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Apostila de Etica Direito unidade 1

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1 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA NO DIREITO 
 
 
 
 
 
Ética, moral e Direito, e aspectos da atuação 
profissional do advogado 
 
 
 
Prof. Daniel Tobias Leite de Almeida 
 
Unidade I 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR 
 
Daniel Tobias Leite de Almeida é professor convidado na Unidade Paulista – UNIP, 
atuando nas disciplinas comuns e específicas de Teoria Geral, Direito Tributário e 
Direito Civil, para os cursos de Pós-Graduação de Direito, na modalidade ensino à 
distância EAD. 
É bacharel (2010) em Direito pela Unidade Paulista – UNIP, realizando MBA em 
Gestão Pública pela rede LFG – Luiz Flávio Gomes, atual instituição Anhanguera-
UNIDERP (2019). 
Atua como advogado na área do direito privado, especialmente em contratos e 
execuções. 
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/3489925247258042 
 
 
3 
INTRODUÇÃO 
 
Dando início aos estudos da disciplina de Ética no Direito, no curso de pós-graduação 
à distância, na Unidade I constarão informações e dados acerca da construção filosófica do 
conceito de ética e moral, ao longo da história ocidental. Serão abordadas as principais 
influências no campo da moralidade e seus principais pensadores. 
Aprofundado a lição, adentraremos em questões práticas do Código de Ética dos 
Advogados e a Lei Estatutária dos Advogados e da Ordem dos Advogados do Brasil, 
estabelecendo as principais distinções entre o trabalho profissional realizado pela pessoa 
física e por uma sociedade de advogados, e as idiossincrasias quanto ao intercâmbio entre 
profissionais estrangeiros de Direito no país e a relação de reciprocidade com Portugal para 
atuação como advogado. 
Ao fim, estudaremos os aspectos da litigância de má-fé e a atividade correcional 
exercida pelo Conselho Nacional de Justiça sobre o Poder Judiciário e quanto à atividade 
notarial no país. 
 
 
 
4 
1. ÉTICA, DIREITO E MORAL 
 
Antes de entrarmos na questão que envolve a ética no Direito, torna-se 
oportuno rememorar supedâneos da vida em sociedade, e da razão de existir de 
uma civilização. 
O homem, transcendendo condições básicas de um animal ordinário, 
desenvolveu a linguagem, a comunicação e noções básicas de autodeterminação, 
culminando na criação de ferramentas para atender suas necessidades, e, 
conjuntamente com outros iguais, consolidar uma coletividade minimamente 
organizada. 
Com o advento dessa organização, as necessidades singulares de cada 
membro colidiriam com a de outros, necessitando estabelecer padrões 
comportamentais e punitivos para manter essa sociedade sadia e funcional. 
Observara-se que assassinar pessoas da mesma tribo por motivos triviais, a 
própria coletividade poderia sofrer as consequências, com o declínio desse povo. 
Razão necessária e utilitária de considerar quais as hipóteses e métodos para 
eliminar alguém que representasse um perigo para o meio. 
Em muitos momentos das coletividades ocidentais da Antiguidade, a definição 
dos valores e padronizações dependia daquela autoridade ou grupo influente nessa 
sociedade. Em muitos aspectos, não se distinguia dos preceitos de origem religiosa 
– transcendental. 
O fenômeno aqui perscrutado consolida-se na figura do Direito, ou sistema 
judicial; porém, não deve ser hermeticamente considerado. O parâmetro que 
alimenta o sistema de normas de uma coletividade baseia-se em valores 
consagrados por essa sociedade em um período do tempo e espaço considerado. 
Daí, surgem as investigações acerca da natureza ética de determinados 
conflitos vivenciados por indivíduos de uma civilização, ou a base moral que um 
homem constrói a partir de suas experiências já maturadas. 
Não obstante, não são fenômenos estáticos e isolados, estando 
intrinsecamente ligado a toda uma sociedade, inclusive tendo muita 
interdependência com religiões praticadas por aquele coletivo. 
Embora os seres humanos sejam considerados animais políticos, conforme 
postulara Aristóteles (384-322 a.C.), na Grécia Clássica, tal característica não se dá 
per si, uma vez que sociedades complexas como as do Séc. XXI possuem 
 
5 
dificuldade adaptar e aglutinar as diversas identidades sociais. Tem-se, assim, o 
recrudescimento de preconceitos e hostilidades contra culturas e valores morais 
distintos, que por sua vez são antagonicamente distintos dos valores maturados pela 
sociedade. 
Embora sejamos uma espécie sociável e apaziguadora, há distinções e 
anseios que são despertos justamente quando da necessidade de negociar e tratar 
com semelhantes. 
Nesse sentido, o homo sapiens sapiens é culturalmente promíscuo, 
absolvendo identidades e práticas de outros povos, seja por meio da conquista de 
territórios ou pelo comércio. Por sua vez, existem limites não tolerados nessa 
miscigenação cultural, desde noções comportamentais entre os gêneros até hábitos 
alimentares. 
Podemos, portanto, observar críticas e piadas acerca da alimentação do povo 
chinês, na contemporaneidade, sem adentrar a fundo a saber se cachorro é um prato 
comum ou uma iguaria específica daquela cultura. 
Outro embate surge nas tradições religiosas, que costumam se expandir 
socialmente. Observa-se, nessa seara, o crescimento de práticas muçulmanas no 
continente europeu, havendo absorção de práticas e ojerizas a outras, e colidindo 
com valores seculares e liberais, como a defesa da liberação do aborto ou das 
drogas, em diversos países ocidentais. 
Cabe, portanto, ao Direito e às instituições o papel de resguardar o exercício 
de direitos dessas coletividades e ponderar acerca dos limites que não podem ser 
ultrapassados. 
O conflito moral é inevitável, principalmente em um mundo moderno e calcado 
em liberdades e direitos. 
A partir da Era das Revoluções, houve uma cisão da influência da 
religiosidade sobre a vida das pessoas, cabendo às instituições formais o 
aprimoramento da condição humana, por intermédio da tutela da cidadania. 
O jurista Fábio Konder Comparato, ao analisar Montesquieu (1689-1755), 
comenta1: 
 
 
1 COMPARATO, Fabio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: 
COMPANHIA DAS LETRAS, 2006. 
 
6 
“Na era moderna, os costumes tradicionais tendem a perder 
importância perante o direito emanado das instâncias de poder no 
Estado, mas nem sempre a lei consegue abolir usos e costumes de 
fundo religioso. Assim, por exemplo, na Índia, com a prática do sati, 
ou seja, a obrigação de toda viúva se imolar sobre o túmulo do seu 
marido. Muito embora proibida por uma lei britânica de 1829, 
proibição mantida até hoje pela legislação indiana, com a cominação 
de pena severa a todo aquele que faz do local da imolação um lugar 
de culto, essa velhíssima tradição ainda não desapareceu de todo, 
sobretudo nas regiões mais pobres do país.” (2006, p. 22) – destaque 
no original 
 
Até mesmo extraindo do contexto narrado, pode-se vislumbrar o excesso de 
sincretismos entre cultura e ordenamento jurídico na passagem. A Índia estando 
dominada pela Inglaterra, houve a amalgamação das culturas e valores distintos, até 
mesmo pela proibição de uma prática local já reiterada pelo advento de valores 
seculares oriundos do país no papel de dominância. 
Na cultura ocidental, o marco que perpassa a religiosidade e adentra ao 
campo da moral, deu-se a partir da concepção de uma divindade monoteísta, a partir 
do monoteísmo hebraico. 
Com a aurora do Cristianismo e, posteriormente, na Idade Média, tornaram-
se consolidados para o senso comum a alma e valor intrínseco desta para o ser 
humano, necessitando de uma penalidade judicial individualmente considerada. 
Posto isso, tinha-se plasmado que Deus havia feito o homem à sua imagem e 
semelhança. A criatura, então, carrega uma centelha divina, não podendo ser 
conspurcado pela justiça dos homens. 
A partir da análise de Platão e de Aristóteles, a ética se torna algo distinto 
entre a ciência ea arte. Para o último destes pensadores, era incumbência da Ética 
a reflexão da natureza humana, ou da condição humana. Consistia, até mesmo, na 
atuação – práxis – da ação humana. 
Havia, assim, um bem maior a ser alcançado p 
 
7 
or intermédio da ética, que era a felicidade absoluta. Nos dizeres de 
Comparato, encontramos de maneira sintética o pensamento aristotélico nos 
seguintes termos2: 
 
(...) O seu objeto é o estudo do supremo bem a que podem aspirar 
os homens, isto é, a felicidade. A ética procura, pois, saber, em 
primeiro lugar, em que consiste a felicidade; em segundo lugar, qual 
a forma de organização política que assegure a felicidade geral. (...) 
(2006, p. 99) 
 
O jurista leciona que Aristóteles estabelecia a ação política para a 
consolidação da ética no campo da existência humana, possuindo esta natureza 
singular, distinta da noção comum que uma pessoa do Séc. XXI possa estabelecer 
sobre ética. 
Noções de caráter cultural, familiar ou religiosa se devotam perante o campo 
da ética, frente à atuação do cidadão perante a pólis grega. 
Dadas as respectivas considerações, haja vista o anacronismo, a teleologia 
por trás dessa construção sobre ética voltava-se para a imagem pública do cidadão, 
em essência. 
Outrossim, a tradição, o militarismo, a religião e todo campo da vida humana 
deveriam estar subordinados à finalidade política. 
Devemos observar que a concepção tida por Platão preceituava que um grupo 
seleto de filósofos deveriam ser os legítimos governantes, por possuírem a 
generalidade de conhecimentos e experiências, capazes de consubstanciar na 
política os interesses comuns da vida dos cidadãos. 
O fim político da pólis grega era alcançar a felicidade e bem-estar dos homens, 
e esse caminho seria traçado por intermédio das leis. Logo, a atividade legiferante 
deveria ser incumbência de pessoas seletas e sábias. 
Do pensamento platônico e aristotélico, consagrava-se a educação pública 
como finalidade precípua do Estado, para habilitar os jovens na atuação cidadã e 
participação política. 
 
2 COMPARATO, Fabio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: 
COMPANHIA DAS LETRAS, 2006. 
 
8 
Com esta investigação, podemos constatar uma sutil distinção entre ética de 
moral, porquanto despertar alguma dúvida se são ou não o mesmo fenômeno. 
Doravante, a moral pode ser considerada anterior à ética, atinente à vida 
íntima e vivência individual; após a entrada na atuação política, a moral é 
considerada como ética, tendo os valores e práticas como fins políticos para 
consagrar a felicidade humana aos cidadãos. 
Porém, a moral é de natureza objetiva ou subjetiva? Há um parâmetro básico 
(religioso, dogmático ou biológico) em absoluto para definição daquilo que é certo ou 
errado? 
Ao longo da história humana, foram tecidas considerações sólidas sobre essa 
gênese objetiva do certo. 
No contexto aristotélico, foi considerada a justiça natural, que era comum e 
aplicável a todos os homens; posteriormente consubstanciada na justiça da lei, para 
exercício dessa virtude em prol da felicidade. 
Com o enfoque advindo do cristianismo, tínhamos que Deus era a matriz 
dessa ética, de onde emanavam os padrões e valores comuns a todos os homens, 
como na forma dos 10 mandamentos, prescritos na bíblia. 
Posteriormente, tínhamos os postulados de Immanuel Kant (1724-1746capa), 
acerca do imperativo moral categórico, consistindo em uma noção objetivamente 
aceita pelos homens e que acarrete benefício de quem a praticaria. 
Porém, as circunstâncias dos conflitos não se sujeitam a normas de aspecto 
genérica, precisando de perscrutação aguçada. É o caso, para nosso contexto 
jurídico do Brasil, da figura da excludente de ilicitude sob o imperativo da legítima 
defesa, conforme consta no Art. 23, Inciso II, do Decreto-lei nº 2.848/1940, o Código 
Penal. 
Observa-se que há circunstância intensas e conflitivas, que para o âmbito do 
Direito não podem ser isoladas em sua consumação, sendo o caso das excludentes 
de ilicitude. Por este instituto, admite-se a ocorrência da lesão ao bem jurídico 
tutelado, mas as instituições criminais a consideram apartada do caráter da ilicitude, 
devido à natureza excepcional de o agente ativo ter buscado salvar a própria vida 
contra uma ação não provocada. 
No período da Antiguidade, em especial com a expansão do território do 
império romano, havendo contato ou influência desde a Grã-Bretanha, na Europa, 
ao Egito e Jerusalém, no Oriente Médio, na região conhecida como crescente fértil, 
 
9 
a figura do Direito institucional ganha um novo contorno: a denominação pra época 
como ciência do Direito, por intermédio da jurisprudência, exercida pelo pretor 
romano, o administrador da justiça. 
Sob esse escopo, o Direito deixava de ficar adstrito à sua nação, sendo 
aplicável a essas regiões sob sua influência (COMPARATO, 2006). 3 
Neste momento histórico, houve uma constante influência da filosofia 
conhecida como estoicismo, iniciado pelo período helenístico. Surge, portanto, a 
dicotomia entre gênero e espécie, nascendo noções sobre conceituação dos 
fenômenos. É introduzida para a prática jurídica de então a dialética analítica da 
realidade jurídica, bem como a consolidação de princípios éticos para a jurisdição 
institucional. 
Estes axiomas seriam meios ferramentais de distinção entre uma ética 
valorada e o comportamento da natureza humana. Nascem, então, a prudência e a 
razoabilidade. 
A prudência consistia na busca pela felicidade, virtuosa e individual, enquanto 
o segundo princípio consistia na convivência e autolimitação em prol do respeito aos 
demais cidadãos. 
Pode-se dizer que já havia uma gênese sobre uma moral absoluta, como uma 
força da natureza, da mesma forma que foi postulado e concretizado com o 
pensamento advindo do cristianismo e da filosofia medieval (consubstanciando esse 
centro de valor na autoridade de Deus). 
No curso da Idade Média, principalmente pelos Sécs. X a XII, a Igreja já estava 
institucionalmente consolidada e influente pelos reinados da Europa. Inclusive, neste 
período também houve o crescimento de seitas heréticas, rompendo com o 
monopólio da interpretação da bíblia cristã concomitantemente com o crescimento 
do comércio e a participação de um grupo social de comerciantes – os burgueses - 
nas decisões da igreja e dos reinos. 
Esta nova casta era desejosa de participar dos deveres eclesiásticos e 
realizavam obras de caridade em colaboração com as igrejas. Não se obsta a 
influência de teólogos e santos católicos no tocante à pregação da aceitação das 
condições materiais e desapego dos bens materiais. 
 
3 COMPARATO, Fabio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: 
COMPANHIA DAS LETRAS, 2006, p. 114 
 
10 
Dentre os pensadores, São Tomás de Aquino (1225-1274) retorna a bases 
aristotélicas. Em seus postulados, propunha que a teologia era a mãe de todas as 
ciências, estando todos os fenômenos e métodos investigativos prostrados perante 
essa ciência de maior estatura. Aliada a esta proposta, o douto referendava a 
tradicional como base fundamental da vida, classificando a inovação especulativa 
uma aventurosa abertura para heresias e pecados. 
Na atividade intelectual, dava-se maior hierarquia aos argumentos baseados 
na autoridade, em contraponto ao paradigma greco-romano. Era primada a razão na 
aplicação da dialética, com a fé justificada racionalmente como norte do pensamento. 
Nesse sentido, a partir do pensamento teológico, concluía-se que Deus dotou 
o homem da capacidade de raciocínio, sendo livre para discernir entre praticar o bem 
ou o mal, sendo responsável em absoluto pelas suas decisões. 
Conclui-se ser um juízo exercido de maneira estritamente racional, coligido 
pela atividade intelectual,alheio de emoções ou sentimentos. 
Com o advento da noção tomista, a abertura do mal ou do pecado, em 
abstrato, no mundo é obra oriunda do livre-arbítrio humano e não oriundo de ação 
de Deus, considerado bom e absoluto. 
Uma das revoluções no âmbito da Igreja Católica se deu a partir da Reforma 
Protestante, iniciada pela leitura de Martinho Lutero (1483-1546), e com o destaque 
posterior de João Calvino (1509-1564), trazendo a predestinação à tona para o 
debate teológico. 
Neste paradigma, a vida pelo ascetismo ou apática consistira em uma falha 
perante Deus, sendo altivo da parte do homem o cumprimento dos deveres e 
desempenho de seus ofícios de maneira exemplar. 
Outra fonte de influência sobre a ética, retomando o campo político, foi 
decorrente do pensamento de Nicolau Maquiavel (1469-1527), mencionando ser de 
maior importância o pragmatismo na atuação do soberano, sedimentando que o 
governante conquiste o respeito pelo temor e postura do que por condescendência 
ou altruísmo. 
Com a perspectiva proposta após a Reforma Protestante, gerando conflitos 
entre as manifestações da fé, repercutindo no papel da religião sobre o Estado, 
Thomas Hobbes (1588-1679) clamava que o Estado deveria ser absolutista para 
compor a segurança do tecido social, haja vista a natureza nociva dos seres 
humanos. 
 
11 
Ademais, argumentava pela corrente de pensamento denominada ceticismo 
moral, que consistia em analisar que as condutas boas ou más não eram intrínsecas 
à natureza ou de uma objetivação moral pré-concebida, mas sim fruto dos anseios 
das pessoas. 
Assim, Hobbes e Maquiavel voltavam-se para um aspecto pessimista da 
natureza da condição humana, sendo esta mesquinha e interesseira, necessitando, 
portanto, de um tecido social sólido e presente, por intermédio de uma autoridade 
rígida, mas ponderada para administrar a sociedade. 
John Locke (1632-1704), posteriormente, influenciou uma nova forma de 
pensar a ética, a partir do amadurecimento das relações comerciais, culminando na 
noção de capitalismo como a conhecemos atualmente, e em defesa primordial dos 
direitos de liberdade e propriedade. 
De fundamental importância, porém, ilustrarmos o pensamento de Kant sobre 
a ética. Retomando posicionamentos cartesianos, que a construção do 
conhecimento dar-se-ia a partir da experiência, tornava-se oportuno a reconstrução 
de uma unidade ética. Assim, uma forma de conhecimento estaria alheia e aquém 
da experiência vivenciada sensorialmente, denominada de a priori. 
Kant também classifica a ética como a metafísica dos costumes, amparada 
por uma lei, que consiste na norma que contenha um imperativo categórico. 
O dever de cumprimento de um dever, nesse diapasão, está ligado à 
imposição de uma medida coercitiva, inerentemente ligada ao Direito. 
No campo do entendimento da ética, estas foram as principais correntes que 
fizeram pulular os vieses de interpretação racional daquilo que é condizente com as 
melhores condutas que um indivíduo pode tomar no convívio em sociedade. 
Urge, portanto, esclarecer que ética é tida como um ramo de investigação 
dentro da filosofia, agregando ao conjunto, que é composto pela metafísica e pela 
epistemologia. 
Em contraponto, podemos entender que a moral seria essa mesma valoração 
de condutas ou abstrações do certo e do errado, no campo da intimidade (ou 
tradição) e empirismo. Conduto, tínhamos visto que a ética adquire a postura mais 
próxima da racionalidade e pragmatismo já em Aristóteles. 
Pode-se conjecturar que moral também pode ser vista como a ética entendida 
a partir da cultura romana, de linguagem latina. 
 
12 
O Direito caminha sempre após o exercício desse campo de reflexão e 
experiência, e nesse sentido, os métodos de integralização do Direito são utilizados 
como fontes para preenchimento da lacuna e inércia legislativa, amparadas em 
preceitos éticos. De tal forma, o emprego da analogia, dos costumes e dos princípios 
gerais de Direito, elencados no Art. 4º do Decreto-lei nº 4.657/1942, a Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, encontra-se amparado pelos 
valores consagrados na sociedade, em seu recorte histórico considerado, e com 
amparo da ética, ou do imperativo categórico vigente, ou na presunção inclusive de 
uma moral objetiva apriorística ou metafísica. 
Todas as correntes e posturas históricas, sendo de tradição ou de ruptura com 
valores já vigentes, consistiram em influenciar o pensamento e a prática das 
incumbências institucionais, repercutindo na conduta dos órgãos do Poder Judiciário. 
A partir das previsões legais, dentro do ordenamento jurídico brasileiro, é 
plausível de aferir que códigos de ética ou de conduta são normativos considerados 
como teleológicos: a conduta de determinado agente deve alcançar tal finalidade ou 
evitar determinados atos. 
É o que se pode depreender das condutas e penalidades descritas na Lei nº 
8.429/1992, a Lei de Improbidade Administrativa, que possui o fim de sanear os atos 
praticados por agentes públicos e sujeitos privados em atuação com o Poder Público; 
e Códigos de Éticas profissionais e leis estatutárias de servidores públicos, de 
maneira genérica ou específica (TJ-MG Agrv. Instr. nº 1.0607.18.003324-5/002. 4ª 
Câmara Cível. Des. Relator: Moreira Diniz. Julgamento em: 11 out. 2018. Publicação 
em: 17 set. 2018). 
Feitas essas considerações iniciais acerca dos pressupostos filosóficos, os 
itens a seguir poderão analisar as noções do Código de Ética Profissional da atuação 
dos advogados no Brasil. 
 
 
 
13 
2. EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ADVOGADO E DAS SOCIEDADES DE 
ADVOCACIA 
 
No Brasil, a atividade profissional do advogado está conscrita pela Lei nº 
8.906/1994, o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, e 
posterior edição conforme a Resolução nº 02/2015 da OAB, o Código de Ética e 
Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil. 
O Estatuto é de abrangência federal, portanto, com vigência e produção de 
efeitos por todo o território nacional. Com o passar dos anos, desde sua promulgação 
em 1994, foi sofrendo alterações e tutelando novos direitos e garantias para o 
profissional do Direito, alguns de fundamental importância, como a previsão de 
sociedade unilateral de advogados (Lei nº 13.247/2016) e tutela de direitos da 
advogada gestante (Lei nº 13.363/2016). 
Consta, dentre outras previsões, as prerrogativas da atuação do profissional 
e da sociedade de advogados, e as competências cabíveis de exercício por meio da 
Ordem dos Advogados do Brasil. 
O Código de Ética, esmiúça alguns desses aspectos, dispondo sobre as 
condutas proibitivas e permitidas pelo advogado, e estatui sobre os procedimentos 
disciplinares para apuração de infrações éticas. 
A atividade da advocacia é considerada como de âmbito privado e público. 
Nesse sentido, não há maiores distinções daquelas usualmente conhecidas para a 
iniciativa privada, sob regime do direito privado. 
São consideradas atividades privativas da advocacia a postulação em órgão 
do Poder Judiciário e perante os juizados especiais e as atividades de consultoria, 
assessoria e direção de natureza jurídicas (Art. 1º da Lei nº 8.906/1994). 
Por advocacia pública, do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos 
Advogados do Brasil, do Conselho Federal da OAB, define como a atividade 
empenhada por procuradores e advogados públicos, ocupantes de cargo ou função 
públicas. São inclusos os ocupantes de função ou cargo de chefia e direção. 
Nesse aspecto, o dispositivo a seguir demonstra a amplitude de descrição 
sobre tais funções de caráter público: 
 
 
14 
Art. 8º As disposições deste Código obrigam igualmente os órgãos 
de advocacia pública, e advogados públicos, incluindo aqueles que 
ocupem posição de chefia e direção jurídica. 
§1º O advogado público exercerá suas funções com independência 
técnica, contribuindo para a solução ou redução de litigiosidade, 
sempre que possível.§2º O advogado público, inclusive o que exerce cargo de chefia ou 
direção jurídica, observará nas relações com os colegas, 
autoridades, servidores e o público em geral, o dever de 
urbanidade, tratando a todos com respeito e consideração, ao 
mesmo tempo em que preservará suas prerrogativas e o direito de 
receber igual tratamento das pessoas com as quais se relacione. 
 
Embora definido por Resolução, o Estatuto da OAB – norma 
infraconstitucional – estabelece sua aplicação sobre os advogados ocupantes de 
cargos públicos: 
 
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e 
a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem 
dos Advogados do Brasil (OAB) 
 
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta 
lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes 
da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, 
da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas 
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas 
entidades de administração indireta e fundacional. (destaque) 
 
Ademais, a lei menciona haver igual tratamento, sem distinção de 
subordinação ou hierarquização entre advogados, magistrados e membros do 
Ministério Público (Art. 6º, da Lei nº 8.906/1994). 
Com relação aos defensores públicos, sua inscrição nos quadros da Ordem 
dos Advogados do Brasil consiste em requisito para exercer a capacidade 
postulatória em juízo, não sendo condição para o exercício da função posteriormente 
à ocupação do cargo público. 
 
15 
Nesse sentido, há julgados emitidos pelo Tribunal de Justiça do Distrito 
Federal e Territórios referendando essa tese, sendo eles: o processo nº 0700817-
18.2018.8.07.0003. 1ª Turma Cível. Des. Relator: Roberto Freitas. Data de 
julgamento: 05 dez. 2018. Publicação em: 12 jan. 2019; e o processo nº 0715472-
29.2017.8.07.0003. 5ª Turma Cível. Des. Relator: Robson Barbosa de Azevedo. Data 
de julgamento: 24 out. 2018. Publicação em: 07 nov. 2018. 
No segundo julgado mencionado, o Desembargador Relator esclarece que a 
capacidade postulatória atinente aos membros da Defensoria Pública possui 
natureza sui generis, distinta, sendo desta maneira denominada capacidade 
postulatória funcional. 
Cumpre mencionar que com a superveniência dos efeitos da Emenda 
Constitucional nº 69 de 2012, com alterações sofridas no Art. 21, XIII, da Carta 
Constitucional, a Defensoria Pública do Distrito Federal adquiriu independência 
funcional e institucional, não sendo mais mantida pela União Federal, sendo, desde 
então, incumbência do Distrito Federal. Todavia, agora a Defensoria Pública dos 
Territórios permanece sob manutenção da União. 
A Corte Estadual do Distrito Federal considera que a natureza funcional dos 
defensores públicos não possui natureza de advocacia pública ou privada, conforme 
vemos in verbis: 
 
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. EXIGÊNCIA DE 
INSCRIÇÃO NA OAB. DESNECESSIDADE. CAPACIDADE 
POSTULATÓRIA QUE DECORRE DA CONSTITUIÇÃO E DA LEI. 
APELO PROVIDO. SENTENÇA CASSADA. 1. A Defensoria Pública 
do Distrito Federal, sustentada pelos artigos 133 e 134 da 
Constituição Federal, possui atribuições e características 
próprias, que não se confundem com a advocacia pública ou 
privada. 2. Para que o defensor público disponha de capacidade 
postulatória não se faz necessário que esteja inscrito nos quadros da 
Ordem dos Advogados do Brasil, pois, nos termos do art. 4º, § 6º, da 
Lei Complementar n.º 80/1994, que organiza a Defensoria Pública da 
União e do Distrito Federal e dos Territórios, A capacidade 
postulatória do Defensor Público decorre exclusivamente de sua 
nomeação e posse no cargo público. 3. Recurso de apelação 
conhecido e provido. Sentença cassada. 
 
16 
(TJDFT - Acórdão 0700672-59.2018.8.07.0003. 5ª Turma Cível. Des. 
Relator(a): Des. Silva Lemos. Data de julgamento: 05 set. 2018. Data 
de publicação: 03 out. 2018) (destaque) 
 
Embora estejam entre as atividades do advogado a prestação de serviços de 
assessoria jurídica, há possibilidade de questionamentos quanto à contratação de 
advogados privados para prestação dessa mesma atividade. 
No entanto, a legitimidade da conduta toma concretude quando o prestador 
de serviços preencher requisitos de condição inexigibilidade ou dispensa de licitação, 
considerando a notoriedade da especialização daquele advogado ou sociedade de 
advogados (TJ-SP – Apelação nº 1000284-41.2016.8.26.0483. 12ª Câmara de 
Direito Privado. Des. Relator: Souza Nery. Data de julgamento: 20 fev. 2018. 
Publicação em: 07 mar. 2018). 
Por fim, pode-se definir a atuação do advogado dativo, como exercício de 
múnus público, não sendo exercício de função pública. Logo, o encargo do 
pagamento dos seus honorários é competência do Ente Público, onde o defensor 
dativo exerceu seu dever (TRF-4 Apelação nº 5006852-68.2013.4.04.7204. 4ª 
Turma. Des. Relator(a): Salise Monteiro Sanchotene. Data de julgamento: 17 nov. 
2015. Publicação em: 17 nov. 2015; TJ-MG Apelação nº 1.0024.14.249078-8/001. 4ª 
Câmara Cível. Des. Relator(a): Ana Paula Caixeta. Data de julgamento: 03 nov. 
2016. Publicação em: 08 nov. 2016). 
Postas essas considerações, resta investigar o entendimento acerca das 
sociedades de advogados. 
 
 
2.1 SOCIEDADE DE ADVOCACIA 
 
O Estatuto da Advocacia prevê a possibilidade de constituição de pessoa 
jurídica composta por advogados. Conforme caput do Art. 15 da lei, os advogados 
poderão reunir-se como sociedade simples para prestação de serviços de advocacia, 
ou por meio da sociedade unipessoal de advocacia. 
Estas duas formas societárias mencionadas constam na Lei nº 10.406/2002, 
o Código Civil de 2002, sendo a sociedade unilateral uma novidade criada pela Lei 
 
17 
nº 13.874/2019, possuindo natureza jurídica de sociedade limitada constituída por 
um único sócio (Art. 1.052, §2º). 
Este modelo societário em pouco difere da Empresa Individual de 
Responsabilidade Limitada (EIRELI), sendo mais flexível quanto à sua constituição 
e integralização do capital societário. 
A sociedade simples é de natureza não empresarial, em razão de realizar 
atividade alheia à comercial, de natureza estritamente empresarial. Consiste, 
portanto, em atividades de cunho intelectual, artístico, científica ou literária (Art. 966, 
parágrafo único). 
 Assim como as formas societárias usualmente conhecidas, e dispostas no 
Código Civil, a sociedade advocatícia possui personalidade jurídica distinta das de 
seus membros ou sócios, requisitando inclusive representação judicial por 
intermédio de procuração (STJ – Edcl. AgRg. AREsp nº 112.911 – PR. 1ª Turma. 
Min. Relator: Sérgio Kukina. Data de julgamento: 27 out. 2015. Publicação em: 09 
nov. 2015). 
Como medida de composição dessa novidade empresarial, o Art. 15, §7º 
possibilita que a forma unipessoal de advocacia resulte da concentração por parte 
de um advogado das quotas de sociedade de advogados, independentemente das 
razões motivadoras. 
Quanto à denominação social pertinente da sociedade unipessoal de 
advogado, constará obrigatoriamente o nome do titular, seja de maneira completa ou 
parcial, com a expressão Sociedade Individual de Advocacia (Art. 16, §4º). 
Presume-se ser um meio de estímulo para a constituição desse tipo societário, 
haja vista haver vedação expressa sobre um advogado atuar como sócio de mais de 
uma sociedade advocatícia: 
 
Art. 15 (...) 
(...) 
§ 4º Nenhum advogado pode integrar mais de uma sociedade de 
advogados, constituir mais de uma sociedade unipessoal de 
advocacia, ou integrar, simultaneamente, uma sociedade de 
advogados e uma sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou 
filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional. 
 
 
18 
O provimento nº 170/2016 foi emitido para disciplinar as características, 
direitos e deveres concernentes à sociedade unipessoal de advocacia,e estabelece 
como requisitos iniciais os constantes do Art. 2º: 
 
Art. 2º O ato constitutivo da sociedade unipessoal de advocacia deve 
conter os elementos e atender aos requisitos e diretrizes indicados a 
seguir: 
I - a razão social, obrigatoriamente formada pelo nome ou nome 
social do seu titular, completo ou parcial, com a expressão 
"Sociedade Individual de Advocacia", vedada a utilização de sigla ou 
expressão de fantasia; 
II - o objeto social, que consistirá, exclusivamente, na prestação de 
serviços de advocacia, podendo especificar o ramo do Direito a que 
se dedicará; 
III - o prazo de duração, sendo que suas atividades terão início a 
partir da data de registro do ato constitutivo; 
IV - o endereço em que irá atuar; 
V - o valor do capital social e a forma de sua integralização; 
VI - não são admitidas a registro, nem podem funcionar, sociedades 
unipessoais de advocacia que apresentem forma ou características 
de sociedade empresária, que adotem denominação de fantasia, que 
realizem atividades estranhas à advocacia, ou que incluam como 
titular pessoa não inscrita como advogado ou sujeita à proibição total 
de advogar; 
VII - é imprescindível declarar expressamente que, além da 
sociedade, o titular responderá subsidiária e ilimitadamente pelos 
danos causados aos clientes, por ação ou omissão, no exercício da 
advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que 
possa incorrer; 
VIII - não se admitirá o registro e o arquivamento de ato constitutivo 
ou de suas alterações com cláusulas que estabeleçam a admissão 
de qualquer outro sócio, ainda que de serviço; 
IX - o mesmo advogado não poderá integrar mais de uma sociedade 
de advogados, constituir mais de uma sociedade unipessoal de 
advocacia, ou integrar, simultaneamente, uma sociedade de 
 
19 
advogados e uma sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou 
filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional; 
X - o ato constitutivo pode determinar a apresentação de balanços 
mensais, com a efetiva distribuição dos resultados ao titular a cada 
mês. 
 
O titular dessa forma societária responde pelos atos da sociedade, porquanto 
a exercer de maneira personalíssima, além de responder pelos atos de gestão, que 
podem ser delegados (Art. 3º). 
Pela natureza idiossincrática desse modelo societário, as condições sofridas 
pelo titular afetam a constituição e permanência da sociedade. Assim, a sociedade 
unipessoal de advocacia será extinta quando do falecimento do titular, pela exclusão 
deste dos quadros da OAB, ou pela incompatibilidade definitiva (Art. 4º). 
Com o intuito de facilitar o crescimento dos negócios ou facilitar operações 
societárias diversas, O Art. 11 admite a conversão de sociedade de advogados em 
sociedade unipessoal, bem como a operação em sentido contrário. 
Em sede de tratamento tributário, o STJ referenda que as sociedades de 
advogados, inclusive a profissional, tem garantido o regime tributário diferenciado 
constante do Decreto-lei nº 406/1968, acerca do imposto sobre serviços (ISS), de 
competência municipal (STJ- REsp nº 1.740.420 – PR. 2ª Turma. Min. Relator: 
Herman Benja. Data de julgamento: 12 jun. 2018. Publicação em: 26 nov. 2018). 
 Trata-se de uma forma de tributação com base em valor anual fixo, e não no 
faturamento bruto. Houve já discussões acerca dessa norma ser inconstitucional; 
porém, o Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE nº 940.769 – RS, entendeu 
pela recepção da norma à ordem constitucional vigente. 
Quanto à obtenção de receitas dessas sociedades, não perdem natureza de 
caráter alimentar, por serem direito de pessoas jurídicas, conforme já entendido pelo 
Superior Tribunal de Justiça, não havendo distinção em razão da natureza jurídica 
do prestador de serviços de advocacia (STJ – REsp nº1.749.491 – RS. 2ª Turma. 
Min. Relator: Herman Benja. Data de julgamento: 06 nov. 2018. Publicação em: 19 
nov. 2018). Portanto, possuem a mesma ordem de crédito alimentar quando do 
concurso de credores, inclusive no âmbito das execuções fiscais. 
 
20 
Em tutela do levantamento ou execução dos honorários advocatícios, há 
entendimento de que a sociedade possa requisitar os valores quando a procuração 
é outorgada a advogado da qual é integrante: 
 
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE 
INSTRUMENTO. VERBA HONORÁRIA DE SUCUMBÊNCIA. ART. 
85, § 15 DO CPC/15. OFÍCIO REQUISITÓRIO. SOCIEDADE DE 
ADVOGADOS. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 
- Discute-se a decisão que indeferiu pedido de requisição da verba 
honorária de sucumbência em nome da sociedade de advogados. 
- A sociedade de advogados tem legitimidade para levantar ou 
executar honorários quando a procuração é outorgada a advogado 
da qual é integrante, este é o entendimento do § 15 do artigo 85 do 
Código de Processo Civil/2015.Nada impede, portanto, que a 
expedição de requisitório seja feita em nome de escritório de 
advocacia. 
- No caso, embora o nome da sociedade de advogados não integre 
a procuração acostada aos autos, a verba honorária poderá ser 
requisitada diretamente em seu nome, por ser o advogado integrante 
desta, conforme documentos acostados. 
- Agravo de Instrumento provido. 
(TRF3 - Agravo de Instrumento – SP nº 5007312-87.2018.4.03.0000. 
3ª Seção. Des. Relator Convocado: Rodrigo Zacharias. Data de 
julgamento: 06 set. 2018. Publicação em: 11 set. 2018) 
 
Em circunstância similar, foi atacada decisão denegatória do levantamento 
com fulcro na limitação dessa requisição de valores, pela distinção de beneficiário 
ou como advogado ou sociedade de advogados (TJ-SP Agrav. Instrumento nº 
2119325-08.2018.8.26.0000. 12ª Câmara de Direito Privado. Des. Relator: Cerqueira 
Leite. Data de julgamento: 07 out. 2018. Publicação em: 07 out. 2018). 
O disposto também é referendado quando do instituto da cessão de direitos 
entre patronos constituídos, tem-se a defesa do dispositivo do §4º, do Art. 22, do 
Estatuto da Ordem dos Advogados, respaldando o requerimento por parte da 
sociedade de advogados (TRF3 - Agravo de Instrumento – SP nº 5018346-
 
21 
93.2017.4.03.0000. 3ª Seção. Des. Relatora: Tania Regina Marangoni. Data de 
julgamento: 23 ago. 2018. Publicação em: 29 ago. 2018). 
Porém, cumpre observar o momento adequado, já que a cessão de créditos 
após a expedição de precatório não vincula aos termos do documento (TRF-4 Agrv. 
Instrumento nº 5035140-65.2017.4.04.0000. 5ª Turma. Des. Relatora: Gisele Lemke. 
Data de julgamento: 28 nov. 2017. Publicação em: 28 nov. 2017). 
Acerca das disposições sobre a responsabilização da pessoa jurídica e do 
sócio, são aplicáveis as normas atinentes à ilicitude, conforme preceitua o Código 
Civil, em seus Arts. 186, 927, 932 e 933, e o próprio Estatuto da OAB, preceituando 
a responsabilização subsidiária e ilimitada da sociedade quando age em conluio com 
o sócio com fins ilícitos (TJ-DFT Processo nº 07005219-76.2018.8.07.0001. 3ª 
Turma Cível. Des. Relator: Flávio Rostirola. Data de julgamento: 25 jul. 2018. 
Publicação em: 31 jul. 2018). 
Em consonância a esta disposição, o Estatuto dos Advogados já estabelecia 
que o Código de Ética da OAB pudesse ser aplicável às sociedades quando fosse 
cabível (Art. 15, §2º). 
 
 
2.2 ADVOGADOS ESTRANGEIROS NO PAÍS E ATUAÇÃO DE 
SOCIEDADES BRASILEIRAS EM PORTUGAL 
 
No ambiente globalizado por intermédio das tecnologias de comunicação e 
dados do Séc. XXI, torna-se razoável e justo que as pessoas tenham liberdade ir e 
vir em uma escala maior que a delimitada no interior de um Estado. 
Nesse sentido, é condizente e útil até em termos econômicos, que 
profissionais possam desempenhar seu ofício em outros países. Todavia, é uma 
questão mais adequável quando se trata de profissionais ligado a campos das 
ciências, porquanto a física, química e biologia serem a mesma independentemente 
de onde o trabalhador estiver. 
Em sentido oposto, o Direito de cada país é único, necessitandohaver algum 
expediente para adaptação de imigrantes profissionais da área. 
Com fulcro de facilitar o contato profissional e abertura de mercado para 
advogados estrangeiros, a lei nº 8.906/1994, Estatuto da Advocacia e Ordem dos 
Advogados do Brasil, prevê que o estrangeiro ou brasileiro, quando não graduado 
 
22 
em direito no Brasil, deverá fazer prova do título de graduação, obtido por instituição 
estrangeira, devidamente revalidado, além de atender os requisitos da norma (Art. 
8º, §2º). 
As condições mencionadas constam Incisos do Art. 8º, e estão 
esquematizados na seguinte tabela: 
 
REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO - ADVOGADO 
Capacidade civil 
Diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino 
oficialmente autorizada e credenciada 
Título de eleitor e quitação do serviço militar – no caso de brasileiros 
Aprovação em Exame de Ordem 
Não exercício de atividade incompatível com a advocacia 
Idoneidade mora 
Prestação de compromisso perante o Conselho 
Fonte: Autor, 2020. 
 
O Superior Tribunal de Justiça manifesta-se que autorização, credenciamento 
e reconhecimento de instituição de ensino superior são etapas distintas quanto ao 
funcionamento desta entidade de ensino, não se tratando, portanto, de preciosismo 
semântico (STJ – REsp nº 1.288.991 – PR. 1 1ª Turma. Min. Relator: Napoleão 
Nunes Maia Filho. Data do julgamento: 14 jun. 2016. Publicação em: 01 jul. 2016). 
 O Provimento nº 91/2000 prescreve o expediente administrativo para que o 
estrangeiro possa exercer a advocacia no Brasil quanto à atividade de consultor em 
direito estrangeiro. Pela natureza desse ofício, torna-se vedado o exercício de 
procuratório judicial ou consultoria e assessoria em direito brasileiro; a atividade 
autorizada, na letra desta norma, consiste exclusivamente na consultoria sobre 
direito estrangeiro dentro do país. 
Podemos contemplar essa disposição no dispositivo in fine: 
 
Art. 1º O estrangeiro profissional em direito, regularmente admitido 
em seu país a exercer a advocacia, somente poderá prestar tais 
serviços no Brasil após autorizado pela Ordem dos Advogados do 
Brasil, na forma deste Provimento. 
 
23 
§1º A autorização da Ordem dos Advogados do Brasil, sempre 
concedida a título precário, ensejará exclusivamente a prática de 
consultoria no direito estrangeiro correspondente ao país ou estado 
de origem do profissional interessado, vedados expressamente, 
mesmo com o concurso de advogados ou sociedades de advogados 
nacionais, regularmente inscritos ou registrados na OAB: 
I - o exercício do procuratório judicial; 
II - a consultoria ou assessoria em direito brasileiro. 
§ 2º As sociedades de consultores e os consultores em direito 
estrangeiro não poderão aceitar procuração, ainda quando restrita 
ao poder de substabelecer a outro advogado. 
 
A seguir, a norma estabelece que a autorização, para ser concedida, 
demandará a observação dos Incisos I, V, VI e VII, do Art. 8, e do Art. 10, do Estatuto 
da OAB, sendo elas: 
a) Capacidade civil; 
b) Não exercício de alguma atividade incompatível com a advocacia; 
c) Idoneidade moral; 
d) Prestação de compromisso perante o Conselho 
e) Inscrição profissional no Conselho Seccional do território onde 
estabelecerá seu domicílio profissional. 
Em comunhão com interesses ligados à língua lusitana, há um maior 
intercâmbio dos interesses profissionais dos advogados entre o Brasil e Portugal, 
sendo resolvido o Provimento nº 129/2008 para instrumentalizar essa troca 
profissional. Com este normativo, fica referendado o princípio da reciprocidade entre 
os dois países, sendo presumido que Portugal também estabelecerá similar 
procedimento para aceitação de advogados de origem brasileira para atuação 
profissional. 
Constam dados informados à imprensa, que houve aumento de mais de 300% 
(trezentos por cento) de advogados brasileiros atuando em Portuga4l; sendo que, até 
novembro de 2019, já haveria 2.270 advogados brasileiros registrados na Ordem dos 
Advogados Portugueses. 
Contudo, a superveniência desse normativo não exclui as disposições sobre 
o profissional consultor em direito estrangeiro de naturalidade portuguesa (Art. 2º). 
 
4 “Número de advogados brasileiros em Portugal cresce mais de 300% e pode influenciar eleição da 
ordem.” Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/numero-de-advogados-brasileiros-em-portugal-
crescemais-de-300e-pode-influenciar-eleicao-da-ordem-24105728> Acesso em: 24 fev. 2020. 
 
24 
De início, a norma mencionada estatui trâmite mais dinâmico para admissão 
do advogado português perante a Ordem dos Advogados do Brasil: 
 
Art. 1º O advogado de nacionalidade portuguesa, em situação 
regular na Ordem dos Advogados Portugueses, pode inscrever-se 
no quadro da Ordem dos Advogados do Brasil, observados os 
requisitos do art. 8º da Lei nº 8.906, de 1994, com a dispensa das 
exigências previstas no inciso IV e no § 2º, e do art. 20 do 
Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB. 
 
Doravante, devem ser preenchidos as disposições dos Incisos do Art. 8º do 
Estatuto dos Advogados, já mencionados; e o cumprimento do compromisso perante 
o Conselho Seccional, a Diretoria ou o Conselho da Subseção (Art. 20, do 
Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB). 
Ademais, os advogados portugueses inscritos na OAB, estarão sujeitos à 
disciplina constante do Estatuto, do seu Regulamento Geral, do Código de Ética e 
Disciplina, e das demais normas pertinentes, além de possuírem cadastro próprio 
perante a OAB, no Brasil, e informados à Ordem dos Advogados Portugueses sobre 
a situação cadastral e eventuais mudanças sofridas na condição de inscrito. 
Quanto ao princípio da reciprocidade entre as duas instituições, o 
Regulamento nº 913-C/2015 da Ordem dos Advogados Portugueses disciplina a 
Subsecção III, constante da Secção I, do Capítulo III, que trata do registro e inscrição 
de advogados estrangeiros. 
Preceitua o Artigo 17 da norma estrangeira o fim delineado a seguir: 
Artigo 17.º 
Inscrição de Advogados de nacionalidade brasileira 
1– Por força do disposto no EOA, os Advogados brasileiros 
cuja formação académica superior tenha sido realizada no Brasil ou 
em Portugal podem inscrever-se na Ordem dos Advogados desde 
que idêntico regime seja aplicável aos Advogados de nacionalidade 
portuguesa inscritos na Ordem dos Advogados que se queiram 
inscrever na Ordem dos Advogados do Brasil. 
2– O regime de reciprocidade previsto no número anterior permite a 
inscrição de Advogado brasileiro com dispensa da realização de 
estágio e da obrigatoriedade de realizar prova de agregação. 
 
 
25 
Oportunamente, não é exigida a residência habitual em Portugal, apenas o 
domicílio profissional do advogado brasileiro, que pode ser declarado por outro 
advogado, inscrito na Ordem dos Advogados Portugueses, que ficará incumbido de 
entregar ao estrangeiro as comunicações que lhe forem dirigidas. 
Em contrapartida, o rol de exigências cadastrais aos profissionais brasileiros 
encontra-se no Artigo 18 e é extenso em comparação ao exigido pela Ordem dos 
Advogados do Brasil: 
a) Boletim de inscrição com a assinatura pessoal e profissional do requerente; 
b) Certidão do processo completo da inscrição principal como Advogado na 
Ordem dos Advogados do Brasil; 
c) Certidão emitida pela Ordem dos Advogados do Brasil comprovativa da 
inscrição em vigor, da situação contributiva, e bem assim do registo disciplinar do 
requerente; 
d) Comprovativo da habilitação acadêmica necessária oficialmente 
reconhecida, por faculdade de Direito de Portugal, ou diploma em Direito emitido por 
instituição de ensino oficialmente credenciada no Brasil, com menção da data de 
conclusão e respetiva média final, documento que será dispensado se constar do 
processo de inscrição mencionado na alínea b);e) Certidão de narrativa do registo de nascimento; 
f) Certificado do registo criminal emitido pela entidade competente do Estado 
brasileiro; 
g) Certificado do registro criminal emitido pela entidade competente do Estado 
português; 
h) Quatro fotografias iguais, a cores, tipo passe; 
i) Cópia do título de autorização de residência emitido pela autoridade 
competente do Estado português, devendo ser exibido o respetivo original; 
j) Cópia do Passaporte, devendo ser exibido o original; 
k) Cópia do Cartão de contribuinte, devendo ser exibido o original; 
l) Impresso para emissão da cédula profissional de Advogado; 
m) Autorização do requerente para o tratamento dos seus dados pessoais e 
profissionais; 
n) Declaração, sob compromisso de honra, datada e assinada pelo 
requerente, de não estar em situação de incompatibilidade com o exercício da 
 
26 
Advocacia, nos termos dos artigos 81.º e seguintes do Estatuto dos Advogados 
Portugueses; 
o) Cópia da carteira ou do cartão de identidade de advogado brasileiro, 
devendo ser exibido o original; 
p) Cópia do contrato de trabalho, do documento comprovativo do título de 
provimento, ou de qualquer outro vínculo contratual, com indicação das funções e 
respetivo horário, quando o requerente declare exercer qualquer atividade e, em 
termos gerais, qualquer que seja o cargo, função ou atividade desempenhada; 
q) Documento comprovativo dos requisitos necessários para que os 
Advogados portugueses se possam inscrever na Ordem dos Advogados do Brasil. 
Além dessas disposições, sujeitar-se-ão, ainda aos expedientes necessários 
para a devida inscrição, tal qual os advogados lusitanos. 
Quanto a outros direitos e garantias, muitos se assemelham às garantidas 
perante as normas brasileiras e emitidas pela OAB, inclusive o direito de participação 
em eleição de dirigentes em Portugal e pagamento de anuidade em euros. 
 
 
27 
3. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ 
 
Como representante judicial, com capacidade postulatória, nas demandas que 
envolvam seus clientes, é dever do advogado mantê-los informados sobre as 
práticas que podem coadunar com a presunção de má-fé perante o Poder Judiciário. 
Conforme estatui o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do 
Brasil (OAB), é defeso ao advogado expor os fatos em juízo falseando 
deliberadamente a verdade ou estribando-se na má-fé (Art. 6º). 
O Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) disciplina uma seção para a 
Responsabilização das partes por dano processual, estipulando em seu Art. 79, que 
o autor, réu e interveniente pelas perdas e danos decorrentes a má-fé em litígio. 
O Art. 80, seguinte, elenca as práticas que serão consideradas litigância de 
má-fé para os fins da lei processual: 
a) deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato 
incontroverso; 
b) alterar a verdade dos fatos; 
c) usar do processo para conseguir objetivo ilegal; 
d) opuser resistência injustificada ao andamento do processo; 
e) proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; 
f) provocar incidente manifestamente infundado; 
g) interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. 
 No curso da execução de sentença que reconheça a exigibilidade de 
obrigação de fazer ou não fazer, haverá incidência da litigância de má-fé quando 
houver descumprimento injustificado de ordem judicial, podendo responder ainda por 
crime de desobediência (Art. 536, §3º). Quanto à cobrança de multas ou de 
indenizações decorrentes da má-fé empregada no curso do processo de execução 
ou de atos atentatórios à dignidade da justiça, será realizada nos próprios autos da 
execução (Art. 777). 
 Uma das causas que mais vem à tona, para fins exemplificativo, consiste na 
alteração da verdade dos fatos. Porém, abre margem para discutir acerca da 
possibilidade de discussão e contraposição entre autoria e parte requerida (STF – 
MS nº 33.805 – Agr – DF. 2ª Turma. Min. Relator: Edson Fachin. Data de julgamento: 
02 mar. 2018. Publicação em: 14 mar. 2018). 
 
 
28 
A condenação acerca da litigância de má-fé será aplicada pelo juiz, na forma 
de multa, variando de um valor superior a 1% (um por cento) e inferior a 10% (dez 
por cento) do valor corrigido da causa; e quanto a indenização da parte contrária 
pelos prejuízos sofridos, com os honorários advocatícios, e pelas despesas 
efetuadas no curso do processo. 
 Na hipótese de concorrem dois ou mais litigantes de má-fé, a condenação 
será proporcional ao respectivo interesse na causa, ou de maneira solidária acerca 
da coligação com o fim de lesar a parte contrária (Art. 81, §1º). 
 O valor das sanções impostas ao litigante de má-fé reverterá para benefício 
da parte contrária, e o valor das sanções impostas aos serventuários pertencerá ao 
Estado e à União. Estes entes federativos poderão criar fundos de modernização do 
Poder Judiciário, custeados com os valores das sanções pecuniárias processuais e 
outras verbas previstas em lei (Art. 96). 
 Todavia, salienta-se a observação tecida pelo Superior Tribunal de Justiça 
acerca de ato processual com intuito procrastinatório, não configurando a má-fé, 
porquanto acobertado pelo direito de recorrer de maneira não abusiva (STJ – Edcl. 
AgInt. AREsp nº 1.188.719 – SP. 3ª Turma. Min. Relator: Ricardo Villa Bôas Cueva. 
Data de julgamento: 24 set. 2018. Publicação em: 27 set. 2018). 
O uso e permissividade acerca do direito de recorrer é acobertado pelo 
ordenamento jurídico, não podendo acusar todo e qualquer recurso como litigância 
de má-fé. Entender de maneira contrária, a parte recorrida poderia alegar que o 
insucesso da vida recursal pela parte recorrente seria estratagema para dissuadir o 
juiz ou postergar o trâmite processual (STJ - Edcl. AgInt. no AREsp nº 1.187.421 RS. 
4ª Turma. Min. Relator: Luis Felipe Salomão. Data de julgamento: 07 ago. 2018. 
Publicação em: 10 ago. 2018; e STJ – AgInt. EAREsp nº 961.962 – RS. Corte 
Especial. Min. Relator: Jorge Mussi. Data de julgamento: 24 out. 2018. Publicação 
em: 09 nov. 2018). 
A hipótese contrária consiste no uso indevido das vias recursais, com 
recorrentes advertência nos autos, enseja a sanção por litigar com má-fé: 
 
EMENTA: AGRAVO INTERNO EM RECLAMAÇÃO. DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO 
AGRAVADA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. ADVERTÊNCIA ANTERIOR. 
NÃO OBSERVÂNCIA. 
1. É inviável recurso que não impugna todos os fundamentos da 
decisão agravada. 
2. Os elementos concretos demonstram o reiterado uso de meios 
processuais manifestamente inadmissíveis, não cessados mesmo 
 
29 
após advertência, o que enseja a imposição de multa por litigância 
de má-fé. 
3. Agravo interno desprovido. Condenação da parte ao pagamento 
de multa por litigância de má-fé, nos termos do art. 80, VI, c/c art. 81, 
§ 2º, do CPC/2015. 
(STF – Rcl. Nº 27541 Agr – DF. 1ª Turma. Min. Relator: Roberto 
Barroso. Data de julgamento: 01 dez. 2017. Publicação em: 15 dez. 
2017) 
 
 De maneira exemplar e ululante, observa-se o entendimento recorrente sob 
entendimento do Superior Tribunal de Justiça: 
 
PROCESSO CIVIL. AGRAVO INTERNO NA PETIÇÃO NO AGRAVO 
EM RECURSO ESPECIAL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. 
CONFIGURAÇÃO. MULTA. MANUTENÇÃO.DECISÃO MANTIDA. 
1. A apresentação de seis petições com a mesma finalidade, após o 
trânsito em julgado do feito, e, ainda, após duas advertências de 
multa feitas pela Presidência, evidencia a litigância de má-fé do 
recorrente, motivo pelo qual deve ser mantida a penalidade aplicada. 
2. Agravo interno a que se nega provimento, com advertência de 
multa. 
(STJ – AgInt. Pet. AREsp nº 967.414 – RJ. 4ª Turma. Min. Relator: 
Antonio Carlos Ferreira. Data de julgamento: 08 fev. 2018. 
Publicação em: 23 fev. 2018) 
 
Na vigência do atual Código de Processo Civil (CPC), a medida aplicável para 
recursos claramente inadmissíveis consiste na deserção ou no não conhecimento. 
Na constânciado Código Processual Cível anterior, a Lei nº 5.869/1973, o agravo 
manifestamente inadmissível ou infundado, torna passível de condenação pelo 
Tribunal ao pagamento de multa entre 1% (um por cento) e 10% (dez por cento) do 
valor da causa corrigido, condicionando a interposição de outros recursos ao 
pagamento da imposição (Art. 556, §2º). 
 Na letra do atual diploma processual civil, os embargos de declaração 
manifestamente protelatórios ensejam ao pagamento de multa que não exceda a 2% 
(dois por cento) do valor da causa atualizado. Pelo CPC/1973, a multa poderia 
alcançar o patamar de até 10% (dez por cento), considerando que na vigência do 
diploma, os embargos interrompiam o prazo para interposição de outros recursos, 
tornando-se um mecanismo para prolongar suas estratégias de defesa. 
 
30 
 Ocorre que sob a vigência do CPC/2015, os embargos declaratórios não mais 
possuem efeitos suspensivos, embora interrompam o prazo para interposição dos 
demais recursos (Art. 1.026, caput). 
 Erros e desídia cometida quanto à interposição recursal, ensejam, como 
regra, a deserção do respectivo recurso (Art. 1.007, caput), como ineficiência do 
preparo, porte de remessa e de retorno. 
A propositura de Recurso Especial contra acórdão do Superior Tribunal de 
Justiça, em detrimento de previsão expressa de norma constitucional ou 
infraconstitucional configura de maneira clara a interposição de má-fé, no 
entendimento do STJ (AgInt. Pet. Recl. nº 34.891 – SP. 2ª Seção. Min. Relator: 
Lázaro Guimarães. Data de julgamento: 13 jun. 2018. Publicação em: 19 jun. 2018). 
A título de curiosidade, o Poder Público não se isenta de ser condenada por 
litigância de má-fé, porquanto se versar por intermédio de princípios de interesse 
público e de legitimidade. A perspectiva é inerentemente para coibir prejuízo a uma 
parte processual por intermédio de subterfúgios, independentemente de quem seja 
a parte processual envolvida e seu grau de autoridade (STJ – AgInt. AREsp nº 
1.026.630 – SP. 2ª Turma. Min. Relator: Francisco Falcão. Data de julgamento: 06 
dez. 2018. Publicação em: 14 dez. 2018). 
 
 
31 
4. ATUAÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
 
 
 O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é um órgão público integrante da 
estrutura do Poder Judiciário, cuja principal finalidade é o controle e aperfeiçoamento 
da atividade desempenhada pelos órgãos judiciais. A entidade foi criada por 
intermédio da Emenda Constitucional nº 61/2009, adicionando o Art. 103-B na Carta 
Magna, definindo suas funções primordiais como as que se vê elencadas: 
Art. 103-B (...) 
(...) 
§4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e 
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres 
funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que 
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: 
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do 
Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, 
no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; 
II - zelar pela observância do Art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante 
provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por 
membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-
los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências 
necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da 
competência do Tribunal de Contas da União; 
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou 
órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços 
auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços 
notariais e de registro que atuem por delegação do poder 
público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e 
correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares 
em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras 
sanções administrativas, assegurada ampla defesa; 
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a 
administração pública ou de abuso de autoridade; 
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos 
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de 
um ano; 
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e 
sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes 
órgãos do Poder Judiciário; 
 
32 
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar 
necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as 
atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do 
Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao 
Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa. 
(destaque) 
Ademais, a atividade desempenhada pelo CNJ é exclusivamente de caráter 
administrativo na estrutura do Poder Judiciário, não exercendo nenhuma função ou 
ato de natureza judicial (STF – MS nº 35.421 – Agr – DF. 2ª Turma. Min. Relator: 
Gilmar Mendes. Data de julgamento: 25 mai. 2018. Publicação em: 06 jun. 2018). 
Até mesmo fatos e controvérsias submetidas à apreciação do Poder Judiciário não 
são sujeitas ao controle ou fiscalização do CNJ, apenas o desempenho e 
cumprimento da função judicial (STF – MS nº 28.845 – DF. 1ª Turma. Min. Relator: 
Marco Aurélio. Data de julgamento: 21 nov. 2017. Publicação em: 11 dez. 2017). 
Quanto à atividade desempenhada pelos Cartórios, sujeitam-se a fiscalização 
perante o Poder Judiciário, porquanto ser um ofício auxiliar no andamento da Justiça, 
por constituir certidões comprobatórias e dar publicidade aos atos declaratórios. 
Constitucionalmente, são serviços exercidos em caráter privado, mediante 
delegação pelo Poder Público (Art. 236, caput). O §1º estabelece que lei 
infraconstitucional regulará as atividades, disciplinando a responsabilidade civil e 
criminal dos agentes notariais, dos oficiais de registros e seus prepostos, e definindo 
a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. 
Regulamentado o dispositivo, adveio a Lei nº 8.935/1994, deixando os Arts. 
37 e 38 acerca da fiscalização do Poder Judiciário: 
Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro, 
mencionados nos artes. 6º a 13, será exercida pelo juízo competente, 
assim definido na órbita estadual e do Distrito Federal, sempre que 
necessário, ou mediante representação de qualquer interessado, 
quando da inobservância de obrigação legal por parte de notário ou 
de oficial de registro, ou de seus prepostos. 
Parágrafo único. Quando, em autos ou papéis de que conhecer, o 
Juiz verificar a existência de crime de ação pública, remeterá ao 
Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao 
oferecimento da denúncia. 
Art. 38. O juízo competente zelará para que os serviços notariais e 
de registro sejam prestados com rapidez, qualidade satisfatória e de 
modo eficiente, podendo sugerir à autoridade competente a 
elaboração de planos de adequada e melhor prestação desses 
serviços, observados, também, critérios populacionais e sócio-
econômicos, publicados regularmente pela Fundação Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística. 
 
33 
A delegação para o exercício da função notarial ou registral pode ser extinta 
em razão das circunstâncias expostas no Art. 35: 
a) de sentença judicial transitada em julgado; ou 
b) de decisão decorrente de processo administrativo instaurado pelo juízo 
competente, assegurado amplo direito de defesa. 
 Sob a égide da Lei nº 6.015/1973, compete aos juízes a correição e 
fiscalização nos livros de registro, conforme as normas de organização judiciária (Art. 
48). Prevê, ainda, que, perante a recusa ou retardamento de registro, averbação ou 
anotação, além de obstaculizar o fornecimento de certidão, os prejudicados poderão 
reclamar perante o Poder Judiciário (Art. 47, caput). 
 Embora exerça a função de corregedoria, não compete ao Conselho Nacional 
de Justiça a responsabilização diante de lesão oriunda de concurso públicode 
competência de algum Tribunal de Justiça (STF – MS nº 28.528 Agr - DF. Tribunal 
Pleno. Min. Relator: Dias Toffoli. Data de julgamento: 17 out. 2013. Publicação em: 
19 nov. 2013). 
 As controvérsias acerca do Poder Judiciário e, em especial, do Conselho 
Nacional de Justiça, consiste na propensão à função legiferante, considerando que 
o próprio Judiciário atue para sanar eventuais lacunas e omissões da lei. Neste 
escopo, o próprio CNJ emitiu a Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013, com o 
intuito de disciplinar os Cartórios de Registro acerca da união homoafetiva: 
Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, 
celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em 
casamento entre pessoas de mesmo sexo. 
Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata 
comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências 
cabíveis. 
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. 
Este instituto é uma inovação, mas que permaneceu alheia à inovação 
legislativa; portanto, tornou-se um direito exercido em face de uma norma infralegal, 
em perspectiva da atividade fiscalizatória sob os órgãos notariais. 
Em contraposição a essa noção, pode ser entendido que o CNJ 
instrumentalizou perante a atividade notarial (delegada e fiscalizada pelo Poder 
Judiciário) algumas das decisões já proferidas pelo Pretório Excelso acerca do 
reconhecimento judicial da união homoafetiva, ocorrido na ADIn nº 4.277 – DF e a 
ADPF nº 132 – RJ, ambas ações julgadas em 2011 
 O ativismo judicial exercido pelo Poder Judiciário (em grande medida, pela 
atuação do Supremo Tribunal Federal) não se limitou à seara judicial, como função 
 
34 
típica do Poder mencionado, mas se imiscuiu no âmbito administrativo e correcional 
do Poder Judiciário? 
 Tornou-se um direito exercido em função da jurisprudência e na atividade 
administrativa-fiscalizatória do Poder Judiciário, mas alheio à previsão legal. 
Cumpre, ao pós-graduando atento, investigar essa vicissitude institucional e 
observar o andamento de novas mudanças legislativas sobre o assunto em tela, ou 
sobre o ativismo por parte do CNJ. 
 Por fim, já foi discutida a potencial extrapolação das competências 
constitucionais quanto às Resoluções do CNJ. Na condução da Ação Declaratória 
de Constitucionalidade nº 125, foi entendido que, por exercer a função administrativa 
e de correcional do Poder Judiciário, e reiterando que o Conselho Nacional de Justiça 
é um órgão constitucionalmente previsto na estrutura do Poder Judiciário, sua função 
também é demandar cumprimento de dispositivos constitucionais no âmbito do 
Poder Judiciário, não havendo que falar em ofensa à competência constitucional ou 
lesão à separação dos Poderes. 
 
 
 
5 STF – ADC nº 12 – DF. Tribunal Pleno. Min. Relator: Carlos Britto. Julgamento em: 20 ago. 2008. 
Publicação em: 18 dez. 2009. 
 
35 
REFERÊNCIAS 
 
 
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo 
moderno. Companhia das Letras: SÃO PAULO, 2016 
GONZAGA, Álvaro de Azevedo; NEVES, Karina Penna; BEIJATO JÚNIOR, 
Roberto. Estatuto da Advocacia e Novo Código de Ética e Disciplina da OAB 
comentados. 5ª ed. Rio de Janeiro: FORENSE; São Paulo: MÉTODO, 2019 
RODRIGUES JÚNIOR, Alfredo. Ética geral e profissional. Rio de Janeiro: 
SESES, 2018 
VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 37ª ed. Rio de Janeiro: CIVILIZAÇÃO 
BRASILEIRA, 2017

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