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0 CENTRO DE TECNOLOGIA DE ALEGRETE – CTA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso ANÁLISE DA PRODUTIVIDADE DA MÃO DE OBRA NA EXECUÇÃO DE ALVENARIA ESTRUTURAL E ALVENARIA CONVENCIONAL ROBERT DA SILVA TRINDADE Alegrete/RS 2013 1 ROBERT DA SILVA TRINDADE ANÁLISE DA PRODUTIVIDADE DA MÃO DE OBRA NA EXECUÇÃO DE ALVENARIA ESTRUTURAL E ALVENARIA CONVENCIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientador: Fladimir Fernandes dos Santos Alegrete/RS 2013 2 ROBERT DA SILVA TRINDADE ANÁLISE DA PRODUTIVIDADE DA MÃO DE OBRA NA EXECUÇÃO DE ALVENARIA ESTRUTURAL E ALVENARIA CONVENCIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia Civil. Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em: 24/09/2013. Banca examinadora: ______________________________________________________ Prof. Dr. Fladimir Fernandes dos Santos Orientador (Unipampa) ______________________________________________________ Arq. Me. Laura Machado (Unipampa) ______________________________________________________ Prof. Me. Felipe Ferreira de Ferreira (Unipampa) Alegrete/RS 2013 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meus pais e a minha noiva, fontes inesgotáveis de apoio e companheirismo. 4 AGRADECIMENTOS À Deus, agradeço por ter me dado forças e me guiado pelo caminho certo para que pudesse concretizar este sonho. Aos meus pais, Pedro e Marta, por terem sido uma referência de sabedoria e aprendizado em minha vida. Pelo amor e carinho dedicado a todos estes anos de graduação e sempre por ter me mostrado que posso chegar onde desejo. À minha noiva Franciele, pelos momentos de compreensão durante este processo. Por estar sempre ao meu lado, dando-me muito amor e carinho e sempre me incentivando a seguir em frente. Ao meu irmão Patric, que antes de tudo, é um grande amigo. À minha cunhada e meus sobrinhos, pelos momentos de diversão e companheirismo e por terem acreditado em mim. Ao meu avô Básilio, que hoje não encontra-se mais entre nós, pelos primeiros ensinamentos e lições de grande valia para esta profissão que escolhi. As minhas avós, sogros e a todos meus familiares, que de uma forma ou de outra sempre me deram força e acreditaram no meu potencial. Aos meus colegas de graduação, pelo companheirismo e ensinamentos durante esta trajetória. À professora Elizabete Yukiko, pelos primeiros passos para que este trabalho se concretizasse. Ao professor Fladimir Fernandes, pela extraordinária orientação e contribuição para a realização deste trabalho. Aos Membros que participaram da Banca de Avaliação do Trabalho de Conclusão de Curso, por suas contribuições, que proporcionaram melhorias para o trabalho. 5 "Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis." Bertolt Brecht. 6 RESUMO O desenvolvimento tecnológico, na indústria brasileira, tem impulsionado diversos setores, dentre eles, o da construção civil, que é um dos maiores na economia do país. Neste sentido, é notório que empresas procurem meios para melhorar seus processos produtivos, buscando alternativas diferenciadas em relação às demais empresas, investindo em qualidade e produtividade e, consequentemente, adquirindo uma maior competitividade. Neste contexto, o presente trabalho trata da mensuração e comparação da produtividade da mão de obra na execução de alvenaria estrutural e alvenaria convencional, bem como dos fatores que possam influenciar a mesma. Como metodologias adotadas para a apropriação dos dados foram utilizados o Modelo de Entrada-Saídas e o Modelo dos Fatores, onde foram analisadas, na cidade de Alegrete/RS, num total de onze dias, uma obra em alvenaria estrutural e em sete dias, uma outra obra em alvenaria convencional. O primeiro modelo possibilitou entender a produtividade a partir de informações relacionadas tanto às entradas, quanto às saídas do processo produtivo; já o segundo modelo proporcionou conhecer os fatores que interferiram no desempenho da produtividade. A mensuração da produtividade foi realizada por meio do índice parcial denominado Razão Unitária de Produção (RUP). Após a análise dos dados, obtidos diariamente nas obras, os mesmos foram comparados com os índices publicados na TCPO (2010), onde os indicadores de produtividade – RUP – da mão de obra, no serviço de alvenaria estrutural ficaram abaixo do estimado, o que mostra que este sistema apresentou uma boa produtividade. A alvenaria convencional apresentou indicadores de produtividade – RUP – da mão de obra acima do estimado, o que evidenciou uma baixa produtividade. Após esta análise foi possível detectar os fatores que influenciaram os índices de produtividade, tais como: característica do produto, materiais e componentes, equipamentos e ferramentas, mão de obra, organização da produção, variação de temperatura, eventos atmosféricos, bem como evidenciar a importância deste conhecimento que pode ser de grande valia na fase de planejamento e gerenciamento do serviço. Palavras chaves: produtividade; mão de obra; alvenaria estrutural; alvenaria convencional. 7 ABSTRACT Technological development in the Brazilian industry has driven many industries, including the construction, which is one of the largest in the country's economy. In this sense, it is clear that companies look for ways to improve their production processes, seeking different alternatives in relation to other companies, investing in quality and productivity and thus acquiring greater competitiveness. In this context, the present work deals with the measurement and comparison of the productivity of labor in the execution of conventional masonry and masonry, as well as factors that may influence it. The methodology for allocation of the data were used to model the Input - Output Model and Factors, which was analyzed in the town of Alegrete / RS, a total of eleven days of measurement, a work in masonry and seven days of measurement , another work in conventional masonry. The first model made it possible to understand the productivity from information related to the inputs, the outputs of the production process, whereas the second model helps to know the factors that interfere with the performance of productivity. The productivity measurement was performed using the partial index called Reason Unitary Production ( RUP ). After analyzing the data, obtained daily in the works, they were compared with the rates published in TCPO (2010 ), where productivity indicators - RUP - of labor, in the service of masonry were lower than estimated , which shows that this system showed good productivity. The conventional masonry productivity indicators presented - OR - of labor above the estimate, which showed a low productivity. After this analysis it was possible to detect the factors influencing productivity indices, such as: product feature, materials and components, equipment and tools, manpower, organization of production, variation in temperature, atmospheric events, as well as highlight the importance this knowledge can be of great value in the planning stages and service management. Keywords: productivity, labor;masonry; conventional masonry. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 − Exemplo de execução de instalação elétrica em alvenaria convencional mostrando o desperdício de material e o retrabalho..................................................22 Figura 2 − Exemplo de alvenaria estrutural, com a execução das instalações elétricas e hidráulicas.................................................................................................24 Figura 3 − Representação genérica de um sistema produtivo..................................29 Figura 4 − Diferentes abrangências do estudo da produtividade...............................29 Figura 5 − Processo de transformação no sistema produtivo da construção civil.............................................................................................................................30 Figura 6 − Níveis que afetam a produtividade da mão de obra.................................30 Figura 7 − Planta baixa de uma residência com paredes lineares...........................31 Figura 8 − Planta baixa de uma residência com paredes não-lineares....................32 Figura 9 − Diferentes tamanhos de paredes de alvenaria........................................32 Figura 10 − Equipamentos utilizados na execução de alvenaria..............................33 Figura 11 − Equipamentos utilizados na execução de alvenaria..............................34 Figura 12 − Disposição dos materiais e equipamentos antes do serviço de alvenaria.....................................................................................................................35 Figura 13 − Mecanismo de influencia da produtividade.............................................38 Figura 14 − Relações presentes nas tarefas de modelagem...................................39 Figura 15 − Modelo dos fatores..................................................................................42 Figura 16 − Exemplo de gráfico das linhas de balanço.............................................43 Figura 17 − Diferentes tipos de RUP........................................................................45 Figura 18 − Diferentes tipos de equipe na execução da alvenaria...........................49 Figura 19 − Planilha para anotações dos serviços de alvenaria...............................49 Figura 20 − Levantamento de áreas líquidas em paredes de alvenaria....................51 Figura 21 − Fatores considerados no cálculo da RUP..............................................53 Figura 22 − Índices de produtividade da alvenaria de tijolo cerâmico furado...........55 Figura 23 − Índices de produtividade da alvenaria de blocos para alvenaria estrutural.....................................................................................................................56 Figura 24 − Fachada da obra em estudo...................................................................58 Figura 25 − Operários trabalhando.............................................................................59 9 Figura 26 − Tijolos usados na obra .........................................................................60 Figura 27 − Tijolos usados na obra e alvenarias na altura de 1,5m........................61 Figura 28 − Guincho utilizado na obra.....................................................................62 Figura 29 − Canteiro de obras.................................................................................63 Figura 30 − Disposição dos materiais e equipamentos no canteiro de obras..........64 Figura 31 − Fachada da obra em alvenaria estrutural .............................................65 Figura 32 − Equipe de trabalho................................................................................66 Figura 33 − Blocos utilizados na obra.......................................................................67 Figura 34 − Verga executada na obra.....................................................................68 Figura 35 − Disposição dos materiais no canteiro...................................................68 Figura 36 − Materiais utilizados para assentamentos dos blocos...........................69 Figura 37 − Material utilizado para transporte dos materiais...................................70 Figura 38 − Disposição dos materiais e equipamentos no canteiro de obras.........70 Figura 39 − Dias de observação nos dois sistemas construtivos............................72 10 LISTA DE TABELA Tabela 1 – Centros de Estudos da Produtividade ...................................................28 Tabela 2 – 1° dia de mensuração na alvenaria conven cional..................................94 Tabela 3 – 2° dia de mensuração. na alvenaria conve ncional.................................94 Tabela 4 – 3° dia de mensuração na alvenaria conven cional..................................95 Tabela 5 – 4° dia de mensuração na alvenaria conven cional..................................95 Tabela 6 – 5° dia de mensuração na alvenaria conven cional..................................96 Tabela 7 – 6° dia de mensuração na alvenaria conven cional..................................96 Tabela 8 – 7° dia de mensuração na alvenaria conven cional..................................97 Tabela 9 – 1° dia de mensuração na alvenaria estrut ural........................................98 Tabela 10 – 2° dia de mensuração na alvenaria estru tural......................................98 Tabela 11 – 3° dia de mensuração na alvenaria estru tural......................................99 Tabela 12 – 4° dia de mensuração na alvenaria estru tural......................................99 Tabela 13 – 5° dia de mensuração na alvenaria estru tural....................................100 Tabela 14 – 6° dia de mensuração na alvenaria estru tural....................................100 Tabela 15 – 7° dia de mensuração na alvenaria estru tural....................................101 Tabela 16 – Observações no 8° dia de mensuração na alvenaria estrutural.......101 Tabela 17– 9° dia de mensuração na alvenaria estrut ural.....................................102 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 − Fatores primários que prejudicam a produtividade.................................36 Quadro 2 − Fatores por via indireta que prejudicam a produtividade......................36 Quadro 3 − Exemplos de obras de construção civil com atividades repetitivas..................................................................................................................43 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 − RUPs diárias e potencial da equipe em alvenaria convencional............73 Gráfico 2 − RUPs cumulativa da equipe em alvenaria convencional........................75 Gráfico 3 − RUPs diárias e potencial da equipe em alvenaria estrutural...................79 Gráfico 4 − RUPs cumulativa da equipe em alvenaria estrutural...............................81 13 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 1.1.Contextualização do tema e do problema de pesqu isa ................................. 15 1.2.Objetivos ..................................... ....................................................................... 17 1.2.1.Objetivo geral .............................. ................................................................... 17 1.2.2.Objetivos específicos ....................... .............................................................. 17 1.2.3.Justificativa ............................... ...................................................................... 18 2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................... ....................................................... 20 2.1.Sistemas construtivos de alvenaria ............ .................................................... 20 2.1.1 Alvenaria convencional: Características ..... ................................................. 21 2.1.2 Alvenaria estrutural: Características ....... ..................................................... 23 2.2 Produtividade: histórico ...................... ............................................................. 27 2.3 Definindo produtividade na construção civil ... ............................................... 28 2.4. A importância da medição da produtividade no s etor da construção civil . 37 2.5 Medição da produtividade na construção civil .. ............................................. 39 2.5.1 Modelos Teóricos, Modelos de Entrada e Modelo s de Entrada-Saída ...... 40 2.5.3 Indicador de mensuração da produtividade .... ............................................ 44 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 46 3.1 Etapas da pesquisa ............................ ............................................................... 46 3.2 Quanto à coleta de dados ...................... ........................................................... 47 3.2.1 Coleta de dados: Entradas ................... ......................................................... 47 3.2.2 Coleta de dados: Saídas ..................... ........................................................... 50 3.2.3 Aspectos considerados para apropriação dos da dos ................................ 51 3.3 Quanto ao tratamento dos dados coletados ...... ............................................. 52 3.3.1 A escolha do Modelo dos Fatores para a mediçã o da produtividade........ 52 3.3.2 O indicador para mensurar a produtividade ... ............................................. 52 3.4 Quanto à apresentação dos dados ............... ................................................... 54 3.5 Quanto à análise dos resultados obtidos ....... ................................................ 54 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........... ................................ 57 4.1 Caracterização das obras de alvenaria ......... .................................................. 57 4.1.1 Estudo de caso 1: a obra de alvenaria convenc ional.................................. 57 4.1.1.1 Caracterização do serviço de alvenaria .... ................................................ 58 14 4.1.1.2 Condições de trabalho ..................... ........................................................... 62 4.1.2 Estudo de caso 2: a obra de alvenaria estrutu ral ........................................ 64 4.1.2.1 Caracterização do serviço de alvenaria .... ................................................ 65 4.1.2.2 Condições de trabalho ..................... ........................................................... 71 4.2 Apresentação e análise dos resultados ......... ................................................. 71 4.2.1 Resultados constatados na obra de alvenaria c onvencional ..................... 73 4.2.1.1 Quanto à equipe de trabalho ............... ....................................................... 73 4.2.1.2 Fatores influenciadores na variação da prod utividade ............................ 75 4.2.2 Resultados constatados em alvenaria estrutura l ........................................ 78 4.2.2.1 Quanto à equipe de trabalho ............... ....................................................... 78 4.2.2.2 Fatores influenciadores na variação da prod utividade ............................ 82 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ... .................... 86 5.1 Conclusões .................................... .................................................................... 86 5.2 Sugestões para trabalho futuros ............... ...................................................... 88 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 90 APÊNDICE A – Tabelas Utilizadas na Pesquisa- Alvena ria Convencional ......... 94 APÊNDICE B – Tabelas Utilizadas na Pesquisa- Alvena ria Estrutural ............... 98 15 1. INTRODUÇÃO 1.1. Contextualização do tema e do problema de pesq uisa O desenvolvimento tecnológico, na indústria brasileira, tem impulsionado diversos setores, dentre eles, o da construção civil, que é um dos maiores na economia do país. É, sem dúvida, um dos setores que possibilita gerar novos empregos e oportunidades de negócio, principalmente na cadeia produtiva da construção civil. Ocasiona-se, com isso, grande concorrência entre empresas do ramo da construção (CARDOSO, 2010). Nesse sentido, é notório que empresas procurem meios para melhorar seus processos produtivos, buscando alternativas diferenciadas em relação às demais empresas, investindo em qualidade e produtividade e, assim, obter maior lucratividade, tornando-se mais competitiva. Conforme Marder (2001), as palavras “produtividade e qualidade” apresentam-se como ferramentas essenciais para que se possa atingir melhor desempenho e competitividade. A produtividade está ligada diretamente ao lucro e, certamente, empresas de grande porte, e com índices de produtividade elevados, exigirão menores custos de produção, oferecendo produtos com custo mais baixo que seus concorrentes, ou trabalhando com uma maior margem de lucro. No que se refere, especificamente, aos custos com a mão de obra, a alvenaria, de um modo geral, apresenta, dentro das construções de edificações, valores numéricos relevantes. As vedações verticais apresentam índices entre 6% a 10% do custo total da construção de edifícios habitacionais e comerciais e de 17% para populares. Os custos com a mão de obra, para estes serviços, representam algo em torno de 50% dos custos totais (REVISTA CONSTRUÇÃO MERCADO, 2001). Ademais, para Santos (1995), historicamente os índices de produtividade da mão de obra brasileira, quando comparados a outros países, são relativamente baixos. Para o supracitado autor, determinar como o operário distribui seu tempo, ao longo do dia, é um dos primeiros passos para se avaliar um processo produtivo. 16 A Construção vem sendo considerada, há muito tempo, uma Indústria caracterizada pela má produtividade no uso da mão de obra. Se tal colocação já merecia atenção há algumas décadas, torna-se cada vez mais preocupante na medida em que se tem um crescente acirramento da competição no mercado e dentro do contexto de buscar-se a minimização do desperdício do esforço humano (SOUZA, 2006, p. 14). Na visão de Carraro e Souza (1998), o gerenciamento eficaz dos recursos físicos utilizados na construção civil, em especial a mão de obra, está entre os principais desafios que este setor enfrenta. Neste contexto, estes autores comentam sobre a má produtividade, afirmando que os gestores das obras não costumam ter conhecimento sobre a quantidade de mão de obra necessária para produzir determinado serviço, resultando em poucos, ou ausentes, parâmetros para se basearem em atitudes corretivas de eventuais problemas. Lantelme (1994) destaca que na construção civil a medição do desempenho é pouco utilizada, mas estudos vêm mostrando resultados destes levantamentos que tendem a gerar informações do desempenho do setor, sendo possível fazer uma relação entre estas medidas, com as estratégias empresariais, ou setoriais, e com os critérios de desempenho do setor. No que se refere às pesquisas realizadas sobre produtividade no setor da construção civil, elas foram realizadas com diversos enfoques, como, por exemplo: • A produtividade da mão de obra na execução de revestimentos de argamassa (ARAÚJO; SOUZA, 2000). • Produtividadee custos nos sistemas de vedação vertical (SOUZA, 1998). • Fatores que influenciam a produtividade da alvenaria (ARAÚJO; SOUZA, 2000). • Monitoramento da produtividade da mão de obra na execução da alvenaria (CARRARO; SOUZA, 1998). • Estudos de fatores que afetam a produtividade em obras repetitivas (OLIVEIRA et al. , 1998). • Medida da produtividade da mão de obra no serviço de alvenaria com blocos cerâmicos para aplicação e planejamento pelo método das linhas de balanço (SANTOS; BARBOSA; MAGGI, 2006). 17 Apesar de tais estudos, na literatura pesquisada, não foram encontrados trabalhos que demonstrassem a realidade do município de Alegrete-RS quanto à produtividade no setor da construção civil. Observa-se que a realidade enfrentada no município, pelos responsáveis pela supervisão de equipes de trabalho, tem sido a dificuldade de encontrar indicadores que sirvam como parâmetros sobre a produtividade da mão de obra empregada na cidade, para gerenciarem de forma eficiente suas equipes. Diante do exposto, apresentam-se as seguintes questões de pesquisa: Quais os fatores que influenciam na variação da produtividade da mão de obra na execução de paredes em alvenaria convencional e em alvenaria estrutural? Como medir a produtividade da mão de obra utilizada nesses dois sistemas construtivos? 1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivo geral Realizar uma análise da produtividade da mão de obra na execução de paredes em alvenaria convencional e em alvenaria estrutural. 1.2.2. Objetivos específicos • apresentar os sistemas construtivos de alvenaria convencional e de alvenaria estrutural; • caracterizar a produtividade no setor da construção civil; • identificar as metodologias que podem ser aplicadas na medição de produtividade da mão de obra empregada na execução de serviços em alvenaria convencional e em alvenaria estrutural; • realizar a mensuração do esforço humano despendido, em homens-hora, para a produção de paredes em alvenaria estrutural e em alvenaria convencional; • comparar os dados coletados, com os padrões já estabelecidos, para a execução de paredes nesses dois tipos de sistema de alvenaria; 18 • elencar os fatores responsáveis pela variação da produtividade da mão de obra nos serviços executados nos dois tipos de sistema de alvenaria. 1.2.3. Justificativa Conforme descreve Souza (2000), a mensuração da produtividade da mão de obra é uma tarefa relevante, que serve de base para discussões sobre melhorias que podem ser empregadas na construção civil. Ademais, o supracitado autor destaca que tais indicadores podem suprir um problema significativo nos sistemas de certificação de empresas, que é a falta de avaliação do desempenho. Para que o planejamento de obras de construção civil seja o mais preciso possível é preciso utilizar dados sobre o tempo gasto para execução de um determinado serviço. Para tanto é necessário medir a produtividade da mão de obra (SANTOS; BARBOSA; MAGGI, 2006, p. 01). Assim, determinando-se a eficiência de cada atividade no processo produtivo e fazendo um estudo de todas as operações que às constituem, a partir da conferência da produtividade da mão de obra utilizada, produzir-se-á uma importante ferramenta na busca pela racionalização de processos nos canteiros. Entretanto, a medição é um processo que envolve decisões sobre quanto ao que medir, como coletar, processar e avaliar os dados e, por meio de sua incorporação às atividades da empresa, é que se obtêm as informações necessárias para a tomada de decisão (LATELME, 1994). Nesse contexto, o presente trabalho aborda a pesquisa sobre a produtividade da mão de obra nos serviços de execução de alvenaria convencional e alvenaria estrutural, a fim de obter-se resultados que possam nortear os gestores da construção civil, da cidade de Alegrete-RS, sobre a melhor forma de gerenciar uma obra, especificamente em como dimensionar a mão de obra necessária para determinado serviço e identificar os fatores que interferem no desenvolvimento das tarefas de execução de alvenaria. Uma gestão eficiente se dará quando forem conhecidos os níveis de desempenho possíveis de serem obtidos. Assim, determinando-se a eficiência de cada atividade no processo produtivo e estudando as operações que às constituem, 19 a partir da aferição de produtividade, produzir-se-á uma importante ferramenta na busca pela racionalização de processos nos canteiros. Entende-se, de acordo com Carraro (1998), sobre a importância da produtividade da mão de obra como uma das responsáveis pelo ritmo dos trabalhos. Ao se ter conhecimento sobre esta produtividade, alguns benefícios podem ser alcançados, tais como: a previsão do consumo de mão de obra, a previsão do tempo de duração do serviço, a avaliação e a comparação dos resultados, bem como o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos métodos construtivos. Portanto, e utilizando-se o que declaram o CBIC e a FGV (2012), tornou-se consenso que, para sustentar o ciclo atual, o setor da construção civil necessita melhorar a sua produtividade, ou seja, utilizar de maneira eficiente os seus recursos disponíveis. Assim, o estudo da produtividade da mão de obra no setor da construção civil, no município de Alegrete-RS, justifica-se por ser uma das questões primordiais dentro do processo de gestão das empresas, levando em conta que a produtividade influencia diretamente em questões orçamentárias, nas durações das atividades e, por conseguinte, do empreendimento, sendo o serviço de alvenaria importante, pois consome grande volume de recursos humanos e é atividade antecessora de várias outras executadas em uma obra. 20 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Sistemas construtivos de alvenaria A alvenaria é um dos sistemas construtivos mais antigos existentes, por ser um dos materiais estruturais responsável pela habitabilidade dos abrigos constituídos pelo homem (MARTINS, 2009). É toda e qualquer obra que utilize em sua execução, pedras naturais, tijolos ou blocos de concreto, ligados ou não por meios de argamassas (AZEREDO, 1997; YAZIGI, 2009), apresentando requisitos mínimos de resistência, durabilidade e impermeabilidade (AZEREDO, 1997). Tem como função dividir os ambientes internos e controlar a ação de fatores que são indesejáveis, tais como a chuva, o vento, a poeira, os ruídos, os animais, entre outros, formando uma barreira de proteção e suporte para as instalações dos edifícios, servindo ainda para proporcionar condições de habitabilidade necessárias às edificações (SALGADO, 2009). Destaca-se, segundo Braga et al. (2010), que as opções de alvenarias são apresentadas quanto: 1°) à finalidade e disposição – podem ser diferenciadas quanto ao seu local de assentamento, que pode ser exterior ou interior. A alvenaria exterior deve ser definida com muita cautela, em relação a sua espessura para que atenda os requisitos que a ela foram estipulados, como isolamento térmico e acústico, estrutura, estanqueidade a água e ao ar, entre outros. Já quanto às paredes interiores, devido à necessidade de se embutir tubulações hidráulicas e elétricas, bem como garantir isolamento, deve-se ter cuidado ao se projetá-las, para que as mesmas não obtenham uma espessura incompatível com a esperada. 2°) ao ponto de vista estático – as paredes são realizadas para suportarem cargas, também chamadas de paredes mestras. Cita-se como exemplo a alvenaria estrutural. Nestas paredes é utilizado o bloco cerâmico ou bloco de concreto. Já as alvenarias apenas com funções de divisórias são chamadas de paredes de vedação. Nestas, são utilizados tijolos cerâmicos ou materiais alternativos como paredes de gesso, drywall, blocos de solo cimento, entre outros materiais. 3°) ao número de planos de parede – No que se refere ao número de planos de paredes, existemdois tipos: simples e duplas. As simples, que são paredes que são executadas por um só pano, são normalmente utilizadas como 21 divisórias nas edificações. Já, nas duplas, são executados dois panos de paredes com uma espessura de intervalo entre elas, a fim de melhorar o isolamento térmico e acústico do ambiente. São utilizadas, geralmente, em paredes de fachada. De acordo com Salgado (2009), os principais tipos de alvenaria são: ciclópica (em que as dimensões dos blocos ou unidades não são padronizadas), de vedação (paredes usadas na estrutura convencional, para fechamento de vãos ou delimitação de áreas, sem a função estrutural de sustentação) e estrutural (na qual tem a função de suportar os esforços estruturais da edificação). Como nesta pesquisa realiza-se um comparativo entre os dois últimos tipos supracitados, na sequência apresenta-se uma breve descrição sobre cada uma deles. 2.1.1 Alvenaria convencional: Características Heineck (1991) afirma que as paredes de vedação em alvenaria de tijolos cerâmicos são reconhecidas como de baixo custo, de bons níveis de desempenho térmico e acústico, boa impermeabilização e, principalmente, na Região Sul, de boa capacidade de suporte. São facilmente ajustáveis às dificuldades da construção atual, envolvendo modificações de projeto, embutimento de canalizações, aumentos e reformas nas edificações. No entanto, este autor cita que são, em geral, vistas como pouco produtivas e despertam a analogia daqueles mais radicais em termos de inovações na construção civil, motivando pesquisadores e técnicos a procurar por alternativas que não sejam construir uma parede empilhando tijolo após tijolo. As alvenarias convencionais são conhecidas por apresentar elevado índice de desperdício, tais como nas quebras de tijolos, retrabalho, falta de padronização dos elementos de alvenaria. Ademais, muitas vezes não possuem um projeto de detalhamento, ou paginação, a fim de minimizar estas características (SALGADO, 2009). Os tijolos utilizados neste tipo de alvenaria podem ser constituídos de barro cozido, do tipo comum, laminado, furado, com quatro, seis e oito furos; refratário baiano; blocos de concreto; concreto celular; tijolo de vidro; pedras naturais (argamassados, travados). Tais tijolos podem ser aplicados em paredes, pilares, muros em geral, pisos secundários, fundações, entre outras aplicações. Cabe citar que as alvenarias convencionais apresentam as seguintes características (SILVA; GONÇALVES; ALVARENGA, 2006): 22 • na maioria das vezes não é utilizado um projeto de execução da mesma, sendo as soluções construtivas improvisadas durante o assentamento no canteiro de obra; • a mão de obra não precisa ser qualificada para a execução, portanto, nem sempre terá como resultado um serviço de qualidade; • para a passagem das instalações (elétrica e hidráulica) são efetuados cortes na parede já levantada e, então, preenchidos com argamassa, gerando um retrabalho; • há um considerado volume de desperdício, na quebra dos tijolos, no transporte, na execução, na quebra das paredes para as tubulações; • falta de controle (prumo e alinhamento) na execução, sendo detectado apenas quando da execução do revestimento. O que ocasiona um consumo exagerado de argamassa para o seu alinhamento. A Figura 1 mostra um exemplo na execução de instalações elétricas, ilustrando-se o desperdício de material e o retrabalho quando se executa a forma tradicional ou convencional de alvenaria. Figura 1 – Exemplo de execução de instalação elétrica em alvenaria convencional mostrando o desperdício de material e o retrabalho Fonte: Fernandes e Silva Filho (2009?, p.10) 23 É possível notar, na Figura 1, que na parede levantada foi necessário efetuar “rasgos” para a passagem das instalações elétricas, o que ocasionou desperdício de material e também se terá, posteriormente, um retrabalho. Vale destacar que tais desperdícios e retrabalhos também poderão ser encontrados na execução das instalações hidráulicas. 2.1.2 Alvenaria estrutural: Características A alvenaria estrutural, na visão de Salgado (2009), é um sistema construtivo em que a alvenaria tem a função de suportar os esforços estruturais em que é solicitada. Neste sistema, a padronização das unidades ou blocos é condição fundamental para a eficácia e segurança do sistema construtivo. Nessa linha de pensamento, observa-se, segundo Camacho (2006), que a alvenaria estrutural é um processo construtivo no qual os elementos que desempenham a função estrutural são de alvenaria, sendo os mesmos projetados, dimensionados e executados de forma racional. A alvenaria “portante” tem um sistema de dupla função, servir como parede de vedação ou como suporte para a edificação, o que leva a crer, num primeiro momento, na economia do empreendimento. Contudo, para executar este sistema, é necessário ter um controle da resistência, de forma a garantir sua estabilidade e segurança na construção. Além disso, é um processo que demanda uma maior qualificação da mão de obra e o emprego de materiais de melhor qualidade, o que eleva o custo de produção, se comparado à alvenaria convencional (FIGUEIRÓ, 2009). Nesse sistema não há necessidade da realização do retrabalho quando das instalações hidráulicas e elétricas, como mostra a Figura 2, ilustrando esse sistema construtivo, pois, nele, as instalações vão sendo executadas juntamente com o levantamento da alvenaria. 24 Figura 2 – Exemplo de alvenaria estrutural, com a execução das instalações elétricas e hidráulicas Fonte: Cerâmica Ermida (2012, não paginado) Segundo Camacho (2006), a alvenaria estrutural pode ser classificada quanto ao processo construtivo empregado, ao tipo de unidades ou ao material utilizado, como segue: a) Alvenaria estrutural armada : é a construção em que se emprega por necessidade da estrutura, armaduras passivas de aço, e estas armaduras são dispostas nas cavidades dos blocos que são devidamente preenchidas de micro- concreto (graute). b) Alvenaria estrutural não armada : é o processo em que nos elementos estruturais, existem somente armaduras com finalidades construtivas, de modo a prevenir problemas patológico tais como (fissuras, concentração de tensões, entre outros). c) Alvenaria estrutural parcialmente armada : é o sistema em que alguns elementos são projetados como sendo armados e outros como não armados. Esta definição é adotada somente no Brasil. d) Alvenaria estrutural protendida : é o processo em que existe uma armadura ativa de aço contida no meio do elemento resistente. Na concepção da alvenaria estrutural, cabe ressaltar que a mesma compensa seu custo de produção por ter uma economia ao não utilizar vigas e pilares para sua estrutura. O que torna o sistema mais interessante na hora de escolher qual sistema construtivo à utilizar. Mas nem sempre é correto afirmar que o 25 sistema é considerado adequado a qualquer edifício, deve - se estudar melhor cada situação (FIGUEIRÓ, 2009). A seguir, são apresentadas três características a serem consideradas na hora de escolher o sistema construtivo que melhor se adéque ao empreendimento (FIGUEIRÓ, 2009). a) Altura da edificação : Em relação à altura, no Brasil, ultimamente está sendo utilizada a alvenaria estrutural em edifícios de no máximo 16 pavimentos. Para construções de maior número de andares a resistência à compressão dos blocos fornecidos no mercado não atende aos requisitos para que a obra seja executada sem a utilização do graute de forma generalizada, o que iria interferir diretamente no aspecto econômico. Ainda que atendesse os parâmetros de resistência, as ações horizontais começariam a produzir tensões significativas, o que exigiria a utilização de armaduras e graute, o que também afetaria o aspecto de ser uma obra econômica. b) Condiçãoarquitetônica : Neste requisito, cabe ressaltar que a densidade de uma parede estrutural por m² (metro quadrado) de pavimento é muito importante, e que um valor indicativo é que haja de 0,5 a 0,7 m de paredes estruturais por m² de pavimento. No que se refere a estes limites, a densidade de paredes pode ser considerada usual e as condições para seu dimensionamento também refletirão esta condição. c) Tipo de uso : Este sistema não é muito aconselhável na construção de edifícios de alto padrão, nem em edificações que necessitem de grandes vãos. É um sistema construtivo aconselhado para edifícios de padrão médio e baixo, pois os ambientes e vãos são de menores dimensões. Também em edifícios comerciais não é vantajoso a utilização da alvenaria estrutural, tendo em vista que é comum a necessidade de ter que se modificar algumas paredes no seu interior para a acomodação de diferentes empresas que vão habitar o edifício, o que não é possível quando a construção é em alvenaria estrutural (FIGUEIRÓ, 2009). Segundo Camacho (2006), a alvenaria estrutural vem se destacando na construção civil, por apresentar algumas vantagens técnicas e econômicas como: 1. Redução de custos : pode-se obter uma considerável diminuição nos custos relacionando á aplicação das técnicas de projeto e execução, podendo chegar 26 até 30%, o que está ligado basicamente na simplificação das técnicas de execução e na economia de formas e escoramentos. 2. Menor diversidade de materiais empregados : a obra, tendo que ser executada com uma menor quantidade de material, diminui a contratação de subempreiteiras no canteiro de obras, bem como a complexidade da etapa executiva e o risco de atraso no cronograma de execução em função de falta de materiais, equipamentos ou mão de obra. 3. Redução da diversidade da mão de obra especializada : o processo que vai demandar uma mão de obra especializada é o levantamento das alvenarias, diferente do que ocorre nas estruturas de concreto armado e aço, na qual é necessário armador e carpinteiro para a montagem das estruturas. 4. Maior rapidez de execução : neste caso a alvenaria estrutural tem uma particularidade em ser executada com maior rapidez, pois possui uma técnica construtiva mais simples e com isso consegue obter um maior retorno no capital empregado. 5. Robustez estrutural: por ser robusta e de sua própria característica estrutural, sua estrutura resulta em maior resistência à danos patológicos decorrentes por movimentações, além de possuir uma maior segurança contra ruínas parciais. Além das vantagens citadas, Ramalho e Corrêa (2003) comentam que a alvenaria estrutural tem uma considerável economia de fôrmas, as únicas utilizadas são para a concretagem da laje. Outro fator é a flexibilidade no ritmo de execução, pois, se as lajes forem pré-moldadas, o andamento da obra vai depender do tempo de cura da laje, que deve ser respeitado no caso de peças de concreto armado. Uma desvantagem que esta técnica construtiva pode apresentar, citada por Camacho (2006), é a limitação do projeto arquitetônico pela concepção estrutural, que não permite construção de obras arrojadas. Outro fator importante é que, como as paredes de alvenaria servem como estrutura para a construção, nem sempre é possível adaptar a arquitetura interior para uma nova utilização. Ramalho e Corrêa (2003) também apresentam algumas desvantagens do sistema construtivo, que são a interferência entre projetos de arquitetura, estrutura e instalações, pois a manutenção do módulo afeta de forma direta o projeto arquitetônico, e a impossibilidade de se furar parede sem um controle cuidadoso condicionam de forma marcante os projetos de instalações elétricas e hidráulicas. 27 Além disso, o mesmo autor aponta que, para este sistema, é preciso uma mão de obra especializada e que se adapte a usar instrumentos adequados para a execução da alvenaria, sendo necessário, em alguns casos, a empresa ministrar cursos de aperfeiçoamento, senão, os riscos de falhas e erros podem comprometer a segurança da estrutura e crescer sensivelmente. 2.2 Produtividade: histórico No passado, desde os tempos dos homens pré-históricos, era usado, ou mesmo se pensava em meios de aumentar a produtividade nos serviços que eram executados, bem como na utilização de utensílios ou ferramentas que auxiliassem na execução das atividades. Um exemplo que descreve esse contexto foi quando os homens poliam ou afiavam suas ferramentas na pedra, para torná-las mais eficazes (VICENTE, 2004, apud CARDOSO, 2010). Contemporaneamente, a palavra produtividade tem ganhado importância nas organizações, por intermédio de divulgações em revistas especializadas, programas na mídia, simpósios, entre outros meios. Além de provocar uma diversidade de conceitos, a palavra produtividade aborda uma temática nova, na qual, os gestores vêm buscando novos conhecimentos sobre o tema. O termo “produtividade” foi usado pela primeira vez em um artigo publicado pelo francês François Quesnay, em 1766. Em anos posteriores surgiu o conceito de “produção em massa”, criado pelo americano Henry Ford, no qual abordava grandes volumes de produção. Ford trouxe consigo princípios inovadores, relacionados com a melhoria da produtividade, por meios de novos conceitos e técnicas de gestão das atividades (CARDOSO, 2010). Segundo Moreira (2009), as primeiras medidas sobre produtividade para a indústria foram divulgadas por volta do século XIX, escritas por Bureau of Labor. Após a Segunda Guerra Mundial, muitos países preocuparam-se com o seu desenvolvimento econômico e a produtividade fez com que esse tipo de medida se tornasse cada vez mais comum. Em 1950, os fundamentos teóricos da produtividade começaram a ser lançados, definitivamente, por vários economistas norte-americanos. A Tabela 1 mostra que vários países vêm estudando a produtividade na construção civil. 28 Tabela 1 – Centros de Estudos da Produtividade Região Números de centros de estudos Idade média dos centros (anos) África 6 18 Ásia 6 20 Europa 22 18 America Latina 9 22 Canadá 5 6 Estados Unidos 44 14 Fonte: Moreira (2009, p. 605) Apesar de tais centros de estudos, existem muitas empresas no ramo da construção civil que ainda não possuem um sistema de medição de desempenho, e as que possuem, apresentam algumas deficiências (MOREIRA, 2009). Mas este cenário está mudando, pois muitas empresas já estão investindo em programas que visam o aumento da produtividade e da qualidade, seguindo um padrão utilizado pela série NBR ISO 9000 (ABNT, 2005), que descreve os fundamentos de sistemas de gestão da qualidade e estabelece a terminologia para esse sistema. Com o crescimento acelerado da população, a indústria da construção civil está cada vez mais competitiva e busca sistemas de modernização para melhorar a eficiência dos recursos empregados e eficácia no alcance de seus objetivos. Estas melhorias buscam diminuir perdas no processo produtivo e proporcionar maior qualidade nos serviços oferecidos. 2.3 Definindo produtividade na construção civil Na visão de (Chambers; Johnston; Slack, 2009), a produtividade é um processo de quantificar a ação, no qual o processo de quantificação e o desempenho da produção são presumidos como derivados de ações tomadas pela administração. Já Oliveira (1997) conceitua produtividade como sendo a quantidade de bens e serviços produzidos por um fator de produção, ou seja, é a relação entre produtos ou serviços e insumos. De outra forma, Souza (1996) afirma que a produtividade é a relação entre as saídas geradas por um processo produtivo e os recursos empregados na 29 obtenção de tais saídas. A Figura 3 indica genericamente um sistema produtivo, sugerido por Souza (1996), na qual complementa este conceito. Figura 3 – Representação genérica de um sistemaprodutivo Fonte: Souza (1996, p.02) Em face das considerações de Souza (1996), destaca-se, conforme ilustra a Figura 4, que o estudo da medição da produtividade, na construção civil, pode ser realizado sob diferentes abordagens. Figura 4 – Diferentes abrangências do estudo da produtividade Fonte: Souza (2000, p. 02) Com base na Figura 4, é possível afirmar que o estudo da produtividade pode ser em função do tipo de entrada (recurso) a ser transformada, abrangendo os seguintes pontos de vista (SOUZA, 2000): • Físico – no caso de se estar estudando a produtividade no uso dos materiais, equipamentos ou mão de obra; • Financeiro – quando a análise recai sobre a quantidade de dinheiro demandada; • Social – quando o esforço da sociedade como um todo é encarado como recurso inicial do processo. 30 Vale destacar que a indústria da construção civil, como sistema produtivo, possui todos os quesitos necessários aos estudos da produtividade. As entradas podem ser identificadas como os recursos físicos do processo (materiais, equipamentos e mão de obra) e as saídas por uma obra ou serviço. A Figura 5 exemplifica melhor o contexto apresentado . Figura 5 – Processo de transformação no sistema produtivo da construção civil. Fonte: Carraro e Souza (1998, p. 292) Assim, o estudo da produtividade da mão de obra, objeto de pesquisa deste trabalho, é, portanto, uma análise de produtividade física, de um dos recursos utilizados no processo produtivo, qual seja, a mão de obra empregada em alvenaria estrutural e em alvenaria convencional. Observa-se também, na visão de Laufer e Jenkins (1982 apud OLIVEIRA; SOUZA; SABBATINI, 2002), que o estudo da produtividade da mão de obra deve levar em conta, além dos fatores físicos, que podem ser mensurados (tanto na entrada, quanto na saída), alguns fatores que afetam diretamente ou indiretamente a motivação do trabalhador, como mostra a Figura 6. Figura 6 – Níveis que afetam a produtividade da mão de obra Fonte: Oliveira, Souza e Sabbatini (2002, p. 05) 31 Pelo exposto na Figura 6, convém notar que existem três níveis que afetam a produtividade da mão de obra, nos quais, no nível individual se tem como fatores a serem evidenciados os interesses e as necessidades pessoais; no nível do trabalho estão os riscos e as responsabilidades; e no nível do ambiente organizacional destaca-se a infraestrutura do local de trabalho. Herculano (2010) admite que a produtividade do serviço de alvenaria convencional pode ser encontrada com facilidade com diferentes valores em obras semelhantes. Esta variação pode ser alta ou pequena, mas sempre gerada por fatores que contribuem na formação, movimentação e comercialização do produto final. Tais fatores podem ser divididos em categorias tais como apresentadas na sequência: a) Características do produto: Para Araujo e Souza (2001), a concepção inicial do projeto, a forma geométrica das alvenarias que serão executadas, pode ser um fator culminante na produtividade do serviço. Alvenarias lineares, como mostra a Figura 7, são executadas com mais facilidade e ganhos de produção, em relação à paredes não lineares, conforme demonstra a Figura 8. Figura 7 – Planta baixa de uma residência com paredes lineares Fonte: Elaboração própria 32 Figura 8 – Planta baixa de uma residência com paredes não-lineares Fonte: Herculano (2010, p.16) Para Cardoso (2010), fatores como projetos, características da alvenaria, o tipo de alvenaria, a forma de execução do serviço, dentre outros aspectos influenciam na produtividade. Souza (2006) comenta que o tamanho da alvenaria a ser executada é um fator primordial que afeta diretamente a produtividade. Pois paredes de dimensões menores, Figura 9, lado A, são mais trabalhosas e demandam um maior tempo de execução em relação a paredes de maior dimensão como mostra a Figura 9, lado B. Figura 9 – Diferentes tamanhos de paredes de alvenaria Fonte: Elaboração própria 33 b) Materiais e componentes: Segundo Marchioro (2004) apud Herculano (2010), a diferença de densidade entre blocos cerâmicos na mesma obra, pode trazer uma menor produtividade, por causa da lentidão decorrente do transporte e assentamento na parede a ser executada. Neste sentido, Salgado (2009, p. 115) observa que o tamanho, o peso, a textura da peça podem influenciar diretamente na produtividade. Para este autor, “nem sempre um bloco maior é mais produtivo que um bloco pequeno”. Assim, deve-se levar em consideração a qualidade do material quanto a forma, o tamanho e a planeza dos blocos, a dosagem da argamassa, o tipo de ferragem, os materiais utilizados nas vigas, nas vergas e nas contravergas, entre outros elementos (ARAÚJO; SOUZA, 2001). c) Equipamentos e Ferramentas Cardoso (2010), afirma que a escolha de equipamentos e ferramentas de boa qualidade é importante para maior racionalização do serviço e melhor desempenho da mão de obra. Araújo e Souza (2001) descreve que, nos últimos anos, é notória a utilização de equipamentos e ferramentas em substituição as tradicionais colheres de pedreiro e prumos de face. Muitos deles são colocados no mercado como forte aliados ao incremento da produtividade alcançáveis com a sua utilização. As Figuras 10 e 11 exemplificam o exposto. Figura 10 – Equipamentos utilizados na execução de alvenaria Fonte: Herculano (2010, p.17) 34 Figura 11 – Equipamentos utilizados na execução de alvenaria Fonte: Herculano (2010, p.17) Vale salientar, segundo Carraro (1998), que a utilização de equipamentos e de ferramentas novos, vem acentuando-se muito nos últimos tempos, porém, na literatura pesquisada, não encontrou-se estudos que comprovem o efeito do emprego destes instrumentos na produtividade no serviço de alvenaria. d) Mão de obra: Cardoso (2010) diz que o dimensionamento das equipes, a falta de qualificação, o absenteísmo, a realização de outras tarefas que podem atrapalhar são também fatores que interferem na produtividade. Araújo e Souza (2001) afirmam que a formação das equipes de trabalho, que irão executar um serviço, deve ser bem pensada dentro do canteiro de obras. Porém, não há uma regra que defina a equipe ideal para cada serviço, assim torna- se inevitável a influência da mesma na produtividade do serviço em execução. e) Organização da produção: A gestão do processo e dos recursos é importante para o desenvolvimento adequado dos serviços (CARDOSO, 2010). Carraro (1998) menciona que quando se pensa na execução de alvenaria, geralmente este pensamento está associado à figura de um pedreiro assentando blocos ou tijolos. No entanto, por trás desta figura, estrutura-se todo um esquema de gestão e organização da produção, a fim de que 35 este serviço seja realizado. As formas de gestão da produção, no serviço de elevação, podem trazer influências na produtividade da mão de obra. Assim, a Figura 12 mostra a disposição adequada dos materiais e equipamentos antes da realização do serviço de alvenaria. Figura 12 – Disposição dos materiais e equipamentos antes do serviço de alvenaria Fonte: Dantas (2011, p.36) Ademais, o dimensionamento das equipes, como por exemplo, o número de ajudantes para cada pedreiro e a presença ou não de encarregado, constitui fator importante a ser considerado no trabalho de execução de alvenaria, e, acredita-se, mantenha correlação com a variação nos níveis de produtividade da mão de obra (ARAÚJO; SOUZA, 2001). Assim, conforme descreve Cardoso (2010), existem vários fatores que podem influenciar a produtividade da mão de obra. Alguns podem ser controlados, como, por exemplo: equipamentos, treinamentos, utilização dos recursos, entre outros. Já fatores como qualidade no gerenciamento,motivação, intempéries, entre outros, não são possíveis de serem controlados. Portanto, constatar a existência destes fatores no canteiro de obras, favorece o desenvolvimento de ações que possibilitem melhores resultados. Cabe citar que Souza (2006) também apresenta outros fatores que podem interferir na produtividade no canteiro de obras, classificando-os como ação danosa 36 na produtividade primária, mostrados no Quadro 1, e fatores com ação danosa na produtividade via indireta, apresentados no Quadro 2. Quadro 1 – Fatores primários que prejudicam a produtividade Ação danosa na produtividade primária Causa variação de temperatura ou umidade eventos atmosféricos (chuvas, ventos fortes, etc.) trabalho fora da sequência programada interrupções e atrasos congestionamento do local de trabalho ou acesso restrito necessidade de retrabalho supervisão inadequada falhas na alocação do número adequado de operários deficiências no gerenciamento de materiais (inadequabilidade do insumo, quantidade insuficiente de material, local de estoque impróprio, má organização do estoque) tamanho elevado da equipe deficiências no gerenciamento de ferramentas e equipamentos (inadequabilidade, quantidade insuficiente, má localização) restrições fictícias política de pagamentos inadequada ou não bem aceita Fonte: Souza (2006, p. 50) De acordo com Souza (2006), os fatores com ação danosa na produtividade primária referem-se a ocorrências que atuam deteriorando diretamente a produtividade e os fatores com ação danosa na produtividade via indireta são aqueles que atuam indiretamente na mesma, ou seja, facilitam a ocorrência das causas primárias. Quadro 2 – Fatores por via indireta que prejudicam a produtividade Ação danosa na produtividade via indireta Causa aceleração da obra excesso de horas extras mais de um turno de trabalho jornada semanal elevada Absenteísmo Rotatividade alterações de projeto alterações da programação Fonte: Souza (2006, pg. 51) 37 Vale lembrar que a presente pesquisa também aborda os fatores que afetam diretamente ou indiretamente a mão de obra na construção civil, especificando-se os elementos que influenciam na produtividade da mão de obra nos serviços executados em alvenaria convencional e alvenaria estrutural. 2.4. A importância da medição da produtividade no s etor da construção civil Com o aumento da concorrência entre as empresas da construção civil, estas têm sido obrigadas a produzirem mais, com menores custos, para obterem uma margem de lucro maior e, assim, inovarem ou criarem métodos de trabalho que proporcionem o alcance dos seus objetivos. Neste sentido, muitas empresas optaram também por investir em recursos que pudessem ter um controle sobre a produção, por meio da implementação de um sistema de controle de qualidade, utilizado em conjunto com o sistema de planejamento e controle da produção (SANTOS; BARBOZA; MAGGI, 2006). Póvoas et al. (1999, apud CARDOSO, 2010) destacam que um dos fatores que determina a competitividade de uma empresa é a influência da produtividade nos custos e prazos de uma obra. Para os supracitados autores, a produtividade oferece condições para melhorar a execução dos serviços, por meio da racionalização da mão de obra, dos materiais e dos equipamentos ou, então, pela estrutura organizacional adotada na empresa. Chiavenato (2005) também entende como importante o controle da produção, necessário para o melhor aproveitamento do processo produtivo. Neste sentido, o autor afirma: Não basta planejar e programar a produção. É preciso também monitorar e controlar seu desempenho e os resultados para se certificar se estão ou não satisfatórios. É preciso também acompanhar o grau de eficiência e eficácia para fazer as correções e ajustes necessários dentro do menor tempo possível. Quanto melhores os controles, mais agilidade e flexibilidade o processo produtivo terá. Além do planejamento, deve haver controle para que a produção seja excelente (CHIAVENATO, 2005, p. 149). Para Moreira (2009), com o aumento da produtividade, os custos de produção, ou serviços prestados, diminuem. Isto acontece porque, com uma maior produção, cada unidade de produto, ou serviço executado, terá um consumo bem 38 menor na quantidade de insumos, o que afeta diretamente nos custos e, consequentemente, as empresas poderão investir mais em seu crescimento e, assim, se tornarem competitivas. A Figura 13 ilustra esquematicamente a assertiva anterior. Figura 13 – Mecanismo de influencia da produtividade Fonte: Moreira (2009, p. 606) A importância da produtividade na construção civil é ressaltada por Araújo e Souza (2000), sendo destacada como primordial para o sucesso das empresas deste setor e representando um item importante na composição dos custos nas obras de construção. O conhecimento da produtividade da mão de obra e o entendimento das razões que a fazem melhor, ou pior, tornam-se ferramentas indispensáveis para apoiar as decisões dos gestores. De acordo com (Chambers; Johnston; Slack, 2009), a medição do desempenho de uma empresa é fundamental para a gestão de qualidade, pois, por meio dela, podem ser levantados dados que vão permitir aos gerentes uma melhor alternativa na hora de tomar alguma decisão para melhorar a produtividade do trabalho. Este autor também cita que a medição do trabalho visa à otimização do processo produtivo, na qual, quanto maior for à satisfação dos clientes, maior será a qualidade dos serviços prestados e, em consequência, maior será a produtividade. A produtividade é o elemento básico do crescimento ao longo do tempo. O debate em torno da produtividade da Construção Civil brasileira se intensificou nos anos recentes, em que o setor ingressou em um ciclo virtuoso de atividade. Com a obtenção de taxas expressivas de crescimento, as empresas passaram a encontrar maiores dificuldades na contratação de mão de obra qualificada ou, em menor grau, na aquisição de determinados bens de capital (CBIC; FGV, 2012, p. 08). Diante do exposto, e citando-se (Chambers; Johnston; Slack, 2009), entende-se que o desempenho de uma empresa tem um grau importante na tomada de decisões, pois, por meio dele, se é capaz de julgar se uma operação está sendo 39 executada de maneira boa, ou ruim e, assim, se poderá exercer um controle sobre a mesma. 2.5 Medição da produtividade na construção civil Inicialmente cabe destacar que, segundo Araújo (2000), para entender os mecanismos de variação da produtividade, é necessário modelá-la. Esta modelagem, conforme ilustra a Figura 14, pode ter dois objetivos, que são: • Modelo explanatório : analisando-se uma amostra retirada de um processo real, tenta-se explicar as razões para o que aconteceu. • Modelo de previsão : conhecendo-se algumas características de um processo (por exemplo, as que caracterizam uma determinada amostra), busca-se prever o que acontecerá futuramente nesse processo. Figura 14 – Relações presentes nas tarefas de modelagem Fonte: Araújo (2000, p. 20) Destaca-se que a pesquisa realizada nesse trabalho segue o modelo explanatório, buscando-se efetuar a mensuração do esforço humano despendido, em homens-hora, para a produção de paredes em alvenaria estrutural e em alvenaria convencional, para realizar uma posterior análise comparativa da produtividade da mão de obra na execução destes dois tipos de sistemas construtivos de alvenaria. Com base em Souza (1996), Araujo (2000), Araujo e Souza (2001), cita-se, a seguir, as diferentes formas de medir a produtividade, na qual englobam: Modelos Teóricos; Modelos de Entrada; e Modelos de Entrada-Saída. 40 2.5.1 Modelos Teóricos, Modelos de Entrada e Modelo s de Entrada-Saída As diferentes formas de medir a produtividade englobam: Modelos Teóricos; Modelos de Entrada; eModelos de Entrada-Saída, assim apresentados: • Modelo teórico: tal modelo considera que todos os fatores externos ao processo são mantidos constantes (ARAUJO, 2000). Esta tipologia de modelo, não agrega subsídio algum na aplicação prática, sendo apenas considerada uma representação teórica mais simplificada da realidade (SOUZA, 1996). • Modelo de entrada: procura distinguir, dentro do tempo real de trabalho, fatos considerados mais ou menos eficientes. É neste mesmo contexto que se fala em tempos produtivos, auxiliares e improdutivos, imaginando sempre que se deve buscar situações de maximização das parcelas produtivas para a melhoria da produtividade. Este modelo nasceu da Indústria Seriada, cujas características se distinguem da construção civil. Estudar a melhor forma de execução do trabalho na Indústria Seriada torna-se bastante útil, pois, a quantidade de intervenientes externos é previsível e controlável (ARAÚJO, 2000). • Modelo de entrada e saída: busca entender a produtividade a partir de informações relacionadas tanto às entradas quanto às saídas do processo produtivo (ARAUJO, 2000). Logo, serão apresentados dois métodos usados para exemplificar este tipo de modelagem, que são: a) Modelo da expectativa A Teoria da Expectativa baseia-se no simples propósito de que os indivíduos optam por aqueles comportamentos que julgam levá-los a resultados que lhe são atrativos, como (reconhecimento do chefe, pagamento, entre outros). Tal teoria indica como analisar e predizer os cursos de ação que os indivíduos irão tomar quando tiverem a oportunidade de realizar escolhas sobre seus comportamentos. Quando conhecida alguma atratividade que fosse ligada a certas saídas, torna-se mais fácil prever recompensas que os motivassem a alcançá-las, com a mão de obra (minimizar as entradas). 41 b) Modelo dos Fatores O “Modelo dos Fatores” foi criado por Thomas e Yakoumis, sendo desenvolvido exclusivamente para o ramo da construção civil, pois o mesmo é baseado nos fatores que afetam a produtividade na mão de obra (ARAUJO, 2000). Thomas e Yiakoumis (1987), apud Araújo (2000), justifica a teoria contida no Modelo dos Fatores, na qual estes autores entendem: “que o trabalho de uma equipe é afetado por certa quantidade de fatores que podem alterar o seu desempenho aleatória ou sistematicamente” (ARAÚJO, 2000, p. 03). Araujo e Souza (2001) diferenciam esse modelo, dos demais, em vários aspectos, dentre os quais é citado o foco na produtividade no nível da equipe de trabalhadores, onde é considerado o efeito da curva de aprendizagem e outros fatores que podem ser mensurados. Para os supracitados autores, esse modelo possui as seguintes características: • é barato : o sistema de mensuração é de fácil implementação e apresenta baixos custos de implantação; • é simples : os dados requeridos são poucos e apresentam facilidade na coleta em campo; • é rápido : a retroalimentação é rápida, de forma que as ações corretivas podem ser tomadas mesmo durante atividades de curta duração; • é comparativo : informações e dados, coletados, analisados e estudados, possibilitam a comparação entre diferentes empreendimentos; • é apurado : os resultados refletem o que está ocorrendo. A filosofia desse modelo, portanto, considera que a simples apropriação de índices de produtividade não será tão importante, ou útil, se não houver um entendimento do que se está elaborando. Desse modo, conhecer os fatores que fazem a produtividade de uma obra ser melhor, ou pior que outra, é tão ou mais importante que simplesmente calcular índices de produtividade (CARRARO; SOUZA, 1998). A Figura 15 ilustra a ideia do Modelo dos Fatores. 42 Figura 15 – Modelo dos fatores Fonte: Araújo e Souza (2001, p. 05) Interpretando a Figura 15 tem-se a ideia contida no Modelo dos Fatores, onde: • a curva real : representa um resultado hipotético de uma medição efetuada em campo; • as curvas A, B, C e D : representam curvas de produtividade de um determinado serviço, obtidas a partir da subtração com a produtividade real, dos efeitos induzidos pelas condições A, B, C e D, distintas da situação de referência; • a curva de referência : mostra a produtividade possível de se obter caso não houvesse interferência de fatores que diferenciem das condições de referência. 2.5.2 Técnica das linhas de balanço Conforme Santos; Barboza; Maggi (2006), esta técnica é indicada para atividades que necessitam repetições em seus movimentos. Consiste em um diagrama unidade-tempo, onde cada atividade é representada por uma linha e a inclinação da mesma representa o ritmo de trabalho, calculado a partir da produtividade. 43 Santos, Barboza e Maggi (2006) citam algumas atividades que podem ser mencionadas como sendo repetitivas no ramo da construção civil que são: conjunto habitacional, edifício de múltiplos pavimentos, redes de água e de esgoto. No caso do conjunto habitacional, as unidades que são plotadas no eixo, são as residências. Nos edifícios, cada andar representa uma unidade. Nas redes de água, cada metro ou cada junção pode ser tomada como unidade. O Quadro 3 exemplifica o exposto. Quadro 3 – Exemplos de obras de construção civil com atividades repetitivas Tipo de obra Unidade de construção Edifício de múltiplos pavimentos Pavimentos Conjunto residencial popular Casas Túneis Anéis Estradas Seções ou quilômetros Redes de Saneamento Juntas ou metros Fonte: Santos, Barboza e Maggi. (2006, p. 124) Seguindo Santos, Barboza e Maggi (2006), cada unidade deve ser desmembrada numa sequencia de processos ou atividades. No caso de um edifício de múltiplos pavimentos, as unidades são os pavimentos e alguns exemplos de processo são: fôrmas; armaduras; concretagem; alvenarias; revestimentos; pintura. A Figura 16 demonstra um exemplo gráfico de linhas de balanço, onde as letras A, B, C, D e E representam as atividades. Figura 16 – Exemplo de gráfico das linhas de balanço Fonte: Santos, Barboza e Maggi. ( 2006, p. 124) Este método mostra claramente o ritmo de produção, possíveis interferências entre atividades e permite detectar gargalos com clareza. 44 2.5.3 Indicador de mensuração da produtividade A forma mais direta de medir a produtividade refere-se à quantificação da mão de obra necessária (expressa em homens-hora demandados) para produzir uma unidade da saída em estudo. E o indicador utilizado para isso denomina-se Razão Unitária de Produção (RUP), sendo calculado pela seguinte expressão (SOUZA, 2000): RUP = Entradas/Saídas Como Souza (1996) afirma que a RUP é a razão entre as entradas pelas saídas dos serviços estudados, o autor refere-se, no que diz respeito às entradas, ao cálculo do número de homens-hora demandados, que é, genericamente, fruto da multiplicação do número de homens envolvidos pelo período de tempo de dedicação ao serviço. Já as saídas podem ser consideradas de maneira bruta ou líquidas. Assim, para este trabalho a produtividade medida vai ser feita por meio deste índice – a RUP –, que está ilustrado na Equação 1 (DANTAS, 2011). ��� = ��� � ...(1) Onde : RUP = Razão Unitária de Produção; H x h = Mensuração do esforço humano despendido, em homens-hora, para a produção do serviço; Qs = Quantidade de serviço. Observa-se que, quanto menor o índice, maior será a produtividade, pois menos homens-hora estão sendo consumidos para realizar-se uma determinada quantidade de serviço. Por conseguinte, pode-se dizer que a produtividade melhora à medida que a relação entre as entradas e as saídas diminui. Souza (2000) enfatiza que, para se obter uma uniformização no cálculo da RUP há que se definirem as regras paraa sua mensuração, tanto de entradas, quanto de saídas. Além disso, é preciso definir o período de tempo a que se refere o levantamento feito. Cabe observar que há diferentes tipos de RUP, como mostra a Figura 17. 45 Figura 17 – Diferentes tipos de RUP Fonte: Araújo (2000, p. 29) Quanto a cada tipo de RUP, Araújo (2000) descreve o seguinte: • a RUP diária: é calculada a partir de valores mensurados de homens- horas e quantidades de serviços relativos ao dia de trabalho em análise; • a RUP cumulativa: é calculada a partir de valores de homens-hora e quantidades de serviços relativos ao período que vai do primeiro dia ao ultimo dia em estudo; • a RUP potencial : é produtividade representativa de um desempenho possível de ser repetido várias vezes na obra em que se está realizando o estudo, ou seja, é a mediana das RUPs diárias cujo os valores estejam abaixo do valor da RUP cumulativa ao final do período em estudo; • a RUP cíclica: é a analise do ciclo de execução de um determinado serviço. Vale observar que enquanto a RUP diária identifica os efeitos sobre a produtividade dos fatores condicionantes presentes no dia de trabalho, a RUP cumulativa capta tendências de produtividade em longo prazo, sendo útil para se fazer previsões quanto ao consumo de mão de obra e duração dos serviços, entre outros (ARAÚJO, 2000). 46 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Etapas da pesquisa O trabalho foi elaborado partindo-se da definição do tema de pesquisa, para, posteriormente, realizar-se uma revisão bibliográfica dos fundamentos teóricos envolvidos na mesma. A partir daí, e com os objetivos para esta pesquisa estabelecidos, foram realizadas observações “in loco” dos trabalhadores, ao executarem levantamento de alvenaria estrutural e de alvenaria convencional, com a finalidade de se coletar dados para análise. Assim, os passos da pesquisa são uma adaptação dos procedimentos indicados por Cardoso (2010), sendo apresentados na sequência: 1. Identificação do tema de pesquisa, em seguida, pela formulação do problema, definição dos objetivos gerais e específicos e apresentação das razões que demonstram a importância da realização dessa pesquisa. 2. Apresentação da fundamentação teórica, de forma a abranger os sistemas construtivos de alvenaria estrutural e de alvenaria convencional, a produtividade da mão de obra na construção civil e a mensuração da produtividade, com base em pesquisas realizadas em livros, artigos técnicos, teses, dissertações, monografias e revistas técnicas. 3. Realização de levantamento de dados junto aos canteiros de obras visitados (diariamente), de modo a obter dados, para, então, tratá-los, apresentá-los e analisá-los. Destaca-se que tais levantamentos envolveram: • levantamento quantitativo de trabalhadores que efetivamente executaram o serviço de alvenaria (estrutural e convencional) e quanto tempo dedicaram para a execução da mesma; • levantamento da metragem executada da alvenaria produzida por dia de trabalho, em cada tipo de sistema construtivo objeto de estudo desta pesquisa; • levantamento de possíveis causas de anormalidades ou ocorrências que tenham acontecido durante a jornada de trabalho, que interferissem na produtividade da mão de obra; 4. Tratamento e apresentação dos dados (com o auxílio do Microsoft Excel); 5. Análise dos resultados obtidos – foi feito um confronto dos índices de produtividade da mão de obra, das duas técnicas construtivas observadas na 47 pesquisa, com os índices de produtividade da mão de obra publicados na TCPO (2010); 6. Descrição das conclusões. 3.2 Quanto à coleta de dados Para essa etapa da pesquisa foi usado o seguinte: • câmera digital: utilizada para registrar as diversas situações que envolvem as atividades dos operários na realização do serviço, auxiliando nas análises dos resultados; • planilha para anotação dos dados: local onde foram registradas as informações necessárias para a pesquisa. Nesse trabalho foram apresentadas, anteriormente, na Figura 4, as diferentes abrangências do estudo da produtividade. Ressalta-se que essa pesquisa abrange os fatores físicos, no presente caso, a produtividade da mão de obra. Ademais, para a medição da produtividade seguiu-se o “Modelo de entrada e saída”, procurando-se entendê-la a partir de dados relacionados tanto as entradas, quanto às saídas do processo produtivo, adotando-se, ainda, o Modelo dos Fatores, pois este proporciona conhecer os fatores que fazem a produtividade da mão de obra ser melhor, ou pior. 3.2.1 Coleta de dados: Entradas Araújo e Souza (2001) sugerem que a coleta de dados, ou seja, a forma de recolher as medições dos homens-horas despendidos diariamente para uma determinada tarefa, pode se dar de diferentes formas. Para este trabalho foram consideradas as verificações contínuas junto ao canteiro de obras e por meio de informações obtidas em conversas com o encarregado do serviço. Assim, foram anotadas ocorrências diárias ao longo dos dias analisados. Nesse sentido, foram observadas chuvas que atrapalham o andamento da obra, ausência de funcionários no canteiro, atraso na entrega de materiais, realocamento de funcionários para outras funções, bem como outros fatores intervenientes no cálculo de desempenho da produtividade da equipe. Vale 48 destacar que a ausência de funcionários e o realocamento dos mesmos para outras funções não foram consideradas no cálculo da RUP, já que tal procedimento engloba a mensuração do esforço humano despendido, em homens-hora, para a produção do serviço. Araújo e Souza (2001) explicam que para a coleta de dados deve-se levar em consideração os tipos de homens-horas apropriados, onde, obtêm-se o número de homens-hora relativos a um determinado dia de trabalho, somando-se as horas trabalhadas por cada membro da equipe. Portanto, foram analisadas as horas trabalhadas pelos operários, ou seja, o tempo que eles estiveram na obra, disponível para o trabalho de elevação de alvenaria. Com relação às equipes, deve-se distinguir dois grupos: • Equipe de produção direta: que inclui apenas os funcionários que estão diretamente envolvidos na tarefa em análise, ou que dão apoio nas suas extremidades; • Equipe de produção indireta ou de apoio: contempla operários que estejam envolvidos em tarefas auxiliares à produção, mais distantes do local propriamente dito, onde o serviço final se materializa. A Figura 18 mostra um esquema, onde é exemplificada a produção de uma alvenaria de vedação, em que se têm, em dois diferentes andares do edifício, dois pedreiros e um servente atuando diretamente no assentamento dos blocos da alvenaria, apoiados por uma equipe que fica instalada no andar térreo, que produz a argamassa (dois operários) e envia blocos para os andares em execução (um operário). Ainda, na mesma equipe, considera-se mais dois operários responsáveis pelo recebimento, descarregamento e transporte de materiais (blocos, cimento, cal) até o estoque da obra. Essa equipe conta ainda com um encarregado que não executa serviço algum. 49 Figura 18 – Diferentes tipos de equipe na execução da alvenaria Fonte: Araújo e Souza (2001, p.08) Observa-se que, para este trabalho, foi feita a análise somente sobre a equipe direta (pedreiros). Ademais, para o levantamento dos dados de entrada, como já citado neste trabalho, foi elaborada uma planilha para a anotação de dados conforme ilustra a Figura 19. Figura 19 – Planilha para anotações dos serviços de alvenaria Fonte: Elaboração própria 50 Onde, na Figura 19: Hh = homem-hora; Qs = quantidade de serviço executada; RUP d = RUP diária; Qsc = quantidade de serviço acumulado; Hhc = homem-hora acumulado; RUP cum = RUP cumulativa. 3.2.2 Coleta de dados: Saídas Para a
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