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Fotografia Autoral, Conceitual e Artística Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Miguel Luiz Ambrizzi Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Mostras, Exposições e Catálogos • Introdução; • A Exposição – Planejamento, Montagem e Estratégias Expositivas; • Instalações Fotográficas e Trabalhos Híbridos – Para além da Imagem Fotográfica; • Catálogos e Livros de Fotografia. • Conhecer os espaços expositivos institucionais tradicionais, tais como galerias e mu- seus, como espaços alternativos; • Conscientizar sobre a importância do planejamento da exposição de fotografi as; • Conhecer aspectos relevantes na montagem de exposições como: materiais, supor- tes e iluminação; • Abordar sobre a importância da qualidade do catálogo das exposições – organi- zação das informações textuais e visuais, diagramação, impressão; • Conhecer artistas e fotógrafos que trabalham com livros de artista e livros de fotografi a; • Compreender que as formas de exposição e divulgação necessitam de planejamen- tos conceituais e estéticos para que possam enfatizar a mensagem da fotografi a e ampliar as formas de fruição e leitura das obras pelo público. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Mostras, Exposições e Catálogos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Introdução Nesta unidade vamos estudar formas de apresentação do trabalho fotográfico ao público, seja por meio de exposições em museus, galerias e locais públicos, seja por meio de uma galeria virtual ou de catálogos e livros de fotografia (livros de artista). Essas preocupações dizem respeito, geralmente, aos trabalhos autorais e artísticos, cuja circulação se dá por meio de instituições culturais ou não e no mercado artís- tico editorial. Toda fotografia que seja resultado de uma boa ideia e conceito, dependendo do contexto, da forma e do local onde é apresentada ao público, pode ter sua leitura, fruição e aceitação prejudicada se não tiver a mesma preocupação que o seu autor teve com a fase de execução do trabalho. Portanto, nesta unidade vamos abordar alguns exemplos de possibilidades de como preparar o trabalho fotográfico para apresentá-lo ao público. O público está cada vez mais crítico diante das imagens e, dessa forma, o fotó- grafo precisa ter o mesmo nível de crítica, reflexão e avaliação que teve durante o processo criativo com o processo de exibição da sua criação ao público. O mesmo trabalho, se exposto em diferentes contextos, poderá ter distintas leituras, ampliar o seu alcance a públicos diversos. A Exposição – Planejamento, Montagem e Estratégias Expositivas Normalmente chamamos de galeria o espaço associado às instituições profissio- nais, culturais, museológicas e artísticas, mas podemos incluir também aí qualquer espaço onde se expõe um trabalho. Cada vez mais surgem espaços alternativos que buscam, além das suas atividades rotineiras (restaurante, bar, comércio de moda, entre outros), também expor trabalhos artísticos. Uma questão precisa ser ressaltada, há uma série de pontos que você precisa considerar ao apresentar seu trabalho, independentemente da forma escolhida para exibi-lo. A galeria ou o espaço físico pode ser específico de arte, mas também pode ser uma igreja, instituições de prestígio ou um espaço comunitário. O método de ex- posição mais tradicional para obras bidimensionais é a sua locação na parede, na altura média do nível do olhar, o que permite sua melhor visibilidade. O museu e a galeria, em sua maioria, são espaços neutros para justamente valorizar a obra a ser exposta, não influenciando a percepção destes pelo público. No entanto, hoje em dia há espaços expositivos muito peculiares. A exposição realizada dentro de uma igreja barroca proporcionará uma reação diferente se for realizada em uma galeria comercial ou bar. Ao criar uma exposição, é necessário dedicar uma atenção muito especial sobre as relações físicas e conceituais existentes entre o trabalho do fotó- grafo e o espaço em que será exibido. No espaço neutro da galeria ou museu, e até mesmo em qualquer espaço com paredes, as obras são, geralmente, emolduradas com madeira e vidro protetor e 8 9 colocadas lado a lado. A disposição das obras na parede, por mais clássico que seja essa estratégia expositiva, pode ser muito bem explorada em diferentes possibilida- des de composições com as imagens. Ao planejar uma exposição, é necessário que você analise as possibilidades do espaço para garantir a melhor forma de disposição das obras e, com isso, garantir que elas sejam contempladas de maneira envolvente e acessível. A curadora Shirley Read (2013) nos diz que “organizar uma exposição é um processo complexo, demorado, que requer uma atenção cuidadosa aos detalhes, mas qualquer fotógra- fo pode aprender e compreender tais habilidades”. Os trabalhos fotográficos têm assumido diferentes formatos, alterando os suportes de impressão (tecidos, proje- ções, objetos etc.), dialogando com outras linguagens artísticas (música, pintura, dança etc.) e que exigem diferentes abordagens e estratégias expositivas. Sobre essas questões, afirma Simmons: Organizar o trabalho para um espaço ou local específico exigirá que você considere as dimensões do material a ser exibido, o método de apresen- tação e a forma como a relação existente entre os vários elementos se enquadra à exposição. Além disso, é importante pensar também na orga- nização e preparação do próprio espaço, tendo em vista, por exemplo, como o público se deslocará pela exposição. (2015, p. 146) Então vamos por partes! Ao considerar as dimensões das obras, é preciso pen- sar a sua relação com o espaço em que serão inseridas, com o espectador, para ter uma melhor visualização. Geralmente os espaços expositivos possuem uma planta arquitetônica predeterminada, mas é possível criar paredes móveis para dividir o ambiente e conseguir uma quantidade maior de suporte para fixação das obras. No caso de exposições coletivas, as paredes móveis criam semiambientes, poden- do concentrar a produção dos artistas por áreas ou então concentrar grupos de obras por temas, estéticas e períodos históricos, por exemplo. Figura 1 – Exposiçãode fotografi as em paredes móveis Fonte: Wikimedia Commons Seja num espaço fixo ou com a criação de cenários e paredes móveis, é im- portante que se faça um projeto, maquete física/digital ou esboço simples que transmita claramente a forma como você entende que as obras sejam organizadas para que a equipe de montagem, ou até mesmo você, possa ter mais eficácia na 9 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos montagem e garantir uma boa visitação. Muitas vezes, as fotografias podem ainda não estar impressas e após o projeto da exposição finalizado é que serão, com base no planejamento, impressas e preparadas nas dimensões corretas para caber no espaço que foi projetada a sua instalação. É preciso também conhecer as técnicas e possibilidades de suportes para mate- rialização da sua fotografia, tais como moldura tradicional com proteção de vidro, um “sanduíche” de vidros ou acrílicos onde a foto fica no meio de duas placas suspensas por fios no teto ou fixadas na parede, com ripas de metal e madeira, uso de placas de espumas especiais conhecidas como foam boards e as backlight que são caixas feitas de metal, madeira ou acrílico e que tem a fotografia impressa num material conhecido por duratrans e iluminada por trás por meio de LEDs. O fotógrafo canadense Jeff Wall utiliza muito a backlight em seus trabalhos. Figura 2 – Modos de exposição Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Nota: Fotografias suspensas por fios podem estar localizadas nas paredes, como na primeira imagem, ou no meio do espaço da galeria, como se estivessem flutuando, conforme segunda imagem. Figura 3 – Exposição de fotografias em parede escura – outra forma de destaque para a imagem através do contraste Fonte: iStock/Getty Images A cor da parede pode influenciar a leitura e percepção das fotografias, desta- cando-as seja pelo contraste ou por cores que dialogam com a simbologia do tema tratado nas imagens. 10 11 Figura 4 – Exposição de fotografi a de Jeff Wall com o uso de backlight na Tate Modern Fonte: tate.org.uk Além de conhecer aspectos técnicos antes de pendurar os trabalhos na parede, tais como: montagem e preparação das paredes fixas e móveis, local de fixação de cada fotografia, é preciso analisar o seu tamanho, a dis- posição e o espaço entre cada uma delas, ou seja, a composi- ção. O estudo da composição com os trabalhos pode ser fei- to de diferentes formas, seja colocando-os no chão, testan- do combinações ou recortan- do em papéis o formato real da obra para fixá-los tempo- rariamente na parede, visuali- zando, assim, como seria sua instalação. Veja nas imagens a seguir como a fotógrafa brasi- leira Claudia Andujar, na série que fez sobre a terra e a água no Amazonas, apresenta em diferentes composições as fo- tografias que possuem o mes- mo tamanho. As composições variam de forma mais tradi- cional, lado a lado, formando um bloco uniforme retangular até com algumas variações, fragmentando as fotografias abaixo do nível do olhar do espectador para ficarem mais próximas do chão da galeria. Figura 5 – Exposição de Claudia Andujar no Museu Inhotim, 2018 Fonte: Acervo do Conteudista 11 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Outro aspecto importante a ser considerado na elaboração de um projeto ex- positivo é a iluminação, pois ela é responsável para criar a atmosfera do local, contribuindo tanto para a nossa percepção visual da obra, quanto nas percepções sensoriais. Seja uma iluminação quente ou fria, mais intensa ou rebaixada, geral ou focada (pontual), é preciso que ela esteja em consonância e diálogo com as decisões do artista e do curador sobre o que é considerada a melhor condição de observação do público. A iluminação tem o poder de potencializar imagens simples como também o de causar efeito contrário em obras potentes. Obviamente há dis- tintos contextos de exposição, seja em instituições e locais que possuem uma boa infraestrutura para tal, seja em locais mais modestos e que, nem sempre, se desti- nam a exposições de obras. No entanto, torna-se necessário saber que a ilumina- ção compromete muito o resultado final da fruição da obra pelo público. É comum, em grandes exposições, termos uma iluminação geral, que não destaca as obras com pontos focais de luz, garantindo um fluxo menos ruidoso quando há diferentes artistas com diferentes estilos e poéticas expondo num mesmo local. Porém, cada projeto é um projeto, possui suas particularidades e objetivos distintos conceituais e, por isso, deve ser pensado na sua singularidade. Figura 6 – Exemplo de luz difusa, iluminação geral Fonte: iStock/Getty Images Figura 7 – Exemplo de iluminação fria pontual (focal) Fonte: iStock/Getty Images 12 13 Figura 8 – Exemplo de iluminação quente pontual (focal) Fonte: iStock/Getty Images Cada exposição, individual ou coletiva, possui um objetivo, um motivo ou um tema, seja mais genérico ou específico, sendo este último o mais comum. As exposi- ções possuem um título, resultado de uma intenção conceitual do artista ou proposta do curador. É importante, no espaço expositivo, que o nome da exposição esteja visível, juntamente com o nome dos artistas participantes, ficha técnica, apoiadores etc. Cada obra possui identificação do autor, título da obra, ano de produção e técni- ca. Em alguns museus podem, ainda, conter local e ano onde o autor nasceu e onde vive atualmente, medidas da obra e alguma informação com objetivos didáticos que facilitem ou proporcionem maior compreensão da obra em si. Na exposição, ainda é possível incluir descrições, declarações do curador ou artista, textos críticos fixados nas paredes ou impressos e disponíveis pelo espaço. Todos esses elementos preci- sam ser pensados para que formem um conceito completo da exposição. Instalações Fotográfi cas e Trabalhos Híbridos – Para além da Imagem Fotográfi ca O fotógrafo precisa conhecer a produção contemporânea, visitar museus, gale- rias e espaços alternativos para pensar e repensar seu próprio trabalho autoral, tal como nos diz Rubens Fernandes Junior: Para compreender a produção fotográfica contemporânea, bem como seus processos de criação e produção, temos que mergulhar no mun- do das imagens, pois nada substitui a experiência de ver. Ver, comparar, elaborar conexões, estabelecer relações. Olhar para uma imagem e ex- plorar suas potencialidades narrativas. A eliminação das fronteiras entre as diferentes formas de expressão, produção e circulação de imagens no mundo contemporâneo, torna cada vez mais difícil a tarefa de catalogar as manifestações das artes visuais, particularmente a fotografia. Da mes- ma maneira que percebemos o ir além, o ultrapassar de todos os limites, a contaminação das técnicas, o hibridismo dos suportes, verificamos o quanto é difícil e impreciso articular uma nomenclatura para a produção contemporânea. (2016, p. 10) 13 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Esta citação de Rubens Fernandes Junior reafirma as reflexões que esta unidade tem por objetivo realizar. Ele fala de referencial, de olhar o mundo das imagens, de comparar e estabelecer conexões, além do hibridismo nas linguagens artísticas que vão desde sua concepção até os suportes utilizados, rompendo com o tradicional espaço museológico. Uma das estratégias expositivas conceituais em fotografia contemporânea é as instalações fotográficas. A instalação é uma das manifestações contemporâneas da arte que trabalha com o ambiente e o espaço de forma a desconstruí-los concei- tualmente e fisicamente. O conceito de instalação diz respeito às criações artísticas que dialogam com o espaço no sentido de que o espectador pode contemplá-lo e, muitas vezes, adentrá-lo. A instalação é uma obra que se apresenta como um lugar para ser vivenciado, pois nos convida a experienciá-lo por meio da extrapolação dos limites da obra, ou seja, não há passividade e distância entre o espectador e a obra. Os trabalhos de instalação se colocam como propositores de experiências que não são somentevisuais, mas que envolvem outros sentidos que são estimulados por estarmos imer- sos na obra. Quando a fotografia é apresentada como uma instalação, o interesse está em “transcender o foco bidimensional tradicional de uma imagem fotográfica por meio da produção de obras tridimensionais, muitas vezes concebidas especificamente para um determinado lugar” (SIMMONS, 2015, p. 151). As obras da fotógrafa Maria Paschalidou têm por características fazer o uso da instalação fotográfica, ví- deo, som e escultura, explorando o espaço entre a ficção, a imagem e a narrativa. Alguns trabalhos ainda permitem a interação do público. Visite o site da artista para conhecer os seus projetos e as possibilidades de expansão do bidimensional da fotografia para o espaço expositivo mais amplo. Endereço do site: www.mariapaschalidou.com Ex pl or Figura 9 – instalação, projeção, fotografia e som | Maria Paschalidou, Cut here, 2008 (instalação, projeção, fotografia e som) Fonte: Maria Paschalidou, 2006 Figura 10 – instalação, escultura, fotografia, som e literatura | Maria Paschalidou, The Balloons prose poem, 2006 (instalação, escultura, fotografia, som e literatura) Fonte: Maria Paschalidou, 2006 14 15 Outro exemplo de instalação fotográfica é a obra Cosmococa do brasileiro Helio Oiticica que pertence ao museu Inhotim. Composta por várias salas, algumas delas misturam fotografias projetadas compostas com objetos, como redes para que o espectador deite, ou balões e músicas. Figura 11 – Helio Oiticica, Cosmococa (detalhe), 1973 Fonte: Instituto Inhotim O fotógrafo brasileiro Miguel Rio Branco também explora diferentes suportes e modos de exposição de seus trabalhos para além da fotografia impressa e emoldu- rada. Na galeria dedicada aos trabalhos do artista no museu Inhotim, o espectador pode ver na obra Diálogos com Amaú (1983) projeções sequenciais de várias imagens em tecidos dispostos em forma circular tanto pelo lado de fora como ca- minhar por dentro do espaço criado. Ainda, na obra Tubarões de seda (2006), temos uma série de fotografias de tubarões impressas sobre um véu delicado que, por estarem sobrepostas, criam texturas e sobreposições sutis pelas transparências, jogando com o contraste da agressividade do animal retratado com o seu suporte em que foi impresso. Essas duas obras, por serem projeções, estão na mesma sala que está muito escura, possibilitando outras formas de fruição com as imagens que possuem uma excelente qualidade de percepção visual dado o contexto em que estão exibidas. Figura 12 – Miguel Rio Branco, Diálogos com Amaú, 1983 – Museu Inhotim Fonte: Acervo do Conteudista Figura 13 – Miguel Rio Branco, Tubarões de seda, 2006 – Museu Inhotim Fonte: Acervo do Conteudista 15 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Faça uma busca na internet sobre a obra Monóculos, de Eduardo Trópia, um fotógrafo minei- ro, que consiste numa instalação fotográfica com 210 monóculos, aqueles pequenos objetos que olhávamos contra a luz para visualizar a fotografia que lá dentro continha. Pesquise também sobre a fotógrafa argentina Graciela Sacco e veja como cada projeto foto- gráfico é apresentado em diferentes suportes e estratégias expositivas, dando força concei- tual e estética para as obras: https://goo.gl/dL7CCV Ex pl or Figura 14 – Graciela Sacco Fonte: Secretaría de Cultura de la Nación Dentro do contexto das produções fotográficas híbridas, podemos citar o pro- jeto de Zoe Childerley, chamado Being Human (Ser Humano), que combina fo- tografia com som. O projeto consistiu na investigação de personagens históricos e mitológicos que permanecem na história de diferentes culturas, desde as épocas mais antigas até os dias de hoje. As pessoas retratadas são amigas e conhecidas que foram convidadas por Zoe para atuar como modelos. Para além da fotografia, cada um dos modelos teve que escolher um persona- gem que mais se identificasse e que seria referência para a sua fotografia e, através de uma entrevista, contar o porquê de tal escolha e afinidade. A referência estética desse trabalho são as pinturas barrocas do pintor italiano Caravaggio, cuja marca está no fundo escuro, na luz acentuada na cena que acontece num primeiro plano, evidenciando uma teatralidade nas imagens. Essas características de Caravaggio aparecem claramente nas fotografias de Zoe que possuem força na presença dos personagens através das cenas por eles criadas. Tal como afirma Simmons, “as imagens têm uma força incrível e a sobriedade de sua forma permite ao conteúdo surgir através da performance com um nível de convicção que traz coesão para o trabalho e para a temática da ‘duradoura natureza da narração de histórias’” (2015, p. 58). 16 17 Figura 15 – Zoe Childerley, Being Human, 2011 Fonte: Adaptado de Zoe Childerley, 2011 Esse projeto de Zoe conta, portanto, com a colaboração criativa também dos modelos convidados, tanto na criação das poses quanto com o áudio que conta as razões de sua conexão especial com o personagem escolhido. Ao analisar a estra- tégia expositiva desse trabalho, Simmons afirma: O poder e a presença dos personagens nessas imagens são explorados ao máximo devido a um método muito simples de apresentação: o tamanho das impressões e a ausência de textos e outros sinais permitem que o observador se conecte em igualdade aos personagens retratados. O uso do áudio aumenta ainda mais o impacto desse trabalho. (2015, p. 142) Figura 16 – Demonstração de como a série Being Human (Ser Humano) de Zoe Childerley foi exposta na galeria Fonte: Acervo do Conteudista 17 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos As fotografias foram expostas junto com fones de ouvido e com as entrevistas dos modelos convidados. Nesse projeto, essa entrevista poderia ficar como material de pesquisa para o processo criativo do artista, não sendo incorporado à obra visual. Ainda, se a fala dos modelos fosse exposta em forma de texto, provavelmente não proporcionaria a mesma relação do público com a obra. Na escala da impressão, o tamanho dos personagens está muito próximo da escala humana real, criando ainda mais uma forte ligação obra-público, de intimidade e aproximação. Portanto, o material de pesquisa do processo criativo permite que você reflita sobre as possibilidades po- éticas que podem transformá-las ou incorporá-las à obra final, potencializando-as. Catálogos e Livros de Fotografia Os catálogos das exposições são produzidos como meio de registro do evento, contendo todas ou grande maioria das obras pertencentes à exposição, com in- formações técnicas e textos críticos de curadores, organizadores, críticos de arte e do próprio artista. A quantidade de exemplares na tiragem varia, muitas vezes, de acordo com a verba destinada ao projeto expositivo como um todo, bem como os objetivos que se tem com a produção desse material: divulgação, uso como mate- rial didático ou de pesquisa, interesses institucionais etc. Durante a produção do catálogo é pre- ciso ter um grande cuidado estético na or- ganização visual e textual através da dia- gramação, de forma que sempre valorize a obra. A qualidade da impressão também é fundamental, pois se estamos tratando de imagens, as cores, contrastes e brilho são imprescindíveis para a apreciação e valori- zação do trabalho. É preciso ter respeito à fotografia através das diferentes formas de apresentação. Obviamente que tudo isso envolve dinheiro, a qualidade gráfica de um material, desde o papel até a impressão, possui um valor. Por isso, é importante co- nhecer o portfólio das empresas e gráficas que produzirão o material, buscando sem- pre equilibrar o custo versus a qualidade. Quando adquirem o reconhecimento de objeto artístico histórico, seja inserido dentro Figura 17 – Catálogos digitais e impressos da fotógrafa brasileira Claudia Andujar em exposição no museu Inhotim Fonte: Acervo do Conteudista 18 19 do contexto biográfico do fotógrafo ou como documento histórico social mais am- plo, oscatálogos também são incorporados nas exposições de arte. Muitas vezes não podem ser folheados pelo público, ficam dentro de redomas ou caixas com vidros que permitem a visualização da capa e algumas páginas. No entanto, as tec- nologias digitais permitem dar acesso ao público a esses catálogos através de uma versão digital interativa. Veja o vídeo que mostra uma série de catálogos digitalizados que permitem a interação do espectador durante a exposição de Claudia Andujar no museu Inhotim, permitindo folhear e ampliar as imagens. Observe as diferentes diagramações de imagem e texto utilizadas nos catálogos: https://goo.gl/th6fbo Ex pl or O projeto do catálogo pode ser mais tradicional, com uma diagramação estru- turada com fotografia e legenda abaixo, intercalando textos e obras, mas também pode ser um objeto artístico de autoria do próprio fotógrafo, por exemplo, ou em parceria com um designer. Nesse caso, muito mais que um catálogo padrão de ex- posição, esse material impresso adquire o status de livro de arte, livro de artista ou livro de fotografia: “livros de artistas são livros ou objetos em forma de livro, sobre os quais o artista teve um grande controle. São entendidos como uma obra de arte em si mesmos” (BURY, 1995 apud SIMMONS, 2015, p. 156). Os livros de artista surgiram na década de 1960, com o objetivo de atingir maior quantidade de público, sendo uma forma alternativa aos espaços expositivos que são restritos e institucionalizados como o museu e a galeria. Muitos desses livros são elaborados com projetos que trazem obras feitas especificamente para o for- mato de livro, podem incluir esboços, projetos, rascunhos e etapas do processo de criação. Entretanto, mesmo não sendo comum a reprodução de obras já expostas, os livros podem trazer essas reproduções numa escala menor, adequando as foto- grafias para a nova mídia impressa de escala reduzida. Pesquise exemplos de livros de fotografi a e autores reconhecidos como o brasileiro Ara- quém Alcântara, cujo grande tema de sua produção é a natureza; da americana Diane Arbus que retrata, em preto e branco, pessoas comuns e marginalizadas em ações coti- dianas; e Robert Frank que produziu uma série de livros com fotografi as sobre diferentes culturas realizadas em viagens. Ex pl or Apesar do crescimento das publicações digitais, nos últimos anos a produção de livros de fotografia tem aumentado e crescido no mercado. Possuem um preço diferenciado de um livro técnico, de história ou teoria da fotografia, pois trata-se de uma produção, geralmente, com tiragem reduzida, com o objetivo de ser um objeto artístico. Há empresas especializadas na produção desses livros e, inclusive, realizando a impressão sob demanda do comprador. 19 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Muitos fotógrafos têm explorado essa vertente de produção de livros de fotogra- fia, projetando e produzindo seus próprios livros de variadas formas. Segundo Fox e Caruana: O livro físico ainda possui uma qualidade muito especial na maneira como as imagens são lidas e recebidas – trata-se de um formato intimista plane- jado para uma pessoa olhar, em geral, confortavelmente. As publicações de edição limitada, em comparação com os livros de cabeceira, tendem a ter maior variedade de modelos e formatos, incluindo jornais, fanzines, livros sanfonados, livros com páginas desdobráveis – as possibilidades são praticamente ilimitadas. (2013, p. 136) Esses projetos finalizados como livros de artista ou livros de fotografia conceituais que exploram diferentes formatos, com dobras que permitem expandir o tamanho do livro com páginas grandes que retornam ao tamanho do livro, podem ser feitos de maneira artesanal e industrial. Os artesanais são confeccionados à mão, um a um, utilizando diferentes técnicas de encadernação. A seguir vamos apresentar alguns projetos de livros feitos por fotógrafos consagrados para que você possa conhecer algumas possibilidades oferecidas pelos processos industriais e artesanais. Começamos pelo projeto A place between homes (Um lugar entre os lares) de Jagdish Patel, que consiste num ensaio fotográfico editado em quatro livros únicos com registros de 124 anos e quatro gerações de uma família indiana, abordando o impacto da migração em diferentes gerações. Ele reconfigura os tradicionais álbuns de família em uma proposta contemporânea dividindo as fotos em quatro temas inspirados por um poema de T. S. Eliot: tempo presente, tempo passado, tem- po emoldurado e uma vida extinta. Cada um desses temas aborda um aspecto diferente da vida da família na Índia e no Reino Unido. O livro foi confeccionado com o uso de fotos no estilo “Polaroid”, por ter uma gramatura consistente. Figura 18 – Jagdish Patel, A place between homes (Um lugar entre os lares), 2014 Fonte: Jagdish Patel, 2014 20 21 Numa análise desse projeto, Simmons afirma: Embora altamente pessoal, o trabalho usa a fotografia de família como principal elemento que guarda uma relação com todos nós. Ao olharmos para essas imagens, talvez nos lembremos de nossa própria história fami- liar, o que nos faz estar em um terreno comum para compartilhar pensa- mentos de nossa própria herança. (2015, p. 156) Um projeto fotográfico que resultou num livro e exposição aclamados pela críti- ca foi o Perceptions of pain (Percepções da dor) das fotógrafas Deborah Padfield e Linda Sinfield. Trata-se de uma coleção de imagens surpreendentes que exploram a interface entre médico e paciente, fotógrafo e sujeito, criador e espectador, ciência e arte, através de uma oficina fotográfica em uma clínica de pacientes que sofrem de dores crônicas. Além das fotografias, há textos adicionais do Professor Brian Hurwitz, do Doutor Charles Pither e de Deborah Padfield, que examinam aspectos culturais e clínicos da dor de múltiplas perspectivas, questionando nossas suposi- ções sobre a experiência da dor e seu lugar no contexto médico. Tanto o design do livro quanto o projeto da exposição comunicam a mesma mensagem, através da fusão de reflexões dos pacientes com as fotografias que transparecem a dor destes. Para conhecer mais sobre o projeto Perceptions of pain de Deborah Padfi eld e Linda Sinfi eld, visite os links: https://goo.gl/WzuQmL e https://goo.gl/uZGCSJEx pl or No panorama brasileiro da arte contemporânea, temos o artista Waltercio Caldas que, mesmo sendo famoso por seu trabalho escultórico, possui uma série de produ- ção de livros que transitam na fronteira entre o livro de artista, o livro-objeto e o livro- -obra ou escultórico. O artista utiliza a fotografia em algumas obras como os livros: • Velásquez (1996): editado pela Editora Anônima de São Paulo. A tiragem foi de 1500 exemplares e cada exemplar é considerado um original e foi assinado pelo artista. • Estudos sobre a Vontade (2000): uma edição com tiragem de 20 exempla- res numerados e assinados pelo artista, realizada pela Galeria Celma Albuquer- que de Belo Horizonte, sobre o trabalho fotográfico concebido em 1975. Figura 19 – Walter cio Caldas, Estudos sobre a Vontade, 2000 Fonte: Waltercio Caldas, 2000 21 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Nesta unidade, refletimos sobre outros aspectos que envolvem a produção foto- gráfica: as formas de exibição, de registro e documentação impressa, bem como produções editoriais artísticos como os livros de artista e livros de fotografia. Há uma infinidade de produções que permitem ampliar o seu conhecimento sobre esses as- suntos, por isso, é sempre importante pesquisar tanto as indicações aqui feitas como outros nomes e exemplos que surgirem durante as suas pesquisas. Tudo o que foi abordado aqui pode ser aprofundado, tanto em questões técnicas de montagem de exposições, formatos e suportes infinitos que há no mercado atual, editoras e gráfi- cas que permitem pequenas publicações com custos mais baixos para iniciar a sua inserção no circuito artístico etc. Nossa intenção é a de refletir sobre a importância de se conhecer as formas de exposiçãopara contribuir para a divulgação da sua pro- dução de maneira a potencializar o seu trabalho. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Waltercio Caldas https://goo.gl/ZaJ4d Zoe Childerley https://goo.gl/731Kja Zipper Galeria https://goo.gl/dL7CCV Maria Paschalidou https://goo.gl/ehxJtC Inhotim www.inhotim.org.br Livros Entre ser um e ser mil – o objeto livro e suas poéticas DERDYK, Edith (org). Entre ser um e ser mil – o objeto livro e suas poéticas. São Paulo: Editora Senac, 2013. Leitura Curadoria em Fotografia CHIODETTO, Eder. Curadoria em fotografia [livro eletrônico]: da pesquisa à exposição. São Paulo: Prata Design, 2013. https://goo.gl/RLKlxy 23 UNIDADE Mostras, Exposições e Catálogos Referências BURY, S. Artist´s books: the book as a work of art, 1963-1995. Bury, Scolar Press, 1995. FERNANDES, Jr., Rubens. Processos de Criação na Fotografia apontamentos para o entendimento dos vetores e das variáveis da produção fotográfica. In: Revista FACOM - nº 16 - 2º semestre de 2006. Disponível em: <http://www.faap.br/ revista_faap/revista_facom/facom_16/rubens.pdf>. Acesso em: 16/05/2016. FOX, A; CARUANA, N. Por trás da imagem: pesquisa e prática em fotografia. São Paulo: GG Brasil, 2014. PRÄKEL, David. Fundamentos da fotografia criativa. São Paulo: Gustavo Gili Brasil, 2015. READ, Shirley. Exhibiting Photography: a practical guide to displaying your work. Londres: Focal Press, 2013. SIMMONS, Mike. Como criar uma fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2015. 24
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