aos que iniciam seus estudos neurocientíficos. Porém, de antemão, é preciso também afirmar. Mas lembre-se de que: ainda assim e apesar de tudo isso, há uma hierarquia implícita em que cada informação ou sensação ou percepção agenciará um sistema-protagonista para liderar as adaptações neuronais e a plasticidade cerebral. O ser humano é particular, singular, diferente em suas formas de aprender a SER, FAZER, CONHECER e CONVIVER em consequência das maneiras como acessa/usa seu sistema cerebral. CAPÍTULO 1 Fundamentos básicos da neurociência Vamos partir de um fundamento: os paradigmas educacionais tradicionais estão em transformação acelerada. E a chamada “engenhoca” cerebral está em acelerada plasticidade (processo de adaptação). Há a necessidade de dinamização dos processos mentais de construção do conhecimento. Nessa perspectiva, a neurociência se apresenta como outra possibilidade de entendimento dos mecanismos de aprendizagem, situando um olhar mais focado sobre o funcionamento do sistema nervoso central, um organizador dos mais variados comportamentos, ou seja, “[...] há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam à percepção visual e auditiva, à compreensão e à capacidade linguística, à cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive de movimento, e assim por diante.” (RELVAS, 2009, p.14). Há espaços funcionais em um ambiente cerebral neuroquímico sempre em sinergia. Pensar neurociência pedagógica ou neuroeducação é pensar a possibilidade de reinventar a ação de ensinar e de aprender no século XXI. Segundo Ramal (2002, p. 190), o docente do século XXI deve ter “um perfil de professor que atue como arquiteto cognitivo e como dinamizador da inteligência coletiva”. O primeiro se refere à rede do hipertexto mental que procura ser potencializado em cada aprendente (e aqui a excitação do sistema nervoso é primordial); e o segundo pode ajudar a responder aos desafiosdas redes criadas pelos aprendentes, entre grupos, escolas e sistemas educacionais à aprendizagem significativa. 13 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I Em neuroeducação, o “arquiteto cognitivo” é transgressor, em sua prática, dos limites de uma sala de aula monológica e, além de não prescindir de uma articulação (e estudos) mais séria e profunda das teorias neurocientíficas, incluídas no entendimento das diferenças comportamentais do sujeito singular (ou em grupo) em que os hormônios ganham grande importância, também, no contexto das avaliações, em geral; também não prescinde do entendimento de que algumas ações educativas são importantes para se reconhecer as diferenças dos cérebros e dos gêneros em sala de aula; de que as diferenças de gêneros vão muito além dos órgãos sexuais; de que é importante estar por dentro dos estilos de comportamento cognitivo e emocional; e, principalmente de que se tornar um estudioso dos processos neuronais (mentais) favorece a elaboração de práticas de ensino reais e sinceramente focadas no educando. Todavia, antes de reconhecer a experiência neurocientífica como potencialmente adequada para o entendimento e transformação da sala de aula e dos comportamentos em torno da busca e do encontro com o conhecimento, é necessário se entender a trajetória da neurociência e, para além, entender sua importância na área educacional sem torná-la uma “receita de bolo” ou uma teoria “engessante” à ação educativa. Origem da neurociência Hoje, dentro de uma escola do século XIX, com professores do século XX e alunos do século XXI, há claros estranhamentos relacionais; crises geracionais; incertezas pessoais; velocidade social e emocional, ou seja, o mundo está em transformação acelerada e complexa e, cada vez mais, torna-se importante experiências inovadoras e, no caso deste módulo, uma revisão/reconfiguração séria das práticas de ensino, a partir da comunhão de outras teorias e conceitos científicos que se proponham a entender tipos e tipos de desenvolvimento humano em suas dimensões cognitiva, emocional e motora. Nessa perspectiva, uma fonte teórica vem se tornando importante à Educação, ao pensar a Educação, o ensino e a aprendizagem. Estamos diante da Neurociência. A palavra “neurociência” foi criada em 1970. É um campo novo, porém possui influências antiquíssimas. Suas bases (cientificas e, às vezes, nem tanto) são encontradas desde a filosofia grega até os modernos exames de imagens dos séculos XX e XXI. Como afirma Relvas (2007, p.22), “[...] é uma ciência nova, que trata do desenvolvimento químico, estrutural e funcional, patológico do sistema nervoso”. Ou seja, “[...] a raiz dos nossos processos mentais está na organização dos mecanismos neurais a ele subjacentes, na forma que eles se imbricam para determinar o que chamamos de funções mentais superiores” (BRANDÃO, 2004, p.07), a saber: atenção, linguagem, memória, sensação, percepção, emoção e pensamento. 14 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Basicamente, a neurociência é um ramo da biologia que estuda cientificamente o sistema nervoso. E como afirma Relvas (2007), “o cérebro é o instrumento da aprendizagem”. Atualmente, a neurociência “ganhou” um caráter interdisciplinar, pois vem colaborando com outras áreas de saber como educação, filosofia, antropologia, química, linguística, engenharia, matemática e outras áreas afins. Como ciência aplicada à sala de aula, pode ajudar aos docentes na construção de seus planejamentos, estratégias de ensino e avaliações tendo em vista a crescente percepção das diferenças entre os comportamentos cognitivos e emocionais. Além disso, vem favorecendo tanto à apreciação mais focada das chamadas “dificuldades de aprendizagem” em geral; quanto ao entendimento da importância do exercício (movimento do corpo), da alimentação e do sono à aprendizagem nos processos de aprender. Mas a que se ter um cuidado fundamental: a neurociência não é uma “receita de bolo” (algo pronto para montar e usar) ou panaceia teórica que surge para reestruturar definitivamente a educação ou resolver todos os problemas da sala de aula. Ela vem se oferecendo ao docente como uma oportunidade de estudos científicos ao conhecimento sobre a dinâmica do sistema biológico humano em relação ao seu comportamento em âmbito psicossocial e emocional e diante diferentes situações e desafios da vida cotidiana. Como diz Ramal (2002, p.193), como arquiteto cognitivo, estrategista do conhecimento, hoje cabe ao educador identificar “as inúmeras possibilidades do mapa de recursos (de ensino), indicar caminhos, propor desafios e metas, desenhar mapas de navegação da mente”, sempre interagindo e mediando a “navegação” dos aprendentes entre as informações e os desafios apresentados no curso da aprendizagem. E no conjunto dessas percepções e ações, o cérebro humano em franca ação e reação. E se para isso, junto aos estudos neurocientíficos, o educador começa (e precisa) entender que o jogo emocional interno (sistema límbico + córtex pré-frontal) estará “alimentando e retroalimentando” todo o processo de aprender. Porém, esta é apenas a ponta do iceberg! Lent (2001, p.4) apresenta a neurociência no plural, ou seja, enfatiza a ideia de que está é um conjunto teórico de diferentes áreas do saber que se complementam na busca do entendimento do cérebro humano. Mas “[...] os limites entre essas (áreas do saber) não são nítidos, o que nos obriga a saltar de um nível a outro, ou seja, de uma (área do saber) a outra, sempre que tentamos compreender o funcionamento do sistema nervoso”. Então, para simplificar, observe o quadro explicativo resumido abaixo apresentado por Lent (2001). 15 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I Quadro 1. Área do Saber Objeto de estudo Neurociência Molecular Diversas moléculas funcionais no sistema nervoso. Também chamada neuroquímica ou neurobiologia molecular. Neurociência Celular Células que formam o sistema nervoso, sua estrutura e sua função. Também chamada neurocitologia ou neurobiologia celular. Neurociência Sistêmica Populações de células situadas em diversas regiões do sistema nervoso. Sistemas funcionais (visão, auditivo, motor etc.). Se mais morfológica chama-se neuro-histologia ou neuroanatomia. Se lida com aspectos funcionais chama-se neurofisiologia Neurociência Comportamental Estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos como sono, sexo, emoção etc. Às vezes conhecida como psicofisiologia ou psicobiologia. Neurociência Cognitiva Capacidades mentais mais complexas típicas do homem como linguagem, autoconsciência, memória etc. Também chamada de neuropsicologia. Já Relvas (2012, p. 27) escreve o seguinte: “Neurociência é um conjunto de disciplinas que permeiam os estudos do sistema nervoso e originou-se do entendimento das bases cerebrais da mente humana”. Como conjunto, é correto o uso da palavra no singular, fato que justifica a leitura conceitual mais ampla do cérebro e sua plasticidade neuronal quando em processo de aprendizagem ou assimilação das informações em geral. E esta forma de apresentar a neurociência será utilizada neste módulo. História da neurociência “A neurociência é a área multidisciplinar do conhecimento que analisa o sistema nervoso para entender as bases biológicas do comportamento”. (FLOYD E. BLOOM) Há muitas décadas o cérebro é um centro de observações e ações. Em suma, as discussões giram em torno das razões pelas quais os humanos agem como agem, sentem como sentem, apesar dos ambientes, influências, culturas e aprendizados; ou a partir de bloqueios, traumas ou diferenças orgânicas (genéticas). Em seu processo de maturação, o cérebro (biológico) e a mente (psicológico e social) se enfrentam, se alterando, transformando, desequilibrando, readaptando, ratificando a ideia de que o mistério da complexidade dos processos mentais, sensórios e motores permanece incompreendido e, por isso, fonte de diferentes abordagens nos campos acadêmicos e científicos. Tudo sempre começacom nossa ancestralidade Nós a carregamos em nosso cérebro reptiliano (primitivo) e o percebemos/sentimos por meio de nossos impulsos/reações, normalmente adjetivadas como “intempestivas”. Então, partamos da trepanação, “técnica de perfuração à mão de um buraco de 2,5cm a 3,5cm de diâmetro no crânio de um homem vivo, sem anestesia ou assepsia, por 30 a 60 16 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA minutos”1. Presente desde o tempo mesolítico2, seu objetivo principal era eliminar os maus espíritos e demônios. Apenas 70% dos pacientes sobreviviam à essa intervenção; porém tal porcentagem de sobrevivência diminuiu muito nos séculos XIV a XVIII, principalmente por causa da falta de assepsia e de perfurações errôneas das meninges (hemorragia incontrolável). Além disso, com a trepanação, ocorriam vários danos aos cérebros e outras formas de intervenção cerebral. Figura 1. Fonte: <http://1989morais.blogspot.com.br/2012/10/o-que-e-trepanacao.html> Nesse período e por muito tempo, acreditava-se que o coração, e não o cérebro, era a sede da alma/da consciência e repositório das memórias. O corpo era preservado para a pós-vida; e o cérebro era completamente descartado. Essa visão sobre o coração segue até os tempos de Hipócrates (460-379 a.C.)3. Na Grécia Antiga surgem as perguntas mais sistematizadas sobre onde está a mente e, como ela, interage com o corpo. Há o entendimento de que o cérebro é o órgão das sensações e também ambiente em que se estabelece a inteligência. O homem deve saber que, de nenhum outro lugar, se não do cérebro vem a alegria, o prazer, o riso e a recreação, e a tristeza, melancolia, pessimismo e as lamentações. E então, de uma maneira especial, adquirimos sabedoria e conhecimento, e vemos e ouvimos para saber o que é justo e o que não é, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é sem sabor... E pelo mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, 1 ARAÚJO, Leonardo Carneiro de. Fundamentos da neurociência e do comportamento. <http://www.faculdadearapoti. com.br/blogadm/wp-content/uploads/2012/08/neurociencia.pdf>. Acessado em 20 de outubro de 2013. 2 Período da pré-história que, segundo historiadores, serve de transição entre o período paleolítico e o neolítico. Tem duração curta e signifi ca ‘idade média da pedra’; enquanto o paleolítico é ‘idade antiga da pedra’ e o neolítico é ‘idade nova da pedra’. Hábitos básicos: nômadas. 3 Em Atenas, Hipócrates (pai da medicina ocidental) era médico e ensinava retórica, fi losofi a e ginástica. Sua atuação marca o fi m da medicina místico-teúrgica e início da observação científi ca dos fatos clínicos. Vários dos seus textos foram compilados e organizados num Corpus Hippocraticum. Algumas de suas ideias: “o conhecimento do corpo é impossível sem o conhecimento do homem como um todo”; “O corpo não é só um conjunto de órgãos, mas uma unidade viva, que a ‘natureza’ de cada um regula e harmoniza”; “a vida é breve, mas a arte é extensa”; “as doenças provêm do desequilíbrio dos ‘humores’ (sangue, fl eugma, bile e atrabile); e “todo o corpo tem, em si mesmo, os elementos para recuperar-se”. Hipócrates deu importância ao ambiente e à hereditariedade; e priorizava o prognóstico em detrimento do diagnóstico. 17 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I e sentimos medo e o terror nos assola... Todas essas coisas provêm do cérebro quando este não está sadio... Dessa maneira, sou da opinião de que o cérebro exerce um grande poder sobre o homem. (Hipócrates, Da Doença Sacra, IV a.C.) Nessa perspectiva, segundo O’Shea (2010, p.22), “[...] Hipócrates foi ainda mais longe e desenvolveu uma teoria dos quatro humores que, juntos, eram responsáveis pelo temperamento [...] a saber: a bílis negra (melancolia), a bílis amarela (irritabilidade), a fleuma (tranquilidade e preguiça) e o sangue (paixão e alegria)”. Hoje, esta perspectiva é analisada como implausível, excessivamente enigmática e bem arbitrária; já que “sua inspiração advém da necessidade de se adequar aos improváveis postulados da lei natural grega, segundo a qual há quatro elementos: terra, ar, água e fogo” (p.22). Porém, em ciência ou em experimentação científica, ou ainda em estudos neurocientíficos, nenhuma teoria/leitura deve ser descartada. Demócrito e Hipócrates sugerem que a mente está no cérebro e que os nervos são ocos. Essas intuições filosóficas foram baseadas na instrumentação clínica, pois, à época, não se dissecavam os cadáveres. Hipócrates localizava a mente no cérebro, o que se mostrou importante às releituras sobre cérebro nos tempos atuais. O filósofo Aristóteles (384 – 322 A.C), tempos depois, coloca em xeque essa ideia e sugere que a mente está no coração, e não no cérebro. Nesse sentido, seria o coração o centro da inteligência. Devemos entender que suas ideias se fundamentavam em observações de comportamentos. O cérebro torna-se o órgão, então, um “resfriador” do sangue quando as emoções estão elevadas, afinal um indivíduo com emoções fortes acelera os batimentos cardíacos, por exemplo. A cognição (e consequente aprendizagem) se baseia justamente na capacidade de resfriamento do cérebro. É uma constatação que chega até aos nossos dias, por exemplo, quando optamos por decorar um texto: “decorar”, de coração, logo a memória relacionada à qualificação do coração, e não do cérebro. No século do Cristianismo, cerca de 400 anos depois da morte de Hipócrates, Cláudio Galeno de Pérgamo (131-201), médico mais influente do seu tempo, pela primeira vez, refuta o que diz Aristóteles, a partir da dissecação de animais, e constrói sua própria teoria sobre as conjecturas de Hipócrates. Era especialista em anatomia humana a partir de sua atuação médica na escola de gladiadores. Mas segundo O’Shea (2010, p.22), [...] embora possamos ser gratos a ele por perpetuar a ideia de que o cérebro é a sede da mente, Galeno continuou a tradição hipocrática de desconsiderar a importância dos tecidos sólidos do cérebro para as funções mentais. Em vez disso, associou a presença de três cavidades no cérebro que contêm fluidos também chamados de ventrículos, com 18 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA a divisão das faculdades mentais – a alma racional – em três partes: imaginação, razão e memória. E, segundo Relvas (2012, p.29), nessa época “predominava a teoria de que os ventrículos cerebrais eram órgãos, sede dos humanos, e nos quais estava localizada também a capacidade intelectual do homem”. Ou seja, Galeno e os pensadores da época tentavam correlacionar a relação ventricular com a mente, pois são as primeiras coisas vistas em uma dissecação. A ciência nos proveu de visões ideológicas sobre o cérebro. O cérebro tornou-se o lugar das representações conceituais e sensoriais que, praticamente, ditam todas as ações do homem na Terra. Não há o sentido de subjulgamento, há o entendimento de que, como organismo vivo, a construção do conhecimento tem o seu esboço inicial no cérebro. Mas nem sempre foi bem assim. O cérebro, ainda não sendo visto como centro da psique, era visto apenas como massa homogênea e amorfa, um reservatório cujos fluidos e humores atravessavam corpo e nervos, elaborando temperamentos e comportamentos instintivos. Dessa visão medieval, entra-se na emergência da visão racionalista (Renascimento). Na renascença, o conhecimento da anatomia começa a se desenvolver. Vesálius, no começo do século XVII, por meio de dissecação em seres humanos, realizou um completo e detalhado estudo, principalmente, no cérebro. Nesse período, a partir da comparação do cérebro de homens com os animais, ele propõe que a sede da mente não está nos ventrículos cerebrais, mas em algum outro lugar, pois tanto homem como animais possuem ventrículos muito iguais, ao contrário do resto do cérebro que possuía grandes diferenças. As ideias sobre a função e os mecanismos cerebrais continuaram a serem influenciadas por teorias que envolvem o fluxo e a destilação de fluidos vitais, as energias e os humores até meados do século XVII. A influênciade Hipócrates e Galeno chega até René descartes4 e seu modelo hidráulico de cérebro, também baseada em humores do funcionamento cerebral. Houve comparação com o trabalho de máquinas complexas de seu tempo, como relógios, e seus movimentos controlados por sistemas hidráulicos. Ou seja, dentro do ser humano, o sistema nervoso funcionava a partir da água. Segundo Relvas (2012, p.30), “para Descartes, a maioria das atividades do corpo, como sensação, movimento, digestão, respiração e sono, é explicada pelos princípios mecânicos, onde o corpo físico e o cérebro funcionam”. 4 Em 1637, René Descartes publica o Discurso do Método e cria um dualismo na natureza humana, onde haveria uma parte relacionada com o corpo e uma parte relacionada com a mente. 19 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I Figura 2. Fonte: <http://www.cerebromente.org.br/n06/historia/bioelectr.htm> Os processos cognitivos não estariam localizados apenas nos ventrículos cerebrais com fl uidos, ainda que fi zesse referência ao fl uxo de energias por meio dos nervos. Segundo Descartes, o cérebro (máquina e mecanismo), em sua glândula pineal, abrigaria a sede da alma, o fantasma na máquina. A glândula pineal, “por ser uma estrutura central e unitária, deveria ser a ligação com a alma singular, mas também foi atribuído a ela controle exclusivo, direcionando o fl uxo de energias animais pelo cérebro.” (O’SHEA, 2010, p.25). Descartes é um dos primeiros pensadores a estudar a relação entre o cérebro e o corpo elegendo a glândula pineal como o centro de ligação entre essas estruturas e abre novos caminhos às leituras sobre o cérebro: ele localizou a mente (intelecto) no cérebro. Há a refl exão e tradução do mundo mecanicista e isto determina o homem ocidental, de forma sincronizada. Àqueles temperamentos e comportamentos instintivos, agora, estão racionalizados. Em fi ns do século XVII, a teoria humoral perde força. Há uma nova geração de anatomistas redescrevendo a estrutura do cérebro com mais precisão. Destaque para Thomas Willis (1621-1675). É o criador do termo “neurologia” e afi rma que o tecido sólido cerebral tinha funções importantes; demonstra que o sistema nervoso depende do fl uxo de sangue para esses tecidos; além disso, reconhece que os nervos não são canais ocos. Porém, e ainda assim, permaneceu um teórico dos fl uidos para o entendimento da função cerebral. A renovação do olhar científi co e a perspectiva da importância real do cérebro nos comportamentos, funções executivas, emoções e movimentos, torna infrutífera a teoria dos fl uidos e tantas outras a ela relacionadas ou baseadas. Ascende, então, o período iluminista, em que há uma grande revolução da ciência: Física por meio de Galileu; 20 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Medicina por meio do anatomista Luigi Galvani (e seu contemporâneo Alessandro Volta, com a associação essencial entre a eletricidade e as funções dos sistemas nervosos) entre outros. Importante entender, nesse momento da leitura, que, nem Galvani e nem Volta supunham que os estímulos elétricos aplicados externamente estavam ativando processos biológicos, fazendo com que impulsos elétricos de alta velocidade se propagassem dos nervos aos músculos, resultando em sua contração (O’SHEA, 2010, p.27). Tal entendimento ocorre em meados do século XIX com o fisiologista Du Bois-Reymond (1818-1896), segundo o qual os nervos e músculos têm capacidade de gerar impulsos elétricos de propagação rápida. Assim também começa o estudo experimental do sistema nervoso onde se descobre que ele funciona a partir de relações elétricas. O terreno estava preparado para a ciência moderna e o reconhecimento, no século XX, de que o sistema nervoso possui áreas específicas para determinadas funções e que existem células específicas (unidades funcionais minúsculas), responsáveis pela comunicação de informações no cérebro: os neurônios. A verdadeira natureza celular do cérebro e de suas funções mentais foi reconhecida pela primeira vez pelo pai da neurociência moderna, o neuroanatomista espanhol Santiago Ramon y Cajal (1852-1934). (O’SHEA, 2010). À época, Cajal afirmou que o cérebro é uma máquina celular, em detrimento das leituras anatomistas de que o cérebro não era composto por células. As células cerebrais eram muito diferentes das outras células5. Surge, então, a “teoria reticular”6 da anatomia cerebral – uma interpretação incrivelmente perdurável que persistiu até boa parte do século XX. Diferentes neurocientistas veem como um obstáculo ao progresso científico: como pensar uma máquina sem a ação efetiva de componentes “inferiores” (discretos)? Por fim, tornou-se evidente que, para entender a ciência cerebral, era preciso identificar os componentes funcionais da estrutura microscópica do cérebro. Em fins do século XIX, o anatomista italiano Camillo Golgi desenvolve um método de coloração adequado: uma forma de destacar a morfologia de alguns neurônios em qualquer região do cérebro. Esse método permitia que neurônios individuais fossem vistos sem obstrução por meio da massa emaranhada de processos ramificados de células vizinhas. Mas havia um problema: um em cerca de mil neurônios era revelado. Mas de pronto, ficou claro que há células diferentes no cérebro. 5 Segundo O’Shea (2010, p.28), [...] O próprio termo ‘célula’ implica uniformidade: estruturas simples determinadas por limites definidos. Daí a dificuldade de reconhecimento de ver sua composição celular no microscópio. [...] Os neurônios são diversificados em termos de morfologia. Eles têm processos bastante delicados que se ramificam do corpo das células e se misturam com as ramificações de outros neurônios. A complexidade e a diversidade de sua aparência física excedem facilmente a de outros tipos de células encontrados em qualquer outra parte do corpo. 6 Quando visto por meio de um microscópio, o cérebro parecia consistir de um lamaçal irremediavelmente intrincado (um retículo), sem os diferentes limites que definem as células, tão evidentes em outros tecidos. 21 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I De acordo com O’Shea (2010), o método Golgi foi a chave para um novo conjunto de ideais passíveis de comprovação científica sobre como o cérebro funciona. Decresce a teoria reticular, ascende a doutrina do neurônio atribuída a Ramon y Cajal com suas duas proposições: 1. o neurônio é uma célula; 2. os neurônios são estruturalmente polarizados em relação à sua função. O cérebro é observado como tendo funcionamento eletroquímico. Suas operações estavam diretamente relacionadas às funções das estruturas físicas em nível microscópico. Cajal concluiu que a função do neurônio deveria estar relacionada com o movimento e o processamento de informações no cérebro (O’SHEA, 2010). Daí em diante, muitas suposições quanto às articulações, aos processamentos e às decodificações das informações. E nessa um insight importante: [...] ele postulou que seria lógico que os componentes da função impusessem direcionalidade sobre o fluxo de informações (ou streaming, como ele chamou). Então propôs que as informações fluem em uma direção: de uma região de entrada para uma região de saída. O corpo celular do neurônio e seus processos mais curtos, conhecidos como dendritos, desempenham funções de entrada. A informação percorre a extensão mais longa do corpo celular, chamada de axônio, para a região de saída – os terminais do axônio e suas ramificações que entram em contato com os dendritos de entrada e o corpo celular de outro neurônio. (O’SHEA, 2010, 31) Ramon Y Cajal é fundamental para a ciência cerebral moderna. Seu reconhecimento dos neurônios como unidades polarizadas de transmissão de informação foi um marco na neurociência. Neste concentrado de informações sobre a neurociência, em paralelo, se articular uma ciência, hoje desacreditada: a frenologia desenvolvida pelo médico vienense Franz Joseph Gall que acreditava que o cérebro é o órgão da mente. A frenologia, metáfora do século XIX, investe na compartimentalizaçãodo cérebro, em várias áreas, abrigando desde as diferentes funções psíquicas aos comportamentos humanos mais sutis. Gall postula que diferentes faculdades distintas da mente, atributos inatos da personalidade e capacidade intelectual, estão localizados em diferentes lugares do cérebro. Tudo teria uma localização específica, razão pela qual nossa massa encefálica tem vários sulcos. Gall pensava que o crânio assumiria a forma do relevo 22 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA do cérebro e, portanto, que as protuberâncias na superfície cranial poderiam ser lidas como um índice de várias aptidões psicológicas (O’SHEA, 2010, p.34). Europa e Estados Unidos foram assolados por essa prática a partir de 1820. Os frenologistas se diziam “ledores de mente” com base em protuberâncias na cabeça. E a Revolução Industrial acentuou essa visão tecnicista sobre o pensamento científi co, premiando a razão como a mantenedora do equilíbrio de humor do homem. Para tudo há uma funcionalidade, há uma razão técnica de existência. Figura 3. Fonte: <http://escoladecriacao.espm.br/2013/frenologia-a-ciencia-que-lia-cabecas/> O cérebro, então, torna-se refl exo dos modelos da sociedade industrial mecanizada, hierárquica e frenológica do início do século XX. O advento dos computadores ampliou a metáfora mecanicista do cérebro como grande e potente gerenciador cibernético. A comparação entre cérebro e computador era plenamente aceita e ampliada nas mais diferentes pesquisas científi cas. Segundo Doidge (2011, p. 26), [...] a ideia do cérebro-máquina inspirou e norteou a neurociência desde que foi proposta no século XVII substituindo concepções mais místicas sobre a alma e o corpo. Os cientistas impressionados com as descobertas de Galileu [...] passaram a acreditar que toda a natureza funcionava como um grande relógico cósmico, sujeito às leis da física, e começaram a explicar cada ser vivo do ponto de vista mecanicista, inclusive nossos órgãos corporais, já que pensavam que também eram máquinas. A frenologia entra em decadência no início do século XX coincidindo, de acordo com O’Shea (2010), com o rápido acúmulo de evidências reais que sustentavam o princípio de que muitas funções mentais discretas estão concentradas de modo específi co em determinadas partes do cérebro. Importante a Primeira Guerra Mundial e a observação 23 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I das vítimas de estilhaços de armas de fogo em regiões específicas do cérebro com produção de distúrbios reproduzíveis. Daí em diante Darwin e sua Teoria da Evolução coloca ser humano e animal em uma escala evolucionária natural, e Pierre Broca publica um artigo sobre a afasia de emissão em 1861, mostrando que existe estreita relação entre uma localização cerebral e uma função psicológica, por exemplo. Em 1895, o físico Wilhelm Rontgen descobriu uma tecnologia que serve para exames como a Angiografia cerebral: o raio X. Em 1972, a primeira máquina de tomografia computadorizada é criada. É um método de imagem que utiliza raios-x para captação de imagens de estruturas crânio-encefálicas. Em vários congressos, a palavra “Neurociência” surge. Ou seja, o campo de estudo dos objetos tradicionais à luz do Sistema Nervoso Central é batizado. E em 1973, surge o primeiro PET (tomografia computadorizada por emissão de pósitrons), porém, devido o alto preço, seu uso ficou limitado até 1990. E, em 1990, George Bush declara que estamos, oficialmente, na década do cérebro. Atualmente, depois de intenso desenvolvimento das neurociências e da ciência cognitiva, o cérebro passou a ser mais visto como um ecossistema do que uma máquina, já que os neurônios vivem em situação de competição e organização pelo estímulo e direcionamento do ambiente. O cérebro não mais dicotomiza o que está fora daquilo que se auto-organiza. O cérebro, agora, é autopoético, orgânico, fluido e modular. Essa “autopoesis”, comentada por Maturana e Varela, em seu livro “A árvore do conhecimento”, recompõe a dinâmica da cognição humana no retorno de sua melhor dupla psíquica: razão e emoção. Na década de 1990, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das técnicas de visualização do funcionamento cerebral causaram um novo “boom” na conjuntura metodológica do entendimento da ação neuronal, agora, relacionando-a a atividade mental e ao metabolismo cerebral, ou seja, no aumento do consumo de oxigênio e de glicose pelos neurônios requisitados a cada momento. Na história do cérebro, o mundo precisou se transformar fortemente para possibilitar olhares mais específicos a este órgão por milhares de anos. Entender seu funcionamento, adaptabilidade, neuroplasticidade, a partir de estímulos eletroquímicos em que neurônios disparam gerando reflexão, interação, pensamento, sinergia e outras conexões, atravessou o tempo histórico com idas e vindas, às vezes positivas, às vezes negativas. 24 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Galáxia biológica da aprendizagem Fala-se muito em CEOs, hoje em dia: os chamados “diretores executivos” (chief excutive officer), o cérebro de uma empresa, o elemento de maior autoridade na hierarquia operacional de uma empresa (organização). E aprender é uma ação que precisa de um CEO estratégico formatado e que inspire (estimule) possibilidades de mudanças comportamentais importantes à sobrevivência de todo um sistema aprendente. Pensamento, criatividade, consciência, linguagem, memória, raciocínio lógico, emoções são itens de um sistema organizacional biológico que necessita de adaptações às ações sensórias e às reações motoras visando o output de informações e o input de conhecimento (aprendizagens) no conjunto de habilidades e competências humanas. O CEO biológico humano é o cérebro. É, segundo Goldberg (2002), um “cérebro executivo” com funções complexas, principalmente, dos lobos frontais (parte do cérebro mais recentemente evoluída e especialmente humana) e seus diferentes estilos em indivíduos “normais” ou alterados por percalços neurológicos (doenças ou danos ou bloqueios). Porém, o cérebro humano se desenvolve e funciona em rede, em comunhão, basicamente, entre o mundo interno e externo por meio dos sentidos, e cujo alcance atravessa todo o corpo humano e seus sistemas internos. Logo aprender exige interligações semelhantes ou originais em todo o repertório de informações assimiladas no processo de maturação psicobiológica do ser humano e acontece por meio de desafios/estímulos ao sistema sensório-motor humano. Falamos aqui das emoções: Aprender é um movimento emocional ininterrupto à biologia cerebral. Internamente, há uma galáxia de milhões de pequenas células nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso que se comunicam umas com as outras por meio de pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito especiais, como pensamentos, sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais e físicas, sem as quais não seria possível toda a riqueza interna e nem perceber o mundo externo como som, cheiro, sabor, luz e brilho, entre outros (RELVAS, 2005, p.21). E essas células nervosas são chamadas de neurônios. Se no princípio bíblico era o Verbo; no princípio do que se procura entender como aprendizagem, há os neurônios. Milhões de células (incluindo as células gliais) interligadas de modo intrincado por prolongamentos (dendritos e axônios). Quando se quer estudar e entender os percalços da aprendizagem, a galáxia neuronal é imprescindível, afinal reconhecemos que há diferentes tipos e estilos de aprendizagem e muitas dificuldades de aprendizagem com as quais lidamos todos os dias. Falaremos sobre isso com mais detalhes mais a frente. Agora: como se organiza a estrutura mais importante à aprendizagem humana? 25 CAPÍTULO 2 Bases anatômicas da aprendizagem Entender as bases do aprendizado é entender como o cérebro forma conexões novas e as memórias; é entender a importância do estímulo à futura motivação de aprender; o desenvolvimento de habilidades e fortalecimento das competências;as sensações e ações mais emocionais dos comportamentos etc. Esse entendimento pode favorecer o lidar com os comportamentos aprendentes no cotidiano escolar. Entender as bases anatômicas da aprendizagem é entender a composição estruturas do sistema biológico humano em termos de organização relacional de cada órgão por dentro do corpo humano. Vamos montar um mapa das posições e relações das várias estruturas cerebrais influenciadas pelos estímulos sensórios-motores à ação de aprender. E o fundamento são os neurônios. Inicialmente, para fins didáticos, segundo Herculano-Houzel (2005), o cérebro pode ser distribuído em três grandes porções: » A porção sensorial (parte detrás do cérebro): representa todo um conjunto de estruturas que se prestam a receber informações do ambiente e processá-las de uma maneira coordenada permitindo ao cérebro a criação, por exemplo, de uma imagem (representação sensorial). Aqui se constroem o sentido da realidade e, por conseguinte, se desenvolve e organiza os comportamentos em relação aos outros; os tipos de reação às situações; as sensações às emoções variadas etc. » A porção motora (parte mediana do cérebro): a partir dos sentidos, outras regiões do corpo são atingidas e encarregadas de gerar movimentos, comportamentos do corpo às sensações. É uma parte, não apenas reativa, mas se representa de forma apropriada, adequada às intenções humanas. » A porção associativa (parte da frente do cérebro – córtex pré-frontal): o acontecimento dos movimentos, a partir da influência dos sentidos, instaura no sistema nervoso central (cérebro, corpo e mente) interligações de forma a processar informações, criar representações mentais unificadas do mundo (realidade) e usar essas representações para dar movimento ao corpo, para criar comportamentos, interagir com as outras pessoas e com diferentes ambientes. 26 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Ainda, segundo Herculano-Houzel (2005), esta última porção, por definição, não é sensorial e nem motor, é o chamado “córtex associativo” já que é capaz de acrescentar complexidade aos comportamentos, por meio de suas associações, com as memórias do passado, com a elaboração de projeções para o futuro, os objetivos, estratégias, metas, e permite que os aprendentes saiam do tempo presente com ferramentas cognitivas e pedagógicas importantes à sua integração social e profissional. Mas ao mencionar todo esse sistema em funcionamento no cérebro, é importante entender um ponto nevrálgico de todo esse processamento: o sistema nervoso. Segundo Damásio (2011, p.46), “a neuroanatomia é fundamental em neurociência, desde o nível microscópico dos neurônios individuais (células nervosas) até o nível macroscópico dos sistemas que se estendem por todo o cérebro.” Logo, no estudo da neurociência, entender a geografia cerebral em escalas diversas é muito importante, principalmente, quando, na posição de docente, há o empreendimento de potencializar novos comportamentos diante dos diferentes procedimentos de aprendizagem. Em nossa evolução (animais multicelulares), necessitamos de um sistema que transmitisse informações rápidas e efetivas em longas distâncias. Para isso, células se especializaram e se organizaram para agir como canais de comunicação entre os receptores sensoriais, de um lado, e os efetores, de outro. De acordo com Brandão (2004, p.11), o conjunto dessas células ou neurônios compreende o sistema nervoso. Logo, para conhecermos o funcionamento do sistema nervoso central (SNC) é necessário identificar as relações entre as estruturas que o compõem, sua organização espacial. Em uma visão neurobiológica da aprendizagem, pode-se dizer que, quando ocorre a ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras áreas, pois o cérebro não funciona como regiões isoladas. E isso ocorre em virtude da existência de um grande número de vias de associação, precisamente organizadas, atuando em duas direções. (RELVAS, 2009, p.26) O sistema nervoso Relembrando, anatomicamente, o sistema nervoso central (SNC) é o conjunto do encéfalo, medula espinhal dos vertebrados. É também chamado de neuroeixo. E forma com o sistema nervoso periférico7 e o sistema nervoso8, uma importante estrutura ao 7 Sistema que se encontra fora do sistema nervoso central e é constituído de fibras (nervos) gânglios nervosos e órgãos terminais. Diferente do sistema nervoso central, o sistema nervoso periférico não se encontra protegido pela barreira hematoencefálica. É o grande receptor sensorial. 8 Sistema nervoso: conjunto de nervos que enervam todo o corpo humano. Ele monitora e coordena o movimento dos músculos, a movimentação dos órgãos e constrói e finaliza estímulos dos sentidos e inicia as ações humanas (ou outro animal) no mundo. 27 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I controle dos movimentos, pensamentos e memória. É fundamental ao controle do corpo e da mente como um todo. Indiretamente controla também fl uxos menores de substâncias químicas do sangue. É no SNC que chegam as informações relacionadas aos sentidos (audição, visão, olfato, paladar e tato) e é dele que partem ordens destinadas aos músculos e glândulas. Figura 4. 1 – cérebro; 2 – sistema nervoso central; 3 – espinha dorsal. Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_nervoso> Em processo de aprendizagem, a anatomia do cérebro humano funciona como uma rede pulsante de ajustes constantes ao meio ambiente, de forma mutável, e propícia à sobrevivência do aprendente e como espécie. O sistema nervoso central, segundo Damásio (1996): [...] está “neuralmente” ligado a praticamente todos os recantos e recessos do resto do corpo por nervos, que no seu conjunto constituem o sistema nervoso periférico. Os nervos transportam impulsos do cérebro para o corpo e do corpo para o cérebro. Em torno dessa geografia, percebe-se que cérebro e corpo estão também quimicamente interligados por substâncias, como hormônios e os peptídeos, que são liberadas no segundo e conduzidas ao primeiro pela corrente sanguínea (p.47). Como o SNC é um ambiente altamente enervado, os estímulos a que se submete reagem dentro do corpo em três aspectos, segundo Relvas (2005, pp.10): 28 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA » A irritabilidade: quando as células detectam modificações do meio ambiente. » A condutibilidade: quando a sensibilidade celular, causada pelos estímulos, é conduzida à outra parte da célula. » A contratilidade: quando a célula responde (reage) ao estímulo, por exemplo, causando o encurtamento da célula (sentido negativo) ou alongamento da célula (estímulo agradável), como um mecanismo de defesa. Humanos são seres complexificados em sua evolução biológica. Essa complexidade se retroalimenta, por meio dos sentidos e por meio das células sensórias responsáveis pela identificação dos estímulos. Houve necessidade de especialização das células o que permitiu a condutibilidade das informações colhidas na superfície orgânica. E dependendo do teor dos estímulos, há movimentos de repulsão ou de aproximação neuronal. Falamos aqui das responsabilidades das células nervosas (neurônios) à motricidade e à sensibilidade do corpo, da mente e do cérebro humano, em constante adaptação e aprendizagem. O SNC, constituído pelo encéfalo e medula espinhal, está coberto por três meninges: dura-máter, aracnoide e pia-máter. Anatomicamente, ele está organizado ao longo dos eixos rostrocaudal (“rostro” = em direção ao nariz; e “causal” = em direção à causa) e dorsoventral (“dorso” = em direção ao dorso; e “ventral” = em direção ao abdome). No ser humano (animal de complexidade ímpar), há uma flexão do SNC na junção do tronco encefálico e diencéfalo (na altura da base do crânio), daí se determinada estrutura estiver acima da junção, rostral quer dizer em direção ao nariz e caudal, em direção à nuca; dorsal em direção ao topo da cabeça e ventral, em direção à mandíbula. Caso a flexão estiver abaixo de determinada estrutura,as associações feitas são: rostral/ pescoço, caudal/cóccix, dorsal/costas e ventral/abdome. A forma como o sistema nervoso se apresenta deve-se a uma organização particular de suas células. Segundo Brandão (2004, p.11), [...] a disposição dos corpos celulares (soma) e dos prolongamentos (axônios) dos neurônios surgem as diversas estruturas neurais características do sistema nervoso central. Os corpos celulares podem constituir núcleos quando formam aglomerados mais ou menos esféricos, como o núcleo rubro, ou alongados, como o núcleo caudado; córtices ou pálios quando se reúnem em forma de lâminas, casca (do latim córtex) ou manto (do latim pallius); substâncias, aglomerados maiores que os 29 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I núcleos, mas ainda bem delimitados em uma determinada região, como a substância cinzenta periaquedutal e a substância negra ou complexos, um conjunto de núcleos, como o complexo amigdaloide. Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso é constituído por dois sistemas: » Sistema nervoso central (SNO): está localizado dentro da cavidade craniana (encéfalo) e do canal vertebral (medula espinhal). O encéfalo é ainda subdividido em cérebro, tronco encefálico e cerebelo. » Sistema nervoso periférico (SNP): constituído por nervos, gânglios e terminais nervosos. Os gânglios são aglomerados de corpos celulares de neurônios. Os nervos são cordões esbranquiçados que ligam o SNC aos órgãos periféricos. Quando a sua origem se dá no encéfalo, ele é chamado de nervo craniano. Se sua origem ocorre na medula espinal, ele é chamado de nervo espinal. Na extremidade das fi bras dos nervos situam-se as terminações nervosas que fazem contato com as células efetoras (célula muscular ou glandular) ou com outra célula nervosa. (BRANDÃO, 2004). Figura 5. Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.13: divisão do sistema nervoso, segundo critérios anatômicos. Figura 6. Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.13: superfície medial da metade direita do encéfalo humano. 30 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Do ponto de vista embriológico, o sistema nervoso divide-se em: » Prosencéfalo: corresponde ao cérebro na divisão anatômica e ainda é subdividido em telencéfalo e diencéfalo. » Mesencéfalo: não sofre divisão. » Rombencéfalo: subdivide-se em metencéfalo (ponte e cerebelo, na divisão anatômica) e mielencéfalo (bulbo, na divisão anatômica). » Medula espinal: estrutura mais caudal do SNC, recebendo informações da pele, articulações, músculos e vísceras, constitui a estação fi nal para o envio de comandos motores. E a região medial da parte central é chamada de “coluna” ou corno intermédio-lateral. Há terminações nervosas de axônios que trazem informações motoras dos centros superiores e fazem sinapses com os corpos celulares dos chamados “neurônios motores ou motoneurônios”. Figura 7. Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.13: divisão do sistema nervoso, segundo critérios embriológicos e as principais estruturas que originam no indivíduo adulto. Importante reconhecer que os receptores de todo o corpo possuem representação somatotópica na medula espinal. Nossas emoções acessam os sentidos e causam excitação (movimentos eletrizantes) em todo o corpo e produz, no cérebro, ações neuronais de acordo com as associações feitas. Em função disso, fazemos escolhas, tomamos decisões, temos sentimentos diferentes, agimos (falamos e escrevemos, por exemplo) e movimentamos o corpo. 31 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I Estruturas importantes neste processo de aprender/sentir/agir/pensar: Dentro da filogenética, o cérebro é analisado como triuno9 e o tronco encefálico é a parte mais primitiva do nosso sistema nervoso central. Herdamos essa estrutura dos répteis, e por isso ela também é conhecida como cérebro reptiliano. É parte integrante do encéfalo, tem o formato de uma haste, sob a qual estão o tálamo e o domo dos hemisférios cerebrais. Resumindo Brandão (2007), na constituição do rombencéfalo, temos: » O bulbo: contém células que levam a informação sensorial para os centros superiores do cérebro e recebem informações dos comandos motores para a medula espinhal. É uma importante estrutura de transporte de informações sensoriais do tronco encefálico e membros para o tálamo. Nele localizam-se o núcleo da rafe, os núcleos reticulares paragigantocelular e gigantocelular, cujas fibras projetam-se à medula espinhal onde atuam no controle descendente da informação dolorosa que chega à medula. » A ponte: é a porção do tronco encefálico situada ventralmente ao cerebelo, entre o bulbo e o mesencéfalo. Visto de frente, o tronco encefálico tem na ponte sua estrutura mais proeminente. A ponte funciona como estação para as informações provenientes dos hemisférios cerebrais e que se dirigem para o cerebelo. Na transição entre o bulbo e a ponte está localizado o locus coeruleus, principal fonte de inervação noradrenérgica do SNC, que possui importante papel no controle do comportamento emocional e no ciclo sono-vigília. » O cerebelo: não é parte do tronco encefálico, mas em função de sua posição anatômica, para efeito de classificação, ele é normalmente agrupado com a ponte, integrando o metencéfalo. Está conectado à ponte. É constituído pelo vermis e dois hemisférios cerebelares e desempenha um importante papel na regulação dos movimentos finos e complexos, bem como na determinação temporal e espacial de ativação dos músculos durante o movimento ou no ajuste postural. Projeta-se reciprocamente para o córtex cerebral, sistema límbico, tronco encefálico e medula espinal. 9 De acordo com Relvas (2007, p.26), filogeneticamente o cérebro pode ser dividido em três unidades: 1 - cérebro primitivo (autopreservação, agressão = constituído pelo tronco cerebral e corresponde ao cérebro dos répteis; 2 - cérebro intermediário (emoções = formado por estruturas do sistema límbico e corresponde ao cérebro dos mamíferos inferiores; 3 - cérebro racional/ superior (tarefas intelectuais = compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais; é formado por um tipo de córtex mais recente – neocórtex – e por grupos neuronais subcorticais. 32 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Figura 8. Fonte: As Bases Biológicas do Comportamento. Brandão, 2004, p.16: representação esquemática da organização do sistema nervoso central de um gato. Uma visão de conjunto destas estruturas na sua relação com outras do SNC. O mesencéfalo é a porção mais cranial do tronco encefálico. É atravessado pelo aqueduto cerebral. Na parte ventrolateral de cada lado sobressai-se a substância negra, responsável pela integração de comportamentos defensivos, está envolvida no controle da atividade dos músculos esqueléticos e, por meio de sua parte ventral, participa dos mecanismos de controle da dor. Destacam-se também os núcleos da rafe, origem da inervação serotoninérgica do SNC e que participam de inúmeros processos comportamentais importantes. E as vias ascendentes atuam na regulação do sono, comportamento emocional e alimentar e as vias descendentes estão envolvidas na regulação da dor. Além de neurônios organizados em núcleos bem defi nidos que inervam músculos, glândulas e vísceras, o tronco encefálico também contém neurônios organizados funcionalmente, mas sem formar núcleos bem defi nidos entremeados por fi bras de passagem. Esses neurônios constituem a formação reticular (do latim reticulum). Eles têm uma função única no SNC que é a regulação da atividade cerebral envolvida com os níveis de alerta e atenção. O tronco encefálico também contém os núcleos dos 12 pares de nervos cranianos, com a exceção do I (nervo olfatório) e do II (nervo óptico). Os nervos cranianos estão relacionados a três funções principais: » inervação sensorial e motora da cabeça e pescoço; » inervação dos órgãos dos sentidos; » inervação parassimpática dos gânglios autonômicos que controlam importantes funções viscerais, tais como a respiração,pressão arterial, frequência cardíaca e deglutição. 33 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I O diencéfalo é parte do telencéfalo; está localizado no interior e anterior ao corpo caloso, e superior ao mesencéfalo; e é constituído pelo tálamo, subtálamo, hipotálamo e hipófise. Observações sobre estas estruturas: » Tálamo (em grego significa “antecâmera”): processa e funciona como relê das informações sensoriais provenientes das regiões mais caudais do sistema nervoso e que se dirigem para o córtex cerebral. Há conexões com o córtex cerebral por meio dos hemisférios cerebrais. Há núcleos talâmicos de projeção e regulação da emoção por transportarem informação do tálamo para o giro do cíngulo (uma estrutura do sistema límbico). Também há projeções para outras estruturas do cérebro ligadas às aferências sensoriais (dor, temperatura, pressão e tato); à sensibilidade da cabeça; às informações auditivas e visuais (retina). Importante saber que a glândula pineal situa-se no epitálamo e secreta o hormônio melatonina. » Subtálamo: situa-se caudalmente ao tálamo e lateralmente ao hipotálamo. Como se localiza na transição com o diencéfalo, algumas estruturas mesencefálicas, como o núcleo rubro, a substância negra e a formação reticular, se estendem até o subtálamo. A formação reticular vai constituir a zona incerta do subtálamo. O principal componente do subtálamo é o núcleo subtalâmico de Luys, envolvido na regulação da postura e do movimento. Segundo Brandão (2004, p. 19), “lesões desse núcleo resultam em uma síndrome típica denominada hemibalismo, caracterizada por movimentos anormais involuntários das extremidades e do tronco”. » Hipotálamo: situado ventralmente ao tálamo; constitui menos de 1% do volume total do encéfalo; contém inúmeros circuitos neuronais relacionados às funções vitais e estes regulam a temperatura corporal, frequência cardíaca, pressão arterial, osmolaridade sanguínea, ingestão de alimento e água. De acordo com Brandão (2004), “seus mecanismos agem em conjunto no sentido de preservar as condições constantes do meio interno, um processo denominado de homeostasia por Cannon, assegurando as condições necessárias para uma vida livre e independente”. Sua influência atinge três sistemas, ainda de acordo com Brandão (2004): › o sistema endócrino (controlando as funções da hipófise); › o sistema nervoso autônomo (originando o sistema simpático e parassimpático); 34 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA › o sistema motivacional (por meio de suas conexões com outras estruturas que constituem o sistema límbico). » Hipófise: há uma conexão entre o hipotálamo e a hipófise. É também chamada de glândula pituitária ou glândula “mestra” do organismo, ou ainda “casa da inteligência”. É do tamanho de uma noz. Situa-se no interior da caixa craniana. Ela coordena o funcionamento das demais glândulas, mas não é independente: ela obedece aos estímulos do hipotálamo. O conjunto de neurônios dessa estrutura favorece ou inibe a liberação de hormônios aí produzidos e estes atuam na regulação do funcionamento das glândulas sexuais, da tireoide, do córtex adrenal, do crescimento ósseo, entre outros. Há liberação também de vasopressina e occitocina em sua drenagem venosa. Em resumo, “hipotálamo e a hipófise funcionam como um sistema de integração e saída para todo o SNC. A relação entre as funções hipotalâmicas e hipofisárias fica evidente quando observamos que certos distúrbios endócrinos cursam com sintomas psiquiátricos e que alguns distúrbios psiquiátricos são acompanhados de perturbações endócrinas.” (BRANDÃO, 2004, p.19). » Telencéfalo: esse é o nome dado aos hemisférios cerebrais. É predominante nos vertebrados superiores e apresenta-se sob a forma de dois grandes hemisférios cerebrais separados pela fissura longitudinal superior (corpo caloso). Cada hemisfério possui três polos: frontal, temporal e occipital e três faces: inferior, súpero-lateral e medial. Abaixo do córtex cerebral existem diversos agrupamentos organizados de neurônios e feixes de fibras constituindo as estruturas subcorticais. As principais são o corpo caloso, o fórnix, a área septal, o hipocampo, a amígdala e os núcleos da base. Ao falarmos do telencéfalo, devemos falar também do córtex cerebral. Em seu livro “As bases biológicas do comportamento”, Brandão (2004), refere-se ao córtex cerebral como uma estrutura pertencente aos homens e animais superiores. Importante observar as complexas circunvoluções do cérebro em que há camadas múltiplas de neurônios interconectados. É a estrutura mais nova do cérebro em termos evolucionários (neocórtex) e é bem desenvolvida somente em mamíferos. O neocórtex representa a maior parte do cérebro humano, contém, aproximadamente, 86 bilhões de neurônios e está subdividido em lobos frontal, parietal, temporal e occipital, em função dos sulcos cerebrais e da topografia óssea. 35 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I O cérebro não funciona como regiões isoladas, de acordo com Relvas (2007). Como observamos até aqui, há diferentes formas de ativações e associações por dentro das vias neuronais e a partir delas. De um lobo a outro; da esquerda para a direita; perpassando pelo corpo caloso acontecem múltiplas associações de ações recíprocas em diversas áreas corticais que asseguram a chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e associação, e a atividade motora de resposta. Essas são as funções venosas superiores desempenhadas pelo córtex cerebral. Quadro 2. LOBOS CARACTERÍSTICAS LOBO FRONTAL Córtex pré-frontal e motor (testa): relacionado às funções superiores; recebe impulsos nervosos dos lobos parietal e temporal por meio de ligações do giro cíngulo. Aqui acontece: o planejamento de ações e movimento; a fluência do pensamento e da linguagem; as respostas afetivas; o julgamento social; a vontade e determinação; e o pensamento abstrato e criativo. Lesões aqui determinam fraqueza muscular ou paralisia; insistência em estratégias que não funcionam; dificuldade em desenvolver uma sequencia de ações corretas; perda da concentração; diminuição da habilidade intelectual; há perturbação da velocidade de movimentos automáticos como fala e gestos; e déficit de memória e julgamento. LOBO TEMPORAL Localizada acima das orelhas. Função principal de processar os estímulos auditivos. Tal e qual os lobos occipitais, as informações são processadas por associação. Possui funções situadas em porções diferentes. Parte posterior relacionada à recepção e à decodificação de estímulos auditivos. Parte anterior relacionada à atividade motora visceral (olfação e gustação) e a alguns comportamentos instintivos. LOBO PARIETAL Localiza-se na região superior do cérebro. Está relacionada à interpretação, à integração de informações visuais (provenientes do córtex occipital), e permite ao indivíduo se localizar no espaço, reconhecer objetos por meio do tato etc.; e às somatossensitivas primárias (possibilita a percepção das sensações), principalmente, o tato, a dor e o calor; também é responsável, pela interpretação de dados captados pelos lábios, língua e garganta. Lesão do lobo parietal causa perda do conhecimento geral, inadequação do reconhecimento dos impulsos sensoriais e falta de interpretação das relações espaciais (visual, espacial e motora). LOBO OCCIPTAL Localiza-se na parte inferior do cérebro e cobertos pelo córtex cerebral. Esta região realiza a integração visual a partir da recepção dos estímulos que ocorre em áreas primárias, a partir do tálamo. Por comparação permite ao aprendente identificar um gato, uma moto ou uma maçã. Leva em consideração experiências passadas e expectativas futuras. Seus centros visuais são conectados por fibras intra-hemisféricas ao lobo parietal. Lesão nessa área impossibilita o reconhecimento de objetos; palavras; às vezes, rostos de pessoas conhecidas ou de familiares: é a chamada agnosia. Resumo ampliado e fonte RELVAS, Marta. Neurociência e Transtornos da Aprendizagem. WAK. 2007, pp. 36/37.Margeando as áreas sensoriais ou motoras primárias estão as áreas corticais de associação que, como o nome indica, servem para conectar as funções sensoriais e motoras. Essas áreas processam aspectos mais complexos da modalidade sensorial ou motora que as áreas primárias de projeção. Elas são divididas em três áreas denominadas: » córtex de associação pré-frontal: relacionado ao controle motor; » córtex de associação parieto-têmporo-occipital: relacionado às funções sensoriais superiores e linguagem; 36 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA » córtex de associação límbico: relacionado à motivação e aspectos emocionais do comportamento. Figura 9. Fonte: <http://www.infoescola.com/anatomia-humana/lobos-cerebrais/> De todas as estruturas do cérebro, apenas o córtex pré-frontal está embutido em uma rede tão rica de caminhos neurais. Essa conectividade única torna os lobos frontais especialmente adequados para a coordenação e para a integração do trabalho de todas as outras estruturas cerebrais – o regente da orquestra. Essa extrema conectividade também coloca os lobos frontais em um risco particular para doenças. Como a� rma Goldberg (p.58), “como em organizações políticas, econômicas e militares, o líder é, em última instância, responsável pelos erros dos subordinados”. De novo, há o estabelecimento do cérebro triuno cujo funcionamento e articulação dos hemisférios cerebrais é de fundamental importância. A partir da excitação dos sentidos, corpo calosos e hemisférios cerebrais criam uma onda sucessiva de atividades no córtex cerebral. As áreas sensoriais primárias projetam-se para as secundárias, e estas para as terciárias. Como ilustração, Brandão (2004) escreve: [...] após a chegada de impulsos sensoriais nas suas áreas somestésicas primárias, eles são processados, em sequência, pelas áreas de associação secundárias e terciárias. No córtex pré-frontal ocorre uma síntese cognitiva e a formulação de planos e programas de ação voluntária. O resultado destes programas é comunicado às zonas motoras primárias, que se encarregam de sua execução em resposta aos estímulos sensoriais (p.21). 37 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I Quadro 3. Relação das funções desempenhadas por diferentes regiões corticais10 ÁREAS CORTICAIS FUNÇÕES CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO (giro pré-central). Inicia o comportamento motor voluntário. CÓRTEX SENSITIVO PRIMÁRIO (giro pós-central). Recebe informações sensitivas do corpo. CÓRTEX VISUAL PRIMÁRIO. Detecta estímulos visuais. CÓRTEX AUDITIVO PRIMÁRIO. Detecta estímulos auditivos. CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO MOTORA (área pré-motora). Coordena movimentos complexos. CENTRO DA FALA (área de Broca). Produção da fala articulada. CÓRTEX DE ASSOCIAÇÃO SOMESTÉSICA. Base do esquema corporal. ÁREA DE ASSOCIAÇÃO VISUAL. Processa a visão complexa. ÁREA DE ASSOCIAÇÃO AUDITIVA. Processa a audição complexa. ÁREA DE WERNICKE. Compreensão da fala. ÁREA PRÉ-FRONTAL. Planejamento, emoção,julgamento. ÁREA TEMPORAL E PARIETAL. Percepção espacial. E segue Brandão (2004), Existem, aproximadamente, dois milhões de módulos corticais e cada módulo contém cerca de 10.000 neurônios. O nível de atividade nos módulos varia de uma descarga de alta frequência sinalizando ativação cortical até descargas de baixa frequência, características do córtex cerebral em repouso. O funcionamento de um módulo pode ser equiparado ao de um complexo de circuitos em paralelo, nos quais os impulsos excitatórios são continuamente transmitidos aos outros módulos corticais (p.22). Figura 10. Fonte: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=57> 10 Tabela retirada do livro: RELVAS. Marta. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as múltiplas efi ciências para uma educação inclusiva. Rio de janeiro: WAK editora, 2007, pp. 37-38. 38 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA Mas para que toda essa arquitetura se dê em harmonia e de acordo com o que estabelece a natureza da biologia humana, é de fundamental importância a ação do corpo caloso. Constituído de cerca de 200 milhões de fi bras, é o mais poderoso sistema de ligação entre os dois hemisférios. Situado na base da fi ssura longitudinal do cérebro, apresenta-se como uma larga lâmina branca, arqueada e organizada em fi bras mielínicas e amielínicas. Está no interior dos hemisférios e gerencia os impulsos de um a outro hemisfério de acordo com a constituição e funcionalidade de cada um. Em conexão ao corpo caloso estão a fôrnix (feixe de fi bras que se projeta do hipocampo para o hipotálamo) e o septo pelúcido (duas lâminas delgadas, de substância nervosa, uma de cada lado, favorecendo e ampliando a ação do corpo caloso). Figura 11. Fonte: <http://www.psicoactiva.com/atlas/hipocamp.htm> Em cada hemisfério há duas massas neuronais. Ambas encurvadas e mergulhadas no córtex temporal: é o hipocampo e a área septal. Este conjunto de estruturas tem grande importância para as funções cognitivas, particularmente na análise de informação espacial, na consolidação da memória e integração do comportamento emocional. O hipocampo está localizado nos lobos temporais; é considerado a sede da memória (junto com o córtex frontal), está relacionado à sensação espacial e, em interação com a amígdala, é importante componente do sistema límbico. Em muitos estudos neurológicos, o hipocampo tem suas funções também relacionadas ao comportamento e às decisões. Está em conexão direta com o a área septal, por meio do giro supra-caloso. Vistos de frente, ambos parecem uma ave no momento de alçar voo. Cientistas da Oxford University afi rmam que ambas as estruturas constituem-se no substrato neural do sistema de inibição comportamental ativado por situações de estresse emocional ou ansiedade. Na escala fi logenética, o hipocampo surge nos mamíferos mais primitivos, sendo, por isso, chamado de arquicórtex. 39 NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE I Figura 12. Fonte: <http://www.auladeanatomia.com/neurologia/telencefalo.htm> Uma das grandes diferenças entre os comportamentos dos mamíferos e dos répteis, por exemplo, está na participação das emoções no processo de aprendizagem. Esse processo, além da qualidade das emoções, tem origem nas estruturas mais primitivas do cérebro (tronco encefálico, cerebelo, mesencéfalo e bulbos olfatórios) e tem, no cérebro intermediário, a ponta da lança do que podemos chamar de raciocínio, equilíbrio ou pensamento lógico, ainda que se mantenham comportamentos básicos de nossa primitividade como autopreservação, agressão. Segundo Relvas (2007) mantemos nossa herança evolutiva dos répteis em cuja estrutura abrigam-se “mecanismos neuronais básicos da reprodução e da autoconservação, o que inclui o ritmo cardíaco, a circulação sanguínea e a respiração.” Nessa perspectiva, reconhece-se também o envolvimento do cérebro emocional nas condutas “reptilianas” de forma rudimentar. Na superfície medial do cérebro dos mamíferos, há uma região constituída de células cinzentas (neurônios) e que forma o lobo límbico ou sistema límbico. E uma das estruturas principais desse sistema são as amígdalas cerebrais ou cerebelosas. As amígdals cerebrais ou cerebelosas (do grego – amêndoas) são grupos de neurônios que, juntos, formam uma massa esferoide de substância cinzenta com cerca de dois centímetros de diâmetro, situada no polo temporal do hemisfério cerebral de grande parte dos vertebrados, incluindo o ser humano. Especifi camente, no ser humano, a amígdala é um complexo de vários núcleos chamados, em conjunto, de complexo amigdaloide. Em cada núcleo, há uma estrutura interna, conexões e neurotransmissores distintos. Está conectada basicamente com o hipotálamo e o tronco encefálico, de um lado; e de outro, liga-se ao tálamo e partes do córtex cerebral. 40 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA De acordo com Brandão (2004, p.23), a amígdala dá origem a duas importantes vias: » A stria terminalis: inerva o núcleo do leito da stria terminallis, a área septal, o núcleo acumbens e termina no hipotálamo ventromedial.
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